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ORGANIZADORES

Julio César Rodríguez Tello


João Rodrigo Leitão dos Reis
Rosana Barbosa de Castro Lopes
Francis Albert Alexander Linares Fuchs

Anais/Encarte Técnico-Científico
WORKSHOP BRASILEIRO

Gestão Empresarial na teia da


Sustentabilidade Ambiental
Anais/Encarte Técnico-Científico do WORKSHOP BRASILEIRO

GESTÃO EMPRESARIAL
NA TEIA DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
REALIZAÇÃO

Curso de Especialização Lato


Sensu em Gestão Ambiental PPG‐CIFA PROPESP ‐ UFAM
Pró‐Reitoria de Pesquisa e
PROGRAMA DE PÓS‐GRADUAÇÃO EM
Empresarial CIÊNCIAS FLORESTAIS E AMBIENTAIS Pós‐Graduação

PATROCÍNIO E APOIO INSTITUCIONAL

Ministério da
Ciência, Tecnologia
e Inovação
ORGANIZADORES
Julio César Rodríguez Tello
João Rodrigo Leitão dos Reis
Rosana Barbosa de Castro Lopes
Francis Albert Alexander Linares Fuchs

Anais/Encarte Técnico-Científico do WORKSHOP BRASILEIRO

GESTÃO EMPRESARIAL
NA TEIA DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Manaus - 2014
Copyright © 2014 A1 Studio Gráfico

Editor: Thiago Barata


Capa: Newton Coelho Monteiro e Julio César Rodríguez Tello

Projeto Gráfico: Thiago Barata


Edição e Diagramação: A1 STUDIO GRÁFICO
Ficha Catalográfica: Cinara Cordoso

Catalogação na Fonte

TELLO, Julio César Rodríguez; REIS, João Rodrigo Leitão dos; LOPES, Rosana Barbosa de
Castro; FUCHS, Francis Albert Alexander Linares (org.)
Anais/Encarte Técnico-Científico do Workshop Brasileiro de Gestão Empresarial na Teia da
Sustentabilidade Ambiental. Julio César Rodríguez Tello, João Rodrigo Leitão dos Reis, Rosana
Barbosa de Castro Lopes, Francis Albert Alexander Linares Fuchs (Organizadores).
Manaus: A1 Studio Gráfico, 2014.

173 p.

ISBN 978-85-99122-53-2

1.Gestão Empresarial 2. Sustentabilidade 3. Meio Ambiente I. Título

CDD 653.324
I. Título.

Obra Literária Técnico-Científica financiada com recursos da


Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM)

Rua 2, nº 42 - Beija Flor II - CEP. 69.028-321


estudiograficoa1@gmail.com
92 8118-2107
COMISSÃO DE ORGANIZAÇÃO

Coordenação Geral
Prof. Dr. Julio César Rodríguez Tello

Apoio Técnico e Acadêmico


Profa. Dra. Rosana Barbosa de Castro Lopes
MSc. João Rodrigo Leitão dos Reis

Comitê Técnico-Científico
Francis Albert Alexander Linares Fuchs
João Rodrigo Leitão dos Reis
Julio César Rodríguez Tello
Rosana Barbosa de Castro Lopes

Comissão Executiva
Isamara Kelly Amorim Cruz
Joana Magoga Noro
João Rodrigo Leitão dos Reis
Joseane Alves de Souza
Julio César Rodríguez Tello
Marcos Paulo Ferreira Carneiro
Renata Lima Pimentel

Secretaria
Local: Laboratório de Ecologia e Conservação da Biodiversidade da FCA/UFAM
Francis Albert Alexander Linares Fuchs
João Rodrigo Leitão dos Reis
Josiane Alves de Sousa
Renata Lima Pimentel
Soraya Edith Esteves López

Agradecimento
Agradecemos aos patrocinadores, a Assessoria de Comunicação da Universidade Federal
do Amazonas (ASCOM/UFAM) e aos discentes do Curso de Especialização em Gestão
Ambiental Empresarial da UFAM, que direta ou indiretamente, prestaram apoio
operacional na execução do Workshop Brasileiro Gestão Empresarial na Teia da
Sustentabilidade Ambiental.
APRESENTAÇÃO

Nas últimas décadas no Brasil, houve um significativo avanço na formulação e


regulamentação de normas para implantação dos Sistemas de Gestão Ambiental nas
instituições públicas e privadas, com o incremento substancial do desenvolvimento de modelos
gerenciais buscando a sustentabilidade ambiental, econômica, social e cultural nos seus
serviços, processos e produtos, obtendo a chancela da Certificação Ambiental, a partir da
aplicação de critérios metodológicos de avaliação e monitoramento por Agências
Certificadoras e Reguladoras nacionais e internacionais.
Paralelo e prévio a esse processo, está Licenciamento Ambiental, que no Brasil, a partir da
evolução do arcabouço legal ambiental, oportunizou a aplicação de condicionantes e
requisitos essenciais para garantia da gestão ambiental dos empreendimentos, prevenindo o
surgimento de infrações ambientais, a exploração irracional dos recursos naturais e evitando a
geração e dispêndio de resíduos poluidores a natureza.
Além disso, há o crescimento das ações socioambientais e educativas, por meio do
estabelecimento de Parcerias Público-Privadas, que vem possibilitando a colaboração
organizada do setor empresarial e poder público em busca do alcance de objetivos comuns
vinculados a proteção ambiental e segurança social.
Apesar dos avanços, ainda existem lacunas técnico-científicas e operacionais que não foram
sanadas, principalmente quanto ao real envolvimento do setor empresarial e poder público na
execução e monitoramento das medidas apropriadas de gestão ambiental, e na ausência de
análise crítica e qualificada dos conceitos, métodos, resultados e modelos gerenciais
implantados.
O Anais/Encarte Técnico-Científico do Workshop Brasileiro “Gestão Empresarial na Teia da
Sustentabilidade Ambiental” é composto por artigos que apresentam a dinâmica do arcabouço
teórico-metodológico e logístico-operacional da Gestão Ambiental Empresarial Brasileira,
possibilitando análise dos seus modelos gerenciais e de monitoramento, gargalos, avanços e
perspectivas de inovação, a partir da troca de experiências pelas empresas e instituições
reguladoras e de pesquisa, gerando informações qualificadas para sociedade.
Além disso, observa-se a reflexão sobre as premissas filosóficas da Gestão Ambiental
Empresarial, com intuito das discussões a serem efetuadas por profissionais especializados,
empresários, pesquisadores, discentes, docentes e gestores, gerarem subsídios para seu
aperfeiçoamento como política pública, de forma a propiciar impactos reais para a melhoria das
condições de vida das populações afetadas pelos empreendimentos e para a efetiva
conservação ambiental, reconhecendo suas limitações e oportunidades.

Julio César Rodríguez Tello


João Rodrigo Leitão dos Reis
Rosana Barbosa de Castro Lopes
Francis Albert Alexander Linares Fuchs
SUMÁRIO
13 - CAPÍTULO 1 – Licenciamento e Certificação Ambiental Empresarial

15 - Artigo 1 - A Produção e Consumo Sustentável: temas prioritários


José Carlos Barbieri

25 - Artigo 2 - O licenciamento ambiental empresarial e a responsabilidade social


Artemísia Souza do Valle

29 - Artigo 3 - Alinhamento entre as estratégias e os processos para desempenho e


sustentabilidade
Márcio Silva Viana Araújo

33 - Artigo 4 - Aperfeiçoamento do licenciamento ambiental: dilemas e avanços da política


ambiental brasileira
João Rodrigo Leitão dos Reis e Kamila Botelho do Amaral

45 - Artigo 5 - Desconexão da comunicação no Sistema de Gestão Ambiental e suas


consequências no ambiente operacional dos correios
Erick Michael Valencia Alves, Iamily Corrêa Tomé e Julio César Rodríguez Tello

49 - Artigo 6 - Estudo da distribuição espaço-temporal (2003 a 2007) dos crimes e infrações


ambientais urbanos em Manaus-AM
Marcos Brandão da Cunha e Lizit Alencar da Costa

55 - CAPÍTULO 2 – Gestão e Gerenciamento de Resíduos Sólidos e Efluentes

57 - Artigo 7 - Gerenciamento de Resíduos Eletroeletrônicos: o caso das empresas de


reciclagem de Manaus-AM
Jaqueline Gomes de Araújo e João Tito Borges

63 - Artigo 8 - Resíduos Sólidos Industriais (RSIS): de sua problemática no Estado do Amazonas


à importância de indicadores de sustentabilidade – uma breve abordagem sob a égide da Lei
n.º 12.305/2010 (PNRS)
João Bosco Ladislau de Andrade

75 - Artigo 9 - Caracterização física dos resíduos sólidos urbanos produzidos na cidade de


Parintins-AM
Sueny Ferreira Picanço e Julio César Rodríguez Tello
75 - Artigo 10 - Recuperação do diacetona álcool utilizado no processo de limpeza do CD-R.
Gleisyhnn Brito de Sousa e Kiki Pinheiro Melo Braga

79 - Artigo 11 - Gerenciamento ambiental estratégico: um estudo de caso do tratamento de


efluentes industriais e controle de custos industriais na empresa PCE – Papel, Caixas e
Embalagens S/A - Manaus/AM
Manuel Benito Acevedo Garcia e Julio César Rodríguez Tello

83 - Artigo 12 - Infraestrutura e destinação dos resíduos sólidos da construção civil na cidade


de Manaus-AM: uma analise do cumprimento da Resolução do CONAMA nº. 307/2002
Maristela Leite Mota de Araújo

91 - CAPÍTULO 3 – Interfaces entre Empresariado, Poder Público e Sociedade

93 - Artigo 13 - Desafios em perspectivas para a gestão socioambiental da comunidade da


Boa União, Presidente Figueiredo-AM
Patrícia Mariano Oliveira da Silva e Julio César Rodríguez Tello

97 - Artigo 14 - As Unidades de Conservação Estaduais como oportunidades de


empreendedorismo: as experiências do Amazonas
Christina Fischer, João Bosco Ferreira da Silva e Neila Maria Cavalcante da Silva

101 - Artigo 15 - O papel da comunidade como defensora do meio ambiente no parque do


Igarapé do Mindu, Manaus/AM
Joana Magoga Noro e Adna Wally de Melo Gomes

105 - Artigo 16 - O desenvolvimento sustentado e a gestão dos espaços naturais


Elias Sete Manjate e Julio César Rodríguez Tello

117 - Artigo 17 - Ecomarketing na empresa Rio Limpo: uma ferramenta estratégica para o
desenvolvimento ambiental empresarial
Silvya Nascimento das Neves e Julio César Rodríguez Tello

123 - Artigo 18 - Projeto Água para Todos no Amazonas


Antônio Luiz M. Andrade

127 - Artigo 19 - Análise fitossociológica estrutural e composição florística em um


assentamento rural sobreposto a unidade de conservação na Amazônia Central
Alex-Sandra Farias de Almeida e Julio César Rodríguez Tello

131 - Artigo 20 - Mapeamento das APP e estudo dos conflitos de ocupação do


solo nos loteamentos Parque dos Buritis I e II, Manaus-AM
Carlos Leandro Oliveira Souza e Lizit Alencar da Costa
136 - Artigo 21 - Desenvolvimento sustentável e políticas públicas: o caso da Reserva Uatumã
no trabalho de manejo florestal de pequena escala
Denise Cunha e Julio César Rodríguez Tello

141 - Artigo 22 - Diagnóstico em gestão ambiental na aquicultura do Estado do Amazonas


Maria da Glória Correa do Nascimento, Julio César Rodríguez Tello e Marle Angélica Villacorta
Correa

139 - CAPÍTULO 4 – Diagnóstico e Planejamento Turístico Empresarial

147 - Artigo 23 - O turismo científico na Amazônia: um estudo das oportunidades,


necessidades e potencialidades para a cidade de Manaus-AM
Johanny Araújo Andrade e Julio César Rodríguez Tello

151 - Artigo 24 - Percepção socioambiental dos visitantes do município de Presidente


Figueiredo-AM: base para o planejamento do ecoturismo
Julio César Rodríguez Tello, Josiane Alves de Sousa e Renata Lima Pimentel

155 - Artigo 25 - Bases para uma gestão integrada do ecoturismo nas Comunidades de
Janauary, Paricatuba e Acajatuba, no município de Iranduba/AM
Oreni Campêlo Braga da Silva e Julio César Rodríguez Tello

161 - Artigo 26 - Ecoturismo: identidade socioambiental e raízes culturais dos residentes do


município de Presidente Figueiredo-AM
Julio César Rodríguez Tello, Josiane Alves de Sousa e Renata Lima Pimentel

165 - Artigo 27 - Implementação do Sistema de Gestão da Segurança - SGS no


empreendimento hoteleiro Malocas Jungle Lodge Hoteis Ltda, Rio Preto da Eva-AM
Marinilda Mota Godde e Julio César Rodríguez Tello

169 - Artigo 28 - Bases socioambientais para implantação do ecoturismo na Reserva de


Desenvolvimento Sustentável do Piranha, Manacapuru-AM
Sandra Maria dos Santos e Julio César Rodríguez Tello

175 - Artigo 29 - Desafios da gestão do turismo sustentável em unidade de conservação: o


caso da “RDS do Tupé” – Manaus/AM
Maria do Socorro de Oliveira Paiva e Julio César Rodríguez Tello
CAPÍTULO

1
Licenciamento e Certificação
Ambiental Empresarial
ARTIGO 1
A PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEL: TEMAS
PRIORITÁRIOS

José Carlos Barbieri


Administrador Público. Mestre e Doutor em Administração. Pós-Doutor. Docente do Departamento
de Administração da Produção e Operações da Escola de Administração de Empresas de
São Paulo da Fundação Getúlio Vargas - FGV/EAESP-POI.
Autor do Livro “Gestão Ambiental Empresarial: conceitos, modelos e instrumentos”.

INTRODUÇÃO

O crescimento vigoroso da produção mundial de bens e serviços tem como contrapartida o uso
crescente de recursos extraídos do meio ambiente colocando em risco a possibilidade das gerações
futuras de proverem suas necessidades, antes mesmos de atender adequadamente as gerações
atuais. Apesar de tanto sacrifício imposto ao meio ambiente seja extraindo recursos, seja despejando
poluentes, quase metade da população global continua na pobreza ou subsiste precariamente.
De fato, os sinais de degradação ambiental estão por toda parte, tais como, a perda constante de
biodiversidade, desertificação, redução da camada de ozônio, conflitos pelo acesso à água. O último
relatório do IPCC (Intergovernamental Panel on Climate Change) publicado em março de 2014 (AR5)
mostra que houve aumento da concentração de gases de efeito estufa em relação ao período de
análise do relatório anterior (AR4), publicado em 2009, e aponta diversos impactos negativos que já
estariam ocorrendo por conta do aumento da temperatura média sobre a atmosfera, os oceanos e
outros componentes do Planeta (IPCC, 2014). Conforme o International Resource Panel (IRP), grupo
de trabalho criado pelo PNUMA no qual fazem parte mais de 1.300 cientistas de todas as partes do
mundo, o impacto ambiental do consumo cresce conforme a renda per capita cresce. A extração de
recursos naturais como biomassas, combustíveis fósseis, minérios e materiais de construção tem
crescido à base de 60 bilhões de toneladas anualmente. Nos países desenvolvidos, esse consumo,
que já é alto, continua crescendo; também está crescendo nos países em desenvolvimento que
passam por acelerado processo de crescimento e urbanização (IRP, 2012). Assim, haverá necessidade
de desacoplar o uso dos recursos e os impactos ambientais em relação às atividades econômicas.
No contexto do desenvolvimento sustentável, desacoplar significa utilizar menos recursos por
unidade de produção e reduzir o impacto ambiental de todos os recursos utilizados e de todas as
atividades econômicas. Em outras palavras, significa alcançar padrões de produção e consumo
sustentáveis. Encontrar meios para tornar os processos de produção e consumo sustentáveis é um
dos principais desafios da nossa época.

A PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEL: TEMAS PRIORITÁRIOS 15


Esse texto discute a produção e consumo sustentáveis fazendo um contraponto com os modelos
de gestão ambiental que foram criados para o contexto das empresas. Inicialmente é feito uma
apresentação desse tema a partir de documentos oficiais importantes, gerados em conferências da
Organização das Nações Unidas (ONU) e que orientaram a política nacional. Depois será
apresentado o Plano de Produção e Consumo Sustentável, um documento elaborado após consulta
pública e que estabeleceu conceitos, princípios, temas prioritários e metas a serem alcançadas na
primeira fase desse Plano.

A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO

Uma das contribuições mais importantes para vencer esse desafio foi dada na Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1.972, ao considerar
que as questões concernentes ao meio ambiente e ao desenvolvimento devem sempre ser tratadas
em conjunto. É desse encontro entre desenvolvimento e cuidado com o meio ambiente que nasce o
conceito de desenvolvimento sustentável, que seria popularizado a partir da Conferência das
Nações sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizado no Rio de Janeiro em 1992, conhecida
por Rio 92.

Um dos documentos fundadores do desenvolvimento sustentável, a Agenda 21, aprovada


durante a Conferência do Rio de Janeiro de 1992, dedicou um capítulo exclusivo sobre consumo.
Esse capítulo afirma que a “pobreza e a degradação do meio ambiente estão estreitamente
relacionadas”. Porém, continua esse capítulo, “as principais causas da deterioração ininterrupta do
meio ambiente mundial são os padrões insustentáveis de consumo e produção, especialmente nos
países industrializados.” A Agenda 21 coloca o dedo na ferida quanto centra sua preocupação no
agravamento da pobreza de uns decorrentes do consumo insustentável de outros. Conforme suas
palavras “Isso se traduz em demanda excessiva e estilos de vida insustentáveis nos segmentos mais
ricos, que exercem imensas pressões sobre o meio ambiente. Enquanto isso os segmentos mais
pobres não têm condições de ser atendidos em suas necessidades de alimentação, saúde, moradia
e educação (Agenda 21; Capítulo 4)”.

Diante dessa questão, a Agenda 21 estabeleceu no Capítulo 4 duas áreas programas: (1) exame
dos padrões insustentáveis de produção e consumo, e (2) desenvolvimento de políticas e
estratégias nacionais de estímulo a mudanças desses padrões. A primeira tem como objetivos: (1a)
promover padrões de consumo e produção que reduzam as pressões ambientais e atendam as
necessidades básicas da humanidade, e (1b) desenvolver uma melhor compreensão do papel do
consumo e da forma de implementar padrões de consumo mais sustentáveis. Algumas medidas
recomendadas referem-se à minimização de resíduos, maior eficiência no uso de energia e
materiais e estímulo ao uso de recursos renováveis. Além dessas, a Agenda recomenda diversas
atividades endereçadas a diversos segmentos da sociedade. Entre estas, as seguintes:

Auxiliar os indivíduos e as famílias na tomada de decisões sobre compras ambientalmente


saudáveis.

16 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


 Exercer a liderança por parte dos governos por meio das suas aquisições.
 Desenvolver uma política de preços para estimular práticas ambientais sustentáveis, por
exemplo, retirando subsídios aos combustíveis fósseis.
 Reforçar as atitudes que apoiem o consumo sustentável por meio da educação, campanhas
e programas de esclarecimento do público e outros (Agenda 21, capítulo 4).
Para dar seguimento às recomendações da Agenda 21, durante a Cúpula Mundial sobre
Desenvolvimento Sustentável, também conhecida por Rio+10, realizada em Johanesburgo em
2002, foi aprovado um Plano de Implementação para tratar de questões graves como erradicação
da pobreza, saúde, gestão de recursos naturais, problemas específicos da África, AIDS etc. O
Capítulo 3 desse Plano leva o título “Modificação das modalidades insustentáveis de consumo e
produção”. Esse capítulo recomendou a criação de um programa decenal de auxílio às iniciativas
nacionais e regionais para acelerar as mudanças em direção aos padrões de produção e consumo
sustentáveis, com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico e social dentro dos limites
de sustentação dos ecossistemas. O documento ressalta que, sempre que possível, os vínculos
entre crescimento econômico e degradação do meio ambiente devem ser quebrados mediante o
aumento da eficiência e sustentabilidade do uso de recursos. Essa vinculação tornou-se uma
questão espinhosa, para dizer o mínimo, no âmbito do movimento do desenvolvimento
sustentável.
Com efeito, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD),
conhecida por Comissão Brundtand, estabeleceu a retomada do crescimento econômico como um
dos objetivos desse desenvolvimento (CMMAD, 1981). Sem tal objetivo não haveria a adoção em
massa de governos e empresas, pois, como se sabe, ambos concebem o crescimento como uma
questão de vida e morte. Empresário que se contenta com o tamanho da sua empresa, não importa
qual o tamanho, é uma espécie de avis raras, pois em seu ambiente impera o lema crescer ou
desaparecer. Entre os governantes, bem como entre os eleitores, não é diferente, o crescimento
econômico é a promessa de sempre, o que traz votos e popularidade. Quando o PIB cai ou fica
estagnado em patamares baixos, os governos de plantão procuram aplicar novas medidas para
retomar o crescimento e os partidos de oposição aproveitam mostrar que possuem soluções
melhores para alcançar esse objetivo.
No entanto, o crescimento econômico tem sido apontado como a causa de degradação
ambiental, por requerer mais recursos naturais, e de degradação social na medida em que os frutos
do crescimento não são distribuídos de modo equitativo. Além disso, o crescimento disfarça a má
gestão, a irresponsabilidade e malversação de recursos, seja nas empresas seja nos entes públicos.
Não é por outra razão que é nos períodos de recessão que abundam as denúncias de corrupção e
improbidade administrativa. O desenvolvimento sustentável considera o crescimento importante,
como mencionado acima, mas requer mudanças na forma habitual de encarar o crescimento, não
mais como um fim em si mesmo ou para preservar o status quo, mas como parte de um processo
de melhoria da qualidade de vida de todos os humanos.
O PROCESSO DE MARRAKESH
O programa decenal proposto foi efetivamente criado em 2003. Ele é conhecido por 10 Years
Framework Program (10YFP). Nesse ano, foi realizada a primeira reunião do 10YFP em Marrakesh,
Marrocos, por isso passou a ser conhecido por Processo de Marrakesh. O Processo de Marrakesh é
uma plataforma multi-stakeholder criada para dar suporte à implementação de projetos e

A PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEL: TEMAS PRIORITÁRIOS 17


estratégias de produção e consumo sustentáveis nos níveis nacionais e locais. Os stakeholders
citados nos documentos do 10YFP são os governos nacionais, subnacionais e locais, empresas e
entidades empresariais, sindicatos, organizações não governamentais (ONGs), agências de
desenvolvimento, entre outros.
Como mostra a Figura 1, o mecanismo de implementação do Processo de Marrakesh é
constituído de programas e estratégias, forças-tarefas, fóruns de empresas e de ONGs e processos
de engajamento e diálogo (UNEP, 2009). Os programas e estratégias são atribuições dos governos
nacionais e locais.
As forças-tarefa são iniciativas voluntárias, coordenadas pelos governos nacionais e locais, em
colaboração com diversos parceiros, incluindo governos de outros países, criadas para orientar a
implementação do Processo de Marrakesh nas suas áreas de abrangência. Como mostra a Figura 2,
são sete forças-tarefa, cada qual encarregada de um tema do 10YFP e agrupadas em quatro blocos
conforme o foco das ações a serem empreendidas: foco e setores da economia (construção e
turismo sustentável); foco na cooperação com a África; foco em ferramentas e programas (produtos
sustentáveis e compras públicas); e foco nas questões sociais e comportamentais (estilo de vida e
educação para a sustentabilidade).

Figura 1: Mecanismos do Processo de Marrakesh

Fonte: UNEP/PNUMA, 2.009, p. 11.

Figura 2: Forças-tarefa do Processo de Marrakesh

Fonte: Fonte: UNEP/PNUMA, 2.009, p. 13.

18 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


As duas entidades expressamente citadas na Figura 1, o World Business Council for Sustainable
Development (WBCSD) e a Câmara de Comércio Internacional (ICC), participaram desde as primeiras
horas do movimento do desenvolvimento sustentável nos anos 1970, dando contribuições no
interesse das empresas. Diversas iniciativas da ICC buscaram valorizar os sistemas de gestão
ambiental, a prática da auditoria ambiental e os códigos de conduta para empresas, tendo em vista a
eliminação de barreiras ao comércio internacional. A WBCSD é uma importante ONG internacional
constituída por centenas de empresas multinacionais, sendo que uma das suas contribuições mais
efetivas foi a elaboração, junto com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), de um modelo de gestão ambiental denominado ecoeficiência.
Esse modelo busca a redução sistemática de materiais e energia por unidade de produto (bem
ou serviço) como meio para aumentar a competitividade da empresa, ao mesmo tempo em que
reduz as pressões sobre o meio ambiente como fonte de recursos e como depósito de resíduos. Ou
seja, tem como preocupação básica a economia de recursos naturais combinada com os interesses
empresariais, daí o seu lema produzir mais com menos recursos. As ações de ecoeficiência
preconizadas por essas organizações são as seguintes: Minimizar a intensidade de materiais nos
produtos e serviços; minimizar a intensidade de energia nos produtos e serviços; minimizar a
dispersão de qualquer tipo de material tóxico; aumentar a reciclabilidade dos seus materiais;
maximizar o uso sustentável dos recursos renováveis; aumentar a durabilidade dos produtos da
empresa; e aumentar a intensidade dos serviços nos seus produtos e serviços.
Entre as 12 agências da ONU citadas na Figura 1 estão a Organização das Nações Unidas para a
Educação e Cultura (UNESCO), a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial
(UNIDO), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), o Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e o Departamento das Nações Unidas para as questões sociais
e econômicas (UNDESA), sendo que as duas últimas exercem em conjunto o secretariado do
Processo de Marrakesh. Essas agências já estavam engajadas no movimento do desenvolvimento
sustentável há tempo, a UNESCO, por exemplo, atuava nessa área desde a década de 1960, quando
ainda não se usava essa expressão desenvolvimento sustentável. Entre suas contribuições mais
marcantes estão o Programa Homem e Biosfera que vigora até hoje, a promoção da educação
ambiental afinada com o desenvolvimento sustentável.
A UNIDO já vinha promovendo uma nova postura em relação ao consumo e produção afinados
com os objetivos desse tipo de desenvolvimento, tendo elaborado, em conjunto com a UNEP, o
modelo de gestão ambiental denominado Produção mais Limpa (cleaner production), e incentivado
a criação de centros de difusão em diversos países de todos os continentes, como é o caso do Centro
Nacional de Tecnologias Limpas do Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (CNTL-SENAI-RS)
localizado em Porto Alegre. Esse modelo de gestão implica na adoção de uma estratégia preventiva
integrada envolvendo processos, produtos e serviços a fim de alcançar benefícios econômicos,
sociais, para a saúde humana e o meio ambiente. Sua prioridade máxima é a redução da poluição na
fonte, o que requer ações para modificar os produtos (bens e serviços) e seus processos de
produção. Como informa um documento do Programa, este modelo de gestão incialmente
preocupava-se apenas com questões ambientais envolvidas nos processos de produção, mas com o
tempo foi incorporando preocupações sociais associadas às ambientais, fato este que levou ao
conceito de produção e consumo sustentável e, com isso, juntou as duas pontas do processo
produtivo com impactos diretos sobre a sustentabilidade: a produção e o consumo.

PARTICIPAÇÃO DO BRASIL

Brasil aderiu ao Processo de Marrakesh em 2007. Por meio da Portaria nº 44 do Ministério do


Meio Ambiente, de 13/02/ 2008, teve início um processo de consulta pública para elaborar um plano
de ação dentro do marco do 10YFP. O Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS)

A PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEL: TEMAS PRIORITÁRIOS 19


foi finalmente lançado em novembro de 2011. Como mostra a Figura 1, os programas e estratégias
estão a cargo dos governos nacionais. O Plano adota as seguintes definições, que são as mesmas
constantes em documentos do Processo de Marrakesh:
Consumo Sustentável: o uso de bens e serviços que atendam às necessidades básicas,
proporcionando uma melhor qualidade de vida, enquanto minimizam o uso dos recursos naturais e
materiais tóxicos, a geração de resíduos e a emissão de poluentes durante todo ciclo de vida do
produto ou do serviço, de modo que não se coloque em risco as necessidades das futuras gerações.

Produção Sustentável: a incorporação, ao longo de todo o ciclo de vida de bens e serviços, das
melhores alternativas possíveis para minimizar custos ambientais e sociais (RRASIL/MMA, 2012).
O PPCS tem como missão fomentar políticas, programas e ações de consumo e produção
sustentáveis no Brasil com o objetivo de ampliar as soluções para problemas socioambientais,
visando a erradicação da miséria, a redução de emissões de gases de efeito estufa e ao
desenvolvimento sustentável, e com os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil,
sobretudo com as diretrizes do Processo de Marrakesh. Uma contribuição crucial que se espera do
PPCS é a promoção de mudanças verificáveis nos padrões de produção e consumo. Estas mudanças
devem estar relacionadas à descarbonização da economia e ao uso responsável dos recursos
naturais. Percebe-se a influência da Conferência Rio + 20 e do documento “Rumo à economia verde”,
publicado pelo PNUMA como parte dos trabalhos de preparação dessa Conferência (PNUMA,
2010). O PPCS dialoga com outros planos criados na esfera da União, como o Plano Nacional de
Sobre Mudança do Clima (BRASIL, 2009) e o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010).
Vários princípios do PPCS também são princípios desses planos, como o da prevenção da poluição,
da precaução e da responsabilidade compartilhada.

TEMAS PRIORITÁRIOS

O objetivo primordial do PPCS é fomentar dinâmicas e ações em médio e longo prazos que
mudem o atual paradigma de produção e consumo, contribuindo significativamente para o
desenvolvimento sustentável da sociedade brasileira. A miséria que impõe um consumo desigual foi
reconhecida como um problema relacionado ao processo de produção e consumo. Durante a fase
de consulta foram identificados 17 temas: dos quais os seguintes foram considerados prioritários
para o ciclo de 2011 a 2015:
1. educação para o consumo sustentável;
2. compras públicas sustentáveis;
3. agenda ambiental na administração pública (A3P);
4. aumento da reciclagem de resíduos sólidos;
5. varejo sustentável;
6. construções sustentáveis.

A educação para o consumo sustentável é outro termo para educação ambiental. Prevista na
Constituição Federal de 1988 e na Política Nacional do Meio Ambiente, a educação ambiental
recebeu estatuto legal definitivo com a Lei no 9.795, de 1999, que institui a Política Nacional de
Educação Ambiental (PNEA). A educação ambiental foi definida como os processos por meio dos
quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999). Percebe-se pela definição

20 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


que a educação ambiental será o instrumento privilegiado da promoção de novos padrões de
consumo.
As compras públicas sustentáveis são instrumentos de política pública pelos quais o poder
público pode agir no atacado, pois os entes públicos em conjunto são os maiores compradores tanto
em variedade de bens e serviços, quanto em valores de compra. Ao estabelecer especificações em
produtos sobre aspectos ambientais, os governos estimulam as empresas a implementar
ecoinovações como as que foram descritas no capítulo anterior. Como em geral não é conveniente
para uma empresa manter dois padrões de qualidade ambiental para o mesmo produto, pois isso
eleva os custos de produção, o atendimento às especificações de uma licitação sustentável também
irá beneficiar os demais clientes da empresa.
Ao priorizar as compras púbicas, o PPCS procura atuar no atacado, induzindo a prática de gestão
ambiental na empresa licitante e na sua cadeia de suprimento. Essa política é mais eficaz do que focar
no consumidor individual, cujo esforço seria muito maior e os efeitos menores, pois a maioria dos
consumidores individuais escolhe os produtos com base no preço, apenas uma minoria leva em
conta os atributos ambientais na hora de comprar os produtos que necessita. As razões são muitas,
mas certamente as econômicas falam mais alto, a maioria da população vive com um orçamento
apertado, de modo que comprar os produtos mais baratos é uma questão de sobrevivência e esses
produtos nem sempre são os melhores do ponto de vista ambiental. Por isso, não se observa no Brasil
o mesmo prestígio que os rótulos ou selos verdes adquiriram em países com melhor distribuição de
renda.
Atualmente existe um amplo repertório de práticas de compras públicas sustentáveis em
diversos países, como os da União Europeia. No Brasil observa-se avanços na parte legal com
diversas inovações, ainda pendentes de serem postas em práticas. Dentre essas inovações, ressalta a
mudança na Lei 8666 de 1983 para incluir a promoção do desenvolvimento sustentável entre os
objetivos da licitação. De acordo com a redação dada pela Lei 12.345 de 2010, a licitação destina-se a
garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa
para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável (BRASIL, 2010, grifo
nosso). A Instrução Normativa nº 1 de 2010 do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
dispõe sobre os critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens, contratação de
serviços ou obras pela Administração Pública Federal (BRASIL, 2010). Esses avanços, no entanto, são
muitas vezes torpedeados por medidas casuísticas como os regimes diferenciados de licitação para
apressar as obras da Copa do Mundo de Futebol ou para evitar apagões no fornecimento de energia
elétrica.
O consumidor individual, no entanto, não pode ficar esquecido, qualquer programa para
fomentar a produção e consumo sustentáveis deve considerá-lo. O foco no varejo sustentável pode
sanar essa lacuna, pois é por meio dos estabelecimentos de varejo, físicos ou virtuais, que a
população toma contato com os produtos. Entre as ações do PPCS para o varejo estão as seguintes:
melhorar o desempenho das operações nos pontos de venda, tais como, lojas ecoeficientes, redução
de consumo de energia e água, reciclagem; aumentar a oferta de produtos mais sustentáveis em
quatro categorias: alimentos, utensílios, vestuário, limpeza e higiene; campanhas de redução de
sacolas plásticas para acondicionar alimentos ou transportar compras; aumentar o número de
pontos de entrega voluntária de embalagens e resíduos; proporcionar informações que aumentem a
disposição por parte dos membros da cadeia de suprimentos, incluindo seus funcionários em
contribuir para a adoção de práticas compatíveis com a produção e o consumo sustentáveis.
O Centro de Estudo do Varejo da Escola de Administração de Empresas de São Paulo
(FGV/EAESP-CEV) propõe ações mais ambiciosas baseadas no modelo de gestão ambiental
denominado Natural Step, criado por Karl-Henrik Robèrt, oncologista sueco, com base no que ele
chama de leis da conservação: a energia não pode desaparecer ou ser criada (1a lei); a energia e a
matéria tendem a se dispersar (2a lei); o valor material é medido pela concentração e estrutura da

A PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEL: TEMAS PRIORITÁRIOS 21


matéria (3a lei); as células vegetais, com energia solar, geram um aumento líquido na concentração e
estrutura da Terra (4a lei). Entre as ações recomendadas estão as seguintes: eliminar a contribuição
para o acúmulo de substâncias tóxicas na natureza; obter independência de combustíveis fósseis e
seus derivados; eliminar o descarte de resíduos sólidos (embalagens, resíduos orgânicos, pós-
consumo de produtos); eliminar o uso de gases nocivos à atmosfera; privilegiar fornecedores que
acatem esses princípios; negociar de forma transparente e equilibrada com fornecedores; promover
a educação ambiental e o consumo consciente de bens e serviços entre seus consumidores; usar
propaganda e veicular comunicados de modo responsável (EAESP/CES, 2009).
O aumento da reciclagem de resíduos sólidos, outro tema prioritário, deverá caminhar a passos
mais largos com a institucionalização da Politica Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010). Além
disso, vários segmentos da economia enxergam oportunidades de negócios com a implementação
dessa Política. A produção de bens de capital para a reciclagem de materiais movimenta uma enorme
gama de empresas da indústria ambiental com interesse de expandir suas atividades. Porém, a
construção de esquemas de logística reversa para atender o dispositivo legal da responsabilidade
compartilhada entre produtores, distribuidores e consumidores ainda é um ponto frágil da referida
Política.
A inclusão da construção como tema prioritário é fundamental para a promoção da produção e
consumo sustentáveis, não só pelo fato de ser este setor da economia intensivo em insumos
materiais e energéticos no seu processo de produção ao longo do ciclo de vida, desde a extração de
materiais na natureza até a construção dos edifícios. Mas também, porque o modo como os edifícios
são concebidos e construídos determinam o nível de consumo de materiais e energia durante a sua
vida útil.
O PPCS tem metas ambiciosas para os temas prioritários mencionados acima, como mostra o
Quadro 1. Algumas já estão em vias de serem descumpridas, como a que pretende amentar em 50%
o número de consumidores conscientes no Brasil até 2.014. O PPCS ainda é pouco praticado, mesmo
no âmbito da administração pública. No ambiente empresarial segue a mesma toada. A dificuldade
de implementá-lo se deve menos ao desconhecimento do que às questões comportamentais
relativas à produção e ao consumo. Como dito anteriormente, o crescimento sempre almejado por
empresários, governantes e eleitores impedem a criação de medidas para reduzir o consumo, a
menos que se trate de uma situação de escassez, como a que acontece com a energia elétrica e água
potável em alguns locais do Brasil. As práticas de promoção da produção e consumo sustentável
muitas vezes são anuladas pelas políticas econômicas, como por exemplo, a redução de impostos
incidentes sobre produtos para aumentar a demanda e do preço de combustíveis para conter a
inflação.
Quadro 1: Macrometas do PPCS
Prioridade Macrometa Prazo
Educação para o consumo Aumentar o número de consumidores conscientes na 2014
Sustentável classe C em pelo menos 50%
Compras Públicas 20 processos licitat órios com critérios de 2014
Sustentáveis sustentabilidade na administração federal
Agenda Ambiental na Instituir em todos os órgãos da Administração Direta
Administração Pública Pública Federal a Responsabilidade Socioambiental 2014
(A3P) como estratégia permanente
Aumento de reciclagem de 20% aumento da reciclagem no País até 2015 e 25% 2015-
resíduos sólidos até 2020 20
Varejo Sustentável Estimular que 50% do setor supermercadista
incorporem práticas de PCS 2014
Estimular práticas de PCS em outros dois segment os
do varejo
Construções sustentáveis Aumentar em 20% o desempenho ambiental das
obras a partir de índice de sustentabilidade definido 2020
por indicadores de consumo de água, energia,
geração de resíduos e compra responsável.
Fonte: BRASIL/MMA, 2011.

22 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os processos de produção e consumo praticados são insustentáveis, eles geram poluição em


grande quantidade e variedade e consumem muito recursos. Apesar disso, metade da humanidade
ainda vive em condições precárias, eis aí a mãe de todos os problemas socioambientais. Como
promover bem-estar a todos os seres humanos sem piorar a situação do planeta em termos
ambientais? No que se refere à produção, há um estímulo permanente de reduzir a quantidade de
material e energia por unidade de produção, pois isso significa redução de custo ou aumento da
produtividade. Por isso, observa-se uma busca constante por melhores práticas produtivas em todos
os períodos históricos.

O fato marcante nas últimas décadas foi o aparecimento de modelos de gestão que promovem
tais melhorias de forma sistemática invertendo a equação. Antes, as melhorias ambientais, quando
aconteciam, eram efeitos secundários dos objetivos principais relacionados com a redução de custo,
melhoria da qualidade, substituição de insumos de difícil acesso, entre outros. A redução de
desperdício de todo tipo é um dos lemas do movimento da qualidade total. Os modelos de gestão
ambiental, alguns citados no texto, como ecoeficiência, produção mais limpa, natural step,
promovem melhorias ambientais nos sistemas produtivos como objetivos primeiros, assegurando
um equilíbrio com os econômicos. Assim, por exemplo, reduzir a poluição na fonte é o objetivo
principal e a redução do custo ou aumento da margem de lucro são efeitos observados na esfera
econômica da empresa. Com isso, houve um aumento da eficiência produtiva, o que significa melhor
utilização de materiais e energia nos processos produtivos.

Todo esse avanço no campo da produção é insuficiente, como mostram os relatórios do IPCC e
do IPR mencionados no início deste texto. A eliminação da pobreza requer ampliação da produção,
pois isso significa mais alimentos, moradias, vestimentas, transporte, escolas, hospitais entre outros
bens materiais necessários para o provimento do bem-estar das famílias. Assim, é preciso dar
atenção ao consumo, principalmente com respeito ao consumo das classes mais favorecidas cujo
nível de consumo já é elevado. Esta talvez seja a parte mais difícil pelo fato de envolver questões de
status, afirmação, busca de significados, compensações, entre muitas outras. O estado de
degradação socioambiental não autoriza esperar por mudanças espontâneas nos processos de
produção e nos hábitos de consumo. Daí a importância do programa decenal 10YPF no plano
global e do PPCS no plano nacional.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 12.349 de 15/12/2010, Altera as Leis nos 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.958, de 20
de dezembro de 1994, e 10.973, de 2 de dezembro de 2004; e revoga o § 1o do art. 2o da Lei no
11.273, de 6 de fevereiro de 2006. Brasília, Diário Oficial da União de 16/12/2010.
_______. Lei 112.305 de 02/08/2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei
no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Brasília, Diário Oficial da União de
03/08/2010.
_______. Lei 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição
Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras

A PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEL: TEMAS PRIORITÁRIOS 23


providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 22 de jun. 1993.
______. Instrução Normativa nº 1, de 19 de janeiro de 2010. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
20 de jan. 2010.
_______/MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Plano de Ação para Produção e Consumo
Sustentável – PPCS. Sumário executivo. Brasília, MMA, 2011. Disponível em www.mma.gov.br,
acesso em 06/01/2012.
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso Futuro em
comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988.
CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Agenda
21. Brasília, DF: Senado Federal, 1996.
______. Declaração de Johanesburgo sobre desenvolvimento sustentável. Brasília, DF: Ministério
do Meio Ambiente, 2002. Disponível em: <www.mma.gov.br/estruturas>. Acesso em: 24 jun. 2011.
PLANO DE IMPLEMENTAÇÃO DA CÚPULA MUNDIAL SOBRE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL. Disponível em www.mma.gov.br/port/sdi/ea/documentos. Acesso em 02/05/2011.
INTERNATIONAL PANEL ON CLIMATE CHANGE (IPCC). Cambio climático 2013 – bases física:
resumen para responsables de políticas. ONU e PNUMA, 2014. Disponível em www.unep.org. Acesso
em 18/04/2014.
INTERNATIONAL RESOURCE PANEL - IRP. Desacoplar el uso de los recursos naturales y los
impactos ambientales del crecimiento económico. Nairobi: United Nations Environment Program/
EIRP, 2011. Disponível em http://www.unep.org. Acesso em 25/04/2014.
UNEP/PNUMA – UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAM. The Marrakech Process -
Frequently Asked Questions, 2009. Disponível em www.unep.org, acesso em 20/05/ 2010.

24 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


ARTIGO 2
O LICENCIAMENTO AMBIENTAL EMPRESARIAL E
A RESPONSABILIDADE SOCIAL

Artemísia Souza do Valle


Geógrafa. Especialista em Engenharia Ambiental. Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade
na Amazônia. Analista Ambiental do Instituto de Proteção Ambiental
do Amazonas – IPAAM. artemisiavalle2009@hotmail.com

O desenvolvimento econômico empresarial tem por base a responsabilidade social e à proteção


ao meio ambiente. As atividades econômicas potencialmente causadoras de impactos ambientais
estão sujeitas ao controle pelo Poder Público, por meio do licenciamento ambiental, momento em
que a Administração Pública estabelece as condições e limites para o atendimento as exigências da
legislação ambiental.
A Lei Complementar 140 de 08 de dezembro de 2011, define licenciamento ambiental em seu
artigo 2º, inciso I, como sendo “o procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou
empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou
capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental”. Tem como princípio a garantia da
qualidade de vida da população e para tanto, é necessário o controle prévio e continuado
acompanhamento das atividades humanas capazes de gerar impactos sobre o meio ambiente.
O licenciamento ambiental é procedimento administrativo por meio do qual se verificam as
condições de concessão à licença ambiental que é o ato administrativo que concede o direito de
exercer toda e qualquer atividade utilizadora de recursos ambientais ou efetiva ou potencialmente
poluidora. Ao receber a licença ambiental, o empreendedor assume os compromissos para a
manutenção da qualidade ambiental do local em que pretende se instalar e operar.
A partir da Lei nº. 6.938/81, o licenciamento ambiental passou a ser uma exigência, conforme
preconizado em seu que art. 10 “A construção, instalação, ampliação e funcionamento de
estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e
potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do
Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças
exigíveis”, tornando-se obrigatório para o desenvolvimento de toda atividade passível de interferir na
qualidade do meio ambiente. Inicialmente regulamentada pelo Decreto Federal nº. 88.351/83 e
posteriormente pelo Decreto Federal nº. 99.247/90.
A Constituição Federal, em seu art. 23, VI, prevê que a proteção ao meio ambiente e o combate à
poluição em qualquer de suas formas é competência material comum entre a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios. O seu parágrafo único, previu a edição de Lei Complementar para
normatizar a cooperação entre os entes federativos, “tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento

O LICENCIAMENTO AMBIENTAL EMPRESARIAL E A RESPONSABILIDADE SOCIAL 25


e do bem-estar em âmbito nacional”. Neste sentido, foi editada a Lei Complementar 140/2011, que
dentre outras questões definiu as competências para o licenciamento ambiental, visando acabar com
a sobreposição de atividades entre a União, Estados e Municípios.
Os problemas ambientais são em regra causados pelo desenvolvimento das atividades
econômicas, para a obtenção de um meio ambiente saudável e equilibrado é necessário a atuação
responsável dos diferentes setores. É nesse contexto que desponta a importância da
responsabilidade empresarial, de maneira a fazer com que o crescimento econômico não se torne
um obstáculo à defesa do meio ambiente.
Cabe ao Poder Público, a obrigação de controlar as atividades capazes de interferir nas
condições ambientais, buscando o desenvolvimento sustentável. O Poder Publico, em todas as
esferas, por meio dos seus órgãos e entidades, têm a obrigação constitucional de atuar na defesa e
na preservação do meio ambiente, de acordo com a previsão do art. 225 da Constituição Federal.
A atuação do poder de polícia das instituições públicas deve buscar equilibrar o exercício do
poder econômico com a prevalência dos interesses coletivos, onde o exercício do poder econômico
não deve representar riscos aos interesses difusos e coletivos. A ordem econômica é obrigada a
cumprir a função social determinada pela Constituição Federal de 1988, neste aspecto o lucro justo é
aquele que traz benefícios para o empreendedor e para a coletividade, não pode o desenvolvimento
de atividades econômicas de modo geral ferir o direito dos outros cidadãos.
O desenvolvimento das atividades econômicas licita, são respaldadas pelos princípios da livre
iniciativa e da livre concorrência, mas encontram o seu limite de liberdade no princípio da dignidade
da pessoa humana, na medida em que, as atividades econômicas não podem desconsiderar os
cuidados com o meio ambiente e devem ser desenvolvidas de modo a servir como meio para
concretização de fins ou valores socialmente relevantes.
A perspectiva ambiental é um componente obrigatório no desenvolvimento da atividade
empresarial, impondo limites e obrigações. A produção e consumo devem ser atrelados à legalidade
e à moralidade e não pode bancar a poluição e a degradação do meio ambiente. Neste aspecto, se
depreende que os limites da liberdade da iniciativa econômica são determinados, no âmbito do
ordenamento jurídico, pela sua função social.
A Constituição Brasileira em seu art. 170 resguarda o direito à livre iniciativa e ao
desenvolvimento econômico, mas ao mesmo tempo condiciona esse direito ao respeito ao meio
ambiente e a função social da atividade, o que nada mais é que a supremacia do interesse público
frente ao interesse privado e a proteção a um direito fundamental da pessoa humana de ter um meio
ambiente ecologicamente equilibrado, conforme dispõe o art. 225, caput, da Constituição. Para
tanto o Poder Público, objetivando fazer cumprir o disposto na Constituição Brasileira e na legislação
infraconstitucional, se utiliza do seu poder de polícia, condicionando o exercício das atividades
econômicas a determinadas obrigações, dentre elas o licenciamento ambiental.
O licenciamento ambiental, enquanto processo administrativo é que tem como objetivo o
controle prévio e o acompanhamento continuado das atividades humanas, capazes de gerar
impactos sobre o meio ambiente. O controle das atividades efetiva ou potencialmente poluidoras,
deve ser realizado por meio de um conjunto de procedimentos a serem determinados pelo órgão
competente, se constituindo em efetivo instrumento de defesa a disposição da sociedade e do Poder
Público na busca do desenvolvimento sustentável.
A missão do Poder Público de evitar que danos ao meio ambiente coloquem em risco a
qualidade de vida, não se concretiza simplesmente com instrumentos como o licenciamento
ambiental, embora seja de extrema importância, mas por se só não consegui responder a enorme
pressão em torno da utilização desenfreado dos recursos naturais e da geração cada vez maior de

26 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


resíduos, que são destinados sem os cuidados apropriados para que danos ao meio ambiente sejam
evitados. A utilização dos meios de inteligências e informação ambiental são instrumentos
imprescindíveis, no combate ao dano ambiental assim como a participação popular na defesa dos
interesses difusos e coletivos da sociedade também tem fortalecido a execução da política ambiental.
Na presença do risco de dano, devem ser adotadas as medidas efetivas de proteção, levando-se
em conta a segurança ambiental, mas para que isso aconteça há necessidade de uma tomada de
consciência do ser humano, de que os prejuízos ambientais são cumulativos e que a cada dia
estamos todos correndo mais riscos, em todos os sentidos. As catástrofes estão ocorrendo com
maior intensidade, principalmente nas áreas urbanas, atingindo pessoas, que em muitos casos, em
nada contribuírem para as causas dos danos ambientais, são somente vítimas de uma desenfreada
ambição empresarial. Não é possível pensar o meio ambiente de forma individual, porque as
consequências são sentidas por toda a coletividade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição da República do Brasil, de 31 de agosto de 1988. Publicada no Diário Oficial,


1988.
BRASIL. Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008. Dispõe sobre as infrações e sanções
administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para a apuração
destas infrações, e dá outras providências, 2008.
BRASIL. Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente,
seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e dá outras providências, 1981.
BRASIL. Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as seções penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências, 1998.
BRASIL. lei complementar no 140, de 8 de dezembro de 2011. Fixa normas, nos termos dos
incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a
cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas
decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais
notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à
preservação das florestas, da fauna e da flora; e altera a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981.
BRUNA, Sérgio Varella. O poder econômico e a conceituação do abuso em seu exercício. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1997.
FARIAS, Talden Queiroz. Principios filosóficos do licenciamento ambiental empresarial. Disponível
https://www.google.com.br/#q= Acessado em 22.04.2014.
GARCEZ, Rochelle Jelinek. Licenciamento ambiental e urbanístico para o parcelamento do solo
urbano. BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos e (org). Paisagem, natureza e
direito/landscape, nature and law, Volume 2. São Paulo: Instituto O Direito por um Planeta Verde,
2005.
MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. S. Paulo: Malheiros, 2010.
TARIN, Denise Muniz de. Gestão integrada de licenciamento ambiental. BENJAMIN, Antônio
Herman de Vasconcellos e (org). Paisagem, natureza e direito/landscape, nature and law, Volume 2.
São Paulo: Instituto O Direito por um Planeta Verde, 2005.

