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DIREITO AMBIENTAL

Professora Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira


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www.unifatecie.edu.br/site André Dudatt

Revisão Textual
Beatriz Longen Rohling
Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante
Geovane Vinícius da Broi Maciel
Kauê Berto
Web Designer
Thiago Azenha

FICHA CATALOGRÁFICA

UNIFATECIE - CENTRO
UNIVERSITÁRIO EAD
Direito Ambiental
Patrícia de Moura Leal Teixeira
Paranavaí - PR.: UniFatecie, 2022.
As imagens utilizadas neste
119 p.
livro foram obtidas a partir do
site ShutterStock.
Ficha catalográ ica elaborada pela bibliotecária
Zineide Pereira da Silva.
AUTOR

Profa. Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira

Possui graduação em Direito pela Universidade Paranaen-


se(2001). Atualmente é Professora da Faculdade de Tecnolo-
gia e Ciências do Norte do Paraná. Tem experiência na área de
Direito, com ênfase em Direito Ambiental.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/2222065128110745
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1
07 | Meio Ambiente e Desenvolvimento

CAPÍTULO 2
18 | Direito Ambiental

CAPÍTULO 3
26 | Princípios Ambientais

CAPÍTULO 4
53 | Política nacional do Meio Ambiente

CAPÍTULO 5
66 | Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente

CAPÍTULO 6
84 | Estudos dos Impactos Ambientais

CAPÍTULO 7
93 | Crimes Ambientais

CAPÍTULO 8
109 | Responsabilidade Ambiental
1CAPÍTULO
MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO

Refletir sobre a importância e o papel da educação ambiental, não só como fer-


ramenta de compreensão e reflexão sobre o mundo, mas, acima de tudo, como
conscientização de uma forma crítica comunitária em que a qualidade de vida
e a harmonia entre os seres humanos e o meio ambiente, sejam sempre uma
meta a ser alcançada.

Professor Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira

Objetivos de Aprendizagem:
• Entender a importância do meio ambiente para a sobrevivência dos seres
vivos e do planeta;
• Conhecer algumas modificações que o homem faz no ambiente e suas
consequências;
• Incentivar os cidadãos a preservar e conservar o ambiente em que vive.
• Promover atitudes de conservação do meio ambiente, sobretudo aquelas
que os próprios podem ter em seu dia-a-dia.

Plano de Estudo:
• Conceito de Meio Ambiente;
• Previsão Legal;
• Classificação do Meio Ambiente;
• Principais Características dos bens ambientais.

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INTRODUÇÃO

A preocupação com as questões ambientais vem se intensificando nas últimas


décadas, como resultado da conscientização da sociedade mundial, que pas-
sou a cobrar uma postura responsável nos gestos mais simples de todos os ci-
dadãos e, sobretudo, daqueles que atuam na exploração e no uso dos recursos
naturais.

Atualmente é visível que a educação ambiental está cada vez mais restrita
a escola, uma vez que as crianças, os jovens e os adultos, estão aptos para
receber conhecimentos que irão intervir não apenas na sua formação
profissional, mas também na sua qualidade de vida.

O consumo desequilibrado dos recursos naturais, sem a preocupação com


as futuras gerações faz com que cada país lute pela sua sobrevivência e pela
prosperidade quase sem levar em consideração o impacto que causa sobre os
demais. Alguns consomem os recursos da Terra a um tal ritmo que provavel-
mente pouco sobrará para as gerações futuras. Outros em número muito maior,
consomem pouco demais e vivem na perspectiva da fome, da miséria, da do-
ença e da morte prematura.

É possível chegar a uma nova era de crescimento econômico, fundamentada


em políticas que mantenham e ampliem a base de recursos da Terra; o pro-
gresso que alguns desfrutaram no século passado pode ser vivido por todos
nos próximos anos. Mas, para que isso aconteça, temos que compreender me-
lhor os sintomas de desgaste que estão diante de nós, identificar suas causas
e conceber novos métodos de administrar os recursos ambientais e manter o
desenvolvimento humano.

