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Lucas da Silva

Mariano da Franca Alencar Neto


Waleska Martins Eloi
Organizadores

REDE DE
DISTRIBUIÇÃO E ÁGUA
SUBTERRÂNEA

PROJETOS DE INTERVENÇÃO Vol. 1


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO MINISTÉRIO DO
INSTITUTO FEDERAL DESENVOLVIMENTO REGIONAL
DO CEARÁ AGENCIA NACIONAL DE ÁGUAS
Presidente da República Presidente da República
Jair Messias Bolsonaro Jair Messias Bolsonaro
Ministro da Educação Ministro do Desenvolvimento Regional
Ricardo Vélez Rodríguez Gustavo Henrique Rigodanzo
Canuto
Secretário de Educação Profissional e
Tecnológica Diretora-presidente Área
Alexandro Ferreira de Souza Administração
Christianne Dias
Reitor do Instituto Federal de Educação
Ciência e Tecnologia do Ceará Diretor de Hidrologia
Virgílio Augusto Sales Araripe Ney Maranhão
Pró-reitor de Ensino Diretor de Gestão
Reuber Saraiva Santiago Ricardo Andrade
Pró-reitor de Administração e Diretor de Planejamento
Planejamento Marcelo Cruz
Tássio Francisco Lofti Matos Diretor de Regulação
Pró-reitora de Extensão Oscar Cordeiro
Zandra Maria R. Mendes Dumaresq Superintendência de Administração,
Pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação Finanças e Gestão de Pessoas
e Inovação Luis André
José Wally Mendonça Menezes Superintendência de Apoio ao Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos
Pró-reitor de Gestão de Pessoas
Hídricos
Ivam Holanda de Souza
Humberto Gonçalves
Assessoria de Relações Internacionais
Superintendência de Fiscalização
Francisco Gutenberg Alan Vaz Lopes
Albuquerque Filho
Superintendência de Gestão da Rede
Diretoria de Assuntos Estudantis Hidrometeorológia
Ana Caroline Cabral Cristino Marcelo Medeiros
Diretoria de Gestão da Tecnologia da Superintendência de Implementação de
Informação Programas e Projetos
Carlos Maurício Jaborandy de Mattos Tibério Pinheiro
Diretoria de Educação a Distância Superintendência de Operações e
Márcio Daniel Damasceno dos Eventos Críticos
Santos Joaquim Gondim
Coordenação do curso Superintendência de Planejamento de
Lucas da Silva Recursos Hídricos
Waleska Martins Eloi Sergio Ayrimoraes
Superintendência de Regulação
Rodrigo Flecha
Superintendência de Tecnologia da
Informação
Sérgio Barbosa
Lucas da Silva
Mariano da Franca Alencar Neto
Waleska Martins Eloi
Organizadores

REDE DE
DISTRIBUIÇÃO E ÁGUA
SUBTERRÂNEA

PROJETOS DE INTERVENÇÃO Vol. 1

Triunfal Gráfica e Editora


Assis - 2019
© Lucas da Silva; Mariano da Franca Alencar Neto;
Waleska Martins Eloi (Org.), 2019.

Os conteúdos a formatação de referências e as opiniões externadas nesta obra


são de responsabilidade exclusiva dos autores de cada texto.

Todos os direitos de publicação e divulgação em língua portuguesa


estão reservados à Instituto Federal do Ceará – IFCE, Agencia Nacional de
Águas - ANA, e aos organizadores da obra.
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.....................................................................7

AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO


DE ÁGUA PARA CONSUMO NA ZONA URBANA
DO MUNICÍPIO DE BERURI-AM...........................................9
Okelyton Ayres Pacheco
Gabrielen de Maria Gomes Dias
David Correia dos Anjos

ESTUDO DE CASO: AMPLIAÇÃO DO SISTEMA DE


ABASTECIMENTO DE ÁGUA DO JARDIM CISOTO
– ESTÂNCIA TURÍSTICA DE OLÍMPIA/SP.........................33
Ana Caroline Vermejo Beloni
Patrícia Marques Carneiro Buarque

PERCEPÇÃO DOS COLABORADORES DA


EMPRESA DE SANEAMENTO DO MUNICÍPIO
DE MARACANAÚ, SOBRE O USO DA REDE
COLETORA DE ESGOTO POR PARTE DOS
USUÁRIOS, E OS PROBLEMAS CAUSADOS POR
SEU USO INADEQUADO......................................................49
Joseneide Oliveira Caitano
Flávio Maria Leite Pinheiro

PROJETO DE INTERVENÇÃO NA REDE DE


DISTRIBUIÇÃO E SISTEMA DE RESERVA DE
ÁGUA DA ZONA URBANA DO MUNICÍPIO DE
CAJARI – MA..........................................................................61
Joelber Costa de Oliveira
Bruno Lucio Meneses Nascimento
Clebson Santos Cândido
PROJETO DE MELHORIA PARA A REDE DE
DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA DA SEDE URBANA DO
MUNICÍPIO DE GUARAMIRANGA-CE..............................79
Jorge André Fernandes
Bruno Lúcio Meneses Nascimento
João Paulo Leite Félix

SETORIZAÇÃO DO SISTEMA DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA (SAA) PARA
REDUÇÃO DE PERDAS HÍDRICAS DE ÁGUA NA
CIDADE DE SÃO JOÃO DO PIAUÍ......................................97
Leonel Vitório Esteves
Luís Gonzaga Pinheiro Neto

PROJETO DE OTIMIZAÇÃO DA ADUTORA DE


ÁGUA TRATADA EM REDENÇÃO – CE...........................119
Francisco Luciveldo Braga da Silva
Ana Karine Portela Vasconcelos
João Paulo Leite Félix

DESSALINIZAÇÃO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA NO


MUNICÍPIO DE GUAIÚBA NO ESTADO DO CEARÁ.....135
Djalma Mourão Albano
Helba Araujo de Queiroz Palácio
Benicia de Almeida Dias Honório

PROPOSTA DE PROGRAMA DE
MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA
SUBTERRÂNEA PARA O MUNICÍPIO DE BELÉM-PA....155
Giovanni Chaves Penner
Neyson Martins Mendonça
Francisco Rafael Sousa Freitas
Mayara Carantino Costa
APRESENTAÇÃO

A presente coleção é fruto dos trabalhos desenvolvidos


ao longo do curso de Especialização em Elaboração e Geren-
ciamento de Projetos para a Gestão Municipal em Recursos Hí-
dricos, ofertado pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e
Tecnologia do Ceará (IFCE), atendendo à solicitação da Agência
Nacional de Águas, que também financiou o projeto. O objetivo
do curso, que se encerra, estava em capacitar gestores, visando
à melhoria e eficiência dos projetos de intervenção implementa-
dos no âmbito municipal.
De abrangência nacional, o curso contou com aproxima-
damente seiscentos alunos em duas turmas sequenciadas, com
representantes de quase todos os Estados brasileiros, distribuí-
dos nas cinco Regiões do País, tendo o importante apoio dos Ins-
titutos Federais em Fortaleza, São Paulo, Florianópolis, Manaus
e Brasília – sempre com disponibilidade e presteza na cessão de
suas instalações e profissionais.
A seleção dos trabalhos de conclusão de curso, apresen-
tada aqui, materializa uma capacitação voltada para projetos
em recursos hídricos no âmbito na gestão municipal – alcan-
çando inevitavelmente o objetivo pretendido.
Como todo projeto de longa duração, esse curso deixou
marcas para além das disciplinas técnicas. Foi um curso transfor-
mador, não só pelo desafio técnico e pela dimensão geográfica de
nosso País, mas, sobretudo, pela existência de um patrimônio cul-
tural imenso, explicitado pelos diversos municípios representados
no curso. Com grande riqueza de costumes, esse contato engran-
deceu a todos nós, alunos, professores e apoiadores – conjunto
tão distinto e fragmentado de ideologias, hábitos e expectativas –
celebrando, nessa união, a unidade desse grande país que somos.
A coleção foi dividida conforme os temas abordados ao
longo da especialização em seus módulos didáticos e nomeada
Projetos de Intervenção, o que ressalta o compromisso com a
ação prática e com a qualificação das iniciativas municipais, no
que se refere ao trato hídrico e ambiental.
Os esforços dos envolvidos no processo de concretização
desse curso de Especialização de Gestão em Recursos Hídricos
resultaram em dez livros.
Além deste Vol. 1 - Rede de distribuição e água
subterrânea, há outros nove, cujos títulos estão dispostos na
seguinte ordem:
Vol. 2 - Planejamento ambiental;
Vol. 3 - Gestão ambiental municipal;
Vol. 4 - Educação ambiental e recursos hídricos;
Vol. 5 - Planejamento e gestão de recursos hídricos;
Vol. 6 - Sistema de captação de água, hidrologia e drenagem;
Vol. 7 - Resíduos sólidos e proteção ambiental;
Vol. 8 - Reúso e reaproveitamento de água;
Vol. 9 - Sistema de tratamento esgoto doméstico;
Vol. 10 - Sistema de tratamento de água.
Esperamos que os trabalhos aqui expostos possam satis-
fazer as expectativas do leitor e, aproveitando a oportunidade,
agradecemos a ANA por idealizar essa iniciativa e, assim, nos
permitir fazer parte dessa empreitada. Agradecemos especial-
mente aos colegas de todos os Institutos Federais que acredita-
ram no curso e o fizeram acontecer.
Obrigado, especialmente, a cada um de nossos alunos, re-
presentados ou não nessa coleção, pela paciência e dedicação,
tão exigidos ao longo desse longo período.

8
AVALIAÇÃO DO SISTEMA DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA PARA
CONSUMO NA ZONA URBANA DO
MUNICÍPIO DE BERURI-AM

Okelyton Ayres Pacheco1


Gabrielen de Maria Gomes Dias2
David Correia dos Anjos3

Resumo: Este estudo foi desenvolvido com o objetivo de avaliar as


condições do sistema de abastecimento público de água da Zona Ur-
bana da Cidade de Beruri/AM. Abordou-se problemas relacionados às
deficiências do sistema de abastecimento de água, a falta de saneamen-
to básico e doenças transmitidas pela ingestão de água. Caracteriza
a situação do sistema de abastecimento de água e os principais pro-
blemas enfrentados. Verificou-se a situação da qualidade da água ao
chegar às residências dos moradores e equiparado com os parâmetros
das Resoluções 518/2004 e 2194/2011. Constatou-se que o sistema
de abastecimento público de água sofre problemas desde a captação,
até a distribuição, ocasionada pela falta de investimentos e falta de
fiscalização por parte dos responsáveis. Foi proposto como ações de
intervenções e de melhorias a implementação de sistema de controle
de qualidade e monitoramento da água.
Palavras-chave: Qualidade da Água; Manancial Subterrâneo; Conta-
minação Hídrica

1 Mestrando em Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de


Maringá – UEM.
E-mail: okelyton@gmail.com
2 Profa. Dra. Universidade, De Integração Internacional Da Lusofonia Afro-
-Brasileira (Unilab).
E-mail: gabriellen@gmail.com
3 Prof. Dr. Universidade Estácio de Sá (Estácio).
E-mail: dav_correia@hotmail.com
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o Brasil avançou com as políticas vol-
tadas para a gestão dos recursos hídricos, passou a fazer parte
da Constituição Federal de 1988 por meio da Lei nº 9.433 em
1997, assegurou a criação da Agência Nacional de Águas - ANA
em 2000, tais avanços busca priorizar a gestão das águas, com
objetivos de solucionar ou minimizar problemas relacionada a
sua escassez em função da deterioração da qualidade dos ma-
nanciais que. Com tais avanços na Política Nacional de Recur-
sos Hídricos, o Brasil passou a ser referência no mundo, tanto
pela sua rica história nos recursos hídricos, como pela evolução
na sua legislação que se mostra eficiente como modelo de ges-
tão (LIMA e SOARES, 2015). A Política Nacional de Recursos
Hídricos, prioriza a qualidade da água e define, dentre seus ob-
jetivos, assegurar a atual e as futuras gerações a necessária dis-
ponibilidade da água, em padrões de qualidade adequados aos
respectivos usos (BRASIL, 2005).
O Estado do Amazonas possui uma área de 1.559.161,682
Km , dividida em 62 municípios e população recenseada esti-
2

mada em 3.483.985 habitantes (IBGE, 2017). É conhecido mun-


dialmente por possuir uma rica e conservada biodiversidade,
nele está concentrado maior parte da água doce disponível em
todo o planeta e possui um dos maiores rios do mundo. Diante
deste cenário apresenta disponibilidade hídrica satisfatória, no
entanto é assolado com problemas de distribuição de água para
consumo humano (ANA, 2009). Para Santos (2006), o maior
problema de distribuição de água potável no Estado, está asso-
ciada a urbanização desordenada, as atividades industriais e a
falta de investimentos em saneamento básico, atingindo prin-
cipalmente as regiões de periferias onde a falta de saneamento

10
adequado e as diferenças sociais refletem na saúde e qualidade
de vida da população.
O município de Beruri fica a margem direita do rio Purus
uma das principais bacias da região, sendo o maior tributário do
rio Solimões, possui 18.700 habitantes, área de 17.472,785 km2
e limita-se territorialmente com os municípios de Anamã, Anori
e Tapauá (IBGE, 2018). O Sistema de Abastecimento Público de
Água do município foi criado pela Lei 134/2003, que se refere
a implementação de um setor Intitulado Águas de Beruri, su-
bordinado a Secretaria de Administração Pública (CMB, 2018).
Assim como, os problemas enfrentados pelo Estado, a maior di-
ficuldade do município é ofertar serviços de saneamento básico
e promover água tratada para consumo humano, a falta de trata-
mento em um serviço tão essencial para a manutenção da vida
pode ocasionar sérios agravos a saúde da população impactando
em sua qualidade de vida (FERREIRA et al., 2016, p 53).

PROJETO DE INTERVENÇÃO
JUSTIFICATIVA
Resultados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico,
divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-
IBGE (2000), demonstraram a caótica situação do País, onde
o lixo, as inundações e o aumento das doenças por veiculação
hídrica, constituem desafios à vontade políticos dos governos,
exigindo investimentos da ordem de 80 bilhões de reais. Segun-
do Brasil, (2015) a situação é mais precária na Região Norte,
que possui 60% dos SAAs sem tratamento, seguida da Região
Nordeste, com 41%. Apesar de a região amazônica possuir a
vantagem de ser privilegiada por dispor de abundantes recursos
hídricos, a distribuição do mesmo para o consumo humano nos

11
municípios do estado do Amazonas é precário, principalmente no
que se refere as técnicas e estruturas adequadas à captação e dis-
tribuição eficaz para que não haja contaminação no decorrer do
processo (CRUZ, 2015, p. 2). As doenças de veiculação hídrica
têm uma relação direta com a qualidade da água. Dessa forma,
uma água que é utilizada principalmente para consumo humano
e não tem tratamento é a principal fonte de risco para o homem.
As doenças de veiculação hídrica são causadas por microorga-
nismos patogênicos na água utilizada para diversos fins (Compa-
nhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB, 2015).
No âmbito rural, a questão do fornecimento de água se
difere de regiões urbanizadas com população mais concentrada.
Utilizam-se soluções alternativas de abastecimento de água para
consumo humano, distintas do sistema de abastecimento de água
encontrado nos grandes centros (FUNASA, 2006). Cruz (2015),
relata que os municípios do Estado do Amazonas possuem con-
dições de saneamento precárias, um fator que somado com os
períodos de vazante e seca, favorecem a contaminação da água
que chega aos domicílios, ocasionando por vez índices de in-
fectados por hepatite A e outras doenças de transmissão hídrica
como a diarréia. Em muitos municípios, há cobertura por SAA;
no entanto, o fornecimento é extremamente precário, como em
Tabatinga, no Amazonas, onde a grande maioria das residências
tem poços freáticos como complemento ou garantia contra a in-
termitência no abastecimento ou contra a má qualidade da água
fornecida, resultando em captação de água de má qualidade para
o consumo (BRASIL, 2011).
No sistema de abastecimento público de água da cidade
de Beruri, objeto deste estudo, foram identificados vários pro-
blemas que afetam as atividades operacionais e estruturais que
fragilizam o sistema, esses problemas o impedem de fornecer

12
serviços e produtos com padrão de qualidade. Entre os principais
problemas está a ausência de programa de controle de qualidade
da água que assegure sua potabilidade, manutenção preventiva
nos poços e equipamentos, falta de limpeza e sanitização dos re-
servatórios, problemas recorrentes de vazamentos e rompimen-
tos nas redes de distribuições de água, inviabilidade econômica
e falta de prioridades por parte da administração direta a qual
está vinculada. Estudo realizado por Ferreira et al., (2016) tam-
bém identificou no sistema público de Abastecimento de Água
de Beruri uma série de irregularidades como baixa capacidade
de investimentos em estruturas pelo poder público, ausência de
controle de qualidade da água e alto índice de desperdício devi-
do a rompimentos das tubulações possibilitando a contaminação
física, química e bacteriológica.

OBJETIVO GERAL
Propor ações para o melhoramento das condições do Sis-
tema de Abastecimento de Água da Zona Urbana do Município
de Beruri-AM.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Demonstrar as condições das estruturas do sistema dos
poços de abastecimentos de água da rede de distribuição e dos
pontos de coleta domiciliar da cidade de Beruri.
Verificar os padrões de Controle de Qualidades da Água apli-
cados para garantir a qualidade da água para o consumo humano.
Caracterizar as condições da água fornecida pelo SAA de
Beruri, para a população por meio de análise microbiológica e físi-
co-química; comparar os resultados obtidos com os padrões da qua-
lidade da água para consumo de acordo com a legislação vigente.

13
METODOLOGIA
Área De Estudo
O lócus da pesquisa foi o Município de Beruri/AM. loca-
lizado a uma latitude de 03º 53’ 54” sul e a uma longitude 61º
22’ 23” oeste. Pertencente a microrregião de Coari e na Mesor-
região do Centro Amazonense e limitando-se com os municípios
de Anamã, Anori e Tapauá.

Técnica E Instrumentos De Pesquisa


Para este estudo foi realizado o levantamento de dados
e os registros das condições físicas e ambientais do sistema de
abastecimento de água do município “in loco” por meio de fotos
e descrição do local.
Para identificar o padrão de controle de qualidade da água
foi observado as atividades operacionais como, procedimento de
troca da bomba submersa, manutenção dos poços artesianos e
os cuidados quanto a contaminação da água durante a operação.
Para verificar as condições da água fornecida pelo sistema
de abastecimento à população, foi registrado o momento de cap-
tação de água na residência de um morador local.
As condições físicas, ambientais e os aspectos da con-
dição da água do sistema de abastecimento foram equiparados
com as determinações dos padrões exigidos pelas Portarias do
Ministério da Saúde n° 518/2004 e 2914/2011 respectivamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Resolução Conama no 396/08 em seus Artigos arts. 20
e 21 determinam que os órgãos ambientais, em conjunto com
os órgãos de gestão dos recursos hídricos, devem implementar
áreas de proteção de aquíferos e perímetros de proteção de poços

14
de abastecimento (BRASIL, 2008). Em algumas áreas dos poços
que constitui o sistema de abastecimento de água no município
de Beruri, ainda é possível identificar a falta de dispositivos li-
mitantes, como cercas, grades e muros que impeçam ações de
fatores externos de atuarem nos limites do ponto de captação, a
incidência de vegetação alta também corrobora para a sensação
de abandono deixando vulnerável ações de invasores (Figura 1).
Figura 1 – Poço Artesiano do Bairro São Francisco.

Fonte: Madson Oliveira, 2015.

O mesmo ocorre com o reservatório do poço do bairro de


São Pedro, ainda em obras, também está desprovido de dispositivos
limitantes com vegetação altas e não possui segurança pública no
local. Tais irregularidades já forma detectados pelo Departamento
de Auditoria Ambiental do Tribunal de Contas do Estado do
Amazonas em 2014, evidenciou fragilidades em relação aos
dispositivos limitantes e ausência de segurança patrimonial além
de um poço sem qualquer proteção (FERREIRA et al., 2016).

15
O acompanhamento das atividades operacionais da lim-
peza e trocas de bombas em alguns dos poços de capitação do
sistema de abastecimento da cidade de Beruri, possibilitou cons-
tatar que alguns procedimentos não obedecem às normas de se-
gurança do trabalho e não utilizam quaisquer parâmetros para
evitar a contaminação da água, como ilustra a figura 2.
Figura 2 – Troca de Bomba Submersa e Manutenção do Poço.

Fonte: Madson Oliveira, 2017.

Observa-se que os poços recebem a troca das bombas


quando ocorrem problemas, a manutenção desses poços é bas-
tante rudimentar que se torna um atenuante de risco para pos-

16
sível contaminação, uma vez que o entorno do local não está
limpo ou que seus colaboradores não estão paramentados de
forma regular. Durante as atividades de troca das bombas e
limpeza dos poços, não foi aplicado qualquer tratamento quí-
mico específico afim de reduzir ou eliminar possíveis contami-
nantes bacteriológicos e a sedimentação de resíduos que pos-
sam promover a contaminação física. Toda água destinada ao
ser humano deve estar de acordo com os padrões estabelecidos
pelo Ministério da Saúde, a partir da Portaria 2.914/2011, vi-
sando à preservação de sua qualidade, que é vulnerável às con-
dições ambientais a qual está exposta. No entanto, na maioria
das vezes, essa água necessita de um tratamento para torná-la
potável (BRASIL, 2011).
Outro fator preocupante é caracterizado pala proximida-
des poços de abastecimento as residências, por este motivo ne-
cessitam de atenção e cuidados com as fossas sépticas e dejetos
descartados oriundos dos moradores próximos a esses locais,
pois o município não dispõe de sistema de esgotamento sanitário
adequado. Várias são as formas de contaminação de uma rede,
mas os fatores externos como a proximidade de fossas, redes
coletoras de esgotos, esgotos a céu aberto, em volta da casa e nas
ruas, aumentam os riscos, porque vermes e bactérias contaminam
a água e o chão. A própria água da chuva, pode alcançar a rede
e carrear contaminantes do solo, quando a mesma não é devida-
mente instalada abaixo da superfície (FERREIRA et al., 2016).
A rede de distribuição ao longo de sua extensão é compos-
ta de tubos em PVC, nos bairros do centro da cidade a tubulação
é canaliza em baixo das vias públicas, e quando recebem manu-
tenção ou quando se detecta qualquer vazamento é necessário
escavar retirando a pavimentação da via (Figura 3), e causando
transtorno para a fluidez do trânsito.

17
Figura 3 – Manutenção da Rede de Distribuição em Vias Públicas.

Fonte: Sebastião Picanço, 2017.

É possível observar também que um dos possíveis pro-


blemas que causam rompimentos da tubulação em vias, está re-
lacionado com a falta de profundidade ideal das redes adutoras
que não chegam a um metro de profundidade. A rotineira inci-
dência de rompimentos da tubulação é a realidade da falta de in-
vestimentos que eleva os custos com ações corretivas, aumenta
os desperdícios de água com vazamentos nas tubulações e gera a
possibilidade de contaminação de agentes patológicos que pode
comprometer a qualidade da água por meio das infiltrações de-
correntes dos vazamentos ou rompimentos (Figura 4).

18
Figura 4 – Rompimento da Rede de Tubulação.

Fonte: Sebastião Picanço, 2017.

Para Ferreira et al., (2016), tais problemas são ocasio-


nados pela deficiência do planejamento, baixa capacidade de
investimento e a não priorização no setor de saneamento com
ênfase ao abastecimento, estão entre as principais causas de de-
preciação do sistema.
Com investimentos insuficientes ou nulos no sistema de
abastecimento público de água, os prejuízos tornam-se cada vez
mais incalculáveis ao longo dos anos, expondo a população aos
riscos de um serviço que não assegura satisfatoriamente um
padrão de qualidade para fins de consumo humano, é possível
observar a olho nú (figura 5), as condições da água que chega
aos consumidores, não atende tais critérios determinados pela
legislação, expondo a sérios danos à saúde da população.

19
Figura 5 – Amostra de Água da População com Alta Concentração de
resíduo.

Fonte: Lane Picanço, 2018.

O Ministério da Saúde a Portaria Nº 2.914, DE 12 de


Dezembro de 2011 Dispõe sobre os procedimentos de controle
e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e
seu padrão de potabilidade, este padrão é composto por padrão
microbiológico, padrão de turbidez, padrão de substâncias quí-
micas, padrão de aceitação para consumo humano, e padrão de
cianotoxinas (BRASIL, 2011).
Dentre os aspectos mais relevantes que ajuda o consumi-
dor a perceber que a água não está apta para o seu consumo, é a
turbidez, que é uma medida de grau de interferência a passagem
da luz através do líquido, (Figura 6) água chegando às residên-
cias dos moradores com um elevado grau de turbidez, impossi-
bilitando seu uso para consumo.

20
Figura 6 – Água com alta concentração de turbidez.

Fonte: Orivan Pacheco, 2016.

A análise dos indicadores “coliformes totais” e “turbidez”,


que são monitorados pelas vigilâncias e pelos responsáveis pelo
abastecimento de água, reforçam os problemas de abastecimento
diferenciado por região. No Norte, encontramos os maiores índi-
ces do parâmetro turbidez da água oferecida à população. Nessa
região, a média de turbidez na saída do tratamento é de 3,15 uT
(unidades de turbidez), chegando a 6,42 uT no Acre (BRASIL,
2015). De acordo com o mesmo autor o elevado percentual de
água fornecida sem tratamento mostra a desestruturação do sanea-
mento no Brasil e a desigualdade regional nesse quesito afetando
principalmente as regiões Norte e Nordeste, onde são encontrados
os menores indicadores de desenvolvimento humano.
Neste mesmo sentido, Auditoria do Tribunal de Contas do
Estado do Amazonas, por meio do Departamento de Auditoria
Ambiental, realizou a fim de obter um quadro diagnostico sim-
plificado da qualidade da água no município de Beruri em par-
cerias com a Fundação de Vigilância em Saúde – FVS análises
microbiológica e físico-química da água do sistema de abasteci-
mento de água do município de Beruri onde foram coletadas dos
pontos do reservatório central, do poço da Rua Castro Alves e
da torneira da Residência (Quadro 1) (FERREIRA et al., 2016).

21
Quadro 1 - Análise Microbiologia e Físico-química.
Resultados dos parâmetros microbiológicos
e físico-químico da água em Beruri

PONTO DE
ESPECIFICA- MICROBIO- FISICO- OBSERVA-
COLETA DAS
ÇÃO LOGICA QUIMICO ÇÃO
AMOSTRAS

Presença de
Residência –
Água não Coliformes Captação
torneira ca- Satisfatório
tratada totais subterrânea
valete
Insatisfatório

Presença de
Água não Coliformes Captação
Reservatório Satisfatório
tratada totais subterrânea
Insatisfatório

Presença de
Poço da Rua Água não Coliformes Captação
Satisfatório
Castro Alves tratada totais subterrânea
Insatisfatório

Fonte: DEAMB, 2014.

A vigilância da qualidade da água para consumo humano


adota os seguintes indicadores para aferir a qualidade da água con-
sumida no Brasil: cloro residual livre (CRL) – indicador de pota-
bilidade microbiológica por meio da inativação de organismos pa-
togênicos; turbidez – indicador sanitário da eficiência da filtração
durante o processo de tratamento; e os coliformes totais e Esche-
richia coli – bioindicadores de contaminação (BRASIL, 2015).
A Portaria 2.914/2007 estabelece que a simples presença
de bactérias desse grupo na água a torna imprópria ao consumo
humano. O resultado da análise constata uma situação extrema-
mente preocupante com o sistema de abastecimento de água,
pois de todos os locais de coletas da residência, reservatório e
poço, apresentaram para a análise microbiológica a presença
de coliformes, que são bactérias que habitam normalmente nos

22
intestinos humanos e de animais, indicando que a água desses
locais está contaminada e imprópria para o consumo, por con-
sequência pode trazer riscos à saúde. O percentual de amostras,
em conformidade com a Portaria MS n° 2.914/2011, para o parâ-
metro coliformes totais no SAA, na saída do tratamento e na
rede de distribuição Nas regiões Norte, Sul e Sudeste, a confor-
midade é maior na saída do tratamento, indicando que existem
problemas na rede de distribuição que estão causando a deterio-
ração da qualidade da água distribuída (BRASIL, 2015).
O sistema de abastecimento de água no município de
Beruri não possui nenhum tipo de tratamento de água, foi
observado durante o acompanhamento das atividades neste
estudo e constatado por meio da Auditoria do Tribunal de
Contas do Estado do Amazonas em 2014, foi observado que a
necessidade em caráter de urgência a aplicação da limpeza dos
poços artesianos com tratamentos químicos para eliminar os
riscos por contaminação microbiológica além dos investimentos
em reestruturações físicas.

