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ESCOLA SUPERIOR DA CETESB

GESTÃO DO CONHECIMENTO AMBIENTAL

CONFORMIDADE AMBIENTAL COM REQUISITOS TÉCNICOS E LEGAIS


TURMA 3
FISCALIZAÇÃO, PERÍCIA E AUDITORIA AMBIENTAL

POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS INSTRUMENTOS DE

GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA ORDENAMENTO JURÍDICO


PÓS•GRADUAÇÃO
AMBIENTAL METODOLOGIA DA L A T CIENTÍFICA
PESQUISA O SENSU
MÓDULO I – FUNDAMENTOS GERAIS

E SEMINÁRIOS POLUIÇÃO DO AR, GERENCIAMENTO E

P DO
CONTROLE DE FONTES FUNDAMENTOS O LCONTROLE
Í T I C A DE
S

P Ú B L ISÓLIDOS
POLUIÇÃO DAS ÁGUAS GESTÃO DE RESÍDUOS C A S

A M BDOS
PREVENÇÃO E CONTROLE DA POLUIÇÃO I E NSOLOS
T A I SE

DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS GERENCIAMENTO DE ÁREAS

CONTAMINADAS ANÁLISE DE RISCO TECNOLÓGICO

EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, ASPECTOS PREVENTIVOS

E CORRETIVOS LEGISLAÇÃO FLORESTAL APLICADA

AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL LICENCIAMENTO

COM AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL AIA

LICENCIAMENTO AMBIENTAL SEM AVALIAÇÃO DE IMPACTO


GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Governador Márcio França

SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE


Secretário Eduardo Trani

CETESB • COMPANHIA AMBIENTAL


DO ESTADO DE SÃO PAULO
Diretor-Presidente Carlos Roberto dos Santos

Diretoria de Avaliação de
Impacto Ambiental Ana Cristina Pasini da Costa

Diretoria de Controle e
Licenciamento Ambiental Geraldo do Amaral Filho

Diretoria de Engenharia e
Qualidade Ambiental Eduardo Luis Serpa

Diretoria de Gestão Corporativa Waldir Agnello

CETESB • COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

MISSÃO
Promover e acompanhar a execução das políticas públicas ambientais e de desenvolvimento
sustentável, assegurando a melhoria contínua da qualidade do meio ambiente de forma a atender
às expectativas da sociedade no Estado de São Paulo.

Visão
Buscar a excelência na gestão ambiental e nos serviços prestados aos usuários e à população em
geral, aprimorando a atuação da CETESB no campo ambiental e na proteção da saúde pública.

Valores
Ética, legalidade, transparência, eficiência, eficácia, isonomia, imparcialidade, responsabilidade,
valorização do capital humano e compromisso com a empresa.
Políticas
Públicas
Ambientais

Volume II

Professora Responsável
Lina Maria Aché

São Paulo, Agosto de 2018

CETESB
Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
Av. Profº. Frederico Hermann Júnior, 345 - Alto de Pinheiros -
CEP: 05459-900 - São Paulo - SP
http://www.cetesb.sp.gov.br / e-mail: treinamento_cetesb@sp.gov.br
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O Curso “Conformidade Ambiental com Requisitos Técnicos e Legais”, na modalidade especialização lato sensu, foi autorizado
pelo Conselho Estadual de Educação – CEE, conforme Portaria nº 449, publicada no Diário Oficial, em 20/11/2015
Coordenação do Curso Escola Superior da CETESB
Carlos Roberto dos Santos Supervisão:
Lina Maria Aché Carlos Ibsen Vianna Lacava
Tânia Mara Tavares Gasi ET - Departamento de Apoio Operacional
Secretaria Gerenciamento:
Sonia Ritt Tania Mara Tavares Gasi
Equipe Técnica de Apoio ETG - Divisão de Gestão do Conhecimento
ETGB: Sonia Teresinha Barbosa Margarida Maria Kioko Terada
ETGC: Bruno Marcondes Conceição, Elizeu Vasconcelos ETGB - Setor de Biblioteca e Memória Institucional
O. Barreto, Rita de Cassia Guimarães Irene Rosa Sabiá
ETGD: Alexandre Nery Gerene Ferreira, Lina Maria Aché ETGC - Setor de Cursos e Transferência de Conhecimento
Lina Maria Aché
ETGD - Setor de Capacitação e Formação Continuada

© CETESB, 2018
Este material destina-se a uso exclusivo dos participantes do Curso de Pós Graduação Lato Sensu “Conformidade
Ambiental com Requisitos Técnicos e Legais”, sendo expressamente proibida a sua reprodução total ou parcial,
por quaisquer meios, sem autorização da CETESB - Companhia Ambiental do Estado de São Paulo.

Diagramação: ETGD - Setor de Capacitação e Formação Continuada


Capa: Vera Severo / Editoração Gráfica: Alexandre Nery Gerene Ferreira / Impressão: AAAG-CETESB

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SUMÁRIO
Volume II

Políticas Nacional e Estadual de Recursos Hídricos....................................................................... 11


Áreas de Mananciais e Gestão das Águas...................................................................................... 39
Políticas Nacional e Estadual de Educação Ambiental.................................................................... 61
Panorama das Áreas Especialmente Protegidas .......................................................................... 169
Política Nacional de Mudanças Climáticas.................................................................................... 195
Política Nacional de Resíduos Sólidos........................................................................................... 215

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APRESENTAÇÃO

A disciplina Políticas Ambientais tem como característica apresentar um rol de temas que
possuem interface com os objetivos deste curso de Conformidade Ambiental. O desafio foi
o de delimitar quais seriam os tópicos mais significativos, de forma a aprofundar conceitos,
e em especial, a leitura sobre a formulação, aplicabilidade de instrumentos e sobre os
sistemas de gestão ambiental definidos nas políticas a serem tratadas.

O conteúdo dessa disciplina foi proposto considerando essas premissas e com a


participação de outros docentes do curso. Irá abordar e discutir os temas relacionados à
recursos hídricos, resíduos sólidos, mudanças climáticas, educação ambiental, unidades
de conservação e ambiente urbano.

Para o seu desenvolvimento, optamos por trazer especialistas, com vivência na


implementação e gestão de políticas públicas, a fim de apresentarem um panorama que
incorpore os marcos históricos, os principais desafios e a visão do “legal ao real”.

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CORPO DOCENTE

Políticas Públicas Ambientais Contemporâneas


Professor: Julian Garcia Alves de Almeida
Geólogo, doutor em ciências sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual
de Campinas (UNICAMP). Assessor da Chefia de Gabinete da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São
Paulo.

Política Nacional de Meio Ambiente


Política Nacional de Educação Ambiental
Professora: Lina Maria Aché
Geógrafa, mestre em geografia pelo Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo. Gerente do
Setor de Capacitação e Formação Continuada da CETESB.

Política Urbana
Professor: Eduardo Trani
Arquiteto e Urbanista. Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Paris XII (Paris-Val-de-Marne).
Exerceu funções técnicas e gerenciais na Secretaria de Habitação do Estado de São Paulo e na Companhia
de Desenvolvimento Habitacional (CDHU). Coordenador de Planejamento Ambiental da Secretaria de Estado
do Meio Ambiente de São Paulo; Conselheiro do Conselho Estadual do Meio Ambiente da Secretaria de
Estado do Meio Ambiente (CONSEMA). Atual Secretário de Estado do Meio Ambiente.

Políticas Nacional e Estadual de Recursos Hídricos


Professor: Jorge Luiz Silva Rocco
Engenheiro Sanitária pela Pontifícia Católica de Campinas (PUC), especialização em Recursos Hídricos pela
Universidade Federal da Paraíba e em Direito Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade
de São Paulo. Gerente da Diretoria de Meio Ambiente do Centro das Industriais do Estado de São Paulo
(CIESP).

Estudo de Caso: A questão dos Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo


Professora: Márcia Maria do Nascimento
Arquiteta e Urbanista. Mestrado em Saúde Ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São Paulo (USP). Especialista em Direito Ambiental pela Escola Superior da Procuradoria Geral do Estado
de São Paulo. Doutoranda em Planejamento Regional e Urbano pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo. Assessora da Coordenadoria de Planejamento Ambiental da Secretaria de
Estado do Meio Ambiente de São Paulo.

As Áreas Especialmente Protegidas


Professor: Antônio Luiz Lima de Queiroz
Engenheiro Agrônomo pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo
(USP), com especialização em solos. Atuou como Assessor Técnico da Diretoria Geral do Departamento
Estadual de Proteção de Recursos Ambientais (DEPRN) de 2001 a 2008. Em 2008 foi Diretor do Departamento
Estadual de Recursos Naturais (DEPRN) e de 2008 a 2009 foi Diretor do Departamento de Fiscalização
e Monitoramento (DFM), da Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Assessor na
Diretoria de Controle e Licenciamento e Ambiental da CETESB.

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Políticas Nacional e Estadual sobre Mudança do Clima
Professora: Jussara Lima de Carvalho
Engenheira Química, Doutora em Governança da Água. Atuou de 1997 a 2009 como secretária-executiva
do Comitê de Bacias Hidrográficas do Médio Tietê do Estado de São Paulo. Secretária de Meio Ambiente
da Cidade de Sorocaba entre 2009 e 2014. De 2014 a 2016 foi Secretária Executiva do ICLEI- Governos
locais para sustentabilidade, para a América do Sul. Foi vice-presidente Nacional da Associação Nacional de
Organismos de Meio Ambiente (ANAMMA) em 2011 e presidente da ANAMMA-SP (20013-2014). Assessora
do Gabinete da Secretaria de Estado do Meio Ambiente - SMA.

Políticas Nacional e Estadual de Resíduos Sólidos


Professor: Flávio de Miranda
Engenheiro Mecânico. Doutor em Ciências Ambientais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência
Ambiental da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Especialistas em Consumo e Produção
Sustentáveis do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), pesquisador do Grupo de
Prevenção à Poluição - GP2 (Escola Politécnica -USP) e do Programa de Gestão Estratégica Socioambiental
- PROGESA (FIA). Gerente do Departamento de Políticas de Resíduos Sólidos e Eficiência dos Recursos
Naturais.

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Políticas Nacional e Estadual de
Recursos Hídricos

Jorge Luiz Silva Rocco

11
12
POLÍTICAS NACIONAL E ESTADUAL DE RECUROS HÍDRICOS

A necessidade de um gerenciamento integrado dos recursos hídricos, notadamente em


virtude da deterioração da qualidade, escassez e o agravamento de conflitos entre os
diversos usuários das águas, ganhou outra dimensão no Brasil a partir da promulgação da
Constituição Federal de 1998 (CF-88), na qual, consta um capítulo sobre Recursos
Hídricos, apresentando os princípios básicos para estabelecer a gestão e o
gerenciamento das bacias hidrográficas, e a instituição de um Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Este tema incorporado na CF-88 é reflexo do amadurecimento dos técnicos internacionais


e locais ocorrido ao longo da década de 80, em relação às pesquisas e discussões sobre
o futuro das águas e sua forma de gerenciamento em relação à quantidade e qualidade.

Apesar do Brasil ter uma legislação especifica desde 1934, Código das Águas, a gestão e
o gerenciamento das águas não estão abordados de forma pratica para sua realização.

Nesta linha do tempo, destacam-se os debates ocorridos na Conferência Mundial de Meio


Ambiente da ONU – Rio-92, onde foi divulgada a Agenda 21 Global, a qual, no capítulo
18, traz as recomendações para a “Proteção da qualidade e do abastecimento dos
recursos hídricos: aplicação de critérios integrados no desenvolvimento, manejo e uso dos
recursos hídricos” e a própria ONU, declarou o dia 22 de março de cada ano, data para
comemoração do Dia Mundial da Água.

Logo após, em 1993, o Brasil passou a fazer parte da Convenção Ramsar sobre Zonas
Úmidas que, embora originariamente seja voltada à preservação dos habitats das
espécies migratórias de aves aquáticas, ganhou, ao longo do tempo, novas prioridades
relacionadas ao uso sustentável da biodiversidade e à gestão dos recursos hídricos.

Ainda nesta linha, somente a partir de 08.01.1997, foi promulgado a Lei Federal n° 9.433
que disciplina os procedimentos para o Sistema Nacional de Recursos Hídricos e a
criação dos Comitês de Bacias Hidrográficas - CBHs no domínio de águas superficiais
para a União, Distrito Federal e dos Estados, e para as águas subterrâneas as quais
ficaram sob domínio dos Estados.

No âmbito do Estado de São Paulo, as condições de ampliação do foco na gestão de


Recursos Hídricos ocorrem anos antes do âmbito federal. Destaca-se inicialmente o ano
de 1987, no qual houve a criação do primeiro Conselho Estadual de Recursos Hídricos –
CRH, Decreto Estadual n° 27.576, composto exclusivamente por órgãos e entidades do
Governo do Estado, com a incumbência de propor a Política de Governo relativa aos
Recursos Hídricos do Estado, bem como a estruturação de um Sistema Integrado de
Gerenciamento dos Recursos Hídricos - SIGRH e a elaboração do Plano Estadual de
Recursos Hídricos - PERH.

No contexto deste processo, na revisão da Constituição Paulista de 1989, o Capítulo IV,


Seção II, dedica atenção especial ao tema, definindo a instituição do Sistema Integrado

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de Gerenciamento dos Recursos Hídricos - SIGRH congregando órgãos estaduais e
municipais e a sociedade civil, com vistas a assegurar:
- a utilização racional das águas e sua prioridade para abastecimento às populações;
- a gestão descentralizada, participativa e integrada em relação aos demais recursos
naturais e às peculiaridades da bacia hidrográfica; e
- o aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos e o rateio dos custos das obras.

Em 30.12.1991, foi promulgada a Lei n° 7.663, que dispõe sobre a Política Estadual de
Recursos Hídricos e o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos –
SIGRH, para disciplinar os diversos usos das águas, e se constituiu num marco histórico
de novos rumos para a gestão de recursos hídricos no Estado, com a instituição dos
seguintes órgãos colegiados, de natureza consultiva e deliberativa: Conselho Estadual de
Recursos Hídricos – CRH e os Comitês de Bacias Hidrográficas – CBHs.

Cabe salientar que âmbito do Estado de São Paulo, existe legislação específica que
disciplina a água subterrânea, a Lei n° 6134, de 02.06.1988, dispõe sobre a preservação
dos depósitos naturais de águas subterrâneas do Estado de São Paulo, regulamentada
pelo Decreto n° 32.955 de 07.02.1991, que apresenta e define como “as águas que
ocorrem natural ou artificialmente no subsolo, de forma susceptível de extração e
utilização pelo homem”.

Organização Institucional dos Sistemas de Recursos Hídricos

O Sistema Nacional de Gestão de Recursos Hídricos é uma combinação de organizações


públicas ordenadas, entidades privadas e representantes da sociedade civil que tornam
as implementações dos instrumentos de gestão de recursos hídricos possíveis, de acordo
com os princípios definidos nas Leis Nacional n° 9.433/1997 e Estadual 7.663/1991. A
organização institucional. É apresentada a seguir:

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Organizzação dos Sistem
mas

Fonte: lustra
ação adapta
ada da ANA

CONSELH HOS: No âmbito Unnião, temoss o Conse elho Nacio


onal de Reecursos Hídricos
H –
CNRH qu ue é organiização mais alta na hierarquia do Sistem
ma. Tem poor objetivo promoverr
a integraçção do planejamentoo de recurssos hídrico
os em níveel nacional,, regional e estaduall
e também m entre oss setores de usuário os. O CNR RH é com mposto de representtantes doss
ministérioos do Govverno Fede eral, além de repres sentantes designadoos pelos Conselhos
C s
Estaduaiss de Recurrsos Hídriccos e reprresentantess dos usuáários de áágua e org ganizaçõess
civis relaccionados co
om a gestã
ão de recuursos hídric
cos.

O Diretorr Executivo
o do Cons
selho Naciional de Recursos
R Hídricos
H é o Ministro
o do Meio
o
Ambiente.

No âmbito o de São Paulo,


P os o Cons
temo selho Estaadual de Recursos
R H
Hídricos – CRH que e
foi criado inicialmen
nte pelo De
ecreto nº 2
27.576 de 11.11.198 87 e adapttado pelo Decreto
D nºº
57.113 de e 07.07.20011, o CRH tem rep presentaçã
ão paritária
a entre os segmento os Estado,,
Municípioos e Socie edade Civ vil, compoosto por 33
3 consellheiros, seendo 11 votos porr
segmento o.

No CRH ocorrem diversas discussõe es e aprov vações pa ara a deffinição de diretrizess


relativas a impleme
entação daa Política de Recurrsos Hídric cos e seuss instrume entos, taiss
como: Plano Estad dual de Recursos
R H
Hídricos – PERH; cobrança
c pelo uso da água;;
enquadramento doss corpos d´´agua; outo
orga de dirreito de uso, entre ouutros.

O CRH e está organizado e apoiado po or Câmaras s Técnicas


s ou Gruppos de Tra
abalho, de
e
caráter cconsultivo, constituíd
dos por rrepresenta
antes do plenário, com a missão
m de
e

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assessorar tecnicamente os trabalhos, elaborar e recomendar “deliberações” (minuta de
documentos), a serem apreciadas e/ou aprovadas pela plenária do Conselho.

GOVERNOS: no âmbito da União cabe ao Ministério do Meio Ambiente – MMA a função


de implementar e estabelecer a política pública e organizar os sistemas de recursos
hídricos (União, Estados e Distrito Federal), e no âmbito dos Estados, considerando a
legislação especifica, há um órgão competente para implantação e operação dos
respectivos sistemas, no Estado de São Paulo, a função é exercida pela Secretaria de
Saneamento e Recursos Hídricos - SSRH.

ÓRGÃOS GESTORES: A Agência Nacional de Águas – ANA é responsável pela


implementação do Plano Nacional de Recursos Hídricos validado pelo CNRH. A ANA
compõe-se de superintendências funcionais de caráter administrativo e de
implementação, chefiadas por um presidente e quatro diretores. A ANA é vinculada ao
Ministério do Meio Ambiente, mas tem independência financeira e administrativa.

No âmbito do Estado de São Paulo, o sistema tem um braço operacional denominado


Coordenadoria de Recursos Hídricos – CRHi ligado a SSRH, que tem o apoio do órgão
outorgante (Departamento de Água e Energia Elétrica - DAEE) e do licenciador
(Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB) para implementação da
política, e ainda, o Comitê Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos –
CORHI que promove o envolvimento dos diferentes segmentos sociais na gestão do
Plano Estadual, juntamente com os representantes do Estado que compõem o Comitê
Coordenador do Plano Estadual de Recursos Hídricos – CORHI.

COMITÊS DE BACIAS HIDROGRÁFICAS – CBHs: São colegiadas que reúnem os


grupos interessados para discutir e encaminhar as soluções dos próprios problemas, com
o objetivo de proteger os recursos hídricos na região da bacia hidrográfica. A área de
atuação de um Comitê de Bacia Hidrográfica é limitada quando da sua criação, a partir da
definição do domínio da água superficial (União, Estado ou Distrito Federal).

Os CBHs Federais incluem representantes do Governo Federal, Estados ou do Distrito


Federal onde se situam (mesmo que parcialmente), municípios, usuários da água e
organizações civis de recursos hídricos com registro comprovado de ação na bacia.

Desta maneira, um CBH federal tem como diretrizes básicas buscar harmonizar e integrar
as ações de todos os Comitês no âmbito Estadual e dos diversos usuários nas calhas de
domínio União. Atualmente, podemos destacar a instalação e a operação dos seguintes
Comitês de Bacias Hidrográficas – CBH Federais:
- no Rio São Francisco;
- no Rio Doce, nos Rios Pomba e Muriaé;
- no Rio Verde Grande, Paranaíba, Piranhas-Açu;
- no Rio Paraíba do Sul (CEIVAP); e
- nos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí - PCJ.

16
No caso dos CBH Hs estaduuais, exem mplificando
o com o paulista, eles têm m atuaçãoo
descentra alizadas poor bacias hidrográficcas, unida
ade físico-territorial, com representação
o
paritária e
entre o Esstado, os Municípios
M s e a Socieedade Civ vil cada seegmento co om 1/3 de
e
votos, ap plicando o princípio fundamen ntal para o planejaamento e gerenciam mento doss
recursos h hídricos.

O Estado de São Paulo


P stituiu atravvés da Lei 7.663/1997, a criaçção de 22 Unidadess
cons
de Gerenciamento o Integrad
do de Re ecursos Hídricos
H – UGRHIss, sendo instalado o
posteriorm
mente, 21 Comitês
C de
e Bacias. A imagem a seguir ilustra a subbdivisão pa
aulista.

Fonte: ilustrração da SSRH – 2017

Para dessenvolvimeento e apoio


a técn
nico no âmbito dos d CBHss, como apontado o
anteriormente, os Comitês
C têm instânci as de disc
cussão e de
d tomadaa de decisã ão atravéss
das Câma aras Técnicas e Gruupos de Trrabalho coom a partic
cipação doos três seg
gmentos e
quando neecessário de convida
ados.

Assim, oss CBHs sãoo chamadoos de ‘parllamentos da


d água”, colegiados
c s que traba
alham com
m
uma adm ministração
o descenttralizada, participativa e inteegrada vissando forrtalecer a
sustentab
bilidade ao reconhec
cer os recuursos hídricos como um bem público, cu uja gestão
o
deve asse egurar pad
drões de quantidade
q e e qualidaade satisfa
atórios aoss cidadãos
s e a toda
a
sociedadee.

AGÊNCIAA DE BACCIA: As Ag
gências de
e Bacias ouu de Água
a integram o Sistema
a Nacionall
de Geren
nciamento dos Recuursos Híd ricos e a sua criaç
ção deve ser solicitada pelo
o

17
respectivo Comitê de Bacia Hidrográfica e autorizada pelo respectivo Conselho de
Recursos Hídricos.

A viabilidade financeira de uma Agência deve ser assegurada em função da


implementação do instrumento cobrança pelo uso da água em sua área de atuação ou até
mesmo, repasse de recursos dos orçamentos estadual ou federal.

As Agências de Bacias Hidrográficas, quando instaladas, atuam como as secretarias


executivas do respectivo Comitê. No âmbito do Estado de São Paulo, existem três
Agências de Bacias implementadas, com níveis de organização e atuação operacional
distinta:
- Agência das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí – Agência PCJ
- Fundação das Bacias Hidrográfica do Alto Tietê – FABHAT
- Fundação Agência da Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê.

No âmbito Paulista, enquanto as Agências de Bacia não estiverem constituídas no


respectivo CBH, as funções da secretaria executiva são exercidas pelo órgão outorgante
(Departamento de Água e Energia Elétrica - DAEE) ou pelo licenciador (Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB).

Cabe salientar que em 20.06.2002, foi criada a Associação Pró-Gestão das Águas da
Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (AGEVAP). Foi constituída, inicialmente, para o
exercício das funções de Secretaria Executiva do Comitê de Integração da Bacia
Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (CEIVAP), desenvolvendo também as funções
definidas no Art. 44 da Lei Federal n°. 9.433/97, que trata das competências das
chamadas Agências de Água, ou Agências de Bacia no âmbito da bacia federal do Rio
Paraíba do Sul.

Cabe destacar que nos colegiados dos Sistemas nacional e estaduais, as Organizações
Civis de Recursos Hídricos tem papel importante nos processos de tomadas de
decisões para implementação da Política de Recursos Hídricos, geralmente
representadas por: associações das bacias hidrográficas; consórcios intermunicipais,
associações regionais, locais ou setoriais dos usuários de água, organizações técnicas,
acadêmicas e de pesquisa, e organizações não-governamentais (ONGs), entre outros. O
número de representantes de cada setor mencionado e os critérios para suas nomeações
são definidos nas regulamentações dos Comitês.

18
Fonte: ilustrração da SSRH – 2016

Fundo E
Estadual de Recu
ursos Híd
dricos – FEHIDR
RO

O FEHIDR RO foi cria


ado pela Lei
L n° 7.66
63/1991 e regulamen
r ntado pelo Decreto n°n 37.300,,
de 25.08.1993, é o Fundo dá o supo orte financ
ceiro à Política Esttadual de Recursoss
Hídricos e às ações correspondentess. Os recu ursos que compõem m o FEHIIDRO são o
diversos, dos quais,, destacam
m-se:

• Recurssos prove enientes dad compe ensação financeira


f que o E Estado re ecebe em m
decorrênccia dos approveitameentos hidro oenergético
os em seu territórioo, royalties
s do setorr
elétrico, d
deduzido o percentu ual destinaado ao Fu undo de Expansão
E Agropecu uária e da
a
Pesca, no os termos da
d Lei n° 7964
7 de 166.07.1992. Estes rec
cursos são distribuídoos para oss
21 Comitê ês de Bacia
as Hidrogrráficas do E
Estado, co
onforme deeliberação específica do CRH.

Cabe resssaltar que com a proomulgação o da Lei Federal


F nº 13.661, dee 08.05.20
018, foram
m
alteradas as parccelas perttencentes aos Esttados e aos Munnicípios re elativas a
Compenssação Fina anceira peela Utiliza
ação de Recursos
R Hídricos (CFURH), trazendo o
grandes pperdas para o sistema de recurrsos hídrico
os paulista
a.

A compen nsação reccebida pelos Estadoos para a utilização dos recurrsos hídriccos cai de e
45% para a 25%, en nquanto que
q o reto
orno financceiro para
a os muni cípios afe etados porr
hidrelétriccas aumen nta de 45%% para 65 5%. Os 10 0% restanttes continuuam direc cionados à
União. De esta mane eira, como a Lei temm efeito im
mediato, o Plano de aplicação aprovado o
pela Delib beração CO OFEHIDRO O Nº 192, de 05 de março
m de 2018,
2 deveerá ser rev
visto frente
e
a redução o prevista, ocasionan
ndo impacttos às prev
visões para
a os 21 Coomitês paulistas.

19
• Recurssos proven nientes da implantaçã ão da Cob
brança peloo Uso doss Recursos s Hídricos,,
cuja impla
antação seegue um ro ol de proccedimentos
s, que se inicia pelo CBH onde e ocorre a
discussãoo e aprovação de prooposta pacctuada entre os memmbros do C Comitê, dev
vidamentee
fundamen ntada, e na
a sequênciia é encam minhada pa
ara ser aprreciada e aaprovada pelo
p CRH..
Posteriorm
mente, a proposta
p de
d cobrançça segue aoa governa ador, paraa sansão através
a de
e
Decreto e
específico.

Fonte: ilustrração da SSRH – 2016

A gestão do FEHID DRO é efe etuada peloo Conselho de Orientação do Fundo Es stadual de
e
Recursos Hídricos – COFEHIDRO. Partticipam no o COFEHID DRO os Seecretários de Estadoo
dos Recuursos Hídricos, do Meio
M Ambiiente, da Fazenda
F e de Planeejamento e Gestão,,
além de q
quatro reprresentantes
s de municcípios, indicados pelo
o CRH.

Instrumentos de
e Gestão
o dos Rec
cursos Hídricos
H

Os instruumentos de gestão são impo ortantes mecanismos


m s jurídico--administra
ativos quee
estabeleccem diretrizzes básicaas para o controle dos
d recursos hídricoss objetivan ndo o uso o
racional, minimizando possíveis impacttos no mo omento de sua utilizaação e co ontribuindo
o
para comp patibilizar o seu uso sustentáve
el com o desenvolvim
mento econnômico da a região.

A Lei Fed
deral 9.4333/1997 no seu artigo 5º define os instrum
mentos da Política Nacional dee
Recursos Hídricos: os Planos de Recu ursos Hídrricos; o en
nquadrameento dos corpos de e
água em classes, segundo
s os
o usos pre eponderanntes da ággua; a outoorga dos direitos
d de
e
uso de re
ecursos hídricos; a cobrança
c p
pelo uso de
d recurso os hídricoss; a compe
ensação a
município
os; e o Siste
ema de Infformaçõess sobre Recursos Híd dricos.

20
No caso da Lei Pa aulista (Leii 7663/199
91), são estabelecidos os segguintes ins
strumentoss
básicos p para a Política Estaadual de R Recursos Hídricos: a outorga de direito os de uso
o
(Seção I); das Infra
ações e Pe enalidadess (Seção II); a cobrança pelo uuso da águ
ua (Seção
o
III); do Ra
ateio de Custos das Obras ((S Seção IV); Planos Esstadual de Recursos Hídricos -
PERH e P Plano de Bacia
B dos CBHs
C (Cappitulo III).

A seguir serão aprresentados


s os princiipais instru
umentos im
mplementaados pelas
s Políticass
Nacional e Estadual (São Pau
ulo) de Reccursos Hídricos.

21
Principais Instrumentos das Politicas

1 - Plano Estadual de Recursos Hídricos e os Planos de Bacia Hidrográfica

O Plano Estadual de Recursos Hídricos é instrumento de gestão que visa orientar a


implementação da Política Estadual de Recursos Hídricos, definindo as diretrizes para
utilização das águas, bem como medidas para sua proteção e conservação, de modo a
garantir sua disponibilidade – em quantidade e qualidade adequadas – para os diferentes
usos.

No início de fevereiro de 1991, foi publicado o Decreto n° 32.954, que aprovou o Plano
Estadual de Recursos Hídricos - PERH, primeiro documento técnico de natureza
abrangente sobre este tema que revelou a situação preocupante do futuro dos recursos
hídricos no Estado de São Paulo. Destaca-se neste PERH as demandas de uso da água,
o crescimento demográfico, diagnóstico sobre o uso e o controle dos recursos hídricos e
os cenários de utilização, controle e recuperação, com a indicação dos programas
necessários à sua implementação.

De acordo com a Política Estadual de Recursos Hídricos no Estado de São Paulo, o


Plano Estadual de Recursos Hídricos – PERH deve ser elaborado com base nos planos
das bacias hidrográficas, nas normas relativas à proteção do meio ambiente e nas
diretrizes do planejamento e gerenciamento ambientais. Neste contexto, o Plano Estadual
de Recursos Hídricos estabelece diretrizes e critérios de gerenciamento em escala
estadual, refletindo as necessidades regionais expressas nos planos de bacia.

Em 14.12.2016 foi promulgada a Lei 16.337, que dispõe sobre o Plano Estadual de
Recursos Hídricos - PERH e dá providências correlatas com novas diretrizes para SIGRH.

O atual Plano de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, quadriênio 2016-2019,


trata da 7ª atualização aprovado pela Deliberação 203, de 14.06.2017, pelo Conselho
Estadual de Recursos Hídricos – CRH, com base nas novas regras dispostas na Lei
16.337/2016, de 14.12.2016, vide site SIGRH:
http://www.sigrh.sp.gov.br/public/uploads/ckfinder/files/PERH%202016-
2019%20INTERNET%20225%20dpi.pdf

Os Planos de Bacias Hidrográficas – PBH elaborados por cada Comitê de Bacia


Hidrográfica – CBH tem como foco indicar as ações de gestão dos recursos hídricos na
UGRHI e são complementados, no caso das bacias que incluem rios de domínio da
União, pelos Planos Integrados de Recursos Hídricos – PIRH federais.

O Plano de Bacia Hidrográfica é quadrienal e deve apresentar todas as ações, estruturais


e não estruturais, que afetam o binômio disponibilidade/demanda de água, associado à
qualidade. Neste gerenciamento dos recursos hídricos é requisito a definição de metas
(curto, médio e longo prazo), de ações e de um plano de investimentos, com uma
definição clara do período temporal de planejamento, e também a elaboração de um
prognóstico da demanda e da disponibilidade dos recursos hídricos para este período.

22
Os Planos dos Com mitês de Bacia
B Hidro
ográfica – CBHs pre ecisam obsservar o diisposto naa
Deliberação do Conselho Es stadual nº 146, de 11.12.2012
1 2, que aprrova os crritérios, oss
prazos e os proce edimentos para a ellaboração do Plano o de Baciaa Hidrográáfica e do o
Relatório de Situaçã
ão dos Reccursos Híd
dricos da Bacia
B Hidro
ográfica.

O Relatórrio de Situuação está á previsto na Lei nº 7.663/1991


7 1, é um insstrumento de gestãoo
que objettiva monitoorar a quaantidade e o balanço o entre de
emanda e disponibilidade doss
recursos h
hídricos, e avaliar a eficácia
e da
as ações e dos investimentos pprevistos no
o Plano.

Fonte: ilustrração da SSRH – 2016

2 - Outorg
ga de Dire
eitos de Uso dos Re
ecursos Hídricos
H

Os recurssos hídrico
os (águas superficiais
s s e subterrrâneas) co
onstituem-sse em ben
ns públicoss
que toda pessoa fíísica ou juurídica tem
m direito ao o acesso e utilizaçãão e cabe ao Poderr
Público a sua adminnistração e controle.

A Outorga a de Direittos de Usoo dos Reccursos Híd m dos instrrumentos da gestão


dricos é um o
dos recurrsos hídriccos, concedida pelo órgão res sponsável, consideraando o doomínio doss
recursos hídricos, superficial
s e subterrâ
âneo da união ou es stadual. Em
m corpos d’água dee
domínio dda União, cabe
c emisssão é efetu
uada pela Agência
A Nacional daas Águas - ANA e no
o
âmbito do o domínio do Estad do de São o Paulo peelo Departtamento dde Águas e Energia a
Elétrica – DAEE.

Portanto, a outorgaa de direito


o de uso ou interferência nos s recursoss hídricos, é um ato
o
administra
ativo, de autorização
a o ou conccessão, mediante o qual o Pooder Públiico faculta a
outorgar o uso da água por determin nado temp po, finalida
ade e conndição exp pressa no
o
respectivo
o ato.

23
A Outorga de Direito de Uso dos Recursos Hídricos prevista pelo Decreto n° 41.258, de
31.10.1996, regulamentado pelo DAEE com a aplicação pela Portaria n.º nº 1636, de
30.05.2017, tem como objetivos garantir a qualidade e a quantidade dos Recursos
Hídricos e o efetivo exercício dos direitos de acesso a água. A Portaria DAEE n° 01, de
03.01.1998 aprova a norma e disciplina a fiscalização, as infrações e as penalidades.

Todo usuário que fizer uso ou interferência nos recursos hídricos tem que solicitar a
outorga e para tanto, deve consultar as Portarias do DAEE que tratam da captação de
águas superficiais de domínio do Estado.

A seguir é apresentado um quadro com as novas Portarias do DAEE datadas de 2017


sobre o tema com destaque a nova Portaria 1630/2017 que revoga a Portaria 717/1996.

Portaria DAEE Assunto tratado

Dispõe sobre procedimentos de natureza técnica e


administrativa para obtenção de manifestação e outorga de
nº 1630, de 30.05.2017
direito de uso e de interferência em recursos hídricos de
domínio do Estado de São Paulo.

Dispõe sobre usos de recursos hídricos superficiais e


nº 1631, de 30.05,2017 subterrâneos e reservatórios de acumulação que
independem de outorga.

Disciplina a isenção de outorga para interferências em


recursos hídricos decorrentes de obras e serviços
nº 1632, de 30.05.2017
relacionados às travessias aéreas ou subterrâneas em
corpos d’água de domínio do Estado de São Paulo.

Dispõe sobre procedimentos para isenção de outorga e de


declaração de dispensa de outorga para interferências em
nº 1633, de 30.05.2017 recursos hídricos em corpos d’água de domínio do Estado,
em situações de emergência, assim caracterizados pela
Defesa Civil.

Disciplina a utilização de recursos hídricos, provenientes


nº 1634, de 30.05.2017 de rebaixamento de lençol freático em edificações e obras
de construção civil.

Disciplina a utilização de recursos hídricos subterrâneos,


nº 1635, de 30.05.2017 provenientes de processos de remediação em áreas
contaminadas.

Dispõe sobre condições administrativas para protocolo e


tramitação de requerimentos de cadastros e de outorgas
nº 1636, de 30.05.2017
de recursos hídricos superficiais ou subterrâneos, de
domínio do Estado de São Paulo.

Fonte: site DAEE – acesso 24.07.2017

24
As novas Instruções Técnicas da Diretoria de Procedimentos de Outorga e Fiscalização
do DAEE, estão organizadas no quadro a seguir.

Instrução Técnica Assunto tratado

Estabelece as condições administrativas e técnicas mínimas a


serem observadas para a obtenção de Declaração sobre
n° 08, de 30.05.2017 Viabilidade de Implantação de empreendimentos - DVI que
demandem usos e interferências (obras e serviços) em recursos
hídricos superficiais e subterrâneos.

Estabelece as condições administrativas e técnicas mínimas a


serem observadas para a obtenção de outorgas de direito de
n° 09, de 30.05.2017
uso (captações e lançamentos) e de interferência (obras e
serviços) em recursos hídricos superficiais.

Estabelece as condições administrativas e técnicas mínimas a


serem observadas para obtenção de licença de execução de
poços tubulares, outorga de direito de uso de recursos hídricos
n° 10, de 30.05.2017 subterrâneos, para novas captações (incluindo ampliação),
regularização de captações existentes e renovação de
captações outorgadas, bem como cadastro de usos isentos de
outorga, desativação temporária ou definitiva de poços.

Estabelece o conteúdo mínimo para a elaboração de estudos


hidrológicos e hidráulicos, para subsidiar o fornecimento de
n° 11, de 30.05.2017 informações requeridas para a obtenção de outorga ou de
dispensa de outorga para interferências em recursos hídricos
superficiais.

Estabelece critérios e procedimentos para apresentação de


documentação, referente a aproveitamentos hidrelétricos
necessária para obtenção da Declaração sobre Viabilidade de
n° 12, de 30.05.2017
Implantação de empreendimentos (DVI), outorga de direito de
uso ou de interferência nos recursos hídricos e cadastramento
dos aproveitamentos hidrelétricos.

Estabelece exigências para obtenção da Declaração sobre


Viabilidade de Implantação (DVI) de empreendimentos e da
n° 13, de 30.05.2017 outorga de direito de uso de recursos hídricos pelo produtor de
água de reúso direto, não potável, proveniente de Estações de
Tratamento de Esgoto Sanitário de Sistemas Públicos – ETEs.

Fonte: site DAEE – acesso 24.07.2017 -


http://www.daee.sp.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1631%3Anovo-portal-de-
outorgas&catid=72%3Anovo-portal-de-outorgas&Itemid=79

25
3 - Cobrança pelo Uso do Recurso Hídrico

A cobrança pelo uso da água é um dos instrumentos de planejamento e da gestão


integrada dos recursos hídricos, instituídos pela Lei Estadual n° 7.663/1991 e pela Lei
Federal n° 9.433/97, que tem como objetivo, estimular o uso racional e gerar recursos
financeiros para investimentos na recuperação e preservação dos recursos hídricos das
bacias.

A Lei Estadual 12.183, de 29.12.2005, regulamentada pelo Decreto 50.667, de


30.03.2006, estabelece a cobrança pela utilização dos recursos hídricos no Estado de
São Paulo, com o objetivo de reconhecer a água como bem público de valor econômico e
dar ao usuário uma indicação do seu real valor, além de incentivar o uso racional e
sustentável da água.

A cobrança não é um imposto, mas um preço público, fixado a partir de um pacto entre os
usuários de água e de determinado Comitê de Bacia. Os recursos financeiros
arrecadados serão aplicados para o financiamento dos programas e intervenções
contemplados nos planos estaduais de recursos hídricos, e mesmo, nas interfaces com o
plano de saneamento ambiental.

Ressalta-se que, estão sujeitos à cobrança pelo uso da água todos aqueles que utilizam
os recursos hídricos, por exemplo, os usuários dos setores de saneamento, do comércio,
da indústria, do rural, entre outros, e o produto da cobrança arrecadado está vinculado
diretamente à bacia hidrográfica objeto da arrecadação.

Na equação da cobrança da água, consideram-se os volumes de água captados,


consumidos e a carga poluidora lançada no corpo d’água, cujas informações estão
pautadas nos dados técnicos da(s) autorização(ões) de Outorgas de Direito de Uso dos
Recursos Hídricos, disponibilizadas pelo órgão outorgante (Departamento de Água e
Energia Elétrica - DAEE), e as informações sobre aspecto de qualidade, vinculadas ao
processo de licenciamento ambiental que são disponibilizadas pelo órgão ambiental
(Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB).

Os valores a serem cobrados são definidos e pactuados por cada Comitê de Bacia
Hidrográfica, em função do Plano de Bacias, considerando para tanto, os investimentos
necessários, com base em ações estruturais e não estruturais. Assim, o CBH estabelece
as prioridades de ações, ou seja, as obras e os projetos a serem realizados e as parcelas
de investimentos a serem cobertas com o produto da cobrança.

26
Fonte: http://www.sigrh.sp.gov.br/cobrancapelousodaagua, acesso 23.07.2018.

Salienta-se que para os usuários do setor rural paulista não há cobrança efetiva em curso,
ou seja, não tem Decreto promulgado que prevê a sua realização no âmbito do Estado de
São Paulo, apesar do CRH já ter aprovado deliberação específica para esta finalidade.

Os recursos arrecadados nas bacias de domínio da União são repassados integralmente


pela ANA à Agência de águas da bacia (ou à entidade delegatária que exerce tal função)
para que a instituição aplique os valores em ações escolhidas pelo respectivo Comitê de
Bacia. A cobrança federal encontra-se em operação em 6 bacias federais: Paraíba do Sul;
Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Bacias PCJ), São Francisco, Doce, Verde Grande e
Paranaíba.

4 - Enquadramento dos corpos d´água

Primeiramente, cabe salienta que o Estado de São Paulo possui o Decreto nº 10.775, de
22.11.1977 que disciplina o enquadramento dos corpos d’água. A Lei nº 7.663/1991,
prevê o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos
preponderantes da água, e, no seu artigo 17, estabelece que os Planos de Bacias
Hidrográficas devem conter propostas de enquadramento dos corpos d’água superficiais
em classes.

27
A Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/1997) define o enquadramento dos
corpos d’água como um dos instrumentos para aplicação na gestão e no gerenciamento
de recursos hídricos.

O enquadramento dos corpos d’água consiste no estabelecimento da meta ou objetivo da


classe de qualidade da água a ser, obrigatoriamente, alcançado ou mantido em um
segmento de um corpo hídrico, de acordo com os usos preponderantes mais restritivos
(atuais ou pretendidos), ao longo do tempo, conforme define a Resolução do Conselho
Nacional de Meio Ambiente - CONAMA nº 357, de 17.03.2005 (alterada pelas Resoluções
nº 370/2006, 397/2008, 410/2009 e 430/2011, que dispõem sobre a classificação dos
corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento).

O enquadramento dos corpos d’água em classes expressa as metas intermediárias e final


a serem alcançadas, tendo por base os níveis de qualidade que os corpos hídricos devem
possuir para atender às necessidades da população, fixando as metas progressivas
visando a efetivação da proposta.

O processo deve ser dinâmico e pode ser revisto periodicamente, tendo em vista as
mudanças socioeconômicas das bacias, mudanças de prioridades, de tecnologias, entre
outras questões.

As metas devem visar à conservação e à melhoria da qualidade da água, da qualidade


ambiental, sem desconsiderar a viabilidade técnica e a capacidade de investimento, a fim
de não incorrer em excessivas restrições que não sejam factíveis de serem alcançadas, e
ao uso pretendido para o corpo hídrico em estudo.

O enquadramento dos corpos d’água deve ser feito de acordo com as normas e
procedimentos definidos pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH e pelo
Conselho Estadual de Recursos Hídricos - CRH, e deve estar de acordo com o Plano
Nacional de Recursos Hídricos – PNRH e com o Plano Estadual de Recursos Hídricos –
PERH, assim como com o Plano de Recursos Hídricos da Bacia. O enquadramento dos
corpos d’água deve ter como base os estudos específicos propostos e aprovados pelas
instituições competentes do Sistema Integrado de Gestão de Recursos Hídricos - SIGRH.

Assim identifica-se que o processo da aprovação pelos CBHs das suas propostas
relativas ao Programa de Efetivação do Enquadramento dos Corpos d’Água, e como
consequência, da apreciação e da aprovação da proposta, poderão gerar ao longo do
tempo a necessidade de alterar os termos do atual Decreto 10.755/1977, em função das
Deliberações do CRH, visto que o inciso VII, do artigo 25, da Lei Estadual nº 7.663/1991
conferiu a este Conselho – CRH, competência para tal conforme os termos do artigo 25,
citado a seguir:

(...)
“Artigo 25 – Competem ao CRH, dentre outras, as seguintes atribuições:
(...)

28
VII – efetuar o enquadramento de corpos d’água em classes de uso
preponderante, com base nas propostas dos Comitês de Bacias Hidrográficas
– CBHs, compatibilizando-as em relação às repercussões interbacias e arbitrando
os eventuais conflitos decorrentes;
(...)
Desta maneira, uma Deliberação do CRH poderá aprovar a proposta de
efetivação ou de alteração da classe de enquadramento de um corpo d’água,
apresentada pelo CBH através do Estudo de Fundamentação da Proposta de
Atualização do Enquadramento dos corpos d’água, conforme estabelece o inciso
III, do artigo 26, da Lei nº 7.663/1991:
(...)
“Artigo 26 – Aos Comitês de Bacias Hidrográficas, órgão consultivos e
deliberativos de nível regional, competem:
(...)
III – aprovar a proposta do plano de utilização, conservação, proteção e
recuperação dos recursos hídricos da bacia hidrográfica, em especial o
enquadramento dos corpos d’água em classes de uso preponderantes,
com o apoio de audiências públicas;
(...)”

Portanto, considerando a combinação dos artigos acima mencionados, entende-se que a


Política Estadual de Recursos Hídricos atribuiu competência ao CRH para disciplinar o
enquadramento, a partir das propostas aprovadas pelos CBH. Assim é de
responsabilidade de cada CBH apresentar o Estudo de Fundamentação da Proposta de
Atualização do Enquadramento e o respectivo Programa de Efetivação ao CRH.

A ilustração a seguir apresenta as principais atividades para o processo de


enquadramento dos corpos d’água considerando as classe de enquadramento e os usos
das águas doces.