O LICENCIAMENTO AMBIENTAL EMPRESARIAL E A RESPONSABILIDADE SOCIAL 27


ARTIGO 3
ALINHAMENTO ENTRE AS ESTRATÉGIAS E OS PROCESSOS
PARA DESEMPENHO E SUSTENTABILIDADE

Márcio Silva Viana Araújo


MVA Consultoria e Desenvolvimento
msvianaa@gmail.com; marcio@mvaconsultoria.com.br

Resumo: O presente texto tem o objetivo de apresentar modelos e ferramentas na gestão


ambiental empresarial. Para isto, utilizou-se modelos de Sistema de Medição de Desempenho –
SMD, direcionados para o alinhamento entre as estratégias e os processos, desempenho e
sustentabilidade das organizações. Também mostrou a sua persistência na busca de um modelo
sistêmico, de simples compreensão e assimilação pelas pessoas, e voltado para a melhoria dos
resultados. O método de SMD mostrado foi o Performance Prism, sendo destacada a aplicação em
duas empresas, uma do ramo industrial de papel e embalagens de papelão para alimentos, e a outra,
ainda em fase de andamento do projeto, atuante em serviços de educação, técnicos, tecnológicos e
de inovação.

INTRODUÇÃO

Qualquer trabalho acarreta em entregar um produto, contudo, conhecer as causas da sua rotina,
ou seja seus objetivos, ter clara as regras dessas mesmas rotinas, possibilita melhor controle e
consequente melhor desempenho, o que tornam os resultados desse trabalho melhores e por
conseguinte mais competitivos. A própria Fundação Nacional da Qualidade, em 1999 criou o Comitê
Temático Medição do Desempenho Global, com cerca de 27 empresas, de vários setores dentre elas,
a Caterpillar, Correios, Eletronorte, Petrobras, Siemens, WEG e XEROX, ou seja, considera-se uma
vantagem as empresas buscarem a gestão estratégica aliada aos processos do dia a adia.
Confesso que durante muito tempo me inquietei em trabalhar com diversas normas, como a ISO
9001, a ISO 14001 e a OHSAS 18001, diretrizes como o Modelo de Excelência da Gestão,
preconizado pela Fundação Nacional da Qualidade, e métodos de planejamento estratégico, o
próprio Balanced Scorecard, e outros, e no final dos projetos, sempre me questionava, o que ajudei a
melhorar nessa empresa, além do método que orientei a implementar e talvez outros ganhos
pontuais?
Devido essa minha questão perturbadora, aproveitei os meus estudos originados em meu
mestrado na área de engenharia de produção e fui em busca de formas, meios, métodos de gestão,
que fossem simples, ou seja, de fácil entendimento das pessoas, inclusive que bastassem elas
utilizarem a lógica (ver Figura 1) e a percepção das dificuldades do dia a dia nas empresas, para

ALINHAMENTO ENTRE AS ESTRATÉGIAS E OS PROCESSOS 29


PARA DESEMPENHO E SUSTENTABILIDADE
entenderem tal método, que ainda tivesse foco em desempenho e que permitisse a medição mais
clara de resultados. Não acredito em mágica, mas aprendi que uma boa prática, quando bem
aplicada, pode trazer melhores resultados. Foi ai que em meados de 2004 conheci a sigla SMD, e
concomitantemente o Performance Prism, que possibilita o alinhamento das estratégias com os
processos, e percebi os ganhos reais que este método pode favorecer. Mais tarde também, foi citado
no trabalho de Fernando E. A. da Fonseca (2010) de pesquisa de , como um dos mais completos
modelos de SMDs.

Figura 1 – Lógica do Performance Prism

a)Sa sfação dos stakeholders – Quem são os stakeholders da empresa e o que eles querem e
necessitam?

b) Estratégias – Quais estratégias a empresa precisa pôr em prá ca para sa sfazer as


necessidades dos stakeholders?

c) Processos – Quais são os processos crí cos requerid os para realizar essas estratégias?

d) Capacidades – Que capacidades a empresa precisa para operar e melhorar esses


processos?

Fonte: ADAMS, Cris e NEELY, Andy. The Performance Prism Can Boost M&A
Success.www.som.cranfield.ac.uk/som/p1153/Research/Research-
Centres/Centre-For-Business-Performance/Products/products

METODOLOGIA
A metodologia considerada, é a deste último projeto, pois houve uma evolução natural,
consequência do aprendizado obtido nos anos anteriores.
Segue abaixo,

Figura 2 – Metodologia do Performance Prism

Fonte: Adaptado de ADAMS, Cris e NEELY, Andy. The Performance Prism Can Boost M&A
Success.www.som.cranfield.ac.uk/som/p1153/Research/Research-Centres/Centre-For-Business-
Performance/Products/products

30 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


RESULTADOS

No projeto iniciado em 2007, na indústria, obteu-se:


- Novo leiaute reduziu o transporte por cerca de 1300 quilômetros por mês, gerando redução
dos custos em cerca de aproximadamente 25%.
- Readequação e alinhamento de indicadores de desempenho (ver figura 3)

Figura 3 – Indicadores de Desempenho

Fonte: Sopasta, Papel e Embalagem, 2010

REFERÊNCIAS

OTT, Margot Bertolucci. Tendências Ideológicas no Ensino de Primeiro Grau. Porto Alegre:
UFRGS, 1983. 214 p. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de
Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1983.

MELLO, Luiz Antonio. A Onda Maldita: como nasceu a Fluminense FM. Niterói: Arte & Ofício,
1992. Disponível em: <http://www.actech.com.br/aondamaldita/ creditos.html> Acesso em: 13 out.
1997.

ALINHAMENTO ENTRE AS ESTRATÉGIAS E OS PROCESSOS 31


PARA DESEMPENHO E SUSTENTABILIDADE
ARTIGO 4
APERFEIÇOAMENTO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL:
DILEMAS E AVANÇOS DA POLÍTICA AMBIENTAL
BRASILEIRA
João Rodrigo Leitão dos Reis
Geógrafo. Mestre em Ciências Florestais e Ambientais. Pesquisador. Chefe de Departamento da Secretaria
Executiva Adjunta de Compensações e Serviços Ambientais da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável do Amazonas – SEACA/SDS/AM. jrlreis@gmail.com

Kamila Botelho do Amaral


Advogada, 6269 OAB/AM. Secretária de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do
Amazonas – SDS/AM. kamilamaral@gmail.com

INTRODUÇÃO

A formulação de políticas públicas ambientais e execução dos Serviços Públicos de Gestão e


Controle Ambiental no Brasil, com foco no seu planejamento, fortalecimento, instrumentalização e
operacionalização, possuem como base legal a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA),
instituída pela Lei Federal nº. 6.938, de 31 de agosto de 1981, alterada pela Lei Federal nº. 7.804, de
18 de julho de 1989, e regulamentada pelo Decreto Federal nº. 99.274, de 06 de junho de 1990, que
criou também o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). Somam-se ao arcabouço legal, as
Resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), especialmente as Resoluções
Conama nº. 001/1986, 009/1987 e 237/1997, que de forma complementar disciplinam o
licenciamento de empreendimentos, elaboração de estudos e emissão de licenças ambientais, e
também discriminam que no Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório (EIA/RIMA), assim
como, nas demais modalidades de estudos ambientais requeridas pelo órgão licenciador, devem ser
previstas as medidas mitigadoras dos impactos ambientais negativos e programas de
monitoramento, além da realização de audiências públicas. Destaca-se também a Lei Federal n°.
9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, regulamentada pelo Decreto Federal nº. 6.514, de
22 de julho de 2008. Em conformidade com a legislação federal, no Estado do Amazonas foi
instituída a Lei Estadual nº. 1.532, de 06 de julho de 1982, estabelecendo a Política Estadual da
Prevenção e Controle da Poluição, Melhoria e Recuperação do Meio Ambiente e da Proteção aos
Recursos Naturais, regulamentada pelo Decreto Estadual nº. 10.028, de 04 de fevereiro de 1987, e a
Lei Ordinária Estadual nº. 3785/2012, de 24 de julho de 2012, que dispõem sobre o licenciamento
ambiental. Portanto, os Serviços Públicos de Gestão e Controle Ambiental correspondem ao
planejamento e execução de ações gerenciais, estruturantes e operacionais para o controle,
monitoramento, fiscalização e licenciamento ambiental, e ao aprimoramento das normativas e
procedimentos previstos na legislação, envolvendo também a devida estruturação e manutenção

APERFEIÇOAMENTO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL: DILEMAS E AVANÇOS 33


DA POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA
dos Sistemas Públicos de Meio Ambiente, na escala federal, estadual e municipal. Neste contexto,
houve a evolução do arcabouço legal, com o advento da Lei Complementar Federal nº. 140, de 08 de
dezembro de 2011, que estabeleceu parâmetros para a divisão de competências administrativas,
fixando normas para cooperação da gestão ambiental entre os Entes da Federação (a União, cada
Estado, o Distrito Federal e cada Município). Esse processo envolve a estruturação física
administrativa-operacional e a constituição de suporte técnico-científico dos Sistemas Públicos de
Meio Ambiente, com o devido controle social, composto paritariamente pelos distintos segmentos
sociais e o setor privado. Diversos estudos abordam a Gestão e Gerenciamento Ambiental no Brasil,
apresentando arcabouço teórico-metodológico e estudos de caso distintos, complementares ou
com perspectivas inovadoras. As contribuições sobre essa temática tem como tema fundamental o
licenciamento ambiental, especialmente nas tipologias de estudos, pesquisas e programas utilizados
para diagnosticar, mitigar ou compensar os efeitos negativos da instalação, operação ou ampliação
de atividades e empreendimentos, e a determinação das medidas mitigatórias (preventivas,
corretivas ou restritivas) e compensatórias (compensação ambiental) decorrentes do impacto
ambiental gerado ou previsto, de caráter reversível (mitigável) ou irreversível (não mitigável). O
Licenciamento Ambiental, conforme a Lei Estadual nº. 1.532/82 e a Lei Complementar Federal nº.
140/2011, é o procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental licencia a localização,
instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente
poluidoras que possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e
regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. Ressalta-se que são sujeitos ao
licenciamento ambiental, às pessoas físicas, jurídicas, públicas ou privadas responsáveis por
empreendimentos ou atividades enquadradas pelo órgão ambiental licenciador, como efetivas ou
potenciais causadoras de significativo impacto ambiental mitigável ou não mitigável, com
fundamento em estudos ambientais. Dois pontos básicos foram evidenciados pela Lei
complementar Federal nº. 140/2011, o primeiro trata da discussão sobre a determinação da
amplitude/magnitude do impacto ambiental, se de escala nacional, regional, estadual ou local, o que
é uma condicionante para a escolha/divisão das tipologias de atividades e empreendimentos a ser
licenciada por cada ente federativo, e o segundo se refere à sustentabilidade financeira e aos custos
para o aparelhamento dos organismos de meio ambiente para assumir e repassar as competências
ambientais, nesse caso específico, a determinação de taxas, manutenção de infraestrutura e pessoal,
e monitoramento técnico processual no âmbito do licenciamento ambiental, em conformidade com
a legislação existente em cada ente Federativo. Esse tema é objeto de discussão nesse artigo, que
busca uma reflexão sobre os dilemas e avanços da política ambiental brasileira principalmente no
aperfeiçoamento do processo de licenciamento ambiental, o que ocasionará impactos positivos para
seus usuários.

DELINEANDO O REPASSE DE COMPETÊNCIAS AMBIENTAIS

As competências administrativas ambientais expressam um conjunto de ações de caráter


sistemático, procedimental, institucional e operacional, planejadas e executadas com amparo legal,
jurídico e político, e com suporte técnico-científico necessário ao desenvolvimento dos Serviços
Públicos de Gestão e Controle Ambiental. Para estarem habilitados a repassar e assumir
competências ambientais, conforme preceitua a Lei Complementar Federal nº. 140/2011, os

34 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


Sistemas Públicos de Meio Ambiente, na escala federal para estadual, e estadual para municipal,
devem suprir requisitos mínimos como a constituição e manutenção de organismos, conselhos e
fundos específicos de meio ambiente, aquisição e manutenção de infraestrutura, equipamentos e
pessoal qualificado, e a elaboração e implementação de arcabouço legal e instrumentos de gestão
apropriados. Ou seja, possuir evidências substanciais quanto à estruturação e operação efetiva de
seus respectivos sistemas. Cabe salientar que a discussão sobre a definição do repasse de
competências, deve além de envolver agentes pontuais (gestores) e representativos da área
administrativa ambiental, buscar a participação das universidades e institutos de pesquisas, assim
como, dos usuários dos Sistemas Públicos de Meio Ambiente, o setor empresarial. Portanto, as
diretrizes a serem adotadas para o repasse de competências devem está alinhadas: a)
procedimentos para a cooperação/descentralização do licenciamento e da fiscalização ambiental
das atividades de impacto nacional, regional, estadual e local de competência da União, Estados,
Distrito Federal e Municípios, evitando a duplicidade e omissão de ações pelos três entes federados;
b) tipologias dos empreendimentos ou atividades e seus respectivos portes caracterizados como de
impacto nacional, regional, estadual e local para fins de licenciamento ambiental na esfera de
competência dos Entes Federativos; c) diretrizes para integração de ações entre os Entes Federativos
para o fortalecimento da gestão ambiental compartilhada; d) requisitos para avaliação da
capacidade técnica do organismo ambiental para assumir a competência de licenciamento
ambiental; e, d) envolver a sociedade e os segmentos acadêmicos e científicos para contribuir com o
debate. Neste contexto, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) lançou em 2013, o Livro
“Licenciamento Ambiental para o Desenvolvimento Urbano: avaliação de instrumentos e
procedimentos” que traz análise do atual contexto de implementação da Lei Complementar Federal
nº. 140/2011, aspectos técnicos e metodológicos, e estudos de caso. Segundo o IPEA, a grande
maioria das licenças ambientais no Brasil tem sido emitida pelos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente
(OEMAS), conforme estabelecido no âmbito das atribuições dos órgãos que compõem o SISNAMA.
Antes da sanção da Lei Complementar Federal nº. 140/2011, a atribuição de o município licenciar era
apenas uma possibilidade. Assim, com essas atribuições definidas pela Lei Complementar Federal nº.
140/2011, o município passa a ter maior responsabilidade quanto ao meio ambiente urbano e terá
de promover esforços no sentido de fomentar ações de fortalecimento da gestão municipal, a fim de
melhorar as condições técnicas e operacionais (Motta e Pêgo, 2013).

DIVISÃO DAS TIPOLOGIAS DE EMPREENDIMENTOS

A divisão das tipologias de empreendimentos para fins de licenciamento entre os Entes


Federativos, não pode ser definida considerando apenas os fatores geográficos, ambientais,
operacionais e legais de cada ente federativo, devendo possuir o cuidado de não inibir o
desenvolvimento de competências técnicas estaduais e municipais no licenciamento ambiental de
empreendimentos, especialmente no caso dos Estados quanto ao licenciamento de
empreendimentos de grande porte, como por exemplo, hidrelétricas, tendo em vista que alguns
Entes da Federação possuem grandes dimensões territoriais e capacidade técnica e gerencial.

APERFEIÇOAMENTO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL: DILEMAS E AVANÇOS 35


DA POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA
Ressalta-se que a nível nacional, o Ministério do Meio Ambiente (MMA), por meio da Portaria nº. 204
- MMA, de 07 de junho de 2013, criou a Comissão Tripartite Nacional de Gestão Ambiental (CTN),
com o objetivo de fomentar a gestão ambiental compartilhada e descentralizada entre os entes
federativos, bem como propor as tipologias de empreendimentos e atividades que serão objeto de
licenciamento ambiental pela União, na forma prevista na alínea “h”, do inciso XIV, e do parágrafo
único do art. 7º da Lei Complementar Federal nº. 140/2011. Por sua vez, a Associação Brasileira de
Entidades Estaduais de Meio Ambiente (ABEMA) está articulando discussão junto a CTN, MMA e
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), sobre as tipologias de
licenciamento ambiental que serão licenciadas pelo IBAMA e principalmente na determinação dos
empreendimentos a serem repassados aos Estados. No Estado do Amazonas, a Comissão Tripartite
Estadual foi inicialmente instituída pela Portaria MMA nº. 131, de 03 de junho de 2004, mas para
atendimento aos artigos 4º, §3º, e 9, XIV, “a”, da Lei Complementar Federal nº. 140/2011, a Comissão
foi reconstituída. Para o repasse das competências dos Estados para os Municípios, o art. 9º, inciso
XIV, alínea “a”, da Lei Complementar Federal nº. 140/2011, atribuiu competência aos Conselhos
Estaduais de Meio Ambiente para a definição das tipologias de atividades e empreendimentos que
causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, considerados os critérios de porte,
potencial poluidor e natureza da atividade, e dos critérios para repasse de competências técnicas. Por
esse motivo, o Conselho Estadual de Meio Ambiente do Amazonas (CEMAAM) expediu a Resolução
CEMAAM Nº 15/2013, de 15 de abril de 2013, criando o Programa Estadual de Gestão Ambiental
Compartilhada, e definiu os procedimentos e critérios para repasse de competências aos municípios
e as tipologias de empreendimentos e atividades de impacto ambiental local.

DINÂMICA DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL

A discussão sobre a divisão das tipologias de empreendimentos entre a União, Estados e Distrito
Federal gira em torno do licenciamento de empreendimentos de grande porte (se de escala
nacional, regional ou estadual), pois são os que propiciam maior cobrança de taxas e exige-se
rigorosa especialização técnico-científica na tramitação e avaliação processual. O processo de
licenciamento ambiental de grandes obras costuma ser muito conflituoso. Podemos destacar que o
licenciamento e gerenciamento ambiental de empreendimentos de grande porte é um processo
dinâmico, multissetorial, transversal e multidisciplinar que abrange inicialmente a sua concepção
técnica e de engenharia, e a elaboração de estudos ambientais solicitados pelo órgão ambiental
licenciador, e posteriormente, o desenvolvimento, monitoramento e execução dos programas e
medidas de gerenciamento ambiental adotadas no âmbito do licenciamento ambiental. A Instrução
Normativa (IN) nº. 184/2008 – IBAMA, estabelece procedimentos para Licenciamento Ambiental
Federal (LAF) e prazos para o licenciamento, alterada pela IN nº. 14/2011 – IBAMA, com acréscimo
de procedimentos para envolvimento dos órgãos e entidades federais e estaduais ligados ao LAF. No
decorrer da tramitação do processo e dependendo do porte do empreendimento e do tipo de
atividade a ser requerida, pode ser expedida uma única licença ambiental (LAU) ou as tradicionais
três licenças complementares e sequênciais, a Licença Ambiental Prévia (LP), Licença Ambiental de
Instalação (LI) e Licença Ambiental de Operação (LO). Cada licença possui restrições e

36 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


condicionantes ambientais específicas para o andamento da implantação, operação ou ampliação
do empreendimento requerido, sendo discriminadas as medidas mitigatórias e compensatórias,
assim como, incorporadas as condicionantes de outros órgãos. Para cada empreendimento é
solicitado pelo órgão ambiental ao empreendedor a apresentação de Estudos Ambientais,
discriminando os aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação ou
ampliação, bem como, os programas mitigatórios e compensatórios e as medidas de gerenciamento
ambiental para o empreendimento. Atualmente, existem distintas modalidades de estudos
ambientais solicitados ao empreendedor, que obviamente a escolha pelo órgão licenciador depende
do porte do empreendimento e das características inerentes da atividade a ser praticada, sendo
expedido Termo de Referência específico. A modalidade de maior relevância é o Estudo de Impacto
Ambiental e respectivo Relatório – EIA/RIMA (Resolução CONAMA nº. 01/86 e Decreto Estadual nº.
10.028/82), solicitado para as seguintes atividades e/ou empreendimentos: a) Estradas de rodagem;
b) Portos e Terminais de Minério, Petróleo e Produtos Químicos; c) Aeroportos; d) Oleodutos,
Gasodutos, Minerodutos; e) Linhas de Transmissão de Energia Elétrica, acima de 230 Kv; f ) Extração
de Combustível Fóssil; d) Aterros Sanitários; h) Usina de Geração de Eletricidade; i) Outras que
venham a ser consideradas pelo órgão licenciador com alto potencial de impacto ambiental. A esse
se acrescente a realização de audiência pública. E no decorrer do processo a anuência e indicação de
condicionantes e obrigações por parte de órgãos e instituições gestores de unidades de
conservação, terras indígenas, sítios espeleológicos, quilombos, sítios arqueológicos, obtenção do
laudo de avaliação do potencial malarígeno e do atestado de condição sanitária, desenvolvimento
de ações junto aos municípios atingidos por grandes empreendimentos como a elaboração de
planos diretores, entre outros. Os empreendimentos com EIA/RIMA são obrigados a quitar/pagar o
valor da compensação ambiental, prevista no art. 36 da Lei Federal nº. 9985, de 18 de julho de 2000,
que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), calculada pelo órgão
ambiental licenciador com base na gradação/valoração do impacto ambiental entre 0 a 0,5% sobre
os custos de implantação do empreendimento. A compensação ambiental prevista no SNUC é
destinada exclusivamente criação e implementação de unidades de conservação, preferencialmente
do Grupo de Proteção Integral. A parte do licenciamento ambiental, está o repasse da Compensação
Financeira constitucional (§ 1º do art. 20 da Constituição da República), devida aos
empreendimentos que efetuam a exploração de recursos minerais e/ou de recursos hídricos para
fins de geração de energia elétrica; e também os royalties previstos setor de petróleo e gás. O repasse
da Compensação Financeira e Royalties geram benefícios aos Entes Federativos propiciando
incremento no orçamento que pode ser investido além da melhoria dos equipamentos urbanos e
sociais, na estruturação e implementação dos Sistemas Públicos de Meio Ambiente. Encontra-se em
vigor a Portaria Interministerial nº. 419, de 26 de outubro de 2011, que regulamenta a atuação dos
órgãos e entidades da administratação pública federal envolvidos no licenciamento ambiental. Cada
instituição envolvida possui arcabouço legal próprio com procedimentos específicos para anuência
no licenciamento ambiental, cabendo ao órgão licenciador e empreendedores acatarem suas
condicionantes, que podem incluir a elaboração de estudos complementares ao EIA-RIMA ou a
confecção e execução de programas ambientais específicos. Quando houver interveniência do
Ministério Público, Federal ou Estadual, haverá adoção das condicionantes oriundas da Instrução da
Ação Civil Pública (ACP), Termo de Conciliação (TC) ou Termo de Compromisso de Ajustamento de
Conduta (TAC) assinados junto ao órgão ambiental licenciador e empreendedor. Portanto, os

APERFEIÇOAMENTO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL: DILEMAS E AVANÇOS 37


DA POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA
empreendedores ficam com a carga de executar as condicionantes e adotar as restrições
discriminadas nas licenças ambientais e demais autorizações legais vinculadas, arcando com as
medidas mitigadoras e compensatórias, dissolvidas nos programas e subprogramas discriminados
no EIA/RIMA, Projeto Básico Ambiental (PBA) e Estudos Complementares e demais atividades
discriminadas nas licenças. Foram expedidas portarias interministeriais e específicas do MMA para o
licenciamento ambiental de empreendimentos rodoviários (Portaria Interministerial nº. 288, de 16 de
julho de 2013 e Portaria nº. 289, de 16 de julho de 2013), sistemas de transmissão elétrica (Portaria nº.
421, de 26 de outubro de 2011), portos e terminais portuários (Portaria nº. 424, de 26 de outubro de
2011), exploração e produção de petróleo e gás (Portaria nº. 422, de 26 de outubro de 2011) e para
avaliação ambiental de área sedimentar para outorga de blocos exploratórios de petróleo e gás
natural (Portaria Interministerial nº. 198, de 05 de abril de 2012). Tendo em vista a Lei Federal nº
10.650, de 16 de abril de 2003, que dispõe sobre o acesso público aos dados e informações
existentes nos órgãos e entidades integrantes do Sisnama, e a Lei Federal n.º 12.527, de 18 de
novembro de 2011, que regula o acesso à informação e transparência pública, os documentos
constantes nos processos de licenciamento ambiental conduzidos pelo IBAMA, podem ser
acessados on line por tipologia de empreendimento pelo Sistema Informatizado de Licenciamento
Ambiental Federal (http://www.ibama.gov.br/licenciamento/). Nos Estados, e principalmente nos
municípios, o acesso às informações e documentos vinculados ao licenciamento ainda é bastante
precário. A projeção da carteira de empreendimentos em fase de planejamento e licenciamento no
Estado do Amazonas, gera uma expectativa de customização e garantia de atendimento as
exigências da legislação ambiental.

Figura 1 – Empreendimentos do Estado do Amazonas. Fonte: SDS/REIS, J.R.L., 2014.

38 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


APERFEIÇOAMENTO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Constantemente no Brasil há discussões em variados formatos sobre o retardamento da


execução de Grandes Projetos de Infraestrutura, principalmente nos setores de transporte e energia,
ocasionado segundo diversos autores pela subjetividade, excesso de burocracia e pelos conflitos
gerados no processo de licenciamento ambiental dos empreendimentos. Nessas discussões sempre
se chega a um único consenso é preciso dinamizar e aprimorar o licenciamento ambiental brasileiro.
Um dos pontos chaves para isso é a identificação dos gargalos institucionais, gerenciais e
operacionais, e a avaliação e o mapeamento das lacunas técnico-científicas e jurídicas para se tomar
decisões, trazendo benefícios substanciais a seus usuários e a sociedade. Neste sentido, a Associação
Brasileira de Avaliação de Impacto (ABAI) tem conduzindo debates envolvendo os distintos
segmentos que atuam no tema e reunindo a proposta da Associação Brasileira de Entidades
Estaduais de Meio Ambiente (ABEMA) apresentada no “Livro - Publicações Técnicas Abema nº
01/2013 - Novas propostas para o licenciamento ambiental no Brasil”, que discrimina 11 desafios e
suas soluções, sugerindo a incorporação da Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) no planejamento
público (http://www.abema.org.br/site/arquivos_anexo/Livro_Relatorio_Final_2.pdf ), e também da
Confederação Nacional da Indústria (CNI) discriminada no “Livro: Proposta da Indústria para o
aprimoramento do Licenciamento Ambiental, 2013”, no qual são efetuadas 21 recomendações
(http://www.fiems.com.br/arte/proposta_licenciamento_cni.pdf ). A ABAI organizou dois seminários
para tratar sobre o tema, com o objetivo de debater, sob a ótica de diferentes grupos que atuam na
avaliação de impacto ambiental (AIA), as perspectivas e propostas que se apresentam para a
modernização do Licenciamento Ambiental no Brasil, tendo a AIA como instrumento de apoio,
sendo gerado o documento intitulado “Propostas para modernização do licenciamento ambiental
no Brasil – Documento Síntese – Seminários I (04/12/2013) e II (30/01/2014)”
(http://avaliacaodeimpacto.org.br/wp-content/uploads/2014/05/texto-Sintese_seminario-I-e-
II.pdf ), com 13 propostas. Vale ser explicito a oportunidade ocasionada pela Lei Complementar
Federal nº. 140/2011, para estreitar as opiniões e propostas. Ao longo dos anos têm sido elaborados
e divulgados estudos técnico-científicos demonstrando os gargalos e aperfeiçoamentos necessários
ao licenciamento ambiental, seja pela Consultoria Legislativa do Senado Federal (Faria, 2006; Faria,
2008; Montalvão, 2011; Faria, 2011a; Faria, 2011b; Montalvão et. al., 2012) ou pela Câmara dos
Deputados (Araújo, 2002; Viana, 2005; Juras e Araújo, 2007; Viana, 2008; Viana, 2013; Juras, 2013). O
IPEA lançou estudos abordando os aspectos técnicos, políticos e institucionais ligados ao
licenciamento de hidrelétricas (Fonseca, 2013; Pereira, 2013). Outros setores estão expondo suas
recomendações, em 2004, o Ministério Público Federal (MPF) lançou o estudo “Deficiências em
Estudos de Impacto Ambiental: síntese de uma experiência”, e em 2013, o Livro “Hidrelétricas e
atuação do Ministério Público na América Latina (Maia et. al., 2013)”. Em 2008, o Banco Mundial
financiou a elaboração do Relatório Nº 40995-BR “Licenciamento Ambiental de Empreendimentos
Hidrelétricos no Brasil: uma contribuição para o debate – Volumes I, II e III”, apresentando
constatações e recomendações para dinamizar o licenciamento ambiental. O Tribunal de Contas da
União (TCU), desde 2004 vem expedindo acórdãos sobre o licenciamento ambiental, dentre eles o

APERFEIÇOAMENTO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL: DILEMAS E AVANÇOS 39


DA POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA
Acórdão 462/2004 (TC 012.942/2003-7) – Plenário, que tratou da avaliação de impacto ambiental.
Em 2009, o TCU deu ênfase na análise dos processos e dos procedimentos adotados no
licenciamento ambiental de obras de grande porte, tendo como base o Acórdão 2212/2009 (TC
009.362/2009-4) – Plenário - FISCOBRAS 2009, que se destaca, pois discrimina proposta de
padronização e melhoria dos procedimentos do processo de licenciamento ambiental com
recomendações para seu aprimoramento, sendo realizada avaliação dos instrumentos de controle
ambiental, identificando-se a carência de padronização dos procedimentos, excesso de
discricionariedade no processo de licenciamento ambiental e de condicionantes, e a ausência de
acompanhamento dos benefícios potenciais e efetivos decorrentes do licenciamento de obras.
Posteriormente, o Acórdão 968/2010 (TC 017.834/2009-1) – Plenário, apresentou resultado da
auditoria de natureza operacional no IBAMA, com levantamento das questões ambientais apuradas
no Fiscobras de 2004 a 2009, tendo por objetivo contribuir para o incremento da avaliação de
conformidade do licenciamento ambiental das obras públicas, observação das tendências e da
evolução temporal das irregularidades ambientais no período analisado. Por conseguinte, o Acórdão
605/2011 (TC 024.101/2009-2) – Plenário, foi analisado o funcionamento do IBAMA, gerando
recomendações para melhorias, e no Acórdão 2856/2011 (TC 025.829/2010-6.) – plenário, é exposta
análise sobre a avaliação do pós-licenciamento ambiental. Vale ressaltar, que a Comissão de Serviços
de Infraestrutura (CI) do Senado Federal tem tido destaque no envolvimento dos diferentes atores na
discussão sobre o aperfeiçoamento do licenciamento ambiental, com a “Agenda CI 2013/2014 -
Investimento e gestão: desatando o nó logístico do país - 7º Ciclo - Temas transversais - Painel 3 -
Burocracia, excesso de exigências de licenciamentos e rigor na fiscalização”, possibilitando a
interação entre órgão ambiental licenciador e os setores da indústria, academia e de fiscalização
(TCU). Tendo em vista as contribuições e recomendações, o IBAMA efetuou a contratação de
consultoria (Homologado Processo de Contratação de Consultoria nº. 02001.001452/2013-57 –
Consórcio Arcadis Logos S.A. CNPJ 07.939.296/0001-50 e Lidia Lu Consultoria Ambiental Econômica
LTDA CNPJ 14.366.110/0001-86, com o valor de R$ 2.183.768,97 – D.O.U. nº 242, Seção 1, de 13 de
dezembro de 2013, p. 2010) para a elaboração de estudo comparativo dos modelos de
Licenciamento Ambiental Federal (LAF), Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) e Compensação
Ambiental (CA) em diferentes países e subsidiar a elaboração de proposta de Matriz de Impacto, por
tipologia de empreendimento, para orientação e padronização da análise de impacto ambiental e
gestão e acompanhamento dos programas ambientais, realizadas no âmbito do Licenciamento
Ambiental Federal. Outros fatores devem ser incorporados às discussões como a ocorrência de
eventos extremos, por exemplo, os períodos de secas e cheias na Amazônia e sua relação com
empreendimentos de grande porte, como as hidrelétricas, e o outro a capacidade de resiliência dos
ambientes impactados. O que é uma fonte de polêmica e discussão. Poucos são os Estados que
possuem Planos Estaduais de Gestão de Riscos e Desastres Naturais, incorporando planejamento
específico e dotação orçamentária para execução de ações emergenciais de apoio as populações
atingidas. O planejamento dos empreendimentos de grande porte públicos ou privados pouco
consideram as diretrizes e o delineamento territorial contidos no Macrozoneamento Ecológico
Econômico (ZEE) dos Estados, o que já poderia propiciar ao empreendedor maior entendimento e

40 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


conhecimento da realidade socioespacial e ambiental, possibilitando refinamento quanto à análise
locacional e consequente a viabilidade da tramitação processual do empreendimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca do aprimoramento da gestão para o licenciamento ambiental no Brasil tem propiciado o


surgimento de propostas com base nas experiências institucionais, profissionais, acadêmicas e
técnico-científicas. Este processo contínuo está guiando para o desenvolvimento de um arcabouço
legal e técnico consistente que atenda as especificidades dos Entes Federativos, as tipologias de
empreendimentos e oportunize formação e consolidação de quadros de profissionais
especializados e qualificados, aptos à gestão dos conhecimentos gerados no processo de
licenciamento.
Esse processo também requer a criação e monitoramento de distintos arranjos gerenciais e de
monitoramento complementares, condicionado a adoção de procedimentos técnico-jurídicos
apropriados e eficazes. Vários fatores políticos e técnicos são favoráveis ao aperfeiçoamento da
legislação ambiental, possibilitando avanços nos procedimentos que dinamizem a rotina ambiental e
a tornem mais transparente e eficiente, com clareza e entendimento da complexidade do processo
de licenciamento ambiental, principalmente como mecanismo conciliatório de compatibilização
entre desenvolvimento e conservação ambiental, e no atendimento ambientalmente adequado das
necessidades sociais quanto à infraestrutura e modernização tecnológica.
Por fim, vislumbra-se um cenário positivo em que os mecanismos técnico-científicos do
licenciamento ambiental gerem contribuições substanciais para uma gestão territorial sustentável
pautada pelo engajamento ambiental para uso e aproveitamento racional dos recursos naturais,
focado na sustentabilidade ecológica e econômica, conservação da biodiversidade e na avaliação
ambiental estratégica do eixo desenvolvimentista.

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42 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


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APERFEIÇOAMENTO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL: DILEMAS E AVANÇOS 43


DA POLÍTICA AMBIENTAL BRASILEIRA
ARTIGO 5
DESCONEXÃO DA COMUNICAÇÃO NO SISTEMA DE
GESTÃO AMBIENTAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO
AMBIENTE OPERACIONAL DOS CORREIOS
Erick Michael Valencia Alves
Graduado em Administração, Estudante de pós – Graduação UFAM-AM,erickval@hotmail.com.

Iamily Corrêa Tomé


Pedagoga, Estudante de pós-Graduação UFAM-AM,iamilycorrea@gmail.com

Julio César Rodríguez Tello


Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM; Programa de Pós-
Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário, Av. General Rodrigo O.
Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

INTRODUÇÃO

Este trabalho trata da Desconexão da Comunicação no Sistema de Gestão Ambiental e suas


consequenciais no ambiente operacional dos correios. A comunicação empresarial dentro das
organizações funciona como sistema nervoso do corpo humano exemplificamos ela como uma
ponte para o sucesso das empresas. A fluidez da informação entre o emissor, receptor e a mensagem
deslocando se entre os dois pontos e no final o feedback que possibilita saber se a mensagem foi ou
não compreendida, aprovada ou não. As falhas no processo da comunicação poderá criar ruídos ou
interferência na continuidade da mensagem? segundo Pimenta (2009). “Sem a comunicação, todas
as relações que se estabelecem entre as pessoas, e os diversos grupos humanos seriam impossíveis”,
Verificou-se que a temática, Preocupação Ambiental e sustentabilidade são tratados na Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos DR/AM, Sobre os assuntos: Meio Ambiente, Sistema de Gestão
Ambiental na Empresa e Responsabilidade socioambiental. Partindo deste ponto de vista a
importância da Educação Ambiental no Sistema de Gestão Ambiental dos Correios (SGAC) é um
fator determinante no processo para atingir objetivos do planejamento organizacional. Por isso
Cunha; e Rodriguez (2013) afirmam que “convém lembrar que a educação ambiental é um processo
contínuo e permanente Na Escola, no lar ou em qualquer outra instituição”. Este Resumo tem como
objetivo principal apontar, as falhas no processo comunicativo do SGAC.

MATERIAIS E MÉTODOS

Por intermédio de pesquisa quantitativa na aplicação de questionários dentro da empresa, e


pesquisa bibliográfica realizadas junto à literaturas e produções científicas, foram pesquisados
diversos autores que realizam estudos significativos sobre gestão da informação, comunicação
organizacional, em meio ambiente e educação ambiental. Foram extraídos dos textos das literaturas
lidas, os aspectos mais importantes sobre a temática, o que possibilitará uma reflexão e analise de
informações pertinentes e consideradas importantes descrita neste resumo.

RESULTADOS

De acordo com o levantamento de informações produzidos na unidade operacional dos correios


CDD-Adrianópolis DR/Amazonas. Os colaboradores do referido setor manifestaram a sua visão em
relação ao meio ambiente, contudo foi constatada por observação direta no setor, que este possui

DESCONEXÃO DA COMUNICAÇÃO NO SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL E 45


SUAS CONSEQUÊNCIAS NO AMBIENTE OPERACIONAL DOS CORREIOS
um ótimo ambiente para treinamento. Foi feito o estudo bibliográfico do Sistema de Gestão
Ambiental dos Correios (SGAC), de dezembro de 2010, Aprovada pela Diretoria Executiva, que tem
como principal objetivo atingir um desempenho ambiental correto, por meio do gerenciamento dos
seus impactos ambientais significativos e da busca contínua de melhoria de processos, serviços e
produtos oferecidos pela empresa. O sistema foi elaborado tendo como referência os requisitos
contidos na, Norma Brasileira ABNT ISO 14001:2004, e, com a proposta de ser uma das ferramentas
utilizada pela empresa para o alcance do nível de maturidade pretendido no Plano Estratégico
Correios 2020, que definiu como visão: Ser uma Empresa de Classe Mundial, e elegeu a
Sustentabilidade (Social/ Ambiental/Econômica) como um dos seus valores. (SGAC 2010) Porem a
mesma está sendo divulgada e aplicada de maneira isolada e superficial no âmbito operacional da
Empresa. Já que foi criado um Plano de Ações Ambientais Corporativas (PAAC) dos Correios, que
contemplou 39 ações propostas pela presidência e vice-presidências, priorizando os objetivos e
metas ambientais a serem implantadas pela empresa, tendo como base a legislação ambiental
vigente e os aspectos ambientais identificados como significativos, de acordo com as seguintes
intenções: a) racionalizar o consumo de recursos naturais renováveis; b) reduzir, mitigar e/ou
compensar a emissão de gases de efeito estufa; c) realizar a gestão adequada dos resíduos sólidos
produzidos; d) desenvolver e comercializar produtos e serviços eco eficientes, de forma a assegurar
aos clientes e consumidores o comprometimento da empresa com uma gestão ambiental
demonstrável; e, e) desenvolver, junto aos empregados e terceirizados, a conscientização para as
boas práticas ambientais no trabalho, na família e na comunidade (SGAC 2010). Diagnosticamos
dificuldades no processo de comunicação interna, e para evitar esta quebra na comunicação é
preciso que sejam tomadas algumas ações por parte da gestão da unidade operacional. Neste, caso
a comunicação precisa ser eficiente para dar seguimento ao Sistema de Gestão Ambiental dos
Correios (SGAC). As dificuldades são comuns nas empresas, ou seja, modelo burocrático das
empresas públicas aumentam o risco de não conseguir finalizar o processo, que tramitam entre os
departamentos, distorções entre as mensagens por conta do longo período de tempo sem resposta,
ou mesmo indo de um lado para o outro, por fazer parte de um sistema burocrático. Diante disto
percebe-se que a comunicação é um processo muito vulnerável e de alto risco de deterioração e
perda de significados. Levando o processo ao chamados ruído e para solucionar este problema é
preciso uma trabalho em equipe. Como em qualquer tipo de intervenção ou mudança nas unidades
operacionais, existe um certo tipo de resistência por parte dos colaboradores, tanto que há uma
demora nas aplicações dos processos, e as vezes a descontinuidade do mesmo, podemos constatar
a existência de ruídos no processo de comunicação que segundo Pimenta (2009),” Ruído é qualquer
interferência ou barreira que dificulte a comunicação” no entretanto existem fatores intrínsecos à
organização a falha na comunicação serve como barreira para dar continuidade ao Sistema de
Gestão Ambiental dos Correios (SGAC) e sua aplicação, neste sentido enfatiza se o trabalho da
gestão na redundância da informação sobre temática Educação Ambiental, Meio Ambiente e os
fatores a eles relacionados segundo Pimenta (2009) diz, que” nas empresas deve se buscar a
redundância com o objetivo de garantir a socialização das informações com eficiência e eficácia“.
Neste caso seria um dos itens de não conformidade e poderia ser um dos empecilhos para uma
possível certificação.

DISCUSSÃO

Verificou-se que existem falhas na comunicação interna, afetando os interesses da organização


como um todo, está desconexão da informação é tratada como ruído na comunicação. Mesmo
assim, os colaboradores demostraram o seu conhecimento sobre Meio Ambiente, pois uma parte
destes, vieram do polo Industrial de Manaus onde as práticas do Sistema de Gestão Ambiental são
mais difundidas para os colaboradores, e também alguns deles participam das discussões
ambientais na sua Comunidade

46 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


CONCLUSÃO

A abrangência da gestão ambiental está sendo ampliando, muito mais no nível operacional na
indústria, pois neste setor que o conceito de gestão ambiental está sendo expandido, incluindo as
repercussões sócio ambientais. Neste caso, setor público a verticalização do processo de divulgação
encontra suas barreiras no âmbito operacional onde um modelo de educação ambiental na empresa
e sua preocupação com o meio ambiente, irão reduzir a resistência dos mesmos para um melhor
resultado feedback, nos aspectos entendimento. Já que existe o conhecimento prévio por parte dos
colaboradores sobre o assunto, e os mesmos apresentam um grande interesse sobre a problemática,
mostrando que é possível amenizar os problemas ambientais. Concluiu-se que apesar de difícil, é
possível minimizar as falhas nas comunicações dentro das empresas, permitindo que a educação
ambiental seja, um objetivo teórico prático, de se trabalhar essa temática de maneira
contextualizada, incluindo as empresas e a sociedade num mundo sustentável.

REFERÊNCIAS

CORREIOS Disponível em:


http://www.correios.com.br/sobreCorreios/sustentabilidade/vertenteAmbiental/default.cfm.
Acesso em 22 Fev. 2014.
PIMENTA, Maria Alzira. Comunicação Empresarial: Conceitos e Técnicas para Administradores
–Campinas,SP ; Editora Alinea 2009;6ED. P.25,26,28.
RODRIGUEZ, Tello Julio César; CUNHA, Aldenéia Soares. Interpretação da identidade dos Jovens
no contexto da globalização e o meio ambiente: elementos para uma reflexão crítica sobre a
educação ambiental. (Org.). Floresta Amazônica: Configurando um Novo Debate. Manaus-AM;
UFAM 2013. P.25-26.

DESCONEXÃO DA COMUNICAÇÃO NO SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL E 47


SUAS CONSEQUÊNCIAS NO AMBIENTE OPERACIONAL DOS CORREIOS
ARTIGO 6
ESTUDO DA DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL
(2003 A 2007) DOS CRIMES E INFRAÇÕES AMBIENTAIS
URBANOS EM MANAUS-AM
Marcos Brandão da Cunha
Graduado em Bacharel em Segurança Pública. É Pós-Graduado em Gestão e em Administração Policial,
em Gerenciamento e Planejamento de Águas, em Geotecnologias Aplicada à
Amazônia e Mestre em Ciências Florestais e Ambientais.

Lizit Alencar da Costa


Engenheiro Florestal. Mestre em Ciências de Florestas Tropicais. Doutor em Ciência Florestal.
Docente da Universidade Federal do Amazonas - UFAM

INTRODUÇÃO

Os órgãos de defesa do meio ambiente, de forma geral, sempre agiram de maneira isolada, e
com recursos (humanos e materiais) limitados, tanto na forma quantitativas quanto nas qualitativas.
Essa falta de interatividade facilita as ações de infratores ambientais. A produção de conhecimento e
as inovações tecnológicas cada vez mais auxiliam os órgãos de defesa ambiental, distribuindo e
operacionalizando ações nesta área, além disso, a falta de dados estatísticos confiáveis é uma grande
deficiência do planejamento de ações policiais ambientais. A busca da eficiência nas ações
preventivas e repressivas é um ideal perseguido continuamente pelos comandantes, chefes ou
diretores operacionais das diversas instituições governamentais que atuam nas questões ambientais.
As ações de fiscalização ambiental devem ser sempre proativas, educativas e informativas com o fito
de reduzir as necessidades de atuações repressivas. As geotecnologias (Sistema de Informações
Geográficas – SIG, Sistema de Posicionamento Global - GPS, Sensoriamento Remoto,
Aerofotogrametria, entre outras), vêm sendo utilizadas nos últimos anos como importante
ferramenta de gestão e otimização para o alcance das ações preventivas nos três níveis de governo,
por combinar processamento de dados com atributos de localização espacial. Pois, é no espaço, e
em um período de tempo, que os fenômenos criminais acontecem. O geoprocessamento pode ser
definido, sucintamente, como o tratamento de informação relacionado ao espaço geográfico, seja
através de coordenadas, seja através de endereço, com uso de recursos computacionais. Essas
ferramentas possibilitam a elaboração de mapeamento das ocorrências policiais e possibilita fazer
análise das tendências de comportamento criminais. No sistema SIG o mapeamento da
criminalidade pode ser feito com aquisição de dados relacionados aos atributos geográficos,
geralmente coletados no momento do registro do crime, por um software próprio, que se dá, quase
sempre, através do endereço ou algum atributo de localização, gerando a informação que permite a
conexão entre esse banco de dados e o mapa, através de sistemas específicos de computadores. O
uso dessas tecnologias permitem atender as necessidades de estruturação de um banco de dados
geográficos com o máximo de detalhamento das infrações ambientais, de modo a exibir as

ESTUDO DA DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL (2003 A 2007) DOS CRIMES E 49


INFRAÇÕES AMBIENTAIS URBANOS EM MANAUS-AM
informações em mapas temáticos georreferenciados, constituindo um avanço tecnológico
importante. Contudo, deve-se possibilitar o uso de ferramentas de geoprocessamento nas rotinas
de planejamento das ações operacionais de cada órgão. Esta pesquisa trata do emprego das
ferramentas geotecnológicas no campo da fiscalização e proteção ambiental em Manaus. Toma
como referência os instrumentos relacionados à captação, ordenação e uso de dados em sistemas
inteligentes capazes de fornecer subsídios para a tomada de decisões no planejamento de ações
sistemáticas de proteção ambiental. Para tanto, a pesquisa teve como objetivo geral, estruturar um
cadastro georreferenciado e analisar a distribuição espacial dos crimes e infrações ambientais
ocorridos na zona urbana de Manaus no período de 2003 a 2007, visando subsidiar a definição de
políticas públicas de comando e controle ambiental.

MATERIAL E MÉTODO

A região geográfica de estudo foi a área urbana da cidade de Manaus, capital do Estado do
Amazonas, está situada à margem esquerda da confluência do rio Negro e Solimões, com os
seguintes quadrantes de coordenadas geográficas: -3°04'02”; -2°9144”; - 3°1624; -3°05''44 de
latitude sul e -60°00'16; -59°83''58”; -59°98'43”; -60°11'16” de longitude oeste. A área urbana de
Manaus se estende por 377 Km², correspondendo 3,3% do território municipal. Este trabalho foi
desenvolvido por meio de dados obtidos no CIOPS (Centro Integrado de Operações de Segurança)
e na SEMMA (Secretaria Municipal de Meio Ambiente). Os resultados foram expressos em dados
trabalhados estatisticamente, representando as ocorrências agregadas em torno das categorias de
acordo com a Lei Federal nº 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais. As informações, concernentes ao
banco de dados do CIOPS tiveram embasamento na determinação das coordenadas geográficas
(lat/long), e em dados relativos às chamadas para o número emergencial 190, gerando um conjunto
coerente e sistemático de dados incorporados ao SIG para as análises pretendidas. A partir desses
dados, procedeu-se à elaboração dos mapas para apresentar espacialmente as ocorrências
registradas de infrações e crimes ambientais. O emprego dos dados georreferenciados para o
mapeamento teve por base o critério de zoneamento administrativo do município de Manaus, com a
estratificação por natureza e sazonalidade. A confecção dos mapas temáticos das incidências de
ocorrências de crimes e infrações ambientais segundo as zonas administrativa da cidade foi
consequência dessas ações: a) Coleta dos autos de infração expedidos pela SEMMA – nesta etapa
procedeu-se à busca dos dados em formato analógico, distribuídos em 17 caixas de arquivos,
contendo de 20 a 27 processos por caixa, dados esses gerados pelo setor de fiscalização e
encaminhados à Procuradoria Geral do Município (PGM) para fins de cobrança judicial das multas
imposta pela SEMMA aos infratores ambientais na esfera administrativa; b) Organização e
transformação dos dados para digital – nesta etapa, as informações das infrações ambientais obtidas
na consulta dos documentos foram lançadas na base de dados inserida na Planilha Excel; c)
Estruturação do cadastro georreferenciado das ocorrências de infrações ambientais – fase em que
fora inseridos os atributos de localização referentes às coordenadas geográficas (lat./long.) obtidas
com o emprego do aparelho receptor GPS, permitindo a visualização espacial das ocorrências dos
ilícitos; d) Criação do banco de dados geográfico das ocorrências das infrações ambientais – nesta
etapa as planilhas foram transformadas no formato dbf permitindo a entrada das informações no
banco de dados no software Terraview3.2.0; e) Estudo e Análise da distribuição espacial das infrações
ambientais – momento da elaboração dos mapas temáticos, permitindo a visualização da
distribuição espacial das ocorrências de infrações ambientais, e com o auxílio das ferramentas de
software procedendo-se à análise dessa distribuição; f ) Por último, analisou-se o banco de dados

50 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


geográficos do CIOPS e da SEMMA, referentes às incidências dos crimes ambientais sobre o ponto
de vista espacial utilizando técnicas de sistemas de informações geográficas (SIG). Para melhor
estudar os crimes e infrações ambientais, foi necessário direcionar os trabalhos para elaborar os
mapas temáticos de 2003 a 2005, com os dados coletados no CIOPS, apesar do Sistema CIOPS estar
funcionado desde junho de 2002, este trabalho, analisou somente os anos acima citados, por motivo,
que os outros anos não apresentavam registros sequenciais, os quais iram prejudicar a análise desses
dados. Os critérios abordados foram a Análise de Densidade de ocorrência de fenômenos (AD)
(density analysis), ou mancha de criminalidade como é conhecida na linguagem policial. Os primeiros
procedimentos foram usar o MENU do software TERRAVIEW 3.2.0 e escolher a ferramenta ANÁLISE
para produzir o MAPA DE KERNEL, tornado possível a confecção dos mapas temáticos, que
representam os dados dos registros das infrações ambientais. Nesta etapa, foram aplicados o
método de Análise de Densidade de ocorrência de fenômenos (AD) (density analysis).