Para nossa surpresa, a própria pobreza polui o meio ambiente também, criando
outro tipo de desgaste ambiental. Para sobreviver, os pobres e os famintos mui-
tas vezes destroem seu próprio meio ambiente: derrubam florestas, permitem o
pastoreio excessivo, exaurem as terras marginais e acorrem em número cada
vez maior para as cidades já congestionadas. O efeito cumulativo dessas mu-
danças chega a ponto de fazer da própria pobreza um dos maiores flagelos do
mundo.

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1.1 Definição

O termo meio ambiente tem sido dito com muita frequência nos últimos tempos
em reportagens, na internet enfim em todos os meios de comunicação.

Sabemos realmente o que é meio ambiente?

Na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente celebrada em Esto-


colmo, em 1972, definiu-se o meio ambiente da seguinte forma:

“O meio ambiente é o conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos


e sociais capazes de causar efeitos diretos ou indiretos, em um prazo curto ou
longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas.”

O meio ambiente é o conjunto de unidades ecológicas que funcionam como um


sistema natural. Assim, o meio ambiente é composto por toda a vegetação,
animais, microrganismos, solo, rochas, atmosfera. Também fazem parte do
meio ambiente os recursos naturais, como a água e o ar e os fenômenos
físicos do clima, como energia, radiação, descarga elétrica e magnetismo.

O meio ambiente é composto por quatro esferas diferentes: atmosfera, litosfe-


ra, hidrosfera e biosfera.

A atmosfera é a camada ar que envolve o planeta, formada por gases como


oxigênio, gás carbônico, metano e nitrogênio. A litosfera é a camada mais ex-
terna do planeta, formada pelo solo e por uma superfície rochosa, também cha-
mada de crosta terrestre.

1.1.1 Definição no Brasil

O Brasil também possui o seu conceito de meio ambiente, definido pela Política
Nacional do Meio Ambiente (PNMA) que tem origem na Lei No. 6.938 de 31 de
agosto de 1981. A regulamentação se deu pelo Decreto nº 99.274, de 6 de ju-
nho de 1990.

O conceito é o seguinte:

“O conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, quími-


ca e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

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O objetivo da PNMA é definir critérios e mecanismos de ação que devem ser
tomados pelos governos para garantir a preservação do meio ambiente.
São exemplos de objetivos previstos na lei:

• fiscalização do uso e consumo dos recursos naturais,


• controle da emissão de poluição no ambiente,
• controle o uso consciente do solo, da água e do ar,
• incentivo ao estudo e pesquisa na área ambiental,
• proteção dos ecossistemas,
• proteção, preservação e recuperação de áreas ameaçadas.

A PNMA também define quais devem ser as ações implementadas pelos go-
vernos para garantir a preservação do meio ambiente a partir da avaliação de
impactos ambientais ocorridos e da definição de prioridades de ação.

São algumas medidas adotadas pela Política Nacional do Meio Ambiente: pre-


visão de que o agente causador de poluição deve reparar e indenizar os danos
causados ao meio ambiente, criação de um cadastro de dados sobre a qualida-
de do meio ambiente e a criação de espaços de proteção e reserva ambiental.

1.1.1.1 Previsão Legal

O conceito legal de meio ambiente, inserido pela Lei 6.938/81 em seu artigo
3º, I, é: “conjunto de bens, influencias e interações de ordem físicas, químicas
e biológicas, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Por
este conceito, o que se busca explorar é o Meio Ambiente Natural, sua compo-
sição e uns de seus princípios norteadores essenciais: Prevenção e Precaução.
Além do Meio Ambiente Natural, explorado pelo mencionado conceito legal,
para o homem ainda existem três meio ambientes: cultural, artificial e do tra-
balho, os quais tutelam a vida em uma questão sociocultural e da saúde no
ambiente de trabalho. O doutrinador Guilherme José Purvin expõe a insufici-
ência do conceito trazido na lei para abranger todas as qualificações de meio
ambiente existentes:

“(...) A definição legal da LPNMA (lei 6.938/81) é adequa-


da para a identificação de determinado aspectos do meio
ambiente, como por exemplo o natural, mas é insuficiente
para abranger todos os valores jurídicos tutelados pelo Di-
reito Ambiental como, por exemplo, o meio ambiente cul-
tural (tutela do patrimônio cultural) e o meio ambiente do
trabalho (tutela da saúde dos trabalhadores).”1

1 Figueiredo, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental – 6ª ed. –São

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Sua composição é perfeitamente delineada na posição de José Afonso da Sil-
va. Vejamos:
“(...) meio ambiente natural ou físico é constituído pelo
solo, a água, o ar atmosférico, a flora, enfim, pela interação
dos seres vivos e seu meio, onde se dá a correlação recí-
proca entre as espécies e as relações destas com o am-
biente físico que ocupam”2

O que se percebe a partir de todos os conceitos exemplificados é que o meio


ambiente não é um lugar, um local físico, mas sim uma reunião de fatores que
propiciam o surgimento e interação de vida. Tudo o que gera ou detém vida
compõe o que podemos chamar de meio ambiente natural.

Com a Lei 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio ambiente
(PNMA, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, além de outras
providencias, a proteção ambiental passou a ter maior visibilidade e importân-
cia.

O Direito Ambiental brasileiro possui instrumentos idôneos para salvaguardar o


meio ambiente e, consequentemente, o direito à vida humana, espalhados por
diversas normas legais, com previsão tanto nas órbitas federal, quanto estadual
e municipal. Portanto, para a melhor análise do direito ao meio ambiente, se faz
necessário o estudo da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
e, para não nos estendermos demais, das mais importantes leis infraconstitu-
cionais de caráter nacional sobre o tema (tendo em vista a competência
legis-lativa concorrente dos entes públicos concedida pelo Texto Maior, em que
a União institui as regras gerais e os Estados-membros, Distrito Federal e
Municípios a complementam, de acordo com as suas particularidades
regionais e locais, nunca de forma contrária às de caráter nacional).

A Constituição Federal de 1988 cuidou de garantir a proteção ao meio ambien-


te, qual passou a ser primordial, tornando-a garantia fundamental em nosso or-
denamento jurídico.

Resguardado pelo capítulo VI, com início no artigo 225 da Constituição Fede-
ral, regido por diversas leis complementares e resolução do CONAMA, o direito
ambiental, que busca resguardar o meio ambiente natural, é regido por vários
princípios, que buscam nortear as normas em todos os âmbitos.

E, mesmo com a pluralidade de artigos previstos em nossa Constituição Fe-


deral de 1988, ainda assim, o mais importante preceito de proteção ao meio
ambiente, orientador da ordem econômica e social, base para a elaboração le-
Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2013. Pg. 64.
2 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: MALHEIROS, 1994.

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gislativa, encontra-se inserido no artigo 225, caput, do Texto Maior (conhecido
na doutrina por consubstanciar o princípio do meio ambiente ecologicamente
equilibrado), que preceitua da seguinte forma:

“Art. 225.  Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.”

Assim, no Brasil, diante da importância do direito ao meio ambiente ecologi-


camente equilibrado, previsto na Constituição Federal (artigo 225, caput), sen-
do fruto, como visto, da Declaração de Estocolmo de 1972, há o entendimen-
to pela doutrina nacional, de que tal prerrogativa é um verdadeiro direito fun-
damental, mesmo que não esteja inserido no Capítulo dos Direitos Individuais
(artigo 5º), nem dos Direitos Sociais (artigo 6º), sendo que tal pensamento se
faz, diante do fato de que com o meio ambiente saudável, consequentemente,
se terá uma melhor qualidade de vida, requisito básico e indispensável para
a existência digna do ser humano, direito esse, garantido pelo já mencionado
artigo 5º, caput, da Magna Carta de 1988. Portanto, ao se assegurar o direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, está sendo protegido, também,
o direito individual à vida e à dignidade humana. Ainda, pode-se concluir deste
entendimento acima citado, que ao se assegurar esse direito, logo se estará
garantindo a promoção dos demais direitos civis e econômico-sociais também
(como, por exemplo, o direito à saúde), advindo daí o entendimento de nossa
doutrina que o direito ao meio ambiente sadio é ao mesmo tempo um direito in-
dividual e social.3