29
Fonte: site SIGRH – acesso 23.07.2018 - http://www.sigrh.sp.gov.br/enquadramentodoscorposdagua

O quadro a seguir apresenta a legislação básica aplicada a qualidade das águas e ao


enquadramento dos corpos d’água no Estado de São Paulo, combinado com a Resolução
CNRH 91/2008 sobre os temas:

Norma legal Assunto tratado

Lei nº 997, de 31.05.1976 Dispõe sobre o controle da poluição do Meio Ambiente

Aprova o Regulamento da Lei nº 997/1976, que dispõe


Decreto nº 8468, de
sobre a prevenção e o controle da poluição do meio
08.09.1976
ambiente

Dispõe sobre o enquadramento dos corpos de água


Decreto nº 10.755, de
receptores na classificação prevista no Decreto n°
22.11.1977
8.468/1976, e dá providências correlatas

Dispõe sobre o reenquadramento do Rio Jundiaí-Mirim e


Decreto nº 24.839, de
seus afluentes na classificação prevista no Anexo do
06.03.1986
Decreto nº 10.755/1977

Estabelece normas de orientação à Política Estadual de


Lei nº 7.663, de
Recursos Hídricos bem como ao Sistema Integrado de
30.12.1991
Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Aprovando, de acordo com o que ficou decidido na reunião


Deliberação CRH nº 03, do dia 25.11.1993, e com fundamento no Art. 25, inciso VII,
de 25.11.1993 da Lei 7.663/1991, os reenquadramentos dos seguintes
corpos d’água

30
Decreto nº 39.173, de Dispõe sobre o reenquadramento dos corpos d’agua que
08.09.1994 especifica e dá providências correlatas

Resolução CNRH n° 91, Dispõe sobre procedimentos gerais para o enquadramento


de 05.11.2008 dos corpos de água superficiais e subterrâneos.

Altera o inciso II do § 4o e a Tabela X do § 5º, ambos do


art. 34 da Resolução do Conselho Nacional do Meio
Resolução Conama nº Ambiente - CONAMA no 357/2005, que dispõe sobre a
397, de 03.04.2008 classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais
para o seu enquadramento, bem como estabelece as
condições e padrões de lançamento de efluentes.

Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de


Resolução Conama nº efluentes, complementa e altera a Resolução no 357, de
430, de 13.05.2011 17.03.2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-
CONAMA.

Referenda a proposta de alteração da classe de qualidade


Deliberação CRH nº 162, do Rio Jundiaí, entre a foz do Ribeirão São José e a foz do
de 09.09.2014 Córrego Barnabé, contida na Deliberação dos Comitês
PCJ nº 206/2014, de 08.08.2014.

Referenda a proposta de alteração da classe de qualidade


Deliberação CRH nº 168, da água do Ribeirão Lavapés, no trecho compreendido da
de 09.12.2014 nascente até a confluência com o Córrego Desbruado no
município de Botucatu.

Referenda a proposta de alteração da classe de qualidade


Deliberação CRH nº 202, do Rio Jundiaí, em determinados trechos, de Classe 4 para
de 09.09.2014 Classe 3, contida na Deliberação dos Comitês PCJ nº
261/2016, de 16/12/2016.

Fonte: site SIGRH – acesso 24.07.2017

Para a implementação do enquadramento, além da observância da legislação estadual e


federal de recursos hídricos, o CBH e o CRH precisam atentar para as interfaces com a
legislação ambiental, sendo imprescindível a articulação do SIGRH com o SEQUA –
Sistema Ambiental Paulista.

Neste caso, ressalta-se que a legislação prevê a realização de audiência(s) pública(s)


para apresentar o Estudo de Fundamentação da Proposta de Atualização do
Enquadramento dos Corpos d’Água. As audiências públicas são reguladas pela Lei
Federal nº 9.784/1999 e no âmbito do Estado de São Paulo, no Sistema Ambiental
Paulista, pela Deliberação Normativa nº 01, de 14.09.2011, aprovada na 287ª Reunião
Ordinária do Plenário do CONSEMA que “estabelece normas para solicitação,
convocação e realização de audiências públicas”.

31
5 - Sistema de Informação dos Recursos Hídricos

O Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH) é um dos


instrumentos de gestão previsto e instituído pela nº Lei Federal 9433/1997. Trata-se de
um amplo sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações
sobre recursos hídricos, bem como fatores intervenientes para sua gestão. O SNIRH tem
como objetivos: reunir, dar consistência e divulgar os dados e informações sobre a
situação qualitativa e quantitativa dos recursos hídricos no Brasil; atualizar
permanentemente as informações sobre disponibilidade e demanda de recursos hídricos
em todo o território nacional; e fornecer subsídios para a elaboração dos Planos de
Recursos Hídricos.

A Agência Nacional de Águas - ANA cabe organizar, implantar e gerir o SNIRH, de acordo
com a sua lei de criação, Lei 9.984, de 17.07.2000, para destinar ao público do Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH); conselhos, órgãos
gestores, agências de bacias e comitê de bacias; os usuários de recursos hídricos;
comunidade científica e a sociedade em geral.

O SNIRH é composto por um conjunto de sistemas computacionais, agrupados em:


Sistemas para gestão e análise e dados hidrológicos; Sistemas para regulação dos usos
de recursos hídricos; e Sistemas para planejamento e gestão de recursos hídricos, para
tanto, vide site ANA: http://www3.snirh.gov.br/portal/snirh

No âmbito do Estado de São Paulo o Sistema paulista de recursos hídricos tem suas
informações disponíveis para os usuários e a população em geral através do Sistema
Integrado de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SIGRH), para tanto, vide site
SIGRH: www.sigrh.sp.gov.br.

Integração das Políticas Públicas

No contexto da aplicação das políticas públicas, a Política Estadual de Recursos Hídricos


não foge regra, é política pública concebida através de conjunto de instrumentos, ações
desencadeadas pelo Estado e por colegiados representantivos com a participação da
sociedade, observando para tanto, o domínio dos recursos hídricos (superfical e
subterâneo), frente a escala de disponibilidade/demanda, porém em integração com
outras políticas públicas.

Como representativo da integração de políticas públicas, segue o exemplo da interface


dos procedimentos administrativos entre os instrumentos da Política Estadual de
Recursos Hídricos com os da Política Estadual de Meio Ambiente, Resolução SMA
54/2008 e a Deliberação CRH 87/2008.

Para ilustrar a integração mencionada, destaca-se inicialmente a aplicação da Resolução


SMA 54, de 30.07.2008, a qual estabelece os procedimentos para a Departamento de
Avaliação de Impacto Ambiental (Diretoria CETESB) em solicitar e receber as
recomendações técnicas dos Comitês de Bacias Hidrográficas – CBHs, para as fases do

32
licenciamento ambiental de empreendimento enquadrados com a obrigação de apresentar
o Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental - EIA/RIMA.

Para o sistema de Recursos Hídricos recepcionar a presente demanda prevista pelo


Sistema Paulista Ambiental, na aplicação da Resolução SMA 54/2008, o Conselho
Estadual de Recursos Hídricos – CRH estabeleceu as orientações operacionais aos
CBHs através da Deliberação CRH 87, de 28.10.2008.

Desta maneira, os CBHs passaram a ter caráter de órgão consultivo ao processo de


licenciamento ambiental, os quais, após apreciação e discussão de um respectivo
EIA/RIMA, encaminham a manifestação ao órgão ambiental licenciador (CETESB). Cabe
ao órgão licenciador a manifestação conclusiva sobre a viabilidade ambiental do
empreendimento, incluindo ou não a manifestação do CBH.

As manifestações dos CBHs devem ser encaminhadas para o órgão ambiental


licenciador, em prazo não superior a 60 (sessenta) dias do recebimento dos estudos do
empreendimento, e devem ser analisadas em conformidade com o Plano de Bacia, de
forma a não comprometer a qualidade e/ou a quantidade dos recursos hídricos que
possam ser afetados pelo empreendimento.

Os CBHs poderão recomendar ao órgão ambiental licenciador que incorpore no parecer


técnico conclusivo sobre a viabilidade técnica do empreendimento, condicionantes e
medidas mitigatórias adicionais àquelas propostas no EIA/RIMA, na direção de minimizar
os potenciais impactos sobre os recursos hídricos da Bacia, produzidos pelo
empreendimento em processo de licenciamento ambiental.

Comitês Piracicaba, Capivari e Jundiaí – PCJ (exemplo)

Nos Comitês PCJ (Federal, Paulista e Mineiro) esta análise é realizada no âmbito do
Grupo de Trabalho Empreendimentos, formado pelos coordenadores das Câmaras
Técnicas desses Comitês, criado pela Deliberação dos Comitês PCJ n° 035/09, de
21.05.2009. No processo de análise, o empreendedor é convidado a fazer uma breve
explanação sobre os aspectos relativos aos recursos hídricos sobre os quais o
empreendimento tenha interferência e, eventualmente, esclarecer questões técnicas
presentes no EIA.

Estas apresentações nos Comitês PCJ seguem um roteiro disponibilizado para os


empreendedores, denominado: “orientações aos empreendedores para apresentação de
EIAs aos Comitês PCJ”.

33
REFERÊNCIAS:

(BRASIL) Lei 9443, de 8 de Janeiro de 1997 – Institui a Política Nacional de Recursos


Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o
inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de
março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989; 1997.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm, acesso em
23.07.2018.

(BRASIL) Agência Nacional das Águas (ANA). Disponível em: www.ana.gov.br; acesso
em 23.07.2018.

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Áreas de Mananciais e
Gestão das Águas

Márcia Maria do Nascimento

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ÁREAS DE MANANCIAIS e GESTÃO DAS ÁGUAS: DESAFIOS DO PLANEJAMENTO
A questão dos mananciais na RMSP
A busca por soluções para atendimento do abastecimento de água da população há
muito tempo é objeto de preocupação nos órgãos públicos vinculados à questão sanitária
e de saúde pública em São Paulo e na Região Metropolitana de São Paulo - RMSP.
A transformação da cidade de SP em metrópole foi influenciada por intenso movimento
migratório no país, ocorrida entre os anos de 1940-1950, quando o processo de expansão
da cidade e a consolidação do espaço metropolitano aumentaram a pressão por
ocupação em áreas periféricas desprovidas de infraestrutura.
O reservatório Guarapiranga, um dos principais mananciais de SP em operação desde
1929, apresentava ocupação por loteamento popular de alta densidade já na primeira
metade da década de 50, com o loteamento popular Rio Bonito, “configurando um início
de modificação do cenário então predominante, de ocupações vinculadas ao
aproveitamento cênico ou das águas do reservatório” (SRHSO, 1997, p. 09).
Os principais mananciais de SP do início dos anos 90, os reservatórios Alto Cotia e
Guarapiranga, mostravam-se insuficientes para atendimento da demanda hídrica e
alcance de determinadas localidades em expansão da cidade de São Paulo, surgindo
como alternativas de captação os poços artesianos e a captação de água diretamente em
rios. Estes, no entanto, devido ao longo período de lançamento de efluentes sem
tratamento nos corpos d´água apresentavam níveis de contaminação elevados,
impossibilitando o uso de grande parte dos rios da cidade para abastecimento de água
e aumentando a criticidade de atendimento à demanda pública.
Em termos mundiais, o padrão de crescimento e consumo dos países desenvolvidos,
fortemente apoiados na industrialização decorrente do pós-Segunda Guerra Mundial,
elevou de modo significativo o uso dos recursos naturais resultando em aumento dos
processos de poluição da água, ar e solo, além da perda de biodiversidade decorrente da
supressão de vegetação e riscos à saúde humana.
A preocupação ambiental preconizada pela Conferência de Estocolmo em 1972, na
Suécia, passa a incorporar os princípios de desenvolvimento sustentável, com
crescimento econômico e social considerando a manutenção da capacidade de
regeneração dos elementos naturais água, ar, solo e vegetação.
A Conferência de Estocolmo teve como reflexo a busca por novos modelos de
crescimento, incluindo a avaliação da natureza enquanto indicador das suas
potencialidades e formas de manutenção dos processos naturais, ou seja, de que modo
41
garantir o uso dos recursos naturais sem comprometer sua capacidade de suporte das
gerações futuras, além das atuais.
Diante do crescimento econômico e populacional da grande São Paulo, nas décadas de
50 a 70, os órgãos públicos responsáveis pelo planejamento e controle do uso do solo
iniciam estudos de modo a direcionar o crescimento populacional para áreas mais
apropriadas ao uso urbano e disciplinar o uso de determinadas porções do território da
metrópole, cujas características físicas proporcionam elementos naturais necessários ao
desenvolvimento econômico e social.
Deste modo, inicia-se uma alteração do planejamento cujo objetivo era o crescimento
econômico e social a qualquer custo para a visão de desenvolvimento sustentável,
buscando conciliar a expansão da metrópole vinculada ao reconhecimento do território,
enquanto potencial fornecedor de bens naturais.
Sob esta influência o GEGRAN, Grupo de Planejamento da Grande São Paulo instituído
pelo governo estadual, elaborou o I Plano Metropolitano de Desenvolvimento Integrado
(PMDI), estabelecendo limites territoriais de crescimento econômico e populacional da
metrópole, com diretrizes de caráter ambiental e socioeconômico.
O I PMDI definiu os limites das Áreas de Proteção aos Mananciais (APMs) e ainda as Zonas
de Uso Predominantemente Industrial (ZUPIs), de acordo com as leis estaduais nº 898/75,
1.172/76 e 1.817/78.
A delimitação pelo GEGRAN das APMs observou uma detalhada análise das condições de
relevo e pluviosidade das áreas definidas pelo I PDMI e não por acaso foram definidas nas
regiões sul e norte da metrópole.
As escarpas da Serra do Mar e da Serra da Cantareira, respectivamente, ao sul e ao norte
da RMSP, constituem obstáculos naturais que favorecem o acúmulo de nuvens e
frequência de chuvas, as quais compõem o volume de águas captadas e armazenadas
pelos reservatórios regionais, existentes ou projetados, para posterior tratamento e
distribuição para abastecimento público da população.
Na FIGURA 01 estão representados os intervalos de declividades superiores a 45%, onde
foram delimitados os limites das áreas protegidas para produção hídrica, conforme mapa
da RMSP com a representação das APMs na FIGURA 02.

42
FIGURA 01: Mapa de declividades na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP)

Fonte: SMA-DATAGEO, 2017.

FIGURA 02 – Delimitação das APMs definidas pelas leis estaduais nº 898/75 e 1.172/76.

Fonte: Nascimento, MN. 2018.

43
Desta forma, buscava-se induzir a ocupação nos vetores leste-oeste da capital para uso
industrial e nos vetores norte-sul a destinação bem delimitada de territórios com vocação
natural para a produção hídrica.
A lógica do sistema de planejamento e gestão criado para a RMSP era estruturar e
integrar as ações governamentais no território, reconhecer o papel e as atribuições dos
órgãos envolvidos, em nível municipal e estadual, disciplinar o uso e ocupação do solo
por meio de delimitação de ZUPIs e de áreas destinadas à produção de água para a
população, que devido à não aprovação do I PMDI em norma legal, demandou do
governo do Estado de SP a instituição de algumas das diretrizes contidas no Plano por
meio de leis, tais como a aprovação das leis estaduais nº 898, de 18 de dezembro de 1975
e nº 1.172, de 17 de novembro de 1976 de proteção aos mananciais e a Lei Estadual nº
1.817, de 1977, de zoneamento industrial.
Divergente do conceito bastante divulgado de que as leis da década de 70
impossibilitavam qualquer tipo de ocupação das áreas de mananciais, o modelo de
planejamento do uso e ocupação do solo previsto na lei nº 1.172/76 permitia a
implantação de usos e atividades, desde que não interferissem na quantidade, qualidade
e recarga hídrica dos mananciais, respeitando as diretrizes e parâmetros urbanísticos de
baixa densidade populacional e, em especial, a implantação de infraestrutura sanitária
com tratamento compatível com a densidade populacional do território protegido.
Ocorre que, ainda na década de 70, associado ao processo de expulsão da população de
menor renda de áreas em processo de valorização imobiliária, inúmeras indústrias foram
instaladas na região sul, criando um forte vetor de ocupação nos mananciais originado
pelo fluxo de trabalhadores às indústrias e pela implantação de benfeitorias públicas tais
como vias de acesso, transporte público e redes públicas de abastecimento de água.
A proximidade dos limites das ZUPIs da zona sul da metrópole e as APMs pode ser
verificada na FIGURA 03.
A atrativo econômico gerado pela atividade industrial e a baixa eficácia da política
habitacional para população de baixa renda resultaram, na maioria dos casos, em
situações precárias de uso e ocupação do solo, potencializadas pela impossibilidade de
atendimento dos locais com redes de coleta e tratamento de esgotos, proibido por lei,
comprometendo a qualidade da água dos reservatórios pelo lançamento dos efluentes
gerados.

44
FIGURA 03 – Vetores de expansão na sub-bacia Guarapiranga em relação às ZUPIs

Fonte: Sistema Cartográfico Metropolitano – SCM, EMPLASA. 1980.

Em meados da década de 80, o processo de ocupação irregular das áreas próximas às


bacias hidrográficas dos reservatórios Guarapiranga e Billings se intensificou levando o
poder público a discutir a revisão da legislação e buscar uma atuação da fiscalização mais
eficaz, por meio da criação de grupos de fiscalização integrada como o SOS Mananciais,
Guarapiranga e Billings, composto por representantes dos municípios e dos órgãos
estaduais.
Cabe ressaltar que, apesar da pressão por ocupação de áreas periféricas da RMSP,
grandes porções das áreas de mananciais mantiveram remanescentes florestais bastante
preservados, justificado, em parte, pela aplicação da lei de proteção da década de 70 e
sendo fortalecida por outros instrumentos de proteção e preservação como, por
exemplo, a criação de unidades de conservação municipais.
No entanto, como é de conhecimento geral, nem todas as áreas foram mantidas com
baixa densidade de ocupação, em especial as áreas do entorno dos reservatórios
Guarapiranga e Billings em São Paulo e em municípios vizinhos a ele, como Embu das
Artes, Itapecerica da Serra, Diadema e São Bernardo do Campo, os quais sofreram as
consequências do crescimento desordenado daquele município em suas áreas
protegidas.

45
Impulsionado pelos diversos conflitos ali existentes entre a questão social e ambiental e
a promulgação da Constituição Federal em 1988 delegando autonomia municipal para
legislar sobre o seu território, por meio de projeto de lei elaborado pela Secretaria de
Estado do Meio Ambiente foi aprovada pelo poder legislativa a Lei Estadual nº 9.866 de
1997, denominada a nova Política de Proteção e Recuperação dos Mananciais.
A nova política ampliou a área de abrangência para todo e qualquer manancial de
interesse regional para abastecimento público no Estado de São Paulo, vinculando a sua
gestão à Lei 7.663/93, que define o Sistema Integrado de Gestão dos Recursos Hídricos
em São Paulo e, desta forma, estabeleceu um novo modelo de planejamento e gestão
tendo por objetivo principal a recuperação e o não comprometimento do uso do
manancial pelas gerações atuais e futuras.
A política de mananciais estabeleceu a necessidade de criação de leis específicas para
cada Área de Proteção e Recuperação dos Mananciais – APRM, sendo incluído o termo
recuperação justamente para tratar o passivo ambiental criado pelo não atendimento ao
previsto no modelo de uso e ocupação do solo da década de 70 e resultante, dentre
outros fatores, da falta de articulação entre os órgãos públicos estaduais e municipais
envolvidos.
A experiência de aplicação da lei nº 1.172/76 tornou evidente a necessidade de
contemplar nas leis específicas as características do território, tanto as naturais como as
antrópicas. Ao delimitar as APRMs por sub-bacias buscou aproximar a gestão regional e
local, considerando as peculiaridades socioeconômicas e ambientais da região e, por fim,
preservar a água em quantidade e qualidade para uso no abastecimento público.
Um exemplo desta situação pode ser verificado na aplicação da lei nº 1.172/76 na RMSP
onde, em termos de uso e ocupação do solo, a legislação previa parâmetros urbanísticos
iguais para áreas bastante distintas, como a região do Alto Tietê-Cabeceiras, onde há
predominância de produção de hortifrutigranjeiros e de perfil rural, e a região dos
Reservatórios Guarapiranga e Billings, com ocupação de alta densidade populacional,
predominância de população de baixa renda e de perfil urbano. Enquanto a região do
Alto Tietê-Cabeceiras demandava parâmetros e intervenções de caráter
preservacionistas, o entorno da Guarapiranga e Billings exigiam ações de recuperação
urbana.

46
Com isso, em 1980, iniciam-se os primeiros estudos para revisão das Leis de Proteção aos
Mananciais – LPM sob a coordenação da Secretaria Estadual de Negócios Metropolitanos
(SNM) e a Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo -EMPLASA.
Porém, apenas com a instituição da Comissão Especial de Revisão da Legislação de
Proteção aos Mananciais, por meio do Decreto nº 40.225, de 17 de julho de 1995, sob a
coordenação da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA) foi elaborada a nova
política de proteção e recuperação dos mananciais, contando com a contribuição de
representantes dos seguintes órgãos:
- Agência Ambiental Paulista – CETESB;
- Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano – CDHU;
- Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo – SABESP;
- Departamento de Água e Energia Elétrica – DAEE;
- Empresa Metropolitana de Água e Energia do Estado de São Paulo – EMAE;
- Empresa de Planejamento Metropolitano – EMPLASA;
- Procuradoria Geral do Estado – PGE; e
- Secretaria de Economia e Planejamento.
A “nova” política das áreas de proteção e recuperação dos mananciais foi aprovada e
instituída na lei estadual nº 9.866, de 27 de novembro de 1997, com destaques
inovadores de diretrizes de planejamento e gestão dos mananciais, adotando a mesma
unidade de planejamento e gestão, as bacias hidrográficas, da Política Estadual de
Recursos Hídricos (PERH), lei nº 7.663/91, e a possibilidade de definição por lei específica
de todo e qualquer manancial, de interesse regional para abastecimento público, do
Estado de São Paulo.
A partir da promulgação da lei nº 9.866/97, inicia-se o processo de substituição das leis
da década de 70 da RMSP pelas leis específicas, primeiramente, para as Áreas de
Proteção e Recuperação dos Mananciais (APRMs) do reservatório Guarapiranga e, em
seguida, da APRM do reservatório Billings, respectivamente, lei nº 12.233/07 e decreto
51.686/07, e lei nº 13.579/09 e decreto 55.342/10.
Os MAPAS 01 e 02 apresentam o zoneamento ambiental das APRMs Guarapiranga e
Billings e as nomenclaturas de cada subárea de intervenção, definida por APRM.

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As mais recentes leis específicas aprovadas na RMSP foram as APRMs do Alto Juquery
(APRM-AJ), a do Alto Tietê-Cabeceiras – ATC (APRM-ATC) e a do Alto Cotia (APRM-AC),
respectivamente, leis nº 15.790/15 e decreto regulamentador nº 62.062, e lei nº
15.913/15 e decreto regulamentador nº 62.061 e recentemente a lei da APRM Alto Cotia,
lei nº 16.568, de 10 de novembro de 2017.
A mudança do marco jurídico constituiu-se em alteração de grande importância na
gestão territorial dos mananciais da RMSP, pois possibilitou a implantação de
infraestrutura de saneamento público onde antes não era permitido, no entanto não foi
suficiente para a ampla recuperação ambiental e urbana dos mananciais metropolitanos.
Em termos de diretrizes e normas para uso e ocupação do solo, as leis específicas
avançaram no sentido de diferenciar parâmetros urbanísticos, estabelecendo valores
condizentes com o objetivo de recuperação, ou seja, urbanizar onde for urbanizável.
Por outro lado, em locais onde foram mantidas situações com baixa densidade de
ocupação, preservação de vegetação e remanescentes florestais, foram reiteradas as
restrições urbanísticas de uso e ocupação do solo, de modo a resguardar o objetivo
principal das leis, ou seja, salvaguardar a quantidade e a qualidade da água dos
mananciais protegidos, desde a década de 70.
A TABELA 01 mostra os valores de tamanho de lote de acordo com o zoneamento
ambiental estabelecido pelas leis estaduais nº 1.172/76 e pelas Leis específicas das
APRMs dos reservatórios Guarapiranga e Billings, respectivamente, leis nº 12.233/06 e
13.579/09.
TABELA 01: Parâmetros urbanísticos das leis específicas em relação à Lei nº 1.172/76.

tamanho do lote LEI 12.233/06 tamanho do lote LEI 13.579/09 tamanho do lote
LEI 1.172/76
mínimo (m²) APRM - GP mínimo (m²) APRM - BI mínimo (m²)

SUC SOE
250 250
SUCt SUC
classe A 500
SUCt 250 e 500
SER 500
500
SEC 1.000
classe B 1.300 e 1.500 SBD 1.000
SOD 1.500
1.750; 2.000; 3.000 e 5.000
classe C 2.500; 3.500; SBD 5.000 5.000; 7.500 e
SCA
5.000 e 7.500 10.000
Fonte: MMN (2017)

Da análise dos dados, verifica-se que o parâmetro urbanístico de lote mínimo nas leis
específicas manteve muita similaridade com as mesmas premissas do planejamento

50
territorial e ambiental das leis da década de 1970, com lotes maiores para porções dos
territórios protegidos com características de baixa ocupação populacional e, por outro
lado, metragens de lotes menores em áreas mais adensadas e com padrão de intensa
ocupação urbana.
As leis específicas incorporaram a experiência das 1ª e 2ª categorias da Lei Estadual nº
1.172/76 e, por outro lado, avançaram com a inclusão de área destinada ao tratamento
do passivo ambiental, definindo as Áreas de Recuperação Ambiental (ARA) como
ocorrências de ocupações precárias e de interesse social, onde o comprometimento da
qualidade da água demandava a atuação do poder público municipal em parceria com o
Estado.
Nota-se a semelhança entre nomenclaturas, apresentadas nos MAPA 01 e 02, e os valores
de lote mínimo adotados entre o modelo atualmente vigente e preconizado pelo modelo
da década de 70. A partir de situações encontradas no território, foram efetuados ajustes
com a previsão de tamanho de lotes menores (250m²) nas áreas urbanizadas, incluindo
a possibilidade de compensação ambiental para os casos de não atendimento aos
parâmetros urbanísticos da respectiva lei específica.
Considerando a experiência de aplicação das LPM de 1975/76, nas leis específicas foram
definidos instrumentos de planejamento e gestão inovadores como o modelo de
correlação entre a qualidade da água dos reservatórios ao uso e ocupação do solo dos
mananciais, inserindo metas de qualidade da água acompanhadas de programas de
monitoramento realizados periodicamente nas APRMs.
Nos últimos anos, a importância da temática ambiental favoreceu a divulgação dos
conflitos de usos da água na RMSP. A educação ambiental assumiu importante papel no
esclarecimento dos impactos da ocupação desordenada nos mananciais e com riscos à
saúde pública, devido ao despejo indevido de efluentes nos corpos d´água.
Ainda que a população não tenha condições socioeconômicas para solucionar
isoladamente o impacto ambiental proveniente das suas ocupações nos mananciais, cada
vez mais sua participação junto aos órgãos públicos estaduais e municipais, reivindicando
melhorias na infraestrutura sanitária e nas condições de habitação, pressionam os
poderes públicos na implantação de intervenções e obras de recuperação dos
mananciais.

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Exceto na APRM-Alto Cotia (AC), que encontra-se sob a gestão da SABESP, concessionária
de água e esgotos do Estado de São Paulo e proprietária da área da APRM-AC, nas demais
APRMs o grande desafio que se coloca diante do processo de implementação das leis
específicas das APRMs Guarapiranga, Billings, Alto Juquery e Alto Tietê-Cabeceiras é
efetivar a integração institucional e o compromisso de investimentos dos órgãos
envolvidos, com a participação da sociedade civil, para garantir a execução das
intervenções necessárias à recuperação da qualidade e quantidade de água para
abastecimento das populações, atuais e futuras, da RMSP e de forma mais abrangente,
do Estado de São Paulo.
O caso da ocupação do Cantinho do Céu na bacia hidrográfica do reservatório Billings no
município de São Paulo - SP.
Durante muitos anos, o loteamento irregular Cantinho do Céu – SP, situado às margens
do reservatório Billings, foi utilizado como exemplo de ocupação inadequada e precária
existente nas áreas de mananciais. A partir da atuação do Ministério Público Estadual
(MPE), da Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP), da SMA e da vigência da lei
específica da APRM Billings, uma nova imagem do loteamento foi conquistada.

Fonte: JNS-HAGAPLAN, 2009.

Fotos 1 e 2 - Aspecto geral de via interna antes e depois das intervenções no


assentamento habitacional Cantinho do Céu - SP.

52
A execução das intervenções e obras de desocupação das Áreas de Preservação
Permanente (APPs) ao longo do reservatório Billings, com a implantação de
equipamentos públicos de lazer, por meio de um parque linear municipal no entorno do
reservatório, possibilitou melhorias sociais e ambientais, tanto para a comunidade
residente quanto para moradores de regiões próximas ao Cantinho do Céu.

Fotos: JNS-HAGAPLAN, 2010.

Fotos: JNS-HAGAPLAN, 2010.

Fotos nº 3; 4 e 5 - Vistas das margens do reservatório Billings no loteamento após as


intervenções de recuperação das Áreas de Preservação Permanente – APPs.

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Foto: Márcia Nascimento, 2010. Fonte: JNS-HAGAPLAN, 2010.

Apesar das dificuldades de atuação integrada do poder público, a política de proteção e


recuperação dos mananciais com novos instrumentos de gestão compartilhada entre
Estado e municípios está gradativamente alterando o círculo vicioso de irregularidade
gerando mais irregularidade, para se transformar em círculo virtuoso com o empenho da
sociedade civil na manutenção das intervenções de caráter corretivo, dos órgãos públicos
na reivindicação e implantação de infraestrutura sanitária, trazendo maior efetividade na
recuperação e proteção dos mananciais da RMSP.

2º PARTE - DINÂMICA DE APLICAÇÃO DAS LEIS ESPECÍFICAS DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO E


RECUPERAÇÃO DOS MANANCIAIS.

54
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Políticas Nacional e Estadual de
Educação Ambiental

Lina Maria Aché

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Anexos

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Textos de Referência
Ninguém ignora tudo.
Ninguém sabe tudo.
Todos nós sabemos alguma coisa.
Todos nós ignoramos alguma coisa.
Por isso aprendemos sempre.

Paulo Freire

Texto 1

SORRENTINO, Marcos; TRAJBER, Rachel; MENDONÇA, Patrícia; FERRARO JUNIOR,


Luiz Antonio. Educação ambiental como política pública. Educação e Pesquisa, São
Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/
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OTERO Patrícia Bastos Godoy; NEIMAN, Zysman. Avanços e Desafios da Educação


Ambiental Brasileira entre a RIO92 e a RIO+20. Revista Brasileira de Educação Ambiental
- Revbea, São Paulo, V. 10, No 1: 20-41, 2015. Disponível em: http://www.sbecotur.org.br/
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Texto 4

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intrínsecos na relação com o Licenciamento Ambiental de Petróleo e Gás tendo a pesca
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Universidade Federal do Rio Grande, 2012. Disponível em: https://periodicos.furg.br/
ambeduc/article/viewFile/2657/1669. Acesso em julho de 2018. Acesso em julho de 2018.

83
84
Educação ambiental como política pública
Marcos Sorrentino
Ministério do Meio Ambiente

Rachel Trajber
Patrícia Mendonça
Ministério da Educação e Cultura

Luiz Antonio Ferraro Junior


Universidade Estadual de Feira de Santana

Resumo

A educação ambiental surge como uma das possíveis estratégias


para o enfrentamento da crise civilizatória de dupla ordem, cultural e
social. Sua perspectiva crítica e emancipatória visa à deflagração de
processos nos quais a busca individual e coletiva por mudanças cul-
turais e sociais estão dialeticamente indissociadas. A articulação de
princípios de Estado e comunidade, sob a égide da comunidade,
coloca o Estado como parceiro desta no processo de transformação
do status quo situado, segundo Boaventura de Souza Santos, como
um “novíssimo movimento social”. A tal Estado cumpre o papel de
fortalecer a sociedade civil como sede da superestrutura. No campo
ambiental, o Estado tem crescido em termos de marcos regulatórios
sem uma capacidade operacional que condiga com a demanda em
vista da redução do Estado (década de 1990) e da ausência de refor-
mas que não sejam a do Estado mínimo. À educação ambiental cum-
pre, portanto, contribuir com o processo dialético Estado-sociedade
civil que possibilite uma definição das políticas públicas a partir do
diálogo. Nesse sentido, a construção da educação ambiental como
política pública, implementada pelo Ministério da Educação e Cultura
(MEC) e pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), implica processos
de intervenção direta, regulamentação e contratualismo que fortale-
cem a articulação de diferentes atores sociais (nos âmbitos formal e
não formal da educação) e sua capacidade de desempenhar gestão
territorial sustentável e educadora, formação de educadores
ambientais, educomunicação socioambiental e outras estratégias que
promovam a educação ambiental crítica e emancipatória. As políticas
públicas em educação ambiental implicarão uma crescente capaci-
dade do Estado de responder, ainda que com mínima intervenção
direta, às demandas que surgem do conjunto articulado de institui-
ções atuantes na educação ambiental crítica e emancipatória.
Correspondência:
Marcos Sorrentino
Programa Nacional Educação
Ambiental (MMA) Palavras-chave
Espl. dos Ministérios, Bloco B,
5º andar, sala 553 Educação ambiental – Políticas públicas – Sociedade civil –
7066-900 – Brasília – DF
e-mail: Ambientalismo.
marcos.sorrentino@mma.gov.br

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005 285


Environmental education as public policy
Marcos Sorrentino
Ministério do Meio Ambiente

Rachel Trajber
Patrícia Mendonça
Ministério da Educação e Cultura

Luiz Antonio Ferraro Junior


Universidade Estadual de Feira de Santana

Abstract

Environmental education emerges as one of the possible strategies to


face up to the double-order, cultural and social, civilization crisis. Its
critical and emancipative perspective intends to trigger processes in
which the individual and collective searches for cultural and social
change are dialectically intertwined. The articulation of State and
community principles, with the sanction of the community, establishes
the State as the latter’s partner in the process of transformation of the
status quo referred to by Boaventura de Souza Santos as a “brand new
social movement”. Such State must play the role of strengthening civil
society as the mainstay of superstructure. In the environmental field,
the State has advanced in terms of regulatory marks without an
operational capacity befitting the demand, owing to the reduction of
the State (in the 1990s) and to the absence of reforms other than that
of the minimal State. Environmental education must, therefore,
contribute to a State-civil society dialectical process that allows the
definition of public policies based on dialogue. In this sense, the
construction of environmental education as a public policy imple-
mented by the Ministry for Education and Culture (MEC) and by the
Ministry for the Environment (MMA) includes processes of direct
intervention, regulation and contractualism that strengthen the
articulation of various social actors (in both formal and non-formal
education contexts) and their ability to carry out sustainable and
educative territorial management, training of environmental educators,
socio-environmental educommunication, and other strategies that
promote a critical and emancipative environmental education. The
public policies in environmental education will require a growing
capacity of the State to respond, even if with minimal direct interven-
Contact:
tion, to the demands emerging from the articulated set of institutions
Marcos Sorrentino acting on the critical and emancipative environmental education.
Programa Nacional Educação
Ambiental (MMA)
Espl. dos Ministérios, Bloco B, 5º
Keywords
andar, sala 553
7066-900 – Brasília – DF Environmental education — Public policies — Civil society —
e-mail: Environmentalism.
marcos.sorrentino@mma.gov.br

286 Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005


A abordagem do Programa Nacional de que temos dele e de seu caminho (Kuhn, 1969).
Educação Ambiental reitera um entendimento, A educação ambiental, em específico, ao edu-
historicamente construído, dos desafios desta car para a cidadania, pode construir a possibi-
como processo dialético de transformação social lidade da ação política, no sentido de contribuir
e cultural. Grasmci considera a sociedade civil para formar uma coletividade que é responsá-
como sede da superestrutura (Bobbio, 1999), ou vel pelo mundo que habita. Nesse sentido,
seja, é em seu âmbito que nasce a idéia de uma podemos resgatar o pensamento de Edgar
nova ordem e de novos valores que implicam Morin, que vislumbra para o terceiro milênio a
uma nova estrutura, um novo Estado. O Estado, esperança da criação da cidadania terrestre. A
neste sentido, vive o paradoxo de ser representa- política de educação ambiental desenvolvida no
ção de uma tese senescente ao tempo em que Brasil apresenta-se, assim como aliada dos pro-
congrega atores e setores (na mão esquerda do cessos que promovem uma “sociologia das
Estado, em Bourdieu, 1998) que tendem a aliar- emergências” (Santos, 2002), como estratégia
se à sociedade civil na transformação cultural e para superar o paradigma da racionalidade ins-
social e na função de estimular a transformação trumental que operou, no Brasil e no mundo,
do próprio Estado nessas novas direções. Santos silenciamentos opostos à participação, à eman-
(1999) fala dessa perspectiva de ação do Estado cipação, à diversidade e à solidariedade.
como se ele próprio compusesse um “novíssimo Para enfrentarmos as causas mais profun-
movimento social”. das da erosão da diversidade precisamos conhe-
A urgente transformação social de que cer a nós mesmos e nossos processos civilizatórios
trata a educação ambiental visa à superação das no sentido empregado por Boaventura de Souza
injustiças ambientais, da desigualdade social, da Santos, quando nos convida à realização de uma
apropriação capitalista e funcionalista da natu- arqueologia virtual do presente. Certamente en-
reza e da própria humanidade. Vivemos proces- contraremos razões psicossociais, culturais, eco-
sos de exclusão nos quais há uma ampla degra- nômicas, educacionais, históricas e conjunturais,
dação ambiental socializada com uma maioria que delinearam um modelo devastador das rela-
submetida, indissociados de uma apropriação ções estabelecidas entre os seres humanos e
privada dos benefícios materiais gerados. Cum- destes com o meio ambiente. Esse modelo, uma
pre à educação ambiental fomentar processos construção histórica baseada na erosão da diver-
que impliquem o aumento do poder das maio- sidade biológica e cultural, homogeneiza saberes,
rias hoje submetidas, de sua capacidade de sabores, paisagens, comportamentos, espécies e
autogestão e o fortalecimento de sua resistên- raças, por meio do estímulo ao consumismo, da
cia à dominação capitalista de sua vida (traba- comunicação de massas, da genética e por
lho) e de seus espaços (ambiente). autoritarismos de todos os tipos.
A educação ambiental trata de uma mu- A questão ambiental é típica do parado-
dança de paradigma que implica tanto uma xo vivido pelos Estados. Nas décadas de 1970
revolução científica quanto política. As revolu- e 1980 vivemos um período no qual a doutri-
ções paradigmáticas, sejam científicas, sejam na neoliberal impôs o conceito de Estado mí-
políticas, são episódios de desenvolvimento não nimo, de regulação mínima, ao mesmo tempo
cumulativo nos quais um paradigma antigo é em que a crescente complexidade da socieda-
substituído por um novo, incompatível com o de exigia mais regulação e maior inserção do
anterior. Já as revoluções políticas decorrem do Estado em novas questões. A sociedade sente
sentimento que se desenvolve em relação à a necessidade de mais Estado, enquanto a
necessidade de mudança. Tais revoluções não opinião pública posiciona-se mais como anti-
mudam apenas a ciência, mas o próprio mun- Estado. Como aponta Sader (2005), o Capital
do, na medida em que incidem na concepção vem clamando por Estado mínimo no que tange

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005 287


ao caráter público do Estado e Estado máximo a diversidade de produtos de qualidade, a
para programas de crédito, socorros financeiros mudança na matriz energética e de transporte,
nas falências, incentivos às exportações, enfim, a relação das comunidades locais com o lixo
um Estado forte que garanta condições à ex- produzido e compromissos pelos bens comuns.
pansão do mercado (Laurrel, 1995). Ainda vive-
mos ecos de uma maré neoliberal refratária à A educação ambiental, o papel
intervenção e à regulamentação estatal que teve do Estado e as políticas
seu auge nos anos de 1990, como aponta públicas
Bursztyn (1994), dentro da necessidade de re-
forma institucional do Estado que supere este Para se entender educação ambiental
paradoxo e represente uma maior eficácia na como política pública, é interessante iniciar com
regulação. os significados dessas palavras, contextualizá-lo
Cavalcanti (1999) aponta educação, ges- na história do ambientalismo, inserindo-o nas
tão participativa e diálogo entre stakeholders agendas dos governos, assim como seus desdo-
(atores, sujeitos sociais) como os três parâme- bramentos nas áreas da educação formal e não
tros fundamentais para a regulação ambiental. formal.
A mesma educação que vem deixando de ser A palavra política origina-se do grego e
direito público para ser espaço de investimen- significa limite. Dava-se o nome de polis ao
to (Sader, 2005). O resgate do caráter público muro que delimitava a cidade do campo; só
do Estado requer sua ampliação no âmbito da depois se passou a designar polis o que esta-
educação e do ambiente. Um Estado cresce va contido no interior dos limites do muro. O
quando suas funções históricas passam a de- resgate desse significado, como limite, talvez
mandar mais ação (crescimento horizontal do nos ajude a entender o verdadeiro significado
Estado) ou quando ele é impelido a assumir da política, que é a arte de definir os limites, ou
novas funções (crescimento vertical do Estado). seja, o que é o bem comum (Gonçalves, 2002,
Este último é qualitativo, enquanto aquele é p. 64). Para Arendt (2000), a pluralidade é a
quantitativo, de modo que a função regulado- “condição pela qual” (conditio per quam) da
ra do Estado no campo ambiental é um incre- política, implica e tem por função a conciliação
mento qualitativo do Estado, ou seja, uma nova entre pluralidade e igualdade. Quando entende-
função. mos política a partir da origem do termo, como
Neste artigo tecemos algumas considera- limite, não falamos de regulação sobre a socie-
ções sobre as políticas públicas voltadas à dade, mas de uma regulação dialética socieda-
questão socioambiental, especificamente a edu- de-Estado que favoreça a pluralidade e a igual-
cação ambiental, a qual tem por finalidade abrir dade social e política.
espaços que possam contribuir para a melhoria Por seu turno, o ambientalismo coloca-
da qualidade de vida dos seres humanos e de nos a questão dos limites que as sociedades
todas as espécies e sistemas naturais com os têm na sua relação com a natureza, com suas
quais compartilhamos o planeta ao longo dos próprias naturezas como sociedades. Assim,
tempos. Isso se dá ao assumirmos nossas res- resgatar a política é fundamental para que se
ponsabilidades individuais e coletivas, interliga- estabeleça uma ética da sustentabilidade resul-
das pelas circunstâncias sociais e ambientais. tante das lutas ambientalistas.
Responsabilidade exige, entre outras coisas, A educação ambiental nasce como um
autonomia para a participação no debate de processo educativo que conduz a um saber
políticas públicas como, por exemplo, a quali- ambiental materializado nos valores éticos e nas
dade da educação, o empoderamento de pe- regras políticas de convívio social e de mercado,
quenos agricultores ampliando a oferta local e que implica a questão distributiva entre benefí-

288 Marcos SORRENTINO et al. Educação ambiental como...


cios e prejuízos da apropriação e do uso da Em 1983, sob a presidência da primeira-
natureza. Ela deve, portanto, ser direcionada para ministra norueguesa Gro Brudtland, foi criada a
a cidadania ativa considerando seu sentido de Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e De-
pertencimento e co-responsabilidade que, por senvolvimento e, em 1987, a comissão publicou
meio da ação coletiva e organizada, busca a Nosso futuro comum, que ficou conhecido
compreensão e a superação das causas estrutu- também como Relatório Brudtland . A partir
rais e conjunturais dos problemas ambientais. desse relatório, o conceito de desenvolvimen-
Trata-se de construir uma cultura ecológica que to sustentável passou a ser utilizado em subs-
compreenda natureza e sociedade como dimen- tituição à expressão ecodesenvolvimento e
sões intrinsecamente relacionadas e que não constituiu a base para a reorientação das polí-
podem mais ser pensadas — seja nas decisões ticas de desenvolvimento e sua relação direta
governamentais, seja nas ações da sociedade ci- com as questões ambientais.
vil — de forma separada, independente ou autô- Atualmente, o conceito de desenvolvi-
noma (Carvalho, 2004). mento sustentável indica claramente o tratamen-
Considerando a ética da sustentabilidade to dado à natureza como um recurso ou maté-
e os pressupostos da cidadania, a política pú- ria-prima destinado aos objetivos de mercado
blica pode ser entendida como um conjunto de cujo acesso é priorizado a parcelas da socieda-
procedimentos formais e informais que expres- de que detém o controle do capital. Este para-
sam a relação de poder e se destina à resolu- digma mantém o padrão de desenvolvimento
ção pacífica de conflitos, assim como à cons- que produz desigualdades na distribuição e no
trução e ao aprimoramento do bem comum. acesso a esses recursos, produzindo a pobreza
Sua origem está nas demandas provenientes de e a falta de identidade cidadã.
diversos sistemas (mundial, nacional, estadual, Nesse sentido, passamos a vislumbrar como
municipal) e seus subsistemas políticos, sociais meta uma educação ambiental para a susten-
e econômicos, nos quais as questões que afe- tabilidade socioambiental recuperando o significa-
tam a sociedade se tornam públicas e formam do do ecodesenvolvimento como um processo de
correntes de opinião com pautas a serem deba- transformação do meio natural que, por meio de
tidas em fóruns específicos. técnicas apropriadas, impede desperdícios e real-
O meio ambiente como política pública, ça as potencialidades deste meio, cuidando da
não pontual, no Brasil, surge após a Conferên- satisfação das necessidades de todos os membros
cia de Estocolmo, em 1972, quando, devido às da sociedade, dada a diversidade dos meios natu-
iniciativas das Nações Unidas em inserir o tema rais e dos contextos culturais. A educação am-
nas agendas dos governos, foi criada a SEMA biental entra nesse contexto orientada por uma
(Secretaria Especial de Meio Ambiente) ligada à racionalidade ambiental, transdisciplinar, pensando
Presidência da República. Mas apenas após a I o meio ambiente não como sinônimo de nature-
Conferência Intergovernamental de Educação za, mas uma base de interações entre o meio físi-
Ambiental de Tibilise, em 1977, a educação co-biológico com as sociedades e a cultura produ-
ambiental foi introduzida como estratégia para zida pelos seus membros. Leff (2001) coloca a
conduzir a sustentabilidade ambiental e social racionalidade ambiental como produto da práxis,
do planeta. Ainda na década de 1970, come- ou seja, seria “um conjunto de interesses e de
çou-se a discutir um modelo de desenvolvimen- práticas sociais que articulam ordens materiais
to que harmonizasse as relações econômicas diversas que dão sentido e organizam processos
com o bem-estar das sociedades e a gestão sociais através de certas regras, meios e fins so-
racional e responsável dos recursos naturais que cialmente construídos” (Leff, 2001, p. 134).
Ignacy Sachs (1986) denominou de ecodesen- Essa concepção de educação ambiental
volvimento. foi parcialmente apropriada pela Política Nacio-

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005 289


nal de Educação Ambiental (PNEA–lei 9795/99) de políticas públicas do órgão gestor da educação
que em seu artigo primeiro define a educação ambiental, hoje, inclui essas três modalidades. O
ambiental como processos por meio dos quais o MEC e o MMA em seus respectivos setores de
indivíduo e a coletividade constroem valores educação ambiental, pautados pelo ProNEA —
sociais, conhecimentos e habilidades, atitudes e Programa Nacional de Educação Ambiental — es-
competências voltadas para conservação do tão implantando programas e projetos junto às
meio ambiente, bem de uso comum do povo, redes públicas de ensino, unidades de conserva-
essencial à sadia qualidade de vida e sua susten- ção, prefeituras municipais, empresas, sindicatos,
tabilidade1 . movimentos sociais, organizações da sociedade
Ainda enfatiza a questão da interdisci- civil, consórcios e comitês de bacia hidrográfica,
plinaridade metodológica e epistemológica da assentamentos de reforma agrária, dentre outros
educação ambiental como “componente essen- parceiros.
cial e permanente da educação nacional, deven- Indubitavelmente, a educação ambiental,
do estar presente, de forma articulada em todos no âmbito do Estado, enquadra-se naquilo que
os níveis e modalidades do processo educativo, Bourdieu (1998) denomina “mão esquerda do
em caráter formal e não-formal” (art. 2º). Refor- Estado”, que reúne trabalhadores sociais, educa-
ça a responsabilidade coletiva da sua implemen- dores, professores e cujas ações são ignoradas
tação, seus princípios básicos, objetivos e estra- pela chamada “mão direita do Estado” (áreas de
tégias. Esta lei fornece um roteiro para a prática finanças, de planejamento, bancos). Ao operar na
da educação ambiental e na sua regulamentação reparação dos danos sociais e ambientais da ló-
(Decreto 4281/02) indica os Ministério da Educa- gica de mercado, os sujeitos da “mão esquerda”
ção e do Meio Ambiente como órgãos gestores podem, muitas vezes, se sentir iludidos e desau-
dessa política. torizados em função dos paradoxos vividos de
Apesar de no Brasil existir a idéia de leis forma crônica, como falta de recursos, luta pela
que “não pegam”, uma lei existe para ser cum- biodiversidade convivendo com avanço das
prida ou questionada, de modo que, logo após fronteiras agrícolas por monoculturas ou trans-
a promulgação da Política Nacional de Educa- gênicos, grandes obras com alto impacto, revi-
ção Ambiental (PNEA), foi criada no Ministério são de antigas conquistas etc. Em lugar de imo-
da Educação a Coordenação Geral de Educação bilização lamentosa, temos a convicção de que
Ambiental e no Ministério do Meio Ambiente, a ações educacionais participativas pela responsa-
Diretoria de Educação Ambiental como instân- bilidade ambiental resultam no envolvimento e
cias de execução da PNEA. na organização de pessoas e grupos sociais nas
Assim, a educação ambiental insere-se lutas pela melhoria da qualidade vida fundamen-
nas políticas públicas do Estado brasileiro de tada em valores pós-materialistas, que questio-
ambas as formas, como crescimento horizontal nam as necessidades materiais simbólicas de
(quantitativo) e vertical (qualitativo), pois en- consumo e desvelam outras possibilidades de
quanto no âmbito do MEC pode ser entendida felicidade, alegria e vida.
como uma estratégia de incremento da educa- Segundo essa convicção, o papel do
ção pública, no do MMA é uma função de Estado na educação ambiental brasileira poderá
Estado totalmente nova. ser subsidiário e definido por meio de um diá-
Uma política pública representa a organiza- logo democrático com os diferentes sujeitos
ção da ação do Estado para a solução de um desta política. Continuamos concordando com
problema ou atendimento de uma demanda espe-
cífica da sociedade. Quanto a sua modalidade, as 1. Dizemos parcialmente porque ela não se volta apenas à conservação do
meio ambiente (no caso colocado como uma externalidade da sociedade)
políticas públicas se dão por intervenção direta, por mas também à sua recuperação e melhoria e, acima de tudo, destina-se à
regulamentação, ou contratualismo. A perspectiva melhoria da qualidade de vida de todos, humanos e não-humanos.