RESULTADOS

O banco de dados do CIOPS foi estruturado para capturar automaticamente as coordenadas


geográficas (lat/long), de onde se originou as chamadas para o número emergencial 190,
oferecendo os recursos necessários para utilização no SIG. Detectou-se que a maior incidência de
crimes ambientais ocorreu na Zona Sul, com variações anuais bem caracterizadas, de fácil
identificação no mapeamento elaborado, como se observa pela distribuição espacial representada
cartograficamente pelo método de Kernel, sendo a maior área de ocorrência dos ilícitos a Zona Sul,
mesmo em 2004, ano de menor ocorrência desse tipo de crime. Os resultados mapeados informam
que, entre 2005 e 2007, ocorreram muitas variações em relação às áreas de maior predominância das
infrações ambientais. Nos anos de 2005 e 2006, o maior número de delitos desse tipo ocorreu na
Zona Centro-Sul, enquanto que no ano de 2007 a incidência restringiu-se a Zona Leste, e áreas das
Zonas Oeste e Centro-Oeste. Com relação às infrações muito graves, observa-se que as ocorrências
desse tipo de agressão ao meio ambiente foram maiores no ano de 2006, com maior número de
registros nas Zonas Norte e Leste. Em 2005 e 2007, essas áreas não se apresentaram como críticas,
predominando as ocorrências na Zona Sul de Manaus. No que se refere às infrações graves,
apresenta o mapeamento das ocorrências registradas em 2005 estão dispersas por todas as Zonas
do Município de Manaus, com maior concentração nas Zonas Centro-Oeste, Centro-Sul e Sul. Em
2006 o padrão de ocorrências alterou-se radicalmente, com concentração de ocorrências
concentradas. espacialmente nas Zonas Centro-Oeste, Centro-Sul e Sul. Em 2007, as ocorrências
concentraram-se ainda mais, com área crítica na Zona Sul. Quanto às infrações leves há
concentração maior de ocorrências nas Zonas Centro, Norte e Leste nos anos de 2005 e 2006, sendo
que neste último ano as incidências aumentaram nessas áreas, como se pode visualizar nas áreas em
verde de diversas nuances. Em relação às infrações relativas a outras leis, o mapeamento permitiu
detectar que esse tipo de ocorrência é menos frequente que outras infrações, com maior número de
casos em 2006 nas Zonas Oeste, Norte, Centro-Sul e Sul. Verifica-se que, em todas as ocorrências e
tipos de infrações as áreas limítrofes do Município de Manaus nas Zonas Oeste, Norte e Leste não
demonstram apenas ocorrências esparsas, ou nenhuma ocorrência, o que pode ser atribuído ao fato
de serem áreas com baixa densidade populacional, portanto onde a pressão demográfica sobre o
meio ambiente é bem menor ou inexiste ainda. Ao contrário, zonas mais densamente povoadas,
principalmente Leste, Centro-Sul e Sul, são também aquelas onde as ocorrências envolvendo crimes
e infrações ambientais de todos os tipos são significativamente maiores, um indicativo importante
para priorizar áreas de intervenção no planejamento das ações de fiscalização, controle e prevenção

ESTUDO DA DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL (2003 A 2007) DOS CRIMES E 51


INFRAÇÕES AMBIENTAIS URBANOS EM MANAUS-AM
ambiental. Verificou-se que o sistema estadual de segurança no Amazonas está indo na contramão
de direção da busca da eficiência do serviço prestado por falta de método padrão de procedimento
operacional do sistema CIOPS. O sistema desperdiçou no intervalo estudado 227.946 registros, o
que corresponde a 29,86% do total dos registros do CIOPS neste período. Isso ocorre em razão da
falta de pessoal qualificado para explorar todos os recursos disponíveis no sistema quando, por
exemplo, os operadores deixam de atrelar ao banco de dados às informações das coordenadas
geográficas das ocorrências. O emprego da geotecnologia, com a elaboração de mapas temáticos, é
um importante instrumento de síntese de informações agregadas em uma estrutura visual que pode
ser facilmente compreendida, possibilitando que os dados possam serem analisados e interpretados
por pessoas que não tenham muito conhecimento técnico, o que facilita seu emprego por quaisquer
usuários, bastando que dominem conceitos básicos de informática. A Localização das ocorrências
apresenta a vantagem de pormenorizar com maior riqueza de detalhes as áreas geográficas onde
ocorrem os crimes e infrações ambientais, permitindo espacializar com maior precisão o local de
intervenção e nortear as tomadas de decisão no emprego operacional da tropa. Os mapas temáticos
permitem demonstrar as partes do território com seus diferentes níveis de ocorrência dos crimes e
infrações ambientais auxiliando nas políticas públicas desenvolvidas pelos órgãos de fiscalização,
controle e defesa ambiental na tomada de decisão quando estes têm que direcionar, de forma mais
acertada, suas ações para as localidades onde se torna necessária a presença das forças policiais. As
áreas caracterizadas como de maior ocorrência de crimes ou infrações ambientais no município de
Manaus são também as mais densamente povoadas, percebendo-se que pontos críticos que
correspondem às zonas com maior população. Por isso o mapeamento deve ser considerado um
instrumento essencial para criar novas interfaces entre as ferramentas de geotecnologia e as ações
coordenadas com base nos resultados espacialmente visualizados. A Localização das ocorrências a
partir do mapeamento apresenta a vantagem de definir espacialmente as áreas críticas,
convergentes ou limítrofes entre diferentes tipos delitos ambientais (crimes e infrações), o que
permite analisar e delimitar a dinâmica das variáveis envolvidas direta ou indiretamente e possíveis
tendências observando-se padrões de ocorrência sazonais. Observou-se que o ano de 2005 houve
um aumento nas categorias de crimes contra a Fauna e Flora em relação os outros anos e uma
diminuição sucessiva desde o ano de 2003 nas categorias de crimes de Poluição e Ordenação
Urbana e Patrimônio Cultural. Essas ocorrências poderão ser ainda menores, se os comandantes ou
dirigentes dos órgãos de fiscalização, controle e defesa ambiental fizerem uso das ferramentas de
SIG e Sensoriamento Remoto, as quais permitem a intervenção no plano da vigilância antecipando-
se às ações dos possíveis criminosos ambientais. Com as ferramentas SIG é possível visualizar
espaço-temporalmente os crimes e infrações ambientais, com o detalhamento ao nível de zonas,
bairros, ruas e becos e vielas e etc.. Além disso, amplia o nível de emprego operacional dos agentes
de fiscalização e controle, com menor dispêndio financeiro, material e de recursos humanos, bem
como o planejamento da intervenção para detenção e encaminhamento legal dos infratores ou
criminosos também é mais eficiente. As zonas mais densamente povoadas, principalmente Leste,
Centro-Sul e Sul, as ocorrências envolvendo crimes e infrações ambientais são significativamente
maiores. Trata-se de um indicativo importante para priorizar áreas de intervenção no planejamento
das ações de fiscalização, controle e prevenção ambiental.

CONCLUSÕES

Os resultados demonstraram que tais ocorrências, uma vez espacialmente visualizadas,


evidenciam áreas prioritárias a serem consideradas pelo planejamento estratégico e operacional.

52 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


Este estudo demonstra ainda a importância e a necessidade de um banco de dados estruturado e
compartilhado, com base em ferramentas geotecnológicas que permitem programar a política
ambiental com base na atuação integrada dos órgãos encarregados da fiscalização, controle e
defesa do meio ambiente. Os resultados demonstram que a articulação entre as tecnologias e
sistemas de informação, acopladas a novas possibilidades de monitoramento e posicionamento,
como os satélites e aparelhos GPS tornam possível aprimorar instrumentos de análise e interpretação
dos crimes e infrações ambientais. Com o
mapeamento das ocorrências, a visualização espacial permite maior detalhamento dos dados
para subsídio do processo decisório, reforçando a capacidade fiscalização, de controle e proteção
ambiental, apresentando-se como uma ferramenta que deverá ser incorporada ao processo de
integração de todas as instituições que devem efetivar as políticas ambientais em Manaus. O CIOPS
desempenha um papel importante para Segurança Pública do Estado do Amazonas, sobretudo no
campo da geoestatística, tecnologia de ponta na prevenção dos ilícitos penais, capaz de gerar
informações indispensáveis no planejamento operacional das unidades de execução,
proporcionando maior eficiência na gestão dos recursos. No entanto, o governo necessita de ações
voltadas à capacitação dos operadores do sistema CIOPS a fim de aproveitar ao máximo essa
ferramenta. Como recomendações sugere-se que a Secretaria de Estado da Segurança Pública faça
uma atualização dos códigos em relação a descrição de Naturezas e Tipos de ocorrência existente no
sistema, de forma atender as reais expressões do enquadramentos nas diversas legislações penais
que nortea o direito penal brasileiro, de preferência que os código se apresentem com as mesma
numeração dos artigos dadas pela legislação especifica. As recomendações se estende para a
Secretaria Municipal de Meio Ambiente que os gestores estruturem e atualizem seus arquivos em
formato digital de forma que os dados sejam capazes de serem absorvidos pelos softaware de
geoprocessamento. Capacitar o corpo de agentes fiscalizadores para o uso e manuseio do aparelho
receptor GPS, para que os mesmo façam uso desse equipamento em campo a fim de coletar as
informações geométricas necessária para fazer o mapeamento das ocorrências de infração
ambiental. Na mesma linha de raciocínio, tão quanto importante, é fazer constar no formulário dos
Autos de Infrações Ambiental um espaço destinado as anotações das coordenadas geográficas
colhida pelo GPS em campo, conforme modelo abaixo do Boletim de Ocorrências Ambiental do
Batalhão de Polícia Ambiental.

REFERENCIAS

NERY, M. B. Gestão urbana: sistemas de informação geográfica e o estudo da criminalidade no


município de São Paulo. São José dos Campos: INPE, 2006.
VIEIRA, Adriano da Silva. Orientações para implantação de um SIG municipal considerando
aplicações na área de segurança pública. Belo Horizonte, 2002.

ESTUDO DA DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL (2003 A 2007) DOS CRIMES E 53


INFRAÇÕES AMBIENTAIS URBANOS EM MANAUS-AM
CAPÍTULO

2
Gestão e Gerenciamento de
Resíduos Sólidos e Efluentes
ARTIGO 7
GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS:
O CASO DAS EMPRESAS DE RECICLAGEM DE MANAUS-AM.

Jaqueline Gomes de Araújo


Administradora. Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia
(PPG-CASA) da UFAM.

João Tito Borges


Químico. Doutor em Saneamento e Ambiente pela Universidade Estadual de
Campinas-UNICAMP. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e
Sustentabilidade na Amazônia (PPG-CASA) da UFAM.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda sobre os resíduos gerados no uso de equipamentos


eletroeletrônicos e discute sobre o gerenciamento dos seus resíduos nas empresas que realizam a
reciclagem destes em Manaus-AM. O estudo foi realizado no período entre 2011 a 2013 sendo parte
da dissertação de mestrado da autora. Foram entrevistadas seis empresas que realizam reciclagem e
recebem os materiais de catadores, sucateiros e indústrias do PIM. Ferreira (2010), afirma que reciclar
é fazer os materiais passarem por um novo ciclo, onde são obtidos novos produtos. A Política
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) trás à tona a definição de reciclagem em seu artigo terceiro no
item XIV, como segue: (BRASIL, Art. 3°, item XIV, 2010, p.2) - reciclagem: processo de transformação
dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou
biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e
os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes [...]. Os Resíduos de Equipamentos
Eletroeletrônicos (REEE) são compostos principalmente por polímeros diversos e placas de circuito
impresso que além das diversas substâncias tóxicas presentes também possuem metais com valor
agregado significativo, passíveis de separação, tratamento e retorno ao processo produtivo
(ABRANTES, 2009). Grande parte dos REEE é proveniente da rápida obsolescência de computadores,
aparelhos de celular, televisores e geladeiras dentre outros produtos e seus componentes
eletrônicos. Em alguns casos, estes equipamentos se tornam obsoletos antes mesmo de ser
comercializados, tornando-se um grave problema para as empresas, e para a sociedade, visto que a
quantidade destes resíduos lançados no ambiente pode ser maior até mesmo do que é produzido no
mesmo período (BORGES, 2007; ABINEE, 2007). A reciclagem destes resíduos deve ser realizada de
forma que haja o máximo aproveitamento dos materiais que apresentem condições de retornarem à
cadeia produtiva, mas o gerenciamento das atividades que contemplam estes resíduos ainda é um
desafio a ser vencido na gestão mais ampla dos resíduos industriais, principalmente no município de
Manaus, onde são encontrados em quantidades significativas tanto no interior das empresas quanto
no descarte urbano. No município encontra-se instalado Polo Industrial de Manaus (PIM), criado pela

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS: O CASO DAS 57


EMPRESAS DE RECICLAGEM DE MANAUS-AM.
Lei N.288, de 28 de fevereiro de 1967, inicialmente instalado no bairro Distrito Industrial I e II, mas
com a expansão da cidade de Manaus, este acabou se descentralizando e hoje há fábricas instaladas
em diversas zonas da cidade. O polo eletroeletrônico e de bens de informática representam em
conjunto aproximadamente 50% do PIB do Polo Industrial de Manaus (figura 1).

Figura 1 – Participação dos subsetores no faturamento do Polo Industrial de Manaus em janeiro de 2014
(fonte: www.suframa.gov.br).

METODOLOGIA

Esta pesquisa caracteriza-se como exploratória descritiva onde descreve, registra, analisa e
interpreta os fenômenos ou situações do cotidiano, podendo ser encontradas descrições tanto
quantitativas como qualitativas, bem como informações mais detalhadas por meio da observação
participativa, sendo desta forma flexível quanto aos aspectos relacionados aos procedimentos de
amostragem. Esta pesquisa permite coletar informações considerando os aspectos como condições
do meio, aspectos ambientais e aumento da capacidade de percepção e informação quanto aos
impactos que os materiais que compõem um equipamento eletroeletrônico. Sobre as entrevistas
realizadas em empresas de reciclagem usou-se a amostragem do tipo intencional, onde o
pesquisador dirige-se de forma intencional a grupos de elementos dos quais deseja obter
informações (BARROS, 2010). Para tanto, a seleção das empresas de reciclagem deu-se por meio de
lista disponibilizada na pesquisa de Rodrigues (2010) e listas disponíveis nos endereços
www.telelistas.net e www.listaonline.com.br, “sites” de pesquisa de telefones e endereços de
empresas dos mais diversos ramos de atividades na cidade de Manaus e no Brasil. Estas duas fontes
foram fundamentais para que fossem efetivados os contatos primários com as empresas de
reciclagem e assistências técnicas autorizadas. Ao final elaborou-se uma nova lista com dados das
empresas de reciclagem atuantes em Manaus. Foram aplicadas entrevistas com seis representantes
de empresas de reciclagem de REEE atuantes no município de Manaus. Em paralelo foi utilizado a
técnica de observação participante, durante realização da visita às empresas, norteada por um
“Checklist” de observação elaborado com base nas determinações e proibições da Política Nacional

58 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei 12.305 de 2 de agosto de 2010, que institui diretrizes quanto ao
tratamento e destinação final de resíduos sólidos. Para o tratamento dos dados coletados nas
entrevistas, usou-se para as questões fechadas a construção de gráficos e quadros, e para as
questões abertas análise e interpretação das informações.

RESULTADOS
Foram entrevistadas seis empresas que realizam reciclagem e recebem os materiais de
catadores, sucateiros e indústrias do PIM. Em Manaus não foram encontradas empresas que
realizassem a reciclagem dos REEE especificamente, apenas uma empresa executa o beneficiamento
das placas, as demais fazem o beneficiamento de alguns materiais integrantes dos REEE
separadamente. Em resposta às questões sobre os tipos de materiais que as empresas reciclam e
sobre de quais equipamentos esses materiais são originários, as respostas encontram-se agrupadas
na tabela 1.

Tabela 1 – Tipos de materiais e seus equipamentos de origem reciclados pelas empresas em Manaus-AM.

Equipamentos de
Tipo de material
Empresa origem dos materiais Observações
reciclado e/ou tratado
reciclados e/u tratados
Raramente o equipamento
Geladeira, fogão, Metais com bom valor chega inteiro, a maior
G
impressora. agregado e outros metais aquisição é da sucata dos
mesmos.
Televisores com CRT, de Equipamentos com grau
Metais não preciosos,
H plasma e semelhantes, de dificuldade de
plástico, lâmpada e vidro.
lâmpadas fluorescentes. reciclagem alto
Computadores em geral,
Equipamentos com grau
impressora, telefone
Metais preciosos, metais de dificuldade de
I celular e fixo, televisores
não preciosos. reciclagem alto e alguns
em geral, aparelho de
de pequeno porte
DVD, aparelho de som.
Televisores em geral,
J aparelhos de DVD e de Plástico Separação manual
som.
Forno micro-ondas,
computadores em geral,
impressora, telefone Metais preciosos, metais
Do forno micro-ondas são
celular e fixo, televisores não preciosos, plástico,
K aproveitados o cobre,
em geral, aparelho de lâmpadas e elementos
vidro e PCI,
DVD e aparelho de som, químicos (PCI) e vidros.
lâmpadas fluorescentes e
jogos de vídeo.
Computadores em geral,
impressora, telefone
Telefones celulares e
celular e fixo, televisores
L Metais preciosos fixos e jogos de vídeo
em geral, aparelho de
(somente as placas).
DVD e aparelho de som,
jogos de vídeo.

Quanto à realização de triagem dos REEE encaminhados para a reciclagem, as respostas das seis
empresas encontram-se na tabela 2. A triagem objetiva aproveitar ao máximo os materiais
pertencentes aos equipamentos e suas partes, onde esse aproveitamento proporciona a reinserção
dos materiais ao processo produtivo.

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS: O CASO DAS 59


EMPRESAS DE RECICLAGEM DE MANAUS-AM.
Tabela 2 – Triagem realizada pelas empresas aos REEE.

Empresa Triagem
 Pesa;
 Descontaminação (ex.: a lata de refrigerante e outros metais chegam sujos na
G
empresa);
 Limpeza (manual e pela esteira vibratória).
 Pesa;
 Tritura;
H
 Seleção do material de acordo com o poder calorífico, após incineração as
cinzas são incorporadas ao fuller (que dá liga) do asfalto.
 Pesa;
I
 Desmontagem manual.
 Pesa;
J  Desmontagem manual;
 Classificação por tipo de plástico.
 Pesa;
K  Desmontagem manual;
 Classificação dos materiais.
 Pesa;
L  Desmontagem manual;
 Desmontagem automática (parafusadeira).

Sobre as quantidades de materiais reciclados, a empresa I respondeu não ter registros dos
materiais reciclados. A empresa J, disse reciclar algo em torno de 1.500 toneladas de materiais por
mês. A empresa K respondeu reciclar cerca de 250 quilos de materiais por mês e a empresa L, afirmou
reciclar e exportar 20 toneladas de materiais para o Canadá. Quando questionadas sobre o uso de
sistemas tecnológicos para auxiliarem no gerenciamento das informações de reciclagem dos REEE a
empresa G respondeu possuir um sistema interno onde controla a entrada, saída e descartes dos
materiais, o sistema chama-se RM. A empresa H informou não possuir um sistema específico para
gerenciamento dos materiais, mas disse utilizar os relatórios automáticos gerados pela balança e
pelo incinerador. A empresa I, respondeu não possuir nenhuma espécie de sistema, a empresa J,
informou não possuir nenhum sistema tecnológico, mas que está desenvolvendo um específico para
os REEE. A empresa K respondeu utilizar um sistema criado pela própria empresa chamado de
Mastermac e a empresa L, disse usar o sistema SAP que compartilha os dados com outras unidades.
Sobre a existência de algum tipo de apoio governamental ou de outro tipo, para que as mesmas
mantenham-se em funcionamento as empresas G, H, J e K disseram que trabalham sem nenhuma
espécie de apoio, a empresa I disse trabalhar com apoio de empresas privadas e a empresa K
informou que suas atividades são apoiadas por empresas privadas do comércio que autorizam a
disponibilização dos seus respectivos coletores de REEE. Quanto ao inventário de resíduos, conforme
CONAMA 313/2002, gerados pelas empresas, cinco afirmaram elaborar o inventário e apenas a
empresa K disse não fazer o seu inventário de resíduos. Os resultados relacionados às cooperações
técnica e/ou financeira, visando à melhoria dos processos de gerenciamento no que tange a
reciclagem dos REEE, cinco empresas não possuem nenhum tipo de apoio e apenas uma empresa
afirmou ter o apoio de empresas privadas. Sobre a destinação dada aos REEE cuja reciclagem não
seja possível cinco empresas optam por realizar a incineração, realizada por empresa específica,
exceto a empresa H que é do ramo de incineração e já incinera seus próprios resíduos. Esta empresa
utiliza máquinas com filtros para que os gases liberados no ambiente após o processo de incineração

60 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


sejam menos poluentes possíveis. A empresa L respondeu que no caso de alumínio e ferro são
vendidos para empresas que executam tal reciclagem. Com o auxílio do checklist de observação
participante foi possível à constatação das informações repassadas bem como outras informações
observadas durante realização da visita e entrevista. Foi confirmado que nenhuma das seis empresas
lança seus REEE ou suas partes em corpo hídrico, não abandonam e não realizam a queima a céu
aberto, as mesmas também não misturam os REEE com outros tipos de resíduos gerados na
empresa. Quanto à segurança na manipulação foi possível a verificação de que todas equipam seus
funcionários com máscaras, luvas, protetores auriculares e outros EPI (Equipamentos de Proteção
individual) além destes equipamentos, uma das empresas visitada possuía exposto em sua recepção
o certificado da OHSAS 18001: 2007 referente aos Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no
Trabalho, isto mostra a prioridade com que está sendo tratada à questão da segurança, bem como os
seus respectivos equipamentos encontram-se em condições de uso sem riscos às pessoas que os
operam. Sobre a exportação dos resíduos gerados pelas empresas contatou-se que dependendo da
área de atuação, apenas a empresa H realiza a própria destinação final de seus resíduos, pois se trata
de uma empresa do ramo de incineração, as demais vendem no mercado interno de reciclagem os
materiais os quais as mesmas não trabalham. Quanto às Licenças para o respectivo funcionamento,
Normas, Políticas e demais Certificações das empresas, foi constatado que a empresa G possui
Certificações da ISO 9000, ISO 14000, Política de Qualidade, Alvará de Funcionamento e outras
certificações expostas na recepção. Na visita da empresa H foi possível verificar a existência do alvará
de funcionamento e autorizações para execução de suas atividades. Foi informado pelo entrevistado
que a mesma encontra-se atualmente no aguardo da liberação da Licença de Operação (L.O) para
incineração de lâmpadas. A empresa I possui exposto na recepção o Alvará de Funcionamento. A
empresa J, expõe as Certificações da ISO 9002/2004, 9001/2000, 9001/2008 e 14001/2004, há
também sua Política de Qualidade e de Gestão Integrada. As empresas K e L, possuem expostas em
suas recepções o alvará de funcionamento, mas não foi possível a identificação de outras
certificações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda são poucas as empresas de reciclagem de REEE que recebem os materiais de pontos de
coleta seletiva e da sociedade civil, que individualmente geram pequenas quantidades destes
resíduos. Sobre as empresas que trabalham com o gerenciamento desse tipo específico de resíduo
não foi encontrada nenhuma no município de Manaus o que pode vir a ser um mercado de grandes
oportunidades de negócios. Ressalta-se que Manaus é um produtor de equipamentos
eletroeletrônicos, portanto estaria plenamente inserido no ciclo da logística reversa, portanto seria
também necessário melhorar e ampliar a estrutura dos portos e aeroportos para suportar esta nova
demanda. Por fim, a capacitação de profissionais e das próprias empresas da área para atuarem
neste mercado que se encontra cada vez mais crescente, é necessário que estas devam se atualizar e
se adequar aos padrões das certificações internacionais, visto que grande parte das empresas
instaladas no PIM são multinacionais e/ou empresas que exigem certificações voltadas para a
qualidade dos processos internos, segurança dos trabalhadores e do meio ambiente. Esta
capacitação empresarial poderia vir acompanhada com apoios de diversos setores sejam eles
públicos ou privados em forma de incentivos, sejam eles de ordem financeira, fiscais ou até mesmo
apoio técnico científico, visto que as mesmas ainda estão carentes destes tipos de certificações. Estas
melhorias serão possíveis com a participação de todos os atores pertencentes ao ciclo de vida dos

GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS: O CASO DAS 61


EMPRESAS DE RECICLAGEM DE MANAUS-AM.
equipamentos eletroeletrônicos, inclusos na Política Nacional de Resíduos Sólidos, responsáveis pela
destinação ambientalmente adequada dos REEE gerados. Ressalta-se que ainda é bastante
incipiente e insignificante a reciclagem desta classe de resíduos e há muito que se desenvolver na
área. No município encontram-se grandes empresas de reciclagem de resíduos industriais, mas
carece de empresas que atuem efetivamente com resíduos de equipamentos eletroeletrônicos.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, Aurélio Buarque e Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. ed. 8,
Positivo, Curitiba, 2010.
BRASIL. Lei Federal N°12.305 2 de Agosto de 2010. Institui a Política Nacional De Resíduos
Sólidos. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 2010.
_______.Ministério do Meio Ambiente. Resolução CONAMA N° 313 de 29 de Outubro de 2002.
Dispõe sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos Industriais. Diário Oficial da União Nº 226 de
22/11/2002 – Seção I – págs.85-91.
ABRANTES, Jorge Dinis. Reciclagem de Placas de Circuito Impresso: Optimização da Operação
de Processamento Físico. 2009. Dissertação de Mestrado. Engenharia de Materiais do Instituto
Superior Técnico. Universidade Técnica de Lisboa. 2009.
BORGES, João Tito. Reciclagem e recondicionamento de resíduos de equipamentos eletrônicos
no Polo Industrial de Manaus visando a inserção social e digital. Disponível em:
http://www.thtambiental.com.br/wp-content/uploads/2010/02/E-Waste.pdf Acesso em: 12 de maio
de 2012.
ABINEE, Associação Brasileira das Indústria elétrica e eletrônica. Panorama Econômico e
Desempenho Setorial 2011. Disponível em: http://www.abinee.org.br . Acesso em 7 de julho de
2011.
SUPERITENDÊNCIA DA ZONA FRANCA DE MANAUS-SUFRAMA . Modelo Zona Franca: História.
Disponível em: <http://www.suframa.gov.br/zfm _historia.cfm>. Acesso em: 25 de janeiro de 2013.
LEFF, Henrique. Saber Ambiental: Sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder.
Tradução de Lúcia Mathilde Emdlich Orth. 8ª ed. – Petrópolis, RJ, 2011.
TELELISTAS.NET. Site de consulta gratuita para busca de telefones e endereços de empresas no
Brasil. disponível em: <www.telelistas.net> Acesso em: 14 de março de 2012.
LISTA ON LINE. Site de busca de telefones e endereços de empresas no Brasil. Disponível em:
<www.listaonline.com.br>. Acesso em 16 de março de 2012.
RODRIGUES, Maria Venina Savedra. Análise da Gestão do Serviço Municipal de Coleta Seletiva
em Manaus-AM. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas.
Manaus-AM, 2010.

62 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


ARTIGO 8
RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS (RSIS): DE SUA
PROBLEMÁTICA NO ESTADO DO AMAZONAS À
IMPORTÂNCIA DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE
– UMA BREVE ABORDAGEM SOB A ÉGIDE DA
LEI N.º 12.305/2010 (PNRS)

João Bosco Ladislau de Andrade


Docente da Universidade Federal do Amazonas – UFAM.
boscoladislau@mandic.com.br

INTRODUÇÃO

Se com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento, à qual a maioria já se refere como Rio-92, o desenvolvimento sustentável passou a
ser um conceito amplamente utilizado, então agora, especialmente por ser o foco temático da
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável ( já conhecida como Rio+20),
não mais apenas o desenvolvimento sustentável, mas, sobretudo, a sustentabilidade foi convertida
numa meta a ser (cada vez mais e por todos) atingida. Sendo assim, particularmente a produção e o
fluxo dos resíduos sólidos industriais (RSIs) estão entre os mais importantes e urgentes desafios
ambientais a serem, atualmente, enfrentados por governos, empresas e pela sociedade. É óbvio que
o desafio fica cada vez maior com a produção crescente – especialmente se inexistentes ou
inadequadas tanto a gestão quanto o gerenciamento – de tais resíduos. Isso, portanto, exige cada
vez mais novas soluções. Nesse sentido, tanto o setor industrial quanto os demais setores
empresariais, quer seja por iniciativa própria quer seja movido por forças externas, são compelidos a
reconhecerem a importância da melhoria de seus desempenhos ambientais, inclusive no que se
refere à questão de seus resíduos sólidos. O que implica na necessidade de mudanças significativas
nos padrões de produção, comercialização e consumo. As administrações municipais locais e os
demais entes públicos passam a ser cada vez mais responsáveis pelas condições adequadas de
higiene e outras, relacionadas principalmente com os RSIs nas áreas de suas jurisdições. À sociedade,
passa a caber-lhe uma redefinição em seu papel, a de incorporar essas mudanças, associando-as a
um novo perfil de consumidor, mas acima de tudo nele reafirmando, sempre, sua condição de
cidadão. Vê-se, portanto, que quando se trata dos resíduos sólidos, notadamente dos resíduos
sólidos industriais, no contexto da almejada sustentabilidade todos são, a um só tempo e igualmente,
copartícipes e corresponsáveis. Afinal, é isto que a sustentabilidade tem de especial como proposta:
o comprometimento de todos para que a ideia se materialize. Não pode haver sustentabilidade em
contexto insustentável.

RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS (RSIS): DE SUA PROBLEMÁTICA NO ESTADO DO


AMAZONAS À IMPORTÂNCIA DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE – UMA BREVE 63
ABORDAGEM SOB A ÉGIDE DA LEI N.º 12.305/2010 (PNRS)
A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PNRS) E A QUESTÃO DOS RSIS EM NÍVEL
LOCAL

A partir da promulgação da Lei N.º 12.305 de 2 de agosto de 2010, instituindo a Política Nacional
de Resíduos Sólidos no Brasil (PNRS), tais responsabilidades, sob o princípio da sustentabilidade e
tendo por objetivo a gestão integrada de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, passaram a ter ali
um marco regulatório para o setor. Marco este regulamentado pelo Decreto N.º 7.404 de 23 de
dezembro de 2010, que criou também o Comitê Interministerial de Política Nacional de Resíduos
Sólidos e o Comitê Orientador para a Implantação dos Sistemas de Logística Reversa. Tem a PNRS os
seguintes princípios: a prevenção e precaução; o poluidor-pagador e o protetor-recebedor; a visão
sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos; o desenvolvimento sustentável; a ecoeficiência; a
cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e demais segmentos da
sociedade; a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; o reconhecimento do
resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de
trabalho e renda e promotor da cidadania; o respeito às diversidades locais e regionais; o direito da
sociedade à informação e ao controle social; e, ainda, a razoabilidade e a proporcionalidade. Além
disso, dentre os quinze objetivos da PNRS destacam-se aqui: a proteção da saúde pública e da
qualidade ambiental; a não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos
sólidos, bem como a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos; o estímulo à adoção de
padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços; a adoção, desenvolvimento e
aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar impactos ambientais; o incentivo à
indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de
materiais recicláveis e reciclados; a gestão integrada de resíduos sólidos; a integração dos catadores
de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada
pelo ciclo de vida dos produtos; e o estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do
produto (BRASIL, 2010). Os instrumentos da PNRS são dezoito. Dentre eles salientam-se: os planos
de resíduos sólidos; a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras ferramentas
relacionadas à implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; o
incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de
catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; a pesquisa científica e tecnológica; a educação
ambiental; e, no que couber, os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, entre eles: os
padrões de qualidade ambiental; a avaliação de impactos ambientais; e o licenciamento e a revisão
de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras (BRASIL, 2010). No caso do estado do Amazonas
e de seu Polo Industrial de Manaus (PIM), vendo-os à luz da PNRS no que cabe aos geradores e ao
poder público (entes estes, aliás, intensamente referidos na mencionada Lei), pode-se dizer que a
partir do que apresentam os documentos intitulados Estudos para o Desenvolvimento... (documento
JICA/SUFRAMA, 2010) e o Plano Diretor de Resíduos Sólidos de Manaus – PDRSM (2010),
particularmente em relação aos resíduos sólidos industriais ainda há uma considerável distância
entre o que é feito com eles atualmente e o que ainda resta para fazer-lhes. As evidências que
sustentam a argumentação precedente são diversas quando cotejados os dois documentos
anteriores. Assim sendo, do primeiro (documento JICA/SUFRAMA, 2010), a título de exemplos, em
relação aos RSIs são extraídas as seguintes informações: “Lixões podem ser encontrados em áreas de
floresta onde as condições de monitoramento são difíceis” (p.iii); “Descarte ilegal de embalagens
plásticas onde se lê “atenção, cuidado”, indicando que são necessários cuidados especiais no
manuseio” (p.iii); “Os inventários que foram recebidos não esclarecem a quantidade ou composição
dos resíduos descartados pelo PIM, nem tão pouco (sic) as condições básicas de gestão de resíduos”

64 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


(p.1-1); “A política governamental da gestão de resíduos industriais além de não ser clara, é
ambígua” (p.3-15); “A consciência social geral sobre a gestão de resíduos é pequena” (p.3-15);
“Embora já se tenha falado na construção e operação de um aterro autorizado para a gestão dos
resíduos do PIM por muitos anos, pouco progresso foi visto” (p.4-55). Do segundo documento
(PDRSM, 2010), se destaca a consideração ali existente de que, em relação à responsabilidade, a
gestão dos RSIs não é do município, posto que “são questões totalmente diferentes em termos de
responsabilidades dos agentes e dinâmicas na administração e manejo” (p.74). Exemplos como os
que aparecem no primeiro caso mostram que, obviamente, os problemas causados pelos RSIs
muitas vezes extrapolam o âmbito das instalações fabris. Logo, gerenciá-los bem, mas não apenas
intramuros de tais instalações, se revela sábio. É uma necessidade e, também, é prudente que seja
assim. O que por si só já demonstra que, para as responsabilidades sobre a gestão dos RSIs, a
estanqueidade apregoada pelo PDRSM (2010) não é factível. E não o é apenas por esta razão aqui
apresentada, mas, sobretudo, porque às questões ambientais e outras se está sob a égide da
sustentabilidade. A qual também se aplica tanto à gestão quanto ao gerenciamento dos resíduos
sólidos industriais, razão pela qual, agora, se fala em gestão e gerenciamento integrado dos mesmos.
Qual integração poderia haver na estanqueidade? Nenhuma, seguramente. Ora! Vê-se também que
a idéia da sustentabilidade permeia a Lei N.º 12.305/2010, que institui a Política Nacional dos
Resíduos Sólidos. Logo, para que aquela gestão e gerenciamento – ambos definidos na Lei – sejam
exequíveis, a PNRS apresenta definições até então nacionalmente pouco debatidas. Exemplos: a
logística reversa; e a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Ambas,
também, integradas entre si, haja vista uma das definições cabíveis à logística reversa ser aquela que
a considera como uma das ferramentas de implementação da responsabilidade compartilhada por
aquele ciclo de vida. Embora tendo, ainda, diversas outras definições – com ênfases no
gerenciamento físico de produtos, no meio ambiente e na visão geral do processo (MIGUEZ, 2010) -,
para a PNRS a logística reversa consiste em ser “Instrumento de desenvolvimento econômico e social
caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em
outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010, p.2).
Aqui vale destacar que, ainda de acordo com essa mesma Lei, tal instrumento deve,
obrigatoriamente, ser aplicado aos seguintes resíduos sólidos industriais: a) Agrotóxicos, seus
resíduos e embalagens; b) Pilhas e baterias; c) Pneus; d) Óleos lubrificantes, seus resíduos e
embalagens; e) Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; e, f ) Produtos
eletroeletrônicos e seus componentes. Para o tema da logística reversa, ou seja, o retorno ao setor
industrial pós-venda e pós-consumo notadamente dos resíduos sólidos industriais supra, quase tudo
(tanto no PIM, quanto em Manaus, na Região Metropolitana de Manaus e mesmo no próprio estado
do Amazonas) ainda está para ser feito ou, quando muito, se encontra em estágio que mal beira o
alvorecer. Prova é que, até os dias atuais, a tendência ainda é indústrias e administração municipal
gerenciarem o que entendem serem seus respectivos resíduos sólidos com ênfase na estanqueidade,
perceptível em seus respectivos Planos Diretores para os mesmos. Ou seja, no gerenciamento no
qual a integração não é suficientemente contemplada, predomina em ambos a logística da coleta,
transporte e disposição final dos resíduos sólidos. Além disto, sem a devida implantação das
estruturas para o manejo dos resíduos sólidos e, também, sem a correta parceria com cooperativas e
associações de catadores de materiais recicláveis, de forma a garantir a sustentabilidade. Pois bem!
Em qualquer caso, o foco da sustentabilidade na PNRS não é (e nem poderia ser) a tríade coleta-
transporte-disposição final. Antes sim, tanto na gestão quanto no gerenciamento, na ordem de
prioridade que se apresenta, ele é o seguinte: não geração, redução, reutilização, reciclagem,

RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS (RSIS): DE SUA PROBLEMÁTICA NO ESTADO DO


AMAZONAS À IMPORTÂNCIA DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE – UMA BREVE 65
ABORDAGEM SOB A ÉGIDE DA LEI N.º 12.305/2010 (PNRS)
tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos (destaca-
se). Vê-se, portanto, que a mera disposição final já não é mais o que se espera e, menos ainda, o que
se preconiza. Então não se fala mais em aterro (por exemplo, sanitário) como sendo necessariamente
o local no qual os problemas de poluição e outros, causados pelos resíduos sólidos, são
solucionados. Não! A solução (e, porque não dizer, a ênfase) agora está em manter esses resíduos, o
máximo possível, em outro ciclo, cabendo-lhes o destino da disposição final em aterros (sanitários,
por exemplo) somente após não terem encontrado outra modalidade de disposição final
ambientalmente adequada ou se, na ocasião, estiverem sob a condição de rejeito. Em outras
palavras, a sustentabilidade não enfatiza o aterro como solução final. Melhor dizendo, à luz da Lei N.º
12.305/2010 e no contexto dos Planos (Figura 1) que ela preconiza, a sustentabilidade pondera que
tanto a gestão quanto o gerenciamento dos resíduos sólidos, incluindo os industriais, vai além da
mera disposição adequada dos mesmos em aterros.

PLANO NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Planos Estaduais de Resíduos Sólidos

Planos Planos
Municipais Intermunicipais
Planos Microrregionais
e de Regiões
Metropolitanas

Planos de Gerenciamento de RS

Figura 1 – Planos de resíduos sólidos estabelecidos pela Lei 12.305/2010.


Fonte: Ministério do Meio Ambiente, [2011]

Tradicionalmente a cadeia de valor à qual se volta à tríade coleta-transporte-disposição final é


aquela que se inicia com a produção (a partir da matéria-prima) e passa pelo beneficiamento,
comercialização, distribuição e consumo. A partir desse ponto, como mostra a Figura 2, a logística
reversa inicia outro ciclo (sobre o qual já se fez referência anteriormente), denominado Cadeia de
Valor da Reciclagem. E é esta cadeia, portanto, o passo considerável que, também, necessita ser
dado, especialmente pelas indústrias do PIM e pela administração municipal e dos demais
municípios amazonenses, a fim de que, em relação aos resíduos sólidos, a sustentabilidade em nível
local seja uma realidade concreta e não apenas almejada. Até porque, ao estado do Amazonas e à
Amazônia como um todo, por suas peculiaridades, cabem-lhes redobrada responsabilidade perante
tal conceito. A esta altura convém ressaltar que um dos setores de destaque no PIM é exatamente
aquele no qual o Brasil é o país em desenvolvimento que mais produz resíduo que dele provem (0,5
kg/hab.ano contra 0,4 kg/hab.ano de China e México, segundo a referência Eletroeletrônicos rumo...,
2011): o setor de eletroeletrônicos. Trata-se de um setor pertencente a uma das indústrias que mais
rapidamente cresce no mundo, em virtude do consumo cada vez mais ampliado e de uma maior

66 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


obsolescência dos produtos, mas que também produz resíduos sólidos que podem conter chumbo,
cádmio, arsênio, mercúrio, bifenilas policloradas (PCBs), éter difenil polibromado, entre outras
substâncias perigosas. Ora, aos resíduos sólidos em geral, mas especialmente aos de tal setor, como
já se viu, obrigatoriamente cabe à logística reversa. Esta, por sua vez, segundo a Lei N.º 12.305/2010,
considerando a responsabilidade compartilhada, para o manejo residual requer a implantação de
instalações como:

Figura 2 – Cadeia de valor tradicional e Cadeia de valor da reciclagem.


Fonte: Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, 2011, p.7.

 Galpões de triagem de recicláveis secos, com normas operacionais definidas em regulamento;


 Unidades de valorização;
 Locais de Entrega Voluntária de Resíduos Recicláveis (LEVs) – contêineres, sacos ou outros
dispositivos instalados em espaços públicos ou privados monitorados, para recebimento de
recicláveis;
 Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) – ecopontos para acumulação temporária de resíduos da
construção e demolição, de resíduos volumosos, da coleta seletiva e resíduos com logística
reversa, em conformidade com a NBR 15.112/2004 – ABNT: Resíduos da construção civil e
resíduos volumosos – Áreas de transbordo e triagem – Diretrizes para o projeto, implantação e
operação;
 Áreas de Triagem e Transbordo (ATTs) de Resíduos da Construção e Demolição, resíduos
volumosos e resíduos com logística reversa, de acordo com a NBR 15.112/2004 – ABNT;
 Áreas de Reciclagem de Resíduos da Construção, segundo a NBR 15.114/2004 – ABNT: Resíduos
sólidos da construção civil – Áreas de reciclagem – Diretrizes para projeto, implantação e
operação;
 Aterros Sanitários, de acordo com a NBR 13.896/1997 – ABNT: Aterros de resíduos não perigosos
– Critérios para projeto, implantação e operação;
 Aterros Sanitários de Pequeno Porte (ASPP) com licenciamento simplificado pela Resolução

RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS (RSIS): DE SUA PROBLEMÁTICA NO ESTADO DO


AMAZONAS À IMPORTÂNCIA DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE – UMA BREVE 67
ABORDAGEM SOB A ÉGIDE DA LEI N.º 12.305/2010 (PNRS)
N.º404/2008 – CONAMA (estabelece critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de
aterro sanitário de pequeno porte de resíduos sólidos urbanos) e com projeto orientado pela
NBR 15.849/2010 – ABNT: Resíduos sólidos urbanos – Aterros sanitários de pequeno porte –
Diretrizes para localização, projeto, implantação;
 Aterros de Resíduos da Construção Classe A, segundo a NBR 15.113/2004 – ABNT: Resíduos da
construção civil e resíduos inertes – Aterros. Diretrizes para projeto, implantação e operação.
 O Polo Industrial de Manaus, os municípios amazonenses e da Amazônia (brasileira e legal),
seguramente, ainda estão muito longe disto. E, no entanto, tais instalações são urgentes, uma
necessidade. Não é possível esquecê-las. Até porque, aqui se está a tratar de um contexto
intensamente permeado por águas superficiais e subterrâneas, no qual por seus inúmeros cursos
d'água navegáveis deslocam-se, muitas vezes em viagens que duram dias, milhares de pessoas
em embarcações nas quais não existem maiores cuidados em relação ao descarte dos resíduos,
eletrônicos inclusive. De igual maneira, também não é possível esquecer o que as instalações
relacionadas anteriormente têm a contribuir com o relevante trabalho dos catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis na Região (Quadro 1).

Quadro 1 – Cooperativa/Associação e seu número de catadores na Amazônia brasileira (Adaptado).

ENTIDADES E ESTADOS
PESSOAL
Rondônia Acre Amazonas Roraima Pará Amapá Tocantins
EXISTENTE
Cooperativa ou
Associação de 5 1 9 1 10 3 34
catadores
Número de
catadores ligados
310 5 196 32 364 153 134
a Cooperativa ou
Associação
Fonte: Freitas & Fonseca, 2011.

CONCLUSÃO

É certo que tudo isto que aqui se expôs converge para o reconhecimento de que a adequada
gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos (industriais, inclusive) adquirem caráter especial.
Principalmente quando tal questão ambiental, para avançar rumo à sustentabilidade, revela não
mais ser possível dissociá-la do desenvolvimento econômico, tecnológico ou das questões
sociológicas, por exemplo. Nesse caso, inevitavelmente, o caminho para a sustentabilidade haverá
de passar pelo estabelecimento de políticas públicas. Estas, porém, norteadas por indicadores de
sustentabilidade (ainda escassos ou inexistentes para os RSIs, no país) capazes de influenciar no
caminho a seguir e na tomada de decisão, evidentemente.

REFERÊNCIAS
BRASIL. (2010). Lei n.º 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos; altera a Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da

68 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


União, Brasília (DF), 3 de agosto de 2010. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/112305.htm>. Acesso em: 13
de setembro de 2010.
Eletroeletrônicos rumo a uma nova cadeia sustentável. (2011). Revista Limpeza Pública. N.º 76,
1.º trimestre de 2011.
FREITAS, L. F. S.; FONSECA, I. F. (2011). Caderno de Diagnóstico: catadores – Versão preliminar.
IPEA, agosto de 2011.
Gestão Integrada de Resíduos Sólidos. (2011). Fascículo 1 – Proposta de atuação na cadeia de
reciclagem e na gestão dos resíduos sólidos. Brasília, Banco do Brasil, CD – ROM, maio de 2011.
JICA – Agência de Cooperação Internacional do Japão/SUFRAMA – Superintendência da Zona
Franca de Manaus. (2010). Estudo para o desenvolvimento de uma solução integrada relativa à
gestão de resíduos industriais no Polo Industrial de Manaus (Volume 1 – Relatório principal; Volume 2
– Relatório de apoio; Volume 3 – Relatório de apoio (continuação); Volume 4 – Resumo). Manaus,
JICA/SUFRAMA.
MIGUEZ. E. C. (2010). Logística Reversa como Solução para o Problema do Lixo Eletrônico:
benefícios ambientais e financeiros. Rio de Janeiro, Qualitymark.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). [2011]. Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Destaques da Lei n.º 12.305/2010 e de seu Decreto Regulamentador n.º 7.404/10. Brasília, folder.
PDRSM – Plano Diretor de Resíduos Sólidos de Manaus. (2010). Manaus, Prefeitura Municipal de
Manaus (PMM)/Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM).

RESÍDUOS SÓLIDOS INDUSTRIAIS (RSIS): DE SUA PROBLEMÁTICA NO ESTADO DO


AMAZONAS À IMPORTÂNCIA DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE – UMA BREVE 69
ABORDAGEM SOB A ÉGIDE DA LEI N.º 12.305/2010 (PNRS)
ARTIGO 9
CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
URBANOS PRODUZIDOS NA CIDADE DE PARINTINS-AM

Sueny Ferreira Picanço


Engenheira Florestal e Mestre em Ciências Florestais e Ambientais.

Julio César Rodríguez Tello


Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM;
Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus
Universitário, Av. General Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM,
jucerote@hotmail.com

INTRODUÇÃO

A ausência da gestão, gerenciamento e tratamento de resíduos sólidos é uma das grandes


preocupações mundiais, adquirindo dimensão considerável em função da gravidade frente às
consequências indesejáveis para a saúde, o bem-estar da população e a qualidade do meio
ambiente. O problema da disposição final inadequada é fato observado nos diferentes Municípios
Amazônicos, o que deve constituir uma alerta para a população, pois, ela tem ligação direta com as
questões da saúde pública. Os serviços de varrição e limpeza de logradouros, lixos industriais e
hospitalares, matadouros entre outros, são deficientes, e merecem um tratamento técnico
profissional para uma vida digna e sadia nos municípios. Neste sentido, a Lei Federal nº. 12.305/10,
instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), dispondo sobre seus princípios, objetivos e
instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de
resíduos sólidos incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos
instrumentos econômicos aplicáveis. Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou
jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de
resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento
de resíduos sólidos. A disposição dos resíduos sólidos no solo sem critérios técnicos que preservem o
ambiente e evitem problemas sanitários, é uma prática comum no Brasil e em vários outros países do
mundo, sendo esses locais denominados de “lixão”, caracterizados como uma forma de disposição
final de resíduos sólidos urbanos, na qual estes são simplesmente despejados sobre o solo, sem
medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde pública. Essa maneira de dispor o lixo facilita a
proliferação de vetores, geração de maus odores, poluição das águas superficiais e subterrâneas
pelo lixiviado - mistura do chorume (líquido), gerado pela degradação da matéria orgânica, com a
água da chuva - além de não possibilitar o controle dos resíduos que são encaminhados para o local
de disposição de resíduos sólidos. A geração de resíduos sólidos no Brasil registrou crescimento de
1,8%, de 2010 para 2011, índice percentual que é superior à taxa de crescimento populacional
urbano do país, que foi de 0,9% no mesmo período. A Abrelpe (2011) afirma que o Estado do

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS PRODUZIDOS 71


NA CIDADE DE PARINTINS-AM
Amazonas possui uma população urbana de 2.800.454 habitantes e uma geração de resíduos
sólidos de 3,767 toneladas por dia, sendo que 1,156 Kg é por habitante por dia. Grande parte dos
municípios não possuem Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, bem como não
há Aterros Sanitários ou Controlados, sendo os resíduos dispostos de forma aleatória nos “lixões”.
Neste contexto, como a gestão de resíduos é uma atividade essencial para qualquer Município.
Atualmente, a cidade de Parintins segue o modelo de destino de lixo como a maioria das cidades
brasileiras, onde os resíduos sólidos são depositados em um lixão a céu aberto. Dessa forma, este
estudo está voltado para a caracterização dos resíduos sólidos urbanos do Município de Parintins,
assim como a taxa da geração per capita dos resíduos sólidos da população urbana da cidade.