3 Com o posicionamento adotado pela doutrina brasileira de que o direito ao meio


ambiente ecologicamente equilibrado seria um direito individual e social, pode-se afirmar que
isso acarretará que todos os bens ambientais, sejam eles públicos ou privados, considerar-se-
ão bens comuns a todos, tendo como consequência disso, que a propriedade rural ou urbana,
mesmo sendo de um particular, deverá atender a sua função social (artigos 182, § 2º e 186 da
Constituição Federal), respeitando-se, pois, o meio ambiente, sob pena de desapropriação
pelo Poder Público (CF, artigos 5º, XXIV e 170, III e VI). Com a intervenção do Estado no
domínio privado, o Texto Maior de 1988 garantiu a todos, as benesses dos recursos naturais,
mesmo que esses estejam inseridos em uma propriedade particular. Porém, tal benefício
ocorrerá de forma indireta, já que o proprietário continua na posse de seus bens, podendo
fruir de seu direito de propriedade. Contudo, deverá se valer dos recursos inseridos em seu
domínio de maneira a não prejudicar o direito da coletividade de possuir um meio ambiente
ecologicamente equilibrado, já que se a propriedade ferir a higiene, a ordem pública e o meio
ambiente, poderá ser responsabilizado objetivamente por sua atividade degradadora tanto
o particular, como o próprio Estado, conjuntamente ou não, sendo que esse último, por sua
atitude omissiva de não fiscalização adequada das atividades poluidoras ou potencialmente ou
até mesmo de forma comissiva, com a prática danosa ao meio ambiente.

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1.1.1.1 Classificação do Meio Ambiente

A partir dos conceitos de meio ambiente, é possível identificar áreas distintas


que integram e formam a totalidade do que se entende por Meio Ambiente: a
natural, a artificial e a cultural.
Fiorillo (2003) esclarece que:

A divisão do meio ambiente em aspectos que o compõem busca facilitar a


identificação da atividade degradante e do bem imediatamente agredido. Não
se pode perder de vista que o direito ambiental tem como objeto maior tutelar
a vida saudável, de modo que a classificação apenas identifica o aspecto do
meio ambiente em que valores maiores foram aviltados.

Atualmente, utiliza-se uma classificação para Meio Ambiente que identifica uma
quarta área de estudo: o Meio Ambiente do Trabalho.

Assim sendo, o Meio Ambiente classifica-se, segundo a doutrina jurídica, em:

- Meio Ambiente Natural;


- Meio Ambiente Artificial;
- Meio Ambiente Cultural;
- Meio Ambiente do Trabalho.

1.1.1.2.1 Meio Ambiente Natural:

O Meio Ambiente Natural, também chamado de Meio Ambiente Físico, é com-


posto pela atmosfera, águas (subterrâneas e superficiais, mar territorial), solo e
subsolo, fauna e flora e o patrimônio genético.

A tutela do Meio Ambiente Natural se dá pelo artigo 225 da Constituição Fede-


ral, em seu parágrafo 1º, incisos I e VII, e parágrafo 4º:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibra-


do, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Públi-


co:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o


manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

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VII - proteger a fauna e a flora, vedadas na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoque a extinção de espé-
cies ou submetam animais à crueldade. 

§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o


Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e
sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegu-
rem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recur-
sos naturais.