290 Marcos SORRENTINO et al. Educação ambiental como...


Sachs (2004) quando afirma que hoje, sem ne- consumo que destrói a biodiversidade e com-
gar a necessidade de reduzir as administrações promete a sobrevivência, procurando promover
pletóricas, precisamos aumentar os serviços mudanças de atitudes e comportamentos e
públicos sociais, fortalecendo a “mão esquerda” ações coordenadas de melhoria das condições
do Estado. A Inglaterra, que já foi exemplo de socioambientais.
política de redução do Estado gerou quinhen- A estratégica proposta é a do compro-
tos mil empregos adicionais nos serviços públi- misso de um conjunto de municípios de uma
cos nos últimos oito anos (1997-2004). A re- eco-região 2 com a implementação de quatro
forma de Estado, que implica o aumento de sua processos educacionais:
eficiência, não implica de forma alguma a sua
redução, pois em setores da regulação pública 1 — formação de educadores ambientais, por
como educação e ambiente é clara a necessi- meio de programas oferecidos por parceiros
dade de se ampliar horizontal e verticalmente o chancelados pelo MMA, que possibilitem a
Estado brasileiro. capilaridade e enraizamento do processo;
2 — educomunicação socioambiental (difusa,
No Ministério do Meio Ambiente de massa): estratégias de comunicação com
– MMA finalidade educacional e de tomada de deci-
são, envolvendo a produção e distribuição de
Seguindo o princípio da publicização e materiais educacionais, campanhas de educa-
democratização das políticas públicas, o Minis- ção ambiental e o uso de meios de largo al-
tério do Meio Ambiente tem se orientado para cance;
programas que vislumbrem a possibilidade do 3 — estruturas educadoras: municipais, da es-
envolvimento de 100% da população brasilei- cola à praça pública; do viveiro à horta comu-
ra. Reconhecendo os limites operacionais do nitária, dentre outras, nas quais, ou a partir das
Estado para tal realização como intervenção quais, acontecem ações ou projetos voltados
direta, tem buscado formas subsidiárias que para a sustentabilidade, que devem ter por
possibilitem estas políticas amplas e democrá- objetivos a transformação da qualidade de vida
ticas. Podemos citar alguns programas e proje- e também a definição e implementação de seu
tos voltados aos municípios e suas articulações papel educador;
regionais, como os consórcios e comitês de 4 — foros e coletivos: são os diferentes espaços
bacia hidrográfica destinados ao envolvimento de participação democrática que se propõem a
de cada um dos moradores da região que pre- realizar projetos e ações em prol da susten-
cisam e podem ser potencializados nas suas tabilidade, ao mesmo tempo em que discutem
lutas cotidianas. valores, métodos e objetivos de ação.
Municípios educadores sustentáveis e
formação de educadores ambientais são dois O primeiro deles, a criação de quadros de
programas desenhados para se realizarem por formadores de educadores ambientais, contribui
meio de parcerias com as CIEAs — Comissões para implementar os outros três e, ao descrevê-
Interinstitucionais de Educação Ambiental — los sucintamente, deixamos sinalizadas as carac-
redes de educação ambiental, governos estadu- terísticas básicas, que consideramos importante
ais e municipais, universidades, consórcios para todo e qualquer projeto de educação
municipais ou comitês de bacia hidrográfica, ambiental, que tenha a biodiversidade, ou outra
gerências do IBAMA e outros órgãos públicos questão, como tema gerador, mas que tenha por
federais e estaduais, que atuam em cada região
deste imenso país. Destinam-se a promover o 2. Como os 29 municípios do Paraná III, todos os municípios da Bacia do
questionamento de um modo de produção e Alto Paraguai, ou os trechos da Bacia do São Francisco, por exemplo.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005 291


compromisso maior a educação das pessoas Ciência de Pés no Chão, Educação de Chico
para a vida. Mendes. O programa do MEC propõe-se a cons-
A formação desses educadores ambientais truir um processo permanente de educação
orienta-se por três eixos pedagógicos indisso- ambiental na escola. Por meio de modalidades
ciáveis: a intervenção socioeducacional como de ensino presenciais, à distância e difusas, as
práxis pedagógica, o estabelecimento de comu- ações envolvem secretarias de educação esta-
nidades interpretativas e de aprendizagem e o duais e municipais, professores, alunos, comuni-
acesso autogerido a cardápios de conteúdos e dade escolar, sociedade civil e universidade. Ele
instrumentos pertinentes à problemática socio- dá continuidade à sensibilização iniciada na Con-
ambiental de cada contexto. Para o estabeleci- ferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Am-
mento de programas amplos e continuados de biente, bem como ao processo de capilarização
formação, a DEA/MMA tem por estratégia a ar- dos Parâmetros em Ação/Meio Ambiente.
ticulação, a orientação e o apoio a coletivos Para tornar-se efetivo e sustentável, é
educadores, entendidos como conjuntos de ins- incentivada a instalação de Com-Vida (Comis-
tituições com capacidade instalada para operar são de Meio Ambiente e Qualidade de Vida) na
processos de formação (universidades, movimen- escola, com a participação dos Conselhos Jo-
tos, ONGs, federações sindicais, pastorais, Secre- vens pelo Meio Ambiente, a implementação da
tarias de Estado, NEAs do IBAMA, EMBRAPAs, Agenda 21 na Escola, dando suporte a ativida-
órgãos estaduais e federais de pesquisa e exten- des curriculares e extracurriculares.
são etc.). Em 2003 os Ministérios do Meio Ambien-
As ações da equipe da DEA/MMA con- te e da Educação lançaram a campanha Vamos
centram-se na costura das parcerias para a cuidar do Brasil com a Conferência Nacional do
execução das propostas e agendas com as di- Meio Ambiente, com uma versão adulta e uma
versas instituições e grupos sociais de cada para jovens, idealizada pela ministra Marina Silva.
Estado para o estabelecimento das CIEAS, com A Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio
as instituições que atuam com formação de Ambiente contou com a participação direta de
educadores ambientais, com grupos de municí- quase dezesseis mil escolas, onde cerca de seis
pios, com instituições de governo. Além disso, milhões de pessoas entre estudantes, professores
busca-se o desenvolvimento de instrumentos de e comunidades debateram questões ambientais.
apoio transversal às CIEAS, aos municípios educa- Esse movimento incluiu, além das escolas regu-
dores sustentáveis, aos coletivos educadores, aos lares do ensino fundamental, escolas indígenas,
programas de formação de educadores tais como quilombolas, ribeirinhas, caiçaras, de assenta-
o SIBEA, às “salas verdes”, documentos de subsí- mento, de pescadores e de portadores de ne-
dio técnico, publicações, plataformas de educação cessidade especiais.
à distância, salas virtuais, apoio a oficinas de tra- Em termos de conteúdos de trabalho, o
balho, dentre outras. processo da Conferência tornou a escola um
espaço para a comunidade debater como va-
No Ministério da Educação – mos cuidar da nossa água, dos seres vivos, dos
MEC nossos alimentos, da nossa escola e da nossa
comunidade, objetivo alcançado por meio de
Questões ambientais abrangentes, bem um documento orientador, chamado “Passo a
como áreas mais específicas são trabalhadas a passo para a Conferência do Meio Ambiente na
partir de uma visão sistêmica, baseada em qua- escola”. Cada conferência na escola elegeu um
tro ações estruturantes – Conferência Nacional delegado ou delegada e seu suplente, definiu
de Meio Ambiente, Formação Continuada de uma proposta de política ambiental e elaborou
Professores e Estudantes, Inclusão Digital com um cartaz que mostrava para sua comunidade

292 Marcos SORRENTINO et al. Educação ambiental como...


a proposta sobre como Vamos cuidar do Brasil. ma Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), foi
As propostas foram sistematizadas 3 de forma criada, como continuidade da Conferência, uma
descentralizada e pública, via internet, em to- grande ação presencial de formação de professo-
dos os estados. res para potencializar o enraizamento da educação
Como as conferências são bienais, na II ambiental a partir de uma ética ecológica que
Conferência Infanto-Juvenil pelo Meio Ambien- promova transformações empoderadoras dos indi-
te, com o tema Vivendo a diversidade nas esco- víduos, grupos e sociedades. Portanto, o aprofun-
las, adotou-se uma política de popularização de damento conceitual e prático é trabalhado em
acordos internacionais dos quais o Brasil é sig- função das seguintes linhas:
natário: a Convenção sobre a Diversidade Bioló-
gica, a Convenção de Mudanças Climáticas, a • prover materiais instrucionais, que permitam
Declaração de Roma sobre a Segurança Alimen- o acesso à informação e ao conhecimento;
tar e Nutricional e a Declaração de Durban da • criar instâncias regulares de debates, pes-
Conferência Mundial contra o Racismo. quisa e ação nas escolas para a produção de
Com esta iniciativa, o governo brasileiro conhecimentos locais significativos;
atende os princípios de divulgação presentes em • fomentar a relação escola-comunidade, fa-
todos esses documentos internacionais, bem cilitada pelas Comissões de Meio Ambiente e
como na Agenda 21, cujo capítulo 25 estabele- Qualidade de Vida nas Escolas (Com-Vida).
ce que os governos, de acordo com suas estra-
tégias, devem tomar medidas para permitir a Uma ação delineada é a implantação de
participação da juventude nos processos de to- um sistema informatizado, pelo qual transitarão
mada de decisões relativas ao meio ambiente. aplicativos para pesquisa escolar sobre o meio
Apesar de a maioria dos jovens (85%) não parti- ambiente, especialmente sobre biodiversidade.
ciparem de grupos, 57% gostariam de participar Essa rede de pesquisa nas escolas traz o levan-
de grupos de defesa de meio ambiente e 60% de tamento e disponibiliza conhecimentos locais
associação ou conselhos ligados à educação4 . sem necessitar de procedimentos laboratoriais
Esses dados são confirmados na Carta Jovens sofisticados e caros. As informações das escolas,
Cuidando do Brasil (Deliberações da Conferência da flora, fauna, clima, água no seu entorno e
Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente), na microrregião, serão georeferenciadas, com orien-
qual eles sugerem a valorização dos espaços de tação para coleta fidedigna e resultados descri-
participação por meio da criação de conselhos tivos padronizados. Na internet, como uma área
jovens nas escolas, ONG’s, e grêmios juvenis. Eles do SIBEA, será possível a construção de um
reafirmam a importância da implementação das “atlas coletivo” de temas como biodiversidade,
agendas 21 locais e do envolvimento dos diver- qualidade da água, situação socioambiental das
sos setores da sociedade na superação dos desa- comunidades, alimentação. Trata-se de uma for-
fios. Ecologia e meio ambiente é para 26% dos ma de aprendizagem significativa que segue o
jovens brasileiros o assunto mais importante a ser pensamento de Vigotsky no sentido de ser me-
discutido pela sociedade5 . diada, cooperativa, social e negociadora.
Na educação formal, o Órgão Gestor da
PNEA, por intermédio do MEC, tem o desafio de
3. Ver site www.mma.gov.br/propostasdasescolas/
apoiar professores a se tornarem educadores 4. Resultados da pesquisa Perfil da Juventude Brasileira, iniciativa do
ambientais abertos para atuar em processos de Projeto Juventude/Instituto Cidadania, Instituto de Hospitalidade e do Sebrae
realizada em dezembro de 2003.
construção de conhecimentos, pesquisa e interven- 5. O texto original apresenta as propostas sobre os temas água, escola,
ção educacional com base em valores voltados à comunidade, alimentos e seres vivos.
6. De acordo com autores como Ignacy Sachs, as dimenões da
sustentabilidade6 em suas múltiplas dimensões. Em sustentabilidade são social, ambiental, econômica, cultural, política, ética
termos estratégicos, de forma integrada ao Progra- e espacial.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005 293


Em 2004, foi adotado um livro como ce que, em meio à complexidade do real, nun-
tema gerador para articular as atividades nas ca é possível a compreensão total. É por isso,
escolas: Consumo sustentável: um manual de também, que a busca do conhecimento se tor-
educação (Idec / MMA / MEC, 2004). Escolher na um esforço infinito, mas que pode se tornar
apenas um material para professores de mais de um círculo virtuoso.
quatro mil municípios de todos os estados, regi- Por não se tratar de uma disciplina, a edu-
ões, biomas e estratos sociais do país constitui cação ambiental permite inovações metodológicas
uma grande dificuldade. Foi adotado um livro que na direção do educere — tirar de dentro — por ser
trouxesse uma base comum de conteúdos, necessariamente motivada pela paixão, pela delícia
complementada por uma pedagogia de projetos do conhecimento e da prática voltados para a
que permitisse a construção coletiva. A questão dimensão complexa da manutenção da vida.
ambiental é apresentada em diversos temas (água, Por um lado, pensamos na diversidade
biodiversidade, transportes, alimentação, energia de saberes e complexidade dos sistemas natu-
e publicidade), a partir de um apelo a uma nova rais e sociais. Por outro, a nossa “pedagogia da
postura diante do consumo: a consciência de que práxis” envolve um trabalho com a simplicida-
precisamos nos envolver pessoalmente e ao mes- de do natural, de materiais didático-pedagógi-
mo tempo em movimentos coletivos de transfor- cos, do diálogo e de compartilhar experiências
mação paradigmática. Nesse sentido, o conheci- e conhecimentos. Para darmos conta da com-
mento é fundamental para uma leitura crítica da plexidade das dinâmicas do mundo contempo-
realidade e para se buscar formas concretas de râneo, optamos pela arte da simplicidade. Isso
atuar sobre os problemas ambientais. A relevân- só pode ser feito se tivermos a clareza de que
cia deste livro está no fato de ele propor novos na sociedade moderna são confundidas com-
conceitos sobre os padrões de relação da socie- plexidade e complicação, de um lado e de
dade moderna com o consumismo e a natureza, outro, simplicidade (a essência do complexo) e
de maneira orgânica, interdisciplinar e transversal ser simplista, isto é, reduzir a biodiversidade a
em relação ao currículo escolar como um todo. recursos naturais e tudo a mercadoria, portan-
A educação ambiental, por não estar presa to, algo a ser consumido.
a uma grade curricular rígida, pode ampliar conhe- Com essa visão sistêmica e participativa,
cimentos em uma diversidade de dimensões, sem- espera-se que esses processos educacionais permi-
pre com foco na sustentabilidade ambiental local tam incentivar educadores e educadoras ambientais
e do planeta, aprendendo com as culturas tradicio- a acreditarem em sua capacidade de atuação indi-
nais, estudando a dimensão da ciência, abrindo vidual e coletiva, ao se apropriarem de conceitos,
janelas para a participação em políticas públicas readequando métodos, incrementando técnicas e
de meio ambiente e para a produção do conheci- melhorando suas práticas cotidianas.
mento no âmbito da escola.
Buscamos formas abertas e inovadoras de Articulação MEC/MMA na
construir juntamente com formadores, professo- formação de educadores
res e alunos aquilo que Edgar Morin chama de ambientais
conhecimento pertinente, que possibilita apreen-
der os problemas globais e fundamentais para O MEC e o MMA, em consonância com
neles inserir os conhecimentos parciais e locais. a Política Nacional de Educação Ambiental e o
Nesses dois saberes têm-se implícita a busca de Programa Nacional de Educação Ambiental,
um conhecimento complexo, não fragmentário e desenvolvem propostas de formação de educa-
que se amplia continuamente sem, entretanto, dores(as) ambientais. Ambos atuam junto aos
trazer um conhecimento totalizador, também seus públicos específicos dentro de uma pers-
limitado. O conhecimento pertinente reconhe- pectiva crítica, popular e emancipatória e alme-

294 Marcos SORRENTINO et al. Educação ambiental como...


jam desvelar processos continuados articulados para cada pequena região (oito a vinte muni-
com processos transformadores a partir de uma cípios) e articulados em rede no âmbito de
visão sistêmica e permanente do processo edu- uma bacia ou de um Estado. É interessante
cacional, em detrimento de cursos pontuais ou pensar numa estratégia articulada, MEC-
de um ativismo vazio. MMA, para a consolidação de tais coletivos.
Nesse sentido, quanto mais aprofundada for • Com-Vida-MES: as Com-Vidas podem ser
a articulação metodológica, de fato, tanto mais articuladoras de processos de Municípios Edu-
será potencializada a sinergia das ações dos Minis- cadores Sustentáveis na medida em que se arti-
térios. Podemos vislumbrar três instâncias de arti- culam (entre escolas, entre municípios) e na
culação: a do desenho metodológico, a das ofici- medida em que deflagram um processo de
nas de formação e a dos instrumentos de apoio. Agenda 21. A Com-Vida propõe-se a fazer edu-
Em todas essas instâncias existem diferen- cação, propiciando um espaço estruturante da
tes níveis de interação entre as ações desenvolvi- educação ambiental na escola que seja cola-
das que são aprofundados e ampliados conjunta- borativo e includente. A sinergia dos esforços
mente. Essa proposta foi criada no âmbito das de ambos os ministérios se dá através de contri-
oficinas de formação a serem implementadas em buições do MMA à participação das Com-Vidas
ao menos seis pólos da Bacia do São Francisco, em no Município Educador Sustentável.
quatro pólos da Bacia do Alto Paraguai/ Pantanal • Tema gerador–cardápio: o tema gerador
e também em pólos da Bacia do Paraná III/ Itaipu, consumo sustentável pode ser entendido
podendo ser replicada para outros contextos. como um deflagrador de um encontro dialó-
gico no qual outros temas emergem, poden-
Articulação metodológica do haver outros temas geradores, que podem
ser vistos como porta de entrada para o co-
As idéias da pedagogia da práxis (MMA- nhecimento pertinente e não como fins em si
DEA) e da pedagogia de projetos coletivos e mesmos. O tema gerador potencializa cardá-
transformadores (MEC-CGEA) convergem como pios pela interlocução na diversidade, pelo
eixos pedagógicos que consolidam a formação diálogo e pela construção coletiva de percur-
dos(as) educadores(as) ambientais. As idéias de sos e trajetos abertos. É fundamental, para
coletivos de participação política e de aprendi- tanto, o desenvolvimento, em parceria com os
zagem solidária também são marcas da conver- coletivos educadores, de um cardápio nacio-
gência das propostas. A articulação metodológica nal de conteúdos e competências que possam
implica o conhecimento complexo, não frag- ser acessados pelos grupos e educadores par-
mentário e que se amplia continuamente, sem ticipantes das iniciativas locais.
buscar um conhecimento totalizador, também • Grupos PAP – Comunidades interpretativas
limitado, como já indicamos. de aprendizagem/professores educadores
São definidos, portanto, alguns itens nos ambientais: na concepção de comunidades de
quais facilitadores (MEC-CGEA) e enraizadores aprendizagem e interpretativas, pretendemos
(MMA-DEA) podem se orientar para articular as que, em cada município, haja pelo menos um
metodologias de formação: grupo, mediado por um membro do grupo
PAP-Coletivo Educador, que se reúne periodi-
• Coletivos educadores: o interesse na pers- camente com os educandos para oferecer itens
pectiva continuada de educação se dá na in- de cardápio de conteúdos e para debater os
clusão dos professores e professoras forma- projetos. A inclusão de alguns ou de todos os
dos em seminários, de modo que sejam in- professores Formadores daquele município,
centivados a garantir esta continuidade parti- assim como os gestores da secretaria de edu-
cipando dos coletivos educadores formados cação, torna-os também membros dos PAP.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005 295


Articulação em oficinas que aderem às propostas de formação. De an-
temão sugerimos três materiais iniciais:
A articulação aprofundada se dará, a
exemplo do processo de formação da Bacia do • texto comum problematizador que situe o
São Francisco por meio de oficinas com qua- desafio de cada contexto (São Francisco,
tro dias de trabalho. Nesses dias, o primeiro e Pantanal, Amazônia etc.) e o papel da educa-
o último seriam comuns, ou seja, nossos públi- ção ambiental no enfrentamento da problemá-
cos estariam juntos olhando para o contexto tica socioambiental;
comum e articulando as estratégias: • levantamento de materiais didáticos de pro-
dução regional e instituições que convergem
1º dia — Análise de conjuntura: o contexto do com a proposta para que possamos, juntos,
São Francisco (ou de outra região), os projetos articular nossos parceiros;
MMA-MEC para aquele contexto (no caso do • texto com a proposta comum de trabalho
São Francisco o de revitali-zação), o contexto que demonstre o diálogo entre os espaços de
local (para fazer a análise de conjuntura mais participação política, os projetos de interven-
local, os conflitos por recursos, o cenário ção educacional e os processos formativos.
socioambiental, as tendências, o cenário
institucional, toda ela mediada por um parceiro A partir da experiência de articulação na
local); desenvolvimento coletivo de um quadro Bacia do São Francisco, iremos aprofundando
da problemática socioambiental, discussão so- o diálogo, sistematizando e produzindo sinergia
bre a concepção da formação do educador nas estratégias, ações, conceitos, materiais di-
ambiental e reflexão sobre os desafios do edu- dáticos, parceiros, públicos e recursos.
cador ambiental frente a esse quadro.
2º e 3º dias — Pautas específicas: nestes dois Considerações finais
dias cada parceiro desenvolve sua pauta com
seu público mais específico. O MEC-CGEA con- Analisando as propostas do órgão gestor
duz processos de formação com professores e em termos das modalidades das políticas públi-
alunos; o MMA-DEA conduz a mediação da ofi- cas, pode-se entendê-las sob a perspectiva do
cina para formação do núcleo PAP-Coletivo contratualismo e como regidas pelo princípio
Educador da região. da subsidiariedade (Castells, 1999). Para con-
4º dia — Articulação: os grupos apresentam substanciar esta afirmativa os exemplos e as
suas agendas e negociam a articulação de: ações apresentadas mostram que o Estado assu-
• MES/ Agenda 21/ Com-Vida; me o estímulo, o subsídio e o certificado de
• Comunidades de aprendizagem e inter- parcerias entre instituições formadoras, que já
pretativas dos municípios; têm por função precípua a formação de educa-
• Articulação dos projetos. dores ou que podem passar a assumir tal função,
de modo a garantir um processo continuado de
Instrumentos e materiais de formação de educadores ambientais.
apoio De outra forma, caso o Estado decidisse
desenvolver seu programa de formação por inter-
É importante que, em cada contexto, e venção direta, isto exigiria a contratação e a
também de forma geral, sejam produzidos ma- capacitação de equipes enormes alocadas em
teriais de apoio e instrumentos comuns que fa- todos os estados da federação. Além de não ser
cilitem o entendimento dos técnicos dos Minis- factível, tal forma de execução seria contraditó-
térios e a percepção da sinergia dos processos ria com o reconhecimento de que a educação
desenvolvidos pelos educadores(as) ambientais ambiental deve ser desenvolvida em profundo

296 Marcos SORRENTINO et al. Educação ambiental como...


diálogo com os sujeitos e as instituições de cada vos educadores, que se tornarão um dos principais
região. A proposta dos Municípios Educadores parceiros para o desenvolvimento das políticas
Sustentáveis (MES) também visa ao estabelecimen- públicas de educação ambiental. Esta modalidade,
to de contratos entre municípios, dos municípi- mais próxima do contratualismo, e as ações mais
os com seus habitantes, com as instituições regio- próximas à perspectiva da subsidiariedade, não sig-
nais e com os conselhos, para garantir um pro- nificam, de modo algum, uma redução do papel do
cesso educador e gestor da sustentabilidade Estado ou uma menor importância na manutenção
municipal. Todo o esforço do governo entre de uma boa estrutura público-governamental para
2003 e 2006 reside na concepção dos contratos a implementação das políticas públicas de educa-
e na articulação técnica e política para criá-los. ção ambiental. Pelo contrário, cada vez mais es-
Com o tempo, uma função de subsidiariedade da peramos que a sociedade se organize, as institui-
ação do Estado se tornará mais clara e essas ções se envolvam e qualifiquem suas demandas,
ações serão definidas em diálogo com verdadei- para que os governos subsidiem suas práticas de
ros observatórios da educação ambiental, com- educação ambiental. Santos (1999) fala de uma “ar-
postos pelas diversas instituições enredadas na ticulação entre os princípios de Estado e da comu-
execução de processos públicos de educação nidade sob a égide deste último”, entendendo, por-
ambiental. Em princípio, cremos que tais ações tanto, o “Estado como novíssimo movimento so-
subsidiárias serão bastante diversas, tais como cial”. No limite, essa oposição às perspectivas de
apoio a encontros interinstitucionais, linhas de Estado mínimo, mero administrador de contratos
financiamento via Fundo Nacional do Meio Am- de mercado, significa um Estado reformado, e tal-
biente, bancos de dados de experiências (SIBEA), vez ampliado, pelo diálogo com a sociedade civil:
publicações de interesse transversal às diversas
iniciativas públicas, certificação pública etc. A regulação social que emerge desta nova for-
Como política pública, algumas modalida- ma de política é muito mais ampla e férrea
des da ação do MEC se enquadram mais na pers- que a regulação protagonizada pelo Estado no
pectiva da intervenção direta, o que é natural, período anterior, mas como é também muito
uma vez que tal intervenção incide principalmen- mais fragmentada e heterogênea, quer quanto
te sobre a educação pública, que já possui toda às suas fontes, quer quanto à sua lógica, é fa-
a sua estrutura como política realizada diretamen- cilmente dissimulada como desregulação soci-
te pelo Estado. O objetivo é inserir a educação al. Aliás, boa parte da nova regulação social
ambiental no cotidiano da educação pública em ocorre por subcontratação política com dife-
todos os níveis de ensino. rentes grupos e agentes em competição, veicu-
Castells (1999) fala de oito princípios do lando diferentes concepções dos bens públi-
Estado em rede que dialogam, de modo geral, com cos e do interesse geral. (Santos, 1999, p.265)
a perspectiva de políticas públicas que temos de-
senvolvido: a subsidiariedade, que dialoga com Uma questão importante é qual educação
descentralização; a flexibilidade; a coordenação; a ambiental será regulada, tendo o atual governo
participação cidadã; a transparência administrati- uma perspectiva clara de que ela deve ser popu-
va; a modernização tecnológica; a transformação lar, crítica e emancipatória. Futuros governos po-
dos agentes da administração, que implica a valo- dem não pactuar com essa perspectiva, mas espe-
rização dos recursos humanos do Estado, e a ramos que se constitua, no seio da sociedade ci-
retroação na gestão (conseqüência da dialogici- vil, um conjunto articulado que não permita o
dade na implementação nas políticas). abandono de ações de Estado que subsidiem esta
Com o tempo, podemos imaginar que am- perspectiva. As políticas públicas em educação
bos os setores de educação ambiental — do MEC ambiental, desta forma, são um processo dialético
e do MMA — terão capilaridade junto aos coleti- e partilhado do Estado e da sociedade civil.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005 297


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Recebido em 26.04.05

Aprovado em 09.06.05

Marcos Sorrentino é diretor de Educação Ambiental no Ministério do Meio Ambiente.

Rachel Trajber é coordenadora geral de Educação Ambiental no Ministério da Educação.

Patrícia Mendonça é consultora técnica da Coordenação-Geral de Educação Ambiental no MEC.

Luiz Antonio Ferraro Junior é professor no Departamento de Tecnologia da Universidade Estadual de Feira de Santana,
doutorando na Universidade de Brasília e consultor da Diretoria de Educação Ambiental no Ministério do Meio Ambiente.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005 299


100
AVANÇOS E DESAFIOS DA
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
BRASILEIRA ENTRE A RIO92 E
A RIO+20

Patricia Bastos Godoy Otero1


Zysman Neiman2

Resumo: O artigo discute os avanços e os desafios do campo da Educação


Ambiental (EA) brasileira, no período entre as duas grandes Conferências
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento promovidas pela Organização das
Nações Unidas (ONU) e realizadas no Brasil, a Rio-92 e a Rio+20, que
aconteceram respectivamente em 1992 e 2012. O principal objetivo foi analisar
a evolução da Educação Ambiental brasileira no período entre as duas grandes
Conferências, elaborada a partir da sistematização de informações de
documentos oficiais, reportagens publicadas pela mídia sobre os dois eventos
e entrevistas com lideranças ambientalistas, políticos e técnicos que estiveram
nos eventos e que atuam com, destaque no campo da Educação Ambiental do
Brasil.

Palavras-chave: Educação Ambiental; Sustentabilidade; Desenvolvimento


Sustentável.


























1

Universidade Federal de São Carlos, Campus Sorocaba. E-mail: pipspatricia@gmail.com


 2
Universidade Federal de São Paulo, Campus Diadema. E-mail: zneiman@gmail.com.
e o
Revbea, São Paulo, V. 10, N 1: 20-41, 2015.
a
20
Introdução
O Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global (TEASS), emanado da Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio de Janeiro, 1992)
considera que a EA para uma sustentabilidade equitativa “é um processo de
aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Tal
educação afirma valores e ações que contribuem para a transformação
humana e social e para a preservação ecológica”.
Segundo Nieves-Alvarez (2002), é necessário que a escola assuma um
comportamento adequado, pois educar em uma perspectiva ambiental significa
assumir novos conceitos e novos conhecimentos, aplicar procedimentos
diversos e criar atitudes, valores e normas que levem a comportamentos que
favoreçam o meio.
A Educação Ambiental (EA) é eminentemente interdisciplinar,
participativa, comunitária, criativa, crítica da realidade vivenciada, formadora da
cidadania.e valoriza a ação, ou seja, é orientada para a resolução de
problemas locais (GUIMARÃES, 1995). É transformadora de valores e atitudes
por meio da construção de novos hábitos e conhecimentos, criadora de uma
nova ética, sensibilizadora e conscientizadora para as relações integradas ser
humano/sociedade/natureza objetivando o equilíbrio local e global, como forma
de obtenção da melhoria da qualidade de todos os níveis de vida.
A educação, como instrumento de preservação ou de transformação da
sociedade, é objeto de discussão antiga e está novamente no centro das
sugestões de redefinições ou reorganizações do pensamento da humanidade.
A visão holística de EA é orientada pelo processo, ao contrário de ser orientada
pelo produto – revisando e reavaliando a educação e o aprendizado como
intrínsecos à vida (ROSA, 2001).
Segundo Ramalho (2004), na visão holística, o sujeito, ao conhecer-se a
si mesmo – objetivo fundamental da educação – desperta para a cidadania
consciente por meio de práticas baseadas na verdade e no
descomprometimento com valores sociais que perpetuam a destruição cada
vez maior do meio ambiente.
Para Mininni-Medina (2001), o conceito de EA incorpora a complexidade
das inter-relações sistêmicas da problemática ambiental, a análise de suas
potencialidades socioculturais e ambientais e a necessidade de construção de
novas modalidades de relação dos homens entre si e com a natureza,
formuladas a partir do paradigma da sustentabilidade. A prática da EA, para a
autora, tem como um dos seus pressupostos, o respeito aos processos sociais,
culturais, étnicos, característicos de cada país, região ou comunidade.
A integração dos diversos enfoques científicos e comunitários, num 
processo interdisciplinar, se dá por meio da construção de um modelo mental 
baseado na ideia de interação entre os diferentes fatores que incidem num





problema. É um processo cíclico, em que duas ou mais espécies de conceitos 

o
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Revbea, São Paulo, V. 10, N 1: 20-41, 2015. a
21
evoluem conjuntamente e conduzem à compreensão de um novo nível de
complexidade (BOVO, 2007). A transversalidade e a interdisciplinaridade são,
nesse sentido, modos de trabalhar o conhecimento que visam reintegração de
dimensões isoladas uns dos outros pelo tratamento disciplinar.
A EA traz consigo uma nova pedagogia, segundo Leff (2001), que surge
da necessidade de orientar a educação dentro do contexto social e na
realidade ecológica e cultural onde se situam os sujeitos e atores do processo
educativo.
Foi na Conferência de Tbilisi (Ex-URRS) em 1977 que o termo meio
ambiente foi definitivamente ampliado, passando a incluir as dimensões
antrópicas, éticas, estéticas, históricas etc. Esta compreensão foi reiterada pelo
TEASS. Em 2012, na Conferência da ONU denominada Rio+20, esse
documento foi novamente debatido e revalidado. O objetivo deste artigo é
discutir os avanços e desafios da EA ante o amadurecimento do debate sobre
seus pressupostos e modos de ação, e o processo de estabelecimento de
políticas públicas no Brasil entre 1992 e 2012, intervalo entre as duas grandes
conferencias internacionais ocorridas no país.

As grandes conferências Rio92 e Rio+20 e a Educação Ambiental no


período Rio92 e o Fórum Global das Organizações Não Governamentais
Conforme colocado por Moura (2000), a Conferência do Rio de Janeiro
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada em 1992 foi um
inquestionável indutor para a abordagem ambiental no mundo. Na Rio92 ou
Cúpula da Terra, como ficou conhecida, teve a participação de 172 países,
mais de mil e quatrocentas ONG’s e dez mil participantes. Foi realizada entre 3
e 14 de junho de 1992, no Rio de Janeiro (RJ) e reuniu 108 chefes de Estado
que buscavam meios de conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a
conservação e proteção dos ecossistemas da Terra.
A Rio92 inseriu o Brasil no debate ambiental global, abriu espaço para
que entidades da sociedade civil participassem mais das negociações entre os
governos preparando um terreno fértil para o florescimento das organizações
não governamentais ambientalistas. Lá foram elaborados a Agenda 21 e a
Carta da Terra, que tiveram impacto direto no desenvolvimento e consolidação
da EA brasileira como estratégia transversal para as mudanças propostas,
dando origem a ações coordenadas em rede, globalmente e no Brasil: a Rede
Brasileira de Agendas 213 e a Rede Brasileira da Carta da Terra, esta última
lançada na Rio+20.
O Fórum Global das Organizações Não Governamentais contou com a
participação de 15.000 profissionais da área ambiental. Nesse evento foram
ratificados 32 tratados, dentre eles TEASS, que teve e tem especial influência









na EA brasileira.














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3
 REBAL - http://rebal21.ning.com/ e Rede Bras. da Carta da Terra http://www.cartadaterrabrasil.org/.
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Um dos impactos da Rio92 e do Fórum Global foi a disseminação inicial
da ideia de organização em rede, padrão que vem sendo favorecido pela
conectividade intensiva proporcionada pelo desenvolvimento das tecnologias
de Internet. No Brasil, houve a criação da Rede Brasileira de Educação
Ambiental – REBEA, criada na atmosfera de grande mobilização que antecedia
a Rio92 e que adotou como padrão organizacional a estrutura horizontal em
rede. Nos últimos anos, esta rede experimentou um processo de expansão e
fortalecimento de suas articulações no país inteiro, tendo se transformado
numa “rede de redes” com mais de 50 outras redes de educadores ambientais.
A REBEA completou 20 anos em junho de 2012.

Rio+20 e a Cúpula dos Povos


A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
foi realizada entre 13 e 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro. A
Rio+20 foi assim conhecida porque marcou os vinte anos de realização da
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Rio92). Seu objetivo foi a renovação do compromisso político com o
desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das
lacunas na implementação das decisões da Rio92 e o tratamento de temas
novos e emergentes.
A Conferência teve dois temas principais: a economia verde no contexto
do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e a estrutura
institucional para o desenvolvimento sustentável. A Comissão Nacional para a
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável teve a
atribuição de articular os eixos da participação do Brasil na Conferência. A
sociedade civil foi parte integral da Comissão Nacional, contando com cerca de
quarenta membros, representantes de diversos setores sociais, selecionados
em processo transparente e inclusivo.
Cerca de 110 mil pessoas foram ao Rio de Janeiro para os eventos
oficiais. Aproximadamente 45 mil pessoas estiveram presentes no Riocentro,
local que sediou a conferência da ONU, e mais de 1 milhão de participantes
estiveram nos eventos paralelos, com destaque para a Cúpula dos Povos, no
Parque do Flamengo, e para o Espaço Humanidade2012, no Forte de
Copacabana.
De acordo com a prefeitura do Rio de Janeiro, foram registradas 23
manifestações, sendo que o protesto que reuniu maior número de pessoas foi o
realizado no dia 20 de Junho de 2012, quando 50 mil ativistas, indígenas,
professores e estudantes ocuparam as avenidas Presidente Vargas e Rio
Branco. A Rio+20 rendeu cerca de 700 compromissos voluntários entre ONGs,
empresas, governos e universidades. Isso significa um investimento de US$
513 Bilhões para ações de desenvolvimento sustentável nos próximos 10 anos. 





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200 universidades de 50 países se comprometeram a tornar a Sustentabilidade
o eixo norteador dos projetos pedagógicos e PDIs4.
O principal documento elaborado foi a declaração O Futuro que
Queremos, assinado por 188 países. As avaliações sobre o evento
reconhecem perdas e ganhos resumidamente analisadas nos próximos
parágrafos.
Ban Ki-moon Secretário-Geral ONU5, no encerramento da Rio+20,
considera que o documento final demonstra convergência na criação de
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O Secretário enfatizou a adesão
voluntária às proposições, pois todos assumiram quase 700 compromissos,
representando centenas de bilhões de dólares.
Segundo relata Leitão (2012), eventos ocuparam toda a cidade do Rio
de Janeiro, como nunca antes no campo ambiental: 220 mil pessoas e suas
famílias passaram mais de 3 horas nas filas diárias para a exposição
Humanidades2012, no Forte de Copacabana; quinhentos cientistas de vários
países passaram dias trocando informações na PUC; pessoas decidiram mudar
de atitude; empresários compararam práticas, e prefeitos se comprometeram a
mudar a realidade local. Para a jornalista,

isso não mudará o mundo, nem deterá a mudança climática,


mas tornará cada vez mais penoso para os governos adiar a
inadiável adoção de políticas públicas e decisões políticas que
reduzam o risco que corremos. A ação individual tem impacto!
O intangível legado da Rio+20 é este. Seus milhares de
eventos paralelos podem ter tocado pessoas. Quem sabe
quantas crianças verão o mundo com outros olhos? E isso
pode ser decisivo (s/p).

Para Viana (2012) a Rio+20 promoveu uma enorme penetração da


temática da sustentabilidade para além do território de ambientalistas, ecólogos
e alguns poucos líderes visionários de outros setores. Para o jornalista, era
difícil imaginar, por exemplo, que presidentes de grandes bancos, como o
Bradesco e BNDES, gastariam cada vez mais tempo com temas relacionados à
sustentabilidade, ou que a CNI reuniria em um evento paralelo mais de 1.100
líderes empresariais para apresentar propostas concretas para uma produção
industrial realmente sustentável.
A Presidente Dilma Rousseff, no entanto, de acordo com a mídia
nacional, reconheceu a morosidade dos processos decisórios num mundo que
precisa de rapidez nas decisões para enfrentar os desafios ambientais, sociais
e econômicos e destacou o multilateralismo como uma das principais















4

Fonte: Editorial do Jornal O Estado de São Paulo, 24/06/2012.








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5

Site da ONU: http://www.onu.org.br/rio20/rio20-termina-e-documento-final-o-futuro-que-queremos-e-


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conquistas da Rio+20. No jargão diplomático, a presidente afirmou que a
Rio+20 é uma conferência de partida, ou seja, que lança processos para que
alguns assuntos - como os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - sejam
tratados e definidos nos próximos anos.
Já Gro Brundtland, que coordenou o relatório Nosso Futuro Comum,
avaliando os produtos das duas conferências, Rio92 e Rio+20, declarou: “uma
comparação entre esse novo documento e a ‘Agenda 21’ aprovada em 1992 é
inevitável, com grande vantagem para os 40 capítulos da velha agenda”
(MARCONDES, 2012: 1).
Na mesma matéria, Marcondes (op. cit.:1) cita o diretor executivo do
Fundo de Populações das Nações Unidas, o nigeriano Babatunde Osotimehin,
para quem o crescimento das demandas de consumo, principalmente nos
países emergentes, reforça uma enorme pressão sobre os recursos naturais:

Planejar para as mudanças previstas no tamanho da população


e tendências como o envelhecimento, migração e urbanização
é uma condição indispensável para estratégias sustentáveis de
desenvolvimento (MARCONDES, 2012, p.1).