MATERIAL E MÉTODO
O Município de Parintins-AM (Figura 1), tem os seus limites assim definidos: Ao Norte com o
Município de Nhamundá, ao Sul com o Município de Barreirinha, a Leste com o Estado do Pará
(Município de Juruti) e a Oeste com o Município de Urucurituba. A área territorial de Parintins é de
5.952,378 Km². O município localiza-se sobre formações quaternárias e terraços holocênicos no
setor oriental do Estado do Amazonas. Ocorre a predominância dos solos Latossolo Amarelo Álico e
Podzólico Vermelho Amarelo Álico, na terra-firme. Nas áreas de várzea, o domínio é dos solos de
aluvião, do tipo Gley Pouco Úmico Distrófico, apresentando fertilidade natural média e elevada
(Sistema Brasileiro de Classificação de Solos da Embrapa/SiBCSS/D).

Figura 1 – Município de Parintins. Fonte: REIS, J.R.L., 2014.

A caracterização ocorreu nos resíduos sólidos urbanos provenientes das rotas de coleta de
resíduos sólidos domiciliares, previamente definidos. Foi retirada a amostra dos roteiros diurnos e
noturnos, com frequência diária. Após a coleta dos resíduos nos bairros procedeu-se a análise, a céu
aberto, no local onde é depositado o lixo da cidade. A amostragem se deu de acordo com a ABNT
NBR 10007/2004. Em seguida, o quarteamento foi realizado segundo Andrade et al. (2004). O
conteúdo do caminhão foi descarregado e do monte de resíduos foram recolhidos amostras de
aproximadamente 3m³ de volume em quatro diferentes posições do monte, e colocados sobre uma

72 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


lona 5x8 metros, procedendo o rompimento de sacos plásticos, caixas de papelão, caixotes e outros
materiais utilizados no acondicionamento dos resíduos. A partir dessa amostra realizou-se o
processo de quarteamento que consiste em dividir a fração de resíduos em quatro partes iguais,
considerando-se, para tanto, o formato retangular do lote. Feito o quarteamento foram tomados
duas partes opostas e novamente misturadas, repetindo o processo de quarteamento, selecionando
um dos quartos resultantes para a caracterização física. Com os tambores de 200l foram recolhidas
cinco amostras, todas pesadas descontando o peso dos latões que previamente foram pesados.
Adotou-se a classificação de resíduos da Lei Federal nº 12.305/2010. Para a composição gravimétrica
foi determinado o peso de cada recipiente quando cheio. Depois, foram escolhidos, aleatoriamente,
dois recipientes a fim de ser procedida a separação manual dos componentes do lixo.
Posteriormente, foi determinado o peso de cada um dos materiais separados e, finalmente, através
de regra de três simples foi obtido o percentual em peso de cada um dos componentes. As amostras
foram levadas para o Laboratório de Química do Instituto Federal do Amazonas – IFAM para a
determinação do teor de umidade. A determinação do teor de umidade consistiu em separar uma
amostra de cerca de dois quilos de lixo, de dois recipientes, que em seguida, foram levadas a uma
estufa na qual permaneceu durante 48 horas a uma temperatura de 75ºC, até alcançar peso
constante. Posteriormente, procedeu-se a pesagem do material e, finalmente, por regra de três
simples foi determinado o teor de umidade do lixo produzido na cidade de Parintins. A média da
geração per capita de resíduos sólidos foi calculada em função da quantidade de resíduos coletados
na cidade de Parintins dividida pela população beneficiada por esses serviços.

RESULTADOS

Foram identificadas seis rotas diferentes, as quais contemplam toda a zona urbana da cidade de
Parintins. As rotas foram: Rota 01 - Bairro do Palmares e São Vicente; Rota 02 -Centro e São Benedito;
Rota 03 - Santa Rita e Castanheira; Rota 04 - Santa Clara, Emilio Moreira, São Francisco e Itaguatinga;
Rota 05 - Itauna 1 e 2, União, Paschal Allagio, João Novo 1 e 2; Rota 06 - Paulo Correa, Djard Vieira. Foi
retirada a amostra dos roteiros diurnos e noturnos, com frequência diária. Após a coleta dos resíduos
nos bairros procedeu-se a análise, a céu aberto, no local onde é depositado o lixo da cidade. Em
seguida, o quarteamento foi realizado segundo Andrade et al. (2004). A rota que obteve a maior
média de quantidade de lixo foi a rota três composta dos Bairros Santa Rita e Castanheira com 42,48
Kg de resíduos e a menor foi a rota dois realizada no Centro e no Bairro São Benedito. Foi constatada
a maior fração para matéria orgânica (50,97%) seguida do plástico (23,94%), papel e papelão
(13,85%), outros componentes (pano, estopa, vidro, pedra, couro e borracha) com 9,42% e a dos
metais (1,79%). O peso específico aparente produzido na cidade de Parintins foi de 179,27 Kg/m3 e o
teor de umidade nos resíduos sólidos produzido na cidade de Parintins foi de 15,75%. A
determinação da geração per capita dos resíduos sólidos foi de 1,56 kg/hab/dia na zona urbana do
Município. Por meio dos resultados obtidos na pesquisa constatou-se a necessidade de elaboração
de programas de educação ambiental efetivos e de caráter permanente, com propostas que visem à
mudança nos padrões de consumo da população, buscando a minimização dos resíduos, o melhor
aproveitamento dos produtos e bens adquiridos e a colaboração dos habitantes com a coleta
seletiva objetivando formar cidadãos comprometidos com a qualidade do meio ambiente e com o
gerenciamento dos resíduos do Município.

CONCLUSÕES
Pelos resultados obtidos na pesquisa constatou-se a necessidade de elaboração de programas

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS PRODUZIDOS 73


NA CIDADE DE PARINTINS-AM
de educação ambiental efetivos e de caráter permanente, com propostas que visem à mudança nos
padrões de consumo da população, buscando a minimização dos resíduos, o melhor
aproveitamento dos produtos e bens adquiridos e a colaboração dos habitantes com a coleta
seletiva objetivando formar cidadãos comprometidos com a qualidade do meio ambiente e com o
gerenciamento dos resíduos do Município. As informações obtidas servirão de subsídios para a
implantação e a geração de um sistema de gestão de resíduos sólidos no município de Parintins, que
pela sua vez promoverá a saúde e qualidade de vida, permitindo o cumprimento de metas do
planejamento local e garantindo o bem-estar e a continuidade dos serviços. Um plano de
gerenciamento de resíduos sólidos na cidade de Parintins promoverá também a sustentabilidade
ambiental unindo as ações que devem incorporar de forma indissociável as três dimensões da
sustentabilidade: a ambiental, a social e a econômica.

REFERENCIAS

ABRELPE − ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS


ESPECIAIS. Panorama dos resíduos sólidos no Brasil 2011. São Paulo: Abrelpe, 2011.
ANDRADE, H. F.; PRADO, M. L.; PASQUALETTO, A.; PINA, G. P. R. Caracterização física dos resíduos
sólidos domésticos do Município de Caldas Novas – GO, 2004.
TCE – Tribunal de Contas do Estado do Amazonas. Panorama dos resíduos sólidos em nove
Municípios do Amazonas, Relatório de Vistorias Operacionais do TCE/AM, 2012. 43 p.

74 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


ARTIGO 10
RECUPERAÇÃO DO DIACETONA ÁLCOOL UTILIZADO NO
PROCESSO DE LIMPEZA DO CD-R.

Gleisyhnn Brito de Sousa


Engenheira Química. Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental Empresarial - UFAM. Campus
Universitário, Av. Gen. Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM

Kiki Pinheiro Melo Braga


Engenheira Química, Doutora de Engenharia de Processo. Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental
Empresarial - UFAM. Campus Universitário, Av. Gen. Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM

INTRODUÇÃO

O disco compactado, conhecido como CD (Compact Disc), é um disco ótico capaz de armazenar
informações de forma digital, lidas a partir de laser refletido. É um dos mais populares meios de
armazenamento de dados digitais, principalmente de música comercializada e softwares de
computador, recebendo com isso o nome de CD-ROM. Foi inventado em 1979 e comercializado a
partir de 1982. A Philips anunciou publicamente um protótipo de CD-ROM de áudio em uma
conferência de imprensa "Philips Introduce Compact Disc" em 8 de março de 1979. Surgiu assim, a
popularização dos discos "virgens" (CD-R), para gravação apenas, e os discos que podem ser
"reescritos" (CD-RW) (NEWS, 2007). A produção de CD-R passa por diversas etapas: masterização,
injeção, metalização, impressão e acabamento. Dentro desses processos faz-se necessário o uso de
diversos produtos químicos tais como, níquel, acetona, acetato, hidróxido de sódio, diacetona álcool,
ácido nítrico, e etc. Após a metalização, por exemplo, utiliza-se o diacetona álcool (DAA), para
limpeza da borda do CD-R. A problemática envolvida dessa etapa é que ao final da limpeza dos
discos temos um alto volume de solvente de DAA contaminado com outros produtos químicos do
processo produtivo do CD-R o qual é descartado do processo e enviado para incineração (GOMES,
2011 (B)). O DAA é um produto importado e controlado pela policia federal, ele deve ser declarados
mensalmente referente à compra, consumo e estoque para o departamento fiscalizador (POLICIA
FEDERAL, 2001). A empresa tem um consumo bastante elevado de DAA e uma grande dificuldade de
obtenção deste solvente, por tanto se faz necessário a sua recuperação e reutilização no processo
produtivo. O custo para destinação desse produto químico como resíduo é bastante alto no mês
devido ser classificado como resíduo classe I, ou seja, um alto impacto ao meio ambiente quando
destinado de forma inadequada sendo necessário sua incineração (NBR 10004, 2004).Uma das
técnicas que pode ser utilizada na recuperação do DAA é a destilação diferencial, conhecida como
destilação simples onde o líquido é separado da impureza. A separação dos constituintes está
baseada na diferença de volatilidade. Dessa forma o DAA é descontaminado e poderá ser reutilizado
no processo produtivo novamente (GOMIDE, 1988). Uma grande vantagem da destilação, é que não

RECUPERAÇÃO DO DIACETONA ÁLCOOL UTILIZADO NO PROCESSO DE 75


LIMPEZA DO CD-R.
é necessário adicionar nenhuma substância para fazer a separação (FOUST. et al., 2008). Portanto
esse trabalho teve como objetivo recuperar o solvente de DAA usado na limpeza de borda do CD-R
por meio da destilação simples em diversas temperaturas e reutilizar no processo de limpeza do CD-
R.

MATERIAL E MÉTODO

Coletou-se 10L do DAA contaminado com a solução de Dye em uma bombona de plástico direto
do processo de fabricação de CD-R. Realizou-se três ensaio com temperaturas diferentes no
destilador. No primeiro ensaio o balão com 250mL de DAA contaminado, foi aquecido pela manta
térmica em seis escalas de temperaturas sendo controlada pelo termômetro durante 1hora até
atingir 155ºC, em cada escala foi separado uma amostra para análise cromatográfica . Para o
segundo ensaio o balão com 250mL de DAA contaminado, foi aquecido pela manta térmica até
80ºC. essa temperatura foi controlado pelo termômetro durante 43 min atingindo no máximo 100
ºC, coletou-se a amostra para fazer a análise cromatográfica. Para o terceiro ensaio o balão com
250mL de DAA contaminado, foi aquecido pela manta térmica até 110ºC. essa temperatura foi
controlado pelo termômetro durante 48 min atingindo no máximo 130 ºC, coletou-se a amostra
para fazer a análise cromatográfica. As analises cromatográfica foram feitas em um cromatógrafo
gasoso, modelo 7890 Agilent e Software Ezchrom Elite.

RESULTADOS

Durante a destilação observou-se que é possível fazer a separação dos contaminantes e fica
bastante visível a diferença da cor do material, em um determinado volume a destilação não deve
mais continuar, pois o condensado começa ficar com o liquido amarelo, ou seja, arrastando
contaminantes. Os resultados das análises cromatográfica das amostras, mostrou um melhor
resultado no terceiro ensaio, pois o cromatograma do DAA condensado a 130º ficou próximo do
cromatograma do DAA puro. A partir desses resultados foi realizado teste na maquina, e não foi
constatado nenhuma não conformidade durante a produção e o controle de qualidade manteve-se
o mesmo (Figura 1).

Figura 1- Resultados da Destilação do Diacetona Álcool Contaminado no Processo.


DAAC (1), Destilação do Diacetona Álcool Recuperado (2), Resíduos de Pigmentação no Destilado que foi
arrastado (3) e a Borra da destilação que restou no término da amostra (4)

76 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO

A destilação do DAAC na temperatura de 150 ºC mostrou-se favorável a recuperação do DAA


utilizado no processo de limpeza de CD-R, obtendo em torno de 89% de pureza. Além disso, foi
constatado que o DAAD pode ser reutilizado na empresa normalmente, diminuindo, os custos
relacionados tanto na compra quanto na incineração do DAAC. Compramos à R$ 7,34 (sete reais e
trinta e quatro centavos) por quilo de DAA puro, esse custo em 6 toneladas que são descartadas no
mês representa R$ 44.040,00 (quarenta e quatro mil e quarenta reais), onde 90% desse DAA
contaminado poderia esta sendo recuperado e enviado ao processo novamente, incluindo o valor
de incineração de R$ 4.500 (quatro mil e quinhentos reais) totaliza-se um custo de desperdício de R$
48.540,00 (quarenta e oito mil e quinhentos e quarenta reais). Para a recuperação de 6 toneladas de
DAA contaminado vamos ter um custo com operacional e energia de R$ 18.325,010 (dezoito mil e
trezentos e vinte cinco reais e dez centavos), onde fazendo a relação de custo beneficio teremos um
faturamento de R$ 30.214,99 (trinta mil e duzentos e quatorze reais e noventa e nove centavos). Com
a recuperação do DAAC e a reutilização no processo, a empresa terá benefícios financeiros e os
benefícios ambientais, pois irá gerar menos resíduo e o produto poderá circular dentro da empresa
com menor custo. Sugiro realizar um estudo sobre a vida útil do DAAD e também na destinação da
borra final da destilação.

REFERÊNCIAS
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR 10.004. Resíduos Sólidos. Classificação.
2004.
FOUST, Alan. et al. Princípios das Operações Unitárias. 2º ed. Rio de Janeiro: LCT, 2008.
GOMIDE, Reinaldo. Operações unitárias. IV volume. São Paulo: ETERG,1988.
GOMES, Jôse da Costa. Processo de preparação, reciclagem e Controle do Dye IT 2.4.076.
Procedimento Interno. 2011. (B).
NEWS, Eduarde. Sony Compact Disc Multi Speed. Version 1.3. 2007.
POLICIA FEDERAL. Lei 10.357 DE 27 DE DEZEMBRO DE 2001- Controle de Produtos Químicos.
Disponível em: http://www.dpf.gov.br/servicos/produtos-quimicos/legislacao. Acesso em 13 de
Outubro de 2012.

RECUPERAÇÃO DO DIACETONA ÁLCOOL UTILIZADO NO PROCESSO DE 77


LIMPEZA DO CD-R.
ARTIGO 11
GERENCIAMENTO AMBIENTAL ESTRATÉGICO: UM
ESTUDO DE CASO DO TRATAMENTO DE EFLUENTES
INDUSTRIAIS E CONTROLE DE CUSTOS INDUSTRIAIS NA
EMPRESA PCE – PAPEL, CAIXAS E EMBALAGENS S/A -
MANAUS/AM
Manuel Benito Acevedo Garcia

Julio César Rodríguez Tello


Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM;
Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário,
Av. General Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

INTRODUÇÃO

A temática da gestão ambiental é atual e importante pela sua relação tanto com os objetivos
centrais das organizações em termos de desempenho econômico, quanto com o atendimento às
demandas sociais relevantes, como qualidade de vida e preservação ambiental. O compromisso
ambiental não está dissociado dos ganhos econômicos, o que por sua vez serve de retroalimentação
para novas estratégias de melhorias que irão beneficiar tanto a empresa, como seus clientes e a
sociedade em geral pelo incremento de ganhos ao longo dos processos em termos de redução de
custos e melhorias nos processos, que irão se refletir em termos de proteção ambiental, produtos ou
serviços de qualidade com menor preço. Nesse contexto, o gerenciamento ambiental se traduz em
uma concepção dos processos internos em termos de alinhamento com diferentes agentes e em
diferentes espaços de atuação da empresa. Sob a ótica do gerenciamento ambiental estratégico, o
desempenho deve ser sistêmico, o que significa articular as políticas e ações em torno de objetivos
comuns. No caso dos processos industriais, isso significa integrar os procedimentos e técnicas de
controle de impactos ambientais com propósitos mais amplos, como obtenção de ganhos
competitivos. Isso significa mudar o foco, com uma gestão que prioriza o reordenamento dos
processos, visando incorporar tecnologias menos poluentes ou de menor impacto para o entorno
ambiental. Nesta pesquisa é demonstrado os ganhos econômicos e ambientais relacionados ao
tratamento de efluentes na empresa PCE - Papel, Caixas e Embalagens S/A, instalada no Pólo
Industrial de Manaus (PIM), focando os resultados através da reformulação dos processos no âmbito
da busca da adequação ambiental de suas atividades. Assim, a pesquisa foi desenvolvida a partir da
seguinte questão norteadora: como o gerenciamento ambiental voltado para o controle de
efluentes na empresa PCE pode contribuir para ganhos competitivos e alinhamento estratégico dos
processos industriais nessa organização?.

MATERIAL E MÉTODOS
Utilizou-se o método da pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa e qualitativa,
fundamentada em dados primários e secundários. Para este estudo, foi enfocado o ambiente de
produção da empresa PCE, buscando-se registrar, observar e analisar dados significativos relativos

GERENCIAMENTO AMBIENTAL ESTRATÉGICO: UM ESTUDO DE CASO DO TRATAMENTO


DE EFLUENTES INDUSTRIAIS E CONTROLE DE CUSTOS INDUSTRIAIS NA EMPRESA 79
PCE – PAPEL, CAIXAS E EMBALAGENS S/A - MANAUS/AM
ao processo de controle de efluentes visando demonstrar sua viabilidade econômica em termos de
controle de custos e ganhos sociais. Para esta pesquisa, constituíram fontes de dados primárias
documentos disponibilizados pela empresa, que continham informações relevantes para o trabalho
de análise e do desempenho ambiental dessa organização como propósito de estudo. Foi
empregada também a pesquisa bibliográfica e documental.

RESULTADOS

A idéia de instalar uma indústria de papel e produzir caixas de embalagens surgiu da


sensibilidade e preocupação do grupo CCE com as questões ambientais. Com esta visão o presidente
do grupo, fez investimentos para instalar na Zona Franca de Manaus, a PCE. Indústria de papel, caixas
e embalagens, cujo objetivo inicial era atender as empresas do grupo, utilizando matéria prima
reciclável. Em 1995 foram adquiridas máquinas e equipamentos, para dar inicio ao projeto, dois anos
depois, em 1997 foram instaladas a máquina de papel, uma impressora, uma dobradeira, uma
dobradeira-coladeira e outros equipamentos auxiliares. O start up da produção ocorreu no dia
16/05/1997, quando foram produzidas as primeiras caixas de embalagem para CCE. Com grande
capacidade de produção, os produtos da PCE ganharam mercado entre as empresas do setor eletro
eletrônico instaladas no DIM Em janeiro de 1998, iniciou-se a fabricação de papel. Atualmente são
produzidos papel Kraft, Miolo e Capinha, cuja produção representa aproximadamente 80% do
consumo para fabricação de caixas e embalagens. Atualmente, a PCE encontra-se consolidada no
segmento de mercado onde atua, atendendo com qualidade a um grande número de empresas em
diversos setores da indústria local, nacional e internacional. Sua produção é feita a partir das chapas
de papel ondulado obtido de papéis de embalagem das categorias miolo e capa. Os papéis miolo e
capa de segunda são produzidos com alta participação de fibras recicladas, enquanto no kraftliner
utiliza-se fibra virgem de Pinus (fibra longa). O papel miolo é usado para ser ondulado e os papéis
capa para servirem de cobertura e forro das chapas de papel ondulado. A Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) procedeu à revisão da NBR 5980, estabelecendo a classificação dos
diferentes estilos de caixas de papelão ondulado e acessórios como referência para todas as
indústrias e aos usuários desse tipo de caixa. No caso das indústrias instaladas no PIM, a maior
demanda é pelas embalagens de papel ondulado para atender ao parque fabril instalado, visando o
acondicionamento de produtos diversos, principalmente eletroeletrônicos que apresentam maior
vulnerabilidade no transporte. Para isso, o papel produzido deve atender às especificações técnicas e
preservar a integridade do produto, de forma que as embalagens fabricadas com esse tipo de papel
passam a ser um veículo de informação das empresas, desafiando o setor a melhorar a impressão
flexográfica e o desempenho das embalagens. Um evento importante que veio para facilitar o
gerenciamento e redução de custos com testes laboratoriais foi o Decreto Lei nº. 2.657 de 1998 do
Ministério do Trabalho, dispondo acerca da obrigatoriedade do envio da FISPQ e Ficha de Segurança
aos clientes sobre os produtos adquiridos. No inicio do ano 2000 houve adesão do setor para
atender a norma ROHS (Restrição de Uso de Substâncias Nocivas ou Restriction of Hazardous
Substances) e outras coletâneas de normas similares, que exigem um gerenciamento para o controle
de substâncias prejudiciais ao meio ambiente. A cadeia de fornecedores passou a gerenciar esta
exigência nos mesmos moldes, devendo demonstrar por intermédio de ensaios e testes laboratoriais
o atendimento a todos os requisitos. Foram definidos como objetivos do Projeto de Melhoria da
Estrutura Física e da Qualidade de Tratamento da Estação de Tratamento de Efluentes de Tintas
(ETET): a) Adequar às instalações da ETET; b) Melhorar a segurança operacional; c) Aumentar a
eficiência e a qualidade de tratamento do efluente de tintas; e, d) Reduzir os custos para retirada dos
resíduos efetivamente tratados. A substituição dos equipamentos utilizados foi essencial como parte

80 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


das soluções implantadas, considerando a dependência da qualidade não somente dos aspectos
operacionais em si, mas dos meios para sua realização. Com relação aos resultados físicos e
ambientais, a instalação da nova estação de tratamento automatizada permitiu ampliar a eficiência
dos processos em 100%, com tratamento integral, em menos tempo e com total margem de
segurança ambiental e laboral. A umidade do resíduo (borra) de tinta passou de 100% para 80% no
primeiro mês de funcionamento do equipamento. A redução dos impactos ambientais foi
comprovada pela adequação da coloração do efluente tratado aos parâmetros ambientais exigidos
pelas normas internacionais e legislação em vigor, com redução da emissão de resíduos (borra de
tinta) para o meio ambiente. Após a instalação do tanque de acidificação e do filtro prensa foi possível
obter uma redução da umidade da borra de tinta de 80% para 32% p.p. Os resultados qualitativos,
em síntese, foram significativos em termos de adequação ambiental, já que os parâmetros químicos
e físico-químicos do resultado final dos processos (borra seca de tinta) atendem plenamente à
Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 357/2005, que no seu artigo 34
estabelece os valores limites de emissões hídricas para o meio ambiente. Assim, com o novo
processo a empresa passou a atender todos os requisitos normativos referentes a efluentes líquidos.
Assim, foi possível reduzir sensivelmente os custos para a retirada dos resíduos tratados. Os
resultados foram obtidos em dois momentos distintos: a) no primeiro momento, abrangendo o
período de 2005 a 2007, o foco foi direcionado aos efeitos, visando a melhoria da estrutura da
estação de tratamento de efluentes e do método de tratamento dos mesmos; b) no segundo
momento, no período de maio a julho de 2007, enfocaram-se as causas, ou seja, onde era gerado o
problema.

CONCLUSÃO

Os resultados demonstram que na empresa PCE a reestruturação de processos e revisão das


práticas e meios de tratamento dos efluentes (tintas) garantiram a consecução dos objetivos da
responsabilidade social e ambiental e, ao mesmo tempo, a obtenção de melhores resultados
operacionais reduzindo custos ao longo dos processos pela otimização do uso de recursos,
incremento tecnológico, eliminação de riscos ambientais e laborais. Os custos foram reduzidos para
R$ 65,37 por tonelada processada nos primeiros momentos da implantação das mudanças ( junho
de 2007), atingindo o patamar mais baixo em setembro de 2007 quando se situaram em R$ 14,36 por
tonelada processada estabilizando-se a seguir em um valor um pouco superior. Além da eliminação
da água da chuva e controle da espuma, outras medidas que contribuíram para contenção do
excesso de água e a sua adição aos efluentes de tinta aumentando o volume destes, foram à troca
das mangueiras de água das impressoras, do lavatório de clichês, da unidade de tintas com
instalação de válvulas de fecho rápido nas mesmas. Desse modo, a implementação de mudanças
com novos equipamentos e procedimentos para adequação ambiental resultaram em uma redução
de 135 toneladas de resíduos anuais, com queda de 35% dos custos envolvidos, representando uma
economia de R$ 108.802,00 mensal. Esses resultados foram frutos de uma visão gerencial e técnica
que redefiniu os procedimentos e processos, agregando valor ao longo de toda a cadeia de
destinação dos efluentes a partir de um processo prévio de diagnóstico, mapeamento de áreas
críticas e definição das ações de mudança. Corroborando a hipótese formulada para responder a
essa questão, esta pesquisa demonstrou que a empresa PCE, por intermédio de um novo processo
de controle de emissão de efluentes conseguiu responder às suas necessidades estratégicas de
posicionamento no mercado, respondendo melhor aos requisitos da eficiência e eficácia através da
redução de custos a médio e longo prazo.

GERENCIAMENTO AMBIENTAL ESTRATÉGICO: UM ESTUDO DE CASO DO TRATAMENTO


DE EFLUENTES INDUSTRIAIS E CONTROLE DE CUSTOS INDUSTRIAIS NA EMPRESA 81
PCE – PAPEL, CAIXAS E EMBALAGENS S/A - MANAUS/AM
REFERÊNCIAS

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LIMA, D. V.; VIEGAS, W. Tratamento contábil e evidenciação das externalidades ecológicas. Revista
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SANCHES, C. S. Gestão ambiental proativa. Revista de Administração de Empresas (RAE), v. 40, n.
1, p. 7687, 2000.
VALLE, C. E. Qualidade Ambiental: como ser competitivo protegendo o meio ambiente: (como se
preparar para as Normas ISO 14000). São Paulo: Pioneira, 1995.
ZOBEL, T.; ALMROTH, C.; BRESKY, J.; BURMAN, J. Identification and assessment of environmental
aspects in an EMS context: an approach to a new reproducible method based on LCA methodology.
Journal of Cleaner Production, v. 10, n. 4, p. 381-396, 2002.

82 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


ARTIGO 12
INFRAESTRUTURA E DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS
SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA CIDADE DE
MANAUS-AM: UMA ANALISE DO CUMPRIMENTO DA
RESOLUÇÃO DO CONAMA Nº. 307/2002
Maristela Leite Mota de Araújo

Julio César Rodríguez Tello


Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM; Programa de Pós-
Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário, Av. General Rodrigo O.
Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

INTRODUÇÃO

Nos resíduos urbanos existe um elevado grau de heterogeneidade; isto é, características


diferenciadas em cada um deles e por isso é necessário adotar soluções diferentes para algumas
parcelas constituintes desses resíduos. Isso é especialmente válido para aqueles materiais que
representam os maiores volumes e, ou, massas como, em geral, os resíduos da construção civil. A
indústria de construção civil em Manaus teve um avanço de 10% de crescimento, cerca de 9,9% no
segundo trimestre de 2008 em relação ao mesmo período do ano anterior. O segmento foi
beneficiado, pelo aumento de 5% na população ocupada no ramo e pelo aumento de 26,7% (sem
descontar a inflação) dos empréstimos para o setor de habitação (IBGE, 2008). O índice de resíduos
gerados pelas atividades de construção civil é de 60% mais que os domésticos. Este índice é
altamente preocupante pelos impactos que podem ocasionar ao meio ambiente. Manaus
atualmente ocupa o primeiro lugar no ranking de investimentos de construção civil na região norte
do país. No ano de 2007 houve uma media de 1.649 empreendimentos imobiliários de pequeno,
médio e grande porte e para o ano de 2008 houve um crescimento de 40% (CREA, 2009). Três
fatores contribuíram para o crescimento da indústria de construção civil em Manaus, a busca por
melhores condições de moradia, a expansão do pólo industrial de Manaus e as facilidades de
créditos para a compra dos imóveis. Apesar de todo este desenvolvimento as condições de
destinação final para os resíduos sólidos gerados na cidade de Manaus continuam sendo as mesmas,
alguns são reaproveitados através da coleta seletiva e reciclagem, porem a maioria são levados por
empresas de coleta de entulhos e jogados inadequadamente em vias proibidas ou são levados para
nosso aterro sanitário domestico, assim contrariando a Resolução do CONAMA nº. 307, onde da
obrigatoriedade aos Municípios e Construtoras de cessar a disposição de resíduos de construção civil
em aterros de resíduos domiciliares e em áreas de bota fora. A preocupação com resíduos de
maneira geral é relativamente recente no Brasil. Diferente de países como os EUA onde no final da
década de 1960 já existia uma política para resíduos, chamada de Resource Conservation and
Recovering Act (RCRA). No Brasil ainda está em discussão uma legislação mais abrangente sobre
resíduos e o Programa Brasileiro de Reciclagem ainda não saiu do papel. Apesar de algum avanço na
reciclagem de resíduos domiciliares, obrigatoriedade de recolhimento de pneus e baterias, está
certamente ainda longe de políticas mais abrangentes como a política do governo dos EUA de

INFRAESTRUTURA E DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL


NA CIDADE DE MANAUS-AM: UMA ANALISE DO CUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO DO 83
CONAMA Nº. 307/2002
compra preferencial de produtos ambientalmente saudáveis, que privilegia produtos contendo
resíduos (JOHN e AGOPYAN, 2005) ou da abrangente política da Alemanha. A ocorrência dos
Resíduos da Construção Civil no meio urbano são definidos como resíduos sólidos urbanos, e sua
constituição pode ser variável em função de sua origem. Tais resíduos podem ser originados
basicamente de três formas: de novas construções, de reformas e demolições. Esse artigo tem por
objetivo avaliar si os resíduos sólidos na cidade de Manaus contam com uma adequada
infraestrutura para a destinação final e si ela é realizada em consonância com a Resolução do
CONAMA nº. 307/2002

MATERIAIS E METODOS
Este trabalho foi desenvolvido na cidade de Manaus-Am, no período de Setembro de 2009 a
Maio de 2010 nas construtoras e órgãos públicos que gerenciam os Resíduos de Construção Civil da
cidade de Manaus. Frente à persistência da disposição irregular de resíduos de construção civil em
vias e logradouros públicos. Foi definido a realização deste trabalho, para o qual foi utilizado a
metodologia exploratória com abordagem quali-quantitativa. O trabalho de coleta das informações
foi iniciado a partir das visitas as instituições públicas e privadas (construtoras e órgão estaduais),
onde foram realizadas entrevistas não estruturadas, junto aos responsáveis das construtoras e os
representantes dos órgãos públicos. Na pesquisa qualitativa preocupou-se em compreender e
explicar a dinâmica das relações sociais e trabalho. O estudo de caso foi adotado por se referir a uma
categoria de pesquisa cujo objeto compreende uma unidade que se busca analisar profundamente,
devido a sua natureza e abrangência (TRIVNOS 1995). Os dados principais para analise deste
trabalho foram obtidas partir de vários estudos desenvolvidos de forma concomitante: observação
de campo com registro fotográfico, pesquisa bibliográfica em obras científicas relacionadas ao tema
do trabalho, pesquisa documental nos órgãos visitados e entrevistas não estruturadas. Com esses
recursos obteve-se material diversificado: registro de observação de campo, registro visual e
fotográfico, levantamento de numero de obras licenciadas em andamentos na cidade de Manaus
(Sinduscon - Am), planos de gerenciamento de resíduos (Construtoras locais), dados técnicos e
documentais sobre o Aterro sanitário (SEMOSB), autos de punição dos atos poluidores por
lançamentos e destinação inadequada (IPAAM),

RESULTADOS E DISCUSSAO
Das empresas e instituições públicas entrevistadas, foi constatado que todos têm conhecimento
das exigências da resolução do CONAMA nº. 307/2002. O plano de gerenciamento de resíduos
sólidos, é feito pelas construtoras, e desenvolvido de forma parcial, no que diz respeito a liberação e
autorização da continuidade da obra. A parte de maior importância e relevância das etapas deste
plano de gerenciamento que é a caracterização, acondicionamento, triagem, transporte e
principalmente a correta destinação final dos resíduos não é desenvolvida pois não existe uma
fiscalização por parte do órgão responsável. As construtoras conscientizam seus operários, quanto
aos desperdícios e a separação de materiais recicláveis, através de treinamentos e palestras. Porém
foi observado que mesmo com esta seletividade de alguns resíduos a maioria continua sendo
levados por empresas de entulhos e depositados em áreas irregulares tais como bota-fora e leitos de
rios. Para termos uma idéia dos resíduos gerados nas construções no estado do Amazonas, 60%
deles provem reformas em geral, 20% de construções novas, e 20 % de residências e prédios (IEMA).
A estimativa de resíduos gerados de construção e demolição em Manaus é de 4.800 t\dia recolhidas
ao aterro sanitário domestico, sendo que outras partes dos resíduos são direcionadas a aterros de
terrenos ou áreas de bota-fora (SINDUSCON-Am). Manaus tem uma imensa área publica, que pode
ser utilizada para construção de um aterro industrial,especifico em construção civil, atendendo as

84 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


normas da ABNT e técnicas de engenharias , estando em conformidade com a resolução do
Conama 307-2002 e Visando principalmente todas as obras e reformas que a cidade terá que fazer
para atingir as exigências da FIFA para sediar a Copa 2014. No Amazonas, não existe Aterro
Sanitário específico para Construção Civil, e cerca de 100% dos municípios ainda dispõem seus
resíduos em lixões, especialmente na cidade de Manaus, o estado possui apenas dois Aterros
Sanitários Domésticos. Entretanto, na quantidade de resíduos gerados em tonelada por dia,
observa-se que 75% da massa gerada já vão para os aterros sanitários e bota-foras clandestinos. A
destinação final que se dá nessas empresas ainda são células de inertes. Não há um processo
sistemático de beneficiamento do resíduo no Estado do Amazonas. Hoje, a maior parte dos resíduos,
segundo os dados do IPAAM, vai para as células de inertes. Os municípios têm trabalhado em
parceria com o IPAAM, com áreas de "bota fora". Esses municípios aplicam algumas formas de
manejo dos resíduos (recuperação de estradas vicinais), e também aterros. O órgão ambiental busca,
em conjunto com o município, adotar uma solução de aterro para conter os processos erosivos nas
encostas dos terrenos acidentados. Em pequenos municípios, há soluções locais que buscam dar
uma destinação mais adequada, até com recuperação de danos ambientais. Entretanto, ainda não
existe em nenhum deles uma forma sistemática de manejo, faltam trituradores para serem utilizados
nos processos de reciclagem e reutilização dos entulhos. Há também muitas áreas de "bota fora"
clandestinas. Durante o processo de elaboração do TAC (Termo de Ajuste de Conduta),
frequentemente usado como medidas mitigadoras nos processos de multas e apreensões destes
aterros clandestinos. Muitas vezes demorado, o órgão ambiental busca, em situações emergenciais,
conceder orientação ao município por meio até de processos mais simplificados, autorizações para
que o município possa agir de uma forma emergencial. Há preocupação e flexibilidade do órgão em
ver qual é a situação local, quais são as possibilidades de manejo daquele resíduo no momento e,
então, buscar mecanismos facilitadores que sejam menos demorados do que um termo de ajuste de
conduta ambiental. Contudo, o plano de gerenciamento municipal dos resíduos da construção civil
tem que ser elaborado no termo de ajuste de conduta. È importante salientar que o
reaproveitamento dos resíduos da construção civil é bastante viável economicamente. Os agregados
podem ser substituídos com o manejo do resíduo da construção civil, apesar de uma central de
beneficiamento ter grande investimento inicial, custam até 20% do valor da brita e da areia que irão
ser utilizadas nos concretos. No caso, tem uma aplicação não-estrutural do que for feito com o
resíduo da construção civil. Ainda não há no estado formas de beneficiamento desse entulho, o que
abre um espaço de mercado lucrativo. Chama-se a atenção, para aqueles que prestam serviço, a fim
de que possam estabelecer ações, em especial com os municípios de pequeno porte que terão
dificuldade de transporte dos resíduos e para os resíduos da construção civil se torna também um
instrumento interessante, uma vez que o custo do transporte é bastante elevado. O
acondicionamento adequado após a geração até a etapa de transporte evita acidentes, minimiza o
impacto visual e olfativo, reduz a diversidade em um só contentor de resíduos (no caso de coleta
seletiva) e facilita a realização da etapa da coleta. A Coleta de RCC se inicia com a limpeza da obra,
através de varrição de cada ambiente/pátio, removendo os resíduos das lixeiras, transferindo-os
para sacos de lixo maiores e respeitando a segregação dos mesmos. A empresa licenciada recolhe os
resíduos, e deve efetuar as rotas indicadas para cada tipo de resíduo, reciclável, não recicláveis e
perigosos. Quando há necessidade de armazenamento intermediário, os resíduos devem ser
contidos de forma adequada e segura até que se tenha um volume mínimo para comercialização ou
disposição final. Não se pode esquecer que os RCC já são hoje um negócio estabelecido em quase
todas as grandes cidades brasileiras, envolvendo as empresas contratadas pela prefeitura para
recolher o entulho depositado irregularmente, as empresas contratadas pela prefeitura que operam

INFRAESTRUTURA E DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL


NA CIDADE DE MANAUS-AM: UMA ANALISE DO CUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO DO 85
CONAMA Nº. 307/2002
os aterros de resíduos, empresas de tamanho variado que trabalham com o transporte de entulho
utilizando caminhões poliguindaste e caçambas, e também um grupo de transportadores
autônomos, que utilizam carroças e até carrinhos de mão. Os resíduos de construção são
constituídos de uma ampla variedade de produtos, que podem ser classificados em solos, materiais
“cerâmicos” (rochas naturais; concreto; argamassas a base de cimento e cal; resíduos de cerâmica
vermelha, como tijolos e telhas; cerâmica branca, especialmente a de revestimento; cimento-
amianto; gesso – pasta e placa; vidro), materiais metálicos (aço para concreto armado, latão, chapas
de aço galvanizado, etc.), e materiais orgânicos (madeira natural ou industrializada; plásticos
diversos; materiais betuminosos; tintas e adesivos; papel de embalagem; restos de vegetais e outros
produtos de limpeza de terrenos). A proporção entre estas fases é muito variável e depende da
origem. Os resíduos que estes materiais geram poderão ser encaminhados para reciclagem ou
aterros, dependendo das condições físicas, financeiras e dos fins aplicáveis e disponíveis. As “centrais”
de reciclagem hoje, em operação, são operadas, predominantemente pelas Prefeituras Municipais.
Os agregados produzidos são empregados em obras de pavimentação e, embora sem
desenvolvimento técnico adequado, na produção de pequenos componentes de concreto, como
por exemplo, blocos de pavimentação. Através de informações disponíveis ficou evidente a
viabilidade técnica e econômica da operação destes sistemas de gestão dos RCC. Uma das condições
do sucesso das centrais é a construção de uma rede de captação de resíduos dentro da malha
urbana, capaz de atrair, via redução de distâncias de transporte, as caçambas de coleta bem como os
coletores autônomos. A presença de fases mais porosas e de menor resistência mecânica, como
argamassas e produtos de cerâmica vermelha e de revestimento, provoca uma redução da
resistência dos agregados e um aumento da absorção de água. Assim agregados mistos tem sua
aplicação limitada à concretos de menor resistência, como blocos de concreto, contra-pisos,
camadas drenantes, etc. Produtos de gesso – solúveis em água e que apresentam reações expansivas
com o cimento Portland é um limitador importante da reciclagem da fração cerâmica. A introdução
de painéis de gesso acartonado na construção de divisórias no mercado brasileiro vai significar a
médio prazo um sério limitador às atividades de reciclagem. No entanto, a reciclagem do gesso em
si, é bastante simples, e certamente está ao alcance das grandes empresas multinacionais que
dominam o mercado nacional. (FILHO, 2005). A fim de Investigar os métodos e formas utilizadas pela
iniciativa privada no que tange à produção, transbordo e triagem, reciclagem e disposição dos
Resíduos de construção civil, foram entrevistadas algumas empresas do ramo de Construção Civil e
Órgãos competentes no município de Manaus-AM, dentre elas destacou-se a Construtora Foco
Engenharia Ltda. De acordo com Rodrigo Lemos, engenheiro responsável da Construtora Foco
Engenharia, no caso de aterros sanitários, processamentos e destinação final de resíduos tóxicos,
perigosos, obras que envolvam remoção de terras que poderá causar degradação ou qualquer
alteração no meio ambiente, é necessário que se faça o estudo prévio de impacto ambiental. O maior
interesse na organização dos serviços de limpeza publica é do município, como o varrer, a capinação,
coleta, deposito dos resíduos sólidos, transporte. Com isso dada a necessidade de implantar novas
técnicas p/certos tipos de resíduos como de usinas de tratamento; além de editar normas a União e
os Estados devem colaborar financeiramente. Os aterros sanitários podem e devem ser feitos
exclusivamente à custa dos municípios, contudo, quando haja viabilidade para o comércio (e o
volume de lixo comporte) a usina para composto merece inversão de capital estadual e federal na
sua montagem. O município custeará a operação e manutenção, através da comercialização do
composto e da sucata. (CREA-AM). Se houver a necessidade de usina para incineração em casos de
município que comporte grande quantidade populacional e consequentemente a geração de maior
volume de resíduos, e feita da mesma forma, com o auxilio estadual e federal para dispor de

86 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


recursos para instalação. A participação popular em matéria ambiental é da própria essência do
regime democrático instaurado no Brasil que tem garantia constitucional, possuindo meios que a
coletividade pode atuar, como: a) Participação nos processos de criação do direito do meio
ambiente, com a iniciativa popular, no âmbito legislativo federal, estadual ou municipal. A realização
do referendo e a atuação de representantes da coletividade em órgãos colegiados como o
CONAMA, em Conselhos Estaduais e Municipais em defesa do meio ambiente, sendo todos
compostos de representantes do Poder Público, de segmentos da coletividade; b) Participação direta
na formulação e na execução de políticas ambientais, como a atuação de representantes da
sociedade e órgãos colegiados como na discussão do Estudo de Impacto Ambiental – EIA e o
respectivo relatório – RIMA; c) A coletividade pode atuar por intermédio do poder Judiciário, como o
mandado de segurança, mandado de injunção, ação popular e o principal deles, a Ação Civil Pública
da Lei nº 7.387/85, cujo o último o Ministério Público tem legitimidade para propor a ação. Conforme
o decreto federal n° 99.274, de 6 de junho de 1990, da execução da política nacional do meio
ambiente, no art. 33 que expressa : “ Constitui infração, para os efeitos deste decreto, toda ação ou
omissão que importe na inobservância de preceitos nele estabelecidos ou na desobediência às
determinações de caráter normativo dos órgãos ou das autoridades administrativas competentes. E
no art. 34, III e IV. Serão impostas multas diárias de R$ 61,70 a 6.170 bônus do tesouro Nacional
(BTN), proporcionalmente à degradação ambiental causada;( inciso III ) emitir ou despejar efluentes
ou resíduos sólidos, líquidos ou gasosos causadores de degradação ambiental em desacordo com o
estabelecido em resolução ou licença especial. Assim salienta Geynner de Carvalho, técnico
ambiental. A Turma Julgadora Criminal dos juizados Especiais manteve sentença que condenou
dona de casa ao pagamento de meio salário mínimo. Ela foi denunciada pelo MP por atentar contra a
saúde publica o promover a queima de folhas e substâncias tóxicas (provavelmente, objetos
plásticos) no quintal de sua casa. No recurso, a ré alegou que não poderia ser punida porque perícia
técnica realizada em sua residência não encontrou vestígios da suposta queimada, inexistindo,
portanto prova suficiente da contravenção. O relator, juiz Jesseir Coelho de Alcântara, observou que
os fatos foram comprovados pelo depoimento de testemunhas. “A queima de produtos químicos
depois de certo tempo não deixa mais vestígios, sendo extremamente difícil o comparecimento de
peritos no exato instante em que a ré resolvesse produzir fumaça tóxica”, salientou. Não se aplicou o
principio da insignificância ao caso por considerar que a conduta da dona de casa causou
transtornos à vizinhança afetando até a saúde. (Coluna de direito e justiça / jornal o Popular de:
24/09/05). No que concerne a Constituição Federal em seu art. 225 caput, que tanto o poder público
quanto a coletividade devem defender e preservar o meio ambiente para que todos tenham um
ambiente ecologicamente equilibrado com qualidade de vida. Condenando aqueles que possam a
vir causar ou já concretizou algum dano ambiental a saúde publica. A implantação e operação de
aterros sanitários específicos para a Construção Civil em Manaus são condições positivas para o
correto gerenciamento técnico-administrativo e operacional de sistemas de coleta, transporte,
tratamento e disposição final de resíduos sólidos urbanos. O nível de desenvolvimento tecnológico
atual permite solucionar e/ou minimizar os principais aspectos negativos ou impactantes que,
geralmente, estão associados a essas estruturas. Infelizmente a destinação final dos resíduos de
construção civil, em Manaus, não atende as exigências da resolução CONAMA nº. 307/2002, nem
pelos órgãos competentes e nem pelas Construtoras. Em geral, a adoção das técnicas construtivas e
procedimentos operacionais abordados neste trabalho não estão, necessariamente, associada a
investimentos elevados ou custos proibitivos à nossa realidade econômica. A grande maioria dos
aspectos e alternativas aqui abordados, compreendem, principalmente, mudanças de
procedimentos construtivos e operacionais que trazem vantagens econômicas e melhorias

INFRAESTRUTURA E DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL


NA CIDADE DE MANAUS-AM: UMA ANALISE DO CUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO DO 87
CONAMA Nº. 307/2002
ambientais em curto prazo. Outras alternativas, dependem de vontade política dos tomadores de
decisão, as quais subsidiadas por avaliações apropriadas e pelo apoio da sociedade em geral, após
ampla discussão, podem ser implementadas no médio e longo prazo. (MORAES, 1999). Quando os
aterros sanitários são operados dentro de um Centro Integrado de Tratamento e Destinação de
Resíduos, pode-se obter otimizações significativas em relação a aterros isolados. Nesta situação,
obtêm-se otimizações da frota de equipamentos operacionais; melhores possibilidades de emprego
de sistemas de reaproveitamento dos resíduos recebidos; maiores potencialidades de emprego de
sistemas de minimização de volume dos resíduos, como trituradores para madeiras, poda de
jardinagem, pneus e resíduos volumosos; e maiores potencialidades de reaproveitamento do biogás
dos aterros na geração de energia elétrica, visto que o centro integrado passa a ser um consumidor
potencial. (MORAES, 1999). A alternativa de trituração dos resíduos corresponde a uma tecnologia
que merece ser seriamente analisada dentro do sistema de gerenciamento de resíduos domiciliares,
visto que, além da vantagem de permitir uma grande redução inicial de volume dos resíduos, pode
imprimir um maior ritmo de biodegradação dos mesmos, devido a maior superfície específica dos
resíduos triturados.