1.1.1.2.2 Meio Ambiente Artificial:

O Meio Ambiente Artificial “é compreendido pelo espaço urbano constru-


ído, consistente no conjunto de edificações (chamado de espaço urbano
fechado), e pelos equipamentos públicos (espaço urbano aberto)” (FIO-
RILLO, 2003, p. 21). O Meio Ambiente Artificial é uma área que está dire-
tamente relacionada ao conceito de cidade.

A tutela constitucional do Meio Ambiente Artificial está presente no artigo


225 da Constituição Federal, que trata especificamente do Meio Ambien-
te, mas também nos artigos 21, inciso XX e 182 (que trata da Política
Urbana) da carta constitucional, dentre outros:

Art. 21. Compete à União:

XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habita-


ção, saneamento básico e transportes urbanos.

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder


Público Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei têm por ob-
jetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e
garantir o bem-estar de seus habitantes.

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1.1.1.2.3 Meio Ambiente Cultural:

Integra o Meio Ambiente Cultural o patrimônio artístico, paisagístico,


arqueológico, histórico e turístico. Vale pontuar que, apesar de serem
bens produzidos pelo Homem e, portanto, também serem caracterizados
como artificiais, eles diferem dos bens que compõem o Meio Ambiente
Artificial em razão do valor diferenciado que possuem para uma socieda-
de e seu povo.

O Meio Ambiente Cultural é tutelado especificamente pelo artigo 216 da


Constituição Federal brasileira:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza


material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portado-
res de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I - as formas de expressão; 

II - os modos de criar, fazer e viver;

III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; 

IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços desti-


nados às manifestações artístico-culturais; 

V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artísti-


co, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. 

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1.1.1.2.4 Meio Ambiente do Trabalho: 

O Meio Ambiente do Trabalho é constituído pelo ambiente, local, no qual


as pessoas desenvolvem as suas atividades laborais, remuneradas ou
não remuneradas, “cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio
e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psí-
quica dos trabalhadores, independentemente da condição que ostentem”
(FIORILLO, 2003, p. 23). 

A tutela do Meio Ambiente do Trabalho também está contida na Consti-


tuição Federal nos artigos 225 e 200, inciso VIII: 

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribui-


ções, nos termos da lei: 

VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do


trabalho.

Ressalta-se que a tutela do Meio Ambiente do Trabalho difere da tute-


la dos direitos trabalhistas. As normas e leis que integram o Direito do
Trabalho disciplinam as relações jurídicas entre empregado e emprega-
dor, ao passo que, a tutela do Meio Ambiente do Trabalho refere-se à se-
gurança e saúde do trabalhador no ambiente em que ele trabalha (FIO-
RILLO, 2003).

Principais Características dos Bens Ambientais

De acordo com constituição promulgada no ano de 1988, os bens ambientais


são todas as extensões vegetativas que servem como recursos naturais aos
homens. Segundo a redação oficial, os bens ambientais são pertencentes a to-
dos os brasileiros naturais ou naturalizados. Porém, será que os políticos estão
fazendo trabalho qualitativo na defesa da natureza, implantando ações efetivas
contra a degradação contra o meio ambiente? Em termos gerais, a sociedade
precisa compreender que a sustentabilidade é mais do que urgente para que
não aconteça o fim do mundo.

Os recursos naturais podem ser definidos como o conjunto de elementos de


ordem natural que compõem o Meio Ambiente. Em tese, é tudo aquilo que não
é criação do Homem. É a flora, a fauna, as águas, o ar, o solo e a diversidade
genética.

Recurso natural equivale àquilo que se conhece popularmente como natureza.


Os leigos podem confundir natureza com Meio Ambiente, mas aquela é só uma
parte do Meio Ambiente.

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A Lei n. 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente) trouxe a definição de
outra categoria de recursos, a dos recursos ambientais. Segundo a Lei, são re-
cursos ambientais a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas,
o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.

Com o aumento da conscientização ambiental e das tendências protecionistas


do Meio Ambiente (no Brasil e no mundo), em 1988, com a promulgação da
Constituição Federal brasileira, a primeira a atribuir um capítulo exclusivo para
o Meio Ambiente, surge uma nova categoria de bens, os bens ambientais.