Houve também participação de muitas empresas, o que para alguns


evidenciou que a Rio+20 foi uma oportunidade para o capitalismo apresentar
uma versão mais sustentável. A ex-ministra Marina Silva disse que “a
conferência foi capturada por interesses corporativos” (MARCONDES, 2012,
p.1).
Iniciativa importante apresentada foi a criação, pela Universidade da
ONU e parceiros, de um Índice de Riqueza Inclusiva (IWR), que acrescentará
aos atuais métodos de avaliação do desenvolvimento - crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) e Índices de Desenvolvimento Humano do PNUD,
indicadores para avaliar a situação dos recursos naturais, sua preservação ou
perda (NOVAES, 2012).
A Cúpula dos Povos foi o evento paralelo à Rio+20, organizado por
entidades da sociedade civil e movimentos sociais de vários países. Aconteceu
entre os dias 15 e 23 de junho no Aterro do Flamengo, com o objetivo de
discutir as causas da crise socioambiental, apresentar soluções práticas e
fortalecer movimentos sociais do Brasil e do mundo. Recebeu quase 23 mil
inscritos, dos quais foram selecionados 15 mil representantes da sociedade
civil, vindos de várias partes do mundo, em especial das Américas, Europa e
norte da África, além dos cerca de 300 mil visitantes. O grupo responsável pela
organização foi o Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a
Rio+20 (CFSC). 
Durante a Rio+20 e a Cúpula dos Povos aconteceram quatro eventos 



relacionados à II Jornada e à Educação Ambiental, entre eles o lançamento da 


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Rede Planetária do Tratado de Educação Ambiental, durante a mesa redonda 

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Educação para sociedades sustentáveis na Agenda Rio+20 e Você: O Tratado
de Educação Ambiental e as Metas do Desenvolvimento Sustentável como
Diretrizes nas Iniciativas de Responsabilidade Social Ambiental.
Outro ponto de destaque foi o acordo em que as instituições de ensino
superior do Brasil e do mundo se comprometem a incluir o tema
sustentabilidade assumindo o compromisso com práticas sustentáveis nas
Instituições de Ensino Superior.
Como contraponto ao resultado oficial da Rio+20 foi lançada a União
Global pela Sustentabilidade6 movimento internacional aberto que promove a
união de forças entre pessoas, organizações não governamentais, empresas e
governos locais, a partir de objetivos e compromissos voluntários de ações de
mudança, em prol do desenvolvimento sustentável.

Educação Ambiental Brasileira da Rio92 à Rio +20


Entrevistas com especialistas na temática ambiental
Para a realização desta etapa da pesquisa, entramos em contato com
líderes ambientalistas que militam na EA e que estiveram presentes em ambos
os eventos (Rio92 e Rio+20), de modo a resgatar o contexto histórico que
vivem e viveram os depoentes, e cruzar informações e lembranças das duas
Conferências, para se configurar o cenário dos desafios da EA de acordo com
essas lideranças. Cada um foi entrevistado individualmente, entre 23 de junho
de 2012 e 13 de maio de 2013, tendo seus depoimentos gravados e transcritos
(alguns enviaram suas respostas já por escrito).
São os seguintes os entrevistados e as datas nas quais deram seus
depoimentos:
• Aron Belinky (12 de março 2013): Articulador da Rio+20,
pesquisador e consultor, tem formação em Administração Pública pela
FGV-SP e Geografia pela USP;
• Doroty Martos (23 de junho 2012): Mestre em Educação pela
UMESP e Gestora Ambiental pela FMU/SP.
• Fábio Feldmann (24 de outubro de 2012): Advogado (USP) e
administrador de empresas (FGV) foi eleito Deputado Federal por três
mandatos consecutivos (1986 – 1998), chefe da delegação brasileira
dos parlamentares na Rio92;
• Monica Pilz Borba (21 de abril 2013): Pedagoga pela PUC/SP e
especialista em EA pela FESP/USP. Criou e coordena o Instituto 5
Elementos;
• Nilo Sérgio de Melo Diniz (13 de maio 2013): È Comunicador Social
(UNB) e fundador FBOMS. Ë Diretor do Departamento de Educação















6
Site da União Global pela Sustentabilidade: http://www.globalunionforsustainability.org/







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Ambiental da Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania
Ambiental do Ministério do Meio Ambiente;
• Pedro Jacobi (21 de abril de 2013): Cientista social e economista, é
Professor Associado da Faculdade de Educação (USP). Mestre em
planejamento Urbano pela Graduate School of Design Harvard
University e doutor em sociologia (USP).
• Thais Corral (03 de dezembro de 2012): Fundadora e Coordenadora
da Rede de Desenvolvimento Humano (REDEH). Fez Administração
(FGV), especialização pela Universidade de Camerino, (Itália),
mestrado pelas Universidades de Chicago (EUA), Los Andes
(Colômbia), e Harvard.

O roteiro de entrevistas era comum a todos, e constava basicamente das


seguintes questões: 1) Em sua opinião, o cenário sociopolítico em 1992
possibilitou a emergência de práticas sociais que contribuíram para gerar
processos de Educação Ambiental? 2) Quais foram os eventuais avanços do
campo da EA no período entre a Rio92 e a Rio+20? Houve a almejada
construção de outra relação da humanidade com o meio ambiente, ou seja, a
transformação de pessoas em prol de uma sociedade sustentável? 3) Quais
são os desafios e as dificuldades que você apontaria para a EA nesse período?
4) Passado esse período você se considera otimista ou pessimista com os
avanços/retrocessos da questão ambiental e da EA? Porque?
Para tentar elaborar um quadro reflexivo que possa responder a essas
perguntas, procuramos ouvir a opinião de especialistas, que foram
entrevistados através de uma abordagem semiestrutural, de modo a responder
como cada um entendia os avanços e/ou retrocessos da EA nesse período.
Depois de colhidos os depoimentos, esses foram sistematizados, registrando a
opinião e a memória social em estilo mais narrativo, de acordo com Bosi
(2003). As opiniões dos entrevistados foram então confrontadas com os
principais fatos relativos às políticas públicas de EA nesse período, de modo a
compor o painel que se segue.

Cenários: Eco92 e Rio+20


Uma evidência que surge após os depoimentos dos entrevistados é
que em 1992 havia uma clara consciência da crise, que fez acontecer a própria
Rio92 numa tentativa de países membros da ONU de negociarem uma agenda
para lidar com os problemas ambientais,

Em 1992 havia um ambiente muito otimista, o momento que


estávamos vivendo, era quase de euforia, começo da

globalização, com internet chegando, Constituição Brasileira de

1988 recém-aprovada, redemocratização do Brasil, queda do 



muro de Berlim. Pegada muito positiva no mundo, impulso 
positivo, pensando nos espaço da cidadania (Aron Belinky). 

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A elaboração do texto da Política Nacional de Educação Ambiental
(PNEA) começou em 1992, por iniciativa do Deputado Federal Fábio
Feldmann, sendo aprovada apenas em 1999 (Lei n° 9.795, regulamentada pelo
Decreto nº 4281/02) (BRASIL, 1999), e proporcionou a abertura de um espaço
institucional para tratar a EA como uma política de governo (MENDONÇA,
2004).
A Rio92 abriu espaço para que entidades da sociedade civil
participassem e dialogassem nas negociações entre os governos. Fábio
Feldman, autor do texto da PNEA, considera que a mobilização da sociedade
civil no Fórum Global, foi uma das grandes contribuições da Rio92, pois se

[...] demonstrou a vitalidade das organizações não


governamentais, de personalidades e líderes de todo o mundo
que criaram um evento paralelo, muitas vezes confundido com
a própria reunião dos governos, a Rio92, realizada no
Riocentro [...]. A partir do Fórum Global, a sociedade civil
ganhou uma legitimidade incontestável, passando-se a
reconhecer que as sociedades nacionais não têm, nos seus
governos, seus representantes únicos e exclusivos [...] (Fábio
Feldmann).

Nilo Diniz comenta sobre o Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos


Sociais para Meio Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS), afirmando que o
mesmo foi
uma articulação intersetorial inédita no país, preparatória da
sociedade civil para a Conferência da ONU. Do lado do Governo
Federal, sob a orientação do Secretário Nacional de Meio
Ambiente (SEMA), o ambientalista José Lutzemberger, formou-
se uma equipe para elaborar o documento governamental
preparatório, que tinha a frente um brasileiro, Roberto
Guimarães, administrador público e cientista político, capaz de
reunir contribuições que tratavam das questões ambientais
articuladas com aspectos sociais e econômicos. Essa
abordagem socioambiental associada à dimensão econômica,
portanto, presente no olhar das entidades da sociedade civil e do
Governo Federal, à época, foi decisiva para consolidar uma
mudança importante nos conteúdos e tendências da EA
praticada até então. A vertente conservacionista que, de certa
forma, prevalecia até final dos anos 1980, passou a ter que
dialogar com outra vertente socioambiental, que agregava novos
conteúdos, mas também novos atores.











Para Nilo, os trabalhos da comissão Brundtland lançados no relatório
intitulado “Nosso Futuro Comum” (CMMAD), aproximou as dimensões do











desenvolvimento sustentável para a EA, como levantado abaixo



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Um aspecto a se observar sobre a importância deste relatório
Brundtland para o tema da EA foi a associação mais evidente
entre as dimensões sociais, econômicos e ambientais, no
contexto de uma crise global. Isso foi muito pertinente, ao
menos no Brasil, porque, ao lado da alta relevância que uma
conferência da ONU representava, por si só, para governo e
sociedade, incentivou uma ampla articulação entre os
diferentes movimentos sociais no Brasil, ambientalistas ou não,
que haviam passado por um processo de retomada na década
anterior, com a democratização e a Assembleia Nacional
Constituinte (Nilo Diniz).

Aron Belinky, aponta que, quanto ao evento oficial (Rio+20), a sociedade


civil e os representantes das nações participantes, não estavam convictos das
possibilidades do evento.

A Rio+20, ela estava quase que num caminho inverso, por que
o ambiente no qual foi construída, nos 2 anos que a
antecederam, foram anos em que a mobilização nas Nações
Unidas, frente ao sistema multilateral, estava baixa. [...] Aquilo
que estávamos aguardando e acreditávamos, ou seja, que na
Rio92 fez diferença ter acordos internacionais [...], já não
parecia ser tão importante, pois percebemos logo que havia
uma baixa capacidade de implantação dos acordos que
pudessem surgir. [...] O que eu acho é que nós, nesses 20
anos, acabamos, do ponto de vista dos impactos, tocando e até
ultrapassando os limites seja do planeta de um lado, seja os
limites do sistema Estado-Nação como instituição por outro
lado, pois o mesmo não é mais suficiente, não dá conta...(Aron
Belinky).

Em 2012 a organização da sociedade civil, melhorou sua capacidade de


intervenção, controle social e qualificação para atuar em temas complexos.
Paralelamente, há maior profissionalização dos militantes e profissionais que
trabalham com a questão ambiental, apontando soluções para os que
consideram que o tema seja um empecilho para o desenvolvimento.
Quanto a Conferência da ONU, Thais Corral entende que

o evento oficial, foi restrito e tímido, nos resultados. O governo


brasileiro criou os diálogos. Os que participaram gostaram. Mas
quem garante que os pactos serão implementados? Há
necessidade de consolidação da emergência de novos atores 
[...] reconhecer melhor onde estão as melhores competências. 




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O período analisado testemunhou a criação de políticas públicas e
marcos regulatórios para a gestão da EA brasileira como a normatização
institucional da área ambiental, a criação de políticas setoriais para
gerenciamento das águas, resíduos sólidos, e mudanças climáticas, por
exemplo. No entanto, ainda há um significativo desafio quanto à estruturação
adequada dos órgãos responsáveis para a implantação das políticas propostas.
Assim, temos uma situação em que este cenário reflete por um lado avanços,
subtraídos de atrasos e recuos.

Aliar os projetos de EA às políticas públicas ainda é um grande


desafio, pois os governos têm tantos déficits que nossas ações
parecem estar num segundo plano. A Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS) tem metas ousadas de extinguir os
lixões das cidades até 2014 e isso poderá ajudar muito a
implantar políticas educacionais eficientes para ampliar a
participação do cidadão (Monica Pilz Borba).

Os projetos, nas suas múltiplas dimensões e possibilidades,


devem, na medida do possível, abrir-se para o diálogo e
sensibilização das pessoas face aos temas que intervém no
seu cotidiano, como é o caso dos resíduos sólidos, da poluição
do ar e da perda de biodiversidade (Pedro Jacobi).

Avanços do campo da Educação Ambiental


Através das análises recolhidas encontramos evidências de que há uma
ação persistente tanto na institucionalização da EA como no engajamento de
pessoas no campo de atuação durante o período analisado.
Em 1997, após dois anos de debates, os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) foram aprovados pelo Conselho Nacional de Educação,
elaborados por professores, especialistas em Educação, contratados pela
Secretaria da Educação Fundamental do Ministério da Educação (MEC)
(SOUZA, apud BRASIL, 1997: s/p). O objetivo do Tema Transversal Meio
Ambiente, para Fontanela (2001), é compreender o ambiente como uma
grande teia, da qual o ser humano representa um elemento, e tem como
pressuposto que o ser humano faz parte do Meio Ambiente. Os “Parâmetros
em Ação: Meio Ambiente na Escola” (PAMA), segundo Mendonça (2004), foi o
primeiro programa de formação do MEC a trabalhar com um tema transversal.
Também em 1997, durante a 1ª Conferência de Educação Ambiental,
realizada em Brasília, foi produzido o documento Carta de Brasília para a
Educação Ambiental. No mesmo ano, aconteceu em Guarapari (ES), o primeiro



dos Fóruns Brasileiros de Educação Ambiental, realizado pela REBEA.




















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Como avanço mais marcante vejo a realização dos Fóruns de
Educação Ambiental, promovidos pela REBEA e que ocorreram
em São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro e Bahia,
sendo que em breve haverá um no Norte do país, além dos
diversos encontros estaduais (Monica Pilz Borba).

Nessa mesma perspectiva, Nilo Diniz acredita que o Fórum de EA é


importante devido a sua capilaridade e importância que tem em todo o país:

Logo depois da Rio92, os Fóruns Brasileiros de EA da REBEA,


foram construindo um diálogo nacional dando oportunidade
para Redes de EA se firmarem pelo país trazendo diferentes
realidades sólidas nas ações de EA (Nilo Diniz).

Em 2001 realizou-se uma parceria entre redes de EA e o MMA, tendo e


vista a implantação e alimentação do Sistema Brasileiro de Informação em
Educação Ambiental – SIBEA7. O Fundo Nacional do Meio Ambiente financiou
cinco projetos de redes de educadores e um diagnóstico nacional da EA, com o
intuito de alimentar o banco de dados do SIBEA. Em junho de 2002, a Lei n°
9.795/99, da Política Nacional de Educação Ambiental, foi regulamentada pelo
Decreto n° 4.281.
No ensino universitário surge a Rede Universitária de Programas de
Educação Ambiental (RUPEA), criada em 1997. A Associação Nacional de
Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) cria grupos de trabalho
temáticos sobre EA em 2002.

O interesse que despertou na comunidade acadêmica se


refletiu em pesquisas, dissertações e teses produzidas. [...]
Também há de se considerar a importância que assumem os
debates e a emergência de diferentes abordagens teóricas que
se contrapõem, na medida em que assim como se constroem
argumentos pautados pelo conceito de Desenvolvimento
Sustentável e suas possibilidades, emergem críticas a estas
abordagens, porque não propõem questionamentos estruturais
em relação ao modelo existente. Muitos encontros têm sido
realizados em nível nacional e internacional e nestes espaços
se criam oportunidades para a multiplicação de ideias e de
posicionamentos, assim como de ações concretas nos campi e
a possibilidade da temática ser inserida nas atividades
curriculares. [...] Como avanço, o que considero mais
importante, é percepção das possibilidades de pesquisa e
ensino numa perspectiva interdisciplinar. (Pedro Jacobi). 





7
Site do SIBEA: https://sites.google.com/site/aabrasilma/Home/planos-de-acao/cidadania/educacao- 
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Desde 1994 funciona o mestrado do Programa de Pós-graduação em
Educação Ambiental, na Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e em
2005 foi criado o doutorado.
Como expressão desta atividade incessante no campo da EA ocorre a
realização constante de seminários, congresso, fóruns, conferências temáticas
nos âmbitos municipal, estadual e nacional. Sites, blogs, perfis dedicados aos
temas ambientais nas mídias sociais, campanhas digitais, grupos eletrônicos,
revistas eletrônicas são formas atuais da comunicação de educadores
ambientais que aproveitam das facilidades da web para disseminar, interagir e
educar para a sustentabilidade.

Um aspecto muito importante desse período foi a capilaridade da


EA. Houve expansão sim, muita gente hoje, independente de
formação específica na área, procura se informar e buscar
subsídios para trabalhar a educação, pois toda educação tem
que ser ambiental (Doroty Martos).

Nos 20 anos estudados ocorreu também uma expressiva expansão da


EA no ensino fundamental brasileiro. Recentemente (2012) houve a aprovação
da proposta das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental8,
pelo Conselho Nacional de Educação. Pedro Jacobi reconhece ainda como
avanço do campo da EA

[...] a multiplicação de professores que percebem a importância


de articular suas atividades docentes com o tema da EA,
educação ou aprendizagem social para a sustentabilidade. O
mais importante é que a temática não se restrinja a alguns
especialistas, mas que se amplie de forma horizontalizada
(Pedro Jacobi).

Em relação às políticas de meio ambiente começa a ocorrer a realização


de projetos e programas voltados aos municípios e suas articulações regionais,
como os consórcios e comitês de bacia hidrográfica.
Avanços também podem ser identificados na área da responsabilidade
socioambiental das empresas (não se trata especificamente de EA, mas tem
ligações diretas com essa temática), como a adoção dos relatórios anuais
sobre sustentabilidade, os estudos de impacto ambiental e a própria evolução
tecnológica.




8
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental:



http://www.icmbio.gov.br/intranet/download/arquivos/cdoc/biblioteca/resenha/2012/junho/Res2012-06-








18DOUICMBio.pdf







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Nas empresas e suas ações com visibilidade pública, se
distinguem aquelas que podem ser denominadas de
greenwashing e aquelas que apresentam ações mensuráveis e
que indicam compromisso institucional (Pedro Jacobi).

Ainda como política pública, através de uma Instrução Normativa do


Ibama, foi estabelecido que a EA é componente do processo de licenciamento
ambiental, com atividades educativas para que os diferentes grupos sociais
afetados por empreendimentos participem e percebam as consequências de
riscos e danos socioambientais decorrente de empreendimentos. Nilo Diniz
reconhece como avanço

a EA nestes processos de gestão ambiental em especial no


licenciamento ambiental (Nilo Diniz).

Dificuldades e desafios da EA
Sorrentino et al. (2005) citam alguns programas desenvolvidos em
conjunto pelas agências e comissões dos Ministérios do Meio Ambiente e da
Educação como é o caso dos “Municípios educadores sustentáveis e a
formação de educadores ambientais”. No entanto, apesar do visível avanço nas
políticas públicas, pelo menos no que concerne à legislação e aos documentos
de referência produzidos, cabem as perguntas: essas leis, documentos e
fóruns criados são efetivos e atuantes?; Quais as concepções de EA estão por
trás de cada um?; O que muda no Brasil?; Os brasileiros se apropriaram
disso?; Qual é exatamente o avanço qualitativo entre as duas conferências?
A EA nasceu como crítica a ausência da abordagem dos problemas
ambientais pela sociedade, e esta dificuldade é apontada por Pedro Jacobi:

Ainda se observa pouca percepção na sociedade sobre as


mudanças que se colocam como essenciais para aproximar-se
de uma sociedade que dá importância à sustentabilidade. As
iniciativas que se multiplicam, sejam nas escolas, nas
universidades, nas empresas, nas ONGs, representam pontos
de convergência para a aproximação e diálogo de múltiplos
atores face um mesmo objetivo: promover mudanças nos
hábitos, nas práticas sociais através de estratégias
sensibilizadoras e mobilizadoras. [...] O discurso da economia
verde e da importância de perceber os riscos potenciais que
coloca a mudança climática compõem atualmente uma agenda
para modificar a visão de mundo das pessoas e integrá-las em
novas políticas e ações sustentáveis (Pedro Jacobi).






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Nilo Diniz considera que
a crise é parceira da EA, pois mobiliza estratégias (Nilo Diniz).

Para Aron Belinky,

a EA está desafiada a fazer frente a 2 ceticismos: um em


relação ao Estado, às políticas públicas à capacidade de
intervenção; e outro quanto ao que é um projeto, uma proposta
ambientalista de convivência dentro dos limites do mundo. Isso
porque, de certa maneira, as pessoas jovens urbanas
percebem com muita clareza que a vida moderna tem
vantagens (autonomia, liberdade, tecnologia). Elas têm
condições de se expressar de se mover e tomar decisões
infinitamente maiores, e elas são conscientes disso. Mas esses
mesmos jovens, por valorizar esta autonomia, são refratários
às cosias que vão em direção oposta, de contenção, ‘cuidado
não avance’, ‘reduza’... Esse discurso vai contra a liberdade e
autonomia (Aron Belinky).

Ainda segundo o raciocínio de Aron Belinky, há a necessidade de uma


transição para outra forma de abordagem.

A EA tem que ser capaz de chegar e se colocar, não como


uma coisa de limitação, uma imposição moral, mas como um
caminho para o bem estar. No discurso, a questão não é ‘salvar
o planeta’, mas sim ‘viver melhor’... O ‘vamos salvar o planeta1
está ultrapassado. Em 1992 soava muito bem, mas hoje é uma
besteira enorme. Primeiro porque não temos esta capacidade,
nem de destruir, nem de salvar. [...] O que são 2000, 5 ou 10
anos de humanidade? [...] A questão é salvar a nós mesmos, é
viver melhor... tem a ver com o sentido de você estar menos
sujeito à crises, inundações, epidemias, trânsito na cidade,
violência, seca, falta da água... Tem um monte de coisas que
as pessoas não gostam ou tem medo...
Estamos vendo coisas diferentes, como internet, mídias de
massa de mobilização e ainda não as sabemos usar. Estamos
começando a aprender a usá-las. É nisso que vejo um caminho
de esperança, de onde podem surgir coisas novas. Os
cidadãos estão se percebendo, começando a interagir com
pessoas do mundo inteiro. ‘Antes de ser um brasileiro, italiano
ou americano, eu sou um jovem que me interesso por direitos



humanos, ou EA, sustentabilidade, natureza’. (Aron Belinky).




















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A coordenação da Política Nacional de Educação Ambiental está a cargo
do Órgão Gestor (OG), dirigido pelos Ministérios do Meio Ambiente e da
Educação, tendo como referencial o documento ProNEA. Neste contexto

um grande desafio para o campo da EA é manter dia a dia o


diálogo entre as Secretarias de Educação e de Meio Ambiente.
(Nilo Diniz).

Apesar dos avanços quanto ao financiamento e realização de projetos


em EA, Monica Pilz Borba, chama a atenção quanto ao tempo de duração
desses projetos:

Para promover mudança de comportamento em uma


comunidade o projeto tem que acontecer a médio prazo (2 a 4
anos) aliado a políticas públicas locais, promovendo diferentes
práticas de sustentabilidade com linguagem adequada a
públicos diversificados (Monica Pilz Borba).

Otimista ou pessimista com os avanços/retrocessos da questão ambiental e


da EA?
A EA nos impõe muitos desafios: o da complexidade e o das relações
entre os fatores econômicos, ecológicos, socioculturais, geográficos e políticos.
E o tempo todo, o campo de atuação dos educadores expõe estas contradições
das sociedades, mas com um grande potencial para promover as mudanças
socioambientais, com significativo horizonte de possibilidades, como demonstra
este testemunho.

Acredito que as EA´s (critica, socioambiental, conservadora), são


complementares e cada vez mais integradas, articuladas nos
diálogos. Momento bom, interessante... Estou otimista com a EA
pois há mais segmentos comprometidos, movimentos sociais do
campo, meios de comunicação, escolas, parceiros não formais
por exemplo (Nilo Diniz),

Monica Pilz Borba é otimista com os avanços da EA e sua trajetória


profissional é associada a este sentimento como neste comentário

Estou otimista, senão não poderia continuar a atuar nesta área,


apesar de verificar que nossos resultados são muito pouco
frente ao desafio que temos. De qualquer forma percebo que a
maioria dos problemas que a sociedade de consumo enfrenta 
tem como raiz a falta de consciência socioambiental, a 



ausência de um pensamento sistêmico de como tudo acontece 



aqui neste planeta (Monica Pilz Borba). 

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Pedro Jacobi considera que

Os avanços nas práticas educativas são importantes, mas nem


sempre na velocidade desejada seja no universo escolar, nas
universidades e nas empresas. [...] Nas escolas depende
principalmente de liderança na direção e de professores
engajados, e se pode observar que na sua maioria dependem
de ações pautadas pelo voluntarismo. Nas universidades não
é muito diferente, e também depende de líderes e projetos
multiplicadores (Pedro Jacobi).

Apesar de encontrarmos tantas iniciativas importantes, muitas delas


estruturantes do ponto de vista da implementação da EA como política pública,
quando analisamos os depoimentos, deparamos com avaliações críticas e, por
vezes, alguma frustração.
Pedro Jacobi, por exemplo, fala sobre a lentidão como um entrave:

Na gestão pública os resultados são diversos. Muitas


prefeituras tem promovido ações inovadoras que estimulam co-
responsabilização, outras focadas em ações concretas que
promovem transformações no modus operandi. Mas no geral
se observa que as mudanças são lentas, erráticas e quase
sempre vinculadas a agendas políticas, e que na sua maioria
depende de gestores inovadores que visam associar sua ação
a uma política de cidades sustentáveis (Pedro Jacobi).

Já com relação ao âmbito federal,

A Política de Educação Ambiental e a Gestão de Resíduos


Sólidos é um tema estratégico do Departamento de Educação
Ambiental, num diálogo entre a EA e a Comunicação Social, as
diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos, novas
mídias, e participação social tem-se tratado de forma articulada e
participativa esse tema (Nilo Diniz).

Quanto à educação formal, observa-se que uma das fragilidades que


emergem nas reflexões sobre a implantação da EA é a falta de formação
adequada dos professores para que ela deixe de ser uma iniciativa paralela ao
currículo e que a escola consiga formar gerações preparadas para viver a



sustentabilidade. Para Fábio Feldmann,




















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no caso da EA, a minha crítica continua a mesma de vinte anos
atrás: teríamos que de fato trabalhar na formação dos
professores, com a educação formal, para você criar de um
currículo inovador que permitisse trabalhar com a EA como
deveria ser. Nesse sentido existe ainda um desafio que é
preparar esses professores para que eles, enfim, possam
trabalhar a EA no sentido de formar gerações (Fábio
Feldmann).

Vemos ainda na constituição deste campo concepções que


hipervalorizam a capacidade da EA em promover mudanças complexas na
humanidade.
Deveríamos implantar um sistema educacional com base na
alfabetização ecológica, pois nosso impacto é tão pesado na
atualidade, que somente uma mudança profunda no sistema
educacional poderia ajudar a solucionar a continuidade pacífica
dos seres humanos na Terra (Monica Pilz Borba).

Pode-se dizer que a institucionalização da EA está presente em diversos


processos e muita coisa aconteceu e a consciência sobre temas ambientais da
sociedade em geral é diferente de 20 anos atrás. De acordo com Crespo
(2012), o indicador mais evidente está no número de pessoas que
espontaneamente não sabiam mencionar um problema ambiental no Brasil, na
sua cidade ou no seu bairro. Este número variou de 46% em 1992 para 10%
em 2012. Conceitos sofisticados como “desenvolvimento sustentável”,
“consumo sustentável” ou “biodiversidade” já fazem parte do repertório de
muitos brasileiros, e que este percentual tende a evoluir pelas mídias que vem
dando mais espaço ao tema e traduzindo para o dia a dia a aplicação de tais
conceitos. A autora a ponta que a noção de meio ambiente é a que mais
sobressai quando os brasileiros pensam na Rio+20, e que esse “meio
ambiente” é cada vez menos “naturalista” emitem mais preocupação com o
lixo, o saneamento e outros problemas urbanos.
No entanto, ações e opiniões não parecem ser suficientes para criar o
entendimento científico que poderia embasar uma compreensão do mundo e
da vida adequados para a superação da crise ecológica. Em alguns casos a
mobilização ainda é gerida pelo temor das catástrofes ou por uma adesão
moral:
Nós conseguimos, nesses vinte anos, fazer com que as
pessoas dialoguem sobre algumas questões, principalmente
mudanças climáticas que, por mais que as pessoas não
entendam o conceito, ou exatamente o que são gases de efeito
estufa, elas hoje refletem. Por exemplo, quando há 
desmoronamento nas áreas de risco, as pessoas refletem: 
‘falta a mata, vegetação das encostas, e essas são áreas que 



estão expostas’, e isso elas já vinculam à questão das 

mudanças climáticas (Doroty Martos).
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Em outro momento de seu depoimento, Aron Belinky problematiza este
assunto, que, segundo ele,

[...] aparece nas pesquisas: as pessoas tem medo, da poluição,


de cair a encosta, enchente... Esse medo pode ser um viés
importante, não para ser pontecializado e aterrorizar as
pessoas, não é este o ponto, mas no sentido de você dizer
‘olha vamos viver bem, felizes, sem estas coisas todas’ (Aron
Belinky).

Outro aspecto abordado pelos entrevistados é referente a não mudança


de comportamento das pessoas para diminuir a pegada ecológica individual e
coletiva. Em relação à aprendizagem, a mudança de comportamento é um
indicador efetivo: podemos dizer que não havendo mudança, não houve
aprendizagem.
os processos de Educação Ambiental deixam muito a desejar,
pois a mudança de postura avançou muito pouco no período
analisado. Aumentou a consciência do brasileiro, mas não há o
reflexo dessa consciência na prática, ainda não... Ainda há o
desejo de consumo de carros, por exemplo, e não vejo as
pessoas fazerem opções que poderiam reduzir o impacto
negativo de sua forma de vida sobre patrimônio natural (Thais
Corral).

Valendo-se principalmente dos depoimentos recolhidos, podemos


concluir que, sem dúvida, os 13,5 milhões de pessoas e 21 mil escolas que
participaram das Conferências Nacionais Infanto-juvenis pelo Meio Ambiente
nos anos 2003, 2006 e 2009, os 163 painéis selecionados que foram
apresentados na categoria Educação Ambiental Escolarizada do VII Fórum
Brasileiro de Educação Ambiental (FBEA), e a implantação das 5.679
Comissões de Meio Ambiente e Qualidade de Vida / Com–Vida, um espaço
educador sustentável que potencializa as ações de EA no ensino fundamental
e no ensino médio, nos mostram uma dinâmica relacionada aos temas da
sustentabilidade acontecendo nas escolas brasileiras.

Conclusões
Procuramos, até aqui, trazer ao debate a reflexão sobre como se
constituiu o campo da EA no período e sobre a influência das Conferências, a
partir dos autores referenciados, das análises de jornalistas, dos especialistas
pesquisados e das lideranças. Entendemos que os elementos apresentados








sinalizam avanços, o campo vem se aprofundando qualitativamente, de modo
diverso e rico.















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Por se tratar de um processo de educação permanente, a EA está em
curso, enfrenta desafios, e deve abordar questões emergentes com relação a
segurança climática, acidentes ambientais, entre outros. Porem é preciso
considerar a urgência de internalizar a consciência desenvolvida e transformá-
la em mudança de fato. No entanto estamos cientes de que 20 anos ainda é
pouco tempo para que as mudanças culturais e transformadoras da sociedade
estejam plenamente implantadas.
Em relação aos objetivos formulados no início desse estudo, verificamos
que a partir de 1992 houve a emergência e a consolidação de várias práticas
sociais e de políticas públicas que favoreceram o desenvolvimento da EA no
Brasil. No entanto, a análise permitiu enxergar que ainda permanecem algumas
inquietações, pois os avanços que aconteceram não decorrem exclusivamente
da EA, que muitas vezes é hipervalorizada em sua capacidade de promover
mudanças complexas.
Outro aspecto relevante é que, embora seja generalizada a
concordância quanto à existência de uma crise ambiental e social
contemporânea, é notório que os entendimentos sobre as causas e soluções
para esta são muitas vezes divergentes. Nos 20 anos que se passaram entre
as duas Conferências da ONU, muito foi feito pela EA, por parte de alguns
governantes e pela própria capacidade natural de adaptação e mudança dos
sistemas culturais e econômicos da sociedade, buscando sua sustentação e
reprodução.
Cremos, por fim, que a Educação Ambiental vem influenciando o
pensamento e a vida dos brasileiros, e deve seguir adiante a tarefa mais difícil
dos educadores ambientais: sua própria superação enquanto agente
transformador da sociedade.

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VIANA, V. Os 20 anos da Rio92 devem ser comemorados. O Estado de S. 
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Paulo, edição de 24/06/2012. e
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41
EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA:
A CONSTRUÇÃO DO ATO PEDAGÓGICO
José Silva Quintas
CRISE AMBIENTAL OU CRISE CIVILIZATÓRIA?

Os anos sessenta do século passado fazem parte de uma época em que


certas verdades, consideradas até então indiscutíveis, foram postas em dúvida
e algumas, simplesmente, desmentidas. Uma das mais caras, que vem sendo
negada cada vez mais pelos fatos, era a crença de que a humanidade teria
ingressado numa fase áurea da sua existência, onde as velhas mazelas, que
historicamente vêem atormentando a existência dos seres humanos, teriam
seus dias contados. Assim, acabar com a fome, as doenças, a miséria, a
guerra e outros males seria uma questão de tempo. E tudo isto num prazo
razoavelmente curto.Finalmente, estaríamos no limiar da concretização da
grande promessa da modernidade 1, de que a ciência e a tecnologia nos
libertaria das limitações impostas pela natureza e , assim seríamos felizes
para sempre.
Afinal, como afirmou Descartes(1596 a 1650), um dos protagonistas da revolução
científica européia no século XVII, na sua obra Discurso do Método “conhecendo a
força e as ações do fogo, da água, do ar, dos astros, dos céus e de todos os outros corpos
que nos cercam, tão distintamente como conhecemos os diversos misteres [técnicas
artesanais] de nossos artífices, poderíamos empregá-los da mesma maneira em todos os
usos para os quais são adequados, e, assim, tornar-nos como que senhores e possuidores
da natureza (....),” os humanos inventariam “uma infinidade de artifícios [aplicações da
ciência], que permitiriam gozar, sem qualquer custo, os frutos da terra e todas as
comodidades que nela se encontram”... (grifos meus) Assim, por meio do conhecimento
científico e da sua aplicação prática, os humanos do minariam a natureza, tor nar-se-iam
seu dono, adquirindo, assim, o direito de usufruir dela “sem qualquer
custo.”(Descartes,1989:79)
Mas, não seria qualquer humano, o senhor e possuidor da natureza. A história da
expansão colonial mos tra, que deveria ser branco, europeu ocidental, cristão e
pertencente à aristocracia ou à ascendente burguesia que, a partir do seu protagonismo
cada vez maior na economia, gradativamente ocupava o espaço político na sociedade
pela força do capital. Ao nativo da América, África, Ásia e Oceania, considerados
incivilizados (leia-se não europe u), restou como alternativa ao extermínio puro e
simples, em maior ou menor grau, a submissão aos colonizadores e a aceitação do
saque e da destruição dos seus recursos naturais.E dessa forma, os padrões da
civilização européia foram impostos a ferro e fogo às demais regiões do Planeta,
criando uma orde m social injusta e ambientalme nte irresponsáve l, sustentada pela
exploração da maioria por uma minoria e pelo uso intensivo e predatório dos
recursos naturais do Planeta.
Decorridos quase 400 anos da afirmação de Descartes a existência da vida
humana no Planeta está em risco e “a infinidade de artifícios que permitiriam [à
humanidade] gozar os frutos da terra e todas as comodidades que nela se
encontram,” ficou restrita a uma pequena parcela da população terrestre.
Apesar da tecnologia viabilizar safras cada vez maiores, a fome continua

1
Segundo Carvalho( 2004:93,apud Loureiro,2006:128) “ momento civilizatório que se inicia no século XV e
compreende um conjuntos de transformações relacionadas a aspectos culturais e artísticos ( o Renascimento),
políticos( o surgimento do Estado-Nação), econômicos( o mercantilismo e posteriormente o capitalismo industrial) e
filosóficos( o surgimento do pensamento científico), cuja influência se estende até nossos dias”.

1
persistindo no mundo.Apesar das novas descobertas científicas no campo da
biologia, das novas tecnologias para tratamento médico,o número de novas
doenças tem aumentado constantemente, tornando real a ameaça de
pandemias no Planeta.
A destruição de florestas, a erosão de solos agricultáveis, pela exploração
intensiva, a contaminação de mares, rios, lagos e águas subterrâneas, a
poluição do ar e a extinção de espécies estão cada vez mais aceleradas. E
como parte de tudo isto, a Terra está sofrendo um processo de aquecimento
global com implicações bastante sombrias para a maioria dos seres humanos
e outras espécies, mesmo quando se admite cenários mais otimistas de
mudanças no clima, para os próximos anos.
Hoje somente vozes isoladas, ainda, contestam o processo de aquecimento
global do Planeta, decorrente da alta concentração de dióxido de
carbono(CO2) e de outros gases estufa, na atmosfera terrestre.Segundo as
previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, 2007)
as perspectivas da humanidade para os próximos cem anos estão entre o pior
e o menos pior.
Tudo indica que o mundo da abundância e da felicidade, previsto pela
modernidade eurocê ntrica, está se revelando cada vez mais uma espécie de
conto de fadas com final desastroso. Segundo o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA, 2002), 20% do contingente mais rico da
população mundial são responsáveis por 86% de todo consumo privado no
Planeta, enquanto os 20% mais pobres consomem apenas 5%.
Segundo está mesma fonte (PNUMA, 2002:38) a pegada ecológica 2 mundial
cresceu de 1970 a 1996 aumentando de 11 bilhões para mais de 16 bilhões de
unidades de área. Neste mesmo período a pegada média mundial fico u
estabilizada 2,85 unidades. per capita O que demonstra a existência de uma
distribuição diferenciada da pressão humana sobre os ecossistemas do globo.
Analisando o significado deste fato, no contexto das relações de poder,Carlos
Walter Porto-Gonçalves observa que,
“a manutenção dessa pegada ecológica média global abriga dentro de si a
colonialidade de poder que a sustém.Vejamos: na África a pegada ecológica
de 1,5 hectare pouco ultrapassa a metade da média mundial (2,85 hectares);
na Ásia e no Pacífico, a pegada ecológica sequer alcança 1,8 hectare; na
América Latina e no Caribe, no Oriente Médio e na Ásia Central ela gira em
torno da média mundial; na Europa Central e Oriental a pegada ecológica se
aproxima de 5 hectares; na Europa Ocidental chega a 6 hectares ou seja 210%
da média mundial e, nos EUA, corresponde a 12 hectares per capita, isto é,
425% a média mundial. Isso significa que um americano médio equivale, em
termos de impacto sobre o planeta, a cerca de 10 africanos ou asiáticos”!
(Porto-Gonçalves, 2006:42)
Para o mesmo autor,

2
De acordo com PNUMA “as pegadas ecológicas são uma estimativa da pressão humana sobre os
ecossistemas mundiais, expressas em “unidades de área”. Cada unidade corresponde ao número de
hectares de terras biologicamente produtivas necessárias para produzir alimento e madeira necessários ao
consumo humano e a infra-estrutura utilizada nessa produção e para absorver o CO produzido pela
queima de combustíveis fósseis; em seguida, leva em consideração o impacto total causado ao meio
ambiente.A pegada ecológica mundial é uma função do tamanho da população, do consumo de recursos e
da intensidade de recursos utilizada pela tecnologia empregada”. (PNUMA,opcit:38)

2
“quando se sabe que 20% dos habitantes mais ricos do planeta consomem
80% das matérias-primas e energia produzidas anualmente, nos vemos diante
de um modelo-limite.Afinal,seriam necessários cinco planetas para
oferecermos a todos os habitantes da Terra o atual estilo de vida vivido pelos
ricos dos países ricos e pelos ricos dos países pobres que, em boa parte, é
pretendido por aqueles que não partilham esse estilo de vida.E, assim, vemos,
não é a população pobre que está colocando o planeta e a humanidade em
risco, como insinua o discurso malthusiano.(...)[grifo meu].Assim, a promessa
moderna de que os homens e mulheres, sendo iguais por princípio, sejam
iguais na prática, não pode concretamente ser realizada se a referência de
estilo de vida para essa igualdade for o ‘american way life’. Mais do nunca
vemos que a modernidade é colonial, não só na medida em que não pode
universalizar seu estilo de vida,mas, também, pelo modo como, pela
colonização de corações e mentes,procura instilar a idéia de que é desejável
e,mais ainda,todos se europeizarem e se americanizarem.Entretanto, este
estilo de vida só pode existir se for para uma pequena parcela da
humanidade sendo,assim, na sua essência injusto.”(Porto-Gonçalves, 2006
opcit:71) (grifo meu).
Se há a necessidade de cinco planetas, para tornar acessível a todos os
habitantes o estilo de vida de uma minoria, e se existe apenas um disponível
pode-se concluir que a permanência de tal padrão dependerá, cada vez mais,
tanto da manutenção das injustiças e das desigualdades sociais quanto da
sobre- exploração dos recursos ambientais.
Assim, este padrão de produção e consumo, social e historicamente,
construído com base numa relação de dominação da natureza por seres
humanos e de humanos por outros humanos, tem como premissas
estruturantes a desigualdade, a injustiça e a utilização intensiva e ilimitada dos
recursos naturais.
Um padrão decorrente de um modo de produção, o capitalista onde a
racionalidade do mercado prevalece sobre todas as demais.Onde a
obsolescência planejada de bens industrializados é uma das estratégias
centrais do processo de produção e consumo (Packard,1965). Não respeita
os diferentes tempos, seja o da natureza, seja dos povos com sua diversidade
cultural.
. Portanto, é um estilo de vida oligárquico (restrito a poucos) decorrente de uma
sociedade estruturada com pouca ou nenhuma perspectiva de
sustentabilidade, se pensada como um processo com múltiplas dimensões
interdependentes,tanto no plano do meio social quanto do físico-
natural(Sachs,2002).Por outro lado, se avaliada segundo critérios éticos, esta
ordem social não atende às necessidades fundamentais da maioria da
população no presente e ameaça a sobrevivência da humanidade no futuro.
A grande quantidade de dados científicos sobre o estado do meio ambiente
no planeta sinaliza que a crise ambiental. é a evidência de uma crise maior e
mais profunda. Nesta perspectiva, o problema está na ordem social vigente,
que para garantir um determinado estilo de vida para uns poucos, tem
necessariamente que destruir aceleradamente a base material de sustentação
da população e condenar a maioria à pobreza, quando não à indigência..Em
outras palavras é a sociedade que está em crise.Os danos e riscos ambientais
decorrem de uma determinada ordem social, que se constituiu, historica mente,

3
e se mantém por meio de relações de dominação seja da natureza por seres
humanos, seja de humanos por outros humanos.
Uma outra visão, principalmente, de setores dominantes da economia
mundial ( grandes empresas nacionais e transnacionais) e da maioria dos
governos dos Estados Nacionais, assume que não há uma relação de
causalidade entre a crise ambiental e o modo como a sociedade está
estruturada..Sendo assim, o problema não está no caráter intrinsecamente
insustentável desta sociedade, mas no seu aperfeiçoamento, que pode ser
obtido tornando o atual padrão de produção e consumo sustentável.
Para isto bastaria a adoção de tecnologias e práticas ambientalmente
saudáveis (o uso de energia limpa, conservação de energia, extensã o do ciclo
de vida de equipamentos, infra-estrutura e edificações, combate ao
desperdício, reciclagem, e reutilização de recursos ambientais, tratamento de
efluentes, destinação adequada de resíduos etc.).para se atingir a
ecoeficiência e a produtividade dos recursos.Portanto, apostando-se no que
Ignacy Sachs denomina de otimismo epistemológico, crença que “soluções
técnicas sempre poderiam ser concebidas para garantir a continuidade do
progresso material das sociedades humanas” (Sachs,2002, op. cit : 51).
Segundo o autor “muito popular entre políticos de direita e de esquerda” no
período preparatório da Conferência de Estocolmo.
É no contexto da crise que surgem as conferências internacionais 3, numa
tentativa dos países membros da ONU negociarem uma agenda de
compromissos, para lidarem com os chamados problemas ambientais globais
de modo articulado. Com esta perspectiva são assinadas as duas principais
convenções internacionais; a de Mudanças Climáticas e a da Proteção da
Biodiversidade durante a Rio-92
Também, é neste processo que surge a proposta de Desenvolvimento
Sustentável, cuja finalidade seria de compatibilizar desenvolvimento
econômico com proteção ambiental. Entendido pela Comissão Mundial sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento como “ aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem a suas próprias necessidades”( CMMAD,1991:46), o conceito de
Desenvolvimento Sustentável tem sua institucionalização consolidada na RIO-
92.A partir deste momento, o Desenvolvimento Sustentável passa a fazer parte
do discurso oficial de agências internacionais, governos, entidades
empresariais (ambientalismo de mercado) e até mesmo de certas ONGs
ambientalistas, que por este viés se distinguem das entidades da sociedade
civil do campo socioambiental.
Está institucionalização tem sido avaliada “ como resultado de uma operação
diplomática, ideológica e social de grande envergadura em que a questão que
orientava o debate nos anos 1970[ contradição entre desenvolvimento e
proteção ambiental] (...) encontrou uma “solução”:desenvolvimento e meio
ambiente não são contraditórios” ( Nobre,2002:71).Talvez por isto, seja
considerado como um conceito “deliberadamente vago e inerentemente
contraditório”(O’Riordan,1993: apud Nobre, 2002:44,op. cit) e lhe atribuam
inúmeros significados como registra Carvalho(1992)

3
Estocolmo(1972), Rio-92,Rio+5, Rio+10,Conferência das Partes da Convenção da
Biodiversidade(várias), Conferências das Partes da Convenção de Mudanças Climáticas(Kioto, Bali
,Poznan e futuramente, Copenhagen) etc

4
Nesta conjuntura não houve espaço para nenhuma outra proposta, mesmo
para aquelas estruturadas no marco da economia capitalista. A proposição de
“um outro desenvolvimento, endógeno (em oposição à transposição mimética
de paradigmas alienígenas), auto-suficiente( em vez de dependente),orientado
para necessidades ( em lugar de direcionado pelo mercado), em harmonia com
a natureza e aberto às mudança institucionais”( Sachs, 2002, op.cit:53), que
segundo o autor, adota “o paradigma do caminho do meio” [ nem
desenvolvimento a qualquer custo nem crescimento econômico zero],que
emergiu de Founex 4 e do encontro de Estocolmo” e poderia ser chamado de
ecodesenvolvimento ou desenvolvimento sustentável, não foi aceita.
E, certamente, não foi por uma questão de nomenclatura, que a proposta de
ecodesenvolvimento foi rechaçada na Rio-92.Ao se caracterizar como
endógeno, auto-suficiente e orientado para necessidades harmonia com a
natureza e abertura para mudanças institucionais o ecodesenvolvimento
entrou em choque frontal com o que Carlos Walter Porto-Gonçalves denomina
de “sistema –mundo-moderno-colonial”( Porto-Gonçalves,2006 op.cit)
Para um sistema cuja existência se funda na dominação (da natureza, de
pobres por ricos,da maioria pela minoria), no desrespeito à diferença, na
concentração de poder, na acumulação de riquezas por poucos e na
ascendência do mercado sobre o Estado e a sociedade civil, pensar a
possibilidade de construção uma outra ordem social com tais características ,
mesmo que se mantenha leal ao modo de produção capitalista, seria a
negação do credo neoliberal e, portanto do pensamento único.
Talvez a razão de todas as razões para a derrota do ecodesenvolvimento
esteja constatação de Ignacy Sachs,.um dos seus maiores defensores, que
“(...) o desenvolvimento sustentável [ecodesenvolvimento] é, evidentemente,
incompatível com o jogo sem restrições das forças de mercado.Os mercados
são por demais míopes para transcender os curtos prazos(Deepak Nayyar) e
cegos para quaisquer considerações que não sejam lucros e eficiência
smithiniana de alocação de recursos”( Sachs,2002, op.cit :55 ).
A partir de como a crise ambiental é analisada, em linhas gerais, pode-se
identificar duas grandes tendências para o seu enfrentamento. Uma delas,
assume que é possível reverter a atual situação de crise adotando-se o
Desenvolvimento Sustentável como princípio estruturante do processo de
desenvolvimento.Assim, por meio de ajustes nos processos de funcionamento
desta sociedade se compatibilizaria o desenvolvimento com a proteção
ambiental, sem alterações significativas na sua estrutura.Desta forma haverá
mitigação dos impactos ambientais e redução da injustiça e da desigualdade
social. Algo como reformar o mundo para torná-lo sustentável.
Entretanto, os dados recentes sobre o estado do meio ambiente e das
desigualdades sociais no Planeta, publicados pelo PNUMA, PNUD,Banco
Mundial e Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, indicam um
agravamento da situação tanto sob o ponto de vista ambiental quanto
social,indica ndo, na prática, a ineficácia da via reformista que vem sendo
consagrada nos acordos , conferências e agendas internacionais. Segundo o
PNUD (2007) no período 1990/2004,portanto, com a Convenção de Mudanças
Climáticas já assinada desde 1992, a taxa de emissão global de dióxido de

4
Encontro realizado em 1971 que precedeu a Conferência de Estocolmo de 1972, promovido pelos seus
organizadores.(ver Sachs, op. cit)

5
carbono(CO2) cresceu 28%.,sendo que a dos Estados Unidos atingiu 20,9% do
total, em 2004, apesar do País possuir apenas 4,6% da população terrestre.
A outra tendência, de visão transformadora, assume que as raízes da crise
estão no padrão civilizatório eurocê ntrico, portador da idéia de progresso
imposto aos povos do Planeta, pela colonização.
No entender de Carlos Walter
“a idéia de desenvolvimento sintetiza melhor que qualquer outra o projeto
civilizatório que, tanto pela via liberal e capitalista, como pele via social-
democrata e socialista 5, a Europa Ocidental acreditou poder universalizar-se.
Desenvolvimento é o nome-síntese da idéia de dominação da natureza Afinal,
ser desenvolvido é ser urbano,é ser industrializado, enfim é ser tudo aquilo que
nos afaste da natureza e que nos coloque diante de constructos humanos,
como a cidade, como a industria.Assim, a crítica à idéia de desenvolvimento 6
exigia que se imaginasse outras perspectivas que não as liberais ou socialistas
ou pelo menos, que essas se libertassem do desenvolvimentismo que as
atravessava”.(Porto-Gonçalves, 2006 op.cit :62)
Para o autor (Porto-Gonçalves, 2002:27) “é a partir do Renascimento, com
seu antropocentrismo, que o homem se torna Todo-Poderoso e passa a se
lançar no projeto de dominação da natureza.Para dominar,
manipular,submeter,chega-se mesmo a falar em torturar, como fez Francis
Bacon.Expulso o sagrado da natureza, esta passa a ser vista como objeto,
como recurso.O homem descola-se da natureza e, de fora, passa a dominá-
la.(..).Um homem desnaturalizado e uma natureza desumanizada, eis o ponto
de partida do pensamento/sentimento/ação do mundo moderno”
.Entretanto, a desnaturalização de ser humano implicou, também, na sua
desumanização, por uma minoria da própria espécie. Como alerta Porto-
Gonçalves(ibidem ) “existe uma armadilha neste paradigma que elude a sua
dimensão política: é que ao falar de dominação da natureza,tendo de antemão,
dela excluído o homem[ também natureza], deixamos de observar que o
projeto de dominação da natureza implica o trabalho, como elemento
necessário desse empreendimento.E o processo de trabalho, implica um
conjunto de energias físicas e intelectuais(...)” É neste contexto histórico, que
surge a exploração da maioria de humanos por uma minoria e,
conseqüentemente, a desigualdade e a injustiça social tão marcantes nos dias
atuais.
Nesta perspectiva a crise ambiental é apenas a face visível, "a ponta do
iceberg," de uma crise maior: a de uma concepção de civilização. Uma
concepção, que ao separar o ser humano da natureza fez dela um outro a ser
dominado, (Porto Gonçalves,2002, opcit), para usá-la como fonte inesgotável
de matéria prima e depósito de resíduos.