AÇÕES E INTERVENÇÕES
Foram identificadas uma série de problemas de infraestru-
turas e operacionais no sistema de abastecimento de água, que
são atribuídos pela falta de investimentos onde alguns problemas
ocorrem de maneira crítica ao longo dos anos, como falta de trata-
mento químico. A implementação de medidas de controle, aplica-
ção de processos operacionais e adequações de estruturas físicas
são algumas das propostas de ações que devem ser aplicadas como
melhoria do sistema de abastecimento público de água. Além da
principal intervenção, que tem como objetivo implementar um
sistema de controle de qualidade que assegure a potabilidade da
água obedecendo dos padrões das Resoluções do Ministério da

23
Saúde N° 518/2004 e 2194/2011 onde são definidos os padrões de
qualidade da água para consumo humano. Abaixo está elencada
uma série de ações que devem ser aplicadas no sistema.
Etapa Onde O quê Amparo legal.
- Limpeza e desinfecção dos poços
de abastecimento de água da esta-
ção central e das subestações.
CNRH Nº
- Manutenção das bombas submer-
Poços de 22/2002.
sas dos poços.
abasteci- MS Nº
01 - Implantação de um sistema de
mento de 518/2004.
dosador de cloro em todos os poços
água. MS Nº
em atividades do sistema de abas-
2194/2011.
tecimento de água do município.
- Analise microbiológica.
- Analise físico-química.
MS Nº
- Limpeza e desinfecção dos reser-
Reserva- 518/2004.
02 vatórios da estação central e das
tório MS Nº
subestações.
2194/2011.
- Levantamento dos pontos mais
vulneráveis a vazamentos ou rom-
MS Nº
pimentos.
Rede de 518/2004.
03 - Identificação das ligações irregu-
distribuição MS Nº
lares.
2194/2011
- Definição das áreas para limpeza
e substituição dos tubos.
- Efetuar os serviços de limpezas
como rebaixamento das vegeta-
ções.
CONAMA Nº
- Construção de muros ou cercas.
396/2008.
- Pinturas das partes internas e
PNRH Nº
externas.
Área 316/2007.
04 - Placas de sinalização, de identifi-
externa MS Nº
cação da unidade de Abastecimento
518/2004.
de água na estação central e das
MS Nº
subestações.
2194/2011
- Sinalizar quanto ao perigo do lixo
domiciliar descartado próximo ao
SAA.

24
Etapa Onde O quê Amparo legal.

MS Nº
-Treinamento de capacitação dos
518/2004.
operadores do sistema.
MS Nº
Capacita- -Capacitação do responsável téc-
05 2194/2011.
ção nico.
LEI
-Dispor de segurança patrimonial
Nº8666/1993.
para proteção das unidades.

ATORES ENVOLVIDOS
O ministério da saúde por meio da Portaria Nº 2.914, DE
12 DE DEZEMBRO DE 2011 Dispõe sobre os procedimentos de
controle e de vigilância da qualidade da água para consumo hu-
mano e seu padrão de potabilidade. Determina também as atribui-
ções das esferas federais, estaduais, municipais além da empresa
ou órgão responsável pelo sistema de abastecimento público.
A atribuição determinada aos Gestores das esferas do
poder público não está sendo aplicada a realidade do municí-
pio. O SAA de Beruri sofre com a falta de fiscalizações e im-
plantações, de programas de vigilância e monitoramento tanto
dos mananciais quanto dos poços de captação. No município
não existe um laboratório especifico para a análise microbio-
lógica e físico-química para caracterizar a qualidade da água
quanto a sua condição de consumo. Não há ação de promover
e acompanhar a Vigilância da água por parte do Poder Públi-
co Federal. A ausência de um Controle de Qualidade da Água
para consumo humano, no SAA de Beruri, evidencia a omissão
pelos órgãos fiscalizadores, Municipais e Estaduais, pois é de
competência dos órgãos auditarem o controle da água produzi-
da e distribuída, além de alerta a população quanto aos riscos
eminentes de água contaminadas.

25
A população é um dos principais atores envolvidos, pois
se torna vítima de um sistema onde deveria ser rigorosamente
fiscalizado pelo Poder Público, Municipal, Estadual e Federal.
É notória que as fiscalizações e as demais competências dos ór-
gãos e entidades envolvidas tornam-se um problema recorrente
que afeta a base da qualidade de vida para uma população que
visa ou que almeja viver com dignidade usufruindo de serviços
básicos com qualidade.
Recursos necessários

Responsável técnico habilitado; Auxiliares de operação;


Humanos
Auxiliar Administrativo.

Tintas para pinturas de cercas e muros, tintas para pinturas


de solo, tijolos, cimentos, areias, argamassa, arame para
Estruturais
cercamento, estacas de cimento, tubos em PVC para manu-
tenção de rede de distribuição.

Para escritório: mesa de computador; mesa para reunião;


impressora; Armários de arquivamentos;
máquina fotográfica; computador portátil.
Materiais Para manutenção: Roçadeira, capacetes, luvas, cinto de
segurança estilo paraquedista para atividades com diferen-
ças de nível, cordas especiais para escaladas, ferramentas
(chaves especificas) para manutenção, botas de cano longo.

Treinamentos periódicos para agentes operadores.


Cognitivos
Treinamentos periódicos para responsável técnico.

26
VIABILIDADE
O Sistema de Abastecimento de Água da cidade já possui
uma equipe definida e atuante, composta por 9 funcionários pú-
blicos Municipais, sendo 5 funcionários efetivos, 3 contratados
nos regimes RDA/CLT e 1 comissionado. Devida a composição
da equipe, torna-se dispensável a contratação de mão de obra,
pois em companhias municipais as despesas com pessoal têm
peso significativo no custo dos serviços, uma vez que influen-
ciam no equilíbrio financeiro da autarquia e na sua capacidade
de investimento. Nas estruturas físicas da área administrativa do
prédio central, necessita de pequenos reparos de baixo custo e a
aquisição de novos equipamentos para execução das atividades
de controle financeiro e administrativo.

RISCOS E DIFICULDADES
Por esta sob a gestão da administração direta, o sistema de
abastecimento de água se caracteriza como departamentos agre-
gados a secretarias e se torna dependente, assim, a movimenta-
ção de pessoal, a aquisição de bens e serviços, contabilidade,
assessoria jurídica e outras atividades ficam integradas às rotinas
de setores que dão apoio às atividades do departamento. A defi-
ciência operacional, na administração direta está intimamente li-
gada à falta de determinação política para montar uma estrutura
técnico administrativa que sinalize com providências concretas
para organizar a participação do município na prestação dos ser-
viços de interesse local.

27
Cronograma

PERÍODO

ETAPA

MAR

AGO

NOV
OUT
ABR

DEZ
SET
FEV

JUN
JAN

JUL
MAI
PERIODO

Planeja-
X X X X X X X X
mento

01 X X X X Imediato

02 X Semestral

03 X X X X Imediato

04 X X X X Imediato

05 X X X X Imediato

Auditoria X X X X Mensal

GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO


A gestão do projeto de intervenção será de responsabilida-
de da administração direta municipal ao qual o setor de água faz
parte e terá todas as ações garantidas em parcerias com outros
órgãos, tais como secretaria de obras e urbanismo, secretaria de
saúde e secretaria de vigilância sanitária municipal. A execução
dos serviços estruturais como a construção de cercas, muros, gra-
des e serviços de limpeza, pinturas e capinagem serão executados
pela secretaria municipal de obras e urbanismo. Quanto à manu-
tenção no SAA será executado pelo setor responsável e fiscaliza-
do pela secretaria municipal de saúde junto com a secretaria de
vigilância sanitária municipal. A avaliação de desempenho será
por meio de relatório descritivo e ilustrativo das ações imple-
mentadas, a definição do responsável por avaliar tais ações é de
responsabilidade da gestão municipal com o parecer do gestor.

28
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As ações elencadas buscam corrigir a situação inadequa-
da do Sistema de Abastecimento de Água da Cidade de Beruri
que ao longo dos anos sofre com a mesma deficiência, tornando
se um agravante a saúde pública, as melhorias devem atender to-
das as etapas do sistema. Nos poços de captação há necessidade
de um tratamento químico e microbiológico, pois foi confirma-
do a presença de coliformes em amostra de poços do sistema e
identificado alto grau de turbidez, há necessidade do monitora-
mento microbiológicos por meio de análises em todos os poços.
No principal poço do sistema, é recomendado a implantação de
um clorador de pastilha como objetivo de reduzir a contamina-
ção na saída do poço. As redes de distribuição necessitam de
investimentos ao longo de sua extensão no intuito de reduzir os
vazamentos e desperdícios, e eliminar os excessos de resíduos
de areia e barros que contribui para o aumento dos gastos em
medidas corretivas ineficazes que expõe os usuários a contami-
nação gerando ônus a administração e expondo os consumidores
a contaminação.

REFERÊNCIAS
BRASIL, Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Proposta de resolu-
ção n° 92, de 05 de novembro de 2008. Disponível em http://www.abas.
org/arquivos/resolucao_cnrh_92_prot_conserv_as.pdf> Acesso em
25/07/2018.

BRASIL. Agência Nacional de Águas. Panorama da qualidade das águas


superficiais no Brasil. ANA. Brasilia. 11 p. ISBN 85-89629-06-6. 2005.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Depar-


tamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Aná-
lise de indicadores relacionados à água para consumo humano e doenças
de veiculação hídrica no Brasil, ano 2013, utilizando a metodologia da

29
matriz de indicadores da Organização Mundial da Saúde / Ministério da
Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância em
Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador. Ministério da Saúde. Brasília.
2015. 37 p.

BRASIL. CONAMA nº 396/2008. Disponível em <www.mma.gov.br/


port/conama/legiabre.cfm?codlegi=562> acesso em 15 de 05 de 2018.
IBGE. Cidades.Ibge.gov.br. 2018. Disponível em <http//cidades.ibge.
gov.br/am/beruri.> acesso em 30 de 05 de 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Comentários sobre a Portaria MS n.º


518/2004: subsídios para implementação. 1ª. Ed. Ministério da Saúde, v.
I, Brasília.2005. 13a - 13b p. ISBN 85-334-0938-9.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Ministério da Saúde, Brasília, 12


dez. 2011. Disponível em:<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/
gm/2011/prt2914_12_12_2011.html>. Acesso em: 15 abr. 2018.

CETESB. Publicações e relatórios. 2015. Disponível em <www.agua-


sinteriores.cetesb.sp.gov.br/publicações-e-relatorios> acesso em 20 de
05 de 2018.

CMB – Câmara Municipal de Beruri. Lei Municipal 134/2003. Disponí-


vel em <http://www.ale.am.gov.br/beruri/a-camara/legislacao-munici-
pal> Acesso em 26/07/2018.

CRUZ, Jaqueline Braga da. Geografia da saúde: o abastecimento de água


e as doenças de veiculação hídrica na cidade de Manacapuru. 15º Con-
gresso nacional de iniciação científica., São Paulo: UEA, 2015, 2-11.

FERREIRA, A. J. M. et al. Auditoria operacional e ambiental em sistemas


públicos de abastecimentos de água do Amazonas. Tribunal de Contas
do Estado do Amazonas. Manaus, p. 20, 45, 53, 55, 61-108. 2016.

FUNASA. Manual de Saneamento. 3. ed. rev. Brasília: Fundação Nacio-


nal de Saúde, 2006.

FVS. FUNDAÇÃO DE VIGILANCIA EM SAÚDE DO AMAZONAS.


Boletim de vigilância em Saúde. Governo do Estado do Amazonas. Ma-
naus, p. 2. 2017.

30
IBGE. Cidade de Beruri 2017. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.
br/brasil/am/beruri/panorama>. Acesso em: 05 abr. 2018.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2000. Disponí-


vel em <www2.ibge.gov.br/home/estatística/economia/pam/tabela1/
shtm> acesso em 28 de 05 de 2018.

LIMA, Berthyer Peixoto, e MÁRCIA, Caldas Soares. Aspectos Legais e


Institucionais da Gestão de Recursos Hídricos. Curso de especialização a
distância em elaboração e gernciamento de projetos para a gestão muni-
cipal e recursos hídricos, Fortaleza: IFCE, 2015.

SANTOS, L. A. D. A falta de saneamento é o principal responsável pelos


índices de doenças de veiculação hídrica? Um estudo das populações que
habitam as margens de igarapés em Manaus. Universidade Federal do
Amazonas. Manaus, p. 13-18. 2006.

31
ESTUDO DE CASO: AMPLIAÇÃO DO
SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE
ÁGUA DO JARDIM CISOTO – ESTÂNCIA
TURÍSTICA DE OLÍMPIA/SP

Ana Caroline Vermejo Beloni1


Patrícia Marques Carneiro Buarque2

Resumo: A expansão da malha urbana e o desenvolvimento turísti-


co no município de Olímpia, são fatores que acentuam os problemas
relacionados ao abastecimento de água tratada. A partir das observa-
ções realizadas no estudo de caso, foi possível analisar as dificuldades
enfrentadas pelos munícipes do Jardim Cisoto, e assim, propor a am-
pliação e manutenção dos atuais sistemas de abastecimento. Para tanto
a metodologia adotada para o desenvolvimento deste trabalho foi de
caráter descritivo, com fontes de pesquisas primárias e secundárias,
apresentando um cenário favorável para os serviços de saneamento,
em atendimento à população residente do bairro supracitado.
Palavras-chave: Abastecimento; Água tratada; Saneamento.

INTRODUÇÃO
O município da Estância Turística de Olímpia/SP está loca-
lizado no interior do Estado de São Paulo, na região Noroeste do
Estado, a 429 km da capital. A população é de 54.037 habitantes
(IBGE 2017). A Estância abriga o parque aquático mais visitado da
América Latina e o quarto mais visitado em todo o mundo: o Ther-
1 Bacharel em Engenharia Civil, pelo Centro Educacional da Fundação de
Barretos (UNIFEB, 2014), pós graduada em Engenharia Ambiental e Sa-
neamento Básico (Estácio de Sá, 2016), e pós graduada em Especialização
em Elaboração e Gerenciamento de Projetos para Gestão Municipal de
Recursos (IFCE - Campus São Paulo, 2018).
2 Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Cea-
rá, Campus Quixadá, mestre em Engenharia Civil com área de concen-
tração em Saneamento Ambiental (UFC, 2012) e doutora em Engenharia
Civil, área de concentração Saneamento Ambiental (UFC, 2017).
mas dos Laranjais (ESTRUTURA, 2018). Consequentemente, o
turismo é atualmente a principal atividade econômica do município
e este cenário vem atraindo grandes investimentos na área de ho-
telaria. Os munícipes também estão investindo cada vez mais em
casas de aluguel para temporada. Entretanto, a infraestrutura da ci-
dade não acompanhou o crescimento turístico. Considerando a ex-
pansão da malha urbana e a população flutuante (aproximadamente
20 mil pessoas/dia), acentuam-se a ausência de recursos que se re-
fletem na prestação dos serviços para os bairros existentes, operan-
do apenas raramente com a manutenção do sistema atual, que se
mostra incapaz de atender às demandas atuais e futuras, transfor-
mando-se em um gargalo para o desenvolvimento da Estância. O
sistema atual responsável pelo abastecimento de água tratada é um
sistema tipo misto, ou seja: manancial superficial (42,90%) e ma-
nancial subterrâneo (57,10%). Ante os fatos expostos é imprescin-
dível que o órgão Municipal responsável pelo saneamento invista
na melhoria dos sistemas existentes de abastecimento de água trata-
da para atender a população com qualidade e quantidade suficiente.

SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA


Um sistema de abastecimento de água (Figura 1) consiste
no conjunto de obras, equipamentos e serviços com o objetivo
de levar água potável para uso no consumo doméstico, industrial,
serviço público, entre outros.
Figura 1 - Sistema de abastecimento de água tratada

Fonte: EOS CONSULTORES (2018)

34
As unidades deste sistema são denominadas de subsis-
temas:
Subsistema de Manancial (Superficial ou Subterrâneo):
O manancial é a fonte para o suprimento de água, podendo ser
águas superficiais ou subterrâneas, ambas é o mesmo recurso hí-
drico, fluindo por um meio físico diferente. Os mananciais su-
perficiais são geralmente: córregos, rios, lagos e represas; e os
mananciais subterrâneos são os aquíferos (TSUTIYA, 2006).
Subsistema de Captação (Superficial ou Subterrânea): O
tipo de captação varia conforme as condições locais, hidrológicas,
topográficas e, no caso das águas subterrâneas, também segundo
condições hidro geológicas. A captação superficial é um conjunto
de estruturas e dispositivos instalados e construídos junto ao ma-
nancial superficial, quando o manancial estiver em cota inferior à
cidade, haverá a necessidade de uma Estação Elevatória de Água
(EEA) para o seu bombeamento (TSUTIYA, 2006). A tomada de
água deve ser no ponto mais a montante possível, tendo em vista
a proteção contra a poluição produzida por efluentes urbanos ou
industriais. (VILAS-BOAS, 2008). A captação de água subterrânea
é realizada através de poços tubulares profundos. Para a extração
deste recurso, são utilizados conjuntos motor-bomba submersa e
dependendo da temperatura da água, em alguns casos se faz neces-
sário o processo de resfriamento (TSUTIYA, 2006).
Subsistema de Adução: Consiste em canalizações que
conduzem a água para as unidades que precedem a rede de distri-
buição. As adutoras interligam a captação de água tratada, ETA e
reservatórios, entretanto, não distribuem a água aos consumidores.
Podem ser classificadas quanto à natureza da água transportada:
adutora de água bruta (antes da ETA) ou adutora de água tratada
(após a ETA). O subsistema pode trabalhar por gravidade, por re-
calque (bombeamento) ou de forma mista (gravidade e recalque).

35
Subsistema de Tratamento: No subsistema de tratamen-
to é onde são conferidas as características adequadas à utilização
da água para consumo, mediante processos físicos, químicos e
biológicos. (VILAS-BOAS, 2008). O tratamento referente ao
manancial superficial, na maioria das vezes se dá em uma Esta-
ção de Tratamento de Água – ETA. Para o manancial subterrâ-
neo, geralmente a água não precisa ser tratada, apenas é neces-
sário o processo de desinfecção para torná-la potável e livre da
contaminação, ou seja, a realização da cloração e da fluoretação
da água (TSUTIYA, 2006).
Subsistema de Reservatório: Tem como finalidade re-
gularizar as vazões de consumo de um determinado setor, de
maneira que a vazão de adução seja constante ao longo do dia.
Consequentemente, as adutoras não precisam transportar as va-
zões máximas horárias de consumo, o que diminui substancial-
mente os diâmetros necessários para o seu dimensionamento
(MACRUZ; ZAHED FILHO, 2017).
Subsistema de Rede de distribuição de água tratada:
Consiste numa rede principal a qual se associa uma rede secun-
dária essencialmente ramificada, na qual se conduz a água tra-
tada do reservatório para os pontos de consumo, por meio de
tubulações instaladas nas vias públicas. Para o perfeito funcio-
namento deste subsistema é necessário haver pressão satisfatória
em todos os seus pontos.
Subsistema de Ramal Domiciliar: O ramal domiciliar é
a tubulação compreendida entre a rede pública de abastecimento
de água e a extremidade a montante do alimentador predial ou
de rede predial de distribuição, ou seja, hidrômetro ou peça limi-
tadora de vazão (ABNT, 1998).

36
PERDA DE ÁGUA
De primeiro momento entende-se que a “perda” é toda
a água tratada que foi produzida e se perdeu no caminho, não
chegando ao consumidor final. Assim, os elevados índices de
perdas nos sistemas de abastecimento são na sua maioria, re-
sultados da deterioração dos sistemas mais antigos, ou seja, que
não sofrem adequada manutenção e recuperação. Não é possível
contar com “perda zero”, mas sim, com um nível de perdas que
será “aceitável”, sob o ponto de vista econômico, operacional e
de conservação dos recursos hídricos (TSUTIYA, 2006).
A representação gráfica, ilustrada na Figura 2, representa
os índices de perdas segundo as regiões geográficas e a média
do Brasil (linha vermelha igual a 38,1%), dos prestadores de
serviços participantes do SNIS em 2016.
Figura 2 - Índice de perdas na distribuição (indicador IN049), segundo
região geográfica e a média do Brasil

Fonte: SNIS (2018)

A Tabela 1 representada a seguir, demonstra o índice de


perdas na distribuição, segundo estado e a região Sudeste.

37
Tabela 1– Índice de perdas na distribuição: Estados brasileiros e re-
gião Sudeste

Estado/ Espírito Minas Rio de


São Paulo Sudeste
Região Santo Gerais Janeiro

% 36,30 35,10 31,40 36,10 34,70

Fonte: Adaptado SNIS (2018)

CONSUMO PER CAPITA


Para HELLER E PÁDUA (2010) o consumo per capita
(L/hab.dia) - qpc - significa a média diária por indivíduo, dos
volumes necessários para satisfazer ao consumo doméstico,
comercial, público e industrial, além das perdas no sistema. A
Tabela 2 abaixo reúne diferentes valores para o consumo per
capita, em função de distintas faixas populacionais.
Tabela 2 - Consumo médio per capita, para populações dotadas de
ligações domiciliares

Porte da Faixa da População Consumo per capita


Comunidade (habitantes) (L/hab.dia)

Povoado Rural < 5.000 90 a 140

Vila 5.000 a 10.000 100 a 160

Pequena localidade 10.000 a 50.000 110 a 180

Cidade média 50.000 a 250.000 120 a 220

Cidade grande > 250.000 150 a 300

Fonte: HELLER E PÁDUA (2010)

38
METODOLOGIA
A pesquisa a ser realizada para o desenvolvimento deste
trabalho tem caráter descritivo, relacionando duas variáveis: a
situação do abastecimento atual do bairro Jardim Cisoto, locali-
zado na Estância Turística de Olímpia e a situação proposta para
o novo sistema de abastecimento. As fontes de pesquisas são
primárias e secundárias e os métodos e processos utilizados para
a realização da pesquisa são:
Levantamento de dados demográficos;
Levantamento de dados técnicos, como por exemplo, o
cadastro das redes e a vazão dos poços atuais;
Reuniões com a população para esclarecimentos e
sugestões;
Estudos para os projetos para a troca da rede, projetos da
perfuração de um novo poço tubular profundo, instalação de um
reservatório elevado, orçamento necessário para tal obra, logís-
tica do transito para a realização dos serviços;
Pesquisa bibliográfica em livros, dissertações de mestra-
do, teses de doutorado, artigos de revistas, websites, normas e
legislações.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
ESTUDO DE CASO
Os bairros mais afetados pelo desabastecimento de água
tratada, no município de Olímpia, são os mais antigos e carentes
(Figura 3), pois possuem uma infraestrutura precária: redes de
abastecimento sem as devidas manutenções preventivas, a reser-
va e a produção inferior à necessária e a baixa pressão.

39
Figura 3 - Bairros afetados

Fonte: Própria (2018)

Ante os fatos expostos, é imprescindível que a Prefeitura


Municipal invista em melhorias para a população, sendo a pro-
posta de intervenção de melhoria no sistema de abastecimento
do Jardim Cisoto, ilustrado na Figura 4 abaixo:
Figura 4 - Jardim Cisoto

Fonte: Própria (2018)

40
A infraestrutura existente no Jardim Cisoto é:
• Diâmetro da rede: 1”;
• Produção P-10: 6,00 m³/h;
• Ligações ativas: 644 ligações;
• Consumo faturado: 10.159,00 m³;
• Consumo hidrometrado: 9.202,00 m³;
• Índice de perdas: 40%.
Assim, as Tabela 3,4,5,6 e 7 abaixo, representam o di-
mensionamento da ampliação do Sistema de Abastecimento do
referido bairro:
Tabela 3 – Parâmetros Populacionais
Parâmetros Populacionais
Per-capta habitacional p 4 hab/unid.
Nº de edificações (2018) Nh 644 unid.
Nº de habitantes 2018 2576 habitantes
População de projeto Pop proj 2576 habitantes

Fonte: Própria (2018)

Tabela 4 – Parâmetros Hidráulicos


Parâmetros Hidráulicos
Coeficiente do dia de maior consumo K1 1,2  
Coeficiente da hora de maior consumo K2 1,5  
Consumo de água percapta q 200 litros/hab/dia
Nº de horas de funcionamento do
htb 18 horas
conjunto moto-bomba
Coeficiente de BRESSER K 1  
Coeficiente de HAZEN-WILLIANS
Coef.PVC 140  
PVC
Coeficiente de HAZEN-WILLIANS Fo Go Coef.Fo Go 125  
Profundidade do Poço PPç 150 m
Diâmetro do Poço DPç 8 “
Nível Estático do Poço NE 6 m

41
Parâmetros Hidráulicos
Nível Dinâmico do Poço ND 130 m
Profundidade de colocação do conjunto
Pmb 136 m
moto-bomba
Comprimento total da tubulação de
Ir 25 m
recalque acima do poço
Altura na entrada do reservatório
Hr 19 m
elevado

Fonte: Própria (2018)

Tabela 5 – Cálculo das Demandas


Cálculo das Demandas
515200 litros/dia Pop proj x q
Consumo diário Cd
515,2 m³/dia Cd / 1000
21,47 m³/h  
Vazão Média Vm 5,96 litros/s  
21467 litros/h (Pop proj x q ) / 24
34,35 m³/h  
Vazão de
Vc 9,54 litros/s  
captação
34347 litros/h (Pop proj x q x K1) / htb
38,64 m³/h Vd / 1000
Vazão de 10,73 litros/s Vd / 3600
Vd
distribuição (Pop proj x q x K1 x k2)
38640 litros/h
/ 24

Fonte: Própria (2018)

Tabela 6 – Cálculo da Reservação


Cálculo da Reservação
515200 litros/dia Pop proj x q
Consumo diário Cd
515,2 m³/dia  

Coeficiente do dia
K1 1,2    
de maior consumo

42
Cálculo da Reservação
Capacidade de
part con-
reservação do Con- CRCd 8  
sumo
sumo diário
Volume de
Vol 77280 litros (Cd x K1) / CRCd
reservação
78.000 litros Volume adotado
Volume comercial
Vol adotado, devido à
Volume adotado
Ado 200 m³ população flutuante
e crescimento popu-
lacional

Fonte: Própria (2018)

Tabela 7 – Cálculo da Rede de Distribuição


Cálculo da Rede de Distribuição
Pressão Mínima Pmin 10 m.c.a  
Diãmetro mínimo Ø mín 75 mm  
38,64 m³/h  
Vazão de distri-
Vd (Pop proj x q x
buição 10,73 litros/s
K1 x k2) / 86400

Comprimento total
da rede C T Rede 4.584 m  
de distribuição

Vazão específica Q esp 0,00234 litros/s.m  

Fonte: Própria (2018)

A localização do reservatório e do novo poço a ser perfu-


rado no Jardim Cisoto, está ilustrada na Figura 5 a seguir:

43
Figura 5 - Localização do reservatório e do poço tubular profundo

Fonte: Própria (2018)

A Figura 6 ilustra a extensão da rede de abastecimento de


água tratada de 75 mm a ser executada.
Figura 6 - Rede de abastecimento D=75 mm

Fonte: Própria (2018)

44
AÇÕES DE INTERVENÇÃO
As primeiras ações de intervenção a se realizar são: reu-
nir a população, ministrar palestras, explicar quais os serviços
poderão a vir se realizar, e quais as dificuldades que serão en-
frentadas durante a obra e o prazo de duração da mesma. Em
um segundo momento, deverá efetivar o levantamento de dados
sobre a rede existente, e o estudo populacional para o dimensio-
namento de um novo sistema produtor e reserva de água tratada.
Após as informações coletadas, iniciar os projetos para a troca e
setorização da rede, intervenções no trânsito, perfuração de um
novo poço e a instalação do reservatório.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o projeto concluído, é possível quantificar os gastos,
e se a Autarquia terá condições de executar através de recurso
próprio ou se haverá necessidade de convênio ou financiamento
para a realização da obra.
Um dos maiores desafios para a implantação deste proje-
to será a interrupção no abastecimento de água à população do
Jardim Cisoto e, eventualmente a coloração alterada da água.
Entretanto a viabilidade técnica e econômica desta intervenção é
de extrema necessidade para o bairro em questão. Com o levan-
tamento a ser realizado é possível descobrir eventuais fraudes,
e com a execução da nova rede diminuir representativamente as
perdas reais e aparentes. O aumento da produção e instalação da
reserva de água tratada, trará melhoria na qualidade de vida dos
munícipes que ali residem e consequentemente o consumo per
capita aumentará, ampliando assim a arrecadação da Autarquia
neste setor.

45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5626:


Instalação predial de água fria. 1 ed. Rio de Janeiro: ABNT, 1998. 41 p.

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www3.olimpia.sp.gov.br/cidade-de-olimpia-localizacao>. Acesso em: 18
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Disponível em: <http://www.snis.gov.br/diagnostico-agua-e-esgotos/diag-
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46
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em Hidráulica, Engenharia Civil, Feup - Faculdade de Engenharia Univer-
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up.pt/bitstream/10216/58016/1/000129459.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2008.

47
PERCEPÇÃO DOS COLABORADORES
DA EMPRESA DE SANEAMENTO DO
MUNICÍPIO DE MARACANAÚ, SOBRE
O USO DA REDE COLETORA DE
ESGOTO POR PARTE DOS USUÁRIOS,
E OS PROBLEMAS CAUSADOS
POR SEU USO INADEQUADO

Joseneide Oliveira Caitano1


Flávio Maria Leite Pinheiro2

Resumo: A água é um bem muito preciso e que está presente em todas


as nossas atividades e que deve ser preservada, um forma de preserva-
ção deste bem são as bases do saneamento básico e no contexto urbano
a questão do esgotamento sanitário eficiente de primordial importância
para a preservação dos recursos hídricos, baseado nisto quando se per-
cebe que um dos grandes entrave do bom funcionamento desse sistema
é o mau uso das redes coletoras de efluente que faz com que haja um
grande número de obstruções de rede e por sequência a poluição do
meio. O entendimento de como se dá esse uso e como podemos re-
solver esses entraves é muito importante, portanto este artigo tem o
intuito de apresentar a percepção ambiental de alguns colaboradores
que prestam serviços para a empresa de saneamento que atua na cidade
de Maracanaú, quanto ao tipo de problemas mais frequentes encontra-
dos na rede coletora de esgoto que impactam diretamente no seu bom
funcionamento. Trazendo assim à tona a necessidade de um programa

1 Graduada em Engenharia Ambiental e Sanitária, pelo Instituto Federal de


Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) e em Administração de
Empresas pela Faculdade Ateneu (FATE). Especialização em Gestão de
Projetos pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).
E-mail: joseneide_caitano@yahoo.com.br.
2 Graduado em Direito pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Mestre
em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professor
da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Professor do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).
E-mail: flaviopinheiro_@hotmail.com.
de educação para os usurários dos sistemas de esgotamento sanitário
do município de Maracanaú no tocante ao uso correto deste sistema.
Palavras-chave: Saneamento. Rede coletora. Percepção am-
biental.