Tradicionalmente, o Direito classifica os bens em públicos e privados. Os bens


públicos são aqueles de propriedade das pessoas jurídicas de direito público
interno, como a União, os Estados e os Municípios. Já os bens privados perten-
cem às pessoas jurídicas de direito privado ou às pessoas físicas.

Segundo as disposições constitucionais do artigo 225, os bens ambientais são


aqueles de uso comum do povo, essenciais à sadia qualidade de vida, o que
“configura nova realidade jurídica disciplinando bem, o que não é público nem,
muito menos, particular” (FIORILLO, 2003, p. 51).

Por serem qualificados como de uso comum do povo, os bens ambientais al-
cançaram o status de bens difusos, uma vez que os mesmos não se referem a
um único indivíduo, mas a toda uma coletividade, sem individualizar seus titula-
res.

Fiorillo (2003) ensina:

O bem ambiental é, portanto, um bem que tem como característica constitucio-


nal mais relevante ser ESSENCIAL À SADIA QUALIDADE DE VIDA, sendo on-
tologicamente de uso comum do povo, podendo ser desfrutado por toda e qual-
quer pessoa dentro dos limites constitucionais. [...] É, portanto, da somatória
dos dois aspectos: bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, que se estrutura constitucionalmente o bem ambiental.

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REFERÊNCIAS

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 08 ed. Rio de Janeiro: Lu-


men Juris, 2005.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05


de outubro de 1988. 24 ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2000.

BRASIL. Lei n.° 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Dispõe sobre a Política Na-
cional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e apli-
cação, e dá outras providências) in Lei n.° 10.406, de 10 de janeiro de 2002,
acompanhada da legislação complementar. 09 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

BRASIL. Lei n.° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). 09 ed. São
Paulo: Saraiva, 2003

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 17


ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

DOS SANTOS, Fabiano Pereira. Meio ambiente e poluição. Jus Navigan-


di, 2004. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4753 – capturado em
24/02/2006

Figueiredo, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental – 6ª ed. –


São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2013. Pg. 64.

SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: MALHEI-
ROS, 1994.Romulo S. R. Tópicos de Direito Ambiental: 30 anos da politica
nacional do meio ambiente. Lumen Juris, 2011, pg 27.Cureau, Sandra. Direito
Ambiental / Sandra Cureau e Maricia Dieguez Leuzinger.- Rio de Janeiro: Else-
vier, 2013. Pg. 52.

LEITURA COMPLEMENTAR SUGERIDA:

https://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/os-cinco-maiores-problemas-
-ambientais-do-mundo-e-suas-solucoes

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2CAPÍTULO
DIREITO AMBIENTAL

Compreender o significado do direito enquanto uma ciência de construção das


relações humanas. Discutir os conceitos e fundamentos do direito Ambiental.

Professor Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira

Objetivos de Aprendizagem:
• Revisar conceitos inerentes aos direitos e interesses difusos e coletivos
de especial relevância para a compreensão da tutela do bem ambiental;
• Reforçar a autonomia científica e didática do direito ambiental;
• Identificar o direito ambiental na constituição;
• Apresentar a noção de dano ambiental;

Plano de Estudo:
• Direito Ambiental;
• Conceito;
• Objetivos do Direito Ambiental;
• Outros Conceitos.

PÁGINA 18
INTRODUÇÃO

A Revolução Industrial é o marco desencadeador de uma sociedade fundada


no consumo. Esta sociedade impõe pressões cada vez maiores sobre os recur-
sos naturais, fazendo crescer preocupações com o equilíbrio do meio ambiente
e com a própria sobrevivência da vida no planeta.