5
Segundo o autor “ um socialismo que também permanece produtivista,com sua idéia de oferecer para
todos aquilo que o capitalismo oferecia somente para alguns.É conhecida a proposta do secretário geral
do Partido Comunista francês, George Marchais, de que todos tinham direito ao automóvel o que,na
verdade, longe do socialismo, só nos levaria todos ao congestionamento.”(ibdem)
N.A.Nesta mesma obra Carlos Walter alerta para crítica de Marx ao Programa de Gotha ,elaborado
durante o Congresso de Gotha(1875) que criou o Partido Social-Democrata alemão, onde ele afirma que
“a riqueza é o produto do trabalho e da natureza e que se o trabalho é o pai, a natureza é a mãe na
produção de riquezas”(ver p.126)
6
N.A. O texto se refere às críticas dos ambientalistas nos anos 1960/70, que continuam mais do que
nunca atualíssimas. ( ver p.61)

6
Para aqueles que têm este entendimento, não há como se construir uma
ordem social sustentável, que seja justa e ambientalmente segura, sem o
rompimento com a matriz de racionalidades que produziu a crise. Portanto,
uma proposta que é inconciliável com a concepção pelo Desenvolvimento
Sustentável e está além do paradigma do caminho do meio.
.Para esta perspectiva. há que se reinventar o mundo para torná-lo
sustentável. Ou se ja, uma nova utopia se faz necessária, que no entender de
Boaventura Souza Santos “é a exploração de novas possibilidades e vontades
humanas, por via da oposição da imaginação à necessidade do que existe, só
porque existe, em nome de algo radicalmente melhor que a humanidade tem
direito de desejar e por que merece a pena lutar”.. (Santos,1996: 323)
Como afirma Carlos Walter Porto-Gonçalves
“tudo nos concita a buscar uma outra relação da sociedade com a natureza,
onde a justiça social e a sustentabilidade ecológica se façam por meio da
liberdade,onde todos tenham direitos iguais para afirmarem sua diferença.Que
a diversidade biológica e a cultural na igualdade e na diferença, sejam vistas
como os maiores patrimônios da humanidade”...( Porto-Gonçalves,2006:458
,opcit)
.Certamente, está aí a utopia que este momento histórico, como bem diz
Carlos Walter Porto-Gonçalves, “nos concita a buscar.” Uma sociedade
planetária justa, democrática e sustentável constituída pela pluralidade e
diversidade de sociedades sustentáveis.O que não será fácil, a construção de
um futuro sustentável necessitará das riquezas disponíveis na natureza e das
produzidas pelo trabalho humano, que no presente estão na mão de
poucos.Por isto esta construção é antes de tudo um problema político.
Por outro lado, não se pode perder de vista que, seja apostando-se na
reforma da sociedade atual ou na sua transformação, as intervenções no plano
prático, para superação da crise e seus resultados serão necessariamente
processuais.A busca da ecoeficiência, do aumento da produtividade dos
recursos e a aplicação dos instrumentos de gestão ambiental pública como
suporte ao processo são imprescindíveis.seja para manutenção do status quo
seja para transformá-lo.No caso da perspectiva transformadora avalia-se que
essas práticas são necessárias, mas não suficientes O que distinguirá uma
postura da outra será a finalidade das intervenções. Se elas serão realizadas
com o propósito de reformar a sociedade atual, mantendo seus estruturantes
ou de co nstruir uma outra em que a justiça social, a democracia e a segurança
ambiental sejam premissas fundantes.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DA CRISE

Como foi visto anteriormente, a leitura que se faz sobre o caráter da crise
ambiental determina o caminho a ser trilhado no plano prático para sua
superação. Para quem analisa a crise como uma conseqüência da falta de
mecanismos eficientes para compatibilizar desenvolvimento e proteção
ambiental, a saída está na implementação de um conjunto de medidas para
diminuir e ou mitigar a intensidade dos impactos socioambientais, intrínseco ao
funcionamento deste tipo de sociedade, até se atingir o estágio do
Desenvolvimento Sustentável, tal como proposto pela CMMAD(1991,op.cit)
.Já para aqueles que vêem a crise para além da questão do desenvolvimento,
a saída está na reinvenção do modo dos humanos se relacionarem com a

7
natureza e entre si, abolindo a dominação inerente a organização social
vigente, mesmo reconhecendo a necessidade de diminuição e ou de mitigação
dos impactos socioambientais, durante o processo de transição da atual ordem
social para uma outra sustentável. De outro modo não haverá nem reforma
nem reinvenção.
Por outro lado pelo que se discutiu até aqui, ficam claros os limites da gestão
ambiental pública praticada pelos Estados Nacionais, para lidar com a crise
ambiental. No caso do Brasil tem-se uma Constituição que estabelece no se u
artigo 225 o meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito da
população (Brasil, 1988) e uma legislação infra-constitucional considerada
bastante satisfatória.
Este ordenamento jurídico permite que o Poder Público ao promover o
ordenamento da apropriação social dos recursos ambientais., crie e gerencie
áreas protegidas, estabeleça padrões de qualidade ambiental, licencie
atividades efetiva e potencialmente poluidoras, discipline o uso dos recursos
ambientais, realize a fiscalização ambiental, promova a educação ambiental,
processe criminalmente os autores de agressões ambientais e pratique uma
séries de outras ações objetivando a proteção e a defesa do meio
ambiente.Como a gestão ambiental pública se processa numa sociedade
estruturalmente insustentável, as ações praticadas com base na legislação são
necessárias, mas não suficientes para reverter o quadro de crise.
Neste contexto a prática da Educação Ambiental está tensionada pelas
duas vertentes. A opção por uma delas implicará necessariamente, na adoção
de concepções e práticas pedagógicas, com finalidades bastante distintas,
compatíveis com a escolha assumida.
Uma proposta de Educação Ambiental identificada com o viés reformista
buscará promover a mudança de conduta do sujeito, em sua relação cotidiana
e individualizada com o meio ambiente e com os recursos naturais, objetivando
a formação de hábitos ambientalmente responsáveis no meio social Algo como
suporte educativo às atividades para economizar energia, aumentar a
produtividade dos recursos ambientais, estimular a ecoeficiência, aumentar o
ciclo de vida dos equipamentos e da infra –estrutura etc.
A idéia implícita nesta concepção é de que se cada um passasse a consumir
apenas o necessário (aqueles que podem), a reaproveitar ao máximo os
produtos utilizados e a transformar os rejeitos em coisas úteis, em princípio,
estariam “fazendo a sua parte” para economizar recursos naturais , energia e
evitar a degradação ambiental. E desta forma, contribuindo para minimizar os
impactos ambientais negativos. Os detentores deste comportamento também
tenderiam a consumir produtos ecologicamente corretos e, assim estimulariam
as empresas a adotarem práticas sustentáveis em seus processos produtivos.
Assim, a superação da crise ambiental seria o resultado do somatório de
ações individuais decorrentes da transformação da conduta de cada pessoa,
na sua relação com a natureza. E a sustentabilidade seria atingida quando
todos adotassem práticas sustentáveis, cotidianamente, na sua esfera de
ação.. Esta abordagem evidencia uma leitura acrítica e ingênua sobre a
problemática ambiental e aponta para uma prática pedagógica prescritiva e
reprodutiva. (Quintas, 2002).
Abordagem que, também, é coerente a perspectiva de mudança social da
vertente Funcionalista da Sociologia . Esta linha teórica, segundo Layrargues.
( 2006:75), “ concebe a sociedade como uma grande entidade orgânica, à

8
semelhança de um organismo biológico; e como tal,internamente harmonioso.E
que portanto, apresentaria um padrão unidimensional—a evolução gradual de
uma estrutura simples para outras mais complexas.O importante a destacar na
concepção funcionalista de sociedade é que ela nunca é conflituosa, pois isso
representaria uma contradição para algo entendido como um “organismo”,que
em tese, não admite a possibilidade de ser auto-destrutivo.Para o
funcionalismo o que ocorre é a existência esporádica de alguns “defeitos” na
sociedade, como a criminalidade por exemplo que precisam ser corrigidos È
este mesmo olhar que explica a crise ambiental como decorrente da falta de
mecanismos eficientes para compatibilizar desenvolvimento e proteção
ambiental.
Já, numa Educação Ambiental comprometida com a vertente
transformadora, segundo Quintas (opcit:15) “assume-se que o fato de "cada um
fazer sua parte", por si só, não garante, necessariamente, a prevenção e a
solução dos problemas ambientais”. Numa sociedade massificada e complexa,
assumir no dia-a-dia condutas coerentes com práticas de proteção ambiental
conseqüentes, pode estar além das possibilidades da grande maioria das
pessoas.
Muitas vezes o indivíduo é obrigado, por circunstâncias que estão fora do
seu controle, a consumir produtos que usam embalagens descartáveis em
lugar das retornáveis; a alimentar-se com frutas e verduras cultivadas com
agrotóxicos; a utilizar o transporte individual em vez do coletivo, apesar dos
engarrafamentos; a cumprir escala de rodízio de veículos; a trabalhar em
indústrias poluentes; a aceitar a existência de lixões no seu bairro; a
desenvolver atividades com alto custo energético; a morar ao lado de indústrias
poluentes; a adquirir bens com obsolescência planejada pelo fabricante, ou
seja, a conviver ou a praticar atos que repudia pessoalmente, por imposição da
estrutura social insustentável, que não permite outras alternativas.
De acordo com esta visão são as decisões tomadas fora do alcance do
cidadão comum, envolvendo aspectos econômicos, políticos, sociais e
culturais, que induzem a maioria das condutas individuais frente a natureza e
condicionam a existência ou inexistência de danos e riscos ambientais.
Para esta concepção, o esforço da Educação Ambiental deveria ser
direcionado para a compreensão e busca da superação das causas estruturais
da crise ambiental, sempre partindo de situações concretas, por meio da ação
coletiva e organizada.
Segundo esta percepção, a leitura da problemática ambiental se realiza sob a
ótica da complexidade do meio social e o processo educativo deve pautar-se
por uma postura dialógica, problematizadora e comprometida com
transformações estruturais da sociedade, de cunho emancipatório. Pressupõe-
se que, a pessoa ao participar do processo coletivo de transformação da
sociedade, também, estará se transformando.
Nesta perspectiva a sustentabilidade decorreria de um processo de
construção coletiva de um "outro mundo" que seja socialmente justo,
democrático e ambientalmente seguro. Não um mundo “aperfeiçoado” mas ,um
mundo reinventado.
Posicionamento que, evidentemente, se contrapõe ao de uma Educação
Ambiental com viés reformista e está identificado com a Teoria Crítica da
Sociologia, que em contraposição à corrente Funcionalista, “afirma que a
sociedade não é uma entidade orgânica, ao contrário, é informada[ou

9
conformada] por múltiplos interesses conflituosos, contraditórios que estão
permanentemente em disputa, demarcando embates de toda natureza.O
conflito aqui é entendido como uma das características constituintes da
sociedade, e não como um “defeito” que foge ao padrão da harmonia social
idealizada no funcionalismo(Layrargues ( 2006,opcit : 76)
Por tudo isto, o modo como o educador aborda determinada temática, na
realização do processo educativo explicita a sua concepção de sociedade, o
seu entendimento sobre a problemática ambiental e, conseqüentemente, a
vertente da Educação Ambiental que está assumindo.
.O quadro a seguir mostra as algumas distinções entre as concepções de
Educação Ambiental nas perspectivas reformista e transformadora.

CONCEPÇÃO REFORMISTA CONCEPÇÃO TRASFORMADORA


Concebe a sociedade como lugar da Concebe a sociedade como lugar dos conflitos
harmonia e os conflitos como uma e a existência deles como inerente à dinâmica
disfunção no seu funcionamento. social
. Os problemas ambientais são inerentes ao
Os problemas ambientais são causados caráter não sustentável da atual ordem
por uma disfunção que dificulta social.Portanto, não há possibilidade de
compatibilizar desenvolvimento e compatibilização mas, apenas de mitigação.
proteção ao meio ambiente

A crise é estritamente ambiental. Sua A crise ambiental é a manifestação da crise de


superação dependerá da adoção de uma determinada concepção de civilização.Sua
padrões de produção e consumo que superação dependerá do rompimento com a
compatibilizem o desenvolvimento com matriz de racionalidades que a produz. E a
proteção ambiental. E a sustentabilidade sustentabilidade resultará do processo de
seria alcançada quando fosse atingida a construção coletiva de uma nova ordem social,
compatibilidade plena. que seja justa, democrática e ambientalmente
responsável.

Cada um fazer sua parte não garante a


Prevenção e solução dos problemas prevenção e a solução dos problemas
ambientais dependem de cada um fazer a ambientais.
sua parte. Prevenção e solução dos problemas ambientais
dependem da construção de consensos na
sociedade ou seja, de ação política.

Transformar-se para transformar Transformar-se transformando

Prática Pedagógica prescritiva e Prática pedagógica crítica, transformadora e


reprodutiva emancipatória

10
.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DA GESTÃO AMBIENTAL


PÚBLICA: CUSTOS, BENEFÍCIOS E CONTROLE SOCIAL

O artigo 225 da Constituição Federal ao estabelecer o “meio ambiente


ecologicamente equilibrado” como direito dos brasileiros, “bem de uso comum
e essencial à sadia qualidade de vida”, também, atribui ao “Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras
gerações”.
Assim, trata-se da defesa e preservação pelo Poder Público e pela
coletividade, de um bem público (o meio ambiente ecologicamente
equilibrado), cujo modo de apropriação dos seus elementos constituintes, pela
sociedade, pode alterar as suas propriedades e provocar danos ou, ainda,
produzir riscos que ameacem a sua integridade. A mesma coletividade que
deve ter assegurado o seu direito de viver num ambiente que lhe proporcione
uma sadia qualidade de vida, também precisa utilizar os recursos ambientais
para satisfazer suas necessidades.
3RUpP HVWD FROHWLYLGDGH QăR p KRPRJrQHDDR FRQWUiULR VXD SULQFLSDO
característica é a heterogeneidade. Nela convivem, interesses, necessidades,
valores e projetos de futuro, diversificados e contraditórios, classes sociais,
etnias, religiõHVHRXWUDVGLIHUHQFLDoĘHV
No caso do Brasil, o poder de decidir e intervir para transformar o
ambiente, seja ele físico- natural ou construído e os benefícios e custos
decorrentes estão distribuídos socialmente e geograficamente na sociedade,
de modo assimétrico. Por serem detentores de poder econômico ou de poderes
outorgados pela sociedade, determinados atores sociais possuem, por meio de
suas ações, capacidade variada de influenciar direta ou indiretamente na
transformação (de modo positivo ou negativo) da qualidade do meio ambiente.
É o caso do setor empresarial (poder do capital); dos Legislativos, (poder de
legislar); do Judiciário (poder de condenar e absolver ); do Ministério Público (o
poder de investigar e acusar); dos órgãos ambientais (poder de definir padrões
de qualidade ambiental, embargar, licenciar, multar); dos jornalistas (poder de
influenciar na formação da opinião pública); das agências estatais de
desenvolvimento (poder de financiamento, de criação de infra-estrutura) e de
outros atores sociais, cujos atos podem ter grande repercussão na qualidade
ambiental e, conseqüentemente, na qualidade de vida das populações.
Entretanto, estes atores, ao tomarem suas decisões, nem sempre levam
em conta os interesses e necessidades dos diferentes grupos sociais, direta ou
indiretamente afetadas. As decisões tomadas podem representar benefícios
para uns e prejuízos para outros. Um determinado empreendimento pode
representar lucro para empresários, emprego para trabalhadores, conforto
pessoal para moradores de certas áreas, votos para políticos, aumento de
arrecadação para Governos, oportunidade de emprego para um segmento da
população e, ao mesmo tempo, implicar prejuízo para outros empresários,
desemprego para outros trabalhadores, perda de propriedade, empobrecimento
dos habitantes da região, ameaça à biodiversidade, erosão, poluição
atmosférica e hídrica, violência, prostituição, doenças, desagregação social e
outros problemas que caracterizam a degradação ambiental

11
Assim, na vida prática, o processo de apropri    
          , necessidades,
racionalidades, poder, custos e benefícios em jogo e, conseqüentemente,
conflitos 7 (potenciais e explícitos) entre atores sociais,que atuam de alguma
forma sobre estes recursos, visando o seu uso, controle e, ou sua defesa.
Processo que em última instância determina a qualidade ambiental e a
distribuição espacial, temporal e social de custos e benefícios.
Todavia, um mesmo dano ou risco ambiental, decorrente de alguma ação
sobre o meio, que a partir de determinada racionalidade é tido como inaceitável
por um ator social, pode ser considerado desprezível ou inexistente por outro,
se avaliado sob o ponto de outra racionalidade.
O primeiro ator social ao justificar seu posicionamento, certamente tentará
demonstrar que a intervenção proposta é uma ameaça de tal ordem à
integridade do meio, que, se realizada, provocará a médio e longo prazos,
danos irreversíveis ao ambiente e à sadia qualidade de vida da população. E
assim, estará caracterizando a insustentabilidade do empreendimento.
O segundo ator, provavelmente argumentará que a escala do dano e o
potencial de risco são mínimos, se aplicadas as medidas mitigadoras
adequadas. Afirmará também, a inexistência de estudos científicos
comprovadores da ameaça e ainda, que a médio e longo prazos novos
conhecimentos e tecnologias poderão resolver os problemas que
eventualmente surgirem. Para ele não há nenhuma dúvida sobre a
sustentabilidade do empreendimento.
Nos dois casos exemplificados, um mesmo conceito foi avocado para
justificar posições opostas, o que é uma constante quando se discute a
viabilidade ambiental de um empreendimento, seja a construção de um
conjunto de usinas hidrelétricas em uma bacia hidrográfica, seja a introdução
de organismos geneticamente modificados (OGM) na agricultura, ou de
qualquer atividade potencialmente impactante.
Para Simão Marrul (2003:.86)
"ao contrário de estruturas conceituais que pretendem explicar o
real, a noção de sustentabilidade se vincula a ele e à lógica das práticas
humanas. Assim, se constitui historicizada e, é socialmente construída, tendo
raízes em questões como: sustentabilidade do que, para quem, quando, onde,
por que, por quanto tempo (Acserald,1995;Lélé;1991; Carvalho, 1994). Isso
significa que os atores sociais se movem, em seus discursos e práticas,
buscando legitimá-los, ou sendo por outro (as) deslegitimizados, de modo a
prevalecerem aqueles (as) [discursos e práticas] que vão construir autoridade
para falar em sustentabilidade e, assim, discriminar, em seu nome, aquelas
práticas que são sustentáveis ou não. (Acselrad, 1995)."
E ainda alertando, que a noção de sustentabilidade é, fundamentalmente
relacional, o autor (Marrul 2003 op cit :.87) lembra que:

7
Conflito (social e político) segundo Bobbio, Matteucci&Pasquino (1992 p. 225) "é uma forma de
interação entre indivíduos grupos, organizações e coletividade que implica choques para o acesso e a
distribuição de recursos escassos." (...) Quando um conflito se desenvolve segundo regras aceitas,
sancionadas e observadas há a sua institucionalização". Neste sentido, a disputa pelo acesso e uso dos
recursos ambientais é um conflito institucionalizado, quando ocorre segundo regras que estão
estabelecidas na legislação ambiental. Ver Bobbio,N. Matteucci,N.& Pasquino,G.(orgs).Dicionário de
Política.Brasília: Edunb,1992.(N.A)

12
“a construção tanto da autoridade como da discriminação de práticas boas ou
ruins, constituem uma relação temporal entre passado,presente e futuro.
(Acselrad, 1995) e em uma comparação entre o que se retira e o que se
deveria retirar da natureza, para satisfação das necessidades humanas
presentes e futuras". (...)
E citando Acselrad (1995, apud Marrul 2003: op.cit) conclui que "é
sustentável hoje aquele conjunto de práticas portadoras de
sustentabilidade no futuro".(grifos meus)
Assim, a condição para uma sociedade, um grupo social ou um indivíduo
avaliarem se determinada prática, em determinado momento é sustentável ou
não, (e conseqüentemente sobre a conveniência de adotá-la), dependerá,
fundamentalmente, do caráter que ela irá assumir no futuro. Portanto, há um
vínculo indissolúvel entre as ações do presente e as do futuro. E como estas
ações são realizadas para a satisfação de necessidades humanas presentes e
futuras, fica o problema, ainda, de se lidar no presente com algo
(necessidades) cuja veracidade estará explícita em outro tempo.
Então como determinar no presente, se um conjunto de práticas é
sustentável e se realmente sua realização responde a necessidades da
sociedade, também, do futuro, ou se será apenas um futuro ônus para ela?
Para Marrul (2003.op.cit p. 88)
" a discussão sobre a construção da sustentabilidade no tempo presente está
vinculada à quantidade de bens ambientais que é extraída da natureza para a
satisfação das necessidades das presentes gerações, sem que se inviabilize as
gerações futuras. Significa também entender o que são necessidades humanas
e como elas podem ser satisfeitas de maneira sustentável. O conceito de
necessidade, além de seu conteúdo subjetivo no plano do indivíduo, '(...)
possui um conteúdo histórico e cultural, e por si não é capaz de descrever um
estado fixo, imutável, para todas as sociedades do planeta, e, sobretudo, para
as 'futuras gerações' " (Derani, 1997 apud Marrul,opcit).
Por tudo que foi discutido, sustentabilidade não é um problema técnico que
pode ser resolvido por meio da escolha de práticas "sustentavelmente
adequadas" (reciclagem de resíduos por exemplo), propostas por especialistas
em várias áreas de conhecimento. Ainda que se reconheça a importância da
ciência e da tecnologia no processo de busca da sustentabilidade, sua
contribuição é condição necessária, jamais suficiente. Pois quando se fala em
sustentabilidade há sempre que se perguntar: "sustentabilidade do que, para
quem, quando, onde, por que, por quanto tempo" (Marrul, 2003, op.cit).
Na verdade, o que está em debate é o caráter da relação sociedade
natureza a ser construída para a constituição de "um outro futuro", liberto da
lógica da economia de mercado, cujo processo instituinte comece por criar um
outro presente diverso do atual.
Portanto, é na tensão entre a necessidade de assegurar o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, como bem de uso comum da população
e a definição do modo como devem ser apropriados os recursos naturais na
sociedade, que o processo decisório sobre a sua destinação opera.
(Quintas,2002a)
No nosso País           
            
sociedade, por meio dos instrumentos e       
processo o Poder Público media interesses e conflitos, potenciais ou

13
            
ambientais no meio social. Esta definição é produto de consensos
construídos com atores sociais envolvidos      
       
quanto e para que usa; e quando, por quanto tempo etc., se usa, os recursos
naturais
Tudo isto, deve ser praticado nos limite       
           
          este
processo, também define e redefine como se distribuem em termos sociais e
espaciais, no presente e no futuro, os custos e benefícios decorrentes do
processo decisório sobre os modos de apropriação dos recursos ambientais
na sociedade.
Portanto, a prática da gestão ambiental não é neutra. O Estado, ao assumir
determinada postura diante de um problema ambiental, está de fato definindo
quem ficará, na sociedade e no país, com os custos, e quem ficará com os
benefícios advindos da ação antrópica sobre o meio, seja ele físico, natural ou
construído..( Quintas &Gualda, 1995)
            
seu licenciamento, estabelece o período do defeso de determinado recurso
              
      do recurso florestal ou, ainda,
embarga uma atividade ilegal, também, estará definindo quem na sociedade
ficará com o ônus e quem     ­       
ambiental praticado.
Portanto, qualquer ato que ordene o acesso e o uso de recursos
ambientais, por mais justificável que seja, em princípio, também, contraria
interesses legítimos e ilegítimos e,        
            
necessidades básicas, de grupos sociais já vulneráveis    
ambiental pública, no Brasil, deve-se tomar como premissa estruturante que
        
culturalmente diversos  €     
biológica.( Quintas,2008 )
  € 
ser neutro, também é assimétrico: distribui custos e benefícios de modo
pouco ou nada equitativos, em muitos casos com alta incidência de injustiça
ambiental
Por outro lado, há ainda a considerar que não é necessariamente óbvio
para comunidades afetadas, a existência de um dano ou risco ambiental (
Guivant,1998) e nem tampouco as suas causas, conseqüências e interesses
subjacentes a ocorrência deles .Não é evidente para maioria das pessoas, as
possíveis mudanças, na sua vida cotidiana, que podem advir da implantação
de um complexo portuário, distrito industrial, pólo petroquímico, gasoduto,
hidrelétrica, estrada ou de qualquer empreendimento com potencial de
produzir e ou induzir impactos ambientais.
O processo de contaminação de um rio, por exemplo, pode estar distante das
comunidades afetadas, espacialmente (os contaminantes são lançados à
vários quilômetros rio acima) e temporalmente ( começou há muitos anos, e
ninguém lembra quando). O processo pode, também, não apresentar um efeito

14
visível (a água não muda de sabor e de cor, mas pode estar contaminada por
metal pesado, por exemplo) e nem imediato sobre o organismo humano
(ninguém morre na mesma hora ao beber a água). Outra dificuldade para
percepção objetiva dos problemas ambientais é a tendência das pessoas
assumirem a idéia da infinitude de certos recursos ambientais. É comum se
ouvir que um grande rio jamais secará (até que fique visível a diminuição do
volume de suas águas) ou, ainda, que uma grande floresta não vai acabar ou
que os peixes continuarão abundantes todos os anos, até que a realidade
mostre o contrário. O efeito cumulativo,quando gradativo, não é auto-evidente..
Um outro fator que dificulta, muitas vezes, a participação dos grupos sociais
no enfrentamento de problemas ambientais que lhes afetam diretamente, é a
sensação de impotência frente à sua magnitude e à desfavorável correlação de
forças subjacentes,principalmente quando envolvem grandes interesses de
grupos econômicos e políticos.Isto leva as pessoas a se sentirem
incapacitadas de reagir, perante a força dos atores sociais responsáveis pela
degradação daquele ambiente. Há ainda a descrença da população em relação
à prática do Poder Público para coibir as agressões ao meio ambiente, quando
a degradação decorre da ação de poderosos.
Há, ainda a se considerar que as pessoas não nascem participativas, como
nascem respirando. Ser participativo não uma co nduta social automática dos
indivíduos. É algo que se aprende somente na prática e sob certas condições.
De acordo com Alonso e colaboradores(2001:5) a Teoria do Processo Político
(Tilly,1978;McAdam,1982;Tarrow;1994: apud Alonso et alli,2001:5) defende
que a “participação política, ou como preferem chamá-las, ‘as mobilizações
coletivas’(...) são motivadas simultaneamente por crenças e interesses, e não
existem sem um conjunto de recursos materiais e cognitivos de
organização.”(grifo meu) E ainda segundo esta teoria( Alonso et alii,2001
opcit:5) “as sociedades são estratificadas em grupos e cada grupo pode ter
diferentes recursos de organização, diferentes interesses,diferentes valores.Por
esta razão,os processos de decisão sobre questões públicas, que afetam
muitos grupos, são necessariamente conflitivos (...).”
Nesta configuração, cabe ao Estado criar condiç ĘHV SDUD WUDQVIRUPDU R
HVSDoR ³WpFQLFR´ GD ³JHVWăR DPELHQWDO´ HP HVSDoR S~EOLFR ( GHVWD IRUPD
evitar que os consensos sejam construídos apenas entre atores sociais com
grande visibilidade e influência na sociedade, à margem de outros, em muitos
casos, os mais impactados negativamente pelo ato do Poder Público. Estes
DWRUHV HP JHUDO SRU QăR SRVVXtUHP meios materiais e capacidades
necessárias, no campo cognitivo e organizativo, para intervirem de modo
TXDOLILFDGR QR SURFHVVR GH JHVWăR DPELHQWDO  conseguem defender seus
interesses e necessidades.
         pública, a ocorrência de
assimetrias entre grupos sociais,             
benefícios, decorrentes do modo de destinação dos recursos naturais na
sociedade. Há, também, assimetrias entre grupos sociais, nos planos,
cognitivo, organizativo e dos meios materiais, cuja existência dificulta ou
inviabiliza a defesa dos seus direitos, durante este processo. Buscar a
mitigação de assimetrias, pelo menos no plano simbólico, é uma das tarefas
primordiais GHXPD(GXFDoăR$PELHQWDOFRPFHQWUDOLGDGHQDJHVWăRDPELHQWDO
pública, uma vez que injustiça e desigualdade são inerentes à ordem social
vigente.(Quintas,2008 op.cit)

15
O espectro das participações representativas da diversidade social dos
afetados pelo modo de destinação dos recursos e a capacidade política e
cognitiva dos grupos com vulnerabilidade socioambiental, para intervirem nos
processos decisórios determinarão o caráter mais ou menos público e
democrático, da gestão ambiental praticada. .(Quintas,2008 op.cit) .Se os
consensos continuarem sendo construídos apenas com os grupos,
historicamente, hegemônicos da sociedade, como tem sido a tradição no Brasil,
tem-se o exemplo de uma gestão ambiental nada pública e democrática

Portanto, trata- necessárias para concretizar


      
           
recursos ambientais e, assim, torná-los, além de transparentes, de melhor
qualidade.
Nesta perspectiva, os sete incisos do parágrafo primeiro do Artigo 225 da
Constituição Federal, objetivando tornar efetivo o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, responsabilizam o Poder Público (e somente a ele)
por sete incumbências, mesmo lhe impondo e à coletividade a obrigação por
sua defesa e preservação.
Estas incumbências podem ser categorizadas em dois domínios, inter-
relacionados e complementares, da ação do Poder Público, para garantir a
efetividade do direito da população brasileira ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado.
No primeiro domínio, o Estado age no sentido de exercer o comando e o
controle dos processos de destinação dos bens naturais na sociedade. Neste
contexto tem-se o Poder Público praticando alguma forma de ordenamento da
apropriação social dos recursos ambientais, por meio da aplicação de
instrumentos de gestão ambiental pública estabelecidos na legislação.
No outro domínio, o Estado age promovendo processos educativos com
diferentes grupos sociais, para que a coletividade exerça o controle social dos
processos de apropriação dos bens naturais na sociedade e, assim, cumpra o
seu dever de defender e proteger o meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Deste modo, tem-se o Poder Público atuando direta e indiretamente com a
finalidade de proporcionar condições para que os diferentes grupos sociais se
capacitem a intervirem coletivamente, de modo organizado e qualificado, no
ordenamento das práticas de apropriação social dos bens ambientais, que o
Estado realiza e, também, a exigirem sua ação caso se omita
Portanto, assume-se uma concepção de Educação Ambiental que possibilita
torná-la, elemento estruturante para transformação da prática, tradicionalmente
cartorial, de aplicação dos instrumentos de comando e controle, para ordenar
os processos de apropriação dos recursos ambientais na sociedade, em uma
gestão ambiental pública e democrática.Deste modo, trata-se de colocar a
educação ambiental a serviço do controle.social da gestão ambiental pública no
Brasil,tornando sua prática cada vez mais transparente.
Por outro lado, não se pode esquecer que sendo a sociedade brasileira
excludente, desigual e autoritária, a maioria dos brasileiros, ainda está longe de
atingir a cidadania plena. A participação social em decisões que afetam a
coletividade sempre esteve circunscrita a uma minoria que, historicamente,
vem influenciando os rumos do País.

16
No caso da gestão ambiental, também, se está distante do exercício do
controle social sobre sua prática, ou seja ela está mais para estatal do que para
pública.Nesta conjuntura,os custos e benefícios advindos das ações do Poder
Público são distribuídos assimetricamente, via de regra, cabendo aos grupos
com maior vulnerabilidade socioambiental os maiores ônus e pouco ou nenhum
bônus. .(Quintas, 2008a)
Neste contexto, que concepção de Educação Ambiental deve ser assumida
para tornar viável a intervenção qualificada, coletiva e organizada dos grupos
sociais, principalmente daqueles historicamente excluídos, nos processos
decisórios sobre a destinação dos recursos ambientais?
Na tentativa de responder esta pergunta, os educadores do IBAMA, a partir
dos anos 90, vêem construindo uma proposta, denominada Educação no
Processo de Gestão Ambiental, com o apoio de pesquisadores e educadores
de universidades, organizações da sociedade civil e de outras instituições
parceiras.
Cabe esclarecer que, ao se falar em Educação no Processo de Gestão
Ambiental, não está se falando de uma nova Educação Ambiental. Mas, em
outra concepção de educação que toma o espaço da gestão ambiental pública
como ponto de partida para a organização de processos de ensino-
aprendizagem, construídos com os sujeitos nele envolvidos, para que haja de
fato controle social da ação do Poder Público de ordenar a apropriação social
dos recursos ambientais., que via de regra, afeta o destino de muitos, senão de
todos, destas e de futuras gerações
Neste sentido, esta proposta é substancialmente diferente da chamada
"Educação Ambiental Convencional" cujo elemento estruturante da sua prática
pedagógica é o funcionamento dos sistemas ecológicos (Layrargues 2002.).
Nesta concepção a mudança da conduta individual “para cada um fazer a sua
parte”, é o propósito central da Educação Ambiental.
A proposta praticada pelo IBAMA referencia-se em outra vertente, a da
"Educação Ambiental crítica" que, segundo Layrargues (opcit, p. 189) "é um
processo educativo eminentemente político, que visa ao desenvolvimento nos
educandos de uma consciência crítica acerca das instituições, atores e fatores
socias geradores de riscos e respectivos conflitos sócio ambientais". (...)

EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE GESTÃO AMBIENTAL: PRESSUPOSTOS


PARA A PRÁTICA
Como foi visto, o contexto para a prática da Educação no Processo de Gestão
Ambiental é o espaço da gestão ambiental pública Também, definiu-se, que
uma das suas finalidades é proporcionar condições, por meio de processos
pedagógicos diferenciados, para a intervenção qualificada, coletiva e
organizada de grupos sociais específicos no ordenamento das práticas de
apropriação social dos bens ambientais, que o Estado realiza ou deixa de
realizar.
.
Por outro lado, também foi assumido que a crise ambiental, na verdade é a
face visível de uma crise mais profunda aqui denominada de crise
civilizatória. De acordo com esta perspectiva, a superação da crise ambiental
está para além das possibilidades a gestão ambiental pública. Na medida em
que se processa numa ordem social predatória, sem perspectivas de
sustentabilidade, a efetividade da gestão ambiental pública, por mais

17
competente que seja, esta limitada por este horizonte pré-estabelecido.No
máximo poderá contribuir para dar sobrevida a este modelo de sociedade
.Assim, a proposta de Educação no Processo de Gestão Ambiental,
necessariamente, tem que transcender o limite da gestão ambiental pública.
. Por explicitar as contradições da ordem social vigente, o espaço da gestão
ambiental pública proporciona elementos de reflexão e ação essenciais para a
organização e realização do ato pedagógico. Assim, proporciona condições
objetivas, com base na realidade cotidiana vivenciada pelos participantes do
ato pedagógico, para a prática de uma Educação Ambiental comprometida com
a construção de uma sociedade justa, democrática e ambientalmente segura.
. .Pressupõe que ao desvelar com sujeitos envolvidos na prática
educativa, o processo de ordenamento da apropriação social dos bens
ambientais na sociedade, está explicitando as contradições de uma ordem
social, criada para servir a poucos e que se fundamenta na injustiça, na
desigualdade social e no uso intensivo e predatório dos recursos naturais.
E tomando a crítica ao caráter predatório das relações dos humanos entre si
e com a natureza, observadas na realidade vivenciada, como ponto de partida
e, uma perspectiva transformadora e emancipatória como atributos seus
definidores, a Educação no Processo de Gestão Ambiental assume o propósito
central de co ntribuir para construção de um outro futuro planetário, a partir da
ação no presente.
Agora, torna-se necessário se disc utir as concepções, nos planos
pedagógico, epistemológico e metodológico,que devem direcionar e
contextualizar a organização e implementação do processo de ensino-
aprendizagem e, portanto, materializar o propósito enunciado. Ao tomar o
concreto da gestão ambiental pública, como ponto de partida para estruturar o
processo de ensino-aprendizagem, deve-se ter em mente que ele “é a síntese
de determinações múltiplas, unidade do diverso, e não algo estanque e
unidimensional”.(Loureiro,2006,opcit:125).Portanto, necessita-se de uma
concepção pedagógica que fundamente a construção do processo educativo,
de uma concepção epistemológica que supere a leitura fragmentada do
concreto e,ainda, de uma estratégia geral(concepção metodológica) que medie
a articulação entre o conhecer e o agir .Pois este é precisamente o significado
de intervenção qualificada aqui assumida.
. Como nos ensina Paulo Freire (1976: 66), "somente os seres humanos que
podem refletir sobre sua própria limitação são capazes de libertar-se desde,
porém, que sua reflexão não se perca numa vaguidade descomprometida, mas
se dê no exercício da ação transformadora da realidade condicionante. Desta
forma, consciência de e ação sobre a realidade (grifos meus) são
inseparáveis constituintes do ato transformador pelo qual homens e mulheres
se fazem seres de relação.A prática consciente dos seres humanos,
envolvendo reflexão, intencionalidade, temporalidade e transcendência, é
diferente dos meros contatos dos animais com o mundo".
. A essência da Educação no Processo de gestão Ambiental está em tomar o
ato de conhecer como inseparável do ato de agir. e vice-versa, na perspectiva
do protagonismo dos sujeitos da ação educativa.Como assinala Paulo Freire,
“conhecer, na dimensão humana, que nos interessa, qualquer que seja o nível
em que se dê, não é o ato através do qual um sujeito, transformado em objeto
,recebe, dócil e passivamente, os conteúdos que outro lhe dá ou impõe.