INTRODUÇÃO
A quantidade de água necessária para o desenvolvimento
das atividades humanas está cada vez mais aumentando e com
esse aumento vem a queda na qualidade dessa água disponível,
para que esse equação não acabe por diminuir a produção de bens
de consumo que a sociedade atual se utiliza, faz-se necessário
investimentos em solução para a preservação desses recurso tão
primordial.
Para LEONETI et al (2011) a percepção dessa situação é
bem clara e vem despertando o interesse dos governos e inves-
tidores para este fim.

Tanto no processo de produção de vários tipos de pro-


dutos quanto no abastecimento para o consumo de água
propriamente dito, vem aumentando significativamente
ano após ano no Brasil. Em contraponto, a quantidade
de água potável ou de água que possa ser utilizada para
satisfazer esses diversos tipos de finalidades não aumen-
tou. Uma solução para a preservação dessas águas é o
investimento em saneamento e no tratamento do esgoto
sanitário. (LEONETI et al., 2011)

Saneamento básico é algo primordial ao desenvolvimento


de uma sociedade, Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), saneamento é o controle de todos os fatores do meio fí-
sico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos
sobre o bem estar físico, mental e social.

50
Os sistemas de esgotamento sanitário correspondem cole-
ta, através de tubulações e galerias; tratamento e posterior lan-
çamento dentro dos padrões adequados em um corpo receptor.
Os esgotos podem ser do tipo comercial, industrial e doméstico,
e seu tratamento e a destinação final devem ser feito de acordos
com as legislações vigentes.
De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento Básico (SNIS) em seu estudo divulgado em 2011
baseados nos dados da Pesquisa Nacional Sobre Saneamento
Básico feito pelo IBGE em 2008, o número de municípios que
possuem serviço de esgotamento sanitário por rede coletora é de
3.069, o que corresponde a 55,2% do total de 5.564 municípios
do Brasil (IBGE, 2011).
Quando obras que são bem projetadas e executadas, em
conjunto com a conscientização da população usuária do siste-
ma da forma correta do uso da rede coletora de esgoto, é a chave
para o bom andamento desse serviço de suma importância para
o sistema de saneamento básico e sendo assim para os nossos
recursos hídricos.
O ser social compreende e reage de forma diferente sobre
acerca das ações do ambiente onde se vive. Para PACHECO e
SILVA (2007) percepção ambiental pode ser entendida como a
representação que uma determinada população tem sobre o seu
meio ambiente.
Sendo assim, o estudo da percepção ambiental é de vi-
tal importância, pois, é através dele que se conhece cada grupo
envolvido no processo, buscando mostrar a realidade do públi-
co-alvo, bem como perceber o ambiente em que vivem seus an-
seios, satisfações e insatisfações (FAGGIONATO, 2007).
O objetivo desse artigo é apresentar a percepção ambien-
tal de alguns colaboradores que prestam serviços para a empresa

51
de saneamento que atua na cidade de Maracanaú, quanto ao tipo
de problemas mais frequentes encontrados na rede coletora de
esgoto que impactam diretamente no seu bom funcionamento.
Trazendo assim à tona a necessidade de um programa de educa-
ção para os usurários dos sistemas de esgotamento sanitário do
município de Maracanaú no tocante ao uso correto deste sistema.

CARACTERIZAÇÃO DO MUNICIPIO DE MARACANAÚ


O local aonde foi desenvolvido a pesquisa foi o municí-
pio de Maracanaú que se situa na Região Metropolitana de For-
taleza, porção nordeste do estado do Ceará, limitando-se com
os municípios de Fortaleza, Caucaia, Maranguape e Pacatuba.
Compreende uma área irregular de 82 km2, localizada na carta
topográfica (SA.24-Z-C-IV).

Fonte: A autora

O nome de município tem origem Tupi e quer dizer lagoa


onde as maracanãs bebem, o nome foi dado ao município em

52
função da grande quantidade destas aves que sobrevoavam suas
lagoas. O Município de Maracanaú foi emancipado em 04 de
julho de 1983.
O Município de Maracanaú contribui para a bacia hidro-
gráfica Metropolitana, precisamente a bacia hidrográfica do Rio
Maranguapinho, localizada a sudoeste na Região Metropolitana
de Fortaleza (RMF), drenando parte dos municípios de Maran-
guape, Maracanaú, Fortaleza e limites do município de Caucaia,
desaguando em seguida no rio Ceará a 5 km do Oceano Atlânti-
co. Tem como característica importante está localizada em zona
predominantemente urbana, com significante densidade demo-
gráfica, onde se verifica uma grande ocupação das margens do
rio principal (Rio Maranguapinho). Está inserida entre as coor-
denadas 3º 42’ e 3º 58 de latitude Sul e 38º 35’ e 38º 44’ de longi-
tude Oeste. De acordo com Almeida (2010), a área de drenagem
é de aproximadamente 217,15 km2, com comprimento de talve-
gue de 35,7 km que se desenvolve no sentido sudoeste-norte e
com perímetro da bacia de 107,51 km.
De acordo com Ceará (2010), grande parte dos problemas
ambientais, verificados no território das Bacias Metropolitanas
do Estado do Ceará, que corresponde a uma área de 15.085 km²
(10% do Estado), possui estreita relação com os adensamentos
urbanos, desprovidos de planejamento territorial, acarretando
uma série de outros problemas ambientais com consequências
adversas. Para Almeida (2010), esse crescimento provocou uma
ocupação desordenada, sobretudo, pela elevada concentração
demográfica, trazendo inúmeros problemas relacionados ao uso
e ocupação do solo, refletindo um quadro de degradação am-
biental dos seus recursos naturais, comparável ao que ocorre em
outros grandes centros urbanos do país.

53
População residente 2000/2010
População residente
Tipo
2000 2010

Urbana 179.170 207.623

Rural 560 1.434

Total 179.732 209.057

Fonte: IPECE, 2015

SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO


DO MUNICIPIO DE MARACANAÚ
Com base em dados mais recentes coletados no site do
Ministério das cidades temos para o ano de 2015 os seguintes
dados da cobertura da rede de coleta e tratamento dos esgotos,
volume de esgoto bruto e tratado.
Cobertura de esgoto no município de Maracanaú em 2015
Vol. de Vol. de Vol. de
Ext. da
Qd de esgotos esgotos esgotos
Popula- rede de
Município ligações coletado tratado faturado
ção total esgotos
ativas (1.000 (1.000 (1.000
(km)
m³/ano) m³/ano) m³/ano)

Maracanaú 65.227 31.330 228,43 5.270,93 5.270,93 6.232,14

Fonte: Ministério das Cidades, 2015.

Maracanaú é dividida em termos de esgotamento em Con-


juntos Jereissati I e II, o Conjunto Timbó e Maracanaú velha.
Em Maracanaú temos o tipo de coleta convencional, a rede co-
letora passa no eixo das ruas coletando dos imóveis por meio de
suas caixas de dispersão, a exceção dos Conjuntos Bela Vista,
Santa Marta e São Francisco que tem o sistema de coleta con-
dominial de fundo de lote onde os efluentes são coletados na de

54
forma transversal dos lotes, onde cada morador é responsável
pela caixa e parte da rede que lhe couber, mas como a empresa
concessionária responsável pela coleta e tratamento dos efluen-
tes realiza trabalhos de manutenção preventiva como parte de
suas ações de responsabilidade socioambientais.
Já relacionada ao tratamento nos Conjuntos Jereissati I e
II, Novo Maracanaú, Acaracuzinho, Novo Oriente e bairros vi-
zinhos, são conduzidos através de coletores troncos, de diversos
diâmetros partindo de 300mm até 1000mm, são direcionados
a estações elevatórias depois para os SDI (Sistema do Distrito
Industrial), sistema composto de cinco lagoas de estabilização
sendo a primeira aeróbia anaeróbia e as demais de maturação.
No Conjunto Maracananzinho temos o sistema convencio-
nal, cujo tratamento é uma estação de decanto digestor associado a
filtros anaeróbios, onde o efluente sofre decomposição da matéria
orgânica, depois passa por um leito filtrante, depois para o tanque
de contato onde é clorado antes de ser lançado no corpo receptor.
No bairro de Pajuçara tem o sistema de rede coletoras
convencionais, seus efluentes são lançados numa estação con-
vencional tipo reator anaeróbio, e o efluente depois de tratado é
lançado no corpo receptor.

METODOLOGIA
Para elaborar a pesquisa de percepção foi aplicado o mé-
todo de questionário simples. Foram realizadas no total de 14
entrevistas com colaboradores da empresa de saneamento que
presta serviços de desobstrução de esgoto para a cidade de Ma-
racanaú, entre os dias 12 a 14 de março de 2018, onde foi apli-
cado um questionário com perguntas relativas ao tempo que se
trabalha na área e média de serviços que são executados por dia,
bem como qual a percepção que o colaborador tem da causa dos

55
problemas de obstruções da rede coletora de esgoto da cidade. O
questionário foi composto de cinco perguntas, destas três objeti-
vas e duas subjetivas.
Quanto aos métodos de pesquisa e procedimento, a pes-
quisa é experimental, pois, baseia-se em determinar um objeto de
estudo, e escolher as variáveis capazes de influenciar no objetivo.
Segundo Fonseca (2002, p. 38):

A pesquisa experimental seleciona grupos de assuntos


coincidentes, submete-os a tratamentos diferentes, ve-
rificando as variáveis estranhas e checando se as di-
ferenças observadas nas respostas são estatisticamente
significantes. [...] Os efeitos observados são relaciona-
dos com as variações nos estímulos, pois o propósito
da pesquisa experimental é apreender as relações de
causa e efeito ao eliminar explicações conflitantes das
descobertas realizadas. FONSECA (2002).

Quanto à coleta de dados, deu-se de forma direta, confor-


me LAKATO e MARCONI (2006, p.86) a coleta de dados direta
é a identificação dos fenômenos no momento em que ocorrem
os fatos, por meio de entrevista feita com os colaboradores da
empresa de saneamento, feitas questionário misto.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os entrevistados desta pesquisa tem em sua rotina de tra-
balho a manutenção da rede coletora de esgoto do município de
Maracanaú, no seu dia a dia eles se deparam com diversas situa-
ções que provocam a obstrução da rede coletora de esgoto e com
isso o seu extravasamento, tendo como consequência o impacto
a saúde dos usuários e também os recursos hídricos visto que
esse material percola o solo e atinge o lençol freático ou mesmo

56
percorre a sarjeta e cai na rede de drenagem que desemboca no
recurso hídrico.
Os colaboradores entrevistados na sua maioria têm mais de
10 (dez) anos de atividade laboral na empresa de saneamento e por
consequência tem o conhecimento da vivencia de campo na área.

Fonte: A autora

Em sua rotina diária observa-se que são realizadas em


média 10 (dez) desobstruções da rede coletora, e essas desobs-
truções de duração média de vinte minutos de execução, que po-
dem ser desde uma caixa obstruída que leva de 05 a 10 minutos
para a execução ou uma rede maior que pode levar 30 a 40mim
fazendo uso não somente de varetas mais também auxilio de
equipamentos como jato e vácuo e o jatinho.

Fonte: A autora

57
Durante a suas atividades laborais na empresa de sanea-
mento, os colaboradores relatam que grande parte dos proble-
mas de desobstruções da rede de esgoto é relacionado ao mau
uso da mesma, os usuários lancham na rede materiais que não
deveriam, tornando a rede assim incapaz de exercer a função a
que se presta que é coletar os esgoto doméstico, principalmente.
São encontrados diversos objetos que a rede coletora não está
preparada para receber como cabelos, gordura, areia e em pe-
ríodos de chuva, como alguns usuários tem o habito de colocar
as águas de chuva para sua caixa de inspeção que por sequência
para a rede coletora que não capacidade de receber.

Fonte: A autora

Além desses os entrevistados relatam ter encontrados vá-


rios outros descartes inusitados na rede coletora:
“camisinhas e peças intimas.”
“garrafa pet [...]”
“encontrei uma garrafa de vinho [...]”
“calça jeans [...]”
“um jarro enrolado em uma rede”
“um capô de carro”
“toalhas [...]”
“tijolos, toalha, restos de animais, lona plástica”.

58
Observa-se que os usuários do sistema de saneamento
no que concerne a rede coletora de esgoto não faz uso adequa-
do da mesma, lançando na rede objetos totalmente estranhos ao
tratamento de esgoto. Tais objetos muitas vezes têm obstruem a
rede trazendo grandes transtornos.
É unanime a opinião dos colaboradores com relação a que
ações devem ser adotadas para que a obstrução da rede coletora
não seja tão recorrente, a educação dos usuários para o correto
uso da rede coletora de esgoto, e para isso uma abordagem mais
efetiva da empresa de saneamento para isso.
“educação das pessoas”
“usuários com mais consciências”
“conscientização da população”
“ter mais esclarecimentos ao usuário, como propagandas
em redes de televisão, rádio e jornais, para que as pessoas te-
nham mais consciências do que deve ou não colocar na rede
coletora”.

CONCLUSÃO
Conclui-se então que colaboradores da empresa de sa-
neamento que presta serviços de desobstrução de esgoto para a
cidade de Maracanaú na sua maioria têm mais de 10 (dez) anos
de atividade laboral na empresa de saneamento e são grandes
conhecedores dos problemas enfrentados no sistema de esgota-
mento sanitário da cidade visto que desempenham em suas ativi-
dades diárias em média 10 (dez) desobstruções de rede coletora
de esgoto.
Os colaboradores relatam que na sua maioria as obstru-
ções são ocasionadas por mau uso da rede coletora, os usuários
têm como descarte final vários itens que a rede coletora não está
preparada para absorver.

59
Existe uma necessidade urgente de uma campanha de
educação para o uso correto da rede coletora por parte dos usuá-
rios, para que estes adquiram hábitos mais adequados de usos
da rede, sugere-se que essa companha seja feita pela empresa de
saneamento e que seja veiculada em meio de comunicação de
massa e assim possa atingir um número maior de usuários.

REFERÊNCIAS
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sc.usp.br/biologia/textos/m_a_txt4.html>. Acesso em: 23 maio 2018.

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LEONETI, A. B.; PRADO, E. L.; OLIVEIRA, S. V. W. B. de. Sanea-


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tabilidade para o século XXI. Artigo técnico. Revista de Administração
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tora Atlas, São Paulo, 6ª Edição, p. 62-98
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ESGOTO: A IMPORTÂNCIA DO TRATAMENTO E AS OPÇÕES
TECNOLÓGICAS. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/bibliote-
ca/ENEGEP2002_TR104_0458.pdf>. Acesso em: 07 jul. 2017.

60
PROJETO DE INTERVENÇÃO NA REDE
DE DISTRIBUIÇÃO E SISTEMA DE
RESERVA DE ÁGUA DA ZONA URBANA
DO MUNICÍPIO DE CAJARI – MA

Joelber Costa de Oliveira1


Bruno Lucio Meneses Nascimento2
Clebson Santos Cândido3

Resumo: Fatores como crescimento urbano desordenado, ausência de contro-


le de perdas, envelhecimento dos sistemas, alterações e expansões não previs-
tas, elevados custos operacionais, além das incertezas associadas, dificultam a
operação dos sistemas de abastecimento de água, tornando-a um conjunto de
processos cada vez mais complexo e problemático, resultando no não aten-
dimento da demanda em quantidade e qualidade de forma satisfatória. Neste
trabalho, foi elaborado um projeto de intervenção na rede de distribuição e
sistema de reserva de água da zona urbana do município de Cajari no Ma-
ranhão, com o objetivo de projetar a ampliação do sistema de água potável
para 100% da população da zona urbana, pois atualmente apenas 31,89% da
população urbana é atendida. No dimensionamento do projeto foi utilizado a
técnica de seccionamento fictício, segunda as normas brasileiras que regula-
mentam projeto de rede de distribuição de água para abastecimento público.
Palavras-chave: Rede de distribuição de água. Reservação. Secciona-
mento fictício.

INTRODUÇÃO
PROBLEMA
Os serviços de abastecimento de água da zona urbana do
Município de Cajari no estado do Maranhão, que é administrado

1 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos para a Gestão Mu-


nicipal de Recursos Hídricos – IFCE, Mestrando em Processos Construti-
vos e Saneamento Urbano – UFPA - e-mail: joelberoliveira@hotmail.com
2 Prof. Dr. da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão –
UEMASUL - e-mail: brunoimpma@hotmail.com
3 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos para a Gestão
Municipal de Recursos Hídricos – IFCE - e-mail: cleagro@hotmail.com
pela Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão CAE-
MA, não atende de forma satisfatória a sua população, pois o
sistema atual, segundo o Altas Brasil da Agencia Nacional de
Água, o mesmo atende apenas 31,89% dos moradores.

JUSTIFICATIVA
O Sistema de Abastecimento de Água tem importância
fundamental nos níveis de saúde da população, diminuindo a
incidência de doenças de veiculação hídrica. A ampliação dos
serviços de abastecimento, refletira diretamente na melhoria da
qualidade de vida, propiciando um maior controle e prevenção
de doenças, a promoção de hábitos saudáveis e higiênicos, o de-
senvolvimento econômico e social.

OBJETIVOS
Objetivo Geral
Avaliar o sistema de abastecimento de água atual do mu-
nicípio de Cajari a fim de criar subsídios técnicos para propor
um projeto de ampliação, onde atenderá 100% de sua população
urbana.

Objetivos Específicos
• Caracterizar o território da zona urbana do município
de Cajari/ MA
• Coletar dados da companhia de abastecimento res-
ponsável pela prestação de serviço do município,
contemplando dados correspondentes a unidades
atendidas e ligações;
• Analisar o sistema existente, suas deficiências e/ou me-
lhorias a serem realizadas na rede de abastecimento;

62
• Interpretar a legislação vigente em âmbito municipal,
estadual e federal, com relação ao sistema de abaste-
cimento de água da cidade de Cajari/MA;
• Elaborar propostas de projeto de intervenção.

METODOLOGIA
O processo de elaboração do projeto de intervenção no
sistema de abastecimento de água do município de Cajari/MA
seguiu 06 etapas:
Etapa 01 – Caracterização do território: Levantamento
dos aspectos geográficos da localidade (limites territoriais, cli-
ma, densidade pluviométricas, topografia, bacias hidrográficas e
barragens existentes), além dos fornecedores de água da muni-
cipalidade ou região.
Etapa 02 – Coleta de Dados: Indicadores da companhia de
abastecimento (CAEMA) (unidades atendidas e ligações), popu-
lação total, IDH, saúde e demais índices que forem pertinentes.
Etapa 03 – Análise do sistema existente, suas deficiências
e/ou melhorias a serem realizadas: Conhecer o sistema que é
utilizado para verificar qual é o ponto deficitário.
Etapa 04 – Avaliação da legislação vigente em âmbito mu-
nicipal, estadual e federal: Afim de evitar não conformidades em
projeto, e possibilitar a melhor solução possível ao problema.
Etapa 05 –Elaboração do projeto: Elaboração de planos,
projetos e demais documentos técnicos para implantação de um
novo sistema ou correção do já existente baseado em dados já
coletados e legislação vigente.
Etapa 06 – Verificação de viabilidade econômica: Elabo-
ração de orçamento estimado para a implantação do sistema.

63
REFERENCIAL TEÓRICO
LEGISLAÇÕES E NORMAS TÉCNICAS
Para a elaboração do projeto de intervenção no sistema
de abastecimento de água do município de Cajari no estado do
Maranhão, foi analisado primeiramente a legislação vigente no
município, estado e federação, além das normas técnicas perti-
nentes, sendo assim, serão utilizadas as seguintes legislações:
Plano Diretor Municipal; Plano Municipal de Saneamento Bási-
co (em fase de elaboração); Plano de Bacias do comitê de bacias
hidrográficas do rio Mearim; Foram consultadas todas as Norma
Brasileira relacionadas a água para abastecimento público.

ABASTECIMENTO DE ÁGUA NO MARANHÃO


Segundo Atlas Brasil (2010): Abastecimento urbano de
água: panorama nacional, relata que na região Nordeste se faz
necessários investimentos para solução de problemas de abaste-
cimento a 82% da população, onde o Maranhão se destaca como
o estado com os maiores problemas nos sistemas produtores de
água, requerendo investimentos para ampliação das estruturas
existentes em mais de 85% dos municípios.

DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


O município de CAJARI está situado na Região Nordes-
te do País, no Estado do Maranhão, na mesorregião Norte Ma-
ranhense, na micro região conhecida como Baixada Maranhense
(Figura 1), tem sua área absoluta de 662,066 km², área relativa
de 0,199% do estado, uma população estimada para 2016 de
19.030  pessoas  com uma densidade demográfica de 27,7  hab/
km². A sede do município tem as Coordenadas 3°19’26.80”S
45°00’41.37”W (IBGE, 2010).

64
O município de CAJARI está situado nos domínios da
bacia hidrográfica do rio Mearim (100% da sua extensão territo-
rial). A sede do município está situada na sub-bacia do rio Pin-
daré, às margens do rio Maracú (NUGEO/UEMA, 2011) como
pode ser observado na Figura 1.
Figura 1 - Localização do Município de Cajari na Bacia Hidrográfica
do Mearim

Fonte: NUGEO/UEMA, 2011

OTTOCODIFICAÇÃO DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO MARACÚ
O método de identificação utilizada para identificar a ba-
cia hidrográfica do rio Maracú foi realizada conforme a codifica-
ção de bacias hidrográficas de Otto Pfafstetter, esta codificação é
descrita em detalhes no documento Topologia Hídrica: Método
de Construção e Modelagem da Base Hidrográfica para Suporte
à Gestão de Recursos Hídricos, metodologia esta, desenvolvida
por técnicos da Agência Nacional de Águas (ANA) e publicada
em 17/11/2006.

65
A bacia do rio Maracú é classificada como de nível 5 de
codificação 72216 conforme Figura 2. Os dados foram proces-
sados pelo autor, conforme a base de dados do Sistema Nacional
de Informações sobre Recursos Hídricos – Snirh, nesse proces-
samento o autor utilizou o poderoso software livre GVsig.
Figura 2 - Rio Maracú, Rio Pindaré e Rio Mearim

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos – Snirh,


processado por Joelber Oliveira, 2018.

CARACTERÍSTICAS HIDROAMBIENTAIS
DA BACIA DO RIO MARACÚ
O rio Maracú é o manancial que abastece o município de
Cajari do estado do Maranhão, através do sistema isolado CAJA-
RI. O rio Maracú é um canal extravasador natural das águas pro-
venientes dos lagos dos municípios de Penalva e Viana, que de-
ságua no rio Pindaré (Atlas Brasil 2010), cuja vazão de referência
(Q95%) é de 11,5 m3/s (ATLAS BRASIL, 2010).O rio Pindaré

66
deságua no rio Mearim a cerca de 20 km da sua foz (Figura 2). A
bacia hidrográfica do rio Mearim situa-se inteiramente no estado
do Maranhão e drena uma área de aproximadamente 99.058,68
km2, se considerada a sub-bacia do rio Pindaré, o que corres-
ponde a 29,84 % do território estadual (NUGEO/UEMA, 2011).

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Neste projeto de intervenção, foi dado como foco apenas os
serviços prestados na sede do município (área urbana), que apre-
senta segundo IBGE, apenas 31,89% de atendimento adequado e
consequentemente 68,11% de atendimento Precário +Déficit(c).
Essa falta de prestação de serviço NÃO se dar pela ine-
xistência de recursos hídricos e sim por exclusiva falta de gestão
pública, pois a sede do município é banhada pelo rio Maracú cuja
vazão de referência (Q95%) é de 11.508,60 L/s e segundo o atlas
Brasil (ANA) a demanda para o abastecimento é de aproxima-
damente apenas 11 L/s, para abastecer a sua população urbana.

JUSTIFICATIVA
O homem tem necessidade de água de qualidade adequada
e em quantidade suficiente para todas suas necessidades, não só
para proteção de sua saúde, como também para o seu desenvolvi-
mento econômico. Sendo assim a importância sanitária da água é
das mais ponderáveis; a implantação ou melhoria dos serviços de
abastecimento de água traz como resultado uma rápida e sensível
melhoria na saúde e nas condições de vida de uma comunidade,
principalmente através do controle e prevenção de doenças, da
promoção de hábitos higiênicos, do desenvolvimento de esportes.
Constitui o melhor investimento em benefício da saúde pública.

67
OBJETIVO
O objetivo desse projeto de intervenção é projetar a rede
de distribuição e a reservação do sistema de abastecimento da
zona urbana do município de Cajari, para contemplar 100% de
seus moradores.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


Esta meta é perfeitamente viável e alcançável, uma vez
que a população urbana do município é de apenas de 4490 ha-
bitantes (estimativa 2018), os benefícios serão enormes, pois
levará água de qualidade e quantidade satisfatória, oportuni-
zando benefícios socioeconômicos e de qualidade de vida a
está população.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
O sistema de abastecimento de água da zona urbana do
Município de Cajari, não atende de forma satisfatória a sua po-
pulação, pois a rede de distribuição atual atende apenas 31,89%,
o mesmo, precisa ser ampliado para 100% de seus moradores.
Para que este número seja alcançado o projeto contém al-
gumas intervenções no sistema atual, entre Mudança do ponto
de captação de água bruta, para a montante do rio Maracú, am-
pliação da vazão de captação de água bruta, dimensionamento
adequado da capacidade de reservação, Cadastramento do siste-
ma atual de forma georreferenciada.

MEMORIAL DESCRITIVO
Topografia
A planta do arruamento georreferrenciada foi cedida pelo
Engenheiro João José, que não me permitiu revelar a fonte do

68
trabalho. Já o modelo de elevação do terreno foi extraído do pro-
jeto SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission), por técnicas
de sensoriamento remoto, com a utilização do software Auto-
CAD Civi3D que permitiu a interpolação dos pontos para obter
curvas de níveis com equidistâncias medidas em metro.

Sistema Proposto
O projeto hidráulico sanitário, do sistema de abastecimento
de água da zona urbana do município de Cajari/MA, visa
fundamentalmente dotar as populações com condições de bem-
estar social, aliada aos fatores de saúde e saneamento do meio
ambiente.
O sistema ora preconizado foi projetado e dimensionado
segundo as normas e regulamentos existentes e previstas na co-
dificação sanitária vigente da ABNT - Associação Brasileira de
Normas Técnicas.
O empreendimento será abastecido por um único reserva-
tório elevado, com capacidade de 264,00 m3. A rede de distribui-
ção foi setorizada em apenas uma zona de pressão, em função
da cota piezométrica na saída do reservatório elevado e as cotas
do terreno do projeto, abastecendo assim por gravidade toda os
lotes da zona urbana do município.

População de Projeto
A avaliação das populações atendidas/abastecidas é con-
dição primordial para a definição de todo e qualquer empreendi-
mento visto que são elas o ponto de partida para a extrapolação das
vazões e volumes necessários ao seu perfeito equacionamento.
Segundo o Censo 2010 do IBGE a população da zona ur-
bana do município de Cajari/MA é de 4.284 habitantes, com mé-
dia de moradores em domicílios particulares ocupados de 4,24

69
moradores/domicílio, sendo adotado para este projeto o valor
de 5 moradores/domicílio. A zona urbana da cidade de Cajari
dispõe de 857 lotes (valor estimado). O presente projeto dimen-
siona, especifica e apresenta os respectivos quantitativos com
orçamento.
Considerando-se uma taxa de crescimento da população
de Cajari de 0,6% ao ano, a população estimada para 2018 é de
4490 habitantes da zona urbana e para 2028 uma estimativa de
5028 habitantes.

Concepção do Sistema Proposto


Com base nas informações já acima citado, foi elabora-
do o presente projeto técnico considerando que o abastecimento
será efetuado por captação superficial, através de boias, a serem
instalados no Rio Maracú, e equipado com CMB (conjunto mo-
tor bomba), recalcará por adutoras para a ETA e em seguida, um
único reservatório que alimentará toda a rede de distribuição de
água. Tanto o sistema de reservação como de distribuição estão
devidamente dimensionados para atender 100% da população da
zona urbana de Cajari.

Previsão da Demanda e Caudais Requeridos


Para a determinação da demanda de água no conjunto ha-
bitacional, foram adotados os parâmetros seguintes:
- Taxa de Ocupação: 5 hab / dom
- Consumo per capita: 150 L/hab. x dia
- Coeficiente para o dia de maior consumo: K1 = 1,2
- Coeficiente para a hora de maior consumo: K2 = 1,5
- Coeficiente de rugosidade do tubo de PVC: 140 (adota-
do 130 por considerar o desgaste durante o tempo).

70
Como se trata de área urbana da sede municipal é consi-
derado para efeito deste projeto a projeção populacional de 0,6%
ao ano.
A previsão da demanda diária, vazões determinadas e uni-
dades estão na Tabela 1.
Tabela 1 - Previsão da Demanda Diária, Vazões Requeridas e unidades.

Previsão da Demanda Diária e Vazões Requeridas Unidades

Taxa de ocupação 5 hab/dom

Per capita 150 l/hab.dia

Domicílios 898 Unidades

Vazão total 14,0313 L/s


Vazão distribuição linear 0,001445 L/s x m

Fonte: Autor (2018).

Captação
O ponto de Captação será deslocado para a montante
do Rio Maracú, e a montante da zona urbana do município de
Cajari, para atender de forma técnica a localização do reservató-
rio alocado para a cota 9 da área de projeto, essa mudança evi-
tará a contaminação da água captada por efluentes domiciliares
da própria zona urbana do município. O ponto de captação terá
coordenadas 3°19’0.96”S 45° 1’1.63”O.

Recalque
O sistema de recalque compreende conjunto motobomba
submerso, instalado em boias no rio Maracú, recalcando água
bruta até uma estação de tratamento de água – ETA, e em segui-
da para o reservatório que fará a alimentação da rede de distri-
buição na rede durante.