CONCLUSÃO
Apesar de Manaus ser uma cidade em plena expansão e de contar com a conscientização dos
órgãos públicos e das construtoras quanto às exigências do CONAMA 307, infelizmente quando
efetuamos um passeio pelas ruas e alamedas ou logradouros públicos de Manaus nos deparamos
com o contraditório quadro de defesa do meio ambiente e podemos observar que esta resolução
não é aplicado na íntegra e sim de forma parcial na cidade de Manaus. Dessa forma vale observar a
real importância da necessidade atual do poder público em aceitar as condições para a implantação
de novas técnicas para minimizar o impacto ambiental , dentre as quais poderia ser a implantação
ter um aterro industrial ou ate vários pequenos aterros distribuídos de forma a atender as
necessidades do município e das construtoras e fazer assim fazer a correta destinação final dos
resíduos. Destarte, a destinação final do lixo, qualquer das hipóteses causará um dano ambiental.
Diante disto o mais aconselhável seria a reciclagem, reutilizar os produtos e evitar a exploração de
recursos naturais. Para tanto, se faz necessária a motivação de todos nesta luta para preservação do
Meio Ambiente, para que as gerações presentes e futuras possam usufruir de uma vida mais
saudável. Conforme se pode observar, o destino dos resíduos de construção civil é de suma
importância, visto tratar-se de expressivo volume, além de representar uma fonte de degradação
ambiental, principalmente quando de sua extração da natureza (pois a exploração dos agregados
causam profundo impacto ambiental) como de sua destinação final, que também causa uma
enorme demanda por espaços. Ainda sendo importante a reciclagem e a destinação dos resíduos de
construção civil, verificou-se que a questão deve ser tratada com mais seriedade, pois da forma
como a questão ambiental vem sendo conduzida, a tendências a graves consequências ambientais
tais como diminuição do tempo útil de vida do aterro sanitário, poluição dos lençóis freáticos e de
nossos balneários públicos, bem como o assoreamento e entupimento de cursos d água, associados
às constantes enchentes, além de promover o desenvolvimento de vetores nocivos a saúde publica.
A solução ao problema da gestão dos resíduos da construção civil na cidade de Manaus
tecnicamente possível, mas é necessário vontade política para ser implementada, mesmo que esta
tenha de se contrapor a interesses econômicos poderosos, assim como padrões de comportamento
e consumo, difíceis de serem alterados, mas que, de uma forma ou de outra, em algum momento
terão de ser assumidos. Tais tarefas visam à melhoria contínua dos processos de produção, logística
de reversão e modelos de gestão, para que priorize a identificação da matéria-prima que hoje é

88 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


considerado um RCC e adensem os processos de reaproveitamento, gerando novos negócios, novos
empregos, mais renda, mais inclusão social, menos custos econômicos e ambientais para destino
sanitário, com controle ambiental. Esse é o objetivo principal da Resolução CONAMA 307/2002, em
sua aplicabilidade trará como resultado esse movimento, porem, precisa ser tratada com mais
seriedade por parte de todos os atores sociais.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

BARBIERE, José Carlos, Desenvolvimento e meio ambiente: as estratégias de mudanças da


agenda 21. Petrópolis RJ: Vozes, 1997.
CAHALI, Yussef Said – organizador, Constituição Federal – Código Civil – código processo civil. 5°
ed. Ver, atual e ampliada São Paulo: RT, 2003.
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Decreto Federal n°99.274, de 6 de junho de 1990. Da execução da Política Nacional do Meio
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MACHADO, Paulo Afonso Leme, Direito Ambiental Brasileiro 5 Ed. São Paulo: Malheiros Editores,
1992.
MEIRELES Hely Lopes . Direito Administrativo Brasileiro. 20 ed. São Paulo-SP: Malheiros,1990.
MENEZES, Claudino Luiz, Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente. A Experiência de Curitiba.
Campinas SP: Papiros, 1996.
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2000.
MORAES, Alexandre de, Direito Constitucional 6. ed. Revista, ampliada e atualizada c/a EC
n°22/99- São Paulo Atlas, 1999.
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WAINER, Ann Helen,, Legislação ambiental, Brasília: subsídios para a historia do direito
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INFRAESTRUTURA E DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL


NA CIDADE DE MANAUS-AM: UMA ANALISE DO CUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO DO 89
CONAMA Nº. 307/2002
CAPÍTULO

3
Interfaces entre Empresariado
Poder Público e Sociedade
ARTIGO 13
DESAFIOS EM PERSPECTIVAS PARA A GESTÃO
SOCIOAMBIENTAL DA COMUNIDADE DA BOA UNIÃO,
PRESIDENTE FIGUEIREDO-AM
Patrícia Mariano Oliveira da Silva
Julio César Rodríguez Tello
Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM;
Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário,
Av. General Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

INTRODUÇÃO

Ao longo da História e principalmente nesta fase contemporânea, o Planeta tem sido vítima de
inúmeras atrocidades cometidas pelo ser humano. A partir da Revolução Industrial, que pode ser
vista como um grande divisor de águas intensificou-se a ideologia do progresso, o desejo de
crescimento e desenvolvimento econômico tão almejado pelas nações. Foi uma época marcada pela
extrema valorização do ter em detrimento do ser, na qual o consumismo dos bens materiais passou a
ser sinônimo de qualidade de vida. As agressões à natureza intensificaram-se, prevalecendo a visão
fragmentada do meio ambiente natural como uma fonte de recursos a serem explorados
comercialmente, sem planejamento e nem preocupação com as possíveis consequências de tal
comportamento. Devido à crise planetária o ser humano tem despertado e lembrado de antigos
valores, dentre eles a importância da conservação ambiental (SAL VI, 2000). Para Morin (2000),
embora o ser humano reconheça e saiba da gravidade da crise que atravessa, pouco se tem
avançado na construção da sustentabilidade. Nenhuma decisão efetiva foi tomada e, portanto,
torna-se necessário e urgente a construção de uma consciência planetária. De acordo com Santos
(2001), perante tal crise todos são responsáveis por buscar novas ideias e comportamentos que
devem ser postos em prática na tentativa de construir um novo recomeço.
Na comunidade em estudo, não há um Plano de Gestão Comunitária que promova a
sustentabilidade dos sistemas produtivos, nessa perspectiva, a pesquisa foi direcionada à
obtenção de informações socioambientais para subsidiar a gestão comunitária local, na
tentativa de melhorar a qualidade de vida da população e minimizar as pressões sobre a
Reserva Biológica do Uatumã.

MATERIAL E MÉTODO

A Comunidade da Boa União (01 ° 32'20,3" Se 60° 09'41,8"W) encontra-se localizada


no Ramal do Rumo Certo, no quilômetro 165 da BR - 174 no Município de Presidente
Figueiredo. O estudo foi realizado com o escopo de elucidar sobre a dinâmica sócio-
ambiental da comunidade e considerando que a abordagem participativa é a maneira mais
adequada para se trabalhar tais questões é que a coleta dos dados foi realizada. De acordo com Boni
e Quaresma (2005), mediante a observação da área, contato prévio com a liderança, aplicação de
questionários semiestruturados e reuniões.

DESAFIOS EM PERSPECTIVAS PARA A GESTÃO SOCIOAMBIENTAL DA COMUNIDADE 93


DA BOA UNIÃO, PRESIDENTE FIGUEIREDO-AM
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados obtidos demonstram que a população residente tem na pesca e na agricultura a sua
principal fonte de sobrevivência e sofre com problemas tais como na infraestrutura, situação
fundiária irregular, educação precária, desemprego, assistência médica ineficiente, sendo as doenças
tropicais as que mais acometem os moradores, na articulação política e difícil relacionamento com os
órgãos ambientais. Os resultados apontam para a necessidade de elaboração de programas de
gestão que contribuam para a sustentabilidade local. De acordo com os dados do Plano de
Desenvolvimento Sustentável do Projeto de Assentamento Morena do INCRA (2002), o índice de
moradores analfabetos foi de 10,6 e para o nível superior não houve registro. Lopes (2006)
trabalhando na Comunidade São Miguel, no Km 50 da AM - 240 da Estrada de Balbina, (área que
também encontra-se na zona de amortecimento da REBIO), registrou que a maioria dos
comunitários possuem apenas o Ensino Fundamental Incompleto, evidenciando os baixos níveis
educacionais da população. No levantamento sócio - ambiental do IDESAM (2007) realizado nas
comunidades da RDS Uatumã 54,7 dos adultos possuíam apenas o Ensino Fundamental Incompleto.
Estes registros deveriam encorajar ao governo municipal a investir mais na educação para diminuir o
número de desistências. Essas ações a médio e longo prazo contribuirão por outro lado, para o
fortalecimento da organização e desenvolvimento comunitário, permitindo aos atores sociais maior
autonomia na tomada de decisões e na busca pelos interesses locais.

CONCLUSÕES

A infraestrutura da comunidade é precária. Não há saneamento básico, há água


encanada e poço comunitário, mas o abastecimento não atende às necessidades dos
moradores. A coleta do lixo é feita de maneira insatisfatória e a população não possui o hábito de
reaproveitar os compostos orgânicos. Em relação à assistência médica, os recursos são escassos. Não
há ambulância, não há análise clínica, não há médicos e enfermeiros de plantão. Os remédios são
limitados e a população utiliza a medicina alternativa, as receitas caseiras. As principais doenças que
afetam os comunitários são a malária e as doenças respiratórias. Quanto à educação, pode-se
perceber o baixo nível educacional dos residentes e o alto índice de evasão escolar. A maioria da
população encontra-se em situação fundiária irregular e vive basicamente da atividade pesqueira e
da agricultura. A percepção dos moradores da Comunidade da Boa União, a relação dos mesmos
com a reserva e os conflitos gerados são uma evidência da urgente necessidade em se buscar novas
fontes de renda para as populações do entorno, pois não pode haver conservação ambiental sem
desenvolvimento social.

REFERÊNCIAS

BONI, Y.; QUARESMA,S.J. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em Ciências


Sociais. Em Tese. Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia Política da UFSC.
Vo1.2 nOl(3),janeiro-junho/2005, p.68-80.
INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Plano de desenvolvimento
5ustentável do Projeto de Assentamento Morena - Presidente Figueiredo - Amazonas. 2002.
1l7p.
LOPES, R. B. de C. Caracterização sócio-ambiental da comunidade de São Miguel, município de
Presidente Figueiredo, AM. Manaus, DF AM, 2006.

94 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


MORIN, E. Os sete saberes necessários a educação do futuro. São Paulo, Cortez, 2000.
SAL VI, L.A.W. O Evangelho da natureza. A Ecologia como base da nova lei espiritual do
mundo. IBRASA, São Paulo, 2000.
SANTOS, E. da C. A Questão Ambiental Contemporânea. Educação Ambiental e Festas
(AM). Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso, 2001.

DESAFIOS EM PERSPECTIVAS PARA A GESTÃO SOCIOAMBIENTAL DA COMUNIDADE 95


DA BOA UNIÃO, PRESIDENTE FIGUEIREDO-AM
ARTIGO 14
AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ESTADUAIS COMO
OPORTUNIDADES DE EMPREENDEDORISMO:
AS EXPERIÊNCIAS DO AMAZONAS
Christina Fischer
Engenheira Pesca. Assessora Técnica do Centro Estadual de Unidades de Conservação (Ceuc).
chrisfischerpeixes@gmail.com

João Bosco Ferreira da Silva


Engenheiro de Pesca. Chefe do Departamento de Manejo e Geração de Renda do Ceuc.
boscosil@ig.com.br / boscosil3@gmail.com

Neila Maria Cavalcante da Silva


Engenheira Florestal. Assessora Técnica do Ceuc.
mailneila@gmail.com

INTRODUÇÃO

As Unidades de Conservação (UC) são áreas naturais passíveis de proteção por suas
características especiais e foram instituídas pela Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000 (Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - Snuc). São "espaços territoriais e seus recursos
ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente
instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial
de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção da lei" (art. 1º, I). Ainda de
acordo com o Snuc, as UC são classificadas de acordo com seus objetivos de manejo e tipos de uso,
em dois grupos, a saber: as de Proteção Integral e as de Uso Sustentável. As Unidades de Proteção
Integral têm como principal objetivo preservar a natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos
seus recursos naturais, ou seja, aquele que não envolve consumo, coleta ou dano aos recursos
naturais: recreação em contato com a natureza, turismo ecológico, pesquisa científica, educação e
interpretação ambiental, dentre outras. As Unidades de Uso Sustentável, por sua vez, têm como
objetivo compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos, conciliando a
presença humana nas áreas protegidas. Nesse grupo, atividades que envolvem coleta e uso dos
recursos naturais são permitidas, desde que praticadas de uma forma a manter constantes os
recursos ambientais renováveis e processos ecológicos. O desenvolvimento diferenciado das
atividades produtivas nas UC é a força motriz que impulsionaram, em muitas vezes, o processo de
criação desses espaços especialmente protegidos, os quais se constituíram, na resposta diferenciada,
a resolução dos conflitos existentes na região, face à sua forma de gestão e uso dos recursos naturais.
Por outro lado em alguns casos, a própria existência da UC, tem gerado conflitos a serem mediados e
administrados pelo Poder Publico. Dessa forma, o estabelecimento das regras de usos dos recursos
naturais nas UC (Planos de Gestão e Acordos de Uso) são necessários, e para obterem sucesso em

AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ESTADUAIS COMO OPORTUNIDADES DE 97


EMPREENDEDORISMO: AS EXPERIÊNCIAS DO AMAZONAS
sua implantação, são construídos de forma participativa dentre todos os atores sociais locais
interessados diretamente. Aliado a isto, gerar oportunidades de emprego em renda e melhoria da
qualidade de vida às populações residentes e do entorno das UC tem sido um dos principais desafios
aos órgãos gestores das UC. Na última década, o estabelecimento de politicas públicas promovidas
por meio da atuação do órgão gestor estadual das Unidades de Conservação, tem buscado o
desenvolvimento de ações em prol do ordenamento, manejo e geração de renda às populações. As
categorias de UC de Uso Sustentável, além de sua função prioritária na salvaguarda dos recursos
naturais, são também principalmente importantes, à produção de alimentos para subsistência, e
quando possível, à geração de renda. Em 85% das Unidades de Conservação estaduais do
Amazonas de Uso Sustentável são desenvolvidas ações de geração de renda, com destaque para as
Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS), categoria esta estabelecida no intuito de conciliar a
proteção e o uso sustentável dos recursos, asseguradas as condições e os meios necessários a
melhoria da qualidade e modos tradicionais de vida das comunidades da UC. Sobre o
desenvolvimento de atividades nas RDS, o Sistema Estadual de Unidades de Conservação dispõe o
seguinte, em seu art. 21. § 4.º dispõe: I: é permitida e incentivada a visitação pública, desde que
compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Gestão da área; III: é
admitido o manejo de componentes dos ecossistemas naturais em regime de manejo sustentável e a
substituição da cobertura vegetal por espécies cultiváveis, desde que sujeitas ao zoneamento, às
limitações legais e ao Plano de Gestão da área; e IV - todas as modalidades de pesca, exceto a de
subsistência, somente poderão ser exercidas mediante aprovação de projetos específicos pelo
Conselho Deliberativo da RDS. Face ao exposto na legislação o licenciamento ambiental para a
operação e desenvolvimento de atividades, segue tanto as regras estabelecidas nos instrumentos de
gestão da própria UC, quanto as recomendações e condicionantes estabelecidas pelo conselho e
órgão gestor da UC.

AS EXPERIÊNCIAS DO AMAZONAS - A regulamentação do uso dos recursos pesqueiros nas


UC estaduais do Amazonas tem sido orientadas pelo estabelecimento do ordenamento da pesca
promovido pelo Poder Público, por meio da SDS. Neste sentido um conjunto de normas e ações que
permitem ao Estado administrar a atividade pesqueira, com base no conhecimento atualizado dos
seus componentes biológico-pesqueiros, ecossistêmico, econômicos e sociais e tem o objetivo de
subsidiar a elaboração e implementação de normas, critérios, padrões e medidas de ordenamento
do uso sustentável dos recursos pesqueiros para que sirvam como eficientes instrumentos de gestão,
construídos de forma participativa com a sociedade. Os instrumentos para a gestão do uso dos
recursos pesqueiros são elaborados visando a proteção de parte selecionada dos estoques de peixe
e estabelecendo o período de defeso; fechamento de áreas de pesca; proteção de reprodutores;
estabelecimento de tamanho mínimo de captura e restrição sobre aparelhos de pesca; e limitação do
volume de captura (limitação da eficiência dos aparelhos de pesca e controle do acesso à pesca). Os
Planos de Manejo e Acordos de Pesca, Planos de Uso dos Recursos Pesqueiros, Planos de Manejo de
Pirarucu e Planos de Gestão de Unidade de Conservação, são os principais instrumentos legais
utilizados. As áreas dos setores Maiana e Solimões do Meio, na RDS Mamirauá e áreas localizadas em
sua Zona de Amortecimento, têm sido os espaços aonde a SDS, vêm realizando o ordenamento da
pesca nas UC.

MANEJO DE PIRARUCU - O manejo de pirarucu é uma das atividades de maior destaque na


geração de renda nas UCs estaduais: RDS Mamirauá, Amanã, Piagaçu-Purus e Uacari. O objetivo do

98 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


manejo de pirarucu é proporcionar a recuperação dos estoques dessa espécie nas UCs e gerar renda
para as populações usuárias e comunidades tradicionais das áreas protegidas. As ações de manejo
dessa espécie também incluem, a articulação institucional necessária ao pleno processo de
comercialização da produção, visando assim possibilitar a efetiva consolidação da cadeia produtiva.
As UCs estaduais são responsáveis por 74% da produção de pirarucus em todas as áreas manejadas
no Amazonas, e dessa forma surgem, como uma oportunidade de abastecimento no mercado com
o fornecimento de espécimes de pirarucus devidamente legalizados pelos órgãos sanitários e
ambientais.

AGRICULTURA SUSTENTÁVEL E MANEJO FLORESTAL MADEIREIRO E NÃO MADEIREIRO -


A produção oriunda das cadeias produtivas dos produtos oriundos da agricultura, extrativismos e
madeira manejada variam de acordo com a região e UC, em função de diversos fatores ambientais e
culturais. A RDS Rio Madeira, por exemplo, destaca-se na produção de cacau, que em 2012, foi de 80
toneladas. A produção de castanha, neste mesmo ano, em sete UC, foi de aproximadamente 193
toneladas, com destaque a Reserva Extrativista de Canutama.

USO PÚBLICO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO - A publicação do Decreto Estadual n°


30.873 de 28, de dezembro de 2010, estabeleceu as diretrizes para o uso público em unidades de
conservação estaduais, dando inicio ao processo de implementação do mesmo de forma articulada
com o estabelecimento dos princípios para a visitação turística em UCs. Espera-se este processo
forneceça subsídios para que as políticas, regras, regulamentos e diretrizes sejam elaboradas de
forma eficaz e transparente. Das 42 UC estaduais do Amazonas, 22 possuem potencial para a
implementação do uso público, sendo que dessas, 13 possuem plano de gestão e uma, plano de uso
público. O ordenamento do uso público tem sido trabalhado por meio de um conjunto de princípios
e diretrizes para ordenar a visitação em Unidades de Conservação Estaduais do Amazonas, visando
assegurar a sustentabilidade das atividades de turismo nessas áreas, além da elaboração de outros
instrumentos normativos para a regulamentação das atividades da pesca esportiva e do turismo
interativo com os botos. O Turismo de Base Comunitária (TBC) tem sido trabalhado com proposito de
contribuir para a melhor conservação da biodiversidade, trazendo benefícios diretos, econômicos,
sociais e culturais para as comunidades diretamente envolvidas. O trabalho tem sido feito de forma
conjunta com parceiros, e visa a definição dos princípios e elaboração das diretrizes com a
participação direta dessas comunidades que já efetuam essa atividade, de forma ainda, rudimentar.
A regulamentação das atividades de uso público pretende minimizar os impactos gerados pelas
atividades desordenadas, estimular uma nova postura de visitação, por meio da educação e
interpretação ambiental, e também promover o ecoturismo e recreação em áreas naturais, por meio
de parcerias com o setor empresarial.

MANEJO DE JACARÉ - A partir de 2011 a cadeia produtiva de jacaré foi regulamentada, face a
série de procedimentos para o manejo de jacarés, em UC de Uso Sustentável, estabelecidos por meio
da Resolução do Conselho Estadual de Meio Ambiente (CEMAAM) N° 008, de 27/6/2011). O abate e
processamento da espécie (Instrução Normativa Codesav n° 001, de 29/6/2011 da Sepror), também
foram definidos. Dentre os critérios consolidados para o manejo ressalta-se: o monitoramento das
populações de jacaré, o fortalecimento da organização das associações comunitárias
comprometidas com a conservação da espécie, e a ampliação do mercado de carne e peles. A
Resolução n° 008/2011 estabelece os procedimentos técnicos para o manejo com fins comerciais

AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ESTADUAIS COMO OPORTUNIDADES DE 99


EMPREENDEDORISMO: AS EXPERIÊNCIAS DO AMAZONAS
das populações naturais de jacarés, não ameaçadas de extinção, observando os critérios sanitários
para o seu abate e processamento, em UC de Uso Sustentável, no estado do Amazonas. Em 2012,
foram elaborados pelo Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado
do Amazonas (Idam) dois planos de manejo de jacarés na RDS Mamirauá (setores Maiana e Solimões
do Meio), para posterior regularização ambiental pelo Ibama.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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desenvolvimento sustentável – uma trajetória de conquistas e desafios (2003-2013). Manaus-AM:
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AMAZONAS, Governo do Estado. Relatório de Gestão 2010. Manaus, Amazonas, Secretaria de
Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SDS.
AMAZONAS, Governo do Estado. Relatório de Gestão 2011. Manaus, Amazonas, Secretaria de
Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SDS.
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Amazonas/ Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Manaus:
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estratégia estadual de conservação da biodiversidade. 2.ed. Manaus: SDS/IPAAM/CI, 2003.
AMAZONAS. Governo do Estado. Sistema Estadual de Unidades de Conservação -SEUC: Lei
Complementar Nº 53, de 05 de junho de 2007. Manaus: SDS, 2007.

100 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


ARTIGO 15
O PAPEL DA COMUNIDADE COMO DEFENSORA DO MEIO
AMBIENTE NO PARQUE DO IGARAPÉ DO MINDU,
MANAUS/AM
Joana Magoga Noro
Administradora, Pós Graduanda em Gestão Ambiental Empresarial.
UFAM, Manaus – AM, joana.dah@gmail.com.

Adna Wally de Melo Gomes


Licenciada em Ciências Naturais, Pós Graduanda em Gestão Ambiental Empresarial.
UFAM, Manaus – AM, adnasnake2@gmail.com

INTRODUÇÃO

Com a urbanização e a evolução da civilização, a percepção do ambiente mudou drasticamente


e a natureza passou a ser entendida como “algo separado e inferior à sociedade humana”,
ocupando, assim, uma posição de subserviência. Chega-se aos dias de hoje com a maioria da
população vivendo em centros urbanos. A água limpa sai da torneira e a suja vai embora pelo ralo, o
lixo produzido diariamente é levado da frente das casas sem as pessoas terem a mínima
preocupação de saber qual o seu destino, ou seja, a grande maioria da população não consegue
perceber a estreita correlação do meio-ambiente com seu cotidiano (DONELA, 1997). A capital
amazonense está entre os municípios brasileiros mais populosos do país, segundo estimativa para
2011 do IBGE – Censo 2010, Manaus tem 1.882.423 milhões de habitantes, apresentando um índice
de alfabetização de 97,63%, sendo as suas principais atividades econômicas a indústria (Pólo
Industrial de Manaus) e o comércio. A ocupação e a necessidade de moradias determinaram a
expansão e o crescimento desordenado da cidade, o que provocou grande pressão sobre a floresta
original. Houve também um grande impacto sobre a malha de igarapés que corta a cidade, pois,
pela completa falta de planejamento de políticas públicas ao longo dos últimos quarenta anos, os
igarapés vêm sofrendo diretamente com o lixo doméstico e esgoto in natura que são despejados
diariamente. Nos primeiros seis meses de 2013, a Prefeitura de Manaus retirou 4,8 mil toneladas de
resíduos sólidos dos igarapés que cortam a cidade. Segundo o setor de estatísticas da Secretaria
Municipal de Limpeza e Serviços Públicos (Semulsp), foram retirados, em média, 800 toneladas de
resíduos sólidos por mês, o que equivale a 26,6 toneladas por dia. Todo o material encontrado nos
igarapés é suficiente para encher aproximadamente 400 caminhões caçamba, com capacidade para
12 toneladas. No presente estudo, tem como objetivo geral o correto gerenciamento do lixo e a
conscientização da Educação Ambiental no Parque do Igarapé do Mindú. A necessidade de
mudança de hábitos precisa existir desde a nascente, incida no Igarapé do Mindú, onde será
apresentado o papel de gerenciamento de limpeza do parque do Mindú e a conscientização da
Educação Ambiental, tanto nos seus espaços formais de conhecimento como também nos não

O PAPEL DA COMUNIDADE COMO DEFENSORA DO MEIO AMBIENTE NO PARQUE 101


DO IGARAPÉ DO MINDU, MANAUS/AM
formais. Tendo como objetivos específicos: A sensibilização a comunidade da importância da
Educação Ambiental e os danos causados pela falta de conscientização desde a nascente até o
Igarapé do Mindú; Desenvolver um projeto de planejamento da coleta de Resíduos Sólidos,
descartados no entorno do igarapé, juntamente com a secretaria de meio ambiente e Secretaria
Municipal de Limpeza Pública (Semulsp). As pesquisas qualitativas caracterizam-se pela utilização de
metodologias múltiplas (DANKER, 2001), sendo aqui utilizadas a observação, levantamento de
dados, visitas de campo, debates em grupo, entrevistas da comunidade local para a busca pela
sensibilização. Pesquisa de campo junto com visitantes, na comunidade local, para a coleta os
resíduos sólidos que poderiam ser jogados no Igarapé do Mindú, promover a Educação Ambiental
nos espaços formais e não formais ao longo do percurso do Igarapé do Mindú.

JUSTIFICATIVA

Como forma de contribuição para o ganho da consciência ambiental, tanto na comunidade local
e a partir daí para outras pessoas que se utilizam dessas áreas para moradias, que seja demonstrada
a importância de que todas as ações negativas praticadas contra o Igarapé do Mindú como: jogar
lixo no seu leito; despejar esgoto in natura em suas águas; retirar a cobertura vegetal original das suas
margens; dentre outras ações poluentes, acabam por promover um ciclo constante e infeliz de
degradação para ambas. Segundo a doutora em Ciências, Domitila Pascoaloto do Instituto de
Pesquisas da Amazônia (2013) “O Igarapé do Mindú não está morto. Enquanto a nascente estiver
preservada, ainda haverá esperança de recuperação”. A partir desse marco, será incutida na
comunidade local a necessidade de se preservar e ter uma consciência ambiental, revendo sua
relação com o importante recurso hídrico. Além disso, ao longo dessa sensibilização, mostrar que se
houver uma mudança de comportamento com a premissa de que isso se inicia a partir de cada um
de nós, poderá ser alterado esse ciclo de poluição e degradação que se instaurou ao longo do
Igarapé do Mindú, ao longo de mais de vinte cinco anos e que promoveu severas alterações físicas,
químicas e ambientais em suas águas, fauna e flora.

RESULTADOS ESPERADOS

A diminuição dos resíduos sólidos no igarapé do Mindú com uma correta coleta, com datas
prevista e antecedendo chuvas que trazem o lixo que se acumulam, entupindo bueiros e levando
tudo pela frente, deixando assim, os animais sem habitat, acumulo de lixo nos igarapés e
consequentemente no Igarapé do Mindú; a reutilização dos resíduos sólidos para outros fins;
limpezas das margens do igarapé que consequentemente que regatarão a fauna e flora perdida no
ambiente. A revitalização e utilização das áreas do parque, melhoramento para a comunidade,
como: sensibilizar a comunidade local, público alvo, do estudo sobre a necessidade do exercício
diário da educação ambiental, possibilitando a sociedade aquisição de conhecimento, valores e
atividades éticas que viabilizem a possível revitalização do Igarapé do Mindú.

CONSIDERAÇOES FINAIS

Foi observado que é de suma importância que o governo, prefeitura, faça parcerias com a
sociedade civil organizada para implantação de uma política ambiental imediata para o Igarapé do
Mindú, que englobe:
- Delimitação, fiscalização da área, capacitação de alunos, moradores e de associações da

102 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


comunidade do entorno, para que se desperte e os sensibilize da consciência ambiental.
- Fazendo-os parceiros não só da proteção das águas do Igarapé do Mindu, mais também da
vegetação ciliar nativa, da fauna e da flora dessa tão importante região;
- Ganho da qualidade de vida das pessoas que moram no entorno do Igarapé do Mindú,
evitando custos maiores ao Poder Público.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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O PAPEL DA COMUNIDADE COMO DEFENSORA DO MEIO AMBIENTE NO PARQUE 103


DO IGARAPÉ DO MINDU, MANAUS/AM
ARTIGO 16
O DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO E A GESTÃO DOS
ESPAÇOS NATURAIS
Elias Sete Manjate
Engenheiro Florestal. Mestre em Ciências Florestais e Ambientais. Doutoramento em Saneamento,
Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Docente da Universidade Eduardo Mondlane.

Julio César Rodríguez Tello


Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM;
Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário,
Av. General Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

INTRODUÇÃO

Um dos grandes desafios da gestão dos espaços naturais é o aumento da população humana,
uso de tecnologias poluidoras e intensivas em energia, nos países ricos, como a expansão
demográfica e a expansão da pobreza nos países pobres. Salienta-se que o modelo actual de gestão
dos espaços naturais não é sustentável na medida em que a taxa de exploração dos recursos naturais
é maior que a capacidade de produção desses recursos. Isto, leva a degradação progressiva dos
recursos naturais e perda da capacidade de regeneração dos ecossistemas. A tendência crescente
do esgotamento dos recursos naturais, as dificuldades na produção dos alimentos, a roptura nos
sistemas de produção e os disturbios irreversiveis no meio ambiente ameaçam a vida dos sistemas
naturais e dos ecossistemas. Neste contexto, falar de um desenvolvimento sustentado significa olhar
os ciclos energeticos e biogequimicos que garantem o funcionamento dos ecossistemas naturais.
Nos últimos anos a insustentabilidade da gestão dos recursos naturais deriva da globalização aliado
ao crescimento do comércio nacional e internacional dos recursos naturais valiosos. É de ressaltar
que a globalização não é um processo que ocorre com a mesma intensidade em todos os países,
pois depende das condições econômicas que eles oferecem ás redes globais. O presente trabalho
de pesquisa pretende de uma maneira geral definir o desenvolvimento sustentado, a sua
complementariedade e o seu papel na gestão dos espaços naturas e avaliar o desenvolvimento
sustentado tendo em conta sua evolução e arte de conhecimento as diferentes abordagens.

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

A definição de um método de pesquisa adequado ao trabalho a que se predispôs realizar é uma


etapa importante dentro do processo de investigação científica, visto que sem um método seguro,
verificável e repetitivo não é possível ter um trabalho classificado como científico (BARBOSA, 2005).
Por conta disso, nesta pesquisa será adotado o método hipotético-dedutivo, que consiste na adoção
da seguinte linha de raciocínio:....quando os conhecimentos disponíveis sobre determinado assunto
são insuficientes para a explicação de um fenômeno, surge um problema. Para tentar explicar as
dificuldades expressas no problema são formuladas conjecturas ou hipóteses. Das hipóteses
formuladas, deduzem-se conseqüências que deverão ser testadas ou falseadas. Falsear significa
tornar falsas as conseqüências deduzidas das hipóteses. Enquanto que no método dedutivo se

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO E A GESTÃO DOS ESPAÇOS NATURAIS 105


procura a todo custo confirmar a hipótese, no método hipotético-dedutivo, ao contrário, procuram-
se evidências empíricas para derrubá-la (GIL, 1999, p.30).

RESULTADO E DISCUSSÃO

Mesmo que ainda seja difícil avaliar com precisão o ritmo atual de desaparecimento das
florestas, existe hoje o consenso de que ultrapassou em muito as evoluções dos últimos milênios.
Conforme as estimativas muito variáveis dos especialistas, entre 10 e 17 milhões de hectares
desapareceriam a cada ano, e em 2010, a cobertura florestal do planeta não passaria de 60% da sua
superfície de 1990 (THEODORO, 2002). Mas a situação mais preocupante, neste quadro geral de
devastação, é a da floresta tropical. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza,
20% de todas as espécies existentes terão desaparecido daqui a dez anos, com um ritmo de perda
anual de cerca de 6.000 espécies. A floresta é o ecossistema mais ameaçado. Segundo a FAO, entre
1950 e 1982, a superfície das florestas tropicais úmidas, que se encontram todas no terceiro mundo
teria sido reduzida de 25 a 40%. Em todas as partes do planeta, de uma maneira direta ou indireta, o
ser humano interferiu e continua a interferir de maneira muito intensa e drástica os sistemas
ecológicos, prejudicando a capacidade de sustentação e regeneração natural de muitos deles.
Anualmente perdem-se 11 milhões de hectares de florestas/ano, e quantidades parecidas de
hectares estão sendo fortemente degradadas (UICN, 2001). A conservação da natureza talvez seja
uma pré-condição do crescimento econômico, já que o consumo futuro depende em grande parte
do estoque de capital natural. A conservação é, sem dúvida nenhuma, uma pré-condição do
desenvolvimento sustentável que une o conceito ecológico de capacidade de sustentação, ao
conceito econômico de crescimento e de desenvolvimento (JEFFREY MCNEELY, DA UINC; TELLO,
2006). A preservação de áreas naturais aponta também para a harmonização e reorientação das
tendências atuais, principalmente da racionalidade econômica e tecnológica da civilização,
proporcionando a construção de uma consciência ambiental capaz de reorientar a evolução cultural
humana em harmonia com as condições ambientais do planeta.

Gestão dos espaços naturais

O maior desafio para os países em via de desenvolvimento é conciliar o desenvolvimento


económico baseado no uso dos recursos naturais com conservação desses mesmos recursos, ou
seja, é atingir um desenvolvimento sustentável. Um dos requisitos primordiais para o alcance do
desenvolvimento sustentável é a proteção dos ecossistemas a nível internacional em particular para
os povos que tem os recursos naturais como base e sua sobrevivência. A abordagem econômica
inspirada em Marx parte do principio de que a relação do ser humano com a natureza externa é
sempre mediada por relações sociais. Sendo assim, a sociedade local deve ser visto como centro
promotor do desenvolvimento, em parceria com todos aqueles que compartilham do ideário de
sustentabilidade e do empoderamento local, para aumentar a possibilidade de implementação de
estratégias eficazes para melhorar as condições de vida desta e das futuras gerações. Ressalta-se
que a conservação dos espaços naturais é inatingível a menos que o consumo dos recursos pelo
homem diminua globalmente. Porém, uma visão de preservação não é viável na maior parte do
mundo e a meta de reter toda a biodiversidade e restaurar ecossistemas na condição original não é
realística. A economia de mercado ao considerar os recursos naturais (capital natural, segundo
alguns) como bens livres, incentiva sua exploração indiscriminada. A economia neoclássica, versão
moderna e mais estreita da teoria neoclássica acredita que o livre jogo das forças de mercado, em

106 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


situação de livre competição (o que significa perfeita informação dos agentes econômicos), será
capaz de promover a mais eficiente alocação de recursos, a mais elevada produção, a mais justa
distribuição de renda, o mais rápido progresso tecnológico, a mais apropriada utilização da
natureza. No entanto, a economia global entregue as suas próprias forças, estaria levando ao uso
perdulário dos espaços naturais e conseqüente esgotamento dos recursos naturais. Neste contexto,
Rocha (2001) sustenta que o princípio de mercado neoliberal supõe uma disponibilidade ilimitada
dos recursos da natureza, ainda sob o contexto dos economistas clássicos, no qual só os bens
escassos têm valor. A qualidade de vida das populações nos espaços naturais virá na revalorização
dos seus aspectos culturais, éticos, morais e ambientais. O futuro ambiental de cada lugar terá que
ser responsabilizada de quem o vive diariamente. Entretanto, num mundo globalizado com livre
jogo das forças do mercado e em plena competição é impossível a construção de uma identidade no
que se refere à gestão dos espaços naturais. Neste contexto, firma-se a consciência de que é a
solidariedade integracional o princípio ético que deve nortear o processo de desenvolvimento.

A ilusão do desenvolvimento sustentável

O discurso oficial e burocrático projeta o desenvolvimento sustentável numa dimensão


essencialmente ecológica. Fatores internos às políticas de desenvolvimento dos países
industrializados em conjunto com várias ações próprias do processo da expansão da cultura
ocidental, contrapõem-se ao paradigma de desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento
sustentável depende da solução de problemas complexos: do consumo; da eficiência e do
desenvolvimento de fontes energéticas não poluidoras; do reordenamento do setor de transporte
terrestre, e do melhor gerenciamento dos sistemas de tráfego; da substituição da atual matriz
industrial poluidora; das proteções aos recursos naturais marinhos e aos usos dos solos e
atmosférica; de melhor gestão dos impactos das variações climáticas; do combate à poluição
sonora; de um melhor gerenciamento e proteção de recursos hídricos; da preservação e adequado
gerenciamento da biodiversidade e do patrimônio natural; do desenvolvimento de mecanismos que
minimizem os riscos e protejam a saúde humana em matrizes ocupacionais insalubres; do controle e
melhor gerenciamento da ecotoxicologia e dos impactos dos fungicidas e pesticidas; da
mobilização de estruturas teóricas e empíricas das ciências econômicas e sociais; da formação de
recursos humanos para o gerenciamento do desenvolvimento sustentável, e da erradicação da
miséria humana. Constata-se que é contra-senso exigir que os países pobres incorporem o
paradigma da sustentabilidade, conforme os critérios e as determinações políticas dos países ricos, o
que põe novos problemas e a necessidade de novas abordagens metodológicas pelas ciências
econômicas e políticas, em escalas micro e macro. Nesse sentido percebe-se uma crescente
mobilização de populações, em vários lugares do mundo, em nível local, para a implantação de
medidas preventivas ao processo recessivo dos modelos políticos em curso. Todavia, observa-se
então o aprimoramento do sistema capitalista, destruição da biodiversidade e diversidade cultural.
A problemática ambiental gerou mudanças globais em sistemas socioambientais complexos que
afetam as condições de sustentabilidade do planeta, propondo a necessidade de internalizar as
bases ecológicas e os princípios jurídicos e sociais para a gestão democrática dos recursos naturais.
A expressão “desenvolvimento sustentável”, sugerida pela World Commission on Environment and
Development (WCED), refere-se à trajetória do progresso humano, levando em conta as
necessidades e aspirações da geração presente sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de encontrar as suas próprias necessidades e aspirações. O conceito de desenvolvimento
sustentável é condicionado por limitações de cunho tecnológico, de organização social do planeta e

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO E A GESTÃO DOS ESPAÇOS NATURAIS 107


da capacidade de biosfera de absorver os efeitos da atividade econômica/humana. A
sustentabilidade está ligada aos princípios de economia ecológica que defende um valor intrínseco
aos recursos naturais conferindo-lhes uma subjetividade própria, muito similar à subjetividade
humana. A economia ecológica critica a economia ambiental que está apoiada no princípio da
escassez a qual classifica como “bem econômico” o recurso que estiver em situação de escassez,
desconsiderando o que for abundante. A preservação do capital natural e manufaturado é condição
mínima para alcançar a sustentabilidade. Costanza (1997) defende o conceito de sustentabilidade
do ponto de vista de sua dimensão ecológica. A sustentabilidade não implica condicionar a
atividade econômica ao estado estacionário; ao contrário, deve-se discuti-la considerando aos
aspectos do crescimento e do desenvolvimento econômicos. A sustentabilidade pode ser analisada
pela ótica do bem-estar, do capital natural e do fluxo de serviços físicos. A análise de sustentabilidade
pela ótica do bem-estar refere-se ao bem-estar das gerações futuras no mesmo nível das gerações
presentes, de modo que o estoque de capital total se manteria no mesmo patamar.

CONCLUSÃO

A sustentabilidade deve ser vista como um conceito universal e não-negociável no que se refere
aos objetivos, mas sem um modelo ou critérios únicos, ela pode ser alcançada por meio de muitos
caminhos, com diferentes etapas, setores e estágios de desenvolvimento. As iniciativas de
sustentabilidade para os espaços naturais devem ser adaptadas às necessidades e capacidades
particulares, além da necessidade de considerar as interações com os sistemas externos, pois o que
é sustentável isoladamente pode não sê-lo quando está sujeito a fortes interferências externas. Para
se alcançar um desenvolvimento sustentado de espaços naturais cada lugar é necessário construir
uma identidade própria, baseada nas aspirações de seus cidadãos. O desenvolvimento deverá ser
de dentro para fora e nunca o inverso, visando às raízes culturais e bases locais. O homem é parte
integrante do desenvolvimento sustentado dentro de espaços naturais assumindo um papel
importante para a gestão integrada e racional dos ecossistemas locais com base nas
potencialidades locais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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108 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


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O DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO E A GESTÃO DOS ESPAÇOS NATURAIS 109


ARTIGO 17
ECOMARKETING NA EMPRESA RIO LIMPO: UMA
FERRAMENTA ESTRATÉGICA PARA O DESENVOLVIMENTO
AMBIENTAL EMPRESARIAL
Silvya Nascimento das Neves

Julio César Rodríguez Tello


Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM;
Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário,
Av. General Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

INTRODUÇÃO

O Eco marketing, também conhecido como marketing ambiental, ecológico ou verde, é


reconhecido como um instrumento que visa enfocar as necessidades de consumidores
ecologicamente conscientes com o desenvolvimento de urna sociedade sustentável. Esta nova
ferramenta mercadológica visa atingir um determinado nicho do mercado, trazendo vantagem
competitiva para as empresas preocupadas com a questão ambiental. Neste contexto e tendo em
vista os novos anseios dos consumidores que estão preocupados com os problemas ambientais do
planeta, a pesquisa foi desenvolvida para demonstrar a importância da implantação da ferramenta
do Eco marketing na empresa Rio Limpo, situada na cidade de Manaus/AM. Na pesquisa foram
utilizadas informações fornecidas pela Empresa Rio Limpo e referências bibliográficas sobre o Eco
marketing, a fim de servirem como subsídio para a discussão dos resultados. Através dos resultados
alcançados ficou evidente os benefícios advindos com a adoção de urna postura diferenciada a partir
da implementação do eco marketing, tais como: vantagem competitiva frente aos concorrentes,
suprimento da necessidade dos clientes que estão cada vez mais exigentes e o fortalecimento da
imagem corporativa. Detectou-se então, importantes benefícios advindos com uma gestão
ambiental empresarial que engloba novos métodos de produção nos processos, preocupação com
os anseios do consumidor e que está voltada não somente para seus objetivos económicos,
financeiros e sociais mas também para a questão ambiental. Nesse contexto, no trabalho procurou-
se evidenciar a importância da Gestão Ambiental, a aplicação da ferramenta Eco marketing e dos
Sistemas de Gestão Ambiental na empresa, apresentando-se como fonte de estratégia competitiva e
também na construção da imagem corporativa.

MATERIAL E METODOS

Na pesquisa foi utilizado o método indutivo qualitativo direcionado à pesquisa exploratória


(estudo de caso) e explicativa utilizando os conceitos de Gil (2007), com levantamento bibliográfico.
A empresa Rio limpo, encontra-se situada na Av. Autaz Mirim n° 3037 Coroado 3, na cidade de
Manaus/AM. Segundo Denker (1998) apud Santos (2007), a metodologia está diretamente
relacionada com os objetivos e a finalidade da pesquisa e expõe minuciosamente todos os passos
para atingir os objetivos propostos. Assim na avaliação da gestão da Empresa, utilizou-se entrevistas,
onde o gestor e entrevistados respondem a perguntas formuladas pelo pesquisador, e abertos que

ECOMARKETING NA EMPRESA RIO LIMPO: UMA FERRAMENTA ESTRATÉGICA PARA 111


O DESENVOLVIMENTO AMBIENTAL EMPRESARIAL
englobam todas as respostas possíveis, permitindo com isto atender os objetivos da pesquisa,
voltada para a generalização analítica e não estatística Yin (2001). Assim, as conclusões foram
restritas ao caso estudado. Os procedimentos metodológicos aplicados partiram da coleta de
informações bibliográficas relacionada a Gestão Ambiental e ao Eco marketing, objetivando a
identificação das fontes, leitura, seleção e fichamento das obras escolhidas. O foco da pesquisa foi a
utilização da ferramenta de Eco marketing como proposta estratégica para se alcançar níveis de
envolvimento sustentável e produção limpa na empresa Rio Limpo em prol da sociedade e a
qualidade ambiental. Sendo assim optou-se por não se aprofundar nos valores exatos do
investimento necessário para a sua implantação, já que para que fosse realizada esta pesquisa mais
extensa, seria necessária maior disponibilidade de tempo e recursos financeiros.

RESULTADOS E DISCUSSÁO

Os Aspectos Ambientais, Educação ambiental e Responsabilidade Social da Empresa Rio Limpo


foi desenvolvido no marco da implantação do Sistema de Gestão Integrada (SGI- Sistema de Gestão
Ambiental ISO 14000 e Sistema de Gestão da Qualidade ISO 9000) em novembro de 2007. Antes de
obter essa certificação, a empresa estava caracterizada da seguinte maneira: não possuía
monitoramento do consumo de água e energia elétrica; ausência de Estação de Tratamento de
Efluentes (E.T.E); sem programa de educação ambiental; não existia destinação dos resíduos gerados.
Após a obtenção da certificação ambiental, a empresa alcançou vários benefícios econômico-
sociais, como: aumento da carta de clientes, maior credibilidade, satisfação dos parceiros e
colaboradores, e aumento nos salários, pois a empresa obteve o retorno financeiro esperado. Pode-
se destacar uma maior conscientização socioambiental por parte dos colaboradores e um maior
reconhecimento por parte dos clientes e sociedade. Porte e Linde apud Barbieri (2007) afirmam que
regulamentações ambientais adequadas podem estimular a inovação, que permita a redução dos
custos ambientais e o uso mais eficiente de recursos, contrariando a visão predominante que
proclama a existência de um antagonismo irreconciliável entre economia e ecologia. Segundo eles, a
regulamentação é necessária por que cria pressões que motivam a realização de inovações pelas
empresas; melhora a qualidade ambiental quando a inovação não compensa o custo total a
satisfação: educa e alerta a empresa a respeito de ineficiências prováveis e de áreas potenciais para
melhorias; aumenta a probabilidade de que as inovações de produtos e processos sejam mais
amigáveis ao meio ambiente, cria demanda pelo aprimoramento ambiental; ajuda a nivelar o campo
do jogo durante o período de transição, assegurando que nenhuma empresa será capaz de ganhar
posição por não efetuar os investimentos necessários. Todos os pontos citados foram constatados
após a implantação das regulamentações na Empresa. A Educação Ambiental e Responsabilidade
Social são pontos a serem mencionados como benefícios. Existem alguns trabalhos desenvolvidos
em educação ambiental como: palestras na comunidade ministradas mensalmente (o tema "Como
utilizar energia elétrica racionalmente; um exemplo), projetos também são executados anualmente
como doações para o Festival de Parintins e para a equipe esportiva do Clube Princesa do Solimões, e
treinamentos internos executados semestralmente. Também são realizado projeto esportivos e
sociais junto as famílias dos funcionários e a comunidade do entorno a fim de informá-los e instruí-los
para a busca constante do desenvolvimento sustentável. As primeiras atitudes tomadas em relação
ao controle, tratamento e destinação adequada da geração de resíduos sólidos: Controle de
Emissões Atmosféricas através de equipamentos sofisticados; Programa do uso racional de energia
elétrica; Controle do uso da água; Reaproveitamento dos Efluentes tratados; Coleta Seletiva;
Reciclagem. Pôde-se notar que após a implantação do Sistema de Gestão Integrada, houve melhor
direcionamento de metas e objetivos da organização, minimização e controle da poluição, dos

112 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


resíduos e dos impactos ambientais, incentivos fiscais e interação do homem com a natureza e o seu
médio ambiente, o monitoramento, são realizadas auditorias internas semestralmente e auditorias
externas anualmente. E as principais dificuldades encontradas junto aos órgãos ambientais são a
demora na análise de pedidos ou ações, a existência de requisitos exagerados para adequação
ambiental e a falta de preparo técnico dos órgãos fiscalizadores. Melhorou a conscientização com
relação a segurança no trabalho, aumentou a conscientização com relação ao meio ambiente e a
atividade de trabalho, reconhecimento do uso correto dos recursos naturais e facilitou a
comunicação com a comunidade. As principais dificuldades existentes para a melhoria ambiental na
Empresa Rio Limpo são: Alto custo dos equipamentos; Falta de recursos financeiros para investir em
maquinários e em tecnologia limpa; Conscientização ambiental da sociedade, que muitas vezes
parece engessada. Investimentos. Ultimamente a empresa tem investido no fiel cumprimento dos
requisitos da ISO 14000 e as pretensões futuras são as seguintes: Compra de equipamento para
controle ambiental; Treinamento intenso de pessoal; Reuso de água; Término da implantação da
Estação de Tratamento de Efluentes (ETE). A adequação a legislação ambiental e a preocupação com
as demandas de mercados são os fatores que orientam a Empresa a se planejar desta forma. Outro
projeto já iniciado que os gestores almejam dar continuidade é o serviço de coleta de lixo na cidade
de Manaus. A área de Marketing, investiu-se em propagandas para alavancar a imagem da empresa
no fim do ano passado no canal de televisão AMAZONSAT, mas em 2010 nada foi feito para
demonstrar os resultados alcançados e demonstrar projetos e benfeitorias para a comunidade.
Partindo do pressuposto de que a área de Marketing encontra-se sob a responsabilidade dos Setores
Comercial e SGI da empresa e da existência da intenção em qualificá-lo sugere-se que seja realizada
uma consultoria para diagnosticar os principais ponto s a serem trabalhados. A partir do
levantamento dos custos necessários e da autorização da diretoria, poderiam selecionar o espaço
físico para o novo departamento e reclutar o pessoal especializado na área. Assim, a comunicação
interna e externa seria otimizada através da produção e divulgação dos relatórios de atividades e das
ações implantadas em pro do meio ambiente por meio de publicidade, mídias, internet, panfletos e
verbalmente na sociedade através do "boca-a-boca". Tachizawa (2007) demonstra que as
estratégias ambientais e de responsabilidade social devem observar, cumprimento da legislação
vigente e das regulamentações governamentais aplicáveis; não ocorrência de situações de
emergência ambiental; implementação de urna comunicação eficaz e transparente com a
comunidade local em que está inserida; preservação da biodiversidade da região mediante
operação de um eficaz tratamento de efluentes e resíduos industriais e; adoção de procedimentos
éticos em todas as atividades da empresa sob a estrita observância dos dispositivos legais vigentes
nas esferas governamentais municipal, estadual e federal. A Rio Limpo atende e aplica fielmente
todos os requisitos propostos por Tachizawa. O site da empresa encontra-se inativo, portanto faltam
políticas de comunicação e informação sobre as ações da empresa. Como o Eco marketing em via de
regra, simboliza o real compromisso que a empresa estabelece para a preservação e educação
deveria ser introduzido nas políticas da empresa. A comunicação interna constituem as reuniões de
grupos de trabalho, boletins, quadros de aviso e intranet. A comunicação externa pode ocorrer
mediante relatórios anuais, boletins informativos, páginas na internet e reuniões na comunidade
(Barbieri, 2007). De acordo com a ISO 14004, a organização, ao estabelecer um programa de
comunicação deve levar em consideração a natureza e as necessidades das partes interessadas. Os
trabalhadores e seus sindicatos, a comunidade, os clientes, os investidores, os representantes do
poder público local, estadual e federal. A atenção a essas preocupações contribui para legitimar os
esforços da organização para melhorar o seu desempenho ambiental perante seus públicos, uma
vez conhecidos as necessidades pelos consumidores, os serviços se tornam mais atraentes e os

ECOMARKETING NA EMPRESA RIO LIMPO: UMA FERRAMENTA ESTRATÉGICA PARA 113


O DESENVOLVIMENTO AMBIENTAL EMPRESARIAL
danos ambientais são reduzido, melhora a qualidade de vida. A empresa divulga o que tem feito em
prol do meio ambiente e, desse modo, procura sensibilizar o consumidor para que ele também
participe dos processos, pois a responsabilidade de preservar os recursos escassos é de todos.
Diante dos conceitos já mencionados no início do trabalho, sabe-se da importância do eco
marketing como estratégia de desenvolvimento ambiental empresarial e como um meio de
promover a imagem da empresa através da diferenciação frente aos concorrentes. Por trabalhar com
resíduos recicláveis e já estar comprometida sócio ambientalmente, a empresa Rio Limpo, poderia
abraçar a ideia do Eco marketing como grande aliado nos trabalhos de preservação e
sustentabilidade do ambiente. A empresa Natura foi citada como uma das cinco pioneiras do "Eco
marketing" no mundo com bons resultado financeiros. O crescimento nas vendas no período de
2002 a 2004 foi de 32 %. A sua fatia no mercado alcançou 19%, a receita foi de US$ 604 milhões em
2004 e o valor da marca foi equivalente a 113% do volume de vendas anual. As matérias-primas
vegetais e óleos naturais utilizados nesta linha de cosméticos são comprados das populações
tradicionais da Amazónia, por exemplo. Assim a empresa contribui para que os recursos sejam
extraídos de modo a não destruir a natureza e para que as pessoas da comunidade tenham uma vida
com mais recursos. A Rede de hipermercados Pão de Açúcar, através do projeto Caras do Brasil
lançado em 2003, foi mencionado corno exemplo de ação de urna empresa que começa a se
interessar pelo Eco marketing. O projeto tem como objetivo disponibilizar para os consumidores
alimentos, produtos de beleza e peças artesanais produzidos por pequenos agricultores (Conpet,
2006). Empresas de grande porte também estão ajudando seus fornecedores a melhorar seus
ambientes de gestão e marketing ecológico, como é o caso da Mercedes-Benz, Gradiente e 3M, que
consideram os fornecedores como parte integrante de sua cadeia produtiva. A construtora
Odebrecht e Copesul Petroquímica também utilizam instrumentos de Eco marketing ambiental para
ampliar sua atuação na sociedade civil e na comunidade circunvizinha, além de cuidar de seus
próprios funcionário. Fazer atuar as forças de mercado para proteger e melhorar a qualidade do
ambiente, com ajuda de padrões baseados no desempenho e no uso criterioso de instrumentos
econômicos, num contexto harmonioso de regulamentação, é um dos maiores desafios que o
mundo enfrenta neste novo milênio. A melhoria da qualidade necessita de uma atuação da
organização em face das pressões: forças de mercado, representadas pelas variáveis ambientais,
legais, económicas, tecnológica, sociais, demográficas e físicas (Tachizawa 2007). O marketing
ecológico é o complemento das ações sociais e ambientais já existentes na empresa estudada. São
exemplos: avaliação, de forma antecipada dos prováveis impactos ambientais que podem ser
causados por suas atividades; manutenção de um banco de dados da legislação ambiental, cuidando
de sua estrita observância legal; especificação dos objetivos e metas ambientais: manutenção de
plano de monitoramento e medição, bem como de plano geral de emergência ambiental. No Brasil,
há um cenário promissor para empreendimentos legais ligados ao meio ambiente. A região possui
graves problemas ambientais como a geração de 350 mil toneladas de resíduos sólidos por dia e com
apenas 49 % da população com serviço de esgoto. A indústria de reciclagens no mundo já
movimenta 600 milhões de toneladas anuais de lixo e fatura US$ 160 bilhões. Ainda em
desenvolvimento no Brasil, esse setor gera recursos da ordem de US$I,2 bilhões por ano, apena _0° o
do potencial existente (Tachizawa 2007). Esta ferramenta de apoio e monitoramento deve iniciar
desde o processo de recolhimento dos resíduo passando pelo desenvolvimento da produção,
entrega e findando-se no descarte dos produtos utilizados, buscando dessa forma, atender as
necessidades e desejos dos consumidores e apresentando ao mercado a busca pelo lucro com
sustentabilidade e responsabilidade ambiental. O eco marketing verde só será uma estratégia de
sucesso caso as empresas informem o clientes sobre as vantagens de adquirir os produtos e serviços

114 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


ambientalmente corretos, fazendo com que, dessa maneira, estimule-se o desejo de consumo para
este tipo de produto. Visto que o marketing é um grande influenciador do consumo, percebe-se
então, a importância do mesmo ser voltado para a consciência ambiental, para satisfazer as
necessidades de um consumidor ecologicamente responsável, que busca produtos cujo impacto ao
meio ambiente seja o menor possível (Smith 2005 apud Rossi et al.2010). Neste ponto onde os
executivos participam de decisões que significam maiores investimentos, aumento de custos ou
perda de receitas em razão de posturas socioambientais, veem-se diante de um dilema quase
indecifrável. Mas vale aos profissionais que participar dessas decisões, sobretudo os de marketing,
perceberem que é necessária muita educação para que o consumidor supere a barreira financeira
para partir em busca de um mundo melhor.