18
O conhecimento, ao contrário, exige uma presença curiosa do sujeito em face
do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. .Demanda
uma busca constante. Implica em invenção e em reinvenção Reclama a
reflexão crítica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer, pelo qual se
reconhece reconhecendo e, ao reconhecer-se assim, percebe o “como” de seu
conhecer e os condicionamentos a que está submetido seu ato.(...)
Por isto mesmo é que, no processo de aprendizagem, só aprende
verdadeiramente aquele que se apropria do aprendido, transformando-o em
apreendido, com o que pode, por isto mesmo, reinventá-lo; aquele que é capaz
de aplicar o aprendido-apreendido a situações existenciais concretas.Pelo
contrário, aquele que é “enchido “ por outro de conteúdos cuja inteligência não
percebe; de conteúdos que contradizem a forma própria de estar em seu
mundo,sem que seja desafiado, não aprende.” (Freire, 1975:27/28)
Como a proposta de Educação no Processo de Gestão Ambiental busca a
intervenção qualificada, coletiva e organizada, trata-se de se organizar o
processo de ensino-aprendizagem de modo que o ato pedagógico seja um ato
de construção coletiva do conhecimento sobre a realidade, num processo
dialético de ação-reflexão, ou seja, de exercício da práxis, objetivando sua
transformação.
Realidade, aqui entendida como “processo multidimensional, complexo, que
tem aspectos “transitórios” e aspectos “permanentes” aspectos visíveis, e
aspectos invisíveis, aspectos materiais e aspectos não materiais, aspectos
específicos e aspectos gerais, uns agindo sobre os outros em forma de
contraposição, de conflito, de contradição”(Arruda,1986:15 apud
Vasconcelos,1989:100), portanto parte de uma realidade mais ampla. Assim,
a ocorrência da aprendizagem, tal como entendida por Paulo Freire, depende
da capacidade do ato pedagógico garantir o exercício da práxis em uma
determinada realidade, que está articulada com outras realidades,visando a
sua transformação, numa perspectiva crítica e emancipatória.
Segundo Leandro Konder (1992 :115-116 )“a práxis é a atividade concreta,
pela qual os sujeitos humanos se afirmam no mundo, modificando a realidade
objetiva e, para poderem alterá-la, transformando-se a si mesmos. É a
ação que, para se aprofundar de maneira mais conseqüente, precisa de
reflexão, do autoquestionamento, da teoria; é a teoria que remete à ação
(grifos meus), que enfrenta o desafio de verificar seus acertos e desacertos,
cotejando-os com a prática. Os problemas cruciais da teoria se complicam
interminável e insuportavelmente quando a teoria se autonomiza demais e se
distancia excessivamente da ação”.
Discorrendo sobre a construção da unidade teoria-prática (ou teoria-ação),
Marilena Chauí (1980 :.81-82) ensina que:
a) “ a relação teoria-prática é uma relação simultânea e recíproca por meio da
qual a teoria nega a prática enquanto prática imediata, isto é, nega a
prática como um fato dado para revelá-la em suas mediações e como
práxis social, ou seja como atividade socialmente produzida e produtora da
existência social. A teoria nega a prática como comportamento e, ação
dados, mostrando que se trata de processos históricos determinados pela
ação dos homens que, depois, passam a determinar sua ações (grifos meus).
b) A prática, por sua vez, nega a teoria como um saber separado e
autonômo, como puro movimento de idéias se produzindo uma às outras
na cabeça dos teóricos. Nega a teoria como um saber acabado que

19
guiaria e comandaria de fora a ação dos homens (grifos meus). E negando
a teoria enquanto saber separado do real que pretende governar esse real, a
prática faz com que a teoria se descubra como conhecimento das condições
reais da prática existente, de sua alienação e de sua transformação” . Assim,
tem-se o parafuso sem fim do conhecendo-agindo e do agindo- conhecendo
como motores do processo educativo.
Por outro lado, a gestão ambiental foi instituída como um instrumento para
as sociedades lidarem com a questão ambiental num quadro de crise
ambiental. Como se sabe, a questão ambiental resulta das relações que os
seres humanos estabelecem entre si e com a natureza, em determinado
momento histórico. .Segundo Porto Gonçalves(1990:134) “ ela [a questão
ambiental] convoca os vários campos do saber a depor.A questão ambiental,
na verdade,diz respeito ao modo como a sociedade se relaciona com a
natureza.Nela estão implicados as relações sociais e as complexas relações
entre o mundo físico-químico e orgânico.Nenhuma área do conhecimento
específico tem competência para decidir sobre ela, embora muitas tenham o
que dizer.”
Estas relações não podem ser compreendidas sob o olhar de uma única
ciência, muito menos de uma ou mais disciplinas, mas da interação entre elas.
Assim, qualquer problema ambiental para ser entendido deve ser estudado
como um produto da interpelação de fatores sociais, econômicos, políticos,
culturais, éticos, históricos e biológicos. Por tudo isto, diz-se que a questão
ambiental é complexa, e o exercício de conhecê-la exige o pensar complexo.
Portanto, desafia a se construir um outro modo de ensinar-aprender que supere
a apreensão fragmentada da realidade.
De acordo com Edgar Morin (2001: 35-38) “ para articular e organizar os
conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo, é
necessária a reforma do pensamento. Entretanto, esta reforma é paradigmática
e, não programática: é a questão fundamental da educação já que se refere à
nossa aptidão para organizar o conhecimento.
A esse problema universal confronta-se a educação do futuro, pois
existe uma inadequação cada vez mais ampla profunda e grave entre, de um
lado, os saberes desunidos, divididos, compartimentados e, de outro, as
realidades ou problemas multidisciplinares, transversais, multidimensionais,
transnacionais, globais e planetários.
Nessa inadequação tornam-se invisíveis:
 O contexto
 O global
 O multidimensional
 O complexo”
Ainda, segundo Morin, para que o conhecimento seja pertinente, a
educação deve torná-los evidentes”.(grifo meu)
“O conhecimento das informações ou dos dados isolados é
insuficiente. É preciso situar as informações e os dados em seu contexto para
que adquiram sentido (grifo meu). Para ter sentido, a palavra necessita do
texto, que é o próprio contexto, e o texto necessita do contexto no qual se
enuncia. Desse modo, a palavra “amor” muda de sentido no contexto religioso
e no contexto profano” (...).
Sobre o global (“as relações entre o todo e as partes”) o autor , chama
atenção que ele “é mais que o contexto, é o conjunto das diversas partes

20
ligadas a ele de modo inter-retroativo ou organizacional. Dessa maneira, uma
sociedade é mais que um contexto: é o todo ao mesmo tempo organizador e
desorganizador de que fazemos parte. O todo tem qualidades ou
propriedades que não são encontradas nas partes, se estas estiverem
isoladas umas das outras, e certas qualidades ou propriedades das
partes podem ser inibidas pelas restrições provenientes do todo (grifo
meu). É preciso efetivamente recompor o todo para conhecer as partes (...)
Além disso, tanto no ser humano, quanto nos outros seres vivos, existe
a presença do todo no interior das partes. Cada célula contém a totalidade do
patrimônio genético de um organismo policelular; a sociedade, como um todo,
está presente em cada indivíduo, na sua linguagem, em seu saber, em suas
obrigações e em suas normas. Dessa forma, assim como cada ponto singular
de um holograma contém a totalidade da informação do que representa, cada
célula singular, cada indivíduo singular contém de maneira “hologrâmica” o
todo do qual faz parte e que ao mesmo tempo faz parte dele”(grifos meus).
Ao tratar do multidimensional, Edgar Morin afirma que “as unidades
complexas, como o ser humano ou a sociedade são multidimensionais: dessa
forma, o ser humano é ao mesmo tempo biológico, psíquico, social, afetivo e
racional. A sociedade comporta as dimensões histórica, econômica,
sociológica, religiosa... O conhecimento pertinente deve reconhecer este
caráter multidimensional e nele inserir estes dados: não apenas não se poderia
isolar uma parte do todo, mas as partes umas das outras; a dimensão
econômica por exemplo, está em inter-retroação permanente com todas
dimensões humanas; além disso, a economia carrega em si, de modo
“hologrâmico“, necessidades, desejos e paixões humanas que ultrapassam os
meros interesses econômicos” .
Para Morin(2001opcit.p.38-39), “o conhecimento pertinente deve
enfrentar a complexidade”. Complexus significa que foi tecido junto, de fato, há
complexidade quando elementos diferentes são inseparáveis
constitutivos do todo (como o econômico, o político, o sociológico, o
psicológico, o afetivo, e mitológico), e há um tecido interdependente,
interativo e inter-retroativo entre o objeto de conhecimento e seu
contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as partes entre em si
(grifos meus). Por isso a complexidade é a união, entre a unidade e a
multiplicidade (...) Em conseqüência, a educação deve promover a “inteligência
geral” apta a referir-se ao complexo, ao contexto, de modo
multidimensional e dentro da concepção global”.(grifo meu)
Neste sentido, praticar a Educação Ambiental no contexto da gestão
ambiental pública é agir na complexidade. Por isto exige um modo de conceber
e organizar o ato pedagógico que concretize o exercício da práxis e ao
mesmo tempo proporcione as condições para os sujeitos da ação educativa
apreenderem as relações e inter-relações entre o contexto, o global, o
multidimensional e o complexo presentes na realidade vivenciada.
Portanto, está se propondo uma Educação Ambiental crítica, transformadora
e emancipatória. Crítica na medida em que discute e explicita as contradições
do atual modelo de civilização, da relação sociedade-natureza e das relações
sociais que ele institui. Transformadora, porque ao pôr em discussão o caráter
do processo civilizatório em curso, acredita na capacidade da humanidade
construir um outro futuro a partir da construção de um outro presente e, assim,
instituindo novas relações dos seres humanos entre si e com a natureza. É

21
também emancipatória, por tomar como valor fundamental da prática
educativa a produção da autonomia dos grupos subalternos, oprimidos e
excluídos, a superação das assimetrias e, conseqüentemente, a
democratização da sociedade
E por tudo isto, busca incessantemente a superação da” contradição
educador-educandos, de tal maneira que se façam ambos, simultaneamente ,
educadores e educandos”, rechaçando o que Paulo Freire chama de “visão
“bancária” da educação” (Freire ,1974: 67). Onde segundo ele, “o”saber” é
uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que
se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão—a
absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da
ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro .O educador
que aliena a ignorância, se mantém em posições fixas.Será sempre o que
sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem.A rigidez
destas posições nega a educação e o conhecimento como processos de
busca” (ibidem: 67) [grifos meus]
A “visão bancária da educação,” considera o educando como um ser
desprovido de saberes e o educador como único detentor de
conhecimentos.Nesta arquitetura pedagógica, o processo educativo é
constituído por um pólo ativo(o educador), que faz o “depósito” do
conhecimento e por um pólo passivo( o educando), mero receptor do que foi
depositado.Segundo Oliveira(2003:173) “ o fazer pedagógico, enquanto espaço
simbólico de relações, se instaura a partir das relações entre educador e os
educandos ,não devendo se caracterizar por uma relação de quem se pensa
saber para um outro que se imagina não saber, situação em que não se
permite a interação dialógica, instituinte de uma cumplicidade, que funda e
compromete projetos de mudanças, constituindo-se então numa relação
pedagógica meramente reprodutiva e instrumental.”
A negação desta prática depende da instauração de um processo dialógico
entre os participantes do ato pedagógico, que deve atribuir simultaneamente
os papéis de educadores e educandos a ambos, como ensina Paulo Freire.
Para isto o processo de ensino aprendizagem deve considerar que os
educandos são portadores de conhecimentos, tão válidos e relevantes quanto
os dos educador
Como assinala Boaventura Souza Santos (2002: 14) “(...) é hoje mais do
que nunca evidente que o universalismo da ciência moderna [da
modernidade] é um particularismo ocidental cuja particularidade consiste em ter
poder para definir como particulares, locais,contextuais e situacionais todos os
conhecimentos que com ela rivalizam. Disso decorre a constatação de que
houve e há outras ciências e outras modernidades não ocidentais e
muitos outros conhecimentos que se validam por outros critérios que não
o serem científicos ou serem modernos.A diversidade epistemológica do
mundo é, assim, potencialmente infinita(grifo meu).Todos os conhecimentos
são contextuais e o são tanto mais quanto se arrogam não sê-los.Não há nem
conhecimentos puros, nem conhecimentos completos, há constelações de
conhecimentos.No interior dessas constelações há hibridizações (...)”
Portanto, propõe-se que a prática pedagógica se realize com base num
referencial que considera a Educação Ambiental como "um processo educativo
eminentemente político, que visa ao desenvolvimento nos educandos de uma
consciência crítica acerca das instituições, atores e fatores sociais geradores

22
de riscos e respectivos conflitos socioambientais. Busca uma estratégia
pedagógica do enfrentamento de tais conflitos a partir de meios coletivos de
exercício da cidadania, pautados na criação de demandas por políticas
públicas participativas conforme requer a gestão ambiental democrática.”
Layrargues (2002 ,opcit:169),.
Em outras palavras assume “a importância do pressuposto da Educação
Ambiental de(grifo meu), no processo pedagógico, partir da realidade de vida,
do local, do cotidiano, na ação teórico-prática, para construir uma compreensão
complexa e integrada do ambiente em suas diferentes escalas (local, regional,
nacional e global).” (Loureiro, 2004,p. 133
Para isto, o processo educativo deve ser estruturado(Quintas &
Gualda,1995,opcit) no sentido de:
 superar a visão fragmentada da realidade, em suas múltiplas
dimensões, por meio da construção e reconstrução do conhecimento
sobre ela, num processo de ação e reflexão, de modo dialógico com os
sujeitos envolvidos;
 respeitar a pluralidade e diversidade cultural, fortalecer a ação
coletiva e organizada, articular os aportes de diferentes saberes e
fazeres e proporcionar a compreensão da problemática ambiental em
toda a sua complexidade;
 possibilitar a ação em conjunto com a sociedade civil organizada e
sobretudo com os movimentos sociais, numa visão de educação
ambiental como processo instituínte de novas relações dos seres
humanos entre si deles com a natureza;
 proporcionar condições para o diálogo entre as áreas disciplinares,
saberes e fazeres e com os diferentes atores sociais envolvidos com a
prática da gestão ambiental pública.
Portanto, o conflito como intrínseco à prática de apropriação social dos
recursos ambientais, as dimensões estruturantes da prática consciente, a
unidade dialética entre teoria e prática , o pensar complexo, a construção
coletiva e dialógica do conhecimento e a superação da contradição
educador-educando são os pressupostos para operacionalização da
proposta de Educação no Processo de Gestão Ambiental, por definição
crítica, transformadora e emancipatória.
Nesta perspectiva, a concepção metodológica ou metodologia que deve
mediar a construção do ato pedagógico ou processo de ensino-aprendizagem,
deve ser entendida como ”como uma estratégia geral de abordagem do
fenômeno educativo. Isto é como um instrumental teórico-prático que permita
“o conhecimento mais real possível (...) e a prática mais segura e clara,
possibilitando assim o saber e o fazer a um só tempo e encarados como uma
realidade total , por isso mesmo, impossível de serem
separados”(Coelho,1982:28,apud Vasconcelos,1989 :99/100).
No caso da Educação no Processo de Gestão Ambiental, o exercício da práxis
deve se processar segundo uma concepção metodológica que resulta da inter-
relação de outras duas concepções: a epistemológica ( complexidade) e a
pedagógica ( crítica, transformadora, emancipatória e dialógico).Portanto, uma
metodologia que toma a práxis como elemento central, mas exige que sua
efetivação seja de acordo com um modo de conhecer que pressuponha a
questão ambiental como complexa e concebe o modo de aprender como um
processo de construção coletiva crítico, transformador, emancipatório e

23
dialógico. .Por se constitui a partir das outras duas concepções, não se
autonomiza em relação a elas. E, também não deve ser confundida com o
conjunto métodos e técnicas (procedimentos metodológicos) adotados para se
atingir os objetivos de aprendizagem dos processos educativos.
EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE GESTÃO AMBIENTAL: A CONSTRUÇÃO
DO ATO PEDAGÓGICO
Quando se fala em construção do ato pedagógico, está se falando num
processo que vai do planejamento até a sua realização. O ato, ação ou
processo pedagógico ou ação educativa ou processo de ensino-aprendizagem
ou prática educativa é o lugar da concretização dos pressupostos de qualquer
proposta de educação. Logo, trata-se de se colocar o discurso na prática,
mostrando inclusive o quanto esta prática é leal à concepção enunciada..
Aqui, está se defendendo uma educação crítica, transformadora e
emancipatória, que tem como finalidade contribuir para a construção de uma
sociedade justa, democrática e sustentável e como propósito imediato a
intervenção qualificada, coletiva e organizada de grupos sociais específicos no
ordenamento das práticas de apropriação dos bens ambientais na sociedade,
que o Estado realiza ou deixa de realizar.A amplitude da articulação entre
estes dois elementos definirá o “quanto” a prática educativa se aproxima do
ideário crítico, transformador e emancipatório.
Isto significa que ao organizar e realizar processos educativos no contexto
de atividades de gestão ambiental pública, tais como ordenamento pesqueiro,
licenciamento ambiental, proteção e manejo de fauna, criação e gestão de
unidades de conservação, gestão de recursos hídricos, controle da poluição, o
educador deve sempre se perguntar como deverá estruturar o ato pedagógico,
de modo que ao alcançar o seu propósito imediato, ao mesmo tempo, esteja
atingindo à sua finalidade.Assim, a finalidade do processo pedagógico
funciona como uma espécie de diretriz maior para sua organização e
realização.Os objetivos gerais) e específicos ( se necessários) da ação
educativa devem explicitar esta articulação.
Nesta perspectiva o ato pedagógico pode ser pensado(Candau,1989) como o
produto da articulação de contexto, subjetividade, conteúdos, objetivos de
aprendizagem, procedimentos metodológicos, materiais de ensino-
aprendizagem, tempo disponível e avaliação, mediada por uma dada
concepção metodológica que, neste caso, resulta da inter-relação das
concepções epistemológica e pedagógica adotadas. Portanto, a concepção
metodológica, enquanto modo de conceber e organizar a ação educativa,
também funciona como idéia reguladora durante o processo de seu
planejamento e de sua realização.
No mundo real o ato pedagógico pode ass umir diferentes
feições.Dependendo das condições objetivas (infra-estrutura, recursos
financeiras, apoio político etc.) e subjetivas( disponibilidade de tempo,
disposição para participar, demanda do grupo social etc.), o processo
educativo pode ser curso, oficina, seminário, reunião técnica,pesquisa
participante, pesquisa-ação,ciclo de debates, diagnóstico rápido participativo ou
qualquer outro tipo de arranjo pedagógico.
Para dar partida ao planejamento da ação educativa é necessário que a
equipe de educadores defina os seus objetivos ou seja a sua
intencionalidade, mesmo admitindo, a priori, a possibilidade de mudá-los, se
houver necessidade, ao longo do processo pedagógico,. Um ato pedagógico,

24
para ser digno deste nome, deve explicitar seus objetivos (inclusive os de
aprendizagem), independentemente, da concepção de educação
assumida.Pois sendo a Educação uma prática política, o ato pedagógico será
sempre portador de uma intencionalidade seja de forma implícita ou explícita.
Portanto, não há prática educativa neutra.
A configuração dos objetivos dependerá do escopo da atividade de gestão
ambiental.Pois é ela quem contextualiza o ato pedagógico e, deste modo
proporciona os elementos para sua formulação, inclusive aqueles necessários
para estabelecimento de nexos com a crise ambiental e para definição dos
sujeitos prioritários da ação educativa.
.Neste sentido, se a atividade de gestão ambiental pública é relativa à
implantação ou implementação da gestão participativa( Loureiro et alii,2005;
Gomes Filho, Amaral & Cunha, 2006) ou mesmo à criação de uma unidade de
conservação (UC), os objetivos da ação pedagógica devem vincular os
propósitos imediatos, como os de capacitar 8 representações de grupos
sociais residentes no seu entorno e ou interior( para integrarem o Conselho da
unidade, participarem da consulta pública para sua criação, guiarem visitantes
ou decidirem sobre adoção de alternativas ao uso do fogo na agricultura etc.)
ou, ainda, de proporcionar suporte técnico aos membros de uma câmara
técnica do Conselho para avaliarem determinada situação, com a reflexão
sobre, por exemplo, a Convenção da Biodiversidade e analisando, no contexto
da crise ambiental, o porque dela e sua eficácia até o momento.
Ou, ainda, refletindo sobre os limites e possibilidades da criação das diversas
categorias de UCs, estabelecidas no Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza (SNUC), como estratégia de conservação da
biodiversidade, frente a uma ordem social estruturada com base na
desigualdade, na injustiça e na utilização intensiva e ilimitada dos recursos
naturais, vigente no Brasil e na maioria dos países do globo.
Do mesmo modo, se o contexto da ação pedagógica, for o licenciamento
ambiental (Quintas, Gomes & Uema,2006; Uema,2006; Anelllo,2006; CGEAM-
CGPEG/IBAMA,2006: CGEAM-CGPEG/IBAMA,2006), os objetivos podem
articular seu propósito imediato (por, exemplo, assessorar grupos sociais
afetados pelo empreendimento em processo de licenciamento[pré ou pós] na
elaboração de uma pauta de reivindicações para negociarem a implantação
de medidas para mitigação e compensação dos impactos socioambientais,
em determinadas comunidades e ou,também, habilitá-los para o
monitoramento da sua implementação etc.) com a avaliação da eficácia das
medidas e, se for o caso a proposição de correções, com base em critérios
de sustentabilidade, ou com outro tipo de análise crítica.
Por tudo o que se discutiu até aqui, o contexto é o da atividade de gestão
ambiental pública, praticada em determinada realidade. A questão agora é a
escolha de um elemento concreto deste contexto para ser tomado como ponto
de partida( tema gerador) para o planejamento do processo educativo.
Lembrando, ainda, que o concreto sintetiza múltiplas e diversificadas
determinações e não é compartimentado nem unidimensional. (Loureiro,2006;
opcit) e que:

8
O termo capacitação é aqui entendido como um processo de construção coletiva de capacidades pelos
participantes da ação educativa (educandos e educadores), estruturado com base na ação-reflexão e no
diálogo entre o diversos saberes(populares e acadêmicos) intervenientes nesta prática.

25
 :a gestão ambiental pública foi instituída para garantir o direito
constitucional ao meio ambiente ecologicamente equilibrado;
 gestão ambiental pública é um processo de mediação de interesses e
conflitos;
 o acesso e uso dos recursos ambientais na sociedade é conflituoso
 a gestão ambiental além de não ser neutra, distribui custos e benefícios,
de modo assimétrico, na sociedade;
 a assimetria na distribuição dos custos e benefícios na sociedade não é
auto evidente;
 a noção de sustentabilidade está na base da gestão ambiental;
 a noção de sustentabilidade tem diferentes significados ( é polissêmica);
 os riscos e danos ambientais como ameaça, não são auto evidentes;
 a sociedade não é o lugar da harmonia, mas dos conflitos e confrontos;
 prevenção e superação dos problemas ambientais dependem de
consensos na sociedade;
 mobilizações coletivas são motivadas, simultaneamente, por crenças e
interesses e não existem sem meios materiais e cognitivos de
organização.
 a participação e o controle social na gestão ambiental dependem da
superação de assimetrias.
Como a atividade de gestão ambiental se processa num quadro de crise
ambiental, sua evidência no concreto são os danos e riscos ambientais. aos
quais ecossistemas e grupos sociais estão submetidos.. Segundo ( Carvalho &
Scotto,1995: 13), “ aquelas situações onde há risco e/ou dano social/ambiental
mas não há nenhum tipo de reação por parte dos atingidos ou [ de] outros
atores da sociedade civil face ao problema” configuram um problema
ambiental.E nos casos onde “travam-se em torno dos bens
ambientais[recursos] lutas entre atores sociais que disputam diferentes formas
de acesso e/ou gestão desses bens”, tem-se um conflito
ambiental.(ibidem:13)
Uma outra condição ambiental que pode ser observada é a potencialidade
ambiental, aqui entendida como “um conjunto de atributos de um bioma /
ecossistema(recursos ambientais) passíveis de uso sustentável por grupos
sociais ( recursos pesqueiros,recursos florestais de uma Floresta Nacional,
manguezal,praias,rios,paisagens,áreas com potencial ecoturístico etc.)”
( CGEAM/IBAMA, 2003:16).Neste rol estão as Reservas Extrativistas (RESEX),
categoria singular de UC, por ser uma invenção do movimento de seringueiros
do Acre, liderados pelo sindicalista Chico Mendes, ao contrário das demais,
que foram instituídas por proposta de cientistas e técnicos. (Quintas, 2002ª;
opcit)
Pelas noções expostas, pode-se concluir que todo conflito ambiental envolve
um problema ambiental, mas nem todo problema ambiental envolve um
conflito.
Após seleção da condição ambiental, que afeta, predominante, os grupos
sociais do território, objeto da atividade de gestão ambiental (problema,conflito
ou potencialidade ambiental), a equipe de educadores terá os dados da
realidade para definição dos critérios de escolha dos sujeitos da ação
educativa, dos conteúdos e dos objetivos de aprendizagem, necessários para
dar continuidade ao planejamento do processo pedagógico.

26
A categoria subjetividade refere-se aos sujeitos que participarão do
processo de ensino-aprendizagem como educandos. Significa descobrir, com
maior precisão possível, quais são as características predominantes, que
conferem uma base comum (unidade na diversidade), em termos sócio-
econômicos, culturais e cognitivos ao grupo de educandos, que participará do
processo educativo. Estas características podem ser de pertencimento a:
 grupos sociais específicos(pescador,agricultor familiar,
ambientalista,empresário, índio, quilombola,cigano, trabalhador de
determinado setor da economia etc.);
 determinada faixa etária (criança, adolescente,adulto), gênero, nível de
escolaridade ou a outros tipos de categorias que a realidade indique
A identificação desta base comum é importante para se ajustar, da melhor
forma possível, o ato pedagógico às características do grupo.
Lembrando que a Educação no Processo de Gestão Ambiental busca a
mitigação de assimetrias, que podem dificultar ou inviabilizar o controle social
da gestão ambiental, há necessidade de se definir critérios para identificação
dos sujeitos prioritários da ação educativa. Neste sentido, o critério preliminar
de elegibilidade dos educandos deve ser o de pertencimento a grupos sociais
específicos, que estão em situações variadas de risco e ou vulnerabilidade
socioambiental e ou dispõem de condições insuficientes, nos planos
cognitivo,organizativo e material, para intervirem na prática da gestão
ambiental pública, de modo qualificado, coletivo e organizado.
Nesta perspectiva, a participação de determinada pessoa, como educando do
processo pedagógico, deve ser previamente legitimada, pelo grupo social ao
qual pertence. Assim, o grupo de educandos ou sujeito da ação educativa
constitui-se, a partir de um recorte efetuado no conjunto dos grupos sociais
afetados pelo ato de gestão ambiental, de acordo com os critérios de
legitimidade e equidade.
Além disso, o educador deve estar sempre atento à dimensão subjetiva do
que aqui se denomina subjetividade. Nesta perspectiva, deve buscar a
construção de um processo pedagógico, onde haja espaço para mediação de
tensões do tipo objetividade-subjetividade, individualidade-coletividade, o eu e
o outro, necessidades-possibilidades, desejo-realidade, que ocorrem,
freqüentemente, nos processos de construção coletiva.
È fundamental, também, que a reiteração dos valores, que caracterizam uma
ordem social justa, democrática e sustentável, tais como solidariedade,
cooperação em lugar da competição, respeito ao outro, diálogo, lealdade,
respeito à diferença, respeito a todas as manifestações da vida, uso prudente e
cuidadoso dos recursos ambientais, seja uma prática indissociável do cotidiano
do processo pedagógico.
A partir da condição ambiental dada ou tema gerador ( problema, conflito ou
potencialidade) extraído do contexto, é possível se deduzir os conteúdos
necessários para se atingir os objetivos da ação educativa. Conforme a
concepção epistemológica adotada (Morin, 2001,opcit), significam os
conhecimentos pertinentes ou se ja conceitos,noções, definições
princípios,modelos,fenômenos, tecnologias, técnicas, relações etc. necessários
à compreensão da condição ambiental dada, à intervenção na realidade.e ao
estabelecimento de nexos para discussão da crise ambiental. Estes
conhecimentos devem ser abordados nas suas diferentes dimensões
(histórica, socioeconômica, cultural, política, legal, ética, ecológica, etc.); e nos

27
seus diferentes planos (local, regional, nacional, internacional, de bacia
hidrográfica, ecossistema, bioma, etc.
visando a conseqüente intervenção na realidade.
Os objetivos de aprendizagem articulam conteúdos e capacidades que serão
desenvolvidas com os sujeitos da ação educativa, a partir do tema gerador
para que os objetivos do processo do ato pedagógico sejam atingidos. A sua
formulação deve observar a hierarquia dos pré-requisitos, no plano cognitivo e
das capacidades, assumir como princípio a aprendizagem com base na
construção coletiva do conhecimento e se referenciar nas quatro dimensões da
prática consciente(Freire,1976, opcit) Reflexão, Temporalidade,
Intencionalidade e Transcendência, na perspectiva do exercício da práxis.
É importante observar que os objetivos de aprendizagem explicitam
capacidades, no plano da cognição, das habilidades e das atitudes, com graus
variados de dificuldades, tais como identificar, distinguir, analisar, sistematizar,
relacionar, avaliar, aplicar,elaborar,escolher, decidir, optar, que a equipe
docente espera que os educandos passem a dominar no decorrer da ação
pedagógica
.Portanto,representam um conjunto de competências que tornam o
educando capaz de:
 analisar causas e conseqüências de uma dada condição ambiental
(reflexão);
 relacionar uma dada condição ambiental, com o processo histórico
que contextualiza sua existência (temporalidade);
 agir no sentido de transformar ou garantir a existência de uma dada
condição ambiental (intencionalidade);
 analisar as possibilidades de futuro frente a ação ou inação , para
transformar ou garantir a existência de uma dada condição ambiental
(transce ndência), sempre, tomando como base as diferentes
dimensões e planos do conhecimento.

Procedimentos metodológicos são recursos técnico-pedagógicos


necessários para os sujeitos da ação educativa atingirem os objetivos de
aprendizagem, em determinado tempo.Portanto, serve ao objetivo de
aprendizagem,que em conjunto com o material de ensino-aprendizagem, são
meios para o seu alcance,.São exemplos de procedimentos metodológicos
exposições dialogadas; palestras; simpósio; estudo dirigido em grupo;estudo
de caso;visitas orientadas; dramatizações etc Cabe à equipe docente escolher
o procedimento mais adequado, que seja compatível com o tempo disponível .
Materiais de ensino- aprendizagem são materiais didáticos de suporte à
realização dos procedimentos metodológicos, necessários para os educandos
atingirem os objetivos de aprendizagem.A escolha e ou elaboração do material
didático é uma tarefa intrínseca ao planejamento do ato pedagógico. São
exemplos deste tipo de material: texto para estudo individual ou em
grupo;roteiro de estudo individual ou em grupo;roteiro para estudo de
caso;roteiro para trabalho de campo;material audiovisual, visual, roteiro de
visita orientada, roteiro de relatório etc.
O Tempo é a duração dos procedimentos metodológicos. Na prática, o tempo
sempre é um recurso escasso frente ao conjunto de objetivos de aprendizagem
que os educandos devem atingir para se alcançar os objetivos do ato
pedagógico.Daí a necessidade de se compatibilizar a escolha do

28
procedimento metodológico com o dimensionamento do tempo, sem se
sacrificar o alcance dos objetivos de aprendizagem.
A avaliação é o instrumento para se diagnosticar as dificuldades encontradas
pelos sujeitos da ação educativa, para atingirem os objetivos de
aprendizagem..Neste caso, a função da avaliação é levantar evidências , com
a participação dos educandos, para eventuais correção do processo ensino-
aprendizagem, enquanto está se realizando...É a avaliação como práxis.
Uma outra dimensão é a da chamada avaliação do ensino, cuja função é
proporcionar elementos para se diagnosticar se foram alcançados os objetivos
da ação educativa, ou seja o seu propósito imediato e sua finalidade.
Com os elementos proporcionados por ambas, pode-se reavaliar o
planejamento da ação pedagógico já executada e propor correções na
elaboração de uma nova.
Como se pode observar concepção metodológica permeou todo processo,
estando presente na formulação de cada objetivo de aprendizagem, na sua
hierarquização, na escolha dos procedimentos metodológicos, na elaboração
do material de ensino-aprendizagem ,no dimensionamento do tempo e na
avaliação do processo.

Sobradinho,DF, dezembro de 2008

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31
154
compensation measures that are determined by the licensing processes of
polluting activities from the perspective of environmental justice. Firstly, the
text reports the concepts which permeate the licensing processes based on
Critical Environmental Education. Afterwards, the impacts of oil activities on
artisanal fishery are analyzed in order to show how this set of concepts
guides the planning of actions in Environmental Education which aim at
fishermen when the licensing processes involve oil activities.
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL ENQUANTO MEDIDA
Keywords: Environmental Education. Environmental impact assessment
MITIGADORA E COMPENSATÓRIA: uma reflexão (EIA). Artisanal fishery. Oil.
sobre os conceitos intrínsecos na relação com o
Licenciamento Ambiental de Petróleo e Gás tendo a pesca
artesanal como contexto INTRODUÇÃO

Tatiana Walter * No âmbito da Gestão Ambiental Pública, uma das ações que
Lucia de Fátima Socoowski de Anello** assume importância na atualidade é a Educação Ambiental no
Licenciamento, sendo exigida em todos os empreendimentos de
RESUMO
competência do órgão ambiental federal, como decorrência da Instrução
Normativa IBAMA no02, de 27 de Março de 2012 (IN 02/2012).
Este trabalho tem por finalidade estabelecer um entendimento conceitual Segundo ela “os Programas e/ou Projetos de Educação Ambiental
sobre a relação da avaliação de impacto ambiental e suas respectivas medidas
mitigadoras e compensatórias determinadas no processo de licenciamento
(PEA) serão executados em cumprimento às medidas mitigadoras ou
ambiental de atividades poluidoras, tendo como perspectiva a discussão da compensatórias, como condicionantes das licenças concedidas ou nos
justiça ambiental. O texto foi estruturado de forma a discorrer sobre os processos de regularização do licenciamento ambiental federal”.
conceitos que permeiam o Licenciamento Ambiental fundamentando-os na
Educação Ambiental Crítica. Em seguida, é realizada uma análise sobre os A formulação do escopo teórico-analítico referente à Educação
impactos da atividade petrolífera na pesca artesanal, de forma a discorrer Ambiental no Licenciamento é fruto de um acúmulo obtido por meio
sobre como este conjunto de conceitos orienta a projeção das ações de de ações promovidas ao longo da década de 1990 até o ano de 2007,
Educação Ambiental com pescadores no âmbito do Licenciamento Ambiental
das Atividades Petrolíferas. pela Coordenação Geral de Educação Ambiental (CGEAM) do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Palavras-Chave: Educação ambiental. Licenciamento ambiental. Pesca
artesanal. Petróleo.
Renováveis (IBAMA), cujas concepções são orientadas inicialmente à
Educação Ambiental na Gestão (QUINTAS, 2000; 2004; OLIVEIRA,
ABSTRACT 2004) e gradativamente reformuladas para atender especificidades dos
Environmental Education As A Mitigation And Compensatory Measure: grupos afetados por empreendimentos potencialmente poluidores,
Reflection On Intrinsic Concepts In Its Relation With Petroleum And conforme competência do licenciamento ambiental. Para esta nova
Gas Environmental Assessment In The Context Of Artisanal Fisheries formulação, além da CGEAM, os técnicos da Coordenação Geral de
This paper aims to establish a conceptual understanding of the relation
among the environmental impact assessment and the mitigation and Licenciamento das Atividades Marítimas de Exploração e Produção de
Petróleo1 do IBAMA – CGPEG – participaram ativamente e de forma
*
continuada, desde o final da década de noventa quando a unidade foi
Doutora em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, pela
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ. Laboratório de Gerenciamento
criada. Quintas et al. (2006); Anello (2006); Uema (2006) e; Loureiro
Costeiro/Instituto de Oceanografia/FURG. E-mail: tatianawalter@gmail.com.
**
Doutora em Educação Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG.
1
Laboratório de Gerenciamento Costeiro/Instituto de Oceanografia/FURG. E-mail: Neste artigo, iremos nos referir a “atividades petrolíferas” significando “atividades marítimas
luciaanello@hotmail.com. de exploração e produção de petróleo”.

AMBIENTE & EDUCAÇÃO | vol. 17(1) | 2012 73 74 Tatiana Walter e Lucia de Fátima Socoowski de Anello
(2009) apresentam as formulações teóricas e metodológicas acerca da Monitoramento da implantação do projeto2.
Educação Ambiental no Licenciamento. Não obstante, Sanchez (1995) explana que a Avaliação de
Paralelamente a este esforço, uma série de pesquisadores Impacto Ambiental também pode ser compreendida como um
(ANELLO, 2009; MATTOS, 2009; PEREIRA, 2011 e; instrumento técnico-científico cujo objetivo é de identificar, prever e
VASCONCELLOS, 2012) tem se ocupado de compreender diversos interpretar as consequências ambientais de determinada ação
dos aspectos associados a esta vertente, em especial, ao que tange a humana. É nesta dimensão, da AIA-instrumento que se encontra a
sua exigência em licenciamentos de atividades petrolíferas. elaboração de Estudos de Impacto Ambiental, contemplando
Entretanto, para além dos aspectos teóricos e metodológicos metodologias de prognóstico de impactos e a proposição de medidas
da Educação Ambiental, sua formulação no Licenciamento encontra- mitigadoras e compensatórias.
se articulada a um conjunto de conceitos que orientam sua prática e Em termos legais, o licenciamento ambiental está calcado em
impõem limites e possibilidades a sua ação. Neste sentido, conceitos um arcabouço que possui como marco o Capítulo VI da Constituição
como: avaliação de impacto ambiental, medidas mitigadoras e Federal Brasileira de 1988, que trata do direito ao meio ambiente
compensatórias, riscos e vulnerabilidade ambiental, presentes nas ecologicamente equilibrado como um direito universal, e a Política
formulações teóricas e metodológicas, precisam ser compreendidos à Nacional de Meio Ambiente, objeto da Lei no 9.795/1999, que define
luz dos princípios que orientam o licenciamento ambiental e, ao o licenciamento ambiental e a avaliação de impacto como seus
mesmo tempo, necessitam permear e orientar a prática pedagógica instrumentos. De forma ampla, as Resoluções CONAMA´s 001/1986
proposta. O presente artigo foi elaborado, com o objetivo de formular e 237/1997 referendam o escopo mínimo dos Estudos de Impacto
e elucidar os conceitos que permeiam a Educação Ambiental no Ambiental e os procedimentos gerais em torno do licenciamento3.
Licenciamento, de forma a orientar sua concepção prática, como Considerando este arcabouço verifica-se a atribuição da gestão
parte das exigências das condicionantes de licenças. ambiental pública, caracterizada aqui pelo licenciamento ambiental,
em mediar os diversos interesses que permeiam as relações entre
2 MEDIDAS MITIGADORAS E COMPENSATÓRIAS COMO sociedade e ambiente com vistas a assegurar o acesso por todos ao
PARTE DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL E OS meio ambiente ecologicamente equilibrado enquanto bem comum e
OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NESTE essencial à sadia qualidade de vida, conforme preconiza a carta
CONTEXTO magna brasileira. Como parte dos mecanismos de negociação social
em que o Estado lança mão para mediação desses interesses, tem-se a
O licenciamento ambiental no Brasil, em relação aos seus exigência de Projetos de Educação Ambiental enquanto medida
aspectos teóricos e metodológicos, encontra-se ancorado na mitigadora e/ou compensatória definidas no licenciamento ambiental
Avaliação de Impacto Ambiental – AIA (SANCHEZ2006; 1995). de atividades potencialmente poluidoras, conforme preconizado pela
Segundo este autor, a AIA pode ser compreendida como o
procedimento que envolve um conjunto de etapas destinadas a 2
Para Sanchez (1995) a Avaliação de Impacto Ambiental enquanto procedimento é definida
determinar a viabilidade ambiental de um projeto, buscando fornecer como AIA-procedimento. No Brasil, a AIA-procedimento é o licenciamento ambiental
propriamente dito e a AIA-instrumento, o Estudo de Impacto Ambiental em que há uma
subsídios à tomada de decisão regulatória sobre sua implementação. metodologia específica para análise dos impactos gerados por um determinado projeto.
3
Tais etapas incluem a elaboração de Estudos Ambientais, Consultas Diversas outras Leis e Resoluções CONAMA´s orientam questões relacionadas ao
Públicas, Análise Técnica dos Estudos, a Tomada de Decisão e o licenciamento ambiental de empreendimentos específicos. No licenciamento ambiental das
atividades marítimas de exploração e produção de petróleo, por exemplo, complementam este
arcabouço a Lei 9.966/2000 que dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da
poluição causada por lançamento de óleo e as CONAMA´s 23/1994 e 350/2004 que
apresentam especificidades em relação ao licenciamento das etapas de perfuração e produção e
de pesquisa sísmica marítima, respectivamente.

AMBIENTE & EDUCAÇÃO | vol. 17(1) | 2012 75 76 Tatiana Walter e Lucia de Fátima Socoowski de Anello
Política Nacional de Educação Ambiental (Leis nos 9.795/1999 e Posto isso, o autor destaca a necessidade em diferenciar dois
4.281/2002). momentos da aplicação deste princípio: o da exigência de
Ao nos reportarmos aos conceitos de mitigação e investimento na prevenção do uso do recurso natural daquele de
compensação existentes no licenciamento ambiental é necessário, responsabilização residual ou integral do poluidor.
contudo, compreendermos o princípio do usuário-pagador e do Podemos afirmar que as medidas mitigadoras e
pagador-poluidor, parte dos pilares do Direito Ambiental Brasileiro. compensatórias são exigências de investimento na prevenção do uso
Para definição do princípio usuário-pagador temos que: do meio ambiente, enquanto a indenização destina-se a
responsabilização residual ou integral do poluidor. Estas três medidas
Em matéria de proteção do meio ambiente, o princípio usuário- são presentes no licenciamento ambiental: as duas primeiras são
pagador significa que o utilizador do recurso deve suportar o conjunto definidas como parte dos projetos ambientais exigidos – cujas
dos custos destinados a tornar possível a utilização do recurso e os características iremos detalhar de forma mais aprofundada - e; a
custos advindos de sua própria utilização. Este princípio tem por indenização é tratada de forma específica, a exemplo da indenização
objetivo fazer com que estes custos não sejam suportados nem pelos
por danos aos equipamentos de pesca, quando o tráfego de
Poderes Públicos, nem por terceiros, mas pelo utilizador. De outro
lado, o princípio não justifica a imposição de taxas que tenham por embarcações de apoio aos empreendimentos de petróleo e/ou a rotina
efeito aumentar o preço do recurso ao ponto de ultrapassar seu custo de operação destes danifica-os. Neste caso, a indenização é realizada
real, após levarem-se em conta as externalidades e a raridade. por meio do ressarcimento do equipamento, depois de ocorrido o
(SMETS, 1998 apud MACHADO, 2010: 70-71). dano, ainda que sua exigência (de indenizar) esteja definida
previamente no licenciamento ambiental.
Associa-se ao princípio usuário-pagador o princípio pagador- A exigência de medidas mitigadoras e compensatórias como
poluidor. Sua aplicação obriga o poluidor a pagar pela poluição que parte do licenciamento ambiental, é prevista na Resolução
pode vir a ocorrer ou que já ocorreu devido à sua prática. CONAMA 01/1986. A Nota Técnica CGPEG/DILIC/IBAMA
Não obstante, o uso dos recursos naturais tem representado um 001/2010, que detalha os procedimentos e diretrizes para
enriquecimento ilegítimo do usuário, pois a comunidade que não usa implementação de projetos de educação ambiental no licenciamento
o recurso ou utiliza-o em menor escala torna-se onerada. Ou seja, ao da atividade de petróleo apresenta definições específicas para cada
se apropriar do meio ambiente ou de um recurso natural – seja como uma delas. Medidas mitigadoras “são o conjunto de procedimentos
matéria-prima ou como receptor de poluentes – este deixa de ser um metodológicos capazes de minimizar e/ou evitar: i) os efeitos difusos
bem comum, sendo objeto de apropriação privada. Ademais, o dos impactos negativos da atividade licenciada; ii) o agravamento de
princípio pagador-poluidor: impactos identificados e; iii) a ocorrência de novos impactos”.
Medidas compensatórias, por outro lado, objetivam
(...) não é uma punição, pois mesmo existindo qualquer ilicitude no contrabalancear uma perda ou um inconveniente atual ou futuro, ou
comportamento do pagador ele pode ser implementado. Assim, para seja, destina-se a compensar impactos não mitigáveis. Segundo
tornar obrigatório o pagamento pelo uso do recurso ou pela sua Bechara (2007) apud Machado (2010: 73):
poluição não há necessidade de ser provado que o usuário e o
poluidor estão cometendo faltas ou infrações. O órgão que pretenda A compensação não é um presente que se dá a alguém, pois se
receber o pagamento deve provar o efetivo uso do recurso ambiental compensa por algo que representa um desequilíbrio, isto é, tenta-se o
ou sua poluição. A existência de autorização administrativa para restabelecimento do equilíbrio. O dever de compensar só nasce se for
poluir, segundo as normas de emissão regularmente fixadas, não possível imputar a alguém a possibilidade de causar um dano social
isenta o poluidor de pagar pela poluição por ele efetuada. ou ambientalmente reprovável ou nocivo.
(MACHADO, 2010: 72).