71
Adução
O sistema de adução consiste de adutora com tubos que
interligará o ponto de captação no Rio Maracú a estação de tra-
tamento de água a uma distância de 710,18 metros e após o tra-
tamento interligará até o reservatório elevado a uma distância
165,20 metros que alimentará a rede de distribuição (represen-
tados nos mapas), através de dutos a serem dimensionados para
atenderem a ABNT NBR-5626/1998.

Tratamento
O sistema disporá de tratamento de água consistindo em
uma Estação de Tratamento de Água Convencional a ser proje-
tada para atender as demandas de vazão.

Reservação
O sistema conterá reservatório único com capacidade de
armazenamento de 270 m³, implantado na cota 9,00 m, com tor-
re de 25 m, cilindro de Ø 5,8 m e H = 11,00 m, ficando mantidas
a alturas para recalque do CMB a coluna mínima de pressão
no sistema de distribuição. O dimensionamento adotou o parâ-
metro 1/5 do volume máximo diário, considerando reservação
para atender uma população 5028 habitantes para o ano de 2028
(projeção estimada) e per capita de 150 L/hab.dia.

Rede de Distribuição
O sistema de distribuição de água foi dimensionado aten-
dendo o disposto na NBR 12218 – Projeto de rede de distribui-
ção de água para abastecimento público / ABNT, limitando a
velocidade máxima a 3,5 m/s. Foram adotados tubos de PVC
nos diâmetros de DN50 a DN150 e de PVC DEFOFO nos diâ-
metros de DN150 totalizando 9804,03 m. O material utilizado e
extensão está discriminado na Tabela 2.

72
Tabela 2 – Material utilizado na rede de distribuição.

Material Extensão Unidade

Tubo de PVC PBA DN 50mm 7.907,95 m

Tubo de PVC PBA DN 75mm 587,87 m

Tubo de PVC PBA DN 100mm 278,64 m

Tubo de PVC DEFFO DN 150mm 1.029,57 m

Tubo de PVC DEFFO DN 200mm 0 m

Extensão Total 9.804,53 m

Fonte: Autor (2018).

MEMORIAL DE CÁLCULO
Reservação
O sistema será dotado de reservação elevada única com
capacidade de armazenamento de 307,8 m³. Para o cálculo do
volume armazenado foi adotado o parâmetro de 1/5 do consumo
máximo diário de acordo com Tsutiya (2006) (1).
O Volume mínimo necessário de reservação foi encontra-
da de acordo com a equação abaixo:
V mín= P x consumo x K1 x K2 *1/5 (1)

Onde:
P = população a ser abastecida;
k1 = coeficiente de máxima vazão diária;
k2 = coeficiente de máxima vazão horária.
V mín= (4284 x 150 x 1,5 x 1,2) x1/5
V mín = 242,460 m³

73
O volume adotado do reservatório elevado = 307,8 m³,
para atender a demanda de crescimento da população do ano de
2028. O reservatório será assentado na cota 9.00 m e terá torre
de 25 m, contendo cilindro de Ø 5,8 m e H = 11,65 m.

REDE DE DISTRIBUIÇÃO
Métodos e normas utilizadas
O cálculo da rede de distribuição foi elaborado seguindo
as diretrizes fornecidas pela NBR 12218 – Projeto de rede de
distribuição de água para abastecimento público.
A rede de distribuição foi calculada pelo Método do Sec-
cionamento Fictício, usando a Fórmula Universal de Darcy-
-Weissbach (2), associada à formulação de Swamee/Jain de 1976
(3) e Número de Reynolds (4) (AZEVEDO NETO, 1998). Com
o cálculo do coeficiente de vazão linear (qu), apresentado no
quadro acima foi elaborada a planilha de cálculo em anexo, que
estabelece as condições básicas para a implantação do sistema.

(2)

Onde:
hf = perda de carga (m);
f = coeficiente de atrito;
L = comprimento da tubulação (m);
V = velocidade (m/s);
θ = diâmetro (m);
g = aceleração da gravidade (9,8m/s²).

(3)

74
Onde:
e= dimensão das asperezas=0,1mm;
Re= Número de Reynolds.
Sendo o Número de Reynolds (NR) dado pela formulação:

(4)

Onde:
ν = viscosidade cinemática (adotada 1x10-6 m²/s para
temperatura de 20ºC)
Os parâmetros adotados estão na Tabela 3.
Tabela 3 – Parâmetros adotados pelo projeto – água potável

Parâmetros Valores Unidades

Número de lotes 857 Unidades

K1 1,2

K2 1,5

Consumo per capita 150 l/hab/dia

População por lote 5 hab

Rugosidade do tubo 130


População de plano 4.490 hab

Vazão externa 0 l/s

Vazão total 14,0313 l/s

Vazão distr. linear 0,001445 l/s x m

Extensão com contribuição efetiva 9.707,26 m

Extensão sem contribuição efetiva m


96,78 9.804,03
Extensão total m

Fonte: Autor (2018).

75
ORÇAMENTO

SERVIÇOS (MATERIAL E PREÇO PREÇO


ITEM UNID. QUANT.
MÃO DE OBRA) UNIT. TOTAL (R$)

I REDE DE ÁGUA POTÁVEL  


Assentamento de Tubo PVC/
1 m 9.804,03 18,50 181.374,59
PBA JE PB -
2 Ascavação de Vala m3 4.705,94 6,35 29.882,69
Reaterro Compactado de
3 m3 4.705,94 4,80 22.588,49
Vala
Fornecimento de Tubo PVC/
4 PBA - CL 15 JEI PB, DN m 7.907,95 13,42 106.124,73
50mm
Fornecimento de Tubo PVC/
5 PBA - CL 15 JEI PB, DN m 587,87 25,88 15.214,13
75mm
Fornecimento de Tubo PVC/
6 PBA - CL 15 JEI PB, DN m 278,64 38,78 10.805,66
100mm
Fornecimento de Tubo PVC/
7 m 1.029,57 35,80 36.858,50
DEFºFº JEI PB, DN 150mm
Cadastro Técnico da Rede de
8 m 9.804,03 5,50 53.922,18
Água Potável

  Sub Total 456.770,96

Fonte: SINAPI – Índices da Construção Civil/Caixa

RISCOS E DIFICULDADES
As principais dificuldades enfrentadas na elaboração des-
se projeto de intervenção, estão relacionadas a coleta de dados
do atual sistema de abastecimento de água do município, pois o
saneamento é administrado pela Companhia Estadual de Sanea-
mento - CAEMA, que historicamente tem dificultado a divulga-
ção de informações que estão em sua responsabilidade. Não foi
possível obter os indicadores do sistema de abastecimento, com

76
relação as unidades atendidas, quantidade e tipos de ligações,
bem como todo o cadastro técnico do sistema atual, pois, para
que seja projetado a ampliação é de suma importância a análi-
se do sistema existente, assim como, conhecer suas deficiências
para que possamos projetar as melhorias a serem realizadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O município de Cajari representa uma realidade comum
aos demais municípios do estado do Maranhão, pois não atende
de forma satisfatória a sua população, com os serviços de abas-
tecimento de água potável. Foi descrito ao longo do trabalho que
o problema do abastecimento de água no município de Cajari
não se dar pela escassez de recursos hídricos e sim por falta de
gestão pública.
Gestão pública esta que deveria considerar sua população
não apenas como seus clientes, e sim, antes de tudo, como seres
humanos que merecem ter seus direitos ao acesso a água potável
respeitados.
Sendo assim com o intuito de ajudar a gestão pública
nessa temática de grande relevância social, foi elaborado este
projeto de abastecimento de água da zona urbana do município
de Cajari no estado do Maranhão, dimensionado pelo método
de seccionamento fictício, que contemplou todas as especifica-
ções exigidas em normas, considerando as necessidades da po-
pulação atual, bem como uma projeção do sistema de reserva de
água para atender uma demanda dos próximos 20 anos.

REFERÊNCIAS
ATLAS BRASIL: Abastecimento Urbano de Água: Panorama Nacio-
nal. Agência Nacional de Águas; Engecorps/Cobrape.- Brasília: ANA:
Engecorps/ Cobrape, 2010.

77
AZEVEDO NETO, J. M., Manual de hidráulica – 8°edição, São Paulo,
Ed. Edgard Blucher, 1998.

IBGE cidades. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/ma/


cajari/ panorama>. Acesso em 09 de julho de 2017.

MARANHÃO (NUGEO). Bacias hidrográficas: subsídios para o pla-


nejamento e a gestão territorial. Universidade Estadual do Maranhão/
Núcleo Geoambiental, São Luís: UEMA,2011.

TSUTIYA. Abastecimento de água. 3. Ed. São Paulo: Departamento de


Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo, 2006.

78
PROJETO DE MELHORIA PARA A
REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA
DA SEDE URBANA DO MUNICÍPIO
DE GUARAMIRANGA-CE

Jorge André Fernandes1


Bruno Lúcio Meneses Nascimento2
João Paulo Leite Félix3

Resumo: A escassez e o desabastecimento das zonas urbanas e rurais


do estado do Ceará tem sido reflexo de vários fatores, tais como: o
mais severo período de estiagem dos últimos 67 anos, as precipitações
pluviométricas dos últimos cinco anos inferiores a 40% da média his-
tórica, o baixo nível de recarga dos mananciais em zona serrana que
são predominantemente subterrâneos, o uso não consciente da água
e o subdimensionamento da infraestrutura de reservação e transporte.
O projeto de intervenção proposto tem como objeto a contratação de
empresa de engenharia para execução das melhorias propostas no pro-
jeto de readequação do transporte e reservação de água da sede urbana
do município de Guaramiranga-CE. Para o presente estudo foi mode-
lada a rede de distribuição de água da sede urbana de Guaramiranga
no software EPANET, no perímetro cobertura da CAGECE. Foram
construídos modelos para o cenário inicial (com a bateria existente de
poços interligada à atual rede de distribuição de forma não planejada,
foi considerada também a população residente com seu crescimento
projetado para 20 anos), para o cenário intermediário foi readequado o
layout dos poços reunindo seus volumes em reservatórios para poste-
rior distribuição. Verificou-se que nos cenários inicial e intermediário
o parâmetro perda de carga ficou acima de 8 m/km e a pressão distri-

1 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos para a Gestão


Municipal de Recursos Hídricos – IFCE - e-mail: jorgecag@gmail.com
2 Prof. Dr. da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão –
UEMASUL - e-mail: brunoimpma@hotmail.com
3 Professor M. Sc. do Instituto Federal do Ceará – IFCE
e-mail: joao.felix@ifce.edu.br
buída ficou abaixo dos 10 m.c.a em quase 100% dos nós estudados, e
no cenário ideal (que é a soma das demandas do cenário intermediário
mais a população do dia de maior consumo no ano que é 27% maior
do que a população residente atual) após incluir as melhorias necessá-
rias na rede de distribuição conseguiu-se adequar todos os parâmetros
citados acima à legislação vigente em todos os nós, o que por si só já
justifica o investimento, pois a presente proposta de intervenção trará
(quando implementada) segurança no ponto de vista de continuidade
e equidade no transporte da água distribuída, principalmente durante
os grandes eventos que ocorrem anualmente na área estudada e que
representam juntos uma das principais fontes de arrecadação para o já
citado município.
Palavras-chave: Rede de distribuição. Melhorias. Guaramiranga.
Água. Intervenção.

INTRODUÇÃO
Os serviços de saneamento básico são considerados es-
senciais, pois é a partir deles que se pode promover as condições
mínimas de desenvolvimento social. Cabe aos gestores e às po-
líticas públicas, assim como aos cidadãos em geral, o papel de
responsabilidade, articulação e reversão dessa realidade, prin-
cipalmente em regiões mais pobres, como o Norte e Nordeste,
onde são encontradas as situações e os índices mais alarmantes
de falta de saneamento básico (CAGECE, 2016).
Hoje, nos centros urbanos mais desenvolvidos, as maiores
deficiências observadas em sistemas de abastecimento de água se
devem principalmente a deterioração dos sistemas mais antigos,
especialmente na parte de distribuição de água, com tubulações
antigas apresentando frequentes problemas de rompimentos e de
vazamentos de água, ou mesmo a falta de abastecimento, áreas
urbanas que apresentam rápido e desordenado crescimento. As-
sim, para esses centros urbanos, a necessidade de adequações

80
dos serviços de abastecimento de água está ligada à reabilita-
ção de redes de transporte e distribuição de água mais antigas,
bem como a construção e ampliação dos sistemas para atender
às novas áreas de crescimento. Estima-se que nos grandes cen-
tros urbanos os maiores investimentos necessários serão para a
recuperação das partes mais antigas do sistema de transporte e
distribuição de água potável (TSUTIYA, 2006).
Guaramiranga, tem sua rede de distribuição composta por
materiais em PVC com diâmetros nominais (DN) variando en-
tre 32 e 50 mm, o que acarreta, por conta do elevado consumo
(com grande influência nas sazonalidades), elevada perda de
carga, consequente despressurização de alguns setores de abas-
tecimento, um tempo maior para que a rede de distribuição de
água (RDA) fique saturada e pressão insuficiente para viabilizar
o abastecimento dos reservatórios elevados dos imóveis mais
distantes, por isso o presente trabalho visa a realização de um es-
tudo de viabilidade técnica e financeira para redimensionamento
da rede de distribuição de água tratada da sede urbana do muni-
cípio de Guaramiranga.

METODOLOGIA
CONCEPÇÃO DO ESTUDO
Para realização do estudo, foram elaborados três modelos
hidráulicos na plataforma EPANET. As condições operacionais
do município foram obtidas através do relatório de controle ope-
racional de abril/2018 (CAGECE, 2018), os dados referentes à
taxa de crescimento geométrico da população da área urbana
do município foram obtidos através do Perfil básico Municipal
(IPECE, 2017), a população flutuante ocasionada pelo turismo
na sede urbana (por evento anual) foi obtida através de ofício

81
resposta à CAGECE enviado pela Secretaria de Municipal de
Turismo de Guaramiranga.

CONSTRUÇÃO DO MODELO
Tomando como base o cadastro disponibilizado pela CA-
GECE, foi montada a malha de abastecimento de água da sede
do Município de Guaramiranga, de forma georreferenciada na
plataforma QGIS, possibilitando assim a correção dos arrua-
mentos do cadastro de rede conforme imagens de satélite. O
fuste do reservatório elevado existente (com capacidade para 50
m³) foi coletado em campo.
Os valores dos consumos nodais foram encontrados atra-
vés da seguinte fórmula:
Onde:
Tabela 1 – Memória de Cálculo
(Vazão) (l/s) Q= 24,98371
Consumo/ponto (EPANET) 0,23794
Total de Passantes 13000
Taxa de Hospedagem por Evento 76,92%
População Flutuante (pf) 3500
Projeção Crescimento Populacional (pcp) IBGE ou IPECE: 0,69%
Taxa de Ocupação por domicílio (to) 3,78
Consumo per capita (l/hab/dia) (cpc) 150
Reforço diário K1: 1,2
Reforço horário K2: 1,5
Tempo de duração funcionamento poços (t) (segundos) 72000
Nº de nós (EPANET): 105
Horizonte do Projeto (anos) (hp) 20
População Base (pb) 2756
Ligações prediais de água reais 729
Horas de funcionamento dos poços/dia 20

Fonte: Elaborado pelo autor.

82
Para encontrar o consumo dos foi dividida a vazão de pro-
jeto encontrada pela quantidade total de nós da modelagem.
Para determinação das cotas topográficas, como não se teve
acesso a uma topografia convencional com arquivo em formato
.dwg (CAD) foi utilizada a base altimétrica SRTM (Shuttle Ra-
dar Topography Mission), então foi exportada a rede traçada no
EPANET para um arquivo .inp para, através do software QGIS,
onde inseriu-se as respectivas elevações nos nós da modelagem,
após isso a rede foi importada (em formato .inp) para o EPA-
NET e foi concluído o modelo (GONÇALVES; JÚNIOR, 2016).

Cenários da Modelagem Hidráulica


Aqui serão apresentados os critérios e resultados verifica-
dos nos modelos elaborados, os resultados serão representados
em cenários de rede no EPANET.
Na figura 1, cenário 01, o modelo considera a configuração
atual do sistema, com poços injetados ao longo da rede (de forma
não planejada), sem o acréscimo de qualquer melhoria para dis-
tribuição, e sem considerar a população máxima sazonal anual:
Figura 1 - Cenário 01

Fonte: Elaborado pelo autor.

83
Verifica-se com a configuração atual do sistema que as zo-
nas de pressão são definidas pelo tempo de funcionamento de cada
poço e estas são diferentes entre si, pois dependem da recarga dos
poços e da quantidade de ligações prediais dependentes em cada
poço. Esse cenário não é o ideal, visto que quando um dos poços
para de funcionar o bairro ou grupamento de edificações depen-
dente é desabastecido, o que pode gerar desabastecimentos crôni-
cos em setores isolados já que a água não é reunida e distribuída
de forma igualitária. Vale ressaltar os parâmetros hidráulicos per-
da de carga e as pressões estão em desconformidade em descon-
formidade com a NBR 12.218, Resolução 130 da ARCE (Agência
Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado do Cea-
rá) e Normas Técnicas de Elaboração de Projetos da CAGECE.
Para o cenário 02 foi alterada a configuração atual do sis-
tema no tocante ao layout dos poços, injetando 3 destes no re-
servatório existente e os outros 3 restantes em um reservatório
projetado, locado em cota favorável, onde ambos passariam a
funcionar como reunião. Essa medida visa à otimização da ges-
tão da água produzida e ofertada para o sistema, agora setoriza-
do em duas zonas de pressão delimitadas pela área de influência
dos reservatórios.
Figura 2 - Cenário 02

Fonte: Elaborado pelo autor.

84
Nesse cenário as pressões ficam todas abaixo dos 10 m.c.a
mínimos requeridos pela legislação vigente devido às elevadas
perdas de carga resultantes dos diâmetros reduzidos dos tubos
existentes que são quase em sua totalidade de 50 mm (diâmetro
nominal) com alguns trechos mais críticos com diâmetros ainda
menores, no caso 32 mm. Diante do exposto optou-se por não se
apresentar um cenário com o sistema atual acrescido da deman-
da sazonal ou população flutuante, visto que esta é maior do que
a população existente em quase 27%.
Para o cenário 03 considerou-se para o cálculo da vazão
de projeto a população residente atual com crescimento proje-
tado para 20 anos acrescido da população sazonal para o dia
de maior consumo do ano. As melhorias foram propostas neste
cenário, pois este reproduz o cenário de maior criticidade verifi-
cado para o presente estudo:
Figura 3 - Cenário 03

Fonte: Elaborado pelo autor.

Nesse cenário foram propostas as seguintes melhorias:


• Aumento do diâmetro do barrilete do reservatório ele-
vado existente (com capacidade de 50 m³ de armaze-
namento);
• Implantação de novo reservatório elevado, com capa-
cidade de 250 m³;

85
• Implantação de dois novos reservatórios apoiados,
com capacidade de 225 m³ cada, totalizando 500 m³
de reservação;
• Implantação de duas estações elevatórias;
Observa-se na figura 3, que, com a inclusão das melhorias
supracitadas as pressões foram adequadas ao mínimo previsto
na legislação vigente, ou seja, 10 m.c.a, assim como o parâmetro
perda de carga que também foi adequado e ficou dentro do limite
dos 8 m/km.

REFERENCIAL TEÓRICO

PARTES DO SISTEMA DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
A concepção de um sistema de abastecimento de água
pode variar em função de vários aspectos, dentre eles: porte do
município, disponibilidade hídrica e ou tipo de manancial, qua-
lidade da água bruta, topografia e ou relevo do terreno.
As partes integrantes de um sistema de abastecimento de
água podem ser conceituadas conforme a seguir (HELLER; PÁ-
DUA, 2010):
• Manancial: fonte de água, a partir de onde é abasteci-
do o sistema, em linhas gerais os mananciais podem
ser do tipo:
• Subterrâneo freático ou não confinado;
• Subterrâneo confinado;
• Superficial sem acumulação;
• Superficial com acumulação;
• Água de chuva.
• Captação: consiste na estrutura responsável pela ex-
tração de água do manancial, a fim de torna-la dispo-

86
nível para seu transporte para os locais de utilização.
Pode ser de muitas e diferentes formas, em função
do tipo de manancial. Seu projeto, sobretudo quan-
do refere-se à captação em manancial de superfície,
deve considerar cuidadosamente as características fí-
sicas do curso d’água e de suas margens, bem como
as variações sazonais de vazão, uma vez que se trata
de uma unidade de muita responsabilidade no sistema
e, por se localizar no curso d’água, fica sujeita a ação
das intempéries;
• Adução: destina-se a transportar a água, interligando
unidades de captação, tratamento, estações elevató-
rias, reservação e rede de distribuição em função da
água que transporta, pode ser adutora de água bruta
ou de água tratada e, em função de suas característi-
cas hidráulicas, pode ser em conduto livre, em condu-
to forçado por gravidade ou em recalque;
• Estações elevatórias: podem se mostrar necessárias
quando a água necessita atingir níveis mais elevados,
vencendo desníveis geométricos. Existem sistemas
sem estações elevatórias, da mesma forma que exis-
tem outros com dezenas (às vezes centenas) delas.
Seu emprego é em função, principalmente, do relevo
do local. Podem ser classificadas segundo a água que
recalcam (bruta ou tratada) e o tipo de bomba;
• Tratamento: de implantação sempre necessária, para
compatibilizar a qualidade da água bruta com os pa-
drões de potabilidade e proteger a saúde da população
consumidora, segundo a portaria MS nº 2914/2011
(BRASIL, 2011). Esta portaria estabelece as seguin-
tes condições mínimas para o tratamento:

87
• Toda água para consumo humano, fornecida co-
letivamente, deverá passar por processo de desin-
fecção ou cloração;
• As águas provenientes de manancial superficial
devem ser submetidas a processo de filtração.
• Reservatórios: destinam-se, entre outras funções a
realizar a compensação entre a vazão de produção –
oriunda da captação-adução-tratamento, que em geral
é fixa ou tem poucas variações - e as vazões de con-
sumo, variáveis ao longo das horas do dia e ao longo
dos dias do ano. Podem assumir diferentes formas,
em função de sua posição no terreno (apoiado, eleva-
do, semienterrado, enterrado) e de sua posição em re-
lação à rede de distribuição (de montante ou jusante).
• Rede de distribuição: é composta de tubulações, co-
nexões e peças especiais, localizados nos logradouros
públicos, e tem por função distribuir água até as resi-
dências, estabelecimentos comerciais, indústrias e lo-
cais públicos. Podem assumir configurações bastante
simples até extremamente complexas, em função do
aporte, da densidade demográfica, da distribuição e
da topografia da área abastecida.

REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA


Tipos de Redes de Distribuição de Água
Redes de distribuição podem ser usualmente constituídas
por dois tipos de canalizações (TSUTIYA, 2006):
1. Principal: também denominada de conduto tronco ou
canalização mestra são tubulações de maior diâmetro
que tem por finalidade abastecer as canalizações se-
cundárias;

88
2. Secundária: São tubulações de menor diâmetro e tem
a função de abastecer diretamente os pontos de con-
sumo do sistema de abastecimento de água.
De acordo com a disposição das canalizações principais
e o sentido de escoamento nas tubulações secundárias, as redes
são classificadas em (TSUTIYA, 2006):
1. Ramificada;
2. Malhada;
3. Mista.

Dimensionamento de Redes de Distribuição de Água


Para funcionar adequadamente, a rede de distribuição
deve estar sujeita a uma pressão mínima e a uma pressão má-
xima. A pressão mínima tem por finalidade vencer os desníveis
topográficos e as perdas de carga no ramal predial e nas tubu-
lações internas dos prédios abastecidos, de modo a garantir que
a água chegue até o reservatório predial padrão, ou seja, aquele
instalado no piso ou no teto de prédio de no máximo dois pa-
vimentos. Interessa neste caso a denominada pressão dinâmica
mínima, entendida como a pressão referida ao nível do eixo da
via pública, em determinado ponto da rede, sob condição de uti-
lização no dia e hora de maior consumo e com a ocorrência do
nível mínimo de água no respectivo reservatório de distribuição
(HELLER; PÁDUA, 2010).
Já a não superação da pressão máxima destina-se a garantir
a integridade dos tubos, conexões e válvulas utilizadas nas ins-
talações prediais (que possuem uma pressão limite a que podem
estar sujeitas) e também a reduzir as perdas de água nas tubula-
ções da rede de distribuição e nos ramais prediais (as perdas de
água em tubulações defeituosas ou com furos devido à corrosão
variam com a raiz quadrada da pressão reinante nas tubulações).

89
Neste caso, a pressão de interesse é a denominada pressão estáti-
ca máxima, definida como a pressão referida ao nível do eixo da
via pública, em determinado ponto da rede, sob condição de con-
sumo nulo e com a ocorrência do nível máximo de água no res-
pectivo reservatório de distribuição (HELLER; PÁDUA, 2010).
No Brasil, a NBR 12.218 da ABNT (1994) estabelece em
100 kPa (aproximadamente 10 m.c.a) a pressão dinâmica mí-
nima em redes públicas de distribuição de água, e em 500 kPa
(aproximadamente 50 m.c.a) a pressão estática máxima, com as
seguintes ressalvas (HELLER; PÁDUA, 2010):

DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


O município de Guaramiranga fica localizado na região
serrana do estado, microrregião de Baturité e mesorregião do
Norte Cearense, a 110 km da capital do estado, com 4.164 habi-
tantes (IBGE, 2010).
A área de estudo é a sede urbana do município, foi en-
contrada uma população urbana atual de 2.756 pessoas (calcula-
da com base na taxa de ocupação por domicílios encontrada no
perfil básico municipal do IPECE de 2017 e multiplicada pela
quantidade de ligações reais de água informada pela CAGECE)
em maio de 2018.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

JUSTIFICATIVA
Guaramiranga é um dos destinos turísticos mais procu-
rados do estado, se destaca por vários eventos entre os quais se
destacam: Festival Jazz e Blues que ocorre durante o feriado de
carnaval, Semana Santa, férias de julho e Réveillon. Conforme
o ofício de número 50/2018 da prefeitura municipal de Guara-

90
miranga há um aporte diário máximo anual de 3.500 pessoas
por evento. Nesse cenário a população total da área urbana mais
do que duplica pois passa de 2756 para 6.256 pessoas quando
acrescida da população flutuante.
Nessa situação o parâmetro hidráulico perda de carga
agravado pela infraestrutura existente (com tubulações com diâ-
metros mínimos, no caso 32 e 50 mm) o que promove o de-
sabastecimento de forma generalizada, portanto a modelagem
hidráulica do sistema atual com proposição de melhorias está
ambientada nesse cenário, para que se possa adequar prestação
de serviços de abastecimento de água à legislação vigente.

OBJETIVO
Desenvolver o projeto de intervenção de melhorias da
rede de distribuição da sede do município de Guaramiranga,
propondo melhorias gerais quanto ao transporte (e ampliação
da reservação se for o caso) adequado da água tratada, de forma
a adequar os parâmetros hidráulicos perda de carga e pressão
ao longo da rede de distribuição principalmente por conta do
aumento de consumo nas sazonalidades.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


A partir de um estudo de modelagem hidráulica a ser feita
no software EPANET espera-se que o parâmetro perda de carga
fique no máximo dentro dos 8 m/km (metros por quilômetro) e
a pressão estática no eixo da rede tenha valores mínimos de 10
m.c.a (metros de coluna d’água) conforme o disposto na resolu-
ção 130 da ARCE.
Com o modelo elaborado e melhorias definidas objetiva-
-se a contratação de empresa de engenharia para execução e im-
plantação destas.

91
AÇÕES DE INTERVENÇÃO
Contratar empresa de engenharia para executar e ou im-
plantar as melhorias propostas na modelagem apresentadas no
capítulo de metodologia.

ATORES ENVOLVIDOS
O município (convenente) e os proponentes que poderão
ser a ANA, a FUNASA, a União ou até mesmo o Estado, além de
bancos fomentadores para o presente investimento e principal-
mente os munícipes que serão os usuários do sistema proposto.

RECURSOS NECESSÁRIOS
Conforme orçamento estimativo realizado o montante to-
tal dos recursos é da ordem de R$ 2.117.335,97 (Dois Milhões,
cento e dezessete mil, trezentos e trinta e cinco reais e noventa
e sete centavos).

VIABILIDADE
É ambientalmente viável, pois ocorrerá apenas nas áreas
já urbanizadas da sede urbana do município sem a necessidade
de agredir o meio ambiente nativo.
Promoverá a otimização da prestação dos serviços de
abastecimento de água, garantindo a continuidade destes além
da adequação da pressão mínima de operação (10 m.c.a.) em
todos os domicílios, conforme o disposto na resolução 130 da
ARCE;

RISCOS E DIFICULDADES
A seguir são apresentados na opinião do autor os princi-
pais riscos e dificuldades envolvidos:

92
• Má qualidade na execução nos serviços e materiais
empregados;
• Variações nos tipos de solo não previstas (necessida-
de de projeto de Geotecnia);
• Acidentes de trabalho e com a população local;
• Comprometimento de recursos destinados ao paga-
mento das medições do contrato;
• Transtornos no tráfego de veículos e de pedestres;
• Insolvência da empreiteira, etc.