Considerações Finais

A proteção ao meio ambiente deixou de ser urna exigência punida com multas e sanções para se
integrar a um quadro de oportunidades e ameaças, em que as consequências passam a significar
posições na concorrência e a própria permanência ou saída do mercado. Adequar-se as exigências
ambientais dos mercados, governos e sociedade e, apesar de levar a empresa a despender um
montante considerável, traz benefícios financeiros e vantagens competitivas. O eco marketing, longe
do surrealismo, está direcionado as preocupações com o processo produtivo limpo e com o
ecologicamente correto, e está ligado a lucidez e sensatez compatíveis com o desenvolvimento
sustentável, único caminho que poderá permitir as gerações futuras usufruírem dos recursos naturais
disponíveis a esta geração. A legislação tornou-se mais severa, obrigando as empresas a encararem
com seriedade e responsabilidade a variável ambiental em sua estratégia operacional. Os mercados
não mais aceitam o descaso no tratamento dos recursos naturais e as consequências do seu uso
incorreto são cada vez mais graves. As catástrofes mundiais são mostradas todos os dias na mídia:
aquecimento global, efeito estufa e chuva ácida são exemplos constantes. O eco marketing de fato, é
uma ferramenta capaz de contribuir com a preservação e conservação do ambiente, projetar e
sustentar a imagem da empresa perante o mercado e a sociedade, captar e fidelizar clientes através
de estratégias ambientais de divulgação aplicadas. Além da sociedade como um todo, funcionários e
acionistas de empresas que adotam um programa de Eco marketing parece sentirem-se melhor, por
estarem associados a uma entidade ambientalmente responsável, e essa satisfação certamente
resulta em projeção da imagem, aumento de produtividade e lucratividade. O Eco marketing, assim
como a maioria dos recursos de comunicação integrada e publicidade, se encarado com seriedade, é
capaz de resultar numa melhor posição competitiva para II Empresa Rio Limpo. Essa estratégia virá
agregar valor aos instrumentos de gestão ambiental já inseridos na cultura da Empresa estudada.

REFERÊNCIAS

BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 2a ed. São


Paulo: Saraiva. 2004
CONPET. Redação. Empresas brasileiras destaques em Marketing Verde. 2006. Disponível em:
http//www.conpet.gov.br/noticia.php?id_noticia=611&segmento=. Acesso em 26 abr 2010.
ROSSI, Josielle; PADOINS, Vanessa; SARTORI, Amanda; MAFFINI, Clarisa; GREFF, Glazicle.
Marketing Verde: O diferencial competitivo adotado pelas organizações. Disponível em
http://www.ead.fea.usp.br/semead/12semea/resultado/trabaIhosPDF/702.pdf Acesso em 2010
br2010.

ECOMARKETING NA EMPRESA RIO LIMPO: UMA FERRAMENTA ESTRATÉGICA PARA 115


O DESENVOLVIMENTO AMBIENTAL EMPRESARIAL
Santos, Sandra Maria. Bases Socioambientais para a implantação do ecoturismo na Reserva de
Desenvolvimento Sustentável do Piranha, UFAM, 2007.
TACHIZAWA, Takeshy. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social Corporativa. 4ª Ed. São Paulo:
Editora Atlas, 2007.
YIN, Robert. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2 ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

116 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


ARTIGO 18
PROJETO ÁGUA PARA TODOS NO AMAZONAS

Antônio Luiz M. Andrade. Eng. Ms


Coordenador Estadual do Projeto Água para Todos no Amazonas / Secretaria de Estado do Meio
Ambiente - SDS (92) 3659-1826 / 9145-0134/ E-mail: ecoluiz@sds.am.gov.br

INTRODUÇÃO

O PROJETO ÁGUA PARA TODOS NO AMAZONAS, é uma das estratégias de ação do Governo do
Amazonas apoiado pelo Plano Brasil Sem Miséria do Governo Federal, com investimento na ordem
de 88 milhões de reais, sendo 80 milhões do Governo Federal por meio do Ministério da Integração
Nacional e 8 milhões do Estado do Amazonas, será implantado em duas etapas de distintas, com
execução prevista até 2015, sob gestão direta da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável-SDS.
O projeto tem finalidade de promover universalização do acesso á água para consumo humano
das famílias rurais que vivem com uma renda per capta abaixo de R$140,00, em condições de
vulnerabilidade social e/ou extrema pobreza, bem como, famílias mais susceptíveis ao isoladas
durante o período da seca. No total o projeto beneficiado diretamente 20.600 famílias, cerca de
103.000 moradores distribuídos em 30 municípios do Estado do Amazonas, situados nas calhas dos
rios: Amazonas, Juruá, Negro, Solimões e Purus.

RESULTADOS PRELIMINARES

A primeira etapa resultou no Convênio nº 769262/2012, no valor R$44.000.00 (quarenta e


quatro) milhões de reais, sendo 40 milhões do Governo Federal por meio do Ministério da Integração
Nacional e 4 milhões do Estado do Amazonas, com execução prevista até 2014, nesta etapa dotar-
se-á a tecnologia de captação, armazenamento e distribuição de água de Chuva, para uso
doméstico, por meio da implantação de 10.100 (dez mil e cem) sistemas domiciliares, com
reservatórios de 2 mil/l, 404 sistemas coletivos, com reservatórios de 5mil/l e 2020 Substituições de
coberturas de palha por alumínio, beneficiando 10.100 famílias, cerca de 50.500 moradores da zona
rural, pertencentes 16 municípios do Estado do Amazonas, situados nas calhas dos rios: Amazonas,
Negro, Solimões e Purus.

PROJETO ÁGUA PARA TODOS NO AMAZONAS 117


Figura 1 - Municípios beneficiados com Cisternas de Consumo

INDICADORES DE RESULTADOS DO PROGRAMA

INDICADOR PREVISTO PRAZO REALIZADO OBSERVAÇÃO


Contratação Equipe Nov/12 a 07 Contratação direta mediante
07
Gestão junho/14 (100%) aprovação da Casa Civil.
Contrato realizado por meio
Contratação Equipe Fev/13 a 73
137 de PSS, Edital 008/13
Operacional Setembro/14 (53%)
AADES.
Todos os municípios com
Capacitação Equipe Fev/13 a 137
144 técnicos capacitados
Técnica julho/14 (95%)

Comitê Estadual Criado no âmbito da SEAS,


Out/12 a 01
Plano Brasil Sem 01 Decreto nº 32.162 de
Dezembro/12 (100%)
Miséria 28/02/2012.
Comitê Estadual 04 de Julho 01 Criado no âmbito da SDS,
01
Água Para Todos de 2012. (100%) Portaria 087/2012.
Comitês Gestor
Nov/12 a 17 Todos os municípios com
Municipal do Plano 16
junho/13 (106%) seus comitês instalados.
Brasil Sem Miséria.
Comitê Municipal
Nov/12 a 17 Todos os municípios com
Programa Água Para 16
junho/14 (106%) seus comitês
02 instalados
Todos
Comissões Março/13 a 357
404 1.071 Líderes selecionados.
Comunitárias Setembro/13 (88%)
Oficinas
Março/13 a 357 5.355 Comunitários
Comunitárias 404
Setembro/13 (88%) sensibilizados
(Sensibilização)

118 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


Municípios das Calhas dos
Cadastro dos Março/13 a 9.466
10.100 Rios Amazonas, Solimões,
Beneficiários Setembro/13 (94%)
Purus e Rio Negro.
Municípios das Calhas dos
Cadastros no Março/13 a 705
1.010 Rios Amazonas, Solimões,
CadÚnico Setembro/13 (70%)
Purus e Rio Negro.
OBRA - Implantação Caapiranga, Manacapuru,
Julho/13 a
dos Sistemas 8.080 3.799 (47%) Anamã, Anori, Manaquiri,
Junho/14
Domiciliares 2 mil/l Beruri, Careiro e São Gabriel.
OBRA - Implantação Caapiranga, Manacapuru,
Julho/13 a
dos Sistemas 2.020 812 (40%) Anamã, Anori, Manaquiri,
Junho/14
Domiciliares 500/l Beruri, Careiro e São Gabriel.
OBRA - Implantação Caapiranga, Manacapuru,
Julho/13 a
dos Sistemas 404 114 (28,2%) Anamã, Anori, Manaquiri,
Junho/14
Coletivos Beruri, Careiro e São Gabriel.
Caapiranga, Manacapuru,
OBRA - Substituição Julho/13 a
2.020 134 (6,6%) Anamã, Anori, Manaquiri,
de telhados de palha Junho/14
Beruri, Careiro e São Gabriel.

A segunda etapa resultou no Termo de Compromisso nº0079/2013, no valor R$44.000.00


(quarenta e quatro) milhões de reais, sendo 40 milhões do Governo Federal por meio do Ministério
da Integração Nacional e 4 milhões do Estado do Amazonas, com execução prevista até 2015. Nesta
etapa dotar-se-á a tecnologia de captação, armazenamento e distribuição de água subterrânea por
meio da implantação 300 (trezentos) Sistemas Coletivos de Abastecimento de Água Subterrâneo
(Poços Tubulares, Reservatórios, Rede de Distribuição com Ligações Domiciliares), com
profundidade variando de 60 -120m, sendo: 120 Sistemas coletivos constituídos de Poços tubulares,
Reservatórios Centrais 5mil/l e Torneiras Públicas/chafarizes, alimentados por energia convencional;
80 Sistemas coletivos constituídos de Poços tubulares, Reservatórios centrais, Torneiras
Públicas/chafarizes, alimentados por energia foto voltaica/solar e 100 Sistemas coletivos constituídos
de Poços tubulares com Reservatórios Centrais 10mil/l, rede de distribuição de água de
60mm/diâmetro, beneficiado diretamente 10.500 famílias, cerca de 52.500 moradores distribuídos
em 30 municípios do Estado do Amazonas, situados nas calhas dos rios: Amazonas, Juruá, Negro,
Solimões e Purus.

PROJETO ÁGUA PARA TODOS NO AMAZONAS 119


ARTIGO 19
ANÁLISE FITOSSOCIOLÓGICA ESTRUTURAL E
COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA EM UM ASSENTAMENTO
RURAL SOBREPOSTO A UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
NA AMAZÔNIA CENTRAL
Alex-Sandra Farias de Almeida
Engenheira Florestal, Especialista em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental e Mestre em Ciências Florestais e
Ambientais.

Julio César Rodríguez Tello


Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM; Programa
de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário, Av. General
Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

INTRODUÇÃO

A floresta amazônica detém os maiores níveis de biodiversidade do mundo, sendo constituída


por diferentes tipos de vegetação. As inúmeras fisionomias dessa floresta fazem-na uma província
fitogeográfica bem individualizada, complexa, heterogênea e frágil, caracterizada pela floresta
tropical úmida de grande biomassa, que interage com os diversos tipos de solos ácidos e pobres em
nutrientes, bem como, as variações no regime de chuvas. Qualquer intervenção planejada em
determinada floresta natural tem de ser precedida de um inventário minucioso. Os inventários são
utilizados para determinação do volume de madeira existente na floresta além de outros aspectos
como volume total, volume comercial, estágio sucessional da floresta, a avaliação da regeneração
natural das espécies e outras peculiaridades inerentes ao objetivo do inventário florestal. A maioria
das florestas tropicais nativas, na Amazônia, tem sido explorada de forma não sustentável, sem
aplicação dos critérios de sustentabilidade do manejo florestal, o que caracteriza perda da cobertura
florestal e da diversidade de espécies, antes mesmo que se tenha o conhecimento dessa riqueza
natural. O crescimento e a ocupação desordenada da cidade de Manaus-AM, ocasionaram muitos
prejuízos ao meio ambiente, como as construções às margens de igarapés, destruição de quase a
totalidade das áreas verdes, a poluição de rios e igarapés e consequentemente a perda da
biodiversidade. Neste contexto, a Área de Proteção Ambiental (APA) Margem Esquerda do Rio
Negro, unidade de conservação (UC) estadual de uso sustentável, foi criada com o intuito de
preservar duas importantes bacias hidrográficas (Tarumã-Mirim e Tarumã-Açu). Apesar da relevância
ecológica dessa área interfluvial, as atividades antrópicas são bastantes predatórias devido à
existência do Projeto de Assentamento (PA) Tarumã-Mirim superpondo com a UC, o que gera
conflitos ambientais. Inserido na APA está o ramal do Pau Rosa que liga outros ramais com a rodovia
BR-174. O PA Tarumã-Mirim deveria fornecer produtos agrícolas para abastecer Manaus, regularizar
as pessoas que já moravam numa parte da área e territorializar no campo aqueles os quais morando
em Manaus anteriormente trabalhavam no campo. No entanto, não foram levados em consideração

ANÁLISE FITOSSOCIOLÓGICA ESTRUTURAL E COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA EM UM 121


ASSENTAMENTO RURAL SOBREPOSTO A UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NA
AMAZÔNIA CENTRAL
os fatores naturais e a necessidade de auxílio constante por parte do Estado para a efetivação do
plano original. Dessa forma, a produção de carvão, hortaliças e plantas medicinais movimenta a
economia da comunidade do Pau Rosa, o que difere do plano original. O desmatamento é realizado
intensivamente inclusive nas áreas de encosta e matas ciliares e comumente nas áreas desmatadas
não há mais atividades agrícolas. A falta de planejamento e fiscalização dentro da APA vem
ocasionando o desmatamento desordenado por parte dos comunitários e consequentemente a
perda da biodiversidade. Um das razões deste estudo é a caracterização da estrutura da vegetação
através da determinação dos descritores fitossociológicos, os quais auxiliam no conhecimento da
diversidade biológica, fácil reconhecimento da fisionomia, a definição da tipologia florestal,
distribuição das espécies no ecossistema e as relações sociológicas entre elas. Portanto, nesta
pesquisa objetivou-se caracterizar a vegetação e realizar análise dos descritores fitossociológicos da
vegetação do PA Tarumã-Mirim, que está situado em quase sua totalidade dentro da APA da Margem
Esquerda do Rio Negro, Setor Tarumã Açu – Tarumã Mirim.

MATERIAL E MÉTODO

A área de estudo situa-se na Comunidade Pau Rosa, PA Tarumã-Mirim, nas coordenadas


geográficas latitude 60002'18.3'' S e longitude 20047'43.7'' W, zona rural de Manaus-AM, com
acesso fluvial pelo rio Tarumã e pela rodovia BR-174 (Manaus - Boa Vista/RR) à altura do km 21, no
ramal do Pau Rosa. O PA Tarumã-Mirim (Manaus-AM) foi criado em 1992 pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA), com uma extensão de 42.910,76 ha, com perímetro de
110.63 km e capacidade para 1.042 lotes com tamanho médio de 25 ha destinados à agricultura
familiar e 7.088,62 ha de reservas florestais. Está situado em quase sua totalidade dentro da APA da
Margem Esquerda do Rio Negro, Setor Tarumã Açu – Tarumã Mirim. A porção noroeste faz parte do
Parque Estadual do Rio Negro. Estas UC's foram criadas em 1995, com o intuito de preservar as
bacias hidrográficas do Tarumã-Mirim e do Tarumã-Açu. Para determinar a composição florística e
parâmetros fitossociológicos da vegetação, foram considerados três áreas de amostragens, ambas
dentro dos limites da área do assentamento do Tarumã Mirim: platô, campinarana e baixio. O
sistema de amostragem adotado foi o misto (sistemático-aleatório), no qual as unidades amostrais
foram distribuídas sistematicamente no sentido norte-sul, alocando assim, os três levantamentos
florísticos nas comunidades vegetais. Nas comunidades vegetais do platô, campinarana e baixio,
foram instaladas 4 parcelas retangulares de 10 x 250m de tamanho, com distâncias entre si de 50m.
cada parcela foi subdividida em 5 subparcelas de 10 x 50m para facilitar na medição dos indivíduos
no campo. As Comunidades vegetais tiveram uma área amostral de 1 ha cada. Foram mensuradas e
identificadas todas as árvores com diâmetros a altura do peito (DAP) superiores a 30cm foram
identificadas e suas variáveis medidas nas três áreas amostrais. As informações que caracterizam
cada uma das árvores mensuradas foram: a) Nome vulgar da espécie; b) Circunferência a altura do
peito (CAP), em cm; c) Altura comercial em m; d) Altura total em m; e) Qualidade do fuste; f ) Forma
de vida; g) Posição sociológica; e, h) Grau de iluminação. A diversidade florística foi calculada de
acordo com o índice de diversidade de Shannon-Wienner (H'). O índice de diversidade de Shannon
é calculado com base na relação entre o número de indivíduos por espécie e o número total de
indivíduos amostrados, expressando um valor que combina os componentes riqueza e
equabilidade. Para as comparações utilizou-se o índice de Jaccard e de Sφrensen, ambos que se
utilizam do critério de presença/ausência de espécies. A estrutura horizontal da vegetação foi
descrita utilizando-se os parâmetros fitossociológicos relacionados a seguir e de acordo com as
fórmulas descritas por Tello (1995) e Ubialli et al. (2007). Para o cálculo dos parâmetros utilizou-se o

122 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


Programa Excel 2010. A estrutura vertical expressa as faixas de altura ocupadas pelas diversas
espécies que ocorrem no ambiente. A altura constitui fator importante para a estimativa do
potencial madeireiro da vegetação, pois, associado ao diâmetro permite prever o potencial de
volume de biomassa arbórea que a floresta poderá proporcionar (QUEIROZ, 2004). Seguindo a
metodologia de Ivanauskas, Monteiro e Rodrigues (2004), na análise da estratificação vertical da
vegetação, as espécies arbóreas foram divididas em dois estratos: a) Estrato superior: que apresenta
circunferência mínima de 30 cm, para árvores de dossel e emergentes muito utilizados em
levantamentos quantitativos na região amazônica; e, b) Estrato inferior: com circunferência mínima
de 10 até 29,9 cm. Utilizando a metodologia de Almeida et al. (1993), a densidade das espécies foi
dividida em três categorias: espécies de baixa densidade (1 ind./ha); espécies de densidade
intermediária (2 a 10 ind./ha) e, espécies de alta densidade (11 ou mais ind./ha). Na análise da
estrutura paramétrica, os seguintes parâmetros foram analisados (HOSOKAWA, MOURA e CUNHA,
1997): a) Qualidade do fuste; b) Vitalidade das árvores: e, c) Grau de iluminação da copa:

RESULTADOS

Os resultados da pesquisa para cada ambiente estudado foram os seguintes: a) Comunidade


Vegetal do Platô: Encontrou-se 507 indivíduos (DAP 10 cm), distribuídos em 35 famílias, 64
gêneros e 96 espécies. As famílias Sapotaceae, Chrysobalanaceae e Lecythidaceae apresentaram-se
como as mais importantes, tanto na composição florística, quanto na análise estrutural. As espécies
mais importantes foram: Chrysophyllum sanguinolentum, Licania oblongifolia e Licania lata.
Apresentou índice de diversidade de Shannon-Weaver igual a 2,96 e grau estimado de
equitabilidade de 0,65. Na estrutura vertical o estrato inferior esteve representado por 417 indivíduos
e o segundo por 90. As famílias de destaque no estrato inferior foram: Sapotaceae,
Chrysobalanaceae, Lecythidaceae e Burseraceae. E no estrato superior foram: Chrysobalanaceae,
Sapotaceae, Fabaceae e Moraceae. No parâmetro qualidade do fuste 62,50% das espécies
apresentaram indivíduos com fuste reto e de forma bem definida, 58,33% das espécies com
indivíduos 100% sadios e 84,37% das espécies apresentaram indivíduos com grau de iluminação
total. Pela análise do dendrograma de Jaccard observou-se a tendência de formação de 2 grupos de
parcelas P1 e P2; P3 e P4. As parcelas P1 e P2 apresentaram a maior similaridade florística, com um
total de 40 espécies comuns entre ambas; b) Comunidade Vegetal de Campinarana: Encontrou-se
477 indivíduos (DAP 10 cm), distribuídos em 37 famílias, 72 gêneros e 95 espécies. As famílias
Fabaceae, Chrysobalanaceae e Sapotaceae apresentaram-se como as mais importantes, tanto na
composição florística, quanto na análise estrutural. As espécies mais importantes foram: Aldina
heterophylla e Swartzia reticulada. Apresentou índice de diversidade de Shannon-Weaver igual a
2,90 e grau estimado de equitabilidade de 0,64. Na estrutura vertical o estrato inferior esteve
representado por 394 indivíduos e o segundo por 83. As famílias de destaque no estrato inferior
foram: Sapotaceae, Chrysobalanaceae, Fabaceae e Burseraceae. E no estrato superior foram:
Fabaceae, Humiriaceae, Chrysobalanaceae e Lecythidaceae. No parâmetro qualidade do fuste
49,47% das espécies apresentaram indivíduos com fuste reto e de forma bem definida, 41,05% das
espécies com indivíduos de aparência doentia e copas defeituosas e 58,94% das espécies
apresentaram indivíduos com grau de iluminação total. Pela análise do dendrograma de Jaccard
observou-se a tendência de formação de 1 grupo de parcelas C7 e C8. As parcelas C7 e C8
apresentaram a segunda maior similaridade, com 32 espécies comuns entre ambas; e, c)
Comunidade Vegetal do Baixio: Encontrou-se 408 indivíduos (DAP 10 cm), distribuídos em 32
famílias, 64 gêneros e 92 espécies. As famílias Fabaceae, Lecythidaceae e Chrysobalanaceae

ANÁLISE FITOSSOCIOLÓGICA ESTRUTURAL E COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA EM UM 123


ASSENTAMENTO RURAL SOBREPOSTO A UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NA
AMAZÔNIA CENTRAL
apresentaram-se como as mais importantes, tanto na composição florística, quanto na análise
estrutural. As espécies mais importantes foram: Oenocarpus bataua, Macrolobium limbatum e
Eschweilera coriaceae. Apresentou índice de diversidade de Shannon-Weaver igual a 2,79 e grau
estimado de equitabilidade de 0,62. Na estrutura vertical o estrato inferior esteve representado por
327 indivíduos e o segundo por 81. As famílias de destaque no estrato inferior foram: Fabaceae,
Lecythidaceae, Sapotaceae e Chrysobalanaceae. E no estrato superior foram: Fabaceae,
Myristicaceae, Chrysobalanaceae e Moraceae. No parâmetro qualidade do fuste 48,91% das
espécies apresentaram indivíduos com fuste reto e de forma bem definida, 43,47% das espécies com
indivíduos 100% sadios e 65,21% das espécies apresentaram indivíduos com grau de iluminação
total. Pela análise do dendrograma de Jaccard observou-se a tendência de formação de 2 grupos de
parcelas B9 e B12; B10 e B11.

CONCLUSÕES

Os ambientes florestais estudados possuem baixa diversidade de espécies possivelmente devido


as alterações que a vegetação da área de proteção sofreu pela atividade antrópica dos moradores do
assentamento. A APA necessita emergencialmente da elaboração de Plano de Gestão e Zoneamento
prevendo áreas restritas a preservação ambiental, bem como, adoção de fiscalização e vigilancia
para evitar a degradação e pauperização da diversidade de espécies.

REFERENCIAS

BROWER, J.E.; ZAR, J.H.; VAN ENDE, C.N. 1998. Field and laboratory methods for general ecology.
4 th WCB/McGraw, New York. 273pp.
HAFFER, J. Biological diversification in the tropics. New York, Columbia University Press, 1982. p.6-
24.
TELLO, J.C.R. Aspectos fitossociológicos das comunidades vegetais de uma toposseqüência da
Reserva Florestal Ducke do INPA, Manaus-AM. Tese de Doutorado, Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia/Fundação Universidade do Amazonas, Manaus, Amazonas. 1995. 301p.

124 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


ARTIGO 20
MAPEAMENTO DAS APP E ESTUDO DOS CONFLITOS DE
OCUPAÇÃO DO SOLO NOS LOTEAMENTOS PARQUE DOS
BURITIS I E II, MANAUS-AM
Carlos Leandro Oliveira Souza

Lizit Alencar da Costa


Engenheiro Florestal. Mestre em Ciências de Florestas Tropicais. Doutor em Ciência Florestal.
Docente da Universidade Federal do Amazonas - UFAM

INTRODUÇÃO

Tradicionalmente, são raros os casos de delimitação de áreas de preservação em zonas urbanas.


Isso se refere tanto à áreas de interesse ecológico e biótico, as quais poderiam ser enquadradas em
classes de unidades de conservação definidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC), quanto àquelas áreas definidas no Código Florestal Brasileiro e resoluções complementares,
que definem a preservação da cobertura vegetal em função de limites junto a recursos hídricos e
declividades. As áreas não edificantes definidas pela Lei de Parcelamento de Solos também não são
devidamente observadas e respeitadas. Nas áreas urbanas, o-Código Florestal e a Lei de
Parcelamento de Solos são aquelas que englobam, entre as áreas a serem preservadas, a maior
extensão. Entretanto, sabe-se isso em função do conhecimento que a maioria dos profissionais tem
sobre a relação entre as características do meio físico e as referências contidas na legislação do que
necessariamente sobre estudos que tenham feito essa identificação e consequente quantificação.
Assim, além da perda de elementos naturais importantes, que poderiam atribuir um ambiente mais
agradável a população em torno, existe a possibilidade dos riscos à saúde e a vida das pessoas
devido à ocupação de áreas impróprias a habitação humana (GIRARDI, 2004). Nesse sentido a
pesquisa tem como objetivo identificar e quantificar as APP e os conflitos de ocupação do solo nos
Loteamentos Parque dos Buritis I e 11 visando subsidiar um planejamento adequado das áreas de
estudo.

MATERIAL E MÉTODO

As áreas destinadas aos futuros Loteamentos Parque dos Buritis I e 11, conforme estão
localizados na zona norte da cidade de Manaus/Amazonas entre as coordenadas: Limites norte:
Latitude 2°58'S, Longitude 59°58'W e Limites sul: Latitude 2°59'S e Longitude 59°59'W e encontra-se
situado na Avenida sete de maio (antigo ramal da Petrobrás), no bairro Santa Etelvina, onde o acesso
se dá pela Estrada Torquato Tapajós, Km 16 (MANAUS, 2007). Efetuou-se um estudo nos
Loteamentos Parque dos Buritis I e li, buscando identificar e quantificar as app e sua distribuição
espacial, analisando os conflitos de ocupação do solo. Desde a elaboração do projeto, deve-se estar
atento aos detalhes na escolha das áreas a serem implantados os loteamentos; procedimentos
necessários como estudos dos solos e das possíveis áreas de preservação permanente no local,
podendo causar problemas futuros que inviabilizem na aprovação e execução dos projetos; e que

MAPEAMENTO DAS APP E ESTUDO DOS CONFLITOS DE OCUPAÇÃO DO SOLO NOS 125
LOTEAMENTOS PARQUE DOS BURITIS I E II, MANAUS-AM
venha prejudicar futuramente as áreas destinadas ao futuro loteamento. Para tanto, tomar-se
necessário o mapeamento das APP nas áreas de estudo e a análise dos conflitos de ocupação do solo
para prevenir problemas de planejamento urbano desta natureza, subsidiando um futuro
planejamento.

RESULTADOS

Com relação às identificações e quantificações das app, existem dois corpos de água um no
sentido NE/SW, passando na porção norte do lote do futuro residencial Parque dos Buritis I e outro no
sentido SE/NW, passando na porção oeste do Conjunto Habitacional Cidadão V e na parte frontal do
Loteamento Parque dos Buritis I e II, sendo que nas proximidades do Conjunto João Paulo II, ocorre a
junção dos mesmos, conforme descritos anteriormente. Com relação aos resultados das análises dos
conflitos de ocupação do solo, no Parque dos Buritis I, mostrou que: No Trecho 01, a área de
preservação compreendida é de 20.040,19 m2 (8,02), possui 02 (dois) pontos de nascentes (PN 06 e
PN 07) e estão a 06 (seis) metros distante um do outro em linha reta, a hidrografia dos seus efluentes
tem uma média de comprimento de 240,14 m, partindo destes pontos, seguindo até o limite do
loteamento e ambos deságuam no igarapé da Bolívia. No Trecho 02, a área de preservação
compreendida é de 6.520,00 m2 (2,61), possui 01 (um) ponto de nascente (PN 04), a hidrografia do
seu efluente tem um comprimento de 79,80 m, partindo deste ponto, chegando até o afluente do
igarapé da Bolívia. No Trecho 03, a área de preservação compreendida é de 13.598,69 m2 (5,44),
possui 03 (três) pontos de nascentes (PN 01, PN 02 e PN 03), a hidrografia tem uma média de
comprimento de 192,75 m partindo do limite do loteamento, chegando até o do afluente do igarapé
da Bolívia. No Trecho 04, a área de preservação compreendida é de 22.190,09 m2 (8,87), pertencente
ao afluente do igarapé da Bolívia, a hidrografia tem um comprimento de 374,39 m de uma ponta a
outra, até o limite do loteamento. No Trecho 05, a área de preservação compreendida é de 21.806,40
m2 (8,72), possui 01 (um) ponto de nascente (PN 05), as hidrografias, uma tem um comprimento de
357,40 m, partindo do afluente do igarapé da Bolívia. No Trecho 06, a área de preservação
compreendida é de 4.889,51 m2 (1,96), destinada às áreas verdes. E no projeto de implantação do
loteamento, foram consideradas 12.788,16 m2 (5,12) de áreas verde e lazer neste local. Tendo em
vista que a somatória das APP dos trechos totalizaram 89.044,88 m2, ou seja, (35,62) da área do
loteamento, enquanto que no projeto de implantação consideraram apenas 33.627,26 m2, ou seja,
(13,45) de áreas verde/lazer e áreas preservadas permanentemente. Com relação aos resultados das
análises dos conflitos de ocupação do solo, no Parque dos Buritis II, mostrou que: No Trecho 07, a
área de preservação compreendida é de 173.218,79 m2 (79,25). No Trecho 08, a área de preservação
compreendida é de 9.202,22 m2 (4,21), possui um ponto de nascente (PN 08), a hidrografia tem um
comprimento de 63,42 m, partindo deste ponto e chegando até o limite do loteamento. E no projeto
de implantação do loteamento, foram considerados 76,85 m2 (0,03) de área verde, 407,05 m2 (0,19)
para equipamentos comunitários e 8.718,32 m2(3,99) para área de preservação permanente neste
local. No Trecho 09, a área de preservação compreendida é de 17.017,03 m2 (7,79), pertencente ao
afluente do igarapé da Bolívia, a hidrografia tem um comprimento de 312,96 m de uma ponta a
outra, até o limite do loteamento. No Trecho 10, a área de preservação compreendida é de 19.133,43
m2 (8,75), destinada às áreas verdes. E no projeto de implantação do loteamento, foram
considerados lotes residenciais, vias de acesso (ruas, passeio de pedestres, etc.), áreas verdes e lazer
neste local. Contudo a somatória das APP dos trechos totalizaram uma área de 218.571 ,47m2, ou
seja, (100) da área do loteamento, enquanto que no projeto de implantação consideraram apenas
50.810,70m2, ou seja, (23,24) de áreas verde/lazer e áreas preservadas permanentemente.

126 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


CONCLUSÃO

Através dos resultados de identificação e quantificação das APP e análise dos conflitos de
ocupação do solo, pôde-se ver claramente que existe uma discrepância considerável de área a ser
preservada permanentemente, em torno de 36,52 da área total do Loteamento Parque dos Buritis I,
quase três vezes mais, previstas no projeto de implantação aprovado, que é de apenas 13,45. No
Loteamento Parque dos Buritis II, o fato não é diferente, 100 da área do Loteamento Parque dos
Buritis I é área de preservação permanente, sendo que foi considerado no projeto de implantação do
loteamento apenas 23,24 ou seja, quase quatro vezes a menos, em relação a este resultado. Desta
forma, concluiu-se que não se obedeceu a uma sequência dos procedimentos necessários, que
viabilizem para o sucesso do empreendimento, ou seja, não houve a aquisição adequada de dados
ou informações para o respectivo projeto de urbanização, a necessidade dos estudos das áreas
suficientes para serem implantados os empreendimento, ou seja, as áreas de preservação
permanente que foram consideradas no projeto de implantação são insuficiente para atender as
exigências previstas em leis.

REFERÊNCIAS

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urbanas utilizando a tecnologia SIG. Congresso Brasileiro de Cadastro Técnico Multifinalitário . UFSC
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Serviços Básicos e Habitação. (Subsecretaria de Habitação) -Informações obtidas em: abril de 2007,
neste órgão.

MAPEAMENTO DAS APP E ESTUDO DOS CONFLITOS DE OCUPAÇÃO DO SOLO NOS 127
LOTEAMENTOS PARQUE DOS BURITIS I E II, MANAUS-AM
ARTIGO 21
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E POLÍTICAS
PÚBLICAS: O CASO DA RESERVA UATUMÃ NO TRABALHO
DE MANEJO FLORESTAL DE PEQUENA ESCALA
Denise Cunha
Julio César Rodríguez Tello
Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM;
Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário,
Av. General Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o Governo Federal tem publicado Leis, Decretos, Resoluções, Instruções
Normativas e Normas de Execução para regulamentar os procedimentos técnicos e administrativos
para elaboração e avaliação de Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS). Atualmente, na esfera
federal, vigoram as Instruções Normativas do Ministério do Meio Ambiente nº 04 e nº 05, que
dispõem sobre procedimentos administrativos e técnicos para elaboração, apresentação, execução
e avaliação técnica de PMFS. No Amazonas, o Manejo Florestal está regulamentado por duas
Instruções Normativas Estaduais: a Instrução Normativa elaborada pela Secretária de Estado e
Desenvolvimento Sustentável (SDS), nº 005 de 26 de fevereiro de 2008, que dispõe sobre os
procedimentos técnicos para elaboração, apresentação, execução e avaliação técnica de Plano de
Manejo Florestal Sustentável, e a Instrução Normativa nº 002, de 11 de fevereiro de 2008, que aborda
o Plano de Manejo Florestal Sustentável de Pequena Escala (PMFSPE). Essa última sofreu alteração,
em 2010, nos seus Artigos 03 e 09. Tem-se presenciado um movimento de expansão a alternativa
para reduzir o processo acelerado de degradação ambiental devido à expansão da fronteira agrícola
e a exploração predatória de madeira. Além disso, os baixos preços dos produtos extrativistas, como
castanha e látex, têm levado as comunidades a buscarem formas alternativas de gerar renda
adicional aos seus sistemas de produção. Através de uma abordagem teórica, esta pesquisa visa
compreender a questão ambiental e social através do PMFSPE na Reserva de Desenvolvimento
Sustentável (RDS) Uatumã, distante da capital do Amazonas 243 km.

MATERIAL E MÉTODOS
Utilizou-se os procedimentos metodológicos e técnicos fundamentados da pesquisa
bibliográfica. A RDS Uatumã foi criada por meio do Decreto N° 24.295 de 25/06/04, com área total de
424.430 ha, abrangendo os municípios de São Sebastião do Uatumã e Itapiranga, nos Rios Uatumã e
Jatapú e seus afluentes.

RESULTADOS
A oferta de madeira legalizada é hoje um dos principais gargalos do setor florestal e madeireiro
na Amazônia. A irregularidade na oferta do produto legalizado limita o crescimento do setor e a
geração de emprego e renda para populações urbanas e ribeirinhas em diversos municípios do
Amazonas. As Unidades de Conservação de Uso Sustentável tem como missão fomentar a atividade
extrativista gerando renda e melhores condições de vida às suas populações residentes, tendo a

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E POLÍTICAS PÚBLICAS: O CASO DA RESERVA 129


UATUMÃ NO TRABALHO DE MANEJO FLORESTAL DE PEQUENA ESCALA
produção sustentável de madeira como um dos produtos com maior potencial de comercialização.
Entretanto, apenas a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá possui uma cadeia
de produção madeireira em funcionamento no Amazonas. Com objetivo de dinamizar a produção
sustentável de madeira na RDS do Uatumã, o Instituto de Conservação e Desenvolvimento
Sustentável do Amazonas (Idesam), iniciou em 2009 a elaboração de 14 Planos de Manejo Florestal
Sustentável de Pequena Escala (PMFSPE), visando extrair madeira de terra-firme através do manejo
comunitário. Os PMFSPE produzirão anualmente até 2.500 m³ de madeira processada e beneficiarão
diretamente 230 famílias de 14 comunidades da RDS, abastecendo os mercados consumidores locais
de São Sebastião do Uatumã, Itapiranga, Presidente Figueiredo e Manaus. Os PMFSPE da RDS do
Uatumã são os primeiros Planos de Manejo Florestal comunitários de terra-firme aprovados em
Unidade de Conservação do Estado do Amazonas. Eles foram elaborados pelo Idesam, em parceria
com a Associação Agroextrativista das Comunidades da RDS do Uatumã (AACRDSU), contando com
o apoio do CEUC/SDS e da Fundação Amazonas Sustentável – FAS. As vendas da madeira
comunitária ocorrem através da “Rodada de Negócios Sustentáveis da RDS do Uatumã”, desde o
início de 2010, que visa promover a comercialização de madeira com atestado de origem legal
oriundas dos PMFSPE das Comunidades da Reserva. O intuito principal do evento é buscar
condições transparentes e preço justo para a venda da madeira das comunidades da Reserva. Planos
de Manejo de até 500ha que permite a extração anual em metros cúbicos do total da área de manejo,
descontado as áreas de preservação permanente (APPs). Ou seja, uma área de 500ha de manejo,
descontando as Áreas de Preservação Permanente (APPs) fica, por exemplo, com 430ha, o que
permite a extração anual de 430m³ de madeira. O critério de sustentabilidade deste modelo de
manejo é estabelecido na forma de extração (baixo impacto na floresta com a retirada de poucas
árvores por hectare) e no momento da seleção das árvores que serão exploradas, onde para cada
árvore derrubada deve-se deixar na floresta outras duas árvores de menor diâmetro da mesma
espécie, garantindo a manutenção das espécies exploradas.

A importância da certificação do Manejo Florestal na RDS Uatumã


As principais justificativas da adoção de um processo de certificação estão na adequação das
áreas que serão exploradas aos princípios da sustentabilidade, o que garantiria maior confiança na
origem da madeira, as condições de serviço a que são submetidos os envolvidos, e a agregação de
valor aos produtos oriundos desse manejo. Por isso, passa a ser de relevante importância
principalmente para os pequenos proprietários, já que esses procedimentos podem redundar em
um acréscimo de renda, e, portanto, fundamental para proporcionar uma melhor qualidade de vida
em bases sustentáveis. De forma geral, sempre é melhor diversificar os mercados para: reduzir a
dependência de um comprador e aumentar a capacidade de negociação dos preços de venda da
madeira; garantir uma estabilidade, regularidade e continuidade da renda; reduzir o impacto
ambiental sobre a floresta; A garantia de estabilidade, regularidade e continuidade dos serviços e
renda oferecidos pela exploração do Plano de Manejo Florestal é o que chamamos de
"sustentabilidade do Plano de Manejo”. O Manejo Florestal praticado por pequenos produtores da
Amazônia, de forma coletiva ou individual, tem aumentado de forma acelerada. Vimos que vários
fatores têm contribuído para esta explosão de Manejo Florestal de pequena escala, entre os quais se
destacam:o aumento no rigor de fiscalização e controle ambiental, tornando o Manejo Florestal uma
alternativa de matéria prima legal; a internalização em agendas governamentais nos Estados de
ações de promoção e o apoio; as regulamentações específicas para o plano junto aos órgãos
ambientais e o interesse de financiamentos por parte da cooperação bilateral. Entretanto as
principais barreiras para consolidar o Manejo Florestal como alternativa para a conservação e o
desenvolvimento em áreas de pequenos produtores em Uatumã foi verificado: a) Burocracia para
implantação do Plano de Manejo - depois de elaborados o Plano de Manejo é protocolado no IPAAM

130 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


para abertura do processo de análise que segue os seguintes etapas: 1) o processo é encaminhado à
Gerência de Controle Florestal e Agropecuário – GCFA/IPAAM para atestar se o mapa está inserido
no Plano de Manejo; 2) o processo é encaminhado ao Laboratório de Geoprocessamento para
caracterização da área da propriedade e análise para verificar se há ou não sobreposição com terra
indígena ou unidade de conservação; 3) o processo retorna a GCFA/IPAAM para a verificação
documental e análise técnica; 4) estando o plano em conformidade com as exigências a GCFA/IPAAM
elabora uma minuta de Licença de Operação (LO) e Autorização da Colheita Florestal (ACOF). Não
estando em conformidade com as exigências do IPAAM o empreendedor é notificado para cumprir
as pendências identificadas; 5) a minuta é encaminhada para o Apoio da Diretoria Técnica – APDT
onde é elaborada a LO e ACOF (de acordo com o modelo do IPAAM) e encaminhada a Diretoria
Técnica – DT; 6) ao chegar à Diretoria Técnica é encaminhada a Presidência do IPAAM para assinatura;
7) após assinatura do Presidente a LO e ACOF retorna a Diretoria Técnica, onde é encaminhada ao
interessado. O IPAAM notifica que emitirá notificações para esclarecimentos ou solicitação de
documentos complementares para os candidatos que tenham dúvidas com relação aos documentos
e informações apresentadas. E o órgão posicionada que para evitar as notificações, é importante
atender a todas as normas da Instrução Normativa SDS/IPAAM 002/2008. c) assessoria técnica - Pela
complexidade na elaboração da aplicação do PMFSPE, visto no Capítulo II, o Governo do Estado do
Amazonas proporciona, prioritariamente, assistência técnica aos comunitários que desejam adotá-
lo, através do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Florestal do Instituto de
Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas – DATEF/IDAM. E de
forma complementar, a Agência de Desenvolvimento Sustentável, por meio da sua Direção de
Negócios Florestais – DINF/ADS, pode proporcionar assistência indireta para facilitar
comercialização da produção dos PMFSPE. O DATEF/IDAM, composto por engenheiros florestais e
técnicos florestais, atua nas seguintes linhas de assistência técnica voltadas ao produtor familiar rural
nas questões de: sensibilização à organização; capacitação; assistência técnica e extensão;
elaboração, acompanhamento e monitoramento dos PMFSPE. C.1) Capacitação - A RDS do Uatumã
participou, em 2008, do Programa de Capacitação em Manejo Florestal, criado pela Secretaria
Executiva Adjunta de Florestas e Extrativismo – SEAFE/SDS, como objetivo difundir e orientar os
comunitários, empreendedores florestais e gestores locais no Estado do Amazonas sobre o marco
regulatório da Gestão Florestal. Abordando temas como: desmatamento; Manejo Florestal; serviços
e produtos florestais; quais os benefícios sociais, ecológicos e econômicos do Manejo Florestal; quais
as técnicas do Manejo Florestal; uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI's); apresentação e
esclarecimento sobre as Instruções Normativas SDS/IPAAM. Segundo a SDS este programa visa
apresentar e discutir as leis, decretos e instruções normativas estaduais que disciplinam e regem a
utilização do recurso florestal madeireiro e não madeireiros. C.2) Regulamentação fundiária - A
Instrução Normativa (IN 001/09) para o licenciamento do Plano de Manejo Florestal Madeireiro em
Unidades de Conservação de Uso Sustentável do Amazonas foi publicada no diário oficial do Estado
do dia 3 de novembro. A construção desta IN teve início em dezembro do ano passado, quando,
logo após a aprovação do Plano de Gestão da RDS do Uatumã. Segundo o Idesam um dos entraves
estava na documentação fundiária exigida pelo órgão licenciador do Amazonas para o
licenciamento do Manejo Florestal. Como uma Unidade de Conservação de uso sustentável é criada
reconhecendo que os moradores tradicionais habitam terras do Estado, conclusivamente esses
moradores não possuem o título da terra já que as terras são públicas. Assim, para reconhecer o
direito de acesso ao uso sustentável dos recursos naturais, conforme prevê os objetivos das UCs de
uso sustentável e a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais previsto no Decreto 6.040 de 07 de fevereiro de 2007, era preciso rever a documentação

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E POLÍTICAS PÚBLICAS: O CASO DA RESERVA 131


UATUMÃ NO TRABALHO DE MANEJO FLORESTAL DE PEQUENA ESCALA
exigida para o licenciamento florestal do manejo praticado por moradores destas Unidades de
Conservação. A partir do questionamento um grupo de trabalho foi montado coordenado pela
Secretaria de Extrativismo e Floresta e o Centro Estadual de Unidades de Conservação (CEUC) da
Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS). A Instrução
Normativa publicada permite também que moradores de Unidades de Conservação pratiquem o
Manejo Florestal sob regime de manejo em UCs que ainda não tem o Plano de Gestão da UC
realizado. Com isso será possível que os moradores de UCs não interrompam seu modo de vida e
suas práticas extrativistas com a criação da UC.

CONCLUSÃO

Conforme a legislação ambiental vigente, no mínimo 80% da cobertura florestal ou outra forma
de vegetação nativa das propriedades rurais na Amazônia devem ser mantidos como área de
reserva legal (ARL). A lei permite a exploração econômica da ARL através de Plano de Manejo
Florestal Sustentável (PMFS ou PMFSPE). Sendo respeitada essa condição, é permitido implementar
um PMFS em pequena escala (PMFSPE) em áreas com superfície destinadas ao manejo inferior a 500
ha em propriedade titulada, concessão, posse ou uso, obedecendo aos critérios e à legislação
pertinentes, de acordo com o tipo de domínio sobre a área mediante a apresentação de
documentação fundiária. Neste trabalho vimos que o Plano Manejo Florestal Sustentável de Pequena
Escala (PMFSPE) na RDS Uatumã visa para viabilizar a cadeia de produção, beneficiamento e
comercialização da madeira manejada dos pequenos produtores/agroextrativistas. Agregando
assim, valor aos produtos e buscando atender o mercado local, regional, nacional e até internacional,
com madeira e produtos oriundos do Manejo Florestal Sustentável. Mesmo com toda a burocracia
inserida na Instrução Normativa 001, que simplifica os procedimentos de elaboração e execução do
Manejo Florestal Sustentável, os os pequenos produtores/agroextrativistas Uatumã buscam serem,
através de cursos de capacitação fornecidos pelo Governo do estado, inseridos nessa nova
modalidade. E pela parte governamental o Governo do Amazonas, pela criação da IN,
frequentemente passa por processo de revisão visando adapta-se à realidade local, o que ocasionou
a geração da Instrução Normativa SDS-IPAAM 002/2008, e que ainda continua recebendo alterações
para garantir a sua eficiência.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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132 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E POLÍTICAS PÚBLICAS: O CASO DA RESERVA 133


UATUMÃ NO TRABALHO DE MANEJO FLORESTAL DE PEQUENA ESCALA
ARTIGO 22
DIAGNÓSTICO EM GESTÃO AMBIENTAL NA
AQUICULTURA DO ESTADO DO AMAZONAS

Maria da Glória Correa do Nascimento


Engenheira de Pesca, Especialista em Gestão Amabiental Empresarial e Mestre em Ciências Pesqueiras
nos Trópicos. Atualmente é Docente da Universidade do Estado do Amazonas.