AMBIENTE & EDUCAÇÃO | vol. 17(1) | 2012 77 78 Tatiana Walter e Lucia de Fátima Socoowski de Anello
Ao discorrer sobre a compensação ambiental, prevista na Lei cotidiano de determinado grupo social” (IBAMA, 2010).
9.985/2000, Machado (2010) reporta que o ato de compensar Ou seja, enquanto medida mitigadora, a ação de Educação
aparenta uma transação, uma troca. Tal ato traz em si um risco e, Ambiental deve ser capaz de constituir sujeitos capazes de
portanto, precisa ser praticado com inequívoca moralidade estabelecer processos sociais para minimizar impactos gerados por
administrativa e ampla publicidade, levando-se em conta o princípio um empreendimento. Seu papel central é gerar autonomia a tais
da precaução4. grupos, como sujeitos coletivos, socializar conhecimento e promover
O autor destaca, também, a necessidade da compensação ser o controle social. Trata-se de organizar o processo pedagógico de
justa e suficiente para todas as partes envolvidas. E, antes de forma que os atores sociais se apropriem sobre sua realidade e
questionar se os danos são compensáveis, é necessário questionar se participem dos processos decisórios que intervêm sobre suas vidas,
eles são admissíveis diante do direito de todos à sadia qualidade de bem como, exerçam o papel de controle social sobre o Estado.
vida e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado conforme a Enquanto medida compensatória, a Educação Ambiental
Constituição Federal estabelece. Ou seja, danos inadmissíveis não contribui para a constituição de uma medida compensatória justa, em
podem, sob qualquer hipótese, serem considerados compensáveis que os atores sociais a partir da análise crítica sobre sua realidade e
(MACHADO, Op. cit.). Por último, o autor destaca: da compreensão dos impactos gerados por um dado empreendimento
sejam capazes definir uma ação que resulte no seu fortalecimento.
Há pelo menos dois momentos em que se poderá implantar a Em ambos os casos, as medidas possuem a perspectiva de
compensação: antes da ocorrência de um dano ambiental e depois da operacionalizar projetos que:
causação do dano ambiental. No primeiro momento, para que o
órgão público possa autorizar e/ou admitir a compensação é preciso atuam fundamentalmente na gestão dos conflitos e de usos
que se avalie a natureza do possível dano ambiental e as medidas distributivos ocasionados por empreendimentos, objetivando
compensatórias propostas, através do Estudo Prévio de Impacto garantir: (1) a apropriação pública de informações pertinentes; (2) a
Ambiental. Finalizando a fase anterior, chega-se à avaliação sobre a produção de conhecimentos que permitam o posicionamento
viabilidade ecológica da compensação. (MACHADO, 2010: 74) responsável e qualificado dos agentes sociais envolvidos; (3) a ampla
participação e mobilização dos grupos afetados em todas as etapas
Novamente, é neste primeiro momento que cabe a Educação do licenciamento e suas instâncias públicas decisórias. (LOUREIRO,
Ambiental como medida compensatória: como parte dos Estudos de 2009: 21)
Impacto Ambiental – em que se verifica que parte dos impactos
negativos sobre os grupos sociais não são mitigáveis. Mas os 3 COMPREENDENDO OS OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO
mesmos necessitam ser pontual ou reversível o que lhes caracteriza AMBIENTAL NO LICENCIAMENTO. A IMPORTÂNCIA DOS
como compensáveis. SEUS PRECEITOS NA DEFINIÇÃO DOS SUJEITOS DA
A contribuição da Educação Ambiental, neste caso, difere do AÇÃO EDUCATIVA.
seu papel enquanto medida mitigadora, pois ela torna-se “um
conjunto de procedimentos metodológicos balizadores do As bases teóricas que fundamentam a Educação Ambiental no
financiamento de ações compensatórias de caráter coletivo por parte Licenciamento expõem que, no momento em que o Estado autoriza
da empresa licenciada quando, diante de um impacto inevitável, for uma atividade potencialmente poluidora, os impactos e riscos desta
identificada a interferência sobre a atividade econômica e/ou o recaem sobre a sociedade de forma diferenciada (QUINTAS et al.,
2006). Ou seja, estes são distribuídos de forma assimétrica tanto
4 geograficamente como socialmente, recaindo sobre grupos distintos
Este princípio tem por objetivo a obrigatoriedade em prevenir ou evitar o dano ambiental
quando o mesmo não pode ser detectado antecipadamente (MACHADO, 2010). os benefícios da presença daquela atividade econômica – que podem

AMBIENTE & EDUCAÇÃO | vol. 17(1) | 2012 79 80 Tatiana Walter e Lucia de Fátima Socoowski de Anello
ser exemplificados pelo fornecimento de produtos e/ou geração de condição de existência coletiva própria a sociedades desiguais onde
trabalho e renda– e dos prejuízos, do “ônus” – caracterizados pela operam mecanismos sociopolíticos que destinam a maior carga dos
poluição, risco de acidentes e apropriação privada de um espaço danos ambientais do desenvolvimento a grupos sociais de
comum. Situação esta que demanda esforços adicionais por parte do trabalhadores, populações de baixa renda, segmentos raciais
discriminados, parcelas marginalizadas e mais vulneráveis da
Estado para assegurar àqueles grupos que são detentores do “ônus” o
cidadania. (ACSELRAD et al., 2004: 9-10)
acesso ao meio ambiente equilibrado e sadio (QUINTAS 2009). A
Educação Ambiental concebida no âmbito do licenciamento
A mediação promovida pela gestão ambiental pública, por
ambiental volta-se aos grupos sociais sobre os quais recai o ônus dos
meio do licenciamento ambiental, deve ser conduzida na perspectiva
empreendimentos, considerados os mais vulneráveis aos riscos e
de promover a justiça ambiental, estando focada naqueles grupos que
impactos gerados pela presença da atividade licenciada.
na prática sofrem as injustiças sociais oriundas do modelo de
A vulnerabilidade ambiental expressa pelo IBAMA em seus
desenvolvimento vigente e, consequentemente, sofrem as injustiças
documentos, em especial nas diretrizes que norteiam a Educação
ambientais.
Ambiental no Licenciamento (QUINTAS et al., Op. cit.), pode ser
Um dos gargalos observados na operacionalização dos
compreendida, neste contexto, por um conjunto de características que
projetos de Educação Ambiental, seja quando de sua exigência como
geram pré-disposição de um determinado grupo social aos impactos
medida mitigadora ou como compensatória, está na compreensão de
e riscos da realização de uma atividade poluidora e que são objeto da
quem são os grupos sociais vulneráveis àquele empreendimento e,
Avaliação de Impacto Ambiental. A vulnerabilidade ambiental ainda
consequentemente, quem são os sujeitos da ação educativa
que seja consequência do risco, é um conceito relacional, ou seja,
participantes do projeto. Este conceito foca assim, não nos grupos
depende das relações dos atores sociais com o ambiente em um
sociais impactados ou afetados pelos empreendimentos, mas dentre
determinado território (ACSELRAD, 2006a).
aqueles impactados/afetados, quais são os mais vulneráveis, e por
Podemos afirmar que o conceito de vulnerabilidade se articula
isso devem ser sujeitos dos projetos de Educação Ambiental.
ao de justiça ambiental uma vez que as gigantescas injustiças sociais
Fazendo uso da produção teórica em torno do debate sobre
no Brasil encobrem e naturalizam um conjunto de situações
Justiça Ambiental no Brasil (ACSELRAD et al., Op. cit.) e
caracterizadas pela desigual distribuição de poder sobre a base
articulando-a aos princípios constitucionais em torno do meio
material da vida social e do desenvolvimento. A injustiça e a
ambiente, podemos inferir que a maior pré-disposição de um
discriminação, portanto, aparecem na apropriação elitista do
determinado grupo social aos riscos e impactos gerados por uma
território e dos recursos naturais, na concentração dos benefícios
atividade poluidora – no contexto do licenciamento ambiental – é
usufruídos do meio ambiente e na exposição desigual da população à
consequência de três fatores: i) da maior dependência de
poluição e aos custos ambientais do desenvolvimento (ACSELRAD
determinados grupos ao meio ambiente íntegro e do acesso a
et al., 2004).
determinados territórios para sua reprodução social, o que
Ou seja, quando discorremos sobre o conceito de
consequentemente explicita maior preocupação em torno das
vulnerabilidade na gestão ambiental devemos ter em mente quais são
populações tradicionais; ii) da condição de destituição experimentada
os grupos que recaem os efeitos do modelo de desenvolvimento
por populações periféricas: baixa renda, insuficiência no acesso aos
preconizado no país. O conceito de justiça ambiental reporta que:
serviços públicos, entre outros; iii) do alijamento político de
determinados grupos sociais que historicamente não conseguem
nenhum grupo de pessoas, sejam grupos étnicos, raciais ou de classe,
suporte uma parcela desproporcional de degradação do espaço influenciar os processos decisórios relacionados à sua própria
coletivo. Complementarmente, entende-se por injustiça ambiental a manutenção, ou seja, que possuem pouca capacidade de definir sua

AMBIENTE & EDUCAÇÃO | vol. 17(1) | 2012 81 82 Tatiana Walter e Lucia de Fátima Socoowski de Anello
agenda junto aos agentes públicos e/ou econômicos. Característica Contudo, como debateremos adiante, a compreensão sobre os
essa comumente presentes nos grupos anteriores5. impactos gerados pela atividade petrolífera e sobre a vulnerabilidade
Consequentemente, ao formular Estudos de Impacto dos grupos sociais afetados, exemplificados neste texto pelos
Ambiental, os técnicos envolvidos devem diagnosticar a realidade pescadores artesanais, permitem a formulação de projetos focados
social e analisar os impactos a luz desses três fatores. Ao em contrapor o modelo de desenvolvimento vigente, que atua em
compreender esta dinâmica, poderemos previamente identificar quais uma perspectiva de expropriação das comunidades locais e de
grupos sociais são os mais vulneráveis aos impactos e riscos de um promoção da simetria entre as relações. É importante salientar que a
dado empreendimento, e defini-los como sujeitos da ação educativa. mitigação/compensação não é um produto, mas um processo que se
Nesta perspectiva, faz-se necessário conceber Estudos de Impacto conforma e se estabelece de acordo com o movimento dos atores
Ambiental que contemplem diagnósticos analíticos e não descritivos sociais. Nesse movimento que o processo educativo se estabelece
e fazer uso de formulações teóricas capazes de compreender as
relações de dependência ao ambiente em um dado território, bem 4.1 Caracterização dos impactos da atividade de petróleo sobre a
como, àqueles que se encontram alijados do processo de tomada de pesca artesanal
decisão e sofrem as consequências do modelo de desenvolvimento
urbano, cujos equipamentos públicos concentram-se nas mãos de A atividade de exploração e produção de petróleo e gás – E&P,
uma elite dominante. de maneira análoga às demais atividades de mineração, é instalada
exclusivamente a partir da existência de um recurso natural: o
4 OS IMPACTOS DA ATIVIDADE DE PETRÓLEO NA PESCA petróleo. Consequentemente, a existência de atributos locais –
ARTESANAL E A APLICAÇÃO DOS ENUNCIADOS oriundos de relações sociais, culturais, ambientais, de infraestrutura
DESCRITOS ANTERIORMENTE prévia e de capacidade de articulação política – importantes na
definição técnica e política sobre a localização de empreendimentos
Para uma maior compreensão sobre a operacionalização da de qualquer outra natureza, não interferem na definição de onde a
Educação Ambiental enquanto medida mitigadora e/ou indústria de petróleo se instalará.
compensatória analisaremos sua formulação no contexto dos Em adição, o petróleo é um recurso não renovável, altamente
empreendimentos de petróleo, em especial, na perspectiva de estratégico e sua exploração envolve o domínio de tecnologia de
mediação dos conflitos relacionados à pesca artesanal. ponta. As corporações que operam no setor atuam de modo
Buscamos aqui exemplificar a aplicação da Educação globalizado, organizando o espaço de maneira seletiva. As áreas
Ambiental na prática do licenciamento, sem perder de vista a produtoras funcionam como campos de fluxos, onde se articulam
necessidade do conjunto de medidas que envolvem o licenciamento sofisticadas redes de unidades industriais, portos, dutos, aeroportos,
ambiental e a gestão ambiental pública na regulação e na mediação bens, pessoas e informações. Não são, portanto, empreendimentos
dos interesses em torno do meio ambiente, bem como, das limitações voltados à promoção do desenvolvimento regional6 (PIQUET, 2007).
do licenciamento no contexto do desenvolvimento sustentável e na É fato notório que o petróleo é um produto tão estratégico para as
promoção da justiça ambiental. sociedades atuais que questões macroeconômicas e geopolíticas são
centrais ao seu desenvolvimento, de tal forma que a atividade de
5
ACSELRAD (2006b) faz uma análise sobre a distribuição do risco, oriundo da destinação de
6
lixo tóxico no Estado do Rio de Janeiro arguindo sobre a maior vulnerabilidade deve-se as Para as autoras, o desenvolvimento regional contém dimensões sociais de bem-estar, de
condições de destituição experimentadas pelas populações periféricas: baixa renda, sustentabilidade ambiental, de participação local e de defesa da identidade cultural, enfoques
insuficiência no acesso a serviços públicos e à infraestrutura, assim como reduzida capacidade estes capazes de fundamentar políticas de desenvolvimento local, o que não é o caso da
de influência sobre o poder regulatório e fiscalizatório. indústria do petróleo.

AMBIENTE & EDUCAÇÃO | vol. 17(1) | 2012 83 84 Tatiana Walter e Lucia de Fátima Socoowski de Anello
E&P está muito mais vinculada às esferas nacional e internacional do territorial. De fato, tais regras não se pautam de forma prioritária nos
que articulada à esfera local e regional. Não se trata de algo trivial, impactos da E&P sobre o território e menos ainda numa política de
portanto, a avaliação dos impactos destes empreendimentos. promoção de justiça intergeracional8. Para Serra (Op. cit.), estes
Segundo Piquet (Op. cit.), apesar da escassa literatura sobre os deveriam ser os dois principais critérios para definição das regras de
impactos locais do petróleo no Brasil, a indústria de E&P contém rateio entre os municípios e entre as esferas subnacionais e nacional.
fortes efeitos de encadeamento que podem deflagrar processos de Seus argumentos partem dos efeitos da indústria no território
mudanças estruturais, uma vez que o petróleo constitui uma fonte associados ao fato do petróleo ser um recurso finito. Desta forma, as
privilegiada de recursos naturais capaz de fornecer divisas, energia e receitas oriundas da atividade deveriam minimizar seus impactos,
insumos a partir dos quais é possível pautar o processo de diversificar a base econômica das localidades que dependem da
industrialização7. atividade de E&P e buscar fontes de energia alternativas, com vistas
A instalação da indústria petrolífera apresenta efeitos, em a diminuir a dependência das sociedades atual e futuras sobre esse
relação ao uso e ocupação do território, análogos a outros projetos de recurso, o que não tem ocorrido.
desenvolvimento econômico: i) aumento das taxas de migração, em Estudos organizados por Serra & Piquet (2007) evidenciam
virtude da expectativa de emprego; ii) rápido processo de que a destinação das participações governamentais às unidades
urbanização e sobrecarga da infraestrutura coletiva; iii) mudanças no municipais, com poucas exceções, não tem sido suficiente para
quadro político, uma vez que a atividade está mais voltada à esfera diminuir os impactos da indústria do petróleo especialmente naqueles
federal do que à esfera de poderes local e regional; iv) mudanças municípios cujas regiões estão inseridas em áreas com concentração
culturais considerando a entrada expressiva de novos agentes de pobreza.
oriundos de outras regiões do Brasil e de outros países e; v) Apesar da ausência de referências na literatura sobre os
degradação ambiental e poluição (PIQUET, 2007). Em geral, esses impactos das transformações no uso e na ocupação do território
efeitos têm sido desfavoráveis às populações locais, sendo as oriundas da instalação da indústria petrolífera em comunidades
mesmas excluídas dos benefícios econômicos trazidos pelo novo pesqueiras, podemos inferir que estas estão inseridas no contexto
ciclo de desenvolvimento e as mais vulneráveis aos seus efeitos. acima descrito e enquanto população local encontra-se à margem do
No entanto, a atividade do petróleo possui uma especificidade novo ciclo econômico vivenciado. Entretanto, além das
em relação à maioria das atividades econômicas, cujos efeitos são tão transformações em terra, a atividade de petróleo faz uso do espaço
ou mais importantes que aqueles anteriormente descritos: a marítimo influenciando também na rotina das pescarias e na
destinação de recursos financeiros aos governos municipais, estadual dinâmica dos ecossistemas em que a pesca se insere. Para Walter et
e federal de parte das receitas geradas pela indústria a título de al. (2004); Walter & Mendonça, (2007) e Serrão et al. (2009), os
royalties e participação especial, denominadas de participações pescadores artesanais constituem o grupo social mais vulnerável à
governamentais. Serra (2007) observa que a concentração das jazidas atividade de petróleo devido ao encadeamento dos impactos em terra
associadas às regras de rateio dos recursos das participações e em mar, aos quais estão igualmente sujeitos.
governamentais no Brasil resulta em um forte determinismo
8
Os critérios definidos pela legislação pautam-se principalmente na proximidade geográfica do
campo petrolífero, ainda que a presença de infraestrutura de apoio à atividade de petróleo seja
7
A autora defende que, a depender da situação, a atividade pode permanecer como mero enclave considerada. No caso da atividade de produção marítima, o descolamento entre os efeitos da
ao país em que se localize. O potencial de benefícios ou malefícios que pode ser gerado será atividade em terra e os municípios beneficiários das participações governamentais é ainda
função do grau de desenvolvimento das forças produtivas do país, da importância atribuída às maior em virtude da metodologia elaborada pelo IBGE para o cálculo do rateio fazer uma
estratégias de saída do subdesenvolvimento e do contexto político nacional e internacional. projeção dos municípios costeiros na plataforma continental, por meio de linhas paralelas e
Entretanto, para o Brasil, a atividade de petróleo de maneira alguma é um enclave, uma vez que o ortogonais. Tal método resulta na destinação de recursos a municípios que não possuem
país domina várias etapas da cadeia e a atividade é realizada de forma estratégica. nenhuma interface com a atividade de petróleo (Gutman, 2007).

AMBIENTE & EDUCAÇÃO | vol. 17(1) | 2012 85 86 Tatiana Walter e Lucia de Fátima Socoowski de Anello
No caso da exploração de petróleo – pesquisa sísmica e importância econômica à pesca. Os impactos da pesquisa sísmica
perfuração – a restrição de acesso à navegação e aos pesqueiros é o sobre os peixes e sobre a atividade pesqueira foram reportados em
impacto mais evidente sobre as pescarias artesanais. trabalhos científicos, cuja revisão bibliográfica encontra-se em
Na atividade de pesquisa sísmica marítima, o navio sísmico Vilardo (2007). As principais conclusões desse autor denotam que há
navega lentamente, de forma que o conjunto navio sísmico/cabos falta de consenso entre os cientistas sobre os reais efeitos da pesquisa
interdita o acesso a uma área que chega facilmente a 8 km2. sísmica na fauna marinha, ainda que seja improvável a ocorrência de
Obviamente, a área de interdição é maior do que a área do arranjo de danos severos ou mortalidade de animais durante as operações
cabos, pois quaisquer outras atividades que estejam sendo realizadas normais do navio. Algumas respostas comportamentais são
na rota do navio são interrompidas antes do navio chegar, por evidenciadas por meio de experimentos, de forma que a alterações no
questões de segurança à navegação. Como as atividades também não comportamento das espécies pode diminuir ou aumentar sua
retornam imediatamente após a passagem do navio, há uma área de vulnerabilidade aos equipamentos de pesca, resultando também em
restrição efetiva bem maior do que as dimensões do arranjo mudanças temporárias nos rendimentos das pescarias. A despeito
(VILARDO, 2007). dessas incertezas, a percepção dos pescadores do mundo todo é de
Constata-se assim que a pesquisa sísmica requer uma que a pesquisa sísmica resulta em efeitos negativos sobre as
apropriação do espaço marítimo criando uma área de exclusão pescarias (VILARDO, Op. Cit.).
temporária em relação a qualquer outra atividade humana, sendo a Em relação à perfuração, alguns impactos estão associados à
pesca artesanal a atividade mais afetada dada sua baixa autonomia integridade ambiental, ou seja, aos efeitos da atividade em espécies
em termos de navegação e a presença de padrões definidos de de importância econômica para a atividade pesqueira. Diversos são
territorialidade nas pescarias. os aspectos da atividade que potencialmente geram impactos ao
Na atividade de perfuração, a exclusão ocorre principalmente ambiente, dentre eles: descarte de efluentes, descarte de cascalho,
em um raio de 500 metros no entorno da plataforma, definida em luminosidade da plataforma, efeito-atrator da mesma. Na medida em
normas de segurança, em virtude das operações de apoio à atividade. que afetam o meio ambiente, podem afetar a atividade pesqueira
Entretanto, seu efeito pode ser potencializado em regiões onde (IBAMA, 2007).
ocorrem pescarias que fazem uso de instrumentos de deriva. Nesses A etapa de instalação do sistema de produção e escoamento de
casos é necessário dimensionar a real restrição a partir de aspectos petróleo gera impactos específicos à atividade pesqueira, distintos
relacionados à direção e intensidade das correntes marítimas e tanto da etapa de exploração como do momento em que o sistema
variações de maré (IBAMA, 2007). encontra-se em funcionamento. Especialmente quando a plataforma é
Um segundo impacto sobre a pesca artesanal a ser instalada próxima à costa ou há instalação de dutos para o
considerado deve-se ao aumento do tráfego de embarcações no escoamento da produção. Tal etapa faz uso de um conjunto de
caso da perfuração, e da presença da embarcação sísmica em si. A maquinários e embarcações de apoio que geram transtornos aos
depender da região, as embarcações pesqueiras possuem propulsão pescadores, que além da restrição de acesso ficam sujeitos a
a vela ou a remo e não se encontram equipadas com instrumentos alterações na dinâmica das pescarias em virtude da suspensão de
de comunicação e navegação, o que aumenta em muito sua sedimentos do fundo marinho. As atividades de instalação do duto
vulnerabilidade à atividade de exploração devido à possibilidade na área de transição mar-costa requerem maior cuidado, em virtude
de riscos de colisão e de danos aos aparelhos de pesca (IBAMA, de um número mais elevado de equipamentos e operários, além
Op. Cit). dessas áreas serem usadas intensamente pelos pescadores
Outro conjunto de impactos diz respeito aos efeitos da (SERRÃO et al., 2009).
atividade de exploração sobre o meio ambiente e sobre as espécies de Entretanto, os maiores efeitos sobre a atividade pesqueira

AMBIENTE & EDUCAÇÃO | vol. 17(1) | 2012 87 88 Tatiana Walter e Lucia de Fátima Socoowski de Anello
ocorrem na etapa de produção, sendo intensificados pelo maior define o delineamento de medidas mitigadoras e compensatórias
número de plataformas em operação associados à profundidade onde específicas, deve ser verificada não apenas por meio dos impactos
estão instaladas, ou seja, quando mais próximas à costa, maiores seus diretos à atividade, descritos acima, mas a luz daqueles fatores que
impactos negativos. As estruturas fixas, ao longo do tempo, alteram a consubstanciam para maior vulnerabilidade ambiental de
dinâmica do ecossistema adjacente, pois devido à presença de abrigo, determinado grupo social, em relação a outros, conforme descrito no
sombra e alimentos – oriundos da destinação de resíduos de comida item três.
ao mar – tornam-se atratores de peixes e outras espécies, formando Em primeiro, cabe destacar a importância da manutenção da
um “recife artificial”. Contudo, tais espécies não estão disponíveis à atividade de pesca artesanal no país, dado que a mesma é um
pesca uma vez que também existe uma restrição de navegação no patrimônio histórico (DIEGUES & ARRUDA, 2001) e contribui com
raio de 500 metros da plataforma imposta legalmente, como medida mais de 50% da produção de pescado, cujo abastecimento destina-se
de segurança. principalmente ao mercado interno. Posto isso, salientamos que os
Na Bacia de Campos, por exemplo, constata-se um aumento pescadores artesanais demandam um ambiente íntegro e o acesso
expressivo da captura de atuns e dourados nas adjacências das tanto às áreas de pesca como áreas em terra para sua reprodução
plataformas presentes em quantidade significativa e em águas social. A atividade petrolífera, em suas diversas etapas altera a
profundas. Situação tão marcante que uma nova modalidade de integridade ambiental, bem como, restringe o acesso dos pescadores
pescaria surgiu nas últimas décadas na região, reportada por Martins – de forma temporária ou permanente – a pesqueiros tradicionais.
& Doxsey (2006) como “pesca de plataforma”. Naqueles locais em que há aumento da infraestrutura de suporte a
Além dos riscos de colisão das embarcações na estrutura da atividade em terra, como em Macaé/RJ em que há toda uma
plataforma e da infração de uma restrição legal, as espécies infraestrutura portuária para atender à atividade de petróleo, perde-se
capturadas estão em áreas de alta concentração de metais, dado o também o acesso à praia, importante nas operações de desembarque
descarte da “água de produção”, resíduo oriundo da própria atividade do pescado e demais fainas associadas à pesca: manutenção de redes,
petrolífera. Apesar do controle sobre as concentrações máximas de de barcos, evisceração do pescado, etc.
metais, sua acumulação ao longo da cadeia trófica ainda é Consubstanciam-se a este fator outros dois, que consideramos
desconhecida. agravantes à condição de vulnerabilidade dos pescadores artesanais à
Não menos importante, o aumento significativo de atividade petrolífera e, até mesmo, a outros empreendimentos
embarcações de apoio à atividade de navios petroleiros contrastam instalados na zona costeira e marinha. O primeiro deles, de natureza
com as pequenas embarcações artesanais, aumentando riscos de jurídica, é o fato da zona costeira e marítima serem patrimônios da
colisões entre embarcações e de danos aos equipamentos de pesca. União. Argumentamos que enquanto bem da União, estes ambientes
Quão mais rústicas forem as pescarias e quão maior a estrutura da deveriam atender à coletividade e terem objetivos sociais9 e o fato de
atividade petrolífera, maiores são os contrastes e os efeitos gerados à serem patrimônios da União é um aspecto positivo da legislação
atividade pesqueira. brasileira. Entretanto, ao autorizar um determinado empreendimento
– a exemplo de uma plataforma de petróleo ou de um porto – há a
4.2 Análise sobre a maior vulnerabilidade dos pescadores apropriação privada daquele espaço, por um determinado agente
artesanais à atividade petrolífera e o delineamento dos projetos
de educação ambiental 9
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, estabelece que a Zona Costeira é
patrimônio nacional e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro das condições que
A análise sobre a maior vulnerabilidade dos pescadores assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. Já a
Lei do Gerenciamento Costeiro (Lei 7.661/81) estabelece a praia como bem público e de uso
artesanais quando da ocorrência das atividades petrolíferas, que comum do povo.

AMBIENTE & EDUCAÇÃO | vol. 17(1) | 2012 89 90 Tatiana Walter e Lucia de Fátima Socoowski de Anello
econômico, e a exclusão de outras atividades econômicas, a exemplo Somado a importância da integridade ambiental e do acesso ao
da pesca artesanal. Quão mais há intensidade da atividade petrolífera, território, destaca-se outro fator que resulta em uma maior
maior é a exclusão das demais atividades econômicas e dos grupos vulnerabilidade dos pescadores à atividade de petróleo: o histórico
sociais que dependem deste território para sua reprodução social. processo de alijamento político na participação das decisões em
Contudo, o fato dos pescadores artesanais historicamente fazerem torno de seu processo produtivo e do uso de seu território, o que tem
uso de bens comuns para sua reprodução social, tanto em terra como resultado em perdas econômicas, sociais e culturais. Aqui, é
em mar, não tem sido suficiente para definição de instrumentos relevante discorrermos sobre o processo histórico de organização
jurídicos e/ou administrativos capazes de indenizá-los ou de mantê- social destes atores, por meio da análise sobre o Sistema
los em seus espaços tradicionais. Confederado (Confederação, Federações e Colônias) criado pela
O segundo fator é consequência das formulações técnicas e Marinha de Guerra em 1919 e que culminou no modelo de
científicas em torno da gestão pesqueira historicamente focarem no representação vigente. Esta análise, elaborada pelo historiador Luiz
“recurso” e na “captura” e não no “território”, no ambiente como um Geraldo Silva permite-nos compreender a fragilidade organizativa
todo. Argumentamos que este enfoque resulta no predomínio de uma dos pescadores artesanais até os dias de hoje.
visão comum que considera que o pescador pode realizar sua Silva (2004) discorre sobre os objetivos da formação das
atividade em qualquer parte do espaço marítimo e que o mesmo Colônias, em gerar subsídios à defesa do território e à
possui os recursos pesqueiros distribuídos homogeneamente. Assim, mercantilização da pesca, e sua operacionalização, atribuindo
nos debates em torno dos impactos da atividade petrolífera sobre a àqueles que já exploravam os pescadores artesanais em seu cotidiano
pesca é presente à arguição que o impacto é insignificante, pois a em comandar as entidades criadas. Assim, a criação do Sistema
atividade em questão irá se apropriar de um espaço ínfimo quando Confederado visou, em primeira instância, uma reorganização do
comparado a toda área da bacia petrolífera. Ora, além da bacia modo de trabalho que culminassem em disciplina e atendesse a uma
petrolífera delimitar a bacia sedimentar e não a distribuição dos lógica de mercado, conforme destacado neste trecho:
recursos pesqueiros, a dinâmica das pescarias é fruto: i) da presença
do recurso alvo da pescaria em um dado ambiente o que se dá no Além deste caráter militar e consensual, as colônias também
espaço e no tempo; ii) do conhecimento dos pescadores sobre a revelaram características corporativistas e modernizadoras. Em
ocorrência daquela espécie naquele ambiente específico, em dado primeiro lugar, a modernização instituída através das colônias se
período do ano e/ou do dia; iii) e dos equipamentos de pesca em que refere ao fato de que se fazia necessário adestrar os pescadores numa
ética militar e numa nova ética do trabalho, posto que, por um lado,
ele dispõem, cujo tamanho da embarcação, sua forma de propulsão e
algum treinamento militar era imprescindível aos reservistas navais –
do petrecho de pesca geram a habilidade necessária para acessá-lo. e a criação dos grupos de “Escoteiros do Mar” é uma prova disto.
Em suma, nem mesmo a distribuição do recurso define a distribuição Por outro lado, tencionava-se destruir os modos de vida tradicionais
das pescarias, mas sua relação com o ambiente e com a capacidade antes descritos à medida que se fomentasse uma campanha pela
dos pescadores em acessá-lo, sendo esta uma consequência do industrialização da pesca no Brasil. Garantia-se, assim, e com poucos
conhecimento do pescador associado à tecnologia e aos recursos, a existência de uma mão de obra mais ou menos afeita às
equipamentos de pesca que dispõem10. lides marítimas para as empresas nascentes e de braços armados para
a Marinha de Guerra. (SILVA, 2004: 42)
10
Defendemos, portanto, uma abordagem territorial e a adoção de instrumentos jurídicos
capazes de garantir os espaços necessários aos pescadores artesanais se reproduzirem
Para tal, o sistema confederado contemplava uma organização
socialmente. Apesar de não ser objeto deste texto, este debate torna-se urgente, e deve em que os dirigentes eram definidos pela Marinha de Guerra. Neste
contemplar tanto os espaços acadêmicos, como ser objeto dos movimentos sociais dos processo, de articulação da demanda militar associado a um processo
pescadores e também, incorporado pela gestão pesqueira.

AMBIENTE & EDUCAÇÃO | vol. 17(1) | 2012 91 92 Tatiana Walter e Lucia de Fátima Socoowski de Anello
de mercantilização que busca inserir o pescado nas estratégias alguma, reverbera na vulnerabilidade deste grupo social e em sua
econômicas, tais dirigentes eram, em geral, comerciantes de peixe, capacidade de negociação e não pode ser ignorada quando da
militares, funcionários públicos. Ou seja, membros das classes mediação conduzida pelo licenciamento ambiental, tanto quanto, na
dirigentes que teriam benefícios com esta estrutura: formulação dos Projetos de Educação Ambiental.
Por último, e não menos relevante, reportamo-nos ao fato das
Em suma, num primeiro momento, a Marinha de Guerra constituiu comunidades pesqueiras concentram-se em áreas rurais, possuírem
os “órgãos de classe” dos pequenos pescadores cooptando baixa renda e conviverem com a insuficiência de serviços públicos
exatamente aqueles que os exploravam em seu cotidiano. Investidos ou concentrarem-se na periferia dos centros urbanos, cuja estrutura
do poder conferido pelas relações de dependência aí prevalecentes,
pública é ainda mais precária. Tais fatores contribuem ainda mais
os comissários de peixe podiam ordenar aos seus prepostos a filiação
à colônia e, ao mesmo tempo, manter sua posição superior na para sua vulnerabilidade.
comunidade através da agregação de uma nova forma de controle
sobre estes – a qual, ainda por cima, era institucionalizada e 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
oficializada pelo Estado Nacional. (SILVA, 2004: 44)
O conjunto de conceitos descritos, bem como, sua aplicação
Até 1973, a Marinha de Guerra e o Ministério da Agricultura molda a as ações de Educação Ambiental no Licenciamento.
alternaram a competência sobre o Sistema Confederado, não estando Conforme exposto em IBAMA (2005) e Quintas et al. (2006) deve: i)
claro qual era sua atribuição. Neste ano, por meio da Portaria 471, o estar orientada a um processo educativo crítico e emancipatório
Ministério da Agricultura definiu-o como uma organização de classe fundamentado na vulnerabilidade dos atores sociais; ii) objetivar o
(DIEGUES, 1995). Contudo, até 1988 quando promulgada a nova fortalecimento da gestão pública e assume a prerrogativa do Estado
Constituição Federal, o Presidente da Confederação era um cargo de em assegurar a qualidade ambiental necessária à reprodução social
confiança definido pelo Ministro da Agricultura. dos pescadores e também à manutenção da base da cadeia produtiva
No início da década de oitenta – em conjunto com diversos dos frutos do mar.
movimentos populares que lutavam por democracia em nosso país – Consequentemente, as medidas mitigadoras e compensatórias
surgiram movimentos de pescadores que objetivavam se apropriar do orientadas aos impactos gerados a este grupo social necessitam
Sistema Confederado e defini-lo como órgão representativo de consubstanciar o sujeito pescador, no contexto de suas relações
classe, a exemplo do Movimento da Constituinte da Pesca que, após produtivas, tendo-o como o cerne das ações educativas propostas e
1988 culminou no Movimento Nacional dos Pescadores - MONAPE estando as mesmas ancoradas em um processo crítico e
(SILVA, 2004) e, em 2009, constituiu o Movimento dos Pescadores e emancipatório.
Pescadoras Artesanais – MPP. Entretanto, existem ainda muitas
Colônias e Federações cujos representantes não são pescadores, cujo Nesse sentido, trabalhar Educação Ambiental com pescadores
sistema eleitoral é indireto e que faz uso desta estrutura para cooptar artesanais significa estar articulado com lutas sociais, com a
e se apropriar de direitos dos pescadores artesanais. expectativa da emergência de atores sociais, com a preservação e o
reconhecimento de processos reversíveis e outros irreversíveis e com
Para SILVA (2004), a fragilidade representativa do Sistema
as relações econômicas de forma crítica. Não penso em educação
Confederado não está no fato dele ter sido criado pelo Estado, mas reprodutora das formas de expropriação e exploração nem
dele incorporar na sua estrutura àqueles atores que exploram as mantenedora do status quo. Sendo assim, não é objetivamente viável
relações de trabalho dos pescadores. Ou seja, tem-se uma entidade aplicar uma educação comportamentalista, mas sim uma educação
representativa de classe, cujos dirigentes são exatamente àqueles que transformadora e libertadora. (PEREIRA, 2006: 144)
dominam às relações trabalhistas. Tal fragilidade, sem dúvida

AMBIENTE & EDUCAÇÃO | vol. 17(1) | 2012 93 94 Tatiana Walter e Lucia de Fátima Socoowski de Anello
Dessa forma, a articulação de ações destinadas à formação dos princípio e diretriz de execução. Rio Grande/RS, FURG, Programa de Pós-
sujeitos em espaços formais e informais, cerne da Educação Graduação em Educação Ambiental [Thesis], 173p, 2009.
Ambiental, com ações destinadas à estruturação da cadeia produtiva DIEGUES, A.C.S. Povos e Mares: Leituras em Sócio-Antropologia Marítima. São
Paulo, NUPAUB-USP, 269 p., 1995.
e de sustentabilidade de infraestruturas coletivas, foco da ação
compensatória, constituem-se estratégicas na emancipação dos _____ & ARRUDA, R. S. V. (orgs.). Saberes tradicionais e biodiversidade no
Brasil. Brasília: MMA; São Paulo: USP, 2001.
pescadores artesanais, dada a necessidade de conceber a
emancipação em suas dimensões econômica, política e social. GUTMAN, J. Participações governamentais: passado, presente e futuro. In:
PIQUET, R & SERRA, R. (Org.) Petróleo e Região no Brasil: O Desafio da
Abundância. Rio de Janeiro, Garamond, 35-75, 2007.
...os pescadores e pescadoras, através da Educação Ambiental, terão
oportunidade de apoderar-se das ferramentas, que lhes IBAMA. Orientações Pedagógicas do IBAMA para elaboração e implementação de
proporcionaram descortinar os mecanismos que movem a sociedade Projetos de Educação Ambiental no Licenciamento de Atividades de Produção e
Escoamento de Petróleo e Gás Natural. 17p, 2005.
capitalista, criando alternativas de mudança na busca da sustentação
desta categoria social. (PEREIRA, 2006: 145) _____ A Interferência das Atividades Marítimas de Exploração de Petróleo e Gás na
Pesca Artesanal: Exigências do Licenciamento Ambiental. Texto constante do Guia
para o Licenciamento Ambiental das Atividades de Sísmica, 2007.
Somente ao participar de processos decisórios sobre o seu
_____ Nota Técnica CGPEG/DILIC/IBAMA no 001/10. Programas de Educação
cotidiano, em especial aqueles que se relacionam à sua base Ambiental: Diretrizes para a elaboração, execução e divulgação dos programas de
produtiva, é que tornará possível que estes sujeitos vislumbrem a educação ambiental desenvolvidos regionalmente, nos processos de licenciamento
participação nos demais processos que permeiam a manutenção de ambiental dos empreendimentos marítimos de exploração e produção de petróleo e
sua reprodução social, a exemplo da degradação ambiental, da gás. 35p, 2010.
disputa por recursos e pelo território, do planejamento territorial e do LOUREIRO, C.F.B. Educação Ambiental no Contexto de Medidas Mitigadoras e
controle social sobre o Estado. Ao alçar estes espaços, os pescadores Compensatórias de Impactos Ambientais: A Perspectiva do Licenciamento. Centro
de Recursos Ambientais – CRA – BA, Série Educação Ambiental, Vol.5, 2009.
estarão menos vulneráveis aos impactos e riscos dos
empreendimentos petrolíferos e a gestão ambiental pública terá MACHADO, P.A.L. Direito ambiental brasileiro. 18ª Ed atualizada São Paulo:
Editora Malheiros 2010
cumprido seu papel enquanto mediador de conflitos.
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AMBIENTE & EDUCAÇÃO | vol. 17(1) | 2012 97 98 Tatiana Walter e Lucia de Fátima Socoowski de Anello
168
Panorama das
Áreas Especialmente Protegidas

Antônio Luiz Lima de Queiroz

169
170
171
172
173
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191
192
193
194
Política Nacional de
Mudanças Climáticas

Jussara Lima Carvalho

195
196
197
198
199
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201
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203
204
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207
208
209
210
211
212
213
214
Política Nacional de
Resíduos Sólidos

Flávio de Miranda Ribeiro

215
216
217
218
219
220
221
222
223
224
225
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227
228
229
230
231
232
233
234
235
236
Anexo

237
238
N
O
AMARO, Aurélio Bandeira & VERDUM, Roberto (orgs.)

PR
E
Política Nacional de Resíduos Sólidos e suas Interfaces com o espaço geográfico:

LO
entre conquistas e desafios. Porto Alegre: Editora Letra1, 2016, p. 101-117
DOI: 10.21826/9788563800237

Capítulo 9
Implantação da logística reversa: a primeira fase da
experiência piloto do estado de São Paulo
Flávio de Miranda Ribeiro

Introdução que exigências de LR foram definidas de forma


ampla, tornando-se parte das responsabilidades a
Embora bastante novo no Brasil, o conceito serem compartilhadas entre os atores das cadeias
de “logística reversa” (LR) já é adotado há mais de produção e consumo – desde o consumidor
de trinta anos em alguns países, principalmente até o fabricante ou importador, passando pelo
da Europa, no âmbito da “responsabilidade município, comércio e distribuidores.
estendida do produtor” (ou extended-producer A implantação da LR na prática, porém,
responsibility – EPR). É por meio dos sistemas enfrenta diversos desafios. Se, por um lado, ela
de EPR que se viabiliza, física e financeiramente, traz a possibilidade de um salto na gestão dos
a coleta, a triagem e a destinação adequada (ao resíduos, permitindo uma verdadeira “revolução”
reuso, reciclagem ou disposição final) de diversos no que se entende por “coleta seletiva”, por outro,
resíduos gerados após o consumo de produtos – traz a necessidade de profundas alterações nas
das embalagens em geral ao óleo lubrificante, das relações econômicas entre os atores (RIBEIRO,
lâmpadas fluorescentes às pilhas, dentre várias 2014b).
outras categorias (RIBEIRO, 2014a). É nesse contexto que se insere o estudo de caso
Na maioria das nações onde os sistemas de EPR apresentado neste capítulo, referente à experiência
já são amplamente adotados, estes interagem com do Estado de São Paulo no início da implantação
os sistemas municipais, apoiando o poder público da LR. Tendo como base estudos anteriores
(Ribeiro, 2012b, 2014b; Ribeiro e Kruglianskas,
local e oferecendo alternativas adequadas de
2013, 2015), descreve-se a primeira fase desta
descarte à população. É com base em sua operação
iniciativa, que teve como principal objetivo gerar
que se atinge um elevado índice de reciclagem em
conhecimento sobre as dificuldades e desafios
muitos países, e embora as regras de sua operação
da LR no país, a partir do acompanhamento
ainda sejam objeto de ajuste, seu sucesso como
de sistemas em escala piloto (embora alguns
estratégia e sua importância como instrumento na
sistemas já ultrapassem esta dimensão). Usando
gestão dos resíduos em muitos locais são inegáveis.
o instrumento do Termo de Compromisso, previsto
No caso brasileiro, a LR tem sido discutida
na PNRS, e partindo do diálogo com a indústria,
como possibilidade há mais de 30 anos (RIBEIRO,
foram estabelecidos treze sistemas de LR, cujo
2012a). Para alguns produtos e embalagens1, regras
acompanhamento entre 2012 e 2014 permitiu
federais foram gradualmente estabelecidas ao
consolidar recomendações para a segunda fase,
longo do tempo, mas foi apenas com a promulgação
de ampliação gradual da iniciativa para todo o
da Lei 12.300/2010, que institui a Política Nacional
universo de empresas no Estado, iniciado no
de Resíduos Sólidos – PNRS (BRASIL, 2010a),
primeiro semestre de 2015.
1 Embalagens de agrotóxicos, pneus, óleo lubrificante, baterias
automotivas e pilhas e baterias portáteis.

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Flávio de Miranda Ribeiro

Conceitos básicos comércio e distribuidores, podem e devem ser


incluídos em programas de logística reversa, mas
Antes de relatar a experiência do Estado de São a responsabilidade legal sobre os mesmos é dos
Paulo com a implementação da logística reversa, produtores, que, na maior parte dos casos, se
é fundamental apresentar o contexto legislativo organizam coletivamente e setorialmente para
que introduz sua obrigatoriedade no Brasil, bem implantar os sistemas (Ribeiro, 2014a).
como algumas definições e conceitos sobre os Na legislação brasileira, porém, os termos
diferentes tipos de responsabilidade estabelecidos utilizados são outros, principalmente:
pela legislação.
z Responsabilidade Compartilhada: termo
Definições iniciais estabelecido na PNRS, sendo um “conjunto
de atribuições individualizadas e encadeadas”
A logística reversa (LR) é definida em lei como de elementos de toda a cadeia para “minimizar
um: o volume de resíduos” e “reduzir os impactos
causados à saúde humana e à qualidade
Instrumento de desenvolvimento econômico e social ambiental decorrentes do ciclo de vida dos
caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos produtos” (BRASIL, 2010a); e
e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos
resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento,
z Responsabilidade Pós-Consumo (RPC):
em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra
destinação final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010, termo citado no Decreto que regulamenta
Art. 3). a Política Estadual de Resíduos Sólidos
(PERS) de São Paulo, o qual determina que
Na prática, isso significa coletar, separar e dar a fabricantes, distribuidores ou importadores
melhor destinação ambientalmente possível a cada de determinados produtos devem atender
fração dos resíduos pós-consumo. Importante a exigências dos órgãos ambientais quanto
destacar que isso não significa necessariamente aos resíduos gerados por seus produtos ou
retornar os resíduos pelos mesmos canais embalagens após o consumo.
logísticos, ou para as mesmas empresas – o que
na verdade quase nunca ocorre. Na maior parte dos Como se pode perceber, existem ligeiras
casos, os resíduos acabam sendo encaminhados diferenças entre os termos. Enquanto a RPC
para empresas de reciclagem, que recuperam se aproxima mais da EPR, a responsabilidade
os materiais constituintes destes para novo compartilhada diz respeito a muitos outros
aproveitamento produtivo. resíduos além daqueles pós-consumo. Por sua
Outros conceitos importantes dizem respeito vez, a LR consiste em um instrumento específico,
à responsabilidade legal que obriga empresas e que pode ser aplicado para dar cumprimento à
demais atores a realizar a LR. Na maior parte responsabilidade – seja RPC ou EPR –, mas
do mundo, isto é feito utilizando o conceito da estes vão muito além, incluindo, por exemplo,
“responsabilidade estendida do produtor” (EPR), ações preventivas à geração dos resíduos,
definida como “a abordagem da política ambiental como o ecodesign, que ultrapassam o discutido
na qual a responsabilidade, física ou financeira, neste capítulo. Considerando o foco das atuais
do produtor por seu produto é estendida ao iniciativas, e o contexto legal brasileiro, iremos
estágio pós-consumo de seu ciclo de vida” (OECD, neste texto nos ater ao uso do termo “logística
2001). Na prática, isso significa que o fabricante é reversa” (LR).
responsável por gerenciar os resíduos gerados pelo
uso e descarte dos seus produtos e embalagens.
Outros atores das cadeias produtivas, como

102 AMARO, Aurélio Bandeira &


VERDUM, Roberto (orgs.)