CRONOGRAMA EM MESES

Tabela 2 – Cronograma Físico


GUARAMIRANGA - CENÁRIO 3 COM MELHORIAS REDE DE
DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA - MATERIAIS E SERVIÇOS

CRONOGRAMA FÍSICO
GRUPO DE INSUMOS
CÓDIGO 30 60 90 120
OU SERVIÇOS

03.01 LOCAÇÃO/CADASTRO 33,33% 33,33% 33,33%  

INSTALAÇÕES PROVI-
03.02 33,33% 33,33% 33,33%  
SÓRIAS
TRÂNSITO E SEGU-
03.03 33,33% 33,33% 33,33%  
RANÇA
MOVIMENTO DE TER-
03.04 33,33% 33,33% 33,33%  
RA

03.05 PAVIMENTAÇÃO 25,00% 25,00% 25,00% 25,00%

ASSENTAMENTO DE
TUBO, INCLUSIVE
03.06 33,33% 33,33% 33,33%  
TRANSPORTE, LIMPE-
ZA E TESTE
BLOCO DE ANCORA-
03.07 33,33% 33,33% 33,33%  
GEM

03.08 INJETAMENTO 33,33% 33,33% 33,33%  

93
GUARAMIRANGA - CENÁRIO 3 COM MELHORIAS REDE DE
DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA - MATERIAIS E SERVIÇOS

CRONOGRAMA FÍSICO
GRUPO DE INSUMOS
CÓDIGO 30 60 90 120
OU SERVIÇOS
FORNECIMENTO DE
03.10 TUBULAÇÃO, CONE- 50,00% 50,00%    
XÕES E ACESSÓRIOS
TRANSFERÊNCIA DE
03.11 33,33% 33,33% 33,33%  
LIGAÇÕES

03.12 ESTAÇÃO ELEVATÓRIA 25,00% 25,00% 25,00% 25,00%

NOVO BARRILETE REL


03.13 EXISTENTE CAPACI- 0,00% 100,00%    
DADE 50 m³
INCREMENTO DE 01
REL C/ CAPACIDADE
03.15 25,00% 25,00% 25,00% 25,00%
DE 250 M³-MATERIAIS
+ SERVIÇOS
INCREMENTO DE 02
RAPS C/ CAPACIDADE
03.16 25,00% 25,00% 25,00% 25,00%
DE 225 M³ - MATERIAIS
+ SERVIÇOS

Fonte: Elaborado pelo autor.

GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO


Deverão ser indicados pela prefeitura para fazer a ges-
tão do contrato um gestor e um fiscal de obras. O fiscal deverá
acompanhar as obras em campo diuturnamente, atuando correti-
vamente ao longo do processo de fiscalização sempre que neces-
sário, inclusive preenchendo o livro de ocorrências de obra, de
forma a garantir o cumprimento do cronograma físico da obra.
Ao final de cada mês deverá realizar a medição dos serviços a
serem pagos à contratada, apontando os percentuais e ou quan-
tidades a serem pagas, atestando também a sua conformidade.

94
O gestor do contrato deverá dar o apoio necessário ao fis-
cal de obras na execução de suas atividades, garantindo os recur-
sos necessários ao bom andamento dos serviços. O gestor será
o elo de interlocução entre o município e a contratada. O gestor
deverá também validar a medição atestando a conformidade dos
serviços junto ao fiscal. Ao final de cada medição o gestor e o
fiscal deverão preencher um formulário de avaliação da empresa
contratada, avaliando dessa forma se o conceito da empresa no
tocante à execução do objeto é suficiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho atingiu seu objetivo ao diagnosticar a
situação atual do abastecimento de água de Guaramiranga, pro-
pondo melhorias através de intervenções simples e sem impac-
tos ambientais relevantes, visando o bem estar e a saúde da cole-
tividade e garantindo um turismo com mais qualidade através da
prestação adequada do serviço essencial abastecimento de água.

REFERÊNCIAS
CENSO DEMOGRÁFICO 2010. Características da população e dos
domicílios: resultados do universo. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponí-
vel em: <https://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/webservice/frm_urb_rur.
php?codigo=230510>. Acesso em: ago. 2018.

GONÇALVES JUNIOR, Luiz. Modelagem de Sistemas de Água utili-


zando Epanet, Guia Prático. Vol. 2. Campo Grande. 2016.

_____. NBR-12218: projeto de rede de distribuição de água para abasteci-


mento público. Rio de Janeiro: ABNT, 1994.

GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ. Resolução 130 condições gerais


na prestação e utilização dos serviços públicos de abastecimento de
água e de esgotamento sanitário. Ed. Fortaleza: ARCE, 2010.

95
_____. Normas Técnicas para Projetos de Sistemas de Abastecimento
de Água e Esgotamento Sanitário CAGECE. 2. Ed. Fortaleza: CAGE-
CE, 2010.

_____. Saneamento Básico um compromisso de todos por mais quali-


dade de vida. 1. Ed. Fortaleza: CAGECE, 2016.

_____. Perfil Básico Municipal. Guaramiranga. 2017.

_____. Relatório de Controle Operacional. Guaramiranga: CAGECE,


2018.

HELLER, PÁDUA. Abastecimento de água para consumo humano. 2.


Ed. Belo Horizonte: UFMG, 2010.

TSUTIYA. Abastecimento de água. 3. Ed. São Paulo: Departamento de


Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo, 2006.

96
SETORIZAÇÃO DO SISTEMA DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA (SAA) PARA
REDUÇÃO DE PERDAS HÍDRICAS DE
ÁGUA NA CIDADE DE SÃO JOÃO DO PIAUÍ

Leonel Vitório Esteves


Luís Gonzaga Pinheiro Neto

Resumo: Estudos são elaborados em busca de medidas preventivas


para mitigar os desperdícios de água potável. Os índices de perdas
hídricas no Brasil correspondem, em média, à 38,05% do volume dis-
tribuído no SAA. Assim, as companhias devem elaborar programas
de medidas e controle para reduzir tais parâmetros, e se enquadrar
nas metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Saneamento Básico
(Plansab). A redução de perdas, além de favorecer economicamente
as empresas, contribui para a redução dos impactos socioambientais.
Presente artigo trata sobre a elaboração do projeto de setorização
para redução de perdas hídricas na cidade de São João do Piauí, que
possui índices de desperdícios de 45,59%. Foi-se necessário atuali-
zação do cadastro técnico e comercial, além disso, utilizar software
topográficos, hidráulicos e para desenhos técnicos. Para controlar e
monitorar o sistema necessitou-se de macromedidores de nível, vazão
e pressão e equipamentos para detecção de vazamentos. Para manter
as pressões em conformidade com a norma NBR 12.218, utilizou-se
válvulas redutoras de pressão e “booster”. A cidade produz mais que
a demanda, e com uma meta de redução no primeiro ano de 6%, o
índice de produção e demanda aumentaria para 19%, o que permitiria
um aumento populacional sem precisar ampliar o volume de capta-
ção, que resultaria no aumento da receita da concessionária. Com a
redução do desperdício estabelecido pela meta, seria o suficiente para
pagar 67% do custo de implantação da setorização na cidade. Para
atingir o desejado, utiliza-se a setorização para melhor visualizar e
elaborar a matriz do balanço hídrico.
Palavras Chaves: Desperdícios, Distritos de Medição e controle,
Gerenciamento.
INTRODUÇÃO
Concessionárias de abastecimento de água, públicas e pri-
vadas, possuem a responsabilidade de cobrar os custos adequa-
dos para utilização da água, e nestes custos estão inclusos a de-
manda, a manutenção de equipamentos e a garantia de serviços.
E, com o crescimento populacional nas cidades, submete à em-
presa responsável pelo saneamento, uma ampliação no sistema
de abastecimento de água (SAA), que pode aumentar o índice
de desperdícios de água, e uma elaboração de gerenciamento do
sistema, dentre os quais o combate a redução de perdas hídricas.
Liderado pelos Estados do norte e nordeste brasileiro,
com alguns próximos a 70% de índice de perdas de fatura-
mento, um dos principais fatores implicantes a tais parâmetros é
a má gestão do saneamento, principalmente pela falta de progra-
mas em combate as perdas hídricas.
Para realizar uma política de combate a perdas se faz neces-
sário um estudo de viabilidade técnica e econômica de implan-
tação, iniciada pela determinação de metas e a metodologia para
cumpri-la. Portanto, um bom planejamento indicaria qual méto-
do a concessionária deve utilizar para obter seus parâmetros, mas
para isso precisa-se de investimentos de custo de implantação,
na qual torna-se o principal obstáculo para as concessionárias.
Algumas companhias de saneamento já desenvolvem pro-
gramas para combate a redução de perdas hídricas, dentre os
quais: a setorização, automação do sistema setorizado e/ou até
mesmo programas educacionais. Um dos parâmetros considera-
dos para a escolha do modelo de gestão ao combate as perdas,
deve-se ao recurso destinado da concessionária para essas ações
vinculados diretamente ao custo/benefícios.
A relação entre a água distribuída e a captada no Brasil
gera, em média, uma perda hídrica de 38,5%, isso induz as em-

98
presas de saneamento a buscar melhorias que resultem em uma
redução de pelo menos 30% a curto prazo e 50% a médio prazo
com relação à situação atual. Uma redução de 10% nas perdas
hídricas no SAA do País traria uma receita operacional em torno
de R$ 1,3 bilhão. (SNIS, 2016; NURENE, 2008).
As perdas reais correspondem ao volume de água no siste-
ma para ser consumido, que não será contabilizado, devido a va-
zamentos no sistema, e as perdas aparentes correspondem ao vo-
lume de água consumido que não foi contabilizado, devido a erros
de medição nos hidrômetros, fraudes, ligações clandestinas e fa-
lhas no cadastro comercial (BARBOSA, 2008; TSUTIYA, 2006).
Para possuir um autocontrole e, consequentemente, evitar
perdas ou ter eficiência na descoberta, é essencial possuir um
sistema com cadastro atualizado para análise de micromedição e
macromedição, utilizando a setorização para obter maior preci-
são e facilitar na análise do balanço hídrico, respeitar a vida útil
e manutenção de tubos, conexões e hidrômetros, utilizar equi-
pamentos adequados para detecção de perdas, e funcionamento
ideal do sistema com a utilização de válvula redutora de pressão
e “booster” em zonas de desconforto de pressão, para isso é fun-
damental o uso de medidores de pressão e vazão e possuir uma
mão de obra especializada para operar o sistema.

DESENVOLVIMENTO

JUSTIFICATIVA
Em busca da conservação dos recursos hídricos e contri-
buir para o uso de água potável às próximas gerações, faz-se ne-
cessário, efetivar ações para combater as perdas hídricas no sis-
tema de abastecimento de água, cujo boa parte já em padrões de
potabilidade que está sendo desperdiçada durante o seu percurso.

99
Conforme o SNIS, o Estado do Piauí possui uma perda de
cerca de 320 (l.dia-1) por ligação e um desperdício de 43,69% na
rede de distribuição da água tratada. Valores próximos a média
brasileira, porém podem ser melhorados com implantação de
ações ao combate a perdas.
A companhia Águas e Esgotos do Piauí – Agespisa, afir-
ma que a maior parte da perda de água, deve-se a vazamentos na
rede de distribuição e ramais prediais. Portanto, medidas correti-
vas são tomadas para a permanência do funcionamento do siste-
ma nos padrões ideais, porém as ações preventivas são cruciais,
mas só podem ser realizadas com um planejamento de controle
das pressões e vazões do sistema.
A setorização permite ter melhor controle e domínio do
consumo, devido a divisão por zonas; flexibilidade no direciona-
mento dos recursos para áreas que apresentam pressões abaixo
do demandado ou acima da permitida; agilidade no descobri-
mento de intervenção no sistema por vazamentos ou obstrução
nas linhas de abastecimento. Portanto, a setorização tem um pa-
pel fundamental para a realização do estudo de macro e micro-
medição, com isso, começar a detectar erros no sistema e come-
çar o combate as perdas hídricas.

OBJETIVOS GERAIS
Reduzir as perdas hídricas da cidade de São João do Piauí
utilizando a setorização do sistema de abastecimento de água.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Apontar os componentes de um sistema de setorização;
• Identificar as zonas e distritos da cidade;
• Dimensionar a rede de distribuição por zona;
• Analisar os pontos de desconforto de pressão;

100
• Propor medidas para eficiência do sistema de comba-
te a perdas.

REFERENCIAL TEÓRICO
A setorização divide o sistema em zonas, na qual permite
uma análise independente do funcionamento da distribuição de
água, induzida por linhas primárias e secundárias demarcada por
uma área de influência territorial em atendimento as unidades
residenciais. Portanto, com a análise das variações das pressões
pitométricas e das vazões zonais, determina-se com rapidez os
pontos de vazamentos na rede, consequentemente se obtém com
agilidade e qualidade os reparos no sistema, além disso, descobri-
mento de ligações clandestinas (AVILA, 2007, FONSECA, 2011).
Quanto maior o conhecimento da funcionalidade da rede
de distribuição de água do sistema, melhores resultados podem
ser alcançados em combate as perdas, portanto, as zonas devem
ser divididas em vários distritos de medição e controle (DMC),
na qual são áreas de medição e controle perfeitamente delimitada
e permanentemente isolada, de modo que as vazões possam ser
monitoradas nas entradas de cada área, permitindo identificar
a ocorrência de vazamentos ou problemas na rede (ALMEIDA,
2009, MOTTA,2010).
Quando definido e isolados os setores e subsetores, os vo-
lumes disponibilizados são definidos para cada zona de pressão.
E para obtenção de dados operacionais do funcionamento do sis-
tema, será possível com a instalação de macromedidores nas li-
nhas de alimentação principal de cada setor e subsetor. Com isso,
têm-se a veracidade dos fatos de vazão no sistema, para ser ana-
lisado os resultados obtidos em um determinado tempo nos hi-
drômetros. Elaborando, portanto, um estudo de macromedição e
micromedição nos setores e subsetores da rede. (FUNASA,2014)

101
Para a detecção do local dos vazamentos são utilizados os
equipamentos: haste de escuta, geofone e correlacionador de ruí-
dos. Todos eles têm a capacidade de captar ruídos de vazamentos
em acessórios (cavaletes, registros, hidrantes, tubulação, juntas,
acessórios) da rede de distribuição de água (FONSESA, 2011).
Haste de escuta é utilizada em acessórios da rede de distri-
buição de água (cavaletes, registros, hidrantes) para capturar ruí-
dos de vazamentos, e trata-se de um equipamento simples com
amplificador mecânico ou eletrônico com faixa de operação en-
tre 200 a 1500 Hertz, acoplado a uma barra de metal com com-
primento de 1,0 a 1,5 m (BARBOSA, 2008; RECESA, 2008).
O geofone pode ser mecânico ou eletrônico. O mecânico
utiliza o princípio do estetoscópio na detecção de vazamentos,
trata-se de um equipamento simples, sem filtros de ruídos e com
aplicação mais restrita. Já o geofone eletrônico trata-se de um
detector acústico de vazamentos composto por sensor, amplifi-
cador, fones de ouvidos e filtros de ruídos. Utilizado para identi-
ficar ruídos de vazamentos pela superfície do solo ou em contato
com o acessório da rede. O operador percorre pelo encaminha-
mento da tubulação e observa as variações sonoras para encon-
trar as perdas não visíveis (BARBOSA, 2008; RECESA, 2008).
Correlacionador de ruídos é um equipamento acústico
com sensores e amplificador, que servem para identificar a po-
sição entre dois pontos na tubulação que apresentam vazamen-
tos. Trata-se de um equipamento sofisticado mais eficiente que
o geofone, que determina as ondas sonoras geradas pela fuga da
água e determina a diferença de tempo que o ruído leva para atin-
gir cada sensor, chamado tempo de retardo. (RECESA, 2008).
Para obter eficiência na rede setorizada com utilização de
equipamentos para monitoramento do sistema e detecção de per-
das. A empresa de saneamento deve manter um cadastro técnico
e comercial sempre atualizado.

102
O cadastro técnico deve está baseado na execução das
obras e seu referente “as built”, para assim obter as informa-
ções sobre a infra-estrutura existente, identificando o diâmetro
nominal, o material, profundidade dos tubos e conexões. Com
isso, facilita no dimensionamento futuro de ampliação do siste-
ma, e eficiência no reparo do problema, já que o cadastro técnico
permite visualizar de maneira digitalizada e georeferenciada a
situação existente do sistema. (ABES,2013)
É necessário também manter um cadastro comercial
atualizado, para detecção do volume de água necessário por setor
e subsetor. Para isso, devem ser realizadas rotas de leituras dos
hidrômetros e obedecer a sua vida útil. Portanto, é fundamental
a compatibilização do cadastro comercial com o técnico, para
realizar a macro e micromedição. A diferença dos volumes
encontrados resulta no somatório das perdas reais e aparentes do
sistema. (ABES,2013)
Segundo a IWA (Associação Internacional da Água), de-
finem-se perdas como “toda perda real ou aparente de água ou
todo o consumo não autorizado que determina aumento do custo
de funcionamento ou que impeça a realização plena da receita
operacional.” Os desperdícios tornam mais caro o sistema, logo
aplica-se uma vazão tratada maior do que a exigida pela deman-
da populacional. Portanto, torna o sistema mais caro, além de
afetar os recursos hídricos.
As perdas reais correspondem ao volume de água no sis-
tema para ser consumido, que não será contabilizado, devido a
vazamentos em todo o sistema de abastecimento e, as perdas apa-
rentes correspondem ao volume de água consumido que não foi
contabilizado, devido a erros de medição nos hidrômetros, frau-
des, ligações clandestinas e falhas no cadastro comercial (BAR-
BOSA, 2008; TSUTIYA, 2006).

103
As causas mais frequentes ocorrem: nas bombas devido
ao desgaste das gaxetas, pressões nominais altas e nos ajustes
das conexões; nos reservatórios pelo extravasamento e envelhe-
cimento dos materiais; na rede de distribuição e nas adutoras,
devido o encaixe inadequado das tubulações, além da agressão
do solo e corrosão da tubulação, envelhecimento dos tubos e
conexões, e ao rompimento dos mesmos (TARDELLI, 2006).

METODOLOGIA
A cidade de São João do Piauí está localizada na região do
sudeste Piauiense, microrregião de Alto Médio Canindé, situada
a 482 km da capital do Estado, cidade de Teresina, ilustrada na
figura 1. A cidade possui uma área de 1.527,77 km², e conforme
o IBGE, possui cerca de 20.258 habitantes. Ela tem como limi-
tes os municípios de Pedro Laurentino e Nova Santa Rita ao nor-
te, ao sul com João Costa e Dom Inocêncio, a leste com Campo
Alegre do Fidalgo e Capitão Gervásio de Oliveira e, a oeste com
Brejo do Piauí e Ribeira do Piauí.
Figura 1 – Município de São João do Piauí e cidades próximas.

Fonte: CPRM, 2004.

104
A cidade de São João do Piauí possui um sistema de abas-
tecimento de água convencional, composto por captação, adu-
ção, tratamento, armazenamento, rede de distribuição e ligações
prediais. O município é abastecido por um sistema de poços tu-
bulares interligados, sendo conduzida por adutoras até a Estação
de Tratamento composta por 7 filtros. Possui um reservatório
apoiado de 500 m³ que não armazena o volume necessário da
demanda populacional atual. A rede de distribuição necessita de
setorização para controle e redução de perdas hídricas. E devido
ao elevado crescimento populacional, exige-se que seja elabora
um projeto de ampliação e setorização do sistema da cidade.
O reservatório existente está próximo a ETA, no mesmo
terreno. Situados na zona média para alta da cidade, encima de
uma serra, proporcionando pressões elevadas, porém dentro da
normalidade das normas, para maior parte da cidade. Porém, o
crescimento populacional, encontra-se na zona alta, na qual a o re-
servatório existente não fornece pressão suficiente para o atendi-
mento, utilizando “booster” para tal função. Então, foi elaborado
um estudo já induzindo a ampliação com a setorização da cidade.
Foi realizada uma atualização dos cadastros técnicos e
comercial da cidade. Para isso, foi feita uma visita técnica com-
posta por engenheiro civil, topógrafo e motorista para juntar-se
ao corpo operacional do quadro técnico da empresa na cidade.
Para elaborar a topografia da cidade foi utilizado o GPS geodé-
sico L1/L2, com uma base fixa e outra móvel, conforme a figura
2 e 3, respectivamente. Então, foi realizado um levantamento de
todas as ruas da cidade para atualização dos dados.

105
Figura 2: Base fixa do GPS.

Fonte: Próprio autor, 2018.

Figura 3 – Parte móvel do GPS para registro de pontos.

Fonte: Próprio autor, 2018.

Para registrar os pontos topográficos, o aparelho móvel


foi programado para salvar cotas a cada dois segundos. A velo-
cidade máxima utilizada no veículo foi de 35 km.h-1, ou seja, a
distância máxima entre dois pontos registrados foi entorno de 20
metros. Os pontos cotados foram realizados tanto pelo aparelho

106
móvel quanto a base fixa, e essas informações foram processa-
das no software GNSS. E, finalmente, foi utilizado o programa
Topograph para gerar o arquivo em dxf.
Utilizando o Autocad versão 2014, foi realizada a atua-
lização da rede de distribuição da cidade, utilizando os pontos
cotados registrado em campo, medições e “as built” das obras
de SAA, cadastro da rede existente e os registros de ocorrências
de manutenção e operalização elaborada pela equipe locada no
município. Posteriormente, foi mandada uma equipe do setor
comercial para verificação dos micromedidores (hidrômetros) e
distribuição sazonal do volume de água fornecida, utilizando,
equipe composta por um engenheiro, técnico em saneamento,
bombeiro hidráulico e chefe do escritório da cidade.
A figura 4 trata da planta baixa de cadastro da rede de
distribuição da cidade de São João do Piauí, o dimensionamento
necessita de dados de entrada que a planta os sugeri.
Figura 4 – Planta iluminada do cadastro técnico da rede.

Fonte: Próprio autor, 2018.

107
Através do crescimento horizontal da cidade, percebeu-se
que a cidade está se expandido nas proximidades do reservatório
existente, situado na zona alta da cidade. Com a ampliação do
sistema e necessidade de um novo reservatório, a setorização to-
mará por parte de dividir a região em dois setores, um para cada
reservatório, e neles distribuir os subsetores ou DMCs, confor-
me o levantamento de dados cadastrais.
Foi dimensionado o sistema existente para verificação das
pressões e vazões disponíveis, a rede de distribuição com a am-
pliação, e para cada setor, utilizando o programa hidráulico Cre-
de, conforme a figura 5. No programa, foi utilizado k1=1,2 e k2=
1,5 para determinação da vazão máxima horária da rede de distri-
buição e descobrimento das perdas de carga por hazen-williams.
Com o dimensionamento por setores foram encontrados
os pontos críticos e desconfortáveis no sistema. E com isso, de-
terminou-se os locais adequados para implantação de equipa-
mentos de monitoramento de pressão, vazão e nível do sistema
Figura 5 – Utilização do programa Crede para dimensionamentos da
rede.

Fonte: Próprio autor, 2018.

108
Depois de realizado o projeto técnico, foi elaborado uma
planilha orçamentária e cronograma de implantação dos equipa-
mentos, conexões e fragmentação da rede de distribuição para a
setorização. Separadamente foi elaborado a planilha de amplia-
ção necessária no sistema.

RESULTADOS
Os índices de perdas de distribuição são elevados na maio-
ria das cidades brasileiras, com índices acima de 40%, e confor-
me Barbosa (2008), nestes parâmetros o sistema caracteriza-se
como uma má gestão de controle e redução de perdas. A cidade
de São João teve uma redução de 27,88 % nos últimos 10 anos,
conforme a figura 6. Isso deve-se a implantação de rede nova de
pvc rígido e pvc defofo na rede distribuição, substituindo os tubos
de cimento amianto. Porém, houve bastante oscilação de 2007 a
2013, devido ligações clandestinas. Desde 2014, o percentual de
perdas praticamente se manteve, devido uma equipe de operação
e fiscalização na cidade, mas ainda possui índices de 45,59%.
Figura 6 – perdas hídricas no SAA de São João do Piauí.

Fonte: ABES, 2016.

O Plano Nacional de Saneamento (Plansab) indicou as


metas por região para os índices de perdas na distribuição de
água, definidas em junho de 2013, como mostra a tabela 1. A

109
cidade de São João possui índices satisfatórios em relação às
metas estabelecidas no ano de 2010, o município possui índices
menores que os indicados. Porém, o grande desafio será reduzir
os índices aos 33% exigidos, e a solução da setorização será
o primeiro passo para o combate de perdas. Obtenha-se como
meta final, automatizar o sistema, para obter maior eficiência do
encontro das falhas do sistema e corrigi-los, mas devido ao alto
custo de implantação, optou-se ainda por a não instalação. Com
isso, metas foram estabelecidas para geração de lucros e obten-
ção de receita para investir no combate as perdas.
Tabela 1 - Metas do Plansab.
Indicador Ano Brasil N NE SE S CO
2010 39 51 51 51 35 34
% do índice
2018 36 45 44 44 33 32
de perdas na
2023 34 41 41 41 32 31
distribuição
2033 31 33 33 33 29 29

Fonte: Ministérios das cidades, 2013.

A produção de água de uma cidade deve sempre ser maior


que a demanda exigida, porém necessita-se de uma produção
maior devido as perdas serem acrescidas na demanda. A simples
equação 1 demonstra o índice entre produção e demanda.

( Produção
Demanda ) ≥ 1,0 (6)

O sistema de São João produz cerca de 5.000 m³/dia e


possui uma demanda de 4.398,32 m³.dia-1, considerando a popu-
lação atual, k1=1,2, per capita de 111,89 l/hab.dia e perda hídri-
ca de 45,59 %. Portanto, a cidade produz cerca de 14% mais do
que o necessário, porém com a meta de redução de perdas hídri-
cas de 6% no primeiro ano, aumentaria o índice de produção e
demanda para 19%, o que permitiria um aumento populacional

110
de 4.178 habitantes em um ano sem precisar ampliar na captação
e tratamento do sistema. E, isso resultaria no aumento de receita
da concessionária por permitir mais ligações domiciliares.
A cidade de São João foi dividida em duas zonas, deno-
minadas Z1 e Z2, uma para cada reservatório e totalizando 6
distritos de medição e controle, chamados de DMCmn, na qual
“m” indica em que zona o distrito se encontra e “n” o número
de identificação do DMC, a cidade de São João foi setorizada
conforme a figura 7 e 8.
Figura 7 – Divisão dos Setores de São João.

Fonte: próprio autor, 2018.

Figura 8 – Divisão dos distritos por zona.

Fonte: próprio autor, 2018.

111
Com a implantação da setorização, foi planejada a instala-
ção de macromedidores de pressão, vazão e nível para obtenção
de dados do sistema, tanto de maneira setorial como dos dis-
tritos. Além disso, foram verificados os pontos de desconforto
de pressão, na qual foram projetados a implantação de Válvula
Redutora de Pressão (VRPs) com atuação noturna para comba-
ter as altas pressões estáticas nesse período. A tabela 2 mostra a
distribuição dos equipamentos e necessidade de seccionamento
das tubulações no sistema.
Foi utilizado, um medidor de pressão para cada medidor
de vazão e válvula redutora de pressão, pelo menos um ponto
crítico para análise de pressão máxima e mínima, 3 registros de
gaveta para cada VRPs.
Tabela 2 - Equipamentos e seccionamento nos distritos.
DMC 11 DMC 12 DMC 13 DMC 21 DMC 22 DMC 23

Macromedidor de
1 1 1 1 1 1
Vazão
Macromedidor de
4 3 6 4 4 6
Pressão
Macromedidor de
1 - - - - 1
Nível
Registro de ga-
- - 6 - - -
veta

VRPs - - 2 - - -

Seccionamento 9 8 5 4 5 4

Fonte: próprio autor, 2018.

Além dos equipamentos distribuídos na rede, há a neces-


sidade de outros por diversas parte do SAA. O sistema é abaste-
cido por 3 poços tubulares, cuja há uma necessidade de 3 macro-
medidor de pressão e 3 macromedidores de nível para detecção
do nível estático e dinâmico. Para o sistema de adução, fez-se

112
necessário o uso de 3 macromedidor de pressão e 3 macrome-
didores de pressão situados na bomba. Um macromedidor na
Estação de Tratamento e um de nível para cada reservatório.
Figura 9 - Distribuição de equipamentos por distrito.

Fonte: próprio autor, 2018.

No DMC 13 encontra-se a zona baixa da cidade, na qual


apresentam pressões elevadas por todo o subsetor. O DMC 23
é a parte mais alta do município, e o reservatório elevado pro-
jetado para a ampliação está situado neste setor para atender as
necessidades de pressão dinâmica mínima e estática máxima da
zona 2, conforme a norma NBR 12218.
Para o gerenciamento de combate a perdas hídricas, ne-
cessitará de uma equipe técnica do quadro de funcionários da
empresa para entrada de dados. Para elaboração de formulários
que devem ser estudados e analisados periodicamente.

113
Tabela 3 - Coleta de dados.

Características Nível atual Nível desejável

Forma de preenchi-
Manual Automatizado
mento

Tempo de preenchi- Diário ou de hora em


Semanal ou diário
mento hora

Frequência leitura De hora em hora Menor ou igual a 1 hora

Formulário que englobe Base de dados no


Layout do formulário
todo o processo computador

Fonte: Funasa, 2014.

Para execução das obras, além da compra e instalação dos


equipamentos, serão necessários movimento de terra, com 35 sec-
cionamento da rede de distribuição para a formação de distritos,
e execução de 36 caixas de proteção de registro, VRPs ou medi-
dores. Então, estima-se uma meta de 6% de redução de custo no
primeiro ano com a implantação da setorização, proporcionan-
do um melhor gerenciamento do sistema, detectando com mais
rapidez os vazamentos e possibilitando reparos mais eficientes,
além de descobertas de ligações clandestinas. Portanto, o ponto
principal será na redução das perdas reais, e controlar os demais
fatores de perda. Lembrando que quando acaba o ciclo, surge
novas metas e novos métodos para abatimento dos desperdícios.
Conforme o site da agespisa, a arrecadação mensal da ci-
dade de São João é cerca de R$ 250 mil reais, que resultaria no
valor de R$ 180 mil reais de receita no ano devido as perdas com
uma média anual de redução de 6%. O sistema de setorização
está orçado em cerca de 270 mil, portanto, em 1 ano de implan-
tação, o programa de combate a perda, arrecadaria cerca de 67%
do valor implantado.