Diante das constantes agressões ao meio ambiente, confirmadas pela ciência e


condenadas pela ética e pela moral, surge a necessidade de se repensar con-
ceitos desenvolvimentistas clássicos. Neste sentido, torna-se imperiosa a agre-
gação de diversas áreas do conhecimento científico, técnico e jurídico, aliados
aos conhecimentos locais e de comunidades tradicionais em torno da constru-
ção de uma nova teoria de desenvolvimento econômico que agregue a noção
de sustentabilidade.

Em outras palavras, significa a internalização pelo processo produtivo de exter-


nalidades que até então não eram computadas nos custos de produção. A sus-
tentação jurídica desta nova forma de encarar a relação do homem com o meio
ambiente reside justamente no reconhecimento do direito das futuras gerações
de usufruírem, em igualdade de condições, os recursos naturais disponíveis
hodiernamente.

O direito ambiental está inserido neste contexto. Um ramo do direito que regula
a relação entre a atividade humana e o meio ambiente. Por sua natureza inter-
disciplinar, o direito do ambiente acaba se comunicando com outras áreas da
ciência jurídica. Em alguns casos com peculiaridades próprias e distintas, em
outros, socorrendo-se de noções e conceitos clássicos de outras áreas.

Trata-se de uma matéria interdisciplinar, que tem ligação com o direito penal,
civil e administrativo.

O seu campo de atuação é a DEFESA DE INTERESSES DIFUSOS, ou seja, a


preservação, a manutenção do meio ambiente é uma matéria por si só abstra-
ta, ela visa o interesse difuso, isto é, o DESTINATÁRIO É INDETERMINADO,
não temos como identificar quem será aquele que irá se beneficiar com uma
política saudável de proteção ambiental.

PÁGINA 19
1. DIREITO AMBIENTAL.

1.1 Conceito

Prevê o artigo 225, caput, da Constituição Federal de 1988:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre-
sentes e futuras gerações.”

A matéria ambiental é de extrema importância pois, além de estar prevista pela


própria Constituição Federal, o direito a um meio ambiente saudável é tido
como um direito humano de terceira geração, também chamados de “direitos
de solidariedade”. Tais direitos de terceira geração são direitos da própria cole-
tividade. Nesse sentido, diz Marcia Rodrigues Bertoldi:

A corrente doutrinária maioritária entende como direitos de solidariedade, ou de


terceira geração, os direitos ao desenvolvimento, ao patrimônio comum da hu-
manidade, à paz e ao meio ambiente, os quais estão orientados pelos princí-
pios de indivisibilidade, interdependência e solidariedade.1

No plano internacional, a Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente é


de extrema importância, na medida em que é o texto responsável por estabele-
cer princípios que visam preservar e melhorar o meio ambiente no plano mun-
dial.

É responsabilidade do Direito Ambiental criar normas que garantam a sustenta-


bilidade do meio ambiente e seu desenvolvimento contínuo, evitando a sua de-
gradação e o preservando às próximas gerações. É ele o responsável, portan-
to, por buscar um equilíbrio entre a exploração do meio ambiente e os agentes
econômicos que dele fazem uso, buscando, assim, sua preservação.

Conceitualmente, o Direito Ambiental é o ramo do direito que estabelece as


normas que visam limitar as condutas humanas em relação ao meio ambien-
te. Tem por objetivo, portanto, garantir que as próximas gerações possuem um
meio ambiente saudável.

É importante ter em mente, além de tudo, que o Direito Ambiental não deve ser
visto de uma forma isolada. Nesse sentido, é sabido que o direito é dividido em
“ramos”, o que facilita a sua compreensão.

1 BERTOLDI, Marcia Rodrigues. O direito humano a um meio ambiente


equilibrado. Sem data. < http://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/26472-26474-1-PB.pdf.

PÁGINA 20
O Direito Ambiental, na medida em que é responsável por regular e sistemati-
zar a atividade humana sobre o meio ambiente, acaba por se relacionar com
todos os outros ramos. Exemplo claro disso a possibilidade de existência de
crimes ambientais, conforme definidos pela Lei 9.605/98.