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Implantação da logística reversa:
a primeira fase da experiência piloto do estado de São Paulo

Motivadores da LR produção, substituindo matéria-prima virgem,


menos recursos naturais serão extraídos –
Existem, basicamente, quatro motivadores evitando não apenas a extração em si, mas todos
para a LR como estratégia na gestão de resíduos: os impactos ambientais do ciclo de vida daquele
melhorar fisicamente a gestão de resíduos; material.
transferir a responsabilidade da gestão, Por fim, outro motivador da LR é que exatamente
principalmente financeiramente, dos municípios pelos custos mais elevados de gerenciamento dos
ao setor privado; aumentar a eficiência no uso resíduos, pagos a princípio pelos fabricantes, haja
dos recursos naturais pela sociedade; e ampliar um estímulo financeiro para a redução da geração,
a oferta de produtos ambientalmente amigáveis dando margem a iniciativas de “ecodesign”, que
(RIBEIRO, 2014a). busquem melhores produtos e embalagens (de
Para o caso brasileiro, talvez o motivador maior vida útil, que usem menos embalagens etc).
mais importante seja a melhoria dos sistemas Em uma perspectiva de ciclo de vida, e em escalas
de gestão de resíduos. Aplicando a LR, podem-se crescentes, acredita-se que esse tipo de medida
estruturar sistemas eficientes de coleta, ampliando possa ter um efeito transformador em muitas
a quantidade de resíduos retornados para reuso, cadeias produtivas.
reciclagem ou mesmo destinação final adequada.
Adicionalmente, uma vez que muitos sistemas Contexto da Logística Reversa no Brasil
têm altos custos, seus responsáveis buscariam a
valorização dos resíduos, promovendo a melhor Muito embora a LR tenha sido introduzida
recuperação possível nas condições existentes, ou oficialmente como exigência na regulação
mesmo a melhoria destas. ambiental brasileira, apenas com a promulgação
Outra questão bastante significativa em nossa das novas políticas de resíduos sólidos, para
realidade é a redução dos gastos dos municípios alguns produtos específicos (embalagens vazias
com a gestão dos resíduos, em função da de agrotóxicos, pneus e óleo lubrificante usado
transferência da responsabilidade para o setor e contaminado) já existem regras anteriores
privado. A proposta da LR é que parte dos resíduos exigindo coleta e destinação. A apresentação
hoje coletados e destinados pelas prefeituras seja desses sistemas, sumarizada em Ribeiro (2014a),
gerenciada em sistemas separados. Neste caso, foge ao escopo deste capítulo, mas é importante
os responsáveis podem realizar fisicamente a destacar que esses foram contemplados logo no
coleta, estruturar uma entidade que assuma esta início da estratégia de São Paulo – tendo sido
responsabilidade, ou ainda estabelecer convênios acolhidos por Termos de Compromisso, visando
com os próprios municípios para que estes o façam não apenas reconhecê-los, mas principalmente
mediante a devida remuneração. Esta mudança servir de exemplo aos demais casos, demonstrando
representa a aplicação do “princípio do poluidor- a viabilidade de operação e trazendo importantes
pagador”, uma vez que os custos pagos pelas aprendizados.
empresas acabam sendo repassados de algum A regulamentação mais ampla da LR, como já
modo para quem adquire o produto, ao invés de comentado, surgiu com a PNRS em 2010. Conforme
ser incluído nos tributos municipais de forma não a opinião de Bouescheit (2010), a resistência de
proporcional ao consumo ou geração de resíduos. alguns setores à LR foi inclusive um dos principais
Um terceiro motivador da LR é a busca por motivadores da demora na aprovação da lei, cujo
uma maior eficiência no uso dos recursos naturais, texto promulgado acabou diferindo bastante das
como consequência direta do aumento das taxas versões iniciais da década de 1980. Não obstante,
de reuso e reciclagem. Neste caso, quanto mais considera-se que os conceitos de “responsabilidade
material for recuperado ao final das cadeias de compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos” e a
consumo, e retornado ao início das cadeias de própria definição da LR na lei federal, e da RPC

Política Nacional de Resíduos Sólidos e suas Interfaces com o espaço geográfico: 103
entre conquistas e desafios. Porto Alegre: Editora Letra1, 2016, p. 101-117

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na lei estadual, consistem em enormes avanços Os fabricantes, distribuidores ou importadores de produtos


legislativos. que, por suas características, exijam ou possam exigir
sistemas especiais para acondicionamento, armazenamento,
Desde o ponto de vista das novas obrigações, a
coleta, transporte, tratamento ou destinação final, de
PNRS traz, para vários produtos2, a obrigação de forma a evitar danos ao meio ambiente e à saúde pública,
“estruturar e implementar sistemas de logística mesmo após o consumo de seus resíduos desses itens, são
reversa, mediante retorno dos produtos após o responsáveis pelo atendimento de exigências estabelecidas
uso pelo consumidor, de forma independente do pelo órgão ambiental (SÃO PAULO, 2006b, Art. 53).
serviço público de limpeza urbana e de manejo dos
resíduos sólidos” (BRASIL, 2010a, Art. 33). Para É com base neste Artigo que o termo
tanto, na sua regulamentação (BRASIL, 2010b), “responsabilidade pós-consumo” é introduzido na
são estabelecidos os instrumentos do “Acordo PERS, por meio de seu Decreto regulamentador,
Setorial” e do “Termo de Compromisso”, firmados como segue.
entre os atores para operacionalizar os sistemas
de LR, adicionalmente à regulamentação direta. Os fabricantes, distribuidores ou importadores de produtos
No caso, os Acordos Setoriais são “atos de que, por suas características, venham a gerar resíduos
sólidos de significativo impacto ambiental, mesmo após o
natureza contratual, firmados entre o Poder Público
consumo desses produtos, ficam responsáveis, conforme o
e os fabricantes, importadores, distribuidores disposto no artigo 53 da Lei nº 12.300, de 16 de março de
ou comerciantes, visando à implantação da 2006, pelo atendimento das exigências estabelecidas pelos
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida órgãos ambientais e de saúde, especialmente para fins de
do produto” (BRASIL, 2010b, Art.19). A PNRS eliminação, recolhimento, tratamento e disposição final
especifica como esses devem ser propostos, quais desses resíduos, bem como para a mitigação dos efeitos
devem ser seu conteúdo e requisitos, e como será nocivos que causem ao meio ambiente ou à saúde pública.
Parágrafo único - A Secretaria do Meio Ambiente publicará,
seu processo de avaliação e de aprovação - nos mediante resolução, a relação dos produtos a que se refere
quais se incluem consulta pública e estudos de o “caput” deste artigo (SÃO PAULO, 2009, Art. 19).
viabilidade.
Já os Termos de Compromisso não são Tanto o Acordo Setorial como os Termos de
propriamente definidos, mas referidos como Compromisso são considerados instrumentos
possibilidade no caso de inexistência de acordo inovadores, por permitirem um novo patamar de
ou para estabelecimento de compromissos mais diálogo entre o poder público e a iniciativa privada
rígidos, devendo ser homologados pelo órgão (RIBEIRO, 2012a). Desde 2010, o Governo Federal
ambiental competente, podendo ter abrangência
tem atuado visando o estabelecimento de Acordo
estadual ou até municipal (BRASIL, 2010b, Art.
Setorial em cinco setores: embalagens em geral;
32), facultando aos Estados sua avaliação técnica e
produtos eletroeletrônicos; lâmpadas contendo
econômica (SOLER, MACHADO FILHO e LEMOS,
mercúrio; embalagens de óleo lubrificante; e
2012).
medicamentos. Até o presente, três já foram
No caso da PERS (SÃO PAULO, 2006), anterior
assinados (embalagens de óleo, lâmpadas com
à PNRS, é reconhecida como princípio (Art.2º)
a responsabilidade de vários elos da cadeia mercúrio e embalagens em geral), estando o de
produtiva sobre as fases do gerenciamento dos eletroeletrônicos em negociação.
resíduos, tendo como instrumento (Art.4°) o
Termo de Compromisso, embora não se descreva A Experiência de São Paulo em Logística
seu significado ou conteúdo. Além disso, destaca Reversa
que:
Paralelamente à iniciativa do Governo Federal
2 Agrotóxicos, seus resíduos e embalagens; pilhas e baterias; em estruturar a discussão dos Acordos Setoriais,
pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas
fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; e que dependem não apenas de estudos de viabilidade
produtos eletroeletrônicos e seus componentes. e consultas públicas, mas de alto grau de consenso

104 AMARO, Aurélio Bandeira &


VERDUM, Roberto (orgs.)

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Implantação da logística reversa:
a primeira fase da experiência piloto do estado de São Paulo

entre os partícipes, o governo de São Paulo decidiu A partir deste contato, iniciou-se um ciclo de
iniciar uma estratégia própria, usando para tanto a reuniões com cada um dos setores, para definição
figura dos Termos de Compromisso. A seguir este de um novo marco regulatório (RIBEIRO, 2014a).
processo é sucintamente apresentado.
Resolução SMA 38/2011
Antecedentes
Após alguns meses de diálogo com os
Logo após a regulamentação da PERS, em representantes da indústria paulista, e a designação
2009, a Secretaria do Meio Ambiente (SMA) de novos representantes para a Comissão Estadual
passou a discutir o atendimento a seus requisitos, de Gestão de Resíduos Sólidos, esta se reuniu para
em especial à LR. Considerando que o Decreto deliberar sobre uma nova regulamentação,
regulamentador atribuía ao órgão a definição publicada como a Resolução SMA nº 38, de 02
tanto dos produtos como das exigências de LR, de agosto de 2011 (SMA, 2011), que trouxe a nova
inicialmente promulgou-se a Resolução SMA n° relação de produtos objeto da LR, como mostra
24, de 30 de março de 2010. Nela, estabeleceu-se o Quadro 01.
uma primeira relação de produtos3 e a exigência
de: manter postos de entrega, comunicar o Quadro 01: Produtos e embalagens objeto
consumidor, encaminhar o material à reciclagem, da logística reversa
atender a metas de recolhimento e prestar
informações. Definia, ainda, que as metas seriam y Óleo lubrificante automotivo;
estabelecidas pela Comissão Estadual de Resíduos, y Óleo comestível;
até o final de 2010 (RIBEIRO, 2014a). y Filtro de óleo lubrificante automotivo;
Com a promulgação da PNRS, alguns meses y Baterias automotivas;
depois, e a partir de uma série de reuniões com y Pilhas e baterias;
representantes dos setores produtivos, a SMA y Produtos eletroeletrônicos;
decidiu alterar a norma, substituindo-a pela
y Lâmpadas contendo mercúrio
Resolução SMA nº 131, de 30 de dezembro de 2010,
que, além de postergar o prazo para divulgação das y Pneus;
metas, trazia as seguintes modificações: inclusão y Embalagens de:
do comércio, juntamente com distribuidores; alimentos;
inclusão das lâmpadas de vapor de sódio, mercúrio bebidas;
e luz mista; exclusão das baterias automotivas; produtos de higiene pessoal; perfumaria e
discriminação dos equipamentos eletroeletrônicos cosméticos;
objeto da resolução; e separações das metas em produtos de limpeza e afins;
estruturantes e finais, com detalhes de como agrotóxicos;
estas seriam determinadas e atendidas (RIBEIRO,
óleo lubrificante automotivo.
2014a).
Com o início da nova gestão do governo do
Estado, em 2011, a indústria solicitou uma nova Fonte: SMA, 2011.
oportunidade de diálogo, promovida por meio de
uma reunião técnica na qual dezoito segmentos A esta relação foram posteriormente acrescidos
industriais apresentaram sua visão do assunto. outros produtos, por meio da Resolução SMA
nº 11, de 09 de fevereiro de 2012, incluindo as
3 Filtros de óleo lubrificante; embalagens de óleo lubrificante, operadoras de telefonia celular; e da Resolução
lâmpadas fluorescentes, baterias automotivas, pneus, produtos SMA n° 115, de 03 de dezembro de 2012, incluindo
eletroeletrônicos, embalagens primárias, secundárias e terciárias
de: alimentos e bebidas, produtos de higiene pessoal, produtos os medicamentos domiciliares, vencidos ou em
de limpeza e bens de consumo. desuso.

Política Nacional de Resíduos Sólidos e suas Interfaces com o espaço geográfico: 105
entre conquistas e desafios. Porto Alegre: Editora Letra1, 2016, p. 101-117

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Além da nova relação de produtos e embalagens, Estabelecimento dos Termos de Compromisso


a Resolução SMA n° 38/2011 determinava que
os fabricantes e importadores dos produtos Transcorridos os 60 dias do prazo da Resolução
relacionados apresentassem, em até 60 dias, SMA 38/2011, foram recebidas pela SMA um
uma proposta de implantação de programa de total de 199 propostas de programas de LR. A
responsabilidade pós-consumo (RPC) segundo Tabela 01, a seguir, apresenta como este total
um conteúdo mínimo, e afirmava que as propostas se distribui entre os setores e entre propostas
seriam analisadas para estabelecimento de Termos enviadas por entidades setoriais ou por empresas
de Compromisso. Na visão da própria Secretaria individualmente.
do Meio Ambiente, a principal motivação da A análise das propostas foi conduzida pela
Resolução SMA 38/2011 foi “iniciar, do ponto de equipe da SMA, utilizando como critério uma
vista prático, a implantação da responsabilidade escala de quatro níveis (ótimo; bom; regular;
pós-consumo, sendo que a discussão de como isso e “não atende”), aplicada a cada um dos itens
será feito partirá do diálogo junto aos setores” exigidos pela Resolução. Ao final, cada proposta
(RIBEIRO, 2014a). recebeu uma “nota consolidada”, usando a mesma
A Resolução foi bem recebida, e a negociação escala (RIBEIRO, 2012b). A Figura 01 apresenta a
prosseguiu por uma série de mais de cinquenta distribuição percentual das propostas recebidas
reuniões coordenadas pelo Secretário Adjunto, nos por nível de qualidade.
60 dias corridos desde a promulgação da Resolução. Com base nesta classificação, a SMA iniciou
Além disso, neste período, a SMA recebeu um a negociação de Termos de Compromisso, com
grande número de consultas, tendo criado uma foco nas propostas com maior representatividade
página na Internet e um e-mail de contato para de proponentes, priorizando as “ótimas”, e em
responder aos interessados, além de conduzir seguida as “boas” (RIBEIRO, 2012b). As minutas
duas audiências públicas para esclarecimento de dos Termos seguiram uma estrutura comum,
dúvidas, com mais de 500 participantes (RIBEIRO, composta de: objeto, definições, descrição do
2014a). sistema, responsabilidades das partes, metas

Tabela 01: Distribuição das propostas recebidas para Resolução SMA 38/2011.

Propostas Propostas
Setor produtivo Total
de Associações de Empresas
Óleo lubrificante automotivo 1 7 8
Óleo comestível 1 0 1
Filtro de óleo lubrificante automotivo 1 10 11
Baterias automotivas 2 11 13
Pilhas e Baterias 1 19 20
Produtos Eletroeletrônicos 4 55 59
Lâmpadas contendo mercúrio 1 1 2
Pneus 2 7 9
Embalagens - Alimentos 20 20 40
Embalagens - bebidas 7 4 11
Embalagens – Prod. hig. pessoal, perf. e cosméticos 1 7 8
Embalagens – Prod. de limpeza e afins 3 8 11
Embalagens - agrotóxico 1 0 1
Embalagens - óleo lubrificante automotivo 2 3 5
Total 47 152 199
Fonte: RIBEIRO, 2012b

106 AMARO, Aurélio Bandeira &


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Implantação da logística reversa:
a primeira fase da experiência piloto do estado de São Paulo

Figura 01: Distribuição percentual das propostas por relatórios, as informações foram consolidadas
qualidade.
pela CETESB (YOGUI, 2015), verificando qual
percentual dentre as contribuições convergiam em
categorias comuns, com o resultado do processo
apresentado nas Figuras 02, 03 e 04.
Após consolidar as categorias identificadas
nas Figuras 02, 03 e 04, buscou-se correlacioná-
las, visando a orientar futuras sugestões para a
segunda fase do programa. A Tabela 03 mostra o
resultado deste processo.

Avaliação dos resultados da primeira fase da LR


Fonte: RIBEIRO, 2012b
A implantação da LR em São Paulo tem
e forma de acompanhamento, com poucas sido objeto de acompanhamento desde seu
especificidades em alguns casos (RIBEIRO, 2014a). início. Logo no final do primeiro ano de sua
Concluída a negociação, os quatro primeiros implementação, uma primeira análise (RIBEIRO,
Termos de Compromisso foram assinados em 28 2012a) já anunciava a estratégia adotada como um
de fevereiro, em um evento realizado no Palácio sucesso. O principal ponto observado à época foi
dos Bandeirantes. Os demais foram assinados em a inovadora abordagem regulatória da Resolução
eventos em 05 de junho de 2012; 20 de dezembro SMA 38/2011, que permitiu uma significativa
de 2012; 05 de junho de 2013; e o último em 02 mudança de postura de parte da comunidade
de abril de 2014 (RIBEIRO, 2014a). regulada, que passou de refratária à colaboradora.
Destaca-se a participação dos regulados na
Resultados da primeira fase da logística reversa definição da discricionariedade regulatória como
indutor desta evolução, tendo já gerado uma
A Tabela 02 apresenta os dados e resultados de importante demonstração do valor do diálogo
cada um dos sistemas de LR em operação no Estado e da negociação, que pode ser apropriado em
de São Paulo sob os Termos de Compromisso outros casos e contextos. O próprio instrumento
assinados com a SMA e CETESB, divididos segundo do Termo de Compromisso é admitido como
a forma de coleta dos resíduos. uma ferramenta poderosa neste sentido, além
de ressaltar a importância da transparência e
Compilação dos resultados da primeira fase da LR comunicação aos regulados de cada passo previsto
para a política pública com antecedência, somada
De modo a proporcionar uma visão mais ampla aos esforços de esclarecimentos dados sempre que
dos resultados da primeira fase, e com vistas a necessário. Esta constatação permite demonstrar
consolidar propostas para a segunda etapa da o sucesso da iniciativa em atender ao objetivo
implementação da LR em São Paulo, ao final de de gerar uma política pública transformadora de
2014 a CETESB solicitou aos signatários dos valores e comportamentos.
Termos de Compromisso que, além dos relatórios Desde essa primeira análise, podem-se somar à
enviados, participassem de uma reunião de avaliação dos programas os resultados alcançados.
avaliação, encaminhando em seguida um relatório Embora muitos sistemas já existissem antes
com a relação dos principais pontos positivos, da Resolução SMA 38/2011, muitos surgiram
dificuldades e oportunidades identificadas em por conta desta, tendo já atingido resultados
cada caso. importantes. Cada um dos programas, seja
Após as treze reuniões e o recebimento dos individualmente ou de forma coletiva, tem

Política Nacional de Resíduos Sólidos e suas Interfaces com o espaço geográfico: 107
entre conquistas e desafios. Porto Alegre: Editora Letra1, 2016, p. 101-117

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108
Tabela 02: Dados dos programas de LR sob Termos de Compromisso em São Paulo.
RESULTADOS
Infraestrutura
PRODUTOS DESCRIÇÃO Quantidade coletada (t/ano)
(n° de pontos de coleta)
2012 2013 2014 2012 2013 2014

SISTEMAS COM COLETA SELETIVA MUNICIPAL OU POR MEIO DE COOPERATIVAS DE CATADORES


Termo Assinado em 28/02/2012, com Aditamento em
01/08/2013;
Operação: apoio a cooperativas por meio de convênios com
Embalagens de Prod. Hig.
municípios;
Pessoal, Perf., Cosm., Limpeza
Webpage: http://www.maoparaofuturo.org.br/ Diagnóstico
e afins, Massas Alim. e Pães e 4 cooperativas 35 cooperativas em
Metas: em 39 municípios, n.a. 33.906 34.835
Bolos Ind. e alguns Prod. Alim. em 23 municípios. 34 municípios.
Realizar diagnóstico em 39 municípios; apoio a 17
(Programa Dê a Mão para o
2013: implementar em 16 cooperativas, em 14 municípios;
Futuro)1, a
2014: implementar em outras 16 cooperativas, em 15
municípios;
OBS: Início de operação em Julho/ 2013;
Termo Assinado em 05/06/2013;
Operação: apoio a cooperativas por meio de convênios com
municípios;
Metas: Diagnóstico
Flávio de Miranda Ribeiro

Embalagem de Alimentos2 n.a. TTC cancelado n.a. n.a. TC cancelado

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Apoiar cooperativas nas cidades onde há unidades produtivas: realizado
2013: 02 municípios;
2014: outros 03 municípios;
2015: outros 02 municípios.
Termo Assinado em 01/04/2014;
Operação: coleta nos pontos de venda (embalagens
reutilizáveis); e instalação de PEVs em diversos locais parceiros
(embalagens recicláveis);
Metas:
Embalagens de bebidas3 n.a. n.a. 21 n.a. n.a. n.r.
2014: coleta de 100% das embalagens de vidro e PP; 4 PEVs em
três municípios;
2015: coleta de embalagens de alumínio nos PEV´s; 6 PEVs
adicionais em seis novos municípios;
2016: 7 novos PEVs em cinco novos municípios;

VERDUM, Roberto (orgs.)


AMARO, Aurélio Bandeira &
Tabela 02: Cont.

RESULTADOS
Infraestrutura
PRODUTOS DESCRIÇÃO Quantidade coletada (t/ano)
(n° de pontos de coleta)
2012 2013 2014 2012 2013 2014

SISTEMAS COM COLETA EM PONTOS DE ENTREGA VOLUNTÁRIA (PEVS):


Termo Assinado em 28/02/2012;
Operação:
Produtos têm venda controlada mediante receituário;
No ato da venda o consumidor é informado do local e forma de
devolução da embalagem (registrado na nota fiscal);
Embalagens de Agrotóxicos Ainda no campo, usuário segue norma de lavagem da
75 75 75 4.528 4.769 4.815
(Sistema Campo Limpo) 4 embalagem;
Coleta é feita na rede de comércio;
InPEV recolhe as embalagens do comércio e transporta até
centros de recepção, e destes aos recicladores;
Webpage: www.inpev.org.br/
Meta: 2012: coletar 3.850t de embalagens;
Termo Assinado em 05/06/2012;
Operação:

entre conquistas e desafios. Porto Alegre: Editora Letra1, 2016, p. 101-117


A Reciclanip estabelece pontos de coleta na revenda ou em
convênio com municípios;
Os geradores devem entregar os pneus usados nos pontos de
coleta;
Quando a quantidade coletada atinge um valor definido, a

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Pneus5 238 239 242 179.900 182.300 191.400

Política Nacional de Resíduos Sólidos e suas Interfaces com o espaço geográfico:


Reciclanip retira do ponto de coleta e leva para destinação final
Implantação da logística reversa:

- recuperação ou co-processamento em fornos de cimento;


Webpage: http://www.reciclanip.com.br/v3
Metas:
2012: cinco novos PEVs na Baixada Santista;
2013: um novo PEV em Rib. Preto e dois no Vale do Paraíba;
a primeira fase da experiência piloto do estado de São Paulo

2014: um novo PEV em Campinas, dois em Itapetininga.


Termo Assinado em 28/02/2012;
Operação:
Os produtores definem pontos de coleta em parceria com o
comércio;
Pilhas e Baterias Portáteis
Os geradores entregam nos pontos de coleta;
(Programa ABINEE Recebe 557 596 626 76 158 87
Quando a quantidade coletada atinge um valor, o operador
Pilhas) 6
logístico recolhe as pilhas e encaminha para a destinação final;
Webpage:http://www.gmcons.com.br/gmclog/admin/
VisualizarPostosMapaCliente.aspx
Meta: 500 pontos de coleta até o final de 2012;

109
110
Tabela 02: Cont.

RESULTADOS
Infraestrutura
PRODUTOS DESCRIÇÃO Quantidade coletada (t/ano)
(n° de pontos de coleta)
2012 2013 2014 2012 2013 2014

SISTEMAS COM COLETA EM PONTOS DE ENTREGA VOLUNTÁRIA (PEVS):


Termo Assinado em 05/06/2012;
Operação: Cada operadora deve desenvolver sua campanha,
recebendo em todas as lojas qualquer aparelho (e acessórios),
TelefoniaCelular7 1.487 1.344 n.r. 35 6 24
independentemente de ser ou não cliente;
Meta: instalar pontos de coleta em todas as lojas de todas as
operadoras no Estado.
Termo Assinado em 05/06/2012;
Operação:
Responsáveis instalam PEVs em suas unidades ou na rede de
comercialização
Consumidores entregam o óleo em garrafas PET e grandes
geradores entregam óleo em bombonas
Operador de logística recolhe o óleo coletado uma vez ao mês,
ou sempre que necessário
ÓleoComestível (empresa) 8
Óleo é enviado à recuperação (biodiesel, sabão etc.) e garrafas 373 386 410 134 203 205
PET para reciclagem;
Webpage:http://www.liza.com.br/SuaVida/Sustentabilidade/
Default.aspx
Flávio de Miranda Ribeiro

Metas: ampliar a abrangência em 20% a.a.

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2013: 243 PEVs;
2014: 292 PEVs;
2015: 350 PEVs;
2016: 420 PEVs.
Termo Assinado em 20/12/2012;
Operação:
Responsáveis instalam PEVs na rede de comercialização
Consumidores entregam o óleo usado embalado em garrafas
PET
Operador de logística recolhe o óleo coletado uma vez ao mês,
Óleo Comestível (associação) 9 ou sempre que necessário n.a. 872 950 n.a. 918 935
Óleo é enviado à recuperação (biodiesel, sabão etc.) e garrafas
PET para reciclagem;
Webpage: www.oleosustentavel.com.br
Metas:
2013: 860 PEVs;
2014: 905 PEVs;

VERDUM, Roberto (orgs.)


AMARO, Aurélio Bandeira &
Tabela 02: Cont.

RESULTADOS
Infraestrutura
PRODUTOS DESCRIÇÃO Quantidade coletada (t/ano)
(n° de pontos de coleta)
2012 2013 2014 2012 2013 2014

SISTEMAS COM COLETA POR SISTEMA ITINERANTE


Termo Assinado em 05/06/2012;
Operação:
Empresas que trocam o óleo devem se cadastrar como
Óleo Lubrificante Usado e geradoras;
n.r. n.r. n.r. 112.549 122.597 111.081
Contaminado (OLUC) 10 Transportadores autorizados recolhem OLUC nos pontos de
geração e levam para instalações de re-refino;
Meta: coletar o equivalente a 42% do volume de óleo
comercializado em São Paulo até 2015;
Termo Assinado em 28/02/2012;
Operação:
Comerciantes e instalações de troca de óleo devem se registrar
no programa como ponto de coleta;
O operador de logística coleta as embalagens conforme
demanda, usando sacola específica, pesa o total e emite um

entre conquistas e desafios. Porto Alegre: Editora Letra1, 2016, p. 101-117


comprovante ao gerador;
Embalagens Plásticas de Óleo
As embalagens são levadas a centrais de recebimento, que
Lubrificante 6.249 7.662 8.000 290 623 914
drenam o óleo residual, classificam e enfardam as embalagens,
(Programa Jogue Limpo) 11
encaminhando-as para reciclagem.
Webpage: www.programajoguelimpo.com.br/

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Política Nacional de Resíduos Sólidos e suas Interfaces com o espaço geográfico:
Metas:
Implantação da logística reversa:

2012: atender 25% dos municípios do Estado;


2013: atender 50% dos municípios do Estado
2014: atender 75% dos municípios do Estado
2015: atender 100% dos municípios do Estado;
Termo Assinado em 05/06/2012;
a primeira fase da experiência piloto do estado de São Paulo

Operação:
Empresas de troca de filtros devem se cadastrar como
geradores;
No ato da troca, os filtros usados devem ser estocados usando
Filtro de Óleo Lubrificante o “kit” fornecido;
(Programa Descarte Consciente O operador de logística coleta os filtros nos pontos de geração 689 673 959 136 277 477
ABRAFILTROS) 12 com frequência determinada, ou sempre que necessário, e leva
para reciclagem.
Webpage: www.abrafiltros.org.br
Metas:
2013: 260 t coletadas em 369 pontos em 12 municípios;
2014: 430 t coletadas em 600 pontos em 25 municípios.

111
112
Tabela 02: Cont.

RESULTADOS
Infraestrutura
PRODUTOS DESCRIÇÃO Quantidade coletada (t/ano)
(n° de pontos de coleta)
2012 2013 2014 2012 2013 2014

SISTEMAS COM COLETA POR SISTEMA ITINERANTE


Termo Assinado em 20/12/2012;
Operação:
As baterias usadas devem ser retidas no local e no momento
da troca;
BateriasAutomotivas13 28 33 35 6.910 8.820 8.194
O operador de logística recolhe as baterias e encaminha para
reciclagem;
Meta: Coletar as baterias em todos os pontos de venda
associados aos produtores.

Fonte: Elaborado pelo autor.


LEGENDA:
n.a. – não aplicável (em geral, sistema ainda não operando)
n.r. – não reportado pelo responsável

1.
Assoc. Bras. da Ind. de Higiene Pessoal, Perf. e Cosméticos (ABIHPEC), com 185 empresas; Assoc. Bras. Ind. Prod. Limpeza e Afins (ABIPLA), com 39 empresas; Assoc. das Ind. de
Massas Alimentícias e Pães & Bolos Ind. (ABIMA); e UNILEVER Brasil Ltda. – Setor de Produtos Alimentícios;
2.
Marfrig Global Foods;
Flávio de Miranda Ribeiro

3.

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Bebidas Poty Ltda;
4.
InPEV- Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (9 entidades e 90 empresas); e ANDAV - Associação Nac. de Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinário
(associada ao INPEV);
5.
Reciclanip (representa os 28 principais produtores);
6.
ABINEE – Assoc. Bras. da Ind. Elétrica e Eletrônica (representa 16 produtores);
7.
Sinditelebrasil (representa as cinco operadoras de telefonia celular);
8.
Cargill Agrícola S.A.; SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo;
9.
ABIOVE- Assoc. Bras. da Ind. De Óleos Vegetais (representa 4 produtores);
10.
Sind. Nac. Ind. Rerrefino de Óleos Min. (SINDIRREFINO); Sind. Nac. das Empresas Distrib. de Combustíveis e Lubrif. (SINDICOM); Sind. Interestad. Ind. Mist. e Envasilhad. de
Prod. Derivados de Petróleo (SIMEPETRO); Sind. Interestad. Com. de Lubrif. (SINDILUB); Sind. Com. Varejista de Deriv. Petróleo do Est. São Paulo (SINCOPETRO); e Sind. Ind.
Reparação de Veículos e Acess. Estado São Paulo (SINDIREPA);
11.
Sind. Nac. Emp. Distrib. de Combustíveis e Lubrif. (SINDICOM); Sind. Interest.. Ind. Mist. e Envas.. de Prod. Derivados de Petróleo (SIMEPETRO); Sind. Interest. Com. de Lubrif.
(SINDILUB); Sind. Com. Varej. de Deriv. Petróleo do Est. São Paulo (SINCOPETRO); Sind. Com. Varej. de Deriv. Petróleo Campinas e Região (RECAP); Sind. Com. Varej. de Deriv. Pe-
tróleo, Lava rápidos e Estacionam. de Santos e Região (RESAN); Sind. Com. Varej. de Deriv. Petróleo A.B.C.D.M. R.R-SP (REGRAN); e Sind. Nac. Com. Transp., Revendedor, Retalhis-
ta de Combustíveis (SINDITRR);
12.
Associação Brasileira das Empresas de Filtros e seus Sistemas Automotivos e Industriais (ABRAFILTROS), com 15 empresas aderentes;
13.

VERDUM, Roberto (orgs.)


AMARO, Aurélio Bandeira &
Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), com 3 produtores.
Implantação da logística reversa:
a primeira fase da experiência piloto do estado de São Paulo

Figura 02: Distribuição dos pontos positivos dos sistemas de LR.

Fonte: YOGUI, 2015.

Figura 03: Distribuição das principais dificuldades dos sistemas de LR.

Fonte: YOGUI, 2015.

Política Nacional de Resíduos Sólidos e suas Interfaces com o espaço geográfico: 113
entre conquistas e desafios. Porto Alegre: Editora Letra1, 2016, p. 101-117

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Flávio de Miranda Ribeiro

Figura 04: Distribuição das principais oportunidades dos sistemas de LR

Fonte: YOGUI, 2015.

Tabela 03: Correlação dos principais pontos positivos, dificuldades e oportunidades para evolução da LR.

Pontos positivos Dificuldades Oportunidades de melhoria

Valorização e reconhecimento dos


Inclusão de orientações nos Programas
participantes dos programas.
Estaduais de Educação ambiental.
Mudança de cultura.

Revisar o licenciamento ambiental.


Falta ou baixa adesão das empresas, comércio e
Abrangência dos programas.
importadores.
Ampliar e cobrar a adesão de mais participantes
nos SRPC, incluindo as Prefeituras, o Comércio
e Importadores.
Formalização dos programas junto aos órgãos
Dificuldades com as Prefeituras.
públicos.
Incentivar os Arranjos intermunicipais.

Ampliar a quantidade de pontos de coleta por


Atendimento superior à meta. Dificuldade de atendimento às metas.
meio de parcerias.

Falta de fiscalização sobre o comércio e


Sistematização de dados. Realizar fiscalização.
empresas não aderentes aos SRPC.

Fomentar a revisão tributária e incentivo fiscal


à reciclagem e aos PRPC.
Elevado custo dos Sistemas.
Ampliar a quantidade de pontos de coleta por
meio de parcerias.

Estimular a indústria da reciclagem e a


Falta de incentivo à reciclagem.
pesquisa e o desenvolvimento de PRPC.

Oportunidades de melhoria específicas por


Coleta ponto a ponto.
setor.

Fonte: YOGUI, 2015

114 AMARO, Aurélio Bandeira &


VERDUM, Roberto (orgs.)

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Implantação da logística reversa:
a primeira fase da experiência piloto do estado de São Paulo

avançado – tanto em infraestrutura (quantidade contexto específico do Estado de São Paulo, para
de pontos de coleta, por exemplo) como na avançar na segunda fase para sua efetiva adoção
quantidade coletada de resíduos. Embora não no Estado (RIBEIRO, 2015).
haja sentido prático em somar simplesmente
resultados de programas que atuam com resíduos Próximos passos
de características tão distintas, os dados da Tabela
02 permitem concluir que em 2014 os sistemas de De forma a dar continuidade ao processo de
LR, em São Paulo, foram responsáveis por mais de implantação da LR em São Paulo, em junho de
12 mil PEV´s em operação, e pela coleta de mais 2015 foi publicada a Resolução SMA n°45 (SMA,
de 350 mil toneladas de resíduos pós-consumo. 2015), que substitui a Resolução SMA 38/2011
Estas evidências, por sua vez, demonstram um e dá início à segunda fase da estratégia. Ao
inequívoco sucesso no objetivo de oferecer à invés de chamar propostas, esta regra obriga a
população meios ambientalmente mais adequados estruturação e implementação de sistemas de LR
para descarte dos resíduos, ampliando a eficiência por fabricantes, importadores, distribuidores e
no uso dos recursos. comerciantes de diversos produtos (IGLESIAS,
Por fim, a análise conduzida sobre os resultados 2015).
dos programas, coligidas na forma das figuras 02, A Resolução SMA 45/2015 renomeia
03 e 04, e da Tabela 03, permite consolidar as os produtos e embalagens objetos de LR,
principais barreiras ao avanço da LR, que terão de harmonizando a relação da Resolução SMA
ser enfrentadas na próxima fase, a saber (RIBEIRO, 38/2011 com a PNRS. Além disso, acrescenta
2015): os medicamentos de uso domiciliar, vencidos
z Definir a participação para fabricantes ou em desuso, e abre a possibilidade da SMA ou
fora de São Paulo (outros Estados ou CETESB indicarem outros bens de consumo. A
importadores); Resolução SMA 45/2015 também indica que os
z Regulamentar a participação do comércio sistemas devem ser implementados de preferência
nos sistemas; coletivamente (SMA, 2015). No entanto, a
z Inserir a LR como exigência no licenciamento determinação mais importante da Resolução
ambiental; SMA 45/2015 é a demanda para que a CETESB
z Estruturar os municípios para interagirem estabeleça a LR como parte dos requisitos do
com a LR; processo de licenciamento. Para os signatários
z Qualificar o “apoio aos catadores”, como ou aderentes aos TCs, a verificação será feita de
este deve ser realizado e monitorado; forma coletiva, por meio das condições definidas
z Criar sistemas de fiscalização e penalização pelo próprio documento. Para os não-signatários
para quem não cumpre a LR; ou aderentes, a CETESB deverá publicar uma nova
z Ajustar tributos para fomentar o uso de regra a ser atendida.
materiais reciclados; Para ajudar nesse processo, há também a
z Definir regras para o fluxo financeiro expectativa de renovar todos os TCs, tanto
(ex: regulamentar a “remuneração” de para padronizar o formato e as necessidades de
municípios); relatórios, como para definir novas metas de
z Estimular a criação de novos prestadores infraestrutura e de percentuais de coleta para
de serviço, principalmente recicladores; e os resíduos (SMA, 2015). Por fim, a Resolução
z Fomentar a redução da geração de resíduos. SMA 45/2015 define sanções em caso de não
cumprimento e exige que a Comissão Estadual de
Relacionar estas sugestões permite afirmar Resíduos Sólidos coordene discussões sobre alguns
que o objetivo maior da primeira fase foi atingido: temas específicos da PERS, tais como: inclusão
gerar experiência sobre o funcionamento da LR no de municípios, retalhistas e distribuidores nos

Política Nacional de Resíduos Sólidos e suas Interfaces com o espaço geográfico: 115
entre conquistas e desafios. Porto Alegre: Editora Letra1, 2016, p. 101-117

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Flávio de Miranda Ribeiro

sistemas de LR; ações para prevenção da geração A mudança de modelo que se propõe, é
de resíduos; políticas fiscais para apoiar a PERS; e a importante que se diga, pode trazer inequívocos
regulamentação da restrição de venda de produtos benefícios à economia. Por um lado, aumenta-se
que não estejam associados a nenhum sistema a vida útil dos materiais na economia, realizando
reconhecido (SMA, 2015). a reciclagem ou reuso dos produtos e embalagens.
No momento, a SMA e a CETESB estão Por outro, gera-se estímulo a novas atividades
concentrando seus esforços em definir as regras econômicas nessa cadeia de negócios, que precisa
para inclusão da LR no licenciamento ambiental. ser fortalecida com oportunidades ligadas aos
Em dezembro de 2015, três TCs já foram renovados serviços de coleta, transporte, triagem, reciclagem
seguindo um modelo padrão, um glossário foi etc. dos resíduos objetos da LR – inclusive com
publicado no site da CETESB e alguns critérios a inclusão social dos catadores. Em muitos
para a definição de metas já foram estabelecidos. países, as políticas de resíduos são vetores de
Novas propostas de renovação dos demais TCs já um desenvolvimento mais limpo e sustentável,
começaram a ser discutidas, e está em discussão gerando emprego, renda e arrecadação em
uma regra para o licenciamento (ou sua dispensa) atividades cujo dividendo à natureza é positivo,
de certos elementos dos sistemas de LR (LUTTI, e São Paulo pode seguir o mesmo caminho.
2015). Para que toda esta mudança se processe,
porém, há um passo fundamental: conscientizar
Conclusões e educar as pessoas sobre a importância de que
cada um faça sua parte. Esta observação não se
A implementação de uma política de resíduos restringe ao cidadão, que desempenha o primeiro
moderna é um desafio comum de muitos países, e indispensável papel como primeiro elo da cadeia
regiões, Estados e municípios ao redor do mundo. da LR, ao devolver seu resíduo a um ponto de
Não apenas pela importância do tema para a coleta de um programa de LR, mas se estende aos
saúde pública e bem-estar dos ecossistemas, responsáveis pelo assunto nas indústrias, comércio
mas principalmente pelos potenciais efeitos e no poder público. Instituições são compostas por
econômicos das medidas adotadas. Neste escopo,
pessoas, e são estas pessoas que precisam ser
a LR tem um papel fundamental, ao redistribuir
educadas e motivadas para a mudança, para que
direitos e deveres de diversos atores nas cadeias
cada um tome as respectivas decisões que nos
de produção e consumo, inclusive o poder público.
levarão rumo a uma sociedade mais justa, limpa
Nessa trajetória, percebe-se que, no caso
e sustentável.
específico de São Paulo, um primeiro passo já
foi dado. Considerando que o Estado já possui a
questão da destinação final bastante adiantada,
com a maioria dos resíduos já sendo encaminhada
a aterros sanitários adequados, o desafio das Referências
políticas públicas reside agora em reduzir a
BOURSCHEIT, A. Resíduos Sólidos - Proposta define
necessidade desta solução – principalmente
responsabilidades compartilhadas. Criar padrão
pelo aumento na coleta seletiva e reciclagem da federal evita disputa entre estados. Valor Econômico,
fração seca dos resíduos sólidos urbanos. A LR 07/06/2010, p.f2. 2010.
pode, e deve, ser um instrumento fundamental BRASIL. Lei n° 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui
nesta transição, não apenas operacionalizando a Política Nacional de Resíduos Sólidos (...). Diário
fluxos específicos (materiais perigosos, p.ex.), mas Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder
Exec., Brasília, 03 ago. 2010. 2010a.
também viabilizando (inclusive financeiramente)
BRASIL. Decreto 7.404, de 23 de dezembro de 2010.
o aumento da coleta de embalagens e outros Regulamenta a Lei n° 12.305(...). Diário Oficial [da]
materiais recicláveis, que hoje ainda são República Federativa do Brasil, Poder Exec., Brasília,
majoritariamente destinados aos aterros. 24 dez. 2010. 2010b.

116 AMARO, Aurélio Bandeira &


VERDUM, Roberto (orgs.)

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Implantação da logística reversa:
a primeira fase da experiência piloto do estado de São Paulo

CETESB - COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE Sólidos e define princípios e diretrizes. Diário Oficial
SÃO PAULO. Responsabilidade Pós-Consumo. Página [do] Estado de São Paulo. Poder Exec., São Paulo, 17
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cetesb.sp.gov.br/residuos-solidos/responsabilidade- SÃO PAULO (Estado). Decreto Estadual n° 54.645, de 05
pos-consumo/18-introducao>. Acesso em 10 de mar. de agosto de 2009. Regulamenta dispositivos da Lei n°
2015. 2015. 12.300 (...). Diário Oficial [do] Estado de São Paulo.
IGLECIAS, Patrícia. Entrevista. ARES – Ambiente Poder Exec., São Paulo, 05 ago. 2009.
&Residuos. Ed. 3, Ano 1. p. 20-25. 2015. SILVA FILHO, C.R.; SOLER, F.D. Gestão de Resíduos
LUTTI, José E. I. Apresentação sobre Logística Reversa. Sólidos - O que diz a lei. São Paulo: Trevisan, 2012.
Apresentação Oral. CONSEMA- Conselho Estadual SMA- SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE.
do Meio Ambiente. São Paulo: CONSEMA, 2015. Resolução SMA n°38, de 02 de agosto de 2011.
RIBEIRO, F. M. Reforma da Regulação Ambiental: Estabelece a relação de produtos geradores de resíduos
Características e Estudos de Caso do Estado de São de significativo impacto ambiental (...). Diário Oficial
Paulo. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação [do] Estado de São Paulo. Poder Executivo, São Paulo,
em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo 03 de agosto de 2011. 2011.
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de São Paulo. Conexão Academia, Ano 1, nº 2, Jul sp.gov.br/wp/residuossolidos/>. Acesso em: 29 mar.
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RIBEIRO, F. M. Logística Reversa. Cadernos de Educação SMA- SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE.
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RIBEIRO, F. M. Reverse Logistic Pilot Systems in Sao Paulo ambiente.sp.gov.br/cpla/plano-residuos-solidos-
State, Brazil. In: ISWA 2014 – Solid Waste World sp-2014-251114.zip>. 2014.
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RIBEIRO, F. M. Implementação da Responsabilidade Resolução SMA n°45, de 23 de junho de 2015.
Pós-Consumo em São Paulo: Histórico e Proposta Estabelece diretrizes para implementação e operação
de Ação da Vice-Presidência da CETESB. Documento da responsabilidade pós-consumo no Estado de São
interno. São Paulo: CETESB, 2015. Paulo (...). Diário Oficial [do] Estado de São Paulo.
RIBEIRO, F. M.; KRUGLIANSKAS, I. Reforma da regulação Poder Executivo, São Paulo, 23 de Junho, 2015.
ambiental: estudo de caso da adoção da responsabilidade SOLER, F. D.; MACHADO FILHO, J.V.; LEMOS, P. F. I. Acordos
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Paulo. In: 4th International Workshop: Advances p. 79-101. In: JARDIM, Arnaldo; yoshida, Consuelo;
in Cleaner Production, São Paulo. 2013. MACHADO FILHO, José Valverde (ed.). Política
RIBEIRO, F. M.; KRUGLIANSKAS, I. Implementação da Nacional, Gestão e Gerenciamento de Resíduos
Logística Reversa: A primeira fase da experiência do Sólidos. São Paulo: Manole, 2012.
Estado de São Paulo. In: 5th International Workshop: YOGUI, R. T. T. Acompanhamento dos Termos de
Advances in Cleaner Production, São Paulo. 2015. Compromisso para Responsabilidade Pós-Consumo.
SÃO PAULO (Estado). Lei Estadual n°12.300, de 16 de Informação Técnica n° 001/2015/VR. Documento
março de 2006. Institui a Política Estadual de Resíduos Interno. São Paulo: CETESB, 2015.

Política Nacional de Resíduos Sólidos e suas Interfaces com o espaço geográfico: 117
entre conquistas e desafios. Porto Alegre: Editora Letra1, 2016, p. 101-117

www.editoraletra1.com.br
256
257
258
259
260
FISCALIZAÇÃO, PERÍCIA E AUDITORIA AMBIENTAL

POLÍTICAS PÚBLICAS AMBIENTAIS INSTRUMENTOS DE

GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA ORDENAMENTO JURÍDICO

AMBIENTAL METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA

E SEMINÁRIOS POLUIÇÃO DO AR, GERENCIAMENTO E

CONTROLE DE FONTES FUNDAMENTOS DO CONTROLE DE

POLUIÇÃO DAS ÁGUAS GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

PREVENÇÃO E CONTROLE DA POLUIÇÃO DOS SOLOS E

DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS GERENCIAMENTO DE ÁREAS

CONTAMINADAS ANÁLISE DE RISCO TECNOLÓGICO


PÓS•GRADUAÇÃO
L ATO S E N S U
EMERGÊNCIAS QUÍMICAS, ASPECTOS
ESCOLA SUPERIOR DA CETESB PREVENTIVOS

E CORRETIVOS LEGISLAÇÃO FLORESTAL APLICADA

AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL LICENCIAMENTO

COM AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL AIA

LICENCIAMENTO AMBIENTAL SEM AVALIAÇÃO DE IMPACTO

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