114
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O controle de pressão nas redes de distribuição é uma prá-
tica necessária para obter reduções de perdas no sistema, e no
caso de São João do Piauí, que apresenta uma elevada variação
de pressões dependendo da região, torna-se mais ainda funda-
mentável a utilização das válvulas para análises e medidores
para o acompanhamento. Vale ressaltar que todo o sistema deve
ser averiguado, desde a captação a ligações domiciliares, para
isso a utilização dos diversos equipamentos por todo o SAA.
Com a setorização facilita a visualização e o estudo da
matriz do balanço hídrico. Nesse projeto, iniciam-se a ideia de
gestão de combate as perdas hídricas, enfatizando principalmen-
te nas perdas reais do sistema. O investimento inicial não é tão
alto, até mesmo porque o projeto foi elaborado por membro téc-
nico da empresa de saneamento.
O combate não acontece somente com a implantação da
setorização e a distribuição dos equipamentos, é necessária uma
entrada de dados periódicos para a obtenção de informações
para análise do sistema. Todos os setores da empresa devem fi-
car envolvidos no programa de combate, já que envolve comer-
cial, social, financeiro e técnico.
As empresas de saneamento no Estado devem investir
mais no combate as perdas, e no caso de São João do Piauí que
possui índices abaixo do solicitado pelo plansab não se acomo-
dou, porque a concessionária tem a consciência do quanto é ne-
cessário a redução de perdas hídricas e obtenção de melhores
índices de gestão a elas. Se a empresa investir com recurso pró-
prio o custo de implantação, em um ano seria o suficiente para
aprimorar mais ainda os índices de combate a perda, com um
novo ciclo e ideias, como substituição de hidrômetros até chegar
no sistema todo automatizado.

115
REFERÊNCIAS
ABES – Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental. Per-
das em sistemas de abastecimento de água: diagnóstico, potencial de
ganhos com sua redução e propostas de medidas para o efetivo com-
bate.2013, 45 p.

ABNT – Associação Brasileira de Norma Técnicas. Projeto de rede de


distribuição de água para abastecimento público – NBR 12218. Rio de
Janeiro. 29/08/1994. 4p.

ALMEIDA, D.F.C. de. Controle e Redução de Perdas Reais em Siste-


mas de Abastecimento de água. Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo, São Paulo. 2009.

AVILA, E. C. G. Estudo da variação de pressões de serviço em pontos


da rede de abastecimento de água da cidade de Itatiba. [Trabalho de
conclusão de curso]. Universidade São Francisco, Itatiba. 2007.

FONSECA, F. R. da. Modelo de sistema de automação aplicado à seto-


rização de redes de abastecimento hídrico. [tese para conclusão de dou-
torado].Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo. 2011.

Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Sáude. Redução de


perdas em sistema de abastecimento de água.2º ed. - Brasília. Funasa,
2014.

IWA/ BLUE PAGES. LossesfromWaterSupply Systems:StandartTermi-


nologyandrecommended performance measures. London: IWA Publishinf,
2000.

MOTTA, R. G. da. Importância da setorização adequada para o com-


bate às perdas reais de água de abastecimento público. [Dissertação de
mestrado]. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo.
2010.

NURENE – Núcleo Regional Nordeste. Abastecimento de água: geren-


ciamento de perdas de água e energia elétrica em sistemas de abasteci-
mento. Guia de profissional em treinamento: nível 2. Salvador. RECESA,
2008. 139p.

116
SOUSA, R. B. Perdas de água no sistema de distribuição para abaste-
cimento público. [Trabalho de conclusão de curso]. Universidade Anhem-
bi Morumbi, São Paulo. 2008.

SNIS- Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Diagnóstico


dos serviços de água e esgotos. Site institucional, 2008. Disponível em:
<http://www.snis.gov.br/> Acesso em: 28 de jun de 2018.

TARDELLI FILHO, J. Controle e redução de perdas. In: TSUTIYA, M.


T et al Abastecimento de água. 3ª ed. São Paulo.: Departamento de Enge-
nharia e Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo, 2006. P 475 – 525.

TSUTIYA, M. T. Abastecimento de Água. 3 ed. São Paulo: Departamen-


to de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universi-
dade de São Paulo, 2006. 643p.

117
PROJETO DE OTIMIZAÇÃO DA
ADUTORA DE ÁGUA TRATADA
EM REDENÇÃO – CE

Francisco Luciveldo Braga da Silva1


Ana Karine Portela Vasconcelos2
João Paulo Leite Félix3

Resumo: O Sistema de Abastecimento de Água de Redenção está in-


tegrado com os municípios de Acarape, Barreira e Antônio Diogo, que
tem como manancial o Açude Acarape do Meio, localizado no Distrito
de Barra Nova em Redenção. A adutora de água tratada de Redenção
encontra-se dentro de terrenos particulares, facilitando a fraude e a per-
da de água por falta de manutenção preventiva e corretiva adequada.
No horário de pico de consumo a vazão não é suficiente, o que pro-
move baixa pressão em vários setores de abastecimento e prejudica a
continuidade do fornecimento de água. Esse trabalho visa a realização
de um projeto de intervenção para melhoria do fornecimento de água
tratada do município de Redenção e demais sistemas que fazem parte
do sistema integrado, visando a otimização da adutora de água trata-
da estudada, tendo como proposta um novo caminhamento projetado
dentro da faixa de domínio público, priorizando a redução dos índices
de perdas de água por vazamentos e furto, procurando favorecer a ope-
ração e manutenção do sistema.
Palavras-chave: Saneamento Básico, Sistemas de adução, Melhoria
operacional.

1 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos para a Gestão


Municipal de Recursos Hídricos – IFCE
e-mail: luciveldo@gmail.com
2 Profa. Dra. do Instituto Federal do Ceará – IFCE
e-mail: karine_portela@gmail.com
3 Prof. Me. do Instituto Federal do Ceará – IFCE
e-mail: joao.felix@ifce.edu.br
INTRODUÇÃO
Adutoras são canalizações que transportam água entre as
unidades do sistema de abastecimento de água que procedem a
rede de distribuição, realizando a interligação entre captação, es-
tação de tratamento e reservatórios. Em algumas situações, quan-
do as adutoras derivam de outras sem distribuição de água aos
consumidores, são chamadas de subadutoras. Para Tsutiya (2006),
as adutoras e subadutoras são unidades principais de um sistema
de abastecimento de água, necessitando de cuidados especiais na
elaboração de projetos e na implantação das obras.
Segundo Heller e Pádua (2010), o caminhamento da aduto-
ra é definido com base em critérios técnicos e econômicos, sendo
a sua concepção definida através de levantamentos topográficos,
geotécnicos e inspeções de campo, procurando evitar regiões que
dificultem sua implantação, operação e manutenção, tais como
áreas pantanosas, declividades elevadas vias de tráfego intenso
etc. As áreas de implantação deve ser de preferência de domínio
público, não sendo possível, a área deve ser desapropriada ou
estabelecido um contrato de servidão, podendo nesse caso uti-
lizada pelo proprietário, com restrições decorrente da servidão.
O SAA de Redenção, possui um abastecimento integra-
do com os municípios de Acarape, Barreira e Antônio Diogo.
O manancial onde é realizada a captação é o Açude Acarape
do Meio, localizado no Distrito de Barra Nova em Redenção,
com capacidade de 31.500.000,00 m3, cuja vazão total de for-
necimento para ETA em regime normal, é de 350,00 m3/h e a
capacidade da ETA é de 506,00 m3/h. A adutora de água trata-
da de Redenção, encontra-se dentro de terrenos particulares,
facilitando a fraude e a perda de água por falta de manutenção
preventiva e corretiva adequada.

120
De acordo com Barbosa e Venturini (2002), a importância
da reabilitação está intimamente ligada à diminuição dos custos
operacionais, o aumento da segurança e da confiabilidade dos
serviços prestados, através de medidas que retardem ao máximo
os investimentos em futuras expansões e possibilitem um au-
mento cauteloso de futuras ampliações dos sistemas.
O presente trabalho visa a realização de um projeto in-
tervenção para otimização do fornecimento de água tratada do
município de Redenção, realizando estudo do sistema de adução
de água tratada, tendo como proposta um novo caminhamento
projetado dentro da faixa domínio público, priorizando a redu-
ção dos índices de perdas de água por vazamentos e furto, procu-
rando favorecer a operação e manutenção do sistema.

METODOLOGIA
A primeira etapa do trabalho foi realizada através de pes-
quisas bibliográficas sobre o assunto abordado em livros, ma-
nuais técnicos, dissertações de mestrado, monografias, artigos,
revistas, normas técnicas e dados coletados em campo e junto a
CAGECE.
A segunda etapa foi feita através de visita em campo, sen-
do realizado levantamento sobre a adutora de água tratada exis-
tente do Sistema Integrado em Redenção, no qual foi verificado
que o sistema de abastecimento é realizado através de uma EEAT
que recalca através de uma adutora de água tratada FoFo Dúctil
DN 250, com extensão aproximada de 10.020 m e demanda uma
vazão de 524,46 m³/h. O caminhamento da adutora foi realizado
através de um levantamento simplificado para posteriormente
ser lançado no Google Earth como mostra a (FIGURA 01).

121
Figura 1 - Traçado esquemático da Adutora de Água Tratada existente
em Redenção

Fonte: Elaborado pelo autor.

Através deste levantamento simplificado do trajeto da


adutora realizado dia 19.04.2017, verificou-se que aproximada-
mente 45% (4.103 m) passa por dentro de propriedades de ter-
ceiros. Nesses trechos, a Cagece não possui acesso para realizar
manutenção preventiva ou corretiva. Foram realizados registros
fotográficos, mostrando alguns trechos da adutora passando por
propriedades de terceiros.
A terceira etapa deste Projeto de Intervenção, foi realiza-
do através de levantamento simplificado, da proposta do novo
caminhamento da adutora de água tratada em Redenção por via
pública com extensão de aproximadamente de 11.700 metros,
sendo uma proposta única por ter apenas uma via pública de
acesso entre a ETA no Açude Acarape do Meio e o Reserva-
tório em Redenção, como mostra a (FIGURA 02), retirada do
Google Earth.

122
Figura 2 - Traçado Proposto do Projeto da Adutora de Água Tratada
em Redenção.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Foi levantado junto a Cagece, a demanda do Sistema In-


tegrado em Redenção na (FIGURA 03) e na (FIGURA 04), a
distribuição analítica de acordo com o consumo de água tratada
de cada cidade do sistema integrado.
Figura 3 – demanda atual (Fev/2018) do Sistema Integrado em Re-
denção.
Vazão
Imóveis População Vazão Necessária
Localidade Necessária
(unid) (hab.) (l/s)
(m³/h)

Acarape 4.235 16.940 105,88 29,41

Antº Diogo 3.313 13.252 82,83 23,01

Barreira 5.770 23.080 144,25 40,07

Redenção 3.953 15.812 98,83 27,45

SISAR 371 1.484 9,28 2,58

Total 17.642 70.568 hab. 441,05 m³/h 122,51 l/s

Fonte: Cagece (2018).

123
Figura 4 – distribuição analítica do sistema integrado.
Q prod.
IPD (méd
Imóveis População Q (méd últ. Per capita (méd
últ. 05
(unid.) (hab.) 05 meses) (l/hab/dia) últ. 05
meses)
meses)

Acarape 4.235 16.940 45,61 m³/h 64,63 53%

Antônio
3.313 13.252 34,91 m³/h 63,22 32% 283,64
Diogo
m³/h
Barreira 5.770 23.080 46,68 m³/h 48,54 -5%

Redenção 3.953 15.812 49,87 m³/h 75,69 34%

TOTAL 17.271 69.084 177,07 m³/h - - -

Fonte: Cagece (2018).

A (FIGURA 05) mostra o histórico dos volumes perdidos


na distribuição e operação do SAA de Redenção entre os meses
de setembro de 2017 a janeiro de 2018, conforme dados forne-
cidos pela Cagece.
Figura 5 - Histórico do Índice de Perdas na Distribuição e operação.
IPD Set/2017 Out/2017 Nov/2017 Dez/2017 Jan/2018

Acarape 53,02% 55,81% 47,3% 59,73% 49,76%

Antônio
37,71% 22,06% 28,55% 32,03% 37,30%
Diogo

Barreira 4,4% -1,47% -28,33% 10,03% -8,82%

Redenço 47,52% 27,12% 37,93% 32,53% 26,63%

Fonte: Cagece (2018)

A quarta etapa foi o desenvolvimento do Projeto de Inter-


venção, através da proposta do novo caminhamento da adutora
de água tratada em Redenção, com a realização do orçamento
estimativo. Para projeto executivo, deverá ser realizado estudo
topográfico confiável, por profissional habilitado, com uso de
teodolito ou estação total.

124
REFERENCIAL TEÓRICO

PARTES DO SISTEMA DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Geral
A concepção dos sistemas de abastecimento de água é
variável em função do porte da cidade, topografia e captação.
De um modo geral os sistemas convencionais de abastecimen-
to de água (FIGURA 08), são constituídos das seguintes partes
(TSUTYA, 2006):
1. Manancial;
2. Captação;
3. Estação elevatória;
4. Adutora;
5. Estação de tratamento de água (ETA);
6. Reservatório;
7. Rede de distribuição.

Manancial
São todas as fontes de água superficial ou subterrânea,
de onde é retirada a água para abastecimento. O fornecimento
da vazão deve ser suficiente para atender a demanda de água no
período de projeto, e a qualidade dessa água deve ser adequada
sob o ponto de vista sanitário (TSUTYA, 2006).

Captação
Conforme Nucase (2008), a captação é a etapa onde se re-
tira a água da fonte que alimenta o sistema de abastecimento de
água, o manancial. A captação pode ser superficial ou subterrânea.

125
Estação Elevatória
Nos sistemas de abastecimento de água, as estações ele-
vatórias são essenciais, sendo bastante utilizadas na captação,
adução, tratamento e distribuição de água. O uso intensivo de
elevatórias tem elevado o custo de energia elétrica, tornando-se
um dos principais custos de operação das prestadoras de servi-
ços de saneamento básico (TSUTYA, 2006).

Estação de Tratamento de Água (ETA)


A ETA é o local onde a água bruta entra e recebe tratamen-
to e os processos exigidos deverão ser determinados em função
dos padrões de potabilidade pré-estabelecidos pelos órgãos res-
ponsáveis pela saúde humana, regido no brasil pelo Ministério
da Saúde através da Portaria no 518/2004 (NUCASE, 2008).

Reservatório
Os reservatórios de distribuição de água são elementos de
importância fundamental em um sistema de abastecimento de
água, pois atendem diversas finalidades, são visíveis e de grande
destaque no sistema de distribuição de água (TSUTYA, 2006).

Rede de Distribuição de Água


Para Tsutiya (2006), redes de distribuição de água é a par-
te do sistema de abastecimento de água formadas por tubulações
e órgãos acessórios com o principal objetivo de transportar água
potável de forma contínua e em quantidade, qualidade e pressão
adequada aos consumidores com atendimento às portarias e le-
gislações vigentes específica.

126
Adução
Adutoras são canalizações que transportam água entre as
unidades do sistema de abastecimento de água que procedem a
rede de distribuição, realizando a interligação entre captação, es-
tação de tratamento e reservatórios. Em algumas situações, quan-
do as adutoras derivam de outras sem distribuição de água aos
consumidores, são chamadas de subadutoras (TSUTYA, 2006).

CLASSIFICAÇÃO DAS ADUTORAS


De acordo com Tsutya (2006, p. 156), quanto à natureza
de água transportada:
• Em função da natureza da água conduzida, as aduto-
ras podem ser denominadas:
• Adutora de água bruta: são tubulações que trans-
portam a água sem tratamento;
• Adutora de água tratada: são tubulações que trans-
portam a água tratada.
• Quanto à energia para movimentação de água:
• Adutora por gravidade: transportam a água de
uma cota mais elevada para a cota mais baixa;
• Adutora por recalque: transportam a água de um
ponto a outro com cota mais elevada, através de
estações elevatórias;
• Adutoras mistas: compostas por trechos por re-
calque e trechos por gravidade.

DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

LOCALIZAÇÃO
Redenção é um município brasileiro do estado do Ceará,
localiza-se a uma altitude de 88 metros acima do nível do mar e a

127
55 Km de distância de Fortaleza. Faz parte do Polo serra de Gua-
ramiranga e os habitantes se chamam rendencionistas. O muni-
cípio recebe este nome por ter sido a primeira cidade brasileira
a libertar os escravos (PREFEITURA DE REDENÇÃO, 2018).
O município se estende por 225,6 Km2 e contava com
26.423 habitantes no último censo (estimada em 2017 em 27.441
habitantes). A densidade demográfica é de 117,1 habitantes por
Km2 no território do município. Vizinho dos municípios de Aca-
rape, Aracoiaba, Barreira, Baturité, Guaiuba, Pacoti e Palmácia.
Redenção se situa a 20 Km a Norte-Leste de Baturité, a maior
cidade nos arredores. Situado a 92 metros de altitude de Reden-
ção, tem as seguintes coordenadas geográficas: Latitude: 4° 13’
35’’ Sul, Longitude: 38° 43’ 53’’ (IPECE, 2017).

O SISTEMA DE ABASTECIMENTO
DE ÁGUA DE REDENÇÃO
O manancial que abastece o SAA de Redenção é o açude
Acarape do Meio localizado no distrito Barra Nova em Redenção,
com capacidade de 29.590.000 m³ (fonte: site COGERH, acesso
em 10.02.14), cuja vazão total de fornecimento para ETA, foi de
creca de 252 m³/h (média de 2013). De acordo com informações
fornecidas pela Cagece, o Sistema de produção da ETA-Redenção
e de distribuição de água estão conforme (FIGURAS 07) abaixo:
Figura 7 – Dados do SAA e da Produção ETA-Redenção.
Ligações Ativas: 14.710
Per Capita Fornecido (l/hab/dia): 137,25
Capacidade da ETA (m³/h) 606
Vazão Média (m³/h) 261,36
Horas por Dia: 23,7
Dias de Funcionamento: 31
Extensão de Rede (m): 168.911

Fonte: Cagece ( Jan/2018).

128
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

JUSTIFICATIVA
O Sistema Integrado é abastecido através de uma EEAT
que recalca através de uma adutora de água tratada FoFo Dúctil
2GS DN 250, com extensão aproximada de 10.020 m, e demanda
uma vazão de 524,46 m³/h. Através de um levantamento sim-
plificado do trajeto da adutora realizado dia 19.04.2017, verifi-
cou-se que aproximadamente 45% (4.103 m) passa por dentro
de propriedades de terceiros. Nesses trechos, a CAGECE não
possui acesso para realizar manutenção preventiva ou corretiva.

OBJETIVO
Propor melhorias no sistema integrado de Redenção atra-
vés do Projeto de Intervenção, visando a otimização do sistema
adutor de água tratada, para realizar o fornecimento de água de
forma continua e de qualidade, favorecendo ainda a operação e
manutenção do sistema projetado por via pública, reduzindo os
índices de perdas de água por vazamentos e furto de água.

RESULTADOS E IMPACTOS. ESPERADOS


Com incremento das melhorias de infraestrutura previsto
no projeto de intervenção, terá impacto direto nos serviços ope-
racionais e sobre a continuidade do abastecimento de água do
sistema integrado. Com melhoria da qualidade, que influenciará
diretamente no atendimento às portarias e legislações vigentes
específicas, esperando-se que seus impactos sejam positivos.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
Realizar levantamento dos dados técnicos e topográfico
do caminhamento da Adutora de Água Tratada por via pública e

129
analisar através dos dados coletados, a implantação da nova adu-
tora de água tratada com o sistema operacional existente, reali-
zando orçamento estimativo e posteriormente a licitação para
contratação da empresa de engenharia especializada em projetos
e construção de adutora de água tratada, para realização de Pro-
jeto Executivo com fornecimento de materiais e serviços.

ATORES ENVOLVIDOS
Os atores envolvidos são, o Governo do Estado do Ceará,
a Companhia de Água e Esgoto de Ceará (Cagece), as Prefeitu-
ras das cidades e distritos beneficiados, e a empresa de engenha-
ria contratada para execução do projeto executivo e implantação
da adutora de água tratada.

RECURSOS NECESSÁRIOS
Segundo orçamento estimativo, os recursos econômico-
-financeiros necessários, serão no montante de R$ 7.956.583,30
(Sete Milhões, novecentos e cinquenta e seis mil, quinhentos e
oitenta e três reais e trinta centavos) para contratação da empresa
de engenharia para realização do projeto executivo e execução
dos serviços de engenharia com fornecimento de materiais.

VIABILIDADE
Esse projeto de intervenção é viável por apresentar me-
lhorias no fornecimento de água a população das cidades abas-
tecidas pelo sistema integrado, atendendo desta forma as exigên-
cias da legislação vigente, segundo a Resolução 130 da ARCE
(agencia reguladora de serviços públicos delegados do Estado
do Ceará), de 25 março de 2010.

130
RISCOS E DIFICULDADES
Esse projeto terá como riscos e dificuldades, a fiscaliza-
ção e acompanhamento da CONTRATADA para execução do
projeto executivo e realização da construção da adutora de água
tratada com fornecimento de materiais de qualidade, conforme
projeto executivo e normas da ABNT, procurando obedecer ao
cronograma e prazos pré-determinados.

GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO


A Gestão, acompanhamento e avaliação dos serviços exe-
cutados da empresa contratada, será realizada pela Gerencia de
obras da Cagece, através engenheiros e técnicos fiscais de obras,
procurando validar os trabalhos realizados conforme MEOS.

ORÇAMENTO
O orçamento estimativo (página 13) para a realização do
termo de referência para execução desse projeto de intervenção
para otimização da adutora de água tratada do sistema integrado
de Redenção está conforme a tabela 24.1 da SEINFRA, podendo
mudar seus valores dependendo do projeto executivo realizado
pela empresa vencedora da licitação e da aprovação do projeto
executivo pela comissão de obras e projetos da Cagece.

CRONOGRAMA
O prazo para execução da obra é de 12 (doze) meses, a partir
da data da ordem de serviço emitida pelo Governo do Estado do
Ceará. Deste prazo citado, 03 (três) meses estão previstos para ela-
boração do projeto executivo, lembrando que a execução dos ser-
viços e elaboração do projeto poderão ser iniciados paralelamente
conforme aprovação da comissão de Fiscalização da CAGECE.

131
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este projeto de intervenção vai fornecer elementos neces-
sários para realização do projeto executivo da adutora de água
tratada do sistema integrado em Redenção.
A implantação da adutora de água tratada deverá ser exe-
cutada conforme o projeto executivo. Os materiais a serem em-
pregados deverão ser de primeira qualidade, isentos de falhas e
quaisquer outros defeitos de fabricação.
Quaisquer mudanças nas especificações de materiais e/
ou equipamentos a serem aplicados durante a execução da obra
deverão ser apreciados bem como aprovados pela equipe de
fiscalização da CAGECE. Eventuais mudanças em detalhes do
projeto também deverão ser consultadas/aprovadas pela CAGE-
CE. As eventuais adequações de projeto durante a execução da
obra, caso ocorram, deverão constar nas peças gráficas na forma
como construído (as-built) e deverão ser entregues à CAGECE
(Gerência de Projetos) na forma digitalizado em autocad.
O projeto da adutora de água tratada deverá ser execu-
tado conforme as exigências do projeto hidráulico, na última
revisão das normas da ABNT, bem como da última revisão do
termo de referência da CAGECE. Plantas, peças gráficas, dia-
gramas, memorial de cálculo complementam as informações
acima.

132
ORÇAMENTO ESTIMATIVO DA ADUTORA DE ÁGUA TRATADA DO SISTEMA INTEGRADO DE REDENÇÃO-CE. Tabela 24.1 desonerada

RESUMO GERAL DO ORÇAMENTO junho / 2018


ITEM DISCRIMINAÇÃO % Grupo % Total TOTAL
01 ELABORAÇÃO DE PROJETO EXECUTIVO 0,39 30.808,80
PROJETO EXECUTIVO DA ADUTORA DE ÁGUA TRATADA DO SISTEMA INTEGRADO DE
01.01 100,00 0,39 30.808,80
REDENÇÃO-CE.
02 SERVIÇOS PRELIMINARES 2,12 168.348,74
02.01 CANTEIRO DE OBRA.................................................................................................................... 90,16 1,91 151.789,06
02.02 INSTALAÇÕES PROVISÓRIAS..................................................................................................... 9,68 0,20 16.288,00
02.03 PLACA DA OBRA............................................................................................................................ 0,16 - 271,68
03 ADUTORA ÁGUA TRATADA DO SISTEMA INTEGRADO DE REDENÇÃO 88,40 7.033.957,40
03.01 ADUTORA FOFO DN400 - MATERIAL.......................................................................................... 98,37 86,96 6.919.216,72
03.02 CAIXAS DE DESCARGA ADUTORA DN 400 - MATERIAL........................................................... 0,72 0,64 50.825,12
03.03 CAIXAS DE VENTOSA ADUTORA DN 400 - MATERIAL.............................................................. 0,91 0,80 63.915,56
04 ADUTORA FOFO DN400 - SERVIÇOS 8,01 637.207,17
04.01 LOCAÇÃO E NIVELAMENTO DE ADUTORA................................................................................ 6,43 0,51 40.950,00
04.02 TRÂNSITO E SEGURANÇA........................................................................................................... 9,68 0,78 61.701,12
04.03 MOVIMENTAÇÃO DE TERRA....................................................................................................... 59,01 4,73 376.001,98
04.04 ASSENTAMENTO DE TUBOS E CONEXÕES.............................................................................. 18,38 1,47 117.122,98
04.05 CAIXAS DE REGISTRO DE DESCARGA ADUTORA DN 400 - SERVIÇOS................................ 3,22 0,26 20.546,40
04.06 CAIXAS DE VENTOSA ADUTORA DN 400 - SERVIÇOS............................................................. 3,28 0,26 20.884,69
05 ADMINISTRAÇÃO LOCAL 1,08 86.261,19
05.01 ADMINISTRAÇÃO LOCAL............................................................................................................. 96,24 1,04 83.018,19
05.02 DIVERSOS...................................................................................................................................... 3,76 0,04 3.243,00
TOTAL GERAL 7.956.583,30
Sete Milhões, novecentos e cinquenta e seis mil, quinhentos e oitenta e três reais e trinta centavos

133
REFERÊNCIAS
AZEVEDO NETTO, José Martiniano; FERNANDEZ, Miguel Fernande-
zy; ARAÚJO, Roberto de & ITO, Acácio Eiji. Manual de Hidráulica. 8ª.
Ed. 669 p. São Paulo: Edgard Blucher, 1998.

BARBOSA, P. S. F.; VENTURINI, M. A. G. (2002) “Subsídios à escolha


de técnicas de reabilitação de redes de distribuição de água”, Semi-
nário: Planejamento, Projeto e Operação de Redes de Abastecimento de
Água: O Estado da Arte e Questões Avançadas. João Pessoa, Brasil.

HELLER, Léo; PÁDUA, Valter Lúcio de . Abastecimento de água para


consumo humano. 2ª. Ed. Belo Horizonte: UFMG, 2010.

IPECE (Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará). Secretaria


do Planejamento e
Gestão (SEPLAG). Perfil Básico Municipal 2006 Redenção. Fortaleza:
IPECE, 2006. Localização disponível em: <http://www.ipece.ce.gov.br/
perfil_basico_municipal/2006/ Redencao.pdf>. Acesso em: 30 de nov. de
2017.

PREFEITURA DE REDENÇÃO (comp.). Descrição da área de estudo


disponível em: <https://www.redencao.ce.gov.br/omunicipio.php>. Aces-
so em: 30 de jan. de 2017.

RECESA (Rede Nacional de Capacitação e Extensão Tecnológica em Sa-


neamento Ambiental). Abastecimento de água: Construção e operação
de redes de abastecimento de água: guia do profissional em treinamento
– nível 2/ Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental – SNSA(org).
Salvador: RECESA, 2008.

TSUTIYA, Milton Tomoyuki. Abastecimento de água. 3. Ed. São Paulo:


Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo, 2006.

134
DESSALINIZAÇÃO DA ÁGUA
SUBTERRÂNEA NO MUNICÍPIO DE
GUAIÚBA NO ESTADO DO CEARÁ

Djalma Mourão Albano1


Helba Araujo de Queiroz Palácio2
Benicia de Almeida Dias Honório3

Resumo: O suprimento de água de Guaiúba é garantido através do


manancial denominado açude Acarape do Meio, que pertence à ba-
cia Metropolitana, porém nesses períodos de chuvas escassas ou ine-
xistentes, os pequenos mananciais superficiais geralmente secam e os
grandes chegam a atingir níveis críticos, provocando muitas vezes co-
lapso no abastecimento de água. Dentro desse panorama aumenta a
importância da água subterrânea, que representa, muitas vezes, o único
recurso disponível para o suprimento da população e dos rebanhos.
Para tornar-se apropriada ao consumo humano, entretanto, a(s) água(s)
deste(s) manancial(ais) precisa(m) ser submetida(s) a um tratamento
de forma a adequá-la(s) ao padrão de potabilidade estabelecido pela
Portaria 2914/11 do Ministério da Saúde. Objetivou-se com esse tra-
balho avaliar a utilização de dessalinizadores por osmose reversa, no
município de Guaiúba, considerando a qualidade da água gerada na
captação através de poços profundos escavados no cristalino e a per-
cepção socioambiental dos usuários desse sistema.
Palavras-chave: Água Subterrânea, Dessalinizadores, Poços Arte-
sianos, Salinização, Osmose Reversa.