Julio César Rodríguez Tello


Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM;
Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus
Universitário, Av. General Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM,
jucerote@hotmail.com

Marle Angélica Villacorta Correa


Possui graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Biologia de Água Doce e Pesca Interior e
doutorado em Biologia de Água Doce e Pesca Interior. Atualmente é professora associada I da
Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

INTRODUÇÃO

Dentre os diversos seguimentos do setor aquícola (piscicultura, carcinicultura, malacocultura e outros) o setor
de piscicultura foi o que mais se desenvolveu no Amazonas. A piscicultura no estado do Amazonas vem sendo
praticada desde a década de 70, entretanto, ainda não é uma atividade amplamente difundida e consolidada nos
padrões de sustentabilidade. Observa-se que as características biográficas do Amazonas tornam a aquicultura, e
mais especificamente a piscicultura, uma atividade econômica com alto potencial de crescimento na região. As
espécies mais cultivadas são o tambaqui (Colossoma macropomum), o matrinxã (Brycon amazonicus) e o
pirarucu (Arapaima gigas). Salienta-se que o Governo Federal estimula a criação dos “Pólos de Aquicultura
Regionais”. Paralelamente, os Estados e Municípios incentivam a atividade por meio das Secretarias de Agricultura
e/ou Produção. Nos níveis federal e estadual ocorreram diversos programas de crédito especialmente destinados
ao desenvolvimento da aquicultura. Para obter sucesso com a atividade, o planejamento é condição primordial. O
planejamento deve considerar os agentes e/ou instituições responsáveis por cada uma das etapas da cadeia
produtiva. Deste modo, o planejamento deve envolver: pesquisas que gerem pacotes tecnológicos para as
espécies nativas, assistência técnica, estudos de comercialização e marketing, viabilidade econômica de forma
que possam proporcionar subsídios para as políticas públicas do setor. Neste contexto, o licenciamento ambiental
para a piscicultura é essencial para a adoção e execução de medidas preventivas e de controle adotadas nos
empreendimentos sejam compatíveis com o desenvolvimento sustentável. Esta pesquisa possui a finalidade de
descrever e analisar a gestão ambiental na aquicultura no Estado do Amazonas e a situação do licenciamento
ambiental dos empreendimentos aquícola.

MATERIAIS E MÉTODO
Utilizou-se o método de investigação exploratória, com adoção da pesquisa bibliográfica e documental, e
prática de campo. Foi realizada uma visita ao município de Rio Preto da Eva-AM para averiguar as experiências
locais na implantação de aquicultura. Posteriormente foi executada a coleta de informações para diagnosticar a

DIAGNÓSTICO EM GESTÃO AMBIENTAL NA AQUICULTURA DO ESTADO DO AMAZONAS 135


situação atual do setor aquícola do Estado do Amazonas junto ao Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas
(IPAAM), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Secretaria Especial
de Aquicultura e Pesca (SEAP) e Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas (IDAM).
Estes órgãos disponibilizaram as informações permitindo a comparação entre o número de empreendimentos
aquícola no estado do Amazonas. Foi efetuada a análise das informações por meio de planilhas de controle e
monitoramento.

RESULTADOS

No estado do Amazonas existem 570 empreendimentos de aquicultura a cadastrados no IPAAM, distribuídos


predominantemente 188 (32,98%) no município de Manaus, 32 (5.6%) Rio Preto da Eva, 22 (3.86%) Iranduba, 21
(3.68%) Itacoatiara, 28 (4.91%) Manacapuru, 26 (4.56%) Presidente Figueiredo, 49 (8,60%) Coari e 51 (8,95%)
Careiro.
Detectou-se que 428 dos empreendimentos são Viveiros de Barragem, 86 tanques convencionais, 28
tanque-rede e 09 em canal de igarapé, 14 em alvenaria e 05 aquários. Junto ao IBAMA e SEAP encontram-se
cadastrados 288 piscicultores. Enquanto no IDAM a estimativa para o ano de 2007 é que nas sub-regiões
amazonenses há 2.227 piscicultores comerciais e familiares, com financiamento dos bancos do Brasil, Basa e
AFEAM, sendo a maioria não licenciada. Na Gerência de Pesca do IPAAM estão cadastrados 713 processos, onde
570 (79,94%) são de aquicultura, 59 (8,27%) são relacionados à pesca esportiva e 84 (11,68%) estão em outras
classificações não específicas. Dos processos de aquicultura, apenas 134 possuem a Licença de Operação
fornecida pelo IPAAM, sendo que 68 aquicultores encontram-se com o processo de licenciamento em
andamento. A piscicultura na região Amazônica é influência por diversos fatores que culminam para a
implantação da atividade, mas que principalmente o fator disponibilidade de água nas propriedades é
determinante para atrair o empreendedor. Pela diversidade de vales, igarapés, rios e lagos, torna-se viável a
implementação de viveiros de barragem, tanques convencionais, tanque-rede, canal de Igarapé, tanques redes,
alvenaria e aquários para o setor aquícola. Observa-se que dos empreendimentos registrados na Gerência de
Pesca do IPAAM, uma maioria significativa (93,20%) possui classificação descrita como de pequeno porte, seguida
de empreendimentos de médio (4,25%) e grande (1,70%). Quanto número de aquicultores devidamente
regularizado é menor aos que atuam na clandestinidade, isto é, sem as devidas regras para a piscicultura
comprometendo o meio ambiente. A falta de integração juntos aos órgãos IPAAM, IBAMA, SEAP e IDAM
dificultando desenvolvimento da atividade na região comprometendo o ecossistema. A ausência de cadastro dos
aquicultores pode ser compreendido pela análise do perfil do aqüicultor, mediante ao levantamento junto ao
órgão que o coloca em grande maioria como um empreendedor de pequeno e médio porte, e onde os
empreendimentos não são tratados como principal meio de atividade. Onde os proprietários não se
interessariam por regulamentar a atividade, possivelmente por se tratar de um processo sem grande importância
para quem tem baixa perspectiva de lucro, e pratica a aquicultura empiricamente. O IPAAM é fundamental e tem a
grande responsabilidade quanto ao controle e a gestão ambiental no Amazonas, mas falta por parte das
entidades governamentais regionais um maior apoio com políticas públicas que visem a melhor estruturação do
órgão, para que o mesmo atue com condições reais em toda sua potencialidade, aplicando de forma mais efetiva
a suas atribuições. Na atual gestão de 2007 a piscicultura no Estado do Amazonas, pelas dificuldades no setor que
são: distancia para o empreendedor, situação fundiária, a dificuldade do acesso de assistência técnica e a
legislação vigente tem dificultado o desenvolvimento do setor aquícola.

CONCLUSÃO

Quanto às Leis não há incompatibilidade nas unidades de intenções das normas federais e estaduais. No
entanto, observa-se a ausência de maior especificidade e direcionamento das normas federais e estaduais nas
suas determinações legais. Há também carência de efetiva comunicação e disponibilidade de informação
aplicáveis ao setor aquícola. Quanto às competências, foram identificadas algumas responsabilidades
semelhantes entre órgãos (ex. IBAMA e IPAAM). É necessário definir com mais clareza e objetividade a esfera de
atuação de cada um deles para não esvaziar as responsabilidades de um em detrimento do outro. Melhorar o
sistema de informações sobre o setor aquícola, disponibilizando não somente as normas, mas também dados

136 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


científicos levantados em pesquisas realizadas na região. Incentivar a participação efetiva dos órgãos e entidades
que tem a responsabilidade de fiscalização e registro da aquicultura, e também quanto à efetividade da aplicação
das normas ambientais e leis que regulamentam a atividade. Incentivar a educação ambiental aos diversos atores
envolvidos não só na atividade aquícola. Isto permitirá que, gradativamente, os órgãos de fiscalização não sejam
vistos como repressores, mas sim parceiros na administração dos recursos naturais. A correta escolha das
tecnologias empregadas nas pisciculturas é essencial para o sucesso da atividade, além de evitar a eutrofização,
reduções da biodiversidade e outras perturbações ambientais. O desenvolvimento de técnicas de manejo é
fundamental para o desempenho econômico do sistema de cultivo e manutenção da qualidade ambiental,
justificando o investimento em material, pessoal capacitado e treinamento. A qualidade da água utilizada nos
empreendimentos deve ser previamente avaliada quanto aos aspectos físico-químicos e biológicos. Os
empreendimentos devem ser conduzidos de maneira a se conciliar com os interesses das comunidades locais que
dependem do ambiente onde estão inseridas. Para a escavação de viveiros, selecionar preferencialmente áreas
com solos impermeáveis, onde a perda de água por infiltração seja insignificante. Nos cultivos em tanques-rede
ou gaiolas devem ser considerados a capacidade de suporte do corpo dágua, a renovação da água, a
profundidade do local para a diluição dos metabólicos, o espaçamento entre as estruturas e o impacto visual do
empreendimento. Na fase de instalação e operação, busca-se assegurar que os projetos estejam dispostos de
forma harmônica com o ecossistema e com o conjunto social predominante do entorno, utilizando métodos que
sejam apropriados às condições locais e promovam a preservação ambiental. Na instalação dos tanques-rede,
devem ser observados o posicionamento e a distância entre os mesmos, com vistas ao máximo aproveitamento
do fluxo natural da água e a manutenção das demais atividades usuárias do corpo hídrico. A busca de alimentos e
práticas de manejo eficientes é essencial para manutenção do ambiente de cultivo e meio adjacente, pois estes
procedimentos asseguram melhores condições para o sistema produtivo, ao mesmo tempo em que reduzem a
carga de resíduos sólidos e líquidos gerados pela atividade. Deve ser implantado um sistema sanitário preventivo,
visando assegurar a saúde dos peixes criados, através de medidas rigorosas, evitando a introdução de
enfermidades nas instalações das pisciculturas. Tais mecanismos beneficiam o meio ambiente, protegem o
consumidor e possibilitam que a atividade tenha condições de obter êxito econômico. O Amazonas ainda é muito
deficiente quanto ao licenciamento e fiscalização dos processos ambientais para a legalização da piscicultura,
necessitando urgentemente de ações concretas para o ordenamento e regularização da atividade.

REFERÊNCIAS

DIEGUES, A. C. Para uma Aqüicultura Sustentável do Brasil. NUPAUB/USP.Artigos nº. 3, São Paulo, 2006.
FREITAS, C. E. C. Recursos Pesqueiros Amazônicos: Status Atual da Exploração e Perspectivas de
Desenvolvimento do Extrativismo e da Piscicultura. Manaus, 18p. 2004,
SAINT-PAUL, U. Potential for aquaculture of South American freshwater fishes: a review. Aquaculture, 54:205-
240, 1986.

DIAGNÓSTICO EM GESTÃO AMBIENTAL NA AQUICULTURA DO ESTADO DO AMAZONAS 137


CAPÍTULO

4
Diagnóstico e Planejamento
Turístico Empresarial
ARTIGO 23
O TURISMO CIENTÍFICO NA AMAZÔNIA: UM ESTUDO
DAS OPORTUNIDADES, NECESSIDADES E
POTENCIALIDADES PARA A CIDADE DE MANAUS-AM

Johanny Araújo Andrade


Possui graduação em Licenciatura em Ciências, Especialista em Educação para o Desenvolvimento Sustentável
na Amazônia, Mestre em Ciências Florestais e Ambientais. Atualmente é Professora da Secretaria Municipal de
Educação-SEMED.

Julio César Rodríguez Tello


Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM; Programa
de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário, Av. General
Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

INTRODUÇÃO

A crescente demanda das atividades desenvolvidas no setor turístico é fruto da sociedade


industrial e das conquistas sociais. Dada as suas características, o turismo pode ser considerado um
redistribuidor
de renda, isto é, movimenta dinheiro em várias direções, durante toda a estada do turista. Dessa
forma, ocorre um efeito multiplicador que se caracteriza pela entrada de capital (dinheiro) nacional
ou estrangeiro num país ou região, produzindo riqueza, aumentando consumo e produção devido
às novas necessidades de produtos e serviços criadas pelo turismo. As atividades turísticas podem
ser classificadas basicamente como turismo de massa ou convencional e turismo alternativo. Tendo
como referência a natureza do atrativo ao turista, a atividade turística ganhou outras dimensões,
dando origem a várias ramificações ou denominações, tais como: turismo rural, ecoturismo, turismo
de natureza, turismo de aventura, turismo científico entre outras modalidades. Dentre estas, tem-se
como uma das mais recentes o turismo científico, entendido como “o tipo de turismo constituído por
pessoas que se deslocam com o objeto de se auto-educar ou melhorar seu horizonte pessoal através
da participação em acontecimentos ou visitas à ambientes de alto valor turístico e cultural. Devido o
crescimento da atividade turística na cidade de Manaus e ainda, o fato desta está encravada em
plena floresta amazônica, a qual é foco de clamor mundial por sua preservação, deve-se ter em
conta preocupações com a preservação de seus recursos naturais, compreendendo a dinâmica das
relações da natureza, respeitando seus limites, conservando e preservando determinadas áreas. A
presente pesquisa se propõe a discutir as oportunidades para a efetiva implantação do turismo
científico na cidade de Manaus, avaliando suas potencialidades e suas limitações.

O TURISMO CIENTÍFICO NA AMAZÔNIA: UM ESTUDO DAS OPORTUNIDADES, 141


NECESSIDADES E POTENCIALIDADES PARA A CIDADE DE MANAUS-AM
MATERIAL E MÉTODO

A pesquisa caracteriza-se como qualitativa descritiva e dedutiva, com investigação bibliográfica e


documental. Identificou-se os potenciais históricos e naturais existentes na cidade de Manaus-AM. A
fim de levantar as potencialidades institucionais e naturais para a implantação do turismo científico,
buscou-se junto aos Órgãos Estadual e Municipal de Turismo os principais pontos de visitas pelos
turistas, fazendo assim uma triagem apenas dos locais com potenciais para o turismo científico.
Quanto às potencialidades naturais, o levantamento destas se deram também a partir da análise de
documentos oficiais cedidos pelo Órgão Estadual de Meio Ambiente. Entrevistou-se às seguintes
representações sociais: gestores dos órgãos oficiais de turismo, pesquisadores Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia - INPA e da Universidade Federal do Amazonas - UFAM e gerentes de
empresas turísticas. A entrevista realizada com as representações sociais foi do tipo aberta. A seleção
dos entrevistados se deu no âmbito de um grupo de pessoas as quais podem ser chamadas
genericamente de “formadores públicos de opinião” em relação a questão. Sendo assim, o perfil de
cada entrevistado foi traçado a partir de sua história de trabalho temática ambiental e turística. Foram
escolhidas quatro instituições: UFAM, INPA e órgãos oficiais de turismo. A escolha destas se deu por
serem órgãos e instituições que podem contribuir com a temática em questão. A empresa turística
entrevistada foi escolhida de forma aleatória. As entrevistas seguiram o princípio da saturação. Por
fim, fez-se um esboço de um plano de negócio para a implantação do turismo científico na cidade de
Manaus valendo-se da união dos dados coletados, entrevistas e dados oficiais.

RESULTADOS

O turismo científico aqui discutido apresenta-se como um tipo de atividade voltada para pessoas
se deslocam com o objeto de se auto educar ou melhorar seu horizonte pessoal através da
participação em acontecimentos ou visitas à ambientes de alto valor cultural e turístico. Em se
tratando das questões culturais e turísticas, a cidade de Manaus, apresenta os requisitos básicos para
o sucesso desta modalidade. Além da sua riqueza em biodiversidade a cidade disponibiliza de uma
série de atrações turísticas voltadas a este setor. Pode-se evidenciar também a presença de
comunidades indígenas inseridas tanto na zona urbana quanto na zona rural, assim como a
aproximação e facilidade de deslocamento para algumas Unidades de Conservação. O turismo
científico como toda e qualquer atividade econômica apresenta seus pontos positivos e negativos,
grandes e pequenos impactos, os quais podem ser amenizados de acordo com o planejamento
proposto. O turismo não é um produto exportável, porém é aceito como se fosse, por exemplo: o
turista que ingressa a Manaus, troca seus dólares por reais, se hospeda em hotel de luxo, faz suas
refeições em restaurantes de primeira linha, vai a parques, reservas, órgãos e instituições ambientais
enfim, consome os diversos produtos e serviços colocados a sua disposição ao retornar ao seu país
de origem, estará levando lembranças de satisfação atendidas aos chamados benefícios
“psicológicos” os quais revitalizarão suas energias para assumir responsabilidades no seu dia-dia-
normal. É como se em sua bagagem tivessem sido incluídos todos aqueles produtos e serviços
consumidos na cidade de Manaus. Os entrevistados destacaram o seguinte: a) Pontos que mais
gostam na cidade de Manaus: Centros culturais, Igarapé do Mindu, Prosamim, Unidades de
Conservação, Reserva Adolpho Ducke, Parque dos Bilhares. Vale destacar que apenas uma
representação social respondeu não gostar de nada, justificando o caos da devastação ambiental; b)
Ações de melhoria para os pontos mencionados anteriormente: Construção de estações de
tratamento de esgoto, implementação de políticas públicas para melhorar as condições ambientais

142 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


tanto do Parque do Mindu quanto no Parque dos Bilhares, construção de novas vias uma vez que a
cidade está virando um caos urbano. Ações educativas como palestras também foram mencionadas
com intuito de sensibilizar e conscientizar a população local e também capacitar e qualificar agentes
ambientais, melhorar os planos de manejo e por fim melhorar a fiscalização de equipamentos, entre
outros. As Ações de educação ambiental resgatariam estes ambientes degradados; c) O que menos
Gosta na cidade de Manaus?: - “Atendimento ao cliente, por pessoas desqualificadas em todos os
setores comerciais;” - Invasão dos camelôs e ocupação ilegal do espaço publico, - Desmatamento
desordenado, - Lixo nos pontos turísticos como a orla da cidade e encontro das águas, - Crescimento
populacional desordenado, - o rendimento da população manauara a forma absurda a todas as
práticas ao meio ambiente, deformando a cidade; d) Importância dos fragmentos de florestas
próximos as áreas urbanas: - aproximação das pessoas com a natureza, - serviços prestados pro eles
como amenizam o calor da cidade; e) Locais que mais chamam atenção em relação à paisagem,
beleza cênica e obras: - Ponta negra limpa, - Áreas de Proteção Ambiental, encontro das águas,
Reserva Ducke, Porto de Manaus, trilhas do Parque Municipal do Mindu, Teatro Amazonas e
Mercado Adolpho Lisboa, - Colégio Estadual, Alfândega, Matriz, Praça do Itamaracá, - Campus da
UFAM, - Não Há beleza cênica, há uma predominância absurda de estrangeiros comandando o
turismo na Amazônia; f ) Estado de conservação do (s) local (ais) apontados anteriormente: - Apenas
em relação à Ponta Negra, esta encontra-se em um ótimo estado de conservação um a vez que está
limpa; - Campus da UFAM, em boas condições físicas e ambientais; g) Avaliação da prestação de
serviços aos visitantes na cidade: A AMAZONASTUR tem trabalhado no desenvolvimento de
projetos que visam a sensibilização e capacitação de pessoas já inseridas na cadeia produtiva e de
acadêmicos que farão parte deste mercado. Enfatizamos que esta ação não devam ser exclusiva da
iniciativa pública e que o trade turístico tem seu papel essencial na formação dos seus colaboradores.
Sugestões apresentadas pelas representações sócias para melhorar a atividade turística no município
de Manaus são: Primeiramente na melhoria do cartão postal da cidade, orla e encontro das águas,
com criação de infraestrutura adequada ao turista. Manutenção de equipamentos das Unidades de
Conservação, com ações voltadas para a qualificação do atendimento nos serviços prestados pela
atividade turística; Criar novas atividades como passeios de barco a vela, atividades aquáticas;
Melhorar os investimentos em educação, planejamento publico; Planejar o território
cientificamente; Fazer um estudo sobre o que o turista quer ver; Projetar-se aos países para verificar
o que eles esperam da Amazônia; Realizar palestras de conscientização, treinamento da população
a esse tipo de atividade e incentivos financeiros. O Plano para o Desenvolvimento do Turismo
Científico na cidade de Manaus ou Plano Diretor para o Turismo Científico para a cidade de Manaus
deve conter as seguintes etapas: 1. Construir um inventário da oferta turística; 2. Construir um
inventário da demanda turística; 3. Fazer diagnóstico sobre a reflexão e compreensão da situação
turística do município de Manaus, para assim adequá-la ao turismo cientifico; 4. Elaborar as metas-
fins com que se encaminham ações ou as principais variáveis que se devem enfatizar; 5. Elaborar os
objetivos – aquilo que se pretende alcançar; 6. Elaborar as estratégias- a forma de como se deve
conduzir as atividades de como alcançar satisfatoriamente os objetivos fixados; e, 7. Elaborar as
diretrizes – guia de ações a serem seguidas, definindo-as em curto, médio e longo prazo de
aplicações. O Processo de Desenvolvimento das Etapas é o seguinte: - preparação do material para a
coleta de dados - fazer estudo da oferta turística e demanda turística aplicar questionário; -
elaboração de um banco de dados em programa de computador; - treinamento dos alunos para
aplicação dos questionários; - coleta, cadastramento e organização dos dados de oferta; - -
quantificação e qualificação da demanda turística; - elaboração de relatórios sobre a cidade de
Manaus envolvido por professores e/ou pesquisadores; - trabalho de conscientização e

O TURISMO CIENTÍFICO NA AMAZÔNIA: UM ESTUDO DAS OPORTUNIDADES, 143


NECESSIDADES E POTENCIALIDADES PARA A CIDADE DE MANAUS-AM
sensibilização pelos professores e pesquisadores a agente ambientais multiplicadores da cidade; -
elaboração de uma pesquisa de opinião para a população local; - treinamento dos alunos da rede
escolar local para a aplicação da pesquisa de opinião; - tabulação e análise dos dados desta pesquisa;
- elaboração do diagnóstico; - definição das metas, objetivos, estratégias e diretrizes para o plano; e,
- redação final.

CONCLUSÕES

Os projetos de turismo devem ser estruturados para atrair viajantes cientistas que reconhecem
seus papeis enquanto preservacionistas e estão dispostos a fornecer incentivos econômicos para a
proteção
destas riquezas. Esse tipo de turista estará disposto a abster-se do luxo, conforto e comodidade
dispendiosa do comércio turístico de massa, para vivenciar experiência autenticamente naturais que
se tornam cada vez mais raras. Os turistas Cientistas “pesquisadores”, “estudantes” devem ser
informados ao invés de entretidos; educados em vez de recreados. Turistas e grupos de turistas
devem ser gentilmente administrados de acordo com as necessidades dos recursos naturais e
necessidades dos anseios da população local. Os gestores do turismo, por ocuparem cargos
estratégicos, têm obrigação de educar seus clientes. Os governos quanto os grupos nacionais de
conservação devem apoiar ativamente a população local no turismo cientifico. Isto inclui apoio legal
e financeiro e a criação de um canal de comunicação entre a organização em nível local e os sistemas
do governo federal. Investidores e operadores turísticos conscientes. Os operadores turísticos que
oferecem destinos “Científicos” devem trabalhar por intermédio das comunidades, instituições de
ensino e pesquisa e estruturas locais de turismo. Os guias de excursões devem ter pleno
conhecimento cientifico da vida e ecologia da região e devem incorporando componentes
educacionais ao seu trabalho. Eles devem estimular os visitantes a comprar objetos dos santuários e
fazer com que eles saibam como apoiar e contribuir para a conservação de qualquer local que
visitem. Os investidores estrangeiros devem ser estimulados a aplicar recursos nos projetos voltados
ao turismo científico baseados na comunidade, como sócios igualitários ou investidores locais. Um
investidor estrangeiro que demonstra interesse em ter um povoado como seu sócio pode apresentar
seu projeto a vários povoados; seu objetivo pode ser, por exemplo, a construção de um hotel, e
posteriormente, sua venda a uma cooperativa do povoado.

REFERENCIAS

CRUZ, Rita de Cassia; Introdução à Geografia do Turismo. Rocco, São Paulo, 2001.
LINDBERG, Kreg, HAWKINS Donald E. Ecoturismo: Um Guia de Planejamento e Gestão, 3ª Ed.
Editora SENAC – SP. São Paulo, 1995.

144 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


ARTIGO 24
PERCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL DOS VISITANTES DO
MUNICÍPIO DE PRESIDENTE FIGUEIREDO-AM: BASE
PARA O PLANEJAMENTO DO ECOTURISMO

Julio César Rodríguez Tello


Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM; Programa
de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário, Av. General
Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

Josiane Alves de Sousa


Administradora, discente do Curso de Especialização em Gestão Ambiental Empresarial – UFAM,
josysousa235@yahoo.com.br

Renata Lima Pimentel


Biológa, Discente do Curso de Especialização em Gestão Ambiental Empresarial e do Mestrado de Ciências
Florestais e Ambientais – UFAM, renataluc_lp@yahoo.com.br.

INTRODUÇÃO

O turismo é considerado um sistema composto por partes distintas que integram um todo
organizado. Essas partes são os subsistemas: ecológico, social, econômico e cultural. No turismo
sugere-se uma abordagem transdisciplinar das partes envolvidas, sendo, muitas vezes, o maior
desafio para gestores desse setor. Conhecer o perfil e a motivação dos visitantes é importante, pois
favorece a compreensão dos desejos destes turistas. Esta compreensão permite as cidades, estados e
capitais, prepararem uma melhor recepção e estadia dos mesmos. O ecoturista interessa-se pelo
destino que pretende visitar e pesquisa sobre ele. Não só com relação aos pacotes turísticos
existentes, mas sobre outros aspectos ligados ao meio ambiente como geografia, clima, ciclos da
chuva, população, etc. Dentre a segmentação turística, destaca-se o ecoturismo, que configura-se
como um segmento do turismo de melhor rentabilidade em todo o mundo, pois vem despertando o
interesse crescente tanto nos países desenvolvidos, como nos países em desenvolvimento, sendo
considerada uma alternativa de desenvolvimento sustentável, principalmente para ambientes
frágeis, exóticos como a Amazônia (SEABRA, 2004). O Ecoturismo é atualmente uma das atividades
econômicas que mais têm crescido no mundo, surgindo como alternativa de uso múltiplo da floresta,
de conservação da natureza e de valorização das populações humanas e das culturas locais. O
grande desafio está em desenvolver esta atividade com responsabilidade social, econômica e
ecológica, envolvendo as comunidades e transformando-as em beneficiárias da conservação da
natureza através da participação direta na gestão dos recursos naturais. Qualquer planejamento
para ser elaborado, precisa ser integrado com as comunidades locais, ter uma conotação ambiental
multidisciplinar, ser bem dimensionado, flexível e possuir uma visão participativa de acordo com a

PERCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL DOS VISITANTES DO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE 145


FIGUEIREDO-AM: BASE PARA O PLANEJAMENTO DO ECOTURISMO
cultura e a realidade do local. No mercado turístico em geral, as vantagens comparativas são
fortemente determinadas pela diversidade de características dos destinos. Dispor de um elenco
variado de atrativos turísticos favorece o desenvolvimento do setor, além de atrair mais visitantes
para a área que tem atributos turísticos. Logo, o mercado turístico brasileiro apresenta significativa
diversidade de destinos, dentro desse contexto, encontra-se o município de Presidente Figueiredo
que apresenta-se com potencial turístico elevado por suas belezas naturais. A mudança de
comportamento das populações frente ao ecoturismo exige a tomada de decisões orientadas a
elaborar e implementar políticas e estratégias adequadas para enfrentar com êxito os diferentes
aspectos relacionados com esta nova forma de desenvolvimento e conservação. Este trabalho tem
um caráter multidisciplinar e busca envolver as comunidades e setores da sociedade local no
processo de executar de diretrizes que incorpore os conhecimentos tradicionais à filosofia do
Ecoturismo. Espera-se, portanto diagnosticar as reais potencialidades de turismo no município em
função de suas características peculiares de paisagens cênicas. Com relação ao uso indireto da
floresta, considerando o Ecoturismo pode ser uma atividade expressiva nas políticas de
desenvolvimento dos municípios. Atualmente o stress urbano, a destruição e a alteração da natureza
fazem com que cada vez mais os cidadãos de nossas cidades das mais variadas classes sociais
procurem formas de recomposição física e mental em áreas rurais e silvestres.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado no município de Presidente Figueiredo com população estimada de


27.175 habitantes (IBGE, 2012). O clima da região, segundo a classificação de Köppen (1948) o clima
é quente e úmido, característico das Florestas Tropical. Apresenta relevante potencial ecoturístico por
abrigar mais de cem cachoeiras dentro da floresta amazônica, cinco sítios arqueológicos e nove
cavernas (abertas a visitação turística). Nota-se que o município apresenta razoável infraestrutura
básica e de serviços, além do fácil acesso pela BR 174. Procurou-se desenvolver atividades que
permitam demonstrar a validade dos conceitos e métodos do Ecoturismo como alternativa para o
desenvolvimento em bases compatíveis com a utilização racional dos recursos naturais do município.
Na coleta das informações foi utilizada a metodologia participativa, integrando comunidade
sociedade e pesquisador. O delineamento e desenho das alternativas foram provenientes da
participação direta da população do local pesquisado. A avaliação das características biofísicas e
paisagísticas dos ambientes estudados, assim como os históricos e sociais relevantes foram
levantados através de pesquisa bibliográfica e de campo. O perfil dos residentes e dos visitantes do
local foi elaborado com os dados levantados através de questionários com perguntas
semiestruturadas adequadas para esse fim. Como instrumento de educação para o ecoturismo no
município, foi aplicado um seminário visando discutir com a sociedade local a maneira adequada de
valorizar e preservar a cultura tradicional e a biodiversidade existente dos ecossistemas
representativos da área. Assim como, analisar as possíveis influências do ecoturismo no Município
considerando os danos ambientais, as mudanças culturais e agregação de valor à paisagem.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A renda individual e familiar dos visitantes do município corresponde numa renda razoável com,
assim pessoas com condições econômica estáveis normalmente procuram opções de lazer com
infraestrutura e serviços de boa qualidade, além de prezar o conforto. O nível de escolaridade dos
visitantes reflete diretamente na renda dos mesmos, pois a maioria cursou o ensino superior.

146 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


Identificou-se que a maioria dos visitantes entrevistados vem ao município com frequência, essa
verificação demonstra que existe uma porcentagem bastante elevada de turistas reais para a cidade
de Presidente Figueiredo, devendo as autoridades competentes trabalhar no plano de
desenvolvimento turístico, para permitir maiores e melhores opções recreativas para satisfazer as
demandas reais e atrair outros turistas. Entretanto, esse planejamento deverá ser feito após o
conhecimento das características ecológicas dos ecossistemas e seus atrativos e da participação
consciente da sociedade civil e suas organizações naturais. A forma mais utilizada de divulgação do
município é a informal, logo, verifica-se que esse tipo de divulgação no turismo funciona, porém se
houvesse uma gestão mais capacitada que promovesse uma publicidade mais efetiva poderia
alavancar o turismo local. As razões mais citadas pelos visitantes ao procurar o município como
refúgio nas horas de descanso são os pontos turísticos que apresenta paisagens exuberantes e o
contato direto com a natureza (Fig. 1).

Figura 1. Motivos que os visitantes têm para procurar o município de


Presidente Figueiredo como cidade turística.

Os gastos nas atividades recreativas são relativamente baixo devido às mesmas serem
desenvolvidas em sua maioria no meio natural, não implicando maiores desembolsos para o turista.
Relacionado à visitação em ambientes naturais com a causa e efeito de impactos, sendo positivo ou
negativo para o meio ambiente a maioria dos turistas não sabia ou não entendia o significado de
impacto ambiental. Assim, a interpretação ambiental não acontece entre visitante e meio, pois
Oltremari Orregui (1993) cita que esta relação fornece ao visitante uma ideia real e precisa dos
processos ecológicos que ocorrem no local. Logo, a perda da biodiversidade nos habitats naturais é
ocasionada muitas das vezes pelos próprios moradores, incluindo também os visitantes que não
recebem nenhum tipo de orientação quanto à importância de manter dos recursos naturais
conservados para a melhor qualidade de vida da sociedade. Como sugestões os visitantes mais uma
vez ressaltaram a importância de melhorar a infraestrutura, a qualidade dos serviços, desenvolver
educação ambiental para residentes e turistas, assim como divulgação do local e dos eventos,
disponibilizar guias, trilhas, museus e biblioteca e finalmente melhorar a animação e segurança para
turistas. No município existem comunidades tradicionais que demonstram o interesse pelo trabalho
organizado e a simpatia pela realização da atividade de ecoturismo. Entretanto, os objetivos e as
ações dessas comunidades, não estão direcionados à valorização dos aspectos culturais e históricos

PERCEPÇÃO SOCIOAMBIENTAL DOS VISITANTES DO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE 147


FIGUEIREDO-AM: BASE PARA O PLANEJAMENTO DO ECOTURISMO
da região, além disso, a gestão do município não incentiva a prática dessa atividade. Seria muito
interessante organizar um nível de trabalho, junto às associações comunitárias em parceria com a
prefeitura municipal no sentido da gestão ecoturística, de alguns recursos naturais que permitiriam
uma valiosa experiência no planejamento participativo e geração de produtos ecoturísticos com
criatividade e com selo de qualidade. No seminário realizado com os líderes comunitários como
parte do projeto, os palestrantes e representantes das comunidades propuseram a criação de um
centro de informação para os visitantes com uma infraestrutura adequada.

CONCLUSÃO

As diretrizes para o desenvolvimento do ecoturismo em Presidente Figueiredo não devem ficar


apenas em declarações de princípios ou meramente num esforço coletivo, elas deverão passar a
formar parte das políticas públicas na gestão do município. Com os diferentes levantamentos
realizados verificaram-se que existe uma gama de variedade de recursos naturais com singulares
características, podendo, estes subsidiar produtos que a serem trabalhados para seu respectivo
engajamento no processo ecoturístico local, além de instigar mais recurso financeiro através dos
visitantes que buscam o município como refúgio na natureza, não se opondo a consumir o
necessário desde que seja oferecida qualidade nos serviços básicos. Deverá ser elaborada uma
metodologia ajustada ao processo de monitoramento das atividades ecoturísticas, buscando o
zoneamento dos atrativos ecoturísticos é de suma importância para restringir o uso dos mesmos,
quando são detectadas interferências que podem trazer consequências ambientais irreversíveis para
as comunidades. O levantamento dos impactos e das restrições ao uso de determinados recursos ou
áreas é de grande importância e deverá ser realizada com uma equipe multidisciplinar. Pois, essas
informações podem auxiliar os gestores a estabelecer os requisitos de qualidade dos produtos
ecoturísticos. É importante fomentar a prática do ecoturismo autossustentável e de base comunitária
apresentando preocupação social, ambiental e cultural. Finalmente recomenda-se às autoridades
municipais mais preocupação para melhorar a infraestrutura e os serviços na cidade e nas
comunidades para elevar o fluxo de turistas que almejam a conservação da natureza com bem-estar
social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

IBGE 2010. Disponível em:


<http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/populacao.php?lang=&codmun=130353&search=am
azonas|presidente-figueiredo|infograficos:-evolucao-populacional-e-piramide-etaria> Acesso em:
24 de Fev. de 2014.
KÖPPEN, W. 1948. Climatologia: con un estudio de los climas de la tierra. Fondo de Cultura
Econômica. México. 479pp.
OLTREMARI ARREGUI, J. El turismo en los parques nacionales y otras áreas protegidas de América
Latina. Santiago, Chile: FAO; PNUMA, 1993.
SEABRA, Giovani de Farias. Ecos do turismo: o turismo ecológico em áreas protegidas. Campinas:
Papirus, 2001.

148 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


ARTIGO 25
BASES PARA UMA GESTÃO INTEGRADA DO ECOTURISMO
NAS COMUNIDADES DE JANAUARY, PARICATUBA E
ACAJATUBA, NO MUNICÍPIO DE IRANDUBA/AM

Oreni Campêlo Braga da Silva


Formada em administração e ecoturismo, mestre em gestão ambiental.
Presidente da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas – Amazonastur
Julio César Rodríguez Tello
Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM;
Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário,
Av. General Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

INTRODUÇÃO

A degradação do meio ambiente é um problema transfronteiriço e afeta todas as formas de vida


do globo. Sua proteção é prioridade de todas as nações do mundo, sobretudo, das nações
economicamente mais desenvolvidas, que são comprovadamente, as que mais degradam o planeta.
A proteção do meio ambiente tem se tornado uma questão de sobrevivência. A legislação ambiental
brasileira dispõe de alguns instrumentos à disposição do Poder Público e da sociedade na proteção e
conservação do meio ambiente, porém não são suficientes para conter as desmedidas agressões.
Lamentavelmente, no Brasil, a proteção do meio ambiente não recebe do Poder Público a atenção
pretendida pela Carta Magna de 1988. Para os governos, seja federal, estadual ou municipal, as
prioridades mais urgentes, geralmente são de cunho econômico, omitindo, na maioria das vezes, a
preocupação com as questões ambientais. Nesse caso, a coletividade, mesmo apontando a
necessidade de um maior controle no uso dos recursos naturais ou na administração adequada do
espaço natural para a implantação de atividades predatórias como a mineração, agropecuária ou na
abertura de estradas, tem suas dificuldades em reivindicar e agir efetivamente. Porém, surgem
algumas alternativas que permitem o uso desses recursos naturais de forma racional, protegendo
assim, o meio ambiente. Além dessas alternativas, atividades econômicas sustentáveis estão
permitindo a manutenção dos recursos, sejam naturais ou culturais, e uma dessas atividades é o
Ecoturismo.

MATERIAIS E MÉTODOS

A localização geográfica do Município de Iranduba é diferenciada, pois situa-se entre dois


grandes rios: Negro e Amazonas. O acesso ao Município é feito por intermédio de balsas pelo rio
Negro. Encontra-se distante de Manaus 13 Km por via rodoviária e 32 Km por via fluvial. A área
territorial é de 2.354 Km2, representado 0,14 da área do Estado.
Comunidade de acajatuba - Encontra-se situada a uma longitude de 600 31' 52" W e a latitude de
030 07' 44" S, estando a uma altitude de 45m, a Comunidade de Acajatuba está localizada no

BASES PARA UMA GESTÃO INTEGRADA DO ECOTURISMO NAS COMUNIDADES DE 149


JANAUARY, PARICATUBA E ACAJATUBA, NO MUNICÍPIO DE IRANDUBA/AM
Município de Iranduba AM. Acajatuba é uma pequena comunidade situada à margem direita do Rio
Negro, aproximadamente duas horas de Manaus, via fluvial.
Comunidade de Janauary - Situada na longitude de 60° 01' 99" W e a latitude de 03° 12' 80" S,
estando a uma altitude de 85m, a Comunidade de Janauary, está localizada no Município de
Iranduba AM. Janauary é uma pequena comunidade situada à margem direita do Rio Negro, a
aproximadamente duas horas de Manaus, via fluvial.
Comunidade de Paricatuba - Situada a uma longitude de 60014' 55" W e a latitude de 030 04' 96"
S, estando a uma altitude de 50m, a Comunidade de Paricatuba, está localizada no Município de
Iranduba AM. Paricatuba é uma pequena comunidade situada à margem direita do Rio Negro, a
aproximadamente duas horas de Manaus, via fluvial; e a 32 Km da outra margem do rio Cacau
Pereira, com 22 Km de asfalto e 10 Km de estrada piçarrada. As terras de Paricatuba (692 ha)
pertencem à União para projeto de assentamento de ex-hansenianos há mais de dez anos. Hoje
quase não há mais hansenianos na comunidade, apenas seus descendentes.
A presente pesquisa foi dividida em duas etapas. A primeira correspondendo ao levantamento
bibliográfico e a segunda etapa constitui no trabalho de campo, iniciando-se com a aplicação de
questionários e a realização de entrevistas. A pesquisa bibliográfica foi desenvolvida a partir de
material elaborado anteriormente, constituído principalmente de livros e artigos científicos, além do
levantamento de referências publicadas em meios eletrônicos, como páginas da Internet, conforme
Gil, (1989) e Becker, (2003). Já Dencker, (1998) afirma que este tipo de pesquisa possibilita um grau de
amplitude maior, economia de tempo e levantamento de dados históricos. Na área de turismo, o
estudo de caso é praticado por meio de um trabalho de campo. Uma das características da pesquisa
de campo é a análise descritiva de tudo que está sendo registrado, levando a considerar, de todos os
ângulos, que todos os depoimentos examinados (escritos, filmados, gravados) serão apresentados
sob a forma de transcrições ou reproduções impressas que permitam uma avaliação completa e um
entendimento global do que está sendo estudado. O autor também reforça que no estudo de campo
se a situação analisada envolve duas ou mais unidades de estudo, considera-se um estudo de casos
múltiplos.

RESULTADOS

As pessoas consideradas nativas na comunidade de Acajatuba encontraram-se apresentadas


por 60 dos moradores. Segundo a Dona Maria de Nazaré Ferreira da Silva, nascida e criada em
Acajatuba, a qual tem seu pai como fundador da Comunidade, a maioria dos moradores ainda é
nativa e as famílias insistem em manter as tradições locais criando os seus descendentes em
Acajatuba. Sendo assim, as pessoas oriundas de outras localidades totalizam 40 dos entrevistados.
Em Janauary, os nativos fizeram-se representar pelo percentual de 90, e as pessoas oriundas de
outros locais totalizaram 10 dos entrevistados. Entrevistamos um nativo da Comunidade, o SR.
Deocleciano da Silva que nos informou da importância em manter os descendentes morando no
local. Para ele isso mantém as tradições locais e faz com que os valores culturais da Comunidade
sejam preservados. Por isso, o percentual de nativos é bastante expressivo. Já na comunidade de
Paricatuba, o percentual de nativos foi representado por 60 e as pessoas de outros locais foi de 40 dos
entrevistados. Ao entrevistar o Sr. Francisco Lima aposentado, o mesmo está morando em Paricatuba
há 07 anos, em função da filha já encontrar-se morando naquela Comunidade há bastante tempo.
Analisando as 03 comunidades, percebeu-se que Janauary encontrou-se representada, quase que
na sua totalidade, por pessoas autóctones, as quais participaram e continuam participando da
História local, preservando substancialmente os valores culturais.

150 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


Dados da Percepção Cultural
Na Comunidade de Acajatuba as atividades sócio-culturais estão relacionadas com as festas de
cunho folclórico-religioso, das quais destacam-se a Festa do Sagrado Coração de Jesus, que ocorre
no último sábado de junho e a Festa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro realizada no 29 de julho.
Um outro momento da sociedade local é nas festividades juninas onde são apresentadas as
quadrilhas, destacando a quadrilha Rabo de Vaca. Sem deixar de perder a tradição, os comunitários
se divertem, também, com o campeonato de futebol. Na Comunidade de Janauary, os comunitários
locais, consideraram o dia 10 de agosto de 1880, como a data de fundação daquela comunidade, em
virtude do Sr. João Antônio Coelho Filho ter nascido em 1885, ou seja, cinco anos depois que seu pai
foi morar na Comunidade de Janauary. Em sua maioria, as informações a cerca do nome da
Comunidade refere-se à existência, em grande quantidade, de urna palmeira de nome Jauari e de
urna tribo indígena nas proximidades denominada de Janauá, que com a união dos nomes dos
supracitados surgiu o nome da Comunidade de Janauary. Segundo a pesquisa, as atividades sócio-
culturais de Janauary estão ligadas as festas folclóricas, recreativas e religiosas, tais corno: Festa de
São Pedro, realizada no dia 29 de junho; Festa de São Francisco, realizada no dia 04 de outubro; e
Festa do Divino Espírito Santo, realizada no dia 02 de junho. Outras atividades têm destaque na
Comunidade que é a Festa do Artesanato, no segundo domingo de agosto e a Festa do Boi Vivo,
realizada no primeiro sábado de maio.De acordo com os resultados da pesquisa, 90 dos
comunitários reconheceram que os eventos locais promovem as tradições culturais da Comunidade.
Na Comunidade de Paricatuba, os moradores entrevistados mencionaram que, em função da
influência dos primeiros moradores, algumas manifestações permanecem, ainda, no meio da
sociedade local, sobretudo, os eventos de cunho religioso. O Sr. Adalberto Silva que mora na
Comunidade, há 06 anos, mencionou a importância das pessoas antigas na divulgação e defesa das
tradições locais. Disse que já aprendeu muito com os moradores antigos a respeito da vivência
naquele local. Destacam-se nas atividades folclóricas, as Festas Ecumênicas de fim-de-ano e Festas
Juninas (Participação da quadrilha formada por moradores da Comunidade). Além dessas, são
realizados outros eventos como a Festa do Morcego e os Torneios de Futebol. Alguns comunitários,
ainda, sugeriram a possibilidade da criação da Festa da Manga, devido à abundância da fruta na
localidade.

Percepção econômica e perspectivas de qualidade de vida


Os entrevistados na Comunidade de Acajatuba informaram que, apesar de existirem outras
atividades econômicas, além do turismo, algumas delas estão ligadas ao segmento do ecoturismo,
como é o caso da agricultura familiar, o artesanato e a observação de aves.Com a visitação de turistas
locais, de outros estados do Brasil ou mesmo de outros países, 95 dos comunitários apresentaram
uma reação positiva em relação ao turista e este o retribuiu na concepção dos moradores locais. Um
outro aspecto identificado na pesquisa foi o nível de importância que os comunitários atribuíram ao
turismo como atividade potencial para a economia local. Nos registros relativos a definição do
turismo como atividade relevante para a comunidade, foi verificado que a grande maioria da
comunidade, representada por 65 dos entrevistados, reconheceu no turismo uma atividade
econômica importante para a economia local. No entanto, existe, ainda, uma parcela representada
por 35 dos entrevistados, que necessita ser inserida na contextualização dos resultados. Para a
Comunidade de Janauary, existem outras atividades econômicas, porém o turismo é o principal
indutor da economia local, sobretudo, com a venda do artesanato. Segundo a pesquisa, 95 dos
entrevistados demonstraram reação positiva com relação a presença do turista na comunidade, de

BASES PARA UMA GESTÃO INTEGRADA DO ECOTURISMO NAS COMUNIDADES DE 151


JANAUARY, PARICATUBA E ACAJATUBA, NO MUNICÍPIO DE IRANDUBA/AM
forma amigável, o que não é diferente na resposta do turista relativo aos comunitários, cujo resultado
foi de 80. Os entrevistados da Comunidade de Janauary (80), ressaltaram que a atividade turística é a
principal fonte geradora de renda e de benefícios, significando uma mudança positiva na economia
local. Quanto ao nível de importância da atividade turística na comunidade, 95 dos entrevistados
responderam positivamente, ratificando. Quanto aos benefícios que são gerados pelo turismo na
Comunidade, os resultados apresentados na pesquisa apontam uma demanda variada de respostas,
todavia o item melhoria na qualidade de vida foi o mais expressivo em termos de percentual,
correspondendo a 38os entrevistados, seguido de geração de emprego com a participação de 18.
Para os entrevistados em Paricatuba, a economia na Comunidade é gerada principalmente, pela
atividade turística, em função da visita de turistas nacionais e internacionais. No que se refere à
reação dos moradores com relação aos turistas, 52 responderam que é amigável. Quanto à reação
dos turistas, 50 responderam que a reação dos comunitários é amigável, conforme demonstram os
gráficos, respectivamente. Segundo a pesquisa, 66 dos moradores de Paricatuba responderam que
não sabem se o turismo trouxe mudanças na Comunidade. Porém, 95 reconhecem a importância da
atividade turística. 76 dos entrevistados em Paricatuba, responderam que o turismo não tem
influência no nível de vida dos comunitários. Segundo os moradores entrevistados em Paricatuba,
mesmo a atividade turística, momentaneamente, beneficiando poucas famílias, eles ressaltaram que
o turismo é uma atividade econômica importante e que traz benefícios relevantes para a melhoria na
qualidade de vida das pessoas envolvidas na comunidade local, destacando a geração de empregos.
Os entrevistados de Paricatuba responderam que o turismo não traz somente benefícios, mas que
apresenta problemas, e o principal deles é o barulho. Mesmo reconhecendo os problemas existentes
em Paricatuba, advindos do turismo, 48 dos moradores entrevistados reconhecem que as melhorias
obtidas na comunidade são provenientes da atividade turística.

Da Percepção Ambiental
Observamos através de pesquisa que os comunitários de Acajatuba, Janauary e Paricatuba, têm
uma preocupação tanto com a conservação da natureza quanto com a urbanização local e
principalmente estruturas que venham auxiliar em um dos setores da economia local, o turismo, uma
vez que dentre as necessidades apresentadas pelos comunitários, desta Comunidade. Destacou-se a
necessidade de um projeto de paisagismo, inclusive para a entrada da Comunidade, de
reflorestamento, capacitação de agentes voluntários para fiscalização, implantação de uma agência
de turismo comunitária; obras de saneamento básico (encanamento de água); soluções de
problemas com relação à energia elétrica e telefonia, bem como a divisão igualitária dos lotes desta
Comunidade. Nas comunidades mencionadas, todos os entrevistados veem a existência dos
recursos naturais importante para a sobrevivência, sobretudo no que tange a questão da oferta de
matérias primas para o artesanato; da manutenção da agricultura familiar de subsistência por meio
de solos compatíveis; da água potável; além da beleza cênica que os locais visitados oferecem aos
visitantes, levados pelo desejo de conhecer lugares exóticos, conservados e preservados. Para
Wearing & Neil (2001) o objetivo do Ecoturismo é a sustentabilidade, pois visa
proporcionar uma base de recursos para o futuro, bem como garantir a produtividade dessa base,
mantendo a biodiversidade e evitando mudanças ambientais irreversíveis para o local visitado, além
de promover a equidade para as gerações presentes e futuras.

CONCLUSÕES
Tomando como base os dados coletados na dissertação, verifica-se que, por unanimidade, as
comunidades reconhecem a relevância do Ecoturismo como atividade econômica, mesmo

152 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


necessitando, ainda, de ações mais efetivas para a consolidação de melhores resultados. Verificou-
se, também, que as comunidades reconhecem os recursos naturais e os valores culturais como
atrativos importantes para o desenvolvimento do Ecoturismo. De acordo com os resultados,
identifica-se a relação de quase o 100% são muito amigável, por parte dos dois grupos. Isso confirma
o interesse das comunidades em desenvolver a atividade turística como fonte geradora de emprego
e renda, porém é necessário um planejamento adequado, com vistas a minimizar os impactos
negativos.

REFERÊNCIAS

BECKER, Bertha. Os Impactos da Política Federal de Turismo sobre a Zona Costeira. Brasília: MMA
e Amazônia Legal, 2003.
DENCKER, A. de F.M. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Turismo. São Paulo, Futura, 1998.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo: EPU, 1989.
WEARING, Stephen; NEIL, John. Ecoturismo: Impactos. Potencialidades e Possibilidades. São
Paulo: Editora Manole, 2001.