1 Graduação em Geologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Espe-


cialista em Recursos Minerais da Agência Nacional de Mineração.
2 Graduação em Licenciatura em Ciências Agrícolas pela Universidade Fe-
deral Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Mestre em Irrigação e Drenagem
pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Doutora em Engenharia Agrí-
cola pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professora do Instituto
Federal do Ceará (IFCE/Campos Iguatú).
3 Graduação em Geologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Mes-
trado em Geociências pela Universidade Federal do Amazonas. Especialis-
ta em Recursos Minerais da Agência Nacional de Mineração
INTRODUÇÃO
O municipio de Guaiúba, está inserido em uma área geo-
gráfica de 267 km², distante 26,1 km da capital cearense e está
localizado na região dos maciços residuais. Apresenta aspecto
climático tropical quente, sub-úmido, com precipitação média
anual de 1013,7 mm, (Funceme, 2018).
Com relação aos recursos hídricos, Guaiúba está inseri-
da na bacia metropolitana, conforme o Plano Estadual de Re-
cursos Hídricos - PERH, e é banhada pela bacia hidrográfica
do rio Pacoti. Os rios são intermitentes, apresentando escoa-
mento superficial nulo durante alguns meses do ano. O muni-
cípio conta com a existência de vinte pequenos açudes, sendo
apenas cinco com volume superior a 1.000.000m³. Os peque-
nos açudes possuem capacidade de acumulação estimada em
5.522.000m³ (IPECE, 2011).
A expansão urbana e as necessidades de desenvolvimen-
to, sem levar em conta o meio ambiente, tem promovido à con-
taminação dos cursos d’água, a impermeabilização do solo, o
assoreamento dos reservatórios e rios, barramentos sem consi-
derar as questões hidrométricas, prejudicam toda a dinâmica da
bacia hidrológica.
De acordo com FREEZE (2017) o termo água subterrânea
é normalmente reservado à água sub-superficial que encontra-se
abaixo do nível freático em solos e formações geológicas que
estão totalmente saturados.
Nas comunidades rurais do Nordeste brasileiro, a utiliza-
ção de águas subterrâneas de poços tubulares é uma alternativa
ao abastecimento d’água. No entanto, há uma grande limitação
na utilização desses poços para enfrentamento da escassez hídri-
ca, que é o elevado teor de sais dissolvidos (SILVA et al., 2007;
FERNANDES et al., 2010; SANTOS et al., 2011).

136
Outro problema aferido no processo de dessalinização é a
produção, além da água potável, de um rejeito altamente salino
e de poder poluente elevado. A produção do rejeito proveniente
da dessalinização da água pode contaminar o lençol freático e
gerar sérios impactos ambientais no solo. Dependendo do equi-
pamento e da qualidade da água do poço, a quantidade de rejeito
gerado é da ordem de 40 a 70% do total de água salobra retira-
da (Beltrán e Koo-Oshima, 2006; Porto et al., 2006; Wanderley,
2009). Destaca-se, portanto, a necessidade de aproveitamento do
rejeito com atividades da agricultura como a hidroponia, pisci-
cultura e/ou mineração evitando-se, assim, impactos ambientais
negativos (Soares et al., 2006; Ceará, 2008; Wanderley, 2009).

METODOLOGIA
Com relação aos recursos hídricos, Guaiúba está inserida
na bacia metropolitana, conforme o Plano Estadual de Recur-
sos Hídricos - PERH, e é banhada pela bacia hidrográfica do
rio Pacoti. Os rios são intermitentes, apresentando escoamento
superficial nulo durante alguns meses do ano. Os principais cur-
sos d’água que drenam o município são os riachos Mata Fresca,
Baú, Água Verde, Guaiúba, Boa Esperança, Catolé e Baixa Fun-
da. O município conta com a existência de vinte pequenos açu-
des, sendo apenas cinco com volume superior a 1.000.000m³. Os
pequenos açudes possuem capacidade de acumulação estimada
em 5.522.000m³ (Wikipédia, 2008).
O município de Guaiúba está inserido na região hidrográ-
fica da bacia Metropolitana. Como principais drenagens super-
ficiais pode-se mencionar os rios Pacoti e Água Verde. Segundo
o Plano Estadual de Recursos Hídricos do Ceará – PERH. O
abastecimento da sede municipal é realizado pela CAGECE, uti-
lizando o açude Acarape do Meio, e atende a 89% da população

137
urbana. (CPRM, 1998). Com o longo período de estiagem que
vem acometendo o estado do Ceará, o município de Guaiúba,
sente os efeitos da falta de água.
O nordeste brasileiro está submetido a condições anôma-
las com períodos prolongados de seca. De um modo geral, o
município apresenta característica bastante variável quanto ao
regime pluviométrico, além dos anos alternados entre seco e
chuvoso, mostra irregularidade na distribuição das chuvas no
decorrer do ano. A característica climática do município ex-
põe dados de que há escassez hídrica sazonalmente e os re-
cursos hídricos de superfície refletem estes dados. Há assim,
obrigação de armazenar água que garanta as necessidades da
população, a exemplo de açudes, cisternas e até mesmo poços
profundos apesar da salinidade presente em poços perfurados
na depressão sertaneja.
O municpio possui 16 poços do tipo profundo perfurados,
sendo que atualmente apenas 3 encontram-se em funcionamen-
to, pois os demais apresentam salinidade acima do permitido
para o consumo humano. Considerando 3 poços tubulares em
uso no cristalino, pode-se inferir uma produção atual da ordem
de 5,1 m3 /h de água para o abastecimento da área rural e regiões
remotas do município de Guaiúba.
Em termos de qualidade das águas subterrâneas, a tota-
lidade dos poços tubulares apresenta águas com teores de sais
dissolvidos elevados, sendo que 57% dos poços tubulares pos-
suem águas salinizadas, somente recomendadas para o consumo
animal e uso humano secundário (lavar, banho etc.).
A partir dessas verificações, deduzimos que o melhor mé-
todo a ser implantado no município para que sejam aproveitados
os poços que encontram-se sem serventia, é a da dessalinização
por osmose reversa, que, segundo Amorim, (1997) atribui o pre-

138
domínio da osmose reversa a simplicidade e robustez do equipa-
mento; aos baixos custos de instalação e operação, incluindo o
consume de energia e de mão de obra na operação; à capacidade
de tratar volumes baixos ou moderados de água bruta; à elevada
taxa de recuperação; à continuidade do processo e à excelente
qualidade da água tratada.
A implantação e recuperação de dessalinizadores por os-
mose reversa, deverá beneficiar a população do município com
água tratada e de boa qualidade e deve ser feita através de pro-
jeto em parceria do município com órgãos públicos voltados a
operacionalização de recursos hídricos.
A primeira etapa do projeto deve contemplar a realiza-
ção de um diagnóstico técnico dos sistemas de dessalinização
instalados no município, avaliando três pontos principais: (1)
condições dos dessalinizadores; (2) operação dos poços e (3)
condições das obras civis (reservatórios e abrigos), referente a
cada sistema de dessalinização já instalado.
(1) Condições dos dessalinizadores - devem ser apresen-
tadas as especificações de cada dessalinizador; uma análise das
condições atuais de todos os componentes do sistema como:
bombas de alta e baixa pressão, tubulações, membranas, pré-fil-
tros, bomba dosadora; além do fornecimento de especificações
técnicas para recuperação do sistema, assim como o de funcio-
namento do dessalinizador.
(2) Operação dos poços - Deve ser feita uma avaliação
quanto as situações atuais dos poços e elementos necessários
para a operação dos mesmos como: bombas, tubulações e ins-
talações elétricas, além do teste de produção dos poços (vazão).
(3) Condições das obras civis: As obras civis são inerentes
às edificações existentes nos abrigos (poço e dessalinizador) e re-

139
servatórios, partes elétricas e hidráulicas, avaliação das necessida-
des de obras complementares, cerca e utilização do concentrado.
A segunda etapa do projeto consiste essencialmente na
realização de serviços de recuperação, implantação e/ou ma-
nutenção dos dessalinizadores. Na recuperação são realizadas
as atividades necessárias para o funcionamento do sistema, em
seguida avaliam-se os procedimentos que estão sendo utilizados
e a eficiência do equipamento, além da coleta de amostras para
comprovação. Na implantação, são instalados os equipamentos,
analisando-se as características do poço. Na Manutenção (corre-
tiva ou preventiva), analisam-se as condições do equipamento,
toda a infraestrutura integrante (poço, reservatórios, abrigo e tu-
bulações), procedimentos que estão sendo realizados e eficiência
do equipamento. O organograma abaixo mostra a metodologia
de trabalho da segunda etapa.
Ao mesmo tempo são feitas coletas de amostras da água
do poço, da água tratada e do rejeito proveniente da dessaliniza-
ção para análises físico-químicas e microbiológicas, objetivando
comprovar a potabilidade da água.

REFERENCIAL TEÓRICO

IMPORTÂNCIA E DISTRIBUIÇÃO DA ÁGUA


A água é um recurso fundamental para a existência da
vida, tanto animal quanto vegetal. Ela constitui mais de 60% de
todas as funções necessárias à vida do organismo humano (SE-
RAFIM et al., 2014).
Desde a descoberta de que a produção de alimentos
dependia da oferta de água usada no cultivo, a água tem sido
um bem de extrema importância para o homem. Sociedades
foram desenvolvidas próximas a regiões com boas ofertas de

140
recurso hídricos e fácil captação de modo que atendessem a
suas demandas domesticas e agrícolas. Sendo que esses recur-
sos foram suficientes para aquela sociedade naquele momento,
as sociedades foram virando cidades e grandes metrópoles e
agua foi se tornando escassa. Posteriormente, a água passou a
ser usada para movimentar máquinas que cortavam madeira,
em moinhos de grãos e finalmente em processos industriais
(GRASSI, 2001).
A quantidade de água doce no mundo, em rios e lagos,
em condições de consumo, é o bastante para suprir de seis a sete
vezes o mínimo anual de que cada habitante do Planeta necessi-
ta. Embora pareça um recurso abundante, ela representa apenas
0,3% do total de água potável no Globo Terrestre (Figura 1). Os
outros 2,5% de água doce está nos aqüíferos e lençóis freáticos,
geleiras, calotas polares e outros reservatórios, como, por exem-
plo, os pântanos.(ARAÚJO,2016).
Segundo Carvalho et al. (2004), a disponibilidade de água
potável no planeta vem reduzindo, de forma a merecer atenção
especial da comunidade científica e de entidades internacionais.
De acordo com estudo publicado (UNESCO, 2004), até a meta-
de deste século, a escassez de água atingirá de 2 a 7 bilhões de
habitantes em mais de quarenta países.
No decorrer da história da humanidade, as necessidades
do uso de água foram-se tornando bastante diversificadas, exi-
gindo-se maior quantidade e qualidade. Com o desenvolvimento
de diversas culturas, as sociedades tornaram-se mais sofistica-
das, o que passou a exigir, ao mesmo tempo, maior seguran-
ça no suprimento de água e aportes tecnológicos mais robustos
que também demandavam maior quantidade de água (HELLER;
PÁDUA, 2010).

141
Figura 1 – Distribuição de água no planeta

Fonte: Brasil Escola (2008)

O Brasil, de acordo com a OMS (Organização Mundial de


Saúde), é um país privilegiado em termos de recursos hídricos,
pois possui 12% da água doce que escorre na superfície do plane-
ta (Suassuna, 2004). Porém como mostra a figura 1, a distribuição
dessa água é extremamente desigual: 69% do total de água superfi-
cial no Brasil, localiza-se na região com poucos habitantes. O nor-
deste brasileiro, que concentra 29% da população do Brasil, pos-
sui apenas 3% dos recursos hídricos do País (MENEZES, 2009).

USO DE ÁGUA DE POÇO NO BRASIL


Uma importante fonte alternativa às águas superficiais são as
águas subterrâneas. Em 2018, estima-se a existência de pelo menos
303.518 poços cadastrados no Brasil. (CPRM,2018). Essas águas
são extremamente exploradas no país, e vem sendo utilizadas para o
abastecimento humano, irrigação, indústria e lazer. Segundo o Cen-
so de 2000 (IBGE, 2003), aproximadamente 61 % da população
brasileira é abastecida, para fins domésticos, com água subterrânea,

142
sendo que 6% se auto-abastece das águas de poços rasos, 12% de
nascentes ou fontes e 43% de poços profundos.
Apesar da deficiência em recursos hídricos superficiais,
poderiam ser extraídos do subsolo da Região Nordeste, sem ris-
co de esgotamento dos mananciais, pelo menos 19,5 bilhões de
m3 de água por ano (ABAS, 2007). O uso desta água, porém, é
limitado por um problema bastante freqüente dos poços do inte-
rior nordestino, o alto teor de sais. Grande parte da região (788
mil km2, ou 51% da área total do Nordeste) está situada sobre
rochas cristalinas e o contato por longo tempo, no subsolo, entre
a água e esse tipo de rocha, leva a um processo de salinização
(SOARES et al, 2006).
Freqüentemente, os poços são perfurados em regiões secas
e carentes de água e logo após, constatado que a água é imprópria
para consumo devido ao alto teor de sais, são rejeitados. Como essa
água não atinge seu objetivo principal que é o de promover água
de boa qualidade para a população, os prejuízos são grandes ten-
do em vista o custo de perfuração dos poços (OLIVEIRA, 1999).

O USO DE DESSALINIZADORES NO
SEMIÁRIDO NORDESTINO
A dessalinização pode ser entendida como o processo físi-
co-químico da retirada do sal e outros minerais da água salgada
e/ou salobra para obter água potável. Esse processo é muito utili-
zado no Oriente médio e em navios transatlânticos e submarinos
onde a água doce é escassa ou inexistente. Essa água dessali-
nizada servirá para consumo humano e para irrigação do solo
(GALDINO et al, 2009).
Por iniciativas dos poderes públicos, vem sendo implan-
tados desde 1996, equipamentos de dessalinização no Nordeste
Brasileiro, inicialmente por doações da Fundação Banco do Bra-

143
sil, Secretária de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Am-
biente, através do projeto “ÁGUA BOA” e por convênios realiza-
dos entre os municípios e o Governo Federal (EMBRAPA, 2004).
Apesar do mercado já dispor de tecnologia de dessalini-
zação a custos cada vez mais reduzidos, estes ainda representam
um gasto muito acima da capacidade financeira dos municípios
cearenses afetados pelo fenômeno da salinização. Na maioria
dos casos, faz-se necessário, portanto, um suporte financeiro das
outras esferas de governo, seja estadual, seja federal, para viabi-
lizar a instalação dessa infraestrutura de dessalinização da água
(MONTEIRO, et al, 2004).
Nessas circunstâncias, a implantação desses equipamen-
tos como forma de solução do problema de escassez de água
potável nas diversas localidades do Estado do Ceará deverá vir
inserida num projeto maior dos governos federal e/ou estadual.
Os recursos, também, nessas esferas de governo, no entanto, não
são ilimitados e devem ser alocados deforma racional e criterio-
sa. Portanto, para que se potencializem os benefícios gerados
pela aplicação destes recursos, isto é, para que alcance a parcela
da população mais severamente afetada, faz-se necessário um
estudo que indique, a partir de critérios objetivos, quais municí-
pios deverão receber, prioritariamente, essa ação governamental
(MONTEIRO, et al, 2004).

Salinidade nas Águas Subterrâneas


no Cristalino Cearense
As águas de litologia cristalina tendem a apresentar con-
teúdo iônico maior. Na Tabela 1, são apresentados os percen-
tuais de distribuição de salinidade, referentes a amostras de água
de 254 poços localizados em 53 municípios cearenses, nas dife-
rentes bacias hidrográficas do Estado do Ceará.

144
Tabela 1 – Percentuais de distribuição de salinidade

CONDUTIVIDADE DUREZA
GRAUS DE SÓDIO CLORETO
ELÉTRICA TOTAL
SALINIDADE (mg Na+/L) (mg Cl/L)
(mS/cm) (mg CaCO3/L)

Baixa 2,8 2,4 4,0 5,9


Média 8,3 2,4 7,1 5,5
Crítica 28,1 2,0 24,5 11,1
Alta 22,9 16,2 13,0 12,2
Muito Alta 37,9 77,0 51,4 65,3

Fonte: Adaptado de (DA SILVA; ALMEIDA e FERNANDES, 2002)

No cristalino, as maiores limitações recaem sobre cloreto,


sólidos totais dissolvidos, dureza total e sódio. Isto exigiria des-
salinização da água, caso fossem cumpridos os estatutos da Por-
taria 2914/11, do Ministério da Saúde. Enquanto no cristalino a
média de conformidade atinge a 47%, no caso de poços presen-
tes em bacia sedimentar, esta chega a 90%. (SILVA. et al., 2007).
O conteúdo de ferro também é um parâmetro relevante,
principalmente em mananciais subterrâneos, e vem recebendo
atenção crescente. O ferro é considerado um constituinte menor
das águas, com concentrações entre 0,01 e 10,00 mg/L. Este é
responsável por interferência estética, tais como: manchar peças
sanitárias e roupas, causar incrustações e incrementar o cresci-
mento de bactérias de ferro no interior das tubulações. Uma prá-
tica útil consiste em pré-clorar a água, para eliminar ou diminuir
tais efeitos (VIESSMAN JÚNIOR, HAMMER, 1998).
O conteúdo de ferro é importante para as concessionárias
de serviço de abastecimento de água e o limite normativo é de
0,3 mg/L. Apesar da importância, no Ceará, o controle sobre este
parâmetro ainda é sofrível, sendo relevante quando o poço já está
implantado e algum dano causado pelo uso da água é verificado.
Em geral, os resultados se restringem ao conteúdo de ferro fér-

145
rico (Fe3+). Apenas em ambientes com potencial redox reduzido
é que se encontra a forma ferrosa (Fe2+). (GRADVOHL, 2012)
A sílica (SiO2) é outro parâmetro que tem recebido aten-
ção, provavelmente para fins de melhor caracterização da rocha
matriz dos aqüíferos e estudos mineralógicos. A sílica é derivada
essencialmente do intemperismo dos silicatos presentes em are-
nitos, argilas minerais e silicatos ferro-magnesianos (HOUNS-
LOW, 1995). Em águas subterrâneas, a sílica é encontrada nor-
malmente em concentrações superiores a 5 mg/L (entre 1 e 30
mg/L). O conteúdo de sílica não tem significado sanitário, porém
é indesejado em muitas atividades industriais (APHA, 1992).

DESSALINIZAÇÃO
Há séculos antes de Cristo, marinheiros e soldados já uti-
lizavam técnicas de obtenção de água doce a partir da água do
mar. Aristóteles (384-332 A.C) já havia estudado o processo de
dessalinização. Em 721 D.C, um alquimista árabe escreveu o
primeiro tratado sobre dessalinização de águas. (CRAVO, 2008).
Em 1560, foi instalada na costa da Tunísia, a primei-
ra planta de dessalinização e serviu para abastecer 700 solda-
dos espanhóis que estavam sitiados pelos turcos. Já em 1676,
na Grã-Bretanha, foi emitida a primeira patente industrial para
a retirada do sal das águas, mas o grande avanço tecnológico,
ocorreu no início dos anos 40, durante a Segunda Grande Guer-
ra Mundial. No Brasil, o incremento tecnológico data de 1986,
tendo havido forte reação ao uso desta tecnologia, considerada
complexa e onerosa. (CRAVO, 2008).
O objetivo dos processos de dessalinização até hoje de-
senvolvidos é o de remover os sais diluídos nas águas de um
modo geral, tornando-as desta forma, uma água de boa qualida-
de para o consumo humano. (MOURA, et al. 2008).

146
Todos os processos de dessalinização se utilizam de tecno-
logias da indústria química, no qual uma corrente de água salina
é alimentada no início do processo, energia na forma de calor,
pressão ou eletricidade é aplicada e duas correntes são produzi-
das: uma de água dessalinizada (doce) e outra concentrada em
sais que deve ser disposta em local adequado (TORRI,2015).
A escolha da tecnologia é influenciada pela qualidade da
fonte de água, energia demandada, custos freqüência no uso da
unidade, volume de água a ser produzido, dentre outros fatores.
De todos esses, a qualidade da água dessalinizada é o fator mais
crítico para determinar os tipos de tecnologia que são possíveis
de usar para dessalinização de diferentes águas. A concentração
de sais, em particular, decidirá qual processo é mais apropriado,
levando em conta que incrustações (fouling) e dimensionamento
são funções da composição da água inicial (BURN, 2015).

ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

DOMÍNIOS HIDROGEOLÓGICOS
No município de Guaiúba pode-se distinguir dois domí-
nios hidrogeológicos distintos: rochas cristalinas e depósitos
aluvionares. As rochas cristalinas predominam totalmente na
área e representam o que é denominado comumente de “aqüí-
fero fissural”. Como basicamente não existe uma porosidade
primária nesse tipo de rocha, a ocorrência da água subterrânea
é condicionada por uma porosidade secundária representada por
fraturas e fendas, o que se traduz por reservatórios aleatórios,
descontínuos e de pequena extensão. Dentro deste contexto, em
geral, as vazões produzidas por poços são pequenas e a água, em
função da falta de circulação e dos efeitos do clima semi-árido é,

147
na maior parte das vezes, salinizada. Essas condições atribuem
um potencial hidrogeológico baixo para as rochas cristalinas
sem, no entanto, diminuir sua importância como alternativa de
abastecimento em casos de pequenas comunidades ou como re-
serva estratégica em períodos prolongados de estiagem.
Os depósitos aluvionares são representados por
sedimentos areno-argilosos recentes, que ocorrem margeando as
calhas dos principais rios e riachos que drenam a região, e apre-
sentam, em geral, uma boa alternativa como manancial, tendo
uma importância relativa alta do ponto de vista hidrogeológico,
principalmente em regiões semiáridas com predomínio de ro-
chas cristalinas. Normalmente, a alta permeabilidade dos termos
arenosos compensa as pequenas espessuras, produzindo vazões
significativas. (CPRM,1998)
Entretanto, no processo de dessalinização há a produção,
além da água potável, de um rejeito altamente salino e de poder
poluente elevado.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


Um dos grandes problemas enfrentados na atualidade é a
escassez de água doce, por ser um elemento essencial a vida e ao
desenvolvimento socioeconômico do planeta. Com a atual crise
hídrica que afeta o Brasil e principalmente a região nordeste,
buscar meios de fornecimento de água potável e de boa qualida-
de é um desafio diário.
A dessalinização como forma de obtenção de água, vem
sendo utilizada como solução para o abastecimento. Desta for-
ma, espera-se que este projeto venha a contribuir de forma clara
e objetiva para o abastecimento de parte da população do muni-
cípio de Guaiuba.

148
Com a recuperação, manutenção e instalação de dessali-
nizadores por osmose reversa, passará a produzir água potável e
de boa qualidade em quantidade suficiente para abastecer grande
parte da população municipal, principalmente as das áreas ru-
rais, cujo acesso a água fornecida pela empresa responsável pelo
abastecimento do município é limitada.

CONCLUSÃO
Com o longo período de estiagem que vem acometendo
o estado do Ceará, o município de Guaiuba, sente os efeitos da
falta de água. O nordeste brasileiro está submetido a condições
anômalas com períodos prolongados de seca.
De um modo geral, o município apresenta característi-
ca bastante variável quanto ao regime pluviométrico, além dos
anos alternados entre seco e chuvoso, mostra irregularidade na
distribuição das chuvas no decorrer do ano. A característica cli-
mática do município expõe dados de que há escassez hídrica
sazonalmente e os recursos hídricos de superfície refletem estes
dados. Há assim, obrigação de armazenar água que garanta as
necessidades da população, a exemplo de açudes, cisternas e até
mesmo poços profundos apesar da salinidade presente em poços
perfurados na depressão sertaneja.
Com relação aos recursos hídricos, Guaiúba é banhada
pela bacia hidrográfica do rio Pacoti. Os rios são intermitentes,
apresentando escoamento superficial nulo durante alguns meses
do ano. O município conta com a existência de vinte pequenos
açudes, sendo apenas cinco com volume superior a 1.000.000
m³. Os pequenos açudes possuem capacidade de acumulação es-
timada em 5.522.000 m³.
O municpio possui 16 poços do tipo profundo perfurados,
sendo que atualmente apenas 3 encontram-se em funcionamen-

149
to, pois os demais apresentam salinidade acima do permitido
para o consumo humano. Cconsiderando-se 3 poços tubulares
em uso no cristalino, pode-se inferir uma produção atual da or-
dem de 5,1 m3 /h de água para o abastecimento da área rural e
regiões remotas do município de Guaiúba.
Em termos de qualidade das águas subterrâneas, a tota-
lidade dos poços tubulares apresenta águas com teores de sais
dissolvidos elevados, sendo que 57% dos poços tubulares pos-
suem águas salinizadas, somente recomendadas para o consumo
animal e uso humano secundário (lavar, banho etc.).
Caso seja implantada uma política de recuperação de po-
ços artesianos que não estão em uso e a instalação de dessali-
nizadores, estima-se que seria possível atingir um aumento da
ordem de 300% (15,3 m3 /h) em relação à atual oferta de água
subterrânea. Considerando-se somente os poços de domínio pú-
blico, o aumento estimado seria de 13,6 m3 /h, ou seja, 267%.
Com a perfuração de novos poços e instalação de dessali-
nizadores naquele cujo teor de sal é inadequado para o consumo
humano, a oferta de água potável atingiria 95% da demanda para
a população residente em áreas rurais e/ou remotas do município.
Portanto, esse trabalho vem reforçar a importância do uso
de dessalinizadores para o abastecimento de água potável, da
população no município de Guaiúba.

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153
PROPOSTA DE PROGRAMA DE
MONITORAMENTO DA QUALIDADE
DA ÁGUA SUBTERRÂNEA PARA
O MUNICÍPIO DE BELÉM-PA

Giovanni Chaves Penner1


Neyson Martins Mendonça2
Francisco Rafael Sousa Freitas3
Mayara Carantino Costa4

Resumo: Os avanços na gestão e monitoramento das águas subter-


râneas, sua classificação e enquadramento, o adequado uso e ocu-
pação do solo resultariam no controle da exploração de aquíferos e
redução dos riscos de contaminação dos mananciais subterrâneos. O
objetivo do trabalho é apresentar uma proposta de monitoramento
quali-quantitativo de aquíferos, fonte de abastecimento público mu-
nicipal da cidade de Belém-PA que será apresentada a Agência Regu-
ladora Municipal de Água e Esgoto de Belém. Foram identificados os
poços usados no abastecimento público e selecionados os aquíferos
Barreiras e Pirabas, como os mais importantes em termos de quali-
dade de água e capacidade de produção. Ademais, foram avaliadas
as principais atividades poluidoras presentes na área. O programa
de monitoramento proposto envolve análises de 10 poços usados no
abastecimento público municipal em sistema isolados da Companhia
de Saneamento do Estado do Pará, com a orientação de todos os cri-
térios de coleta, armazenamento, transporte das amostras, parâmetros
a serem analisados e forma de divulgação dos resultados. Vale res-

1 Engenheiro Sanitarista, Doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento,


UFPA. *gpenner@gmail.com
2 Engenheiro Sanitarista, Doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento,
UFPA.
3 Engenheiro Ambiental, Mestre em Engenharia Sanitária, IFCE – Campus
Sobral.
4 Engenheira Civil, Doutora em Saneamento Ambiental, IFCE – Campus
Sobral.
saltar que se trata de uma proposta que pode ser adaptada e ampliada
conforme a realidade financeira municipal. Acredita-se ser de extre-
ma relevância o acompanhamento evolutivo da exploração de tais
aquíferos por se tratar de reserva estratégica para futuras ampliações
no sistema de abastecimento público municipal.
Palavras-Chave – Qualidade da Água Subterrânea. Monitoramento
Ambiental. Gestão do Recursos Hídricos.

INTRODUÇÃO
Do total da água doce prontamente disponível no planeta,
as águas subterrâneas representam cerca de 30%. Quanto à uti-
lização para fins de abastecimento público, uma grande parcela
da população mundial é abastecida por águas provenientes de
mananciais subterrâneos (FERREIRA et al., 2007).
Relativo à exploração de recursos subterrâneos, além da va-
zão a ser obtida, a qualidade da água deve atender ao uso propos-
to. Essa qualidade, por sua vez, depende do aquífero explorado e
da dissolução dos minerais presentes nas rochas que o constituem.
Outros fatores, que igualmente afetam as características das águas
subterrâneas, resultam dos processos que ocorrem na zona não sa-
turada. Esses, por sua vez, estão relacionados à qualidade e quan-
tidade das águas de recarga, o tempo de contato água formação
geológica, e poluição causada pelas atividades humanas no entor-
no dos poços. Há, também, os riscos atrelados ao uso das águas
subterrâneas decorrentes da má escolha do local para implantação
do poço, ou de perfurações inadequadas, sem embasamento téc-
nico, falta de cuidados com as medidas sanitárias dos poços ou
contaminação difusa sobre os mananciais ou nas áreas de recarga.
No município de Belém-PA, ao longo dos anos, a ocupa-
ção, como normalmente ocorre, fez com que as alterações na-
turais cedessem lugar às modificações antrópicas do ambiente.

156
Acompanhando essa evolução, a demanda de recursos hídricos
cresceu e se diversificou, e, da mesma forma, o lançamento de
efluentes e demais efeitos poluidores são cada vez maiores.
Segundo a Prefeitura Municipal de Belém (2014), os
mananciais subterrâneos são utilizados em 25 sistemas isola-
dos, compostos por: poços tubulares, tratamento (em alguns
sistemas), reservação e distribuição, atendendo comunidades
menores e, normalmente, localizadas em áreas mais afastadas.
De acordo com o documento, a vazão dos poços varia entre 60
e 360 m³/h, localizados na Formação Pirabas ou na Formação
Barreiras em razão do maior volume de produção de água e de
menor teor de ferro, quando comparadas às concentrações ferro
encontradas nas águas superficiais da região.
Segundo o Atlas de Abastecimento de Água (ANA, 2018),
aproximadamente 24% do abastecimento de água no município
de Belém é efetuado usando água subterrânea 39 poços tubulares
profundos. Isso desconsiderando a grande quantidade de condo-
mínios que em geral também usam o manancial subterrâneo e
sistemas residenciais individuais que também usam poços rasos.
Não há nenhum programa de controle e monitoramento
periódico no âmbito municipal para o gerenciamento da qua-
lidade da água subterrânea. Existe somente o monitoramento
realizado pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
(CPRM) referente ao projeto RIMAS - Rede Integrada de Mo-
nitoramento de Águas Subterrâneas, que monitora os principais
aquíferos do país, sem nenhum relatório ou documento discu-
tindo a evolução da qualidade da água subterrânea em Belém.
Desta forma emerge a necessidade de se construir um Programa
de Monitoramento da Qualidade da Água Subterrânea para ser
discutido e sugerida a implementação junto a Agência Regula-
dora de Água e Esgoto (AMAE) do município de Belém.

157
No art. 25 da Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei
n°9.433/97, foi estabelecido: “O Sistema de Informações sobre
Recursos Hídricos é um sistema de coleta, tratamento, armaze-
namento e recuperação de informações sobre recursos hídricos
e fatores intervenientes em sua gestão”. Para a efetiva aplicação
há a necessidade de um Sistema de Informações sobre Recursos
Hídricos que contenha informações quantitativas e qualitativas
por bacia hidrográfica e por região em estudo. Tais informações
servirão de base para municiar a gestão e a tomada de decisão.
Dados de monitoramento, sobretudo, de qualidade da água, de-
vido à pouca quantidade de dados desta natureza disponíveis
no país, precisam ser divulgados e disponibilizados, de forma
a colaborarem e/ou complementarem o Sistema de Informações
sobre Recursos Hídricos.
Pelo exposto e como o intuito de fortalecer a gestão mu-
nicipal dos recursos hídricos, o objetivo do presente capítulo é
apresentar uma proposta de monitoramento quali-quantitativo
de aquíferos, fonte de abastecimento público municipal da ci-
dade de Belém-PA, que será apresentada a Agência Reguladora
Municipal de Água e Esgoto de Belém.

REFERENCIAL TEÓRICO

EMBASAMENTO LEGAL
A Lei Federal nº 6.938/1981, dispõe sobre a Política Na-
cional do Meio Ambiente (PNMA), e tem por objetivo a preser-
vação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia
à vida. Essa lei institui o Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA) e define o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) como órgão superior da formulação de diretrizes
da PNMA. Trata-se do marco legal para todas as políticas pú-

158
blicas a serem desenvolvidas pela federação, uma vez que, antes
desta legislação, cada Estado ou Município era autônomo para
selecionar suas diretrizes políticas em relação ao meio ambiente.
Pelo Inciso III do Art. 20, da Constituição Federal “são
bens da união: os lagos, os rios e quaisquer correntes de água
em terrenos de seu domínio, ou que banhe mais de um Estado,
sirvam de limites com outros países, ou se estendam a territórios
estrangeiros ou dele provenham, bem como os terrenos margi-
nais e as praias pluviais” (BRASIL, 1988).
Dentre as principais resoluções, firmadas em nível fede-
ral, aplicadas às águas, e em particular às águas subterrâneas,
encontram-se:
• CONAMA nº 303/2002: dispõe sobre os parâmetros,
definições e limites de Áreas de Preservação Perma-
nente, e também conceitua as nascentes como exutó-
rio de águas subterrâneas (BRASIL, 2002).
• CONAMA nº 357/2005: dispõe sobre a classificação
dos corpos de água superficial e diretrizes ambientais
para enquadramento, bem como estabelece as condi-
ções padrões de lançamento de efluentes (BRASIL,
2005).
• CONAMA nº 396/2008: dispõe sobre a classificação
e diretrizes ambientais para o enquadramento das
águas subterrâneas e dá outras providências (BRA-
SIL, 2008).
• CNRH nº 107/2010: estabelece as diretrizes e crité-
rios a serem adotados para o planejamento, a implan-
tação e a operação de Rede Nacional de Monitora-
mento Integrado Qualitativo e Quantitativo de Águas
Subterrâneas (BRASIL, 2010).

159
Relacionado à qualidade da água adequada para consumo
humano, a obrigação em legislar está a cargo do Ministério da
Saúde (MS), estando em vigor a Portaria de Consolidação Nº
5/2017. O Anexo XX dessa portaria dispõe sobre os procedi-
mentos de controle e de vigilância da qualidade da água para
consumo humano e seu padrão de potabilidade (BRASIL, 2017).
O Guia Nacional de Coleta e Preservação de Amostras
orienta tal procedimento para os casos de monitoramento da
qualidade da água. Este documento foi elaborado em parceria
entre a Agência Nacional de Águas (ANA) e Companhia Am-
biental do Estado de São Paulo (CETESB) (ANA, 2011).
Pelo que se observa, houve um grande avanço nas legisla-
ções federativas que abordam a gestão de recursos hídricos, no
entanto evidencia-se a necessidade de se avançar mais sobre a
fiscalização da gestão e controle da exploração de águas subter-
râneas, sua classificação e enquadramento; como também sobre
controle de uso e ocupação do solo, para minimizar os riscos de
contaminação dos mananciais subterrâneos. A Política de Recur-
sos Hídricos do Estado do Pará (PARÁ, 2001) estabelece estu-
dos de gestão de águas subterrâneas, compreendendo a pesquisa,
o planejamento, o mapeamento da vulnerabilidade à poluição,
a delimitação de áreas destinadas a sua proteção, o controle e o
monitoramento.

PROGRAMA DE MONITORAMENTO
DE ÁGUA SUBTERRÂNEA
A delineação de um programa de monitoramento envolve
decidir o que monitorar, onde e quando. As respostas a essas
questões dependem do propósito do monitoramento que está
condicionado principalmente à abrangência do programa de mo-
nitoramento, se nacional, regional ou local (MARTINEZ, 2004).

160
Os programas nacionais compreendem a coleta de dados
a respeito das condições naturais e alteradas das águas subterrâ-
neas, tanto em quantidade quanto em qualidade, nos principais
sistemas aquíferos de um país. Devem ser delineados para atender
a política nacional de proteção e conservação das águas subterrâ-
neas e precisam, invariavelmente, considerar o uso da água sub-
terrânea como fonte de abastecimento, sua função ambiental e as
características de vulnerabilidade dos aquíferos (CPRM, 2009).
De acordo com Martinez (2004), um programa regional
de monitoramento deve ser flexível e capaz de servir a diferentes
propósitos. No entanto, deve ter como objetivo principal a aqui-
sição de dados estatisticamente representativos e significativos
sobre a água subterrânea de modo a subsidiar os planos regio-
nais de gestão, as políticas regionais e estratégias de proteção e
conservação. Ressalta-se que os programas nacional e regional
devem se complementar e ser implantados e operados de forma
padronizada de modo a permitir a análise e interpretação inte-
grada dos dados. Os programas locais são estabelecidos visando
o atendimento aos objetivos i) identificação de fontes ou ativida-
des potenciais de degradação qualitativa e quantitativa das águas
subterrâneas; ii) observação e controle do avanço de plumas de
contaminação bem como avaliação dos efeitos de medidas de
remediação. Esses programas são operados de forma indepen-
dente aos de âmbito nacional e regional.
A estrutura e a operação do monitoramento de água sub-
terrânea devem ser estabelecidas de acordo com a função do
corpo de água subterrânea; as características dos corpos de água
subterrânea; o nível de conhecimento existente (incluindo o ní-
vel de confiança nos modelos conceituais) de um sistema aquí-
fero; o tipo, extensão e variação das pressões no corpo ou grupo
de corpos de água subterrânea; a avaliação de risco a partir das

161
pressões sobre o corpo ou grupo de corpos de água subterrânea
(CPRM, 2009).
Um exemplo de monitoramento da água subterrânea no
âmbito nacional é o Projeto Rede Integrada de Monitoramen-
to das Águas Subterrâneas, RIMAS, sob a responsabilidade do
Serviço Geológico do Brasil-CPRM, que é de natureza funda-
mentalmente quantitativa, ou seja, tem o propósito de registrar
as variações de nível d’água (NA). Instrumentos que permitem
o registro automático do NA estão sendo instalados nos poços
de observação e trimestralmente é feita a coleta dos dados arma-
zenados os quais, posteriormente, são submetidos aos processos
de consistência e tratamento. Porém, ainda que a rede não tenha
como objetivo específico a avaliação qualitativa da água subter-
rânea foi concebido um sistema de alerta e controle de qualidade
com medições semestrais da condutividade elétrica, pH, poten-
cial de oxi-redução além de parâmetros mínimos fixados pela
resolução CONAMA n°396/08 para o monitoramento. Na ins-
talação do poço de observação e a cada cinco anos, ou ainda em
casos em que se verifique, a partir dos parâmetros indicadores,
variação significativa na química da água, serão feitas coletas
para análises físico-químicas completas (relação mínima de 43
parâmetros inorgânicos) com inclusão de orgânicos voláteis e
semi-voláteis conforme as condições de uso e ocupação dos ter-
renos nas imediações da estação.
Outro exemplo de monitoramento é relatado por Moraes
et al. (2006) que visando suprir a necessidade pelo expressivo
incremento da utilização de águas subterrâneas no Distrito Fe-
deral, assim como atender a nova legislação ambiental vigente,
a CAESB – Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito
Federal – implantou um programa de monitoramento sistemáti-
co, qualitativo e quantitativo, dos aquíferos de seu interesse. Os

162
dados de monitoramento dos níveis dos aquíferos permitiram
identificar as variações sazonais destes e servirão para melhor
definir as vazões explotáveis de segurança a serem adotadas em
sintonia com as restrições ambientais dos órgãos fiscalizadores,
além de fornecer instrumentos para a reavaliação permanente
das condições operacionais.

MATERIAL E MÉTODOS

LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES
O levantamento de dados de poços foi realizado a partir
da consulta a bancos de dados secundários, isto é, aos bancos
de dados de instituições competentes no âmbito da fiscalização,
regulamentação e cadastramento de poços, como Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais, Departamento Nacional de Pro-
dução Mineral, Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sus-
tentabilidade, Companhia de Saneamento do Pará e Prefeitura
Municipal de Belém.
O levantamento dos dados secundários foi realizado atra-
vés do contato direto com o pessoal responsável dentro de cada
uma das instituições supracitadas que são participantes do pro-
jeto “Estudos Hidrogeológicos para a Definição de Estratégias
de Gestão das Águas Subterrâneas da Cidade de Belém/PA e
Municípios Adjacentes”, financiado pela ANA. A consulta aos
bancos de dados forneceu uma malha a partir da qual os poços
cadastrados pudessem ser visualizados em mapa, evitando-se,
assim, o registro duplicado de um mesmo poço. As informações
contidas nos diferentes bancos de dados nem sempre têm cor-
respondência entre si, gerando diversas lacunas na compilação
geral. Essas informações faltantes estão relacionadas sempre ou
ao padrão de como os bancos de dados são alimentados, ou seja,

163
como as fichas de cadastramento são preenchidas, ou à indispo-
nibilidade de determinadas informações, que correspondem às
deficiências individualmente para cada poço.
Nesse contexto, destaca-se: a compilação dos dados de
outorga, nos arquivos internos da SEMAS, motivada pela au-
sência das profundidades dos poços no banco de dados obtido
junto ao órgão; incremento das informações de coordenadas dos
poços contidos no banco de dados da COSANPA, no qual ob-
servou-se carência dessa informação em grande parte dos po-
ços; consulta aos poços do cadastro SIAGAS (CPRM) que estão
elencados na rede de monitoramento da qualidade das águas do
projeto RIMAS. Vale ressaltar ainda, que o cadastro (SIAGAS)
sofre atualizações periódicas, nas quais poços que ainda não ha-
viam sido cadastrados são inseridos e poços constatados como
inexistentes são retirados.

ESPACIALIZAÇÃO DOS DADOS


Os poços cadastrados na etapa de Levantamento de Infor-
mações foram organizados em um banco de dados no software Ar-
cGis, versão 10.3 (filegeodatabase), apto a permitir a consulta das
informações e a geração de novos mapas e atualização de infor-
mações. A compilação de dados de poços e informações relativas
às licenças de perfuração e outorga de uso de águas subterrâneas,
disponibilizados pela SEMAS, do banco de dados do SIAGAS,
entre outros bancos de dados de outras entidades foram incluídos.

CADASTRO DE ATIVIDADES POLUIDORAS


O cadastramento das fontes potenciais de carga contami-
nante de subsolo do município de Belém deu-se com a pesqui-
sa de dados secundários disponíveis. Não existe no Estado do
Pará um cadastramento de áreas contaminadas ou de atividades

164
poluidoras de forma sistematizada e digital, neste caso foi usa-
do o levantamento realizado por Profill Engenharia e Ambiente
LTDA (2017).
Depois de consistido o cadastro, objetivando-se a diferen-
ciação das fontes, procedeu-se com a classificação das ativida-
des cadastradas em relação ao seu potencial contaminante com
base em duas características (FOSTER et al., 2002), conforme
sugerido na versão simplificada do sistema POSH (Pollutant
Origin, Surcharge Hydraulically): a probabilidade da presença
de contaminantes, que, segundo se sabe ou se espera, são persis-
tentes e móveis no subsolo; a existência de uma carga hidráulica
associada (sobrecarga) capaz de gerar o transporte advectivo dos
contaminantes para os sistemas aquíferos.

MÉTODOS DE COLETA, ACONDICIONAMENTO


E TRANSPORTE DE AMOSTRAS
Todos os poços que constituirão a rede de monitoramento
de níveis e qualidade da água deverão ser nivelados utilizando-
-se GPS geodésico, que requer um processo estático ou estático
rápido (para distâncias inferiores a 10 (dez) Km entre bases).
É fundamental que o ponto a ser nivelado no poço
constitua um referencial permanente e que não seja facilmente
alterado com o tempo. Recomenda-se o datum de referência
para o nivelamento topográfico e para as coordenadas dos poços
é SIRGAS 2000 (planimétrico) e Imbituba (altimétrico), ado-
tado pelo IBGE como datum do Sistema Geodésico Brasileiro.
Para a rede de monitoramento serão priorizados os poços
usados pela concessionária de Abastecimento de Água de Be-
lém, COSANPA, e preferencialmente que pertençam ao banco
SIAGAS, mais completo e prontamente acessível por todos.

165
Previamente as datas das coletas os sensores que serão
usados para monitoramento de parâmetros em campo deverão
ser calibrados e se houver desvios de leitura ou valores anôma-
los que o processo de calibração seja repetido. Recomenda-se
que seja seguida as orientações do fabricante do equipamento
utilizado, que processo de calibração seja sempre documentado
e que os registros sejam guardados. A calibração busca a exati-
dão das medidas por parte dos equipamentos.
Em cada coleta de amostra deve ser verificado se o siste-
ma está em operação e qual nível dinâmico do poço (usando um
medidor de nível d’água padrão). Na saída de cada poço devem
ser monitorados os parâmetros de campo: temperatura, turbidez,
pH, Eh (potencial de oxirredução), condutividade elétrica (CE)
e sólidos totais dissolvidos (STD).
As coletas deverão ser realizadas nas saídas de água entre
o poço e, nas caixas d’água ou cisternas. Ao iniciar a etapa de
coleta em campo deve ser realizado preenchimento da ficha de
coleta e cadeia de custódia com os dados da amostragem, data
da coleta, horário, responsável, localização da coleta, número do
poço, profundidade do poço, aquífero explorado e observações
gerais. Em seguida a primeira alíquota toma deve ser realizada
a medida dos parâmetros de campo, e em seguida são feitas as
coletas de água nos frascos apropriados fornecidos pelo labora-
tório responsável pela análise, que podem ou não conter fluido
preservante, dependo da análise, sendo filtradas ou não confor-
me o parâmetro a ser analisado.
Após a coleta as amostras precisarão ser armazenadas
em caixa térmica ou isopor e refrigeradas em temperatura 4 ± 2
o
C até que sua chegada ao laboratório responsável pela análise.
Dependendo da análise, as amostras acidificadas poderão ficar
armazenadas a temperatura ambiente.

166
MONITORAMENTO
Sugere-se que incialmente o monitoramento seja bimen-
sal. Após um ano de monitoramento, se a variação observada
entre os monitoramentos for considerada irrelevante estatistica-
mente, que seja mudada a frequência para trimestral ou semes-
tral, sempre considerando a sazonalidade local.
Vale afirmar que a situação ideal envolveria a construção
de poços com função exclusivamente voltada para a finalidade
do monitoramento, sem bombeamento, e que esse monitoramento
acontecesse de maneira contínua, mas o custo pode ser inviável.
Todavia poços íntegros e que não sejam mais usados pela COSAN-
PA podem ser usados para o monitoramento contínuo utilizando-se
de sensores dedicados e com envio de resultados on line para uma
central de controle e na constatação de valores anômalos, não sen-
do defeito no sensor, seria realizada uma coleta e análise completa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
O plano de monitoramento qualitativo é representado por
um programa sistemático de obtenção de dados de níveis de água
(como indicativo da variação no armazenamento e superexplota-
ção de vazões) e das características hidroquímicas dos aquíferos
usados no abastecimento público do município de Belém.
A análise do comportamento das oscilações do nível de
água dos aquíferos é importante para subsidiar a gestão dos re-
cursos hídricos e a tomada de decisões. Variações de armaze-
namento dos aquíferos resultam da diferença entre suprimento
(recarga) e retirada de água, fazendo com que os níveis variem
em tempos de poucos minutos a muitos anos. O período e a fre-
quência em que as oscilações ocorrem são indicativos dos pro-
cessos que afetam os aquíferos.

167
POÇOS A SEREM MONITORADOS
A seleção de poços para integrar a proposta de rede de
monitoramento quali-quantitativa da área de estudo considerou
o conjunto formado por 10 poços tubulares profundos. Essa se-
leção deu-se através da posição geográfica próxima a ativida-
des poluidoras e importância do aquífero para abastecimento. A
eleição dos poços da rede de amostragem procurou atender, na
medida do possível, as seguintes condições: distribuição repre-
sentativa na área; existência de perfis construtivos e litológicos
e, preferencialmente, dados hidrodinâmicos e hidroquímicos;
serem poços produtores; captarem, prioritariamente, um único
sistema aquífero e possuírem coordenadas e altitude de referên-
cia, considerando-se o uso e ocupação do solo, caracterização
hidrogeológica, risco de poluição das águas subterrâneas e as
áreas potencialmente contaminadas.
Como na rede de monitoramento nacional constituída
pela CPRM em escala nacional tomou-se como referência o
RIMAS. No âmbito do Programa Nacional de Águas Subter-
râneas (PNAS), contido no Plano Nacional de Recursos Hídri-
cos (PNRH), são previstos, dentre as diretrizes estabelecidas, a
concepção, o planejamento, a proposição e a aplicação de rede
básica de monitoramento quali-quantitativo de águas subterrâ-
neas, em estreita articulação com os órgãos gestores estaduais
de recursos hídricos e companhias de saneamento. Os poços se-
lecionados são apresentados na Tabela 1, e foi balizada pelo co-
nhecimento das características construtivas e hidrogeológicas;
existência de cimentação e laje de proteção sanitária; pertencer a
um dos sistemas isolados da COSANPA.

168
Tabela 1 - Poços eleitos para a rede de monitoramento.
Poço Aquífero UTM X (m) UTM Y (m) Prof. (m)
5º Setor Pirabas Inferior 783094 9842093 188
SAAEB - ICO -
SOUZA FRANCO Pirabas Inferior 780614 9855736 252,05
-CPRM
Loteamento CDP Barreiras 782850 9838430 100
Estação Elevatória
Barreiras 779530 9844809 98
UMA
Val de Cans Pirabas Superior 780471 9844603 117,5
Prosanear n. 3 Pirabas Inferior 784628 9847779 300
N. 4 Pirabas Superior 782160 9850600 101
P2 Pirabas Inferior 780424 9847719 250
Satélite Barreiras 784760 9851450 88
Reduto (Ano 1982) Barreiras 779107 9842669 91

Na Figura 1 são mostrados os poços sugeridos para inte-


grar a rede de monitoramento da qualidade da água subterrânea
na cidade de Belém-PA.
Figura 1 - Poços eleitos para a rede de monitoramento em Belém.

Fonte: Autor, 2018

169
PROTOCOLO DE COLETA, ACONDICIONAMENTO
E TRANSPORTE DAS AMOSTRAS
A amostragem de água subterrânea deverá ser realizada
por equipe capacitada (comprovada por certificação ou ART ou
experiência prática) e seguirá os procedimentos descritos na nor-
ma ABNT NBR 15847/2010, mesmo não se tratando de poços
de monitoramento, e as orientações descritas no “Guia Nacional
de Coleta e Preservação de Amostras” (ANA, 2011).
Serão considerados na coleta os poços equipados com
bomba para que seja possível a amostragem em superfície. To-
das as amostras devem ser tomadas diretamente nos frascos
fornecidos pelo laboratório, somente sendo usado recipiente de
apoio para a determinação dos parâmetros em campo. O método
de coleta das amostras de água subterrânea nos poços deve se-
guir o seguinte procedimento:
1 - Medir o nível dinâmico – deve ser feita com medidor
de nível d’água eletrônico usando o tubo guia do poço.
2 - Coletar de amostras – coletar uma primeira alíquota
de água para:
a. Medição dos parâmetros físico-químicos em campo:
pH, Condutividade Elétrica, Oxigênio Dissolvido (servindo só
como referência devido ao bombeamento), Potencial de Oxir-
redução e, se possível, Turbidez. Anotar os valores obtidos na
Ficha de Campo específica.
b. Descartar a água em local apropriado.
3 - Preenchimento dos frascos - para o preenchimento dos
frascos que serão encaminhados ao laboratório deverá ser obe-
decida a seguinte ordem: I. Âmbares; II. Frascos plásticos.
a. Os frascos não devem conter espaços vazios (bolhas).
b. Filtrar apenas as amostras de metais dissolvidos.
c. Não filtrar as amostras de metais totais.

170
4 – Acondicionamento - Após o preenchimento dos fras-
cos, transferi-los para uma caixa térmica com gelo reutilizável,
no intuito de preservar as amostras na temperatura de 4 ± 2 °C,
até a chegada ao laboratório.
5 - Descontaminação - Descontaminar todos os equipa-
mentos que serão reutilizados nas amostragens com detergen-
te não fosfatado (diluído em uma proporção de 1:10 com água
deionizada). Descartar os materiais descartáveis em local apro-
priado, isto é, como resíduo.
6 - Brancos – Fazer um branco de campo e um branco de
equipamento ao início da amostragem. Fazer um branco de via-
gem ao final da amostragem. Os parâmetros a serem analisados
nos brancos deverão ser os mesmos selecionados para os poços
de monitoramento.
7 – Transporte: Uma vez coletadas, as amostras devem
ser transportadas até o laboratório, garantindo sua integridade e
preservação, e no tempo necessário para que sua análise ocorra
dentro do prazo de validade da preservação. Os seguintes pro-
cedimentos são recomendados ao preparar as amostras para o
transporte:
a) colocar os frascos na caixa de tal modo que fiquem
firmes durante o transporte;
b) optar pelo uso de gelo reutilizável (gelo gel ou outros).
Nos casos em que se usar gelo para preservação, cuidar para que
os frascos, ao final do transporte, não fiquem imersos na água
acumulada pela sua fusão, o que aumentaria muito o risco de
contaminação cruzada;
c) cobrir a caixa de modo que sua tampa exerça leve pres-
são sobre a tampa dos frascos, impedindo que se destaquem du-
rante o transporte;

171
d) evitar a colocação de frascos de uma mesma amostra
em caixas diferentes.

PARÂMETROS DE MONITORAMENTO
DA ÁGUA SUBTERRÂNEA
As amostras de água subterrânea serão analisadas por la-
boratório devidamente acreditado pela ISO/IEC nº 17.025/2005,
ou que possua comprovada credibilidade, visando à determina-
ção das concentrações dos parâmetros de interesse ambiental:
Parâmetros Orgânicos, Inorgânicos e Microbiológicos. Não
foram considerados compostos orgânicos voláteis e semi-vo-
láteis, pois caso consigam adentrar aos poços são passíveis de
volatilização ou estarão em concentrações não detectáveis; os
pesticidas foram desconsiderados também por não estarem iden-
tificados nas atividades poluidoras observadas. Os parâmetros
físico-químicos e microbiológico, bem como os métodos analí-
ticos empregados são descritos na Tabela 2.
Tabela 2 - Lista de parâmetros para análise em água subterrânea.

Metodologia de
Parâmetro Unidade Grupo de Análise
Referência

SMEWW - 23nd Ed. 2017


DBO mg/L DBO
- 5210B
SMEWW - 23nd Ed. 2017
DQO mg/L DQO
- 5220D

Cloreto Total μg/L Ânions USEPA 9056A:2007

Sólidos
SMEWW - 23nd Ed. 2017
Suspensos mg/L Sólidos Suspensos Totais
- 2540B/C/D/E
Totais
SMEWW - 23nd Ed. 2017
Sólidos Totais mg/L Sólidos Totais
- 2540B
Sólidos
SMEWW - 23nd Ed. 2017
Dissolvidos mg/L Sólidos Dissolvidos Totais
- 2540B/C/D/E
Totais

172
Metodologia de
Parâmetro Unidade Grupo de Análise
Referência

Coliformes Coliformes Termotolerantes SMEWW - 23nd Ed. 2017


UFC/100mL
Termotolerantes Quantitativo* - 9213 E
Nitrato, Nitrito
μg/L Ânions USEPA 9056A:2007
(como N)
Nitrogênio SMEWW - 23nd Ed. 2017
μg/L Nitrogênio Amoniacal
Amoniacal - 4500 NH3A
SMEWW - 23nd Ed. 2017
Nitrogênio Total μg/L Nitrogênio Total
4500-N C

Metais μg/L Metais Totais USEPA 6010C:2007

Recomenda-se o monitoramento trimestral, sempre con-


siderando o monitoramento dos níveis d’água nos poços no
momento da coleta. Anualmente, recomenda-se para todos os
poços uma análise completa com os parâmetros indicados no
padrão de potabilidade da Portaria de Consolidação nº 5/2017
(BRASIL, 2017). Cabe salientar que a situação ideal envolveria
a construção de poços com finalidade exclusivamente direciona-
da para o monitoramento hidroquímico e de níveis de água dos
aquíferos, mas os custos envolvidos inviabilizam tal iniciativa.
Todavia poços inativos da COSANPA podem ser usados com
poços de monitoramento, lembrando que neste caso, o procedi-
mento de coleta de ser mudado para o método a baixa vazão, ou
outro previsto na norma ABNT NBR 15847/2010.

DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS


Após a emissão do laudo analítico de cada campanha de-
verá ser elaborado um relatório resumido relatando eventuais
anomalias e tendências da qualidade da água subterrânea.
Os resultados obtidos ao longo de cada ano deverão ser
apresentados e discutidos em Relatório Anual, como parte do
programa de monitoramento. O referido relatório conterá a

173
Identificação da área e sua localização; Dados históricos dos
monitoramentos realizados; Registro fotográfico das atividades
realizadas; registro de informações pluviométricas; avaliação
temporal da hidrogeologia, por meio de mapas potenciométri-
cos, mostrando as principais linhas de fluxo e suas deformações,
devidamente justificadas; relato de problemas identificados e
das soluções adotadas ou necessárias, no tocante aos poços mo-
nitorados; programação de ações previstas de monitoramento
para o próximo ano; comentários, conclusões e recomendações
e anexos com Procedimentos de Amostragem, Fichas de Campo,
Cadeias de Custódia, Laudos Analíticos e ART – Anotação de
Responsabilidade Técnica.
Recomenda-se que seja encaminhada cópia do relatório
final para a Vigilância Sanitária de Belém, Secretaria Municipal
de Saúde, Agência Reguladora Municipal de Água e Esgoto de
Belém e disponibilizado via internet mediante solicitação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredita-se ser de extrema relevância o acompanhamento
evolutivo da exploração de tais aquíferos por se tratar de reserva
estratégica para futuras ampliações no sistema de abastecimen-
to público municipal, todavia a proposta apresentada pode ser
adaptada e ampliada conforme a realidade financeira municipal.
A intensa urbanização do município de Belém somado
a diversas atividades poluidoras direciona para um cenário de
atenção, onde se deve focar o controle das atividades com maior
potencial de contaminação da água subterrânea. Atenção tam-
bém deve ser dada a grande quantidade de poços abandonados e
construídos sem acompanhamento técnico de profissional habi-
litado que podem virar uma via de ingresso para contaminantes,
comprometendo a qualidade água subterrânea.

174
Por fim, espera-se estar contribuindo para um maior con-
trole do uso do manancial subterrâneo, que sendo gerido ade-
quadamente, poderá continuar sendo explorado, inclusive com o
potencial de ser ampliado o seu uso.

REFERÊNCIAS
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de amostras: água, sedimento, comunidades aquáticas e efluentes líqui-
dos/Companhia Ambiental do Estado de São Paulo; Brasília: ANA, 325p.
2011.

ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15847: Amostra-


gem de água subterrânea em poços de monitoramento–Métodos de purga,
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______. Ministério do Meio Ambiente dos Recursos Hídricos e da Amazô-


nia Legal. Lei n° 9.433: Política Nacional de Recursos Hídricos. Brasília:
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______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Am-


biente (CONAMA). Resolução nº 303/2002 - Diário Oficial da União 2002.

______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional do Meio Am-


biente (CONAMA). Resolução nº 396, -. Diário Oficial da União 2008.

______. Ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional de Recursos


Hídricos (CNRH). Resolução n.°107/2010.

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do Brasil. Projeto “Implantação de Rede Integrada de Monitoramento das
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FERREIRA, ADRIANA N. P.; LIMA, CLAUDIA F.; CARDOSO, FA-


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ser conhecido e protegido. Brasília, 2007.

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Cidade de Belém/PA e Municípios Adjacentes. Relatório Parcial RP 03.
Porto Alegre, abril de 2017.

176
Arte gráfica, editoração, impressão e acabamento:

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