BASES PARA UMA GESTÃO INTEGRADA DO ECOTURISMO NAS COMUNIDADES DE 153


JANAUARY, PARICATUBA E ACAJATUBA, NO MUNICÍPIO DE IRANDUBA/AM
ARTIGO 26
ECOTURISMO: IDENTIDADE SÓCIO-AMBIENTAL E RAIZES
CULTURAIS DOS RESIDENTES DO MUNICÍPIO DE
PRESIDENTE FIGUEIREDO-AM
Julio César Rodríguez Tello
Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM; Programa
de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário, Av. General
Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

Josiane Alves de Sousa


Administradora, discente do Curso de Especialização em Gestão Ambiental Empresarial – UFAM,
josysousa235@yahoo.com.br

Renata Lima Pimentel


Biológa, Discente do Curso de Especialização em Gestão Ambiental Empresarial e do Mestrado de Ciências
Florestais e Ambientais – UFAM, renataluc_lp@yahoo.com.br.

INTRODUÇÃO

O Ecoturismo segundo EMBRATUR (1994) é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma
sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência
ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas.
Atualmente o ecoturismo é uma das atividades econômicas que mais têm crescido no mundo, principalmente em
regiões com forte apelo natural como a Amazônia, surgindo como alternativa de uso múltiplo da floresta:
conservação, valorização das populações humanas e das culturas locais e de lazer. No desenvolvimento do
ecoturismo vários desafios são encontrados como a responsabilidade social, econômica e ecológica, envolvendo
as comunidades transformando-as em beneficiárias da conservação ambiental, através da participação direta na
gestão dos recursos naturais. Os números do turismo são expressivos, aproximadamente 204 milhões de pessoas
trabalham no turismo no mundo inteiro, desse total um percentual alto de turistas vêm ao país devido às belezas
naturais de biomas como o Amazônico (WTO, 2012). O crescente desenvolvimento do Ecoturismo é um fator
crítico e muito importante para os responsáveis das instituições de desenvolvimento ambiental, cuja nova missão
é possibilitar a criação de uma infraestrutura adequada para as atividades ecoturísticas, em harmonia com a
conservação, educação, pesquisa e recreação. Entretanto, para o ecoturismo ser um instrumento gerador de
divisas para o desenvolvimento das áreas de recepção, faz-se necessário um adequado planejamento e
monitoramento das atividades para que impactos negativos sejam minimizados.

MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no município de Presidente Figueiredo com população estimada de 27.175 habitantes
(IBGE, 2012). O clima da região, segundo a classificação de Köppen (1948) o clima é quente e úmido, característico

ECOTURISMO: IDENTIDADE SÓCIO-AMBIENTAL E RAIZES CULTURAIS DOS RESIDENTES 155


DO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE FIGUEIREDO-AM
das Florestas Tropical. Apresenta relevante potencial ecoturístico por abrigar mais de cem cachoeiras dentro da
floresta amazônica, cinco sítios arqueológicos e nove cavernas (abertas a visitação turística). Tem razoável
infraestrutura básica e de serviços, além do fácil acesso pela BR 174. Na coleta das informações foi utilizada a
metodologia participativa, integrando pesquisador/sociedade/comunidade. O delineamento e desenho das
alternativas foram provenientes da participação direta da população no local. A avaliação das características
biofísicas e paisagísticas dos ambientes estudados e os históricos sociais relevantes foram identificados através de
pesquisa bibliográfica e verificação de campo. Dados sobre o perfil dos residentes e dos visitantes foi levantado a
partir de 475 questionários com perguntas semiestruturadas. Como instrumento de informação e educação em
prol do ecoturismo no município, foi desenvolvido um seminário junto às autoridades locais, líderes comunitários
e sociedade civil, com os quais se discutiu amplamente as bases de gestão do ecoturismo, visando discutir com a
sociedade local a maneira adequada de valorizar e preservar a cultura tradicional e a biodiversidade existente nos
ecossistemas representativos da área. Paralelamente, junto aos líderes comunitários e a sociedade civil, foram
ministrados, por profissionais especializados, diferentes cursos técnicos para a apreensão dos princípios e
ferramentas de gestão do ecoturismo.
De posse de todas as informações, procedeu-se a elaboração das diretrizes técnicas para o planejamento do
ecoturismo na área de estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentre as perguntas contidas nos questionários aplicados as mais relevantes perguntas foram sobre a
escolaridade, onde a maioria dos entrevistados não concluíram o ensino fundamental e apenas uma parcela
muito pequena alcançou ensino superior. Analisando a importância do turismo para os residentes e para o
desenvolvimento do município a maioria dos entrevistados concorda que o turismo é muito importante,
acreditam ainda, que este pode oferecer outras vantagens como: gerar renda (35%), empregos (34%) e divulgar a
cidade (31%) (Fig. 01).

Figura 1. As vantagens do turismo para o desenvolvimento do município.

A maioria dos entrevistados considera que a atividade turística não traz problemas para o
município, porém está faltando um trabalho sério e contínuo de educação ambiental para os
residentes e comunidades do entorno, pois conforme observação in situ, muitos dos ambientes e
hábitats da fauna endêmica como o galo da serra, gavião real, uirapuru entre outros estão sendo
ameaçadas por alguns residentes, estimulando o comércio ilegal e clandestino, além das queimadas
nas matas ciliares que vem ocorrendo com frequência. Sobre a infraestrutura básica e turística
disponível os residentes opinaram que a cidade presta serviços razoáveis, não obstante há

156 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


reclamações de falta de mão de obra qualificada falta de infraestrutura turística, falta de animação
turística, deficiência na rede hoteleira. No quesito de sensibilidade ambiental e consciência ecológica
dos residentes uma porcentagem bastante elevada dos entrevistados nunca ouviu falar de impacto
ambiental, outra parcela significativa dos entrevistados indicou que o impacto ambiental
subentendia-se por destruição da natureza e/ou meio ambiente. Pode-se afirmar que existe uma
grande expectativa que a atividade turística no município subsidie seu desenvolvimento. Quanto às
sugestões para melhorar a atividade turística no município os entrevistados privilegiaram ações de
capacitação e melhoramento da infraestrutura turística, liberação da entrada as cachoeiras, preços
mais acessíveis às pousadas, mais animação e melhoramento dos serviços de restaurantes. As
Diretrizes do ecoturismo no município de Presidente Figueiredo deverão corresponder às leis e
princípios estipulados para a utilização sustentada dos recursos naturais, ao manejo racional da
biodiversidade e das culturas nativas, o planejamento ecoturístico participativo, suporte e estímulo
às diferentes formas de desenvolvimento econômico local, exercício pleno da democracia na
tomada de decisões, capacitação e sensibilização nos diferentes níveis das comunidades.

CONCLUSÃO

Observou-se a falta de conhecimento da capacidade de carga nos diferentes ambientes onde se


encontram os atrativos turísticos, o que impede a fixação de níveis mínimos de uso. Há um
considerável crescimento no tipo de consumidor que está atento para as mudanças ambientais no
município, e assim, torna-se preocupado em contribuir com sua parte para manutenção do
equilíbrio dos ecossistemas. Qualquer planejamento nesse campo para ser exequível precisa está
integrado com as comunidades locais, ter uma conotação ambiental multidisciplinar, ser bem
dimensionado, flexível e possuir uma visão participativa de acordo com a cultura e a realidade do
local. Este consumidor tem adquirido consciência de que ele não esta isento de culpa e começa a
questionar-se sobre a forma de utilização dos recursos naturais e ambientais. Esta forma de pensar e
interpretar o meio parece ser uma nova tendência em função dos muitos danos ambientais
existentes no município em consequência de uma série de empreendimentos como: a construção da
hidrelétrica de Balbina, a exploração do minério de Pitinga por parte da mineradora Taboca, os
desmatamentos pelo crescimento urbano e consequente favelização do entorno que certamente
contribui com a poluição dos rios e igarapés. Estes fatos vêm ocorrendo, devido à falta de política
séria direcionada a conservação da natureza, com alternativas de capacitação e desenvolvimento de
um plano de gestão ambiental alternativo para o desenvolvimento do ecoturismo. Ocorrem ainda
desencontros entre políticas públicas nos diferentes níveis burocráticos (Nacional, Estadual,
Municipal), bem como inexistência de programas de educação ambiental e planejamento e gestão
turística, o que a médio e longo prazo poderá motivar nos residentes, conformismo e desestímulo
com a atividade turística.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Diretrizes para uma política nacional do ecoturismo. Brasília: EMBRATUR, 1994.
IBGE 2010. Disponível em:
<http://www.cidades.ibge.gov.br/painel/populacao.php?lang=&codmun=130353&search=am
azonas|presidente-figueiredo|infograficos:-evolucao-populacional-e-piramide-etaria> Acesso em:

ECOTURISMO: IDENTIDADE SÓCIO-AMBIENTAL E RAIZES CULTURAIS DOS RESIDENTES 157


DO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE FIGUEIREDO-AM
24 de Fev. de 2014.
KÖPPEN, W. 1948. Climatologia: con un estudio de los climas de la tierra. Fondo de Cultura
Econômica. México. 479pp.
WTO 2012 (World Trade Organization). Disponível em:
<http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/export/sites/default/dadosefatos/estatisticas_indicad
ores/downloads_estatisticas/estatisticas__indicadores_turismo_mundo_2012.pdf> Acesso em: 24
de Fev. de 2014.

158 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


ARTIGO 27
IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA
SEGURANÇA - SGS NO EMPREENDIMENTO HOTELEIRO
MALOCAS JUNGLE LODGE HOTEIS LTDA,
RIO PRETO DA EVA-AM

Marinilda Mota Godde


Possui graduação em Gestão Ambiental e especialização em Gestão Ambiental Empresarial.

Julio César Rodríguez Tello


Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM; Programa
de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário, Av. General
Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

INTRODUÇÃO

O setor das atividades de aventura levou turistas a incursões mais profundas pelos cenários
naturais do Brasil. Conjugando esportes de ação e atividades contemplativas, o ecoturismo e o
turismo de aventura ganharam destaque na preferência dos brasileiros. Primeiramente e entendido
como uma atividade associada ao Ecoturismo, o Turismo de Aventura, atualmente, possui
características estruturais e consistência mercadológicas próprias. Consequentemente, seu
crescimento vem adquirindo um novo leque de ofertas, possibilidades e questionamentos, que
precisam ser compreendidos para a viabilização e qualificação do segmento. O conceito de Turismo
de Aventura fundamenta-se em aspectos que se referem à atividade turística e ao território em
relação à motivação do turista, pressupondo o respeito nas relações institucionais, de mercado, entre
os praticantes e com o ambiente. Recentemente, uma iniciativa veio finalmente trazer mais
segurança e tranquilidade às práticas que envolvem tanto adrenalina quanto riscos, como rafting,
rapel, tirolesa, canionismo e cachoeirismo. Trata-se de um selo indicará aos turistas que a atividade
tem certificação em Sistema de Gestão de Segurança – SGS. Para que o SGS no Turismo de Aventura
pudesse se tornar realidade, surgiu o Programa Aventura Segura. Executado pela Associação
Brasileira de Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (ABETA), em parceria com o Ministério
do Turismo e o SEBRAE Nacional com o objetivo de fortalecer e disseminar conhecimento, qualificar
pessoas e empresas e subsidiar a certificação para condutores e empresas. Um dos principais
motivos para implementação do SGS no segmento do Turismo de Aventura, deu-se pelo crescente
numero de empresas operando esta atividade sem base e informações de segurança aos clientes e
colaboradores, paralelo a uma grande demanda de novos produtos turísticos levando a mudanças
nas estratégias de gestão, planejamento e promoção do turismo. O SGS soma-se aos demais
modelos de sistemas de gestão estabelecidos, entre os quais se indicam como principais referências

IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA SEGURANÇA - SGS NO


EMPREENDIMENTO HOTELEIRO MALOCAS JUNGLE LODGE HOTEIS LTDA, 159
RIO PRETO DA EVA-AM
a NBR ISSO 9001 (sistema de gestão da qualidade), a NBR ISSO 14001 (sistema de gestão ambiental)
e a NBR 15331 da ABNT (prevenir incidentes e acidentes, e criar procedimentos operacionais para
responder às situações de emergência). Através do SGS, as organizações envolvidas com o Turismo
de Aventura vêm sistematizam e controlam as atividades, inclusive incorporando práticas de gestão e
o processo de melhoria contínua das condições de segurança, de maneia a proverem atividades de
forma responsável e segura. Nesta perspectiva, o objetivo desta pesquisa é analisar a implementação
do SGS pelo empreendimento hoteleiro Malocas Jungle Lodge.

MATERIAL E MÉTODO
O método de pesquisa foi exploratório descritivo, com uma abordagem qualitativa e
levantamento bibliográfico. Para análise do SGS foi utilizado o método do ciclo PDCA, ciclo de
Shewhart ou ciclo de Deming, é um ciclo de desenvolvimento que tem foco na melhoria contínua. O
trabalho foi realizado no Hotel de Selva Malocas Jungle Lodge, localizado no município de Rio Preto
da Eva, Amazonas. A empresa está instalada em uma área de 90.000 (noventa mil) hectares com um
perímetro de 5.491,76 (cinco mil e quatrocentos e noventa e um e setenta e seis) metros quadrados.

RESULTADOS

As atividades são desenvolvidas em sua grande maioria em grupos pequenos (6 a 10 pessoas)


causando desta maneira um menor impacto ao ambiente frequentado: a) Caminhada na Selva: Esta
atividade é feita em grupos pequenos (6 a 10 pessoas). As trilhas são alternadas sempre que existe a
possibilidade de prejudicar o solo. Duração das caminhadas: 1 a 3 horas. Caminhada de observação
da natureza. Os condutores da floresta são de preferência índios ou nativos da região, com formação
de guia ou condutor de floresta, pessoas com bastante conhecimento da área e de seus riscos. Eles
explicam sobre as plantas medicinais e como viver na floresta, usando apenas o que a natureza
oferece: a) Pescaria: Passeio em canoa a remo, pescaria com varas, fio de nylon e anzol a moda
antiga. Nesta atividade o objetivo é conhecer as famosas piranhas (Pygocentrus Nattereri Kner) da
Amazônia; b) Passeio de canoa: E utilizada canoas a remo e o passeio é pelos igapós e igarapés,
observando a natureza, também com explicação do condutor ou guia sobre as flores, plantas e
ruídos da natureza; c) Visita aos nativos: Visita aos nativos da região, com o objetivo de demonstrar
como vivem os descendentes dos índios, os ribeirinhos. Explicação sobre a produção da farinha, as
diversas plantações, extrativismo, como o caboclo vive de sua pesca, caça em perfeita harmonia com
o ambiente; e, d) Passeio de canoa: Este passeio de canoa a remo, tem como objetivo apreciar o
nascer do sol, e acontece entre 4.30 am e 5am. Tem a duração de 01 hora. O empreendimento
hoteleiro Malocas Jungle Lodge, tem em seu escopo do Sistema de Gestão da Segurança as
seguintes operações: a) Atividade: Caminhada - Produtos: Caminhada do Jacaré e Caminhada ao
Nativo (Local: Área do entorno do Malocas - Baixo Rio Preto da Eva – AM); b) Atividade: Caminhada
com pernoite - Produto: Sobrevivência na Selva (Local: Área do entorno do Malocas - Baixo Rio Preto
da Eva – AM); c) Atividade: Canoagem - Produtos: passeio de canoa com pescaria de piranhas,
observação de jacarés (Local: Área do entorno do Malocas - Baixo Rio Preto da Eva – AM). São
contemplados todos os tipos de perigos que impliquem riscos à vida e a integridade física das
pessoas envolvidas nas operações. Foram delineadas as medidas de gestão em SGS com base nas
características geográfica e no potencial de risco dos locais de visitação correlacionando-o ao perfil
do turista. O plano de gerenciamento é constituído por fases de monitoramento e análise crítica,
voltados a sua melhoria continua. Os principais procedimentos nas atividades de campo são os
seguintes: Primeiro Atendimento: a) Apresentar informações referentes às normas de segurança da

160 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


empresa e os riscos que implica esta atividade. Ver pasta na recepção, ler e deixar o cliente à vontade
para ler; b) Informar tempo previsto para a atividade; c) Se certificar que todos participantes da
atividade esteja com vestimenta adequada à atividade. Calça comprida (caminhada), camisas leves,
calçado fechado e apropriado para caminhar; d) Informar da necessidade de cada participante levar
sua garrafa com água. Checar; e) Apresentar informações de proteção com o material fotográfico ou
câmera filmadora, oferecer um saco plástico de proteção se necessário; f ) Informar da possibilidade
de chover, deixando ao hospede a opção de levar sua proteção de chuva; g) Apresentar material de
uso em emergência, treinar procedimento (Aspir venin, pinça); h) Alertar os visitantes que não são
permitido alimentar os animais, não coletar plantas, não molestar os animais, se levar algo que possa
gerar lixo o hospede deve trazer de volta ao hotel e colocar nos coletores no restaurante, evitar
barulhos desnecessários, cuidado com animais peçonhentos e que a equipe da Empresa está
preparada para qualquer eventualidade que possa ocorrer durante as atividades; i) Se tiver alguma
criança ou pessoa com dificuldade de se locomover, o guia deve ficar sempre perto dele dando assim
maior atenção; j) Encaminhar o visitante para a atividade o qual vai realizar; e, l) Avisar do perigo
quanto aos animais silvestres existentes na abrangência do empreendimento. Procedimento de
Entrada na Selva: a) Entrada na Trilha – 1) Orientar os clientes que devem proteger seus aparelhos
fotográficos da umidade e ou chuva; 2) Informar da importância do silêncio nas trilhas; 3) Checar que
todos estão vestidos adequadamente para atividade; 4) Checar que todos tenham seu deposito de
água; 5) Fazer “Ritual de proteção“: queimar o breu e com a fumaça fazer defumação de cada
participante da atividade (opcional para o cliente). Informar que este ritual protege os caçadores
quando entram na selva de ataque de animais inclusive peçonhentos (cobra). Procedimento na
Selva: a) Informar da importância da floresta em pé e da fragilidade de nosso solo. Retirar uma
amostra do solo e fazer demonstração. Colocar o solo retirado no mesmo local onde tirou; b) Mostrar
o tipo de floresta onde estão, terra firme e várzea; c) Explicar sobre as plantas medicinais cada vez
que encontrar uma (não retirar ou cortar as mesmas), sempre citar histórias de como os índios e
caboclos da região utilizam este medicamento; d) Explicar sobre algumas árvores conhecidas com
informação de idade e utilização quando beneficiadas. Aproveitar para reforçar a luta contra o
desmatamento; e) Informar os clientes que não devem recolher amostras na selva, plantas
medicinais, sementes, folhas ou flores. Procedimentos para mostrar aranha caranquejeira: a)
Informar aos clientes que não vamos tocar na aranha nem molestá-la e que podem fotografar ; b)
Fazer uma varinha fina e com dimensão de mais ou menos 30 cm; c) Colocar esta varinha embaixo do
braço (suado) para ficar com odor do homem; d) Colocar esta varinha no buraco onde mora aranha
e esperar ela sair; e, e) Explicar da cultura indígena sobre esta aranha, inclusive que serve de alimento
na tribo dos Tucanos. Procedimento para balançar no cipó: a) Escolher um cipó seguro, testar; b) Se
balançar no cipó, demonstrando como de deve fazer, sempre segurando firme com as duas mãos
(opcional para o cliente); c) Se tiver criança ou idoso, fazer atenção especial: idoso não
recomendamos e criança segurar por baixo. Procedimento para atravessar áreas inundadas e ou
troncos: a) Seguir sempre na frente, demonstrando a maneira mais segura de atravessar; b) Oferecer
uma vara de apoio; e, c) Sugerir de se dar as mãos durante o trajeto difícil; Procedimento na
cachoeira: a) Fazer vistoria na área, fazer ruído espantando deste modo alguns possíveis animais
indesejáveis (cobras); b) Informar os clientes que quando forem trocar suas roupas (colocar roupa de
banho), que façam atenção onde colocam suas roupas: risco de insetos e ou formigas tucandeiras; c)
Não pular de cabeça na cachoeira; d) Atenção com as pedras molhadas e com a correnteza da
cachoeira; e) Demonstrar como se segurar no cipó para ter acesso a um bom banho de cachoeira; f )
No momento de se vestir, sacudir a roupa e verificar se não tem insetos; g) Após banho de cachoeira,
caminhada de retorno ao acampamento, seguir procedimentos anteriores. As atividades

IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA SEGURANÇA - SGS NO


EMPREENDIMENTO HOTELEIRO MALOCAS JUNGLE LODGE HOTEIS LTDA, 161
RIO PRETO DA EVA-AM
desenvolvidas na área do Malocas Jungle Lodge, é estruturada de maneira a contemplar a segurança
e satisfação de nossos clientes e colaboradores. A experiência e conhecimento de nossa equipe de
guias minimizam eventuais riscos. Todavia, em caso de necessidade de resgate, será operado pela
equipe qualificada de guias, que contam com a ajuda do corpo de bombeiros de Manaus e,hospital
na cidade do Rio Preto da Eva e hospital em Manaus, transporte feito em canoa a motor (1 hora de
trajeto). Resgates com helicópteros, quando necessários, serão solicitados a cidade de Manaus,
podendo demorar até 2 hs para atendimento. Não possuímos telefone via satélite ou radio durante
atividades fora do hotel. No hotel dispomos de um telefone celular com antena rural que comunica
com Manaus sempre que necessário.

CONCLUSÕES

O SGS do Malocas Jungle Lodge atende aos requisitos básicos evidenciados na legislação e nas
normas de segurança, o que promoveu a melhoria da imagem pública gradativamente alcançando
maior notoriedade quanto aos padrões de segurança adotados. Além disso, a noção de
Responsabilidade Social e Ambiental presente no bojo administrativo do empreendimento, decorre
da compreensão de que se deve buscar trazer benefícios para a sociedade, propiciar a realização
profissional dos empregados e promover benefícios para os parceiros e para o meio ambiente. Desta
forma, orientando suas atividades turísticas para o crescimento e a diferenciação.

REFERENCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15331: Turismo de Aventura –


Sistema de Gestão da Segurança – Requisitos. Rio de Janeiro, 2006 CASTELLI, G. Administração
Hoteleira. Caxias do Sul: EDUCS, 2001.
ASSUMPÇÃO, Luiz Fernando Joly. Sistema de Gestão Ambiental: Manual Prático para
Implementação de SGA e Certificação ISO 14001. Curitiba: Juruá, 2004.

162 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


ARTIGO 28
BASES SOCIOAMBIENTAIS PARA IMPLANTAÇÃO DO
ECOTURISMO NA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL DO PIRANHA, MANACAPURU-AM

Sandra Maria dos Santos


Turismóloga, Especialista em Gestão Ambiental Empresarial, Mestre em Ciências Florestais e Ambientais.
Atualmente é Turismóloga na Secretaria Estadual de Cultura do Estado do Amazonas (SEC), Instrutora
do IFAM e CETAM.
Julio César Rodríguez Tello
Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM;
Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário,
Av. General Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

INTRODUÇÃO

A ideia de um tipo de desenvolvimento sustentável é iniciada uma década depois de 70 pelo


Clube de Roma, buscando um novo posicionamento, resultado de que a "sociedade alternativa"
esperava, com intuito de mitigar os impactos da sociedade industrial. Tendo em vista os novos rumos
e questões capitalistas. Dentro dessas perspectivas o ecoturismo entra como um segmento que se
bem planejado e seguindo seus critérios consegue alcançar o tripé da sustentabilidade, na
preocupação social, ambiental, económica e atualmente dando ênfase ao quarto item que é o
cultural. Através de um trabalho planejado, com ajuste as questões ambientais, como a poluição e a
insegurança, poderão ser criadas condições de uso, definindo-se a área limite, inserindo-se
profissionais qualificados e sensibilizando a população local ativa ou não, da relevância que a
atividade trará para o local. Deve-se em consideração que o lago da Piranha é urna área de reserva
de desenvolvimento sustentável (RDS), pelo seu nome já se torna um atrativo com grande potencial.
Reserva de Desenvolvimento Sustentável é uma área natural, que abriga as populações tradicionais,
cuja existência baseia-se na exploração dos recursos naturais e que desempenham um papel
fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica. A unidade de
conservação RDS Piranha encontra-se dentro do corredor N° 1 da Amazónia Central, proposto
como área prioritária para conservação no Projeto Parques e Reservas, que será apresentado ao
Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras - PPG-7, isso reveste a RDS Piranha
de grande importância conservação da biodiversidade ao integrar o "Corredor Ecológico
Amazónico". Neste sentido, o objetivo da pesquisa a análise dados socioambientais das
comunidades da RDS da Piranha se adequam para atividade do ecoturismo.

MATERIAL E METODOS

Utilizou-se o método da investigação descritivo, com um analise qualitativo e quantitativo com


apoio bibliográfico tomando em conta um amostragem de acordo Vieira (2000). Formularam-se
entrevistas estruturadas e semiestruturada seguindo a orientação de Alves-Mazzotti (2004),
Enfocado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Piranha possui urna área de 103.000ha,

BASES SOCIOAMBIENTAIS PARA IMPLANTAÇÃO DO ECOTURISMO NA RESERVA DE 163


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO PIRANHA, MANACAPURU-AM
representando 14 % do território do município de Manacapuru, localiza-se à margem esquerda do
Rio Solimões próximo à foz do Rio Manacapuru, no quadrante definido pelas coordenadas
geográficas: latitude: 3°17'S a 3°34'S; e longitude: 60035'W a 61°08'W. Está distante a 110 km de
Manaus e a 25 km da Cidade de Manacapuru (Figura 1). A região é de várzea com um ecossistema
fluviolacruste, que se forma na planície da inundação e sedimentação do rio Solimões, onde existe
um complexo de lagos, denominado Lago da Piranha, inserido no Corredor da Amazónia Central,
servindo de conectividade, melhoria do fluxo génico.

RESULTADOS E DISCUSSÁO

Dados pessoais - foram entrevistadas 76 unidades familiares, 63,6 % dos registros


corresponderam ao sexo masculino e 36,4 % ao Sexo feminino. Este resultado certamente evidencia
uma menor presença feminina no lar, principalmente em épocas de enchente, justamente na época
em que foi realizada a pesquisa, quando muitas das donas de casa se deslocam para os municípios
mais próximos a fim de desenvolver tarefas domésticas similares e assim poder contribuir com a
melhoria da renda familiar. Quanto à procedência, pode-se verificar um maior destaque para os
entrevistados que declararam ter nascido na comunidade com 74,5 % ficando apenas 25,5 % para
aqueles que manifestaram ter outra procedência e que moram há mais de 10 anos no local. Pode-se
observar que 36,4 % da população estiveram compreendidas na faixa etária de 25 a 40 anos,
somando os 18,2 % da população correspondente à faixa etária de 19 a 25 anos o total aumentou
para 54,6 % de pessoas, podendo-se afirmar que a Reserva da Piranha conta com população jovem
importante para o desenvolvimento do turismo, conforme apontado também por BESSA (2005),
como indicador importante para o planejamento da atividade eco turística. Observou-se que ainda
existem 18,8 % da população não alfabetizada, 63,64 %, possuem o Ensino Fundamental incompleto
no relatório, tendo no relatório 1,82 % possui o Ensino Médio Completo no relatório e apenas 3,64
possui e ou está cursando o Nível Superior. Segundo os registros encontrados na presente pesquisa,
referente à escolaridade, ficou evidente que não houve muita diferença com os resultados
encontrados na pesquisa realizada pela Consultoria & Assessoria LTDA no ano de 97. Em
contrapartida, NIEFER (2002) apud BESSA (2005). Do total de entrevistados da RDS da Piranha, a
metade era amigada, 38 % legalmente casados e 10 % eram solteiros. A elevada porcentagem de
amigados (50 %) deveu-se a relacionamentos que normalmente ocorrem na adolescência seguida
de uma gravidez não esperada. Como na maioria das comunidades ribeirinhas de várzea, a
agricultura familiar destaca-se no período da seca, quando ocorre a maior produção de alimentos e
uma melhoria da renda complementar da população. Na RDS a agricultura merece também
destaque, cuja renda familiar mensal segundo os entrevistados chega até R$ 500,00 Entretanto,
nesse valor encontra-se incluí do o pagamento de um salário mínimo, que os agentes ambientais
comunitários recebem como estímulo pela preservação dos lagos e a luta contra a pesca e a caca
predatória. Assim, quatro anos atrás foram implantados criadouros de Pirarucu em cativeiro,
encontrando-se praticamente no período do abate, fazendo com que esta atividade também
contribua de mane ira positiva na economia desses ribeirinhos. Dados sobre a percepção ambiental -
Para Tuan (1983) apud Bessa (2005), a percepção ambiental é definida como sendo uma tomada de
consciência do ambiente pelo homem, ou seja, o ato de perceber o ambiente que está inserido,
aprendendo a proteger e a cuidar do mesmo. Alba (1996), afirma que a paisagem se apreende
através de um processo perceptivo complexo básico, não exclusivamente visual, no qual intervém
tanto o observador como o observado. Quando perguntado aos comunitários o que acrescentariam
na comunidade, eles relacionaram itens como: incentivo para comprar sementes, educação, saúde,

164 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


posto policial, S.O.S, Poço artesiano, posto de saúde, energia elétrica, telefone, ensino médio, agua
encanada, união, proteção florestal, capacitação para o comunitário, mais opção de renda, trabalho,
escola capacitada. Referente aos Recursos Naturais, um 98,2 % dos registros ficou evidente que eles
são importantes, apenas para sua sobrevivência. Pode-se verificar que o 47,3 % dos entrevistados
indicaram o lago, como sendo o local mais bonito, o qual é conhecido como lago grande, para Rio e
Oliveira (1999), o rio é o componente mais fortemente percebido na paisagem e isto muito
provavelmente acontecem dadas a sua função histórica. Na declaração de Villeneuve, 1992 apud
Bessa 2005, a natureza está fragilizada devida a constantes agressões e isto pode colocar em risco o
potencial global do desenvolvimento consideram o 70,9 % que estes ambientes estão conservados e
16,4 % mal conservados. Identificou-se que 98,8 % não souberam avaliar a importância dos recursos
naturais. Perguntado sobre a participação em eventos 69,1 % participam por que acha importante e
18,2 % não participam e os outros 12,7 % eventualmente participam. Observou-se que 69,1 % estão
satisfeitos como está sendo utilizado o ambiente, porém, 23,6 % são contra a proibição da pesca no
local o que mostra o desconhecimento sobre o lagos liberados para a pesca. Dados sobre a
percepção eco turísticos - Os ambientes naturais constituem cada vez mais motivações turísticas,
sobrepondo-se, na maioria das vezes, a outros tipos de atrações Paiva (1995). A percepção dos
comunitários sobre o turismo é influenciada por inúmeros fatores, tais como: a possibilidade de
trabalho, a renda, o conforto, a perda de privacidade, além do fato de ver seus bens de uso se
transformando em verdadeiras mercadorias é disposição dos visitantes (Bessa, 2005). Constatou-se
que um número expressivo de entrevistados (50,9 %) não souberam responder o significado da
palavra ecoturismo, ou pelo menos se aproximar do conceito. Vale ressaltar que no local, algum
tempo atrás, foram realizadas algumas oficinas de educação ambiental. O 63,6 % de entrevistados
também indicaram a inexistência da atividade do ecoturismo dentro da RDS, no entanto, o
desenvolvimento das atividades turísticas nesta reserva está diretamente vinculada ao Hotel, não
tendo a comunidade participação económica. O 83,6 % da comunidade demonstrou bastante
interesse no que diz respeito ao conhecimento mais profundo sobre o que é o ecoturismo.
Entretanto, eles têm uma grande carência de informações acerca deste tema. Em relação à recepção
a reação dos turistas que visitam a comunidade destacou-se que 54,5 % tem uma reação amigável,
mais afirmaram que quando os turistas param apresentam urna relação amigáveis ou indiferentes
(manifestando que seguramente isso se deva ao idioma diferente). Apesar da situação apresentada,
um 43,6 % afirma que o turismo trouxe mudanças. Pode-se observar que consideram o turismo para
o local por esta relacionado à renda e 83,6 % afirmam que o turismo é importante para
desenvolvimento da comunidade porque acreditam que isso muda a relação entre as pessoas e 18,2
% que não gostam por não ter mudado nada ou não souberam responder. Quanto à violência
realmente houve bastantes comentários do aumento, devido à pressão das comunidades do
entorno em invadirem os lagos proibidos de pesca e pequenos furtos já ocorridos no local de festas e
em algumas casas que ficam mais distantes. O 54,5 % afirma que o turismo não melhorou sua
condição de vida. Porém com o projeto água é vida, percebe-se que houve uma preocupação do
poder público junto com o setor privado (Petrobrás) em melhorar as condições de água de beber da
comunidade captando a água da chuva e com isso reduzindo o número de verminoses e doenças
causadas por insetos. Os atrativos que os entrevistados destacaram (58,2 %) por sua beleza foram os
rios, as matas e os pássaros, confirmando a definição de ecoturismo pelo trade Ruschel et al apud
Bruhns (1997), que diz que ecoturismo é toda atividade turística realizada em área natural com
objetivo de observação e conhecimento da flora, da fauna e dos aspectos cénicos (com ou sem
sentido de aventura); práticas de esportes e realização de pesquisas científicas. Apesar de haver
empate em relação aos que não responderam e os que estimulariam mais o turismo local o 43,6 %

BASES SOCIOAMBIENTAIS PARA IMPLANTAÇÃO DO ECOTURISMO NA RESERVA DE 165


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO PIRANHA, MANACAPURU-AM
respondeu "estimulariam mais". Dados sobre a percepção cultural - Ao que se refere ao
conhecimento da história de como surgiu a comunidade, não se referiram em termo geral como A
RDS da Piranha, ficando assim: a comunidade de Braga – 10 % citam que se originou devido à urna
homenagem aos 10 % comunitário da comunidade que se chamava Braga. A comunidade de Betel
27% - Citam que o nome é significa a Casa de Deus, os demais não souberam responder. Sobre a
existência de atividades folclóricas /culturais /festivais na comunidade, responderam que não há
festas religiosas, danças ou comidas típicas. E na comunidade de Braga destacou a Festa do Bodó
realizada no mês de setembro. Esta é formada como se fosse um arraial, com comidas típicas de
bodó. As lendas citadas nas entrevistas foram da onça e da cobra-grande, o 72,7 % não respondeu e
apesar de um número baixo nas respostas (27,3 %) de transmissão confirma o autor Machado (1996)
apud BESSA (2005) que cita que as informações adquiridas de maneira indireta são transmitidas por
meio de pessoas, escolas, livros, meios de comunicação, por palavras escritas ou verbais. Quando
perguntado se os eventos promovidos valorizam as tradições locais, 29,1 % responderam que sim,
outros 58,2 % não sabem ou não responderam, confirmando que não há muita participação nos
eventos. Dimensões sociais - Nelson (2004), afirma que o componente essencial para o êxito para
desenvolver o ecoturismo é o envolvimento comunitário na fase de: Planejamento, operação e
monitoramento, realizando o desenvolvimento sociocultural, económico e na conservação
ambiental. Com isso, perguntado se participam na discussão dos problemas comunitários e no
encaminhamento de soluções, 63,6 % diz que sim. Observou-se que os maiores problemas
comunitários é o de saúde de 28,6 % e infraestrutura 26,8 %. Porém também temos um número
expressivo de 14,3 % que afirmam que a própria comunidade não tem unidade, Warbuton (1998)
apud Nelson (2004), sugeriu que a noção de comunidade tem dois relacionamentos, entre um e os
moradores e outra entre as pessoas e o local, salientando que as comunidades são dinâmicas.

CONCLUSÕES

Estes espaços naturais preservados poderão ser utilizados para a atividade turística, através de
um planejamento equilibrado entre o espaço cultural e o natural. Porém sabe-se que é "impossível
desenvolver alguma atividade no ambiente sem degrada-lo", o que poderá ser feito é planejar a
atividade no intuito de minimizar o efeito negativo ao ambiente. O desenvolvimento do turismo na
RDS da Piranha com planejamento consciente do espaço faz com que haja uma alternativa
económica para área e contribui para a preservação da biodiversidade através do controle de carga
da visitação de turistas. O planejamento turístico na Reserva de Desenvolvimento Sustentável deverá
estar bem estruturado, atendendo objetivos do seu plano de manejo com um rigoroso controle e
supervisão; apesar de ainda não possuir o plano de manejo da área, este deverá levar em
consideração os objetivos de uma RDS. É necessário romper o círculo conceitual destas ideias. Frente
a estes eventos que causam, aumentam a degradação ambiental, os modelos e cenários turísticos,
podem desenvolver práticas que irão consolidar o consumismo e o respeito ao meio ambiente. A
metodologia qualitativa indutiva permitiu que a pesquisa desenvolve-se conceitos e inferências
através das entrevistas com os grupos familiares da RDSP tendo urna visão como um todo. Desse
modo, o trabalho atingiu o seu objetivo que consistiu em analisar os aspectos socioambientais das
populações ribeirinhas na RDS da Piranha como subsídios. Para implantação do ecoturismo como
uma alternativa económica para a melhoria da qualidade de vida da população local. Com base aos
resultados das entrevistas, o tema se originou levando em consideração a carência por parte dos
comunitários da Reserva Sustentável da Piranha, localizado no Município de Manacapuru, em
relação é participação nos lucros na atividade turística. A percepção da população torna-se bastante

166 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


proveitosa haja vista o interesse pela preservação do local e a necessidade da inclusão de urna
atividade de renda que possibilite o desenvolvimento sustentável da área. Assim após a pesquisa
holística, os produtos eco turísticos, praticados pelos comunitários, viáveis para o local seriam:
excursões de canoa a motor tipo rabeca ou o remo; passeio de barco regional de um dia ou pernoite;
pesca esportiva da Piranha; preparação do caldo de Piranha; caminhadas naturalistas; serviços
interpretativos.

REFERÊNCIAS

ALBA, Francisco Ortega. Cuadernos Geográficos. Universidade de Granada - Num. 26 (1996),


ISSN: 0210-5462.
ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciencias naturais
e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2 ed. - São Paulo: Pioneira Thomsom Learning, 2004.
BESSA, Luciana Bastos. Perfil e percepcáo ambiental dos visitantes da área de protecáo ambiental
do Miriti: Desenho de um modelo ecoturístico. Dissertacáo da FCAIUF AMI AM, 2005.
BRUHNS, Heloisa Turini; SERRANO, Célia M. Toledo (orgs.). Viagens él natureza: turismo, cultura e
ambiente. Campinas, Sp: Papirus, 1997.
NELSON, Sherre Prince; PEREIRA, Ester Maria. Ecoturismo: práticas para turismo sustentável. -
Manaus: Editora valer/ uni norte, 2004.
PAIVA, M" das Gracas de Menezes V. Sociologia do turismo. 83 ed.Campinas, Sp: Papirus, 1995.
RIO, Vicente Del; OLIVEIRA, Lívia de (orgs.). Percepcáo ambiental: a experiencia brasileira. 2a
edicáo - Séo Paulo: Studio Nobel, 1999.

BASES SOCIOAMBIENTAIS PARA IMPLANTAÇÃO DO ECOTURISMO NA RESERVA DE 167


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO PIRANHA, MANACAPURU-AM
ARTIGO 29
DESAFIOS DA GESTÃO DO TURISMO SUSTENTÁVEL EM
UNIDADE DE CONSERVAÇÃO: O CASO DA
“RDS DO TUPÉ” – MANAUS/AM

Maria do Socorro de Oliveira Paiva


Turismóloga. Especialista em Gestão de Ecoturismo. Especialista em Turismo e Desenvolvimento Local e
Mestre em Ciências Florestais e Ambientais.

Julio César Rodríguez Tello


Docente do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Amazonas – UFAM; Programa
de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais – PPG-CIFA/UFAM. Campus Universitário, Av. General
Rodrigo O. Jordão Ramos, 3000, 69077-000, Manaus-AM, jucerote@hotmail.com

INTRODUÇÃO

A visitação a áreas naturais vem se intensificando, principalmente pelo fato de muitas


apresentarem paisagens únicas, apelo importante para aqueles que buscam vivenciar
especificidades e as Unidades de Conservação, onde a preocupação com sua manutenção é maior, o
apelo turístico é também muito elevado. Atualmente, o meio ambiente pode ser considerado um dos
principais atrativos turísticos de uma região, uma vez que ao tentar incrementar essas atividades, de
cunho turístico, este elemento é o primeiro a ser avaliado como potencial. Em geral, esta pode até
nem ser a primeira percepção usada por muitos profissionais da área, posto que a consciência da
relação de conservação versus desenvolvimento, através de atividades turísticas pode até ser pouco
considerado entre alguns empresários do setor. O contato com a natureza constitui o principal
produto de venda do setor, já que a globalização faz com que os indivíduos de países de grande
poder econômico, utilizem o Turismo Sustentável como forma para manter o contato com os
recursos naturais e consequentemente suprir a carência do verde, no reencontro com sua própria
natureza. O Turismo Sustentável é um segmento em franca expansão, motivado pela necessidade
premente do homem na busca de equilíbrio emocional. Esta a razão, para a proliferação dos
segmentos turísticos que tem por alvo o ambiente natural. Os exemplos de uso turístico em Unidades
de Conservação (UC's) no Brasil são precários, dependendo da região, pois a compreensão sobre
áreas protegidas ainda não atendeu a maioria de comunidades tradicionais que estão inseridas ou
encontram-se localizadas nas zonas de amortecimento. Na Amazônia existem Unidades de
Conservação (nos âmbitos Federal, Estadual e Municipal), algumas das quais em área urbana, que
além de uma infraestrutura mínima para o turismo, o interesse dos comunitários da excelência na
qualidade do bem receber e dos serviços a serem prestados. Há a necessidade da adoção de
instrumentos para sensibilizar e mobilizar os comunitários sobre o uso racional destes bens naturais,
gerando renda e qualidade de vida para a população tradicional residente, tanto na época de alta
estação do turismo quanto nos períodos de baixa estação, além de manter a conservação da área,

DESAFIOS DA GESTÃO DO TURISMO SUSTENTÁVEL EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO: 169


O CASO DA “RDS DO TUPÉ” – MANAUS/AM
aliado ao fortalecimento da identidade cultural dos comunitários. Nesta pesquisa é diagnosticada a
gestão do turismo na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé, com a identificação
dos atrativos turísticos e potencialidades naturais e as alternativas sustentáveis para as comunidades
locais.

MATERIAL E MÉTODO

A RDS do Tupé (Figura 1) possui 11.973 ha, localizada no Município de Manaus-AM, na margem
esquerda do rio Negro, entre as coordenadas geográficas 02º55'30” a 03°03'41” de latitude sul e
60º21'42” a 60°11'32” de longitude oeste de Greenwich. A UC está distante aproximadamente a 25
km em linha reta da área urbana de Manaus. Foi criada por meio do Decreto Municipal nº. 8044, de
25 de agosto de 2005, tendo como Órgão Gestor a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Sustentabilidade de Manaus (SEMMAS). Na UC encontram-se 06 comunidades rurais, com
aproximadamente 1.444 famílias, cujo acesso se dar por via fluvial ou por ramais no interior da
reserva. O Conselho Deliberativo da RDS do Tupé (CDREDES Tupé) foi criado por meio da Resolução
n° 040/2006 - COMDEMA. Possui Plano de Uso Público e integra o Mosaico de Áreas Protegidas do
Baixo Rio Negro, reconhecido por meio da Portaria MMA N°483, de 14/12/2010, e insere-se na
Reserva da Biosfera e no Corredor Ecológico da Amazônia Central. Aplicou-se o método da pesquisa
exploratória, por meio de investigação bibliográfica, documental e Estudo de caso, com a
abordagem dedutiva e o procedimento monográfico. A técnica foi a coleta de dados (entrevista, a
observação e a aplicação de questionários).

Figura 1 – RDS Tupé. Fonte: Reis, J.R.L., 2014.

170 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


O material utilizado se constituiu: levantamento de fontes primárias e secundárias; pesquisa de
campo e observação direta. Foi realizada a coleta de dados, por intermédio de instrumentos como a
entrevista e aplicação de 30 questionários, sendo verificado informações empíricas das 06 (seis)
comunidades de forma aleatória, tendo a finalidade de obter informações qualitativas e
quantitativas. Além de possibilitar melhor execução da Gestão Participativa do Turismo Sustentável.
Com vistas a facilitar a ordenação dos dados e do material coletado, distinguimos três categorias, a
saber: 1. Levantamento de fontes primárias e secundárias - Foram levantados trabalhos de maior
relevância para o tema, com a finalidade de fornecer informações atuais que permitiram subsidiar
uma interpretação adequada da realidade dos atores envolvidos e do trabalho de pesquisa. Isto nos
forneceu informações concretas e consolidadas sobre os conceitos trabalhados: UC, Turismo, dentre
outros; 2. Pesquisa de campo – Os contatos diretos na pesquisa de campo foram realizados com
comunitários situados na Reserva do Tupé, das seguintes Comunidades Rurais: São João do Lago do
Tupé, Tatulândia, Colônia Central, Nossa Senhora do Livramento, Julião e Agrovila Amazonino
Mendes, através de amostragem aleatória, totalizando 30 (trinta) pessoas, sendo 05 (cinco) de cada
comunidade, os entrevistados, que apresentaram características socioeconômicas, culturais inclusive
históricas, problemas ambientais, propostas das potencialidades turísticas e a relação que as
comunidades estabelecem com esta Unidade de Conservação; e, 3. Observação direta – após a
identificação das comunidades da Reserva do Tupé e dos contatos estabelecidos foi possível ter uma
idéia mais clara das características dos locais e atividades tradicionais onde normalmente realizam
suas ações turísticas e de entretenimento. O foco desta dissertação está diretamente relacionado ao
grau de potencialidades turísticas, as quais foram avaliadas durante as visitações in loco. Esta análise,
interpretação e percepção de valores construídos ao longo do processo da convivência com essas
comunidades, existentes na Reserva.

RESULTADOS

De acordo com os entrevistados, dos recursos naturais existentes na RDS do Tupé, os que
poderiam atrair os turistas, foram: Igarapé e a Praia com 27% e em seguida aparece a Cachoeira com
13%, observada apenas durante a vazante do Rio Negro. O Estado do Amazonas possui inúmeras
áreas verdes que foram transformadas em áreas protegidas, sem ao menos consultar os moradores
locais, sobre a importância de proteção e as precauções que eles deveriam ter com a área. Assim,
77% dos entrevistados responderam que sabem o que significa RDS do Tupé. Em relação aos tipos
das atividades existentes na RDS do Tupé, 37% dos comunitários identificaram as trilhas
interpretativas como recurso forte da reserva e logo em seguida, com 27% o Artesanato que
algumas das comunidades desenvolvem de forma distinta. Cada comunidade apresenta suas
características potenciais, assim como os problemas de cunho social, econômico, ambiental e
cultural que podem surgir à medida que as comunidades não se organizam para receber os turistas e
os visitantes. Por meio da aplicação da referida pesquisa percebeu-se a grande variedade de
atrativos naturais existente na RDS do Tupé e os produtos potenciais para o trabalho do Turismo
Sustentável. Assim, 24% dos entrevistados afirmaram que o artesanato é o produto turístico forte da
área. Para a gestão sustentável do turismo na RDS deve-se: a) a comunidade deverá se organizar em
forma de cooperativas e/ou associações para o desenvolvimento dos seus produtos e assim, está
preparada para o desenvolvimento do turismo sustentável; b) devem ser desenvolvidas ações
socioeducativas para as novas gerações de cada uma das comunidades da RDS do Tupé; c) sejam
oferecidas capacitação e qualificação dos atores sociais do turismo existente nesta área, (todas as
pessoas que trabalham direta e/ou indiretamente com o turismo); d) cotidianamente seja

DESAFIOS DA GESTÃO DO TURISMO SUSTENTÁVEL EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO: 171


O CASO DA “RDS DO TUPÉ” – MANAUS/AM
desenvolvido o trabalho de Educação Ambiental, Educação Patrimonial, para que dessa forma,
possam surgir ações de proteção com o meio ambiente e com as próprias pessoas que habitam o
espaço da RDS; e) se elaborem projetos que estimulem o financiamento dos produtos para os
comunitários com o apoio das Secretarias, Institutos e Fundações Municipais, além de Cooperação
Técnica com órgãos que trabalhem com capacitação e qualificação; e, f ) se crie o Selo Verde para os
produtos com qualidade, oferecidos pelos comunitários na Feira do Tupé, e que seja feita ampla
divulgação do selo e da feira.

CONCLUSÕES

Em relação ao desafio de propor alternativas de gestão na RDS do Tupé, a UC necessita de Plano


de Uso Público que direcione o monitoramento, vigilância e fiscalização do uso turísticos dos
atrativos naturais, especialmente a praia do tupé. Das comunidades trabalhadas, apenas 02 (duas)
não possuem potencialidades passíveis de serem trabalhadas turisticamente, que são: Colônia
Central, pois é bastante distante da margem do lago e não possui nenhum tipo de infraestrutura
básica e a Tatulândia fica localizada nas proximidades de um alojamento de selva, mas é também
precário no quesito de infraestrutura. As demais comunidades de potencialidades turísticas apesar
de receberem visitações de turistas, ainda precisam ser trabalhadas. No entanto, mesmo simples,
seria necessário auxílio externo, em razão da comunidade apesar de ter noção do que seja uma área
protegida, não percebem as possibilidades dos recursos que dispõem, passíveis de serem
transformados em produtos de qualidade a serem comercializados. Portanto, as medidas de gestão
para uso público e turismo na UC devem alinhar as especificidades biofísicas e sociais da região.

REFERENCIAS
ALMEIDA, Joaquim, FROEHLICH. Jose. RIEDI, Mario (Orgs.). Turismo rural e desenvolvimento
sustentável – Campinas SP: Papirus, 2000.
BARRETO, Margarita. Planejamento e organização em turismo. 4. ed. São Paulo: Papirus, 1999.

172 Gestão Empresarial na teia da Sustentabilidade Ambiental


REALIZAÇÃO

Curso de Especialização Lato


Sensu em Gestão Ambiental PPG‐CIFA PROPESP ‐ UFAM
Pró‐Reitoria de Pesquisa e
PROGRAMA DE PÓS‐GRADUAÇÃO EM
Empresarial CIÊNCIAS FLORESTAIS E AMBIENTAIS Pós‐Graduação

PATROCÍNIO E APOIO INSTITUCIONAL

GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS

Ministério da
Ciência, Tecnologia
e Inovação

ISBN 9 788599 122532

9 788599 122532

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