1.1.1 Objetivos do Direito Ambiental:

A ideia do direito ambiental brasileiro é que ele está intimamente ligado com o
desenvolvimento econômico e com o desenvolvimento social e não apenas em
matéria de preservação ambiental propriamente dita.

O direito ambiental não foi criado apenas para proteger, preservar o meio am-
biental.

Esta seria uma visão equivocada, pois o direito ambiental brasileiro em mo-
mento algum quer frear o desenvolvimento sócio econômico. Pelo contrário, se
frear o desenvolvimento sócio econômico, com certeza, estará gerando indire-
tamente uma maior agressão ao meio ambiente, pois atividades irregulares co-
meçarão a aparecer.

O direito ambiental não visa preservação cega, ela visa compatibilizar o desen-
volvimento econômico com a preservação do meio ambiente, gerando também
um desenvolvimento social. Este é o elo do direito ambiental com o direito eco-
nômico.

A preocupação do direito ambiental é com o homem, com a figura do ser huma-


no. O aspecto social do direito ambiental cresceu muito a ponto de na CRFB,
art. 200 quando fala no sistema único de saúde diz competir, além de outras
atribuições, colaborar com a proteção do meio ambiente, nele compreendido o
do trabalho. Há uma relação entre o direito ambiental e o direito do trabalho.

A principal preocupação do direito ambiental hoje é com o homem. Vejam, por


exemplo, nos princípios elencados na Declaração do Rio 92, princípio nº 1:

“Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento


sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a
natureza.”

De certa forma, há muito tempo, a nossa principal lei ambiental, a Lei 6.938/81
já falava isso no caput do art. 2º.

PÁGINA 21
1.1.1.1 Outros Conceitos

Destacarei agora alguns conceitos e definições que orientam a aplicação da


normativa ambiental e que poderão ser utilizados quando da análise de sua
aplicabilidade em casos concretos.

Os conceitos que pontuo como fundamentais dentro do contexto ambiental,


ressalvando a importância dos demais, são:

a) Meio Ambiente
Art. 3º, I da Lei 6938/81 - é o conjunto de condições, leis, influências e intera-
ções de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas (Art. 3°, I da Lei n° 6.938/81).

b) Risco Ambiental
O risco ambiental pode ser definido como a possibilidade de ocorrência de de-
gradação ambiental em virtude da atividade antrópica no meio ambiente, ou
seja, a possibilidade de alteração adversa das características do meio ambien-
te.

c) Poluição
Consiste na degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que,
direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da
população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; afe-
tem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias
do meio ambiente; lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões
ambientais estabelecidos (Art. 3°, III da Lei n° 6.938/81).

d) Agente Poluidor
É a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta
ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental (Art. 3°, IV
da Lei n° 6.938/81).

e) Dano Ambiental
Poluição – art. 3º, III da Lei n° 6938/81 - o dano ambiental consiste em qual-
quer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambien-
te, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades
humanas que, direta ou indiretamente, afetem a saúde, a segurança, o bem
estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota (fauna e flora
de uma determinada região); as condições estéticas e sanitárias do meio am-
biente; e, enfim, a qualidade dos recursos ambientais.

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1.1.1.1.1. Novas diretrizes de conduta.

O Direito Ambiental é a área do conhecimento jurídico que estuda as interações


do homem com a natureza e os mecanismos legais para proteção do meio am-
biente. É uma ciência holística que estabelece relações intrínsecas e transdis-
ciplinares entre campos diversos, como antropologia, biologia, ciências sociais,
engenharia, geologia e os princípios fundamentais do direito internacional, den-
tre outros.

No Brasil, o emergente Direito Ambiental estabelece novas diretrizes de con-


duta, fundamentadas na Política Nacional do Meio Ambiente (lei 6.938, de
31/8/81). Esse código estabelece definições claras para o meio ambiente, qua-
lifica as ações dos agentes modificadores e provê mecanismos para assegurar
a proteção ambiental.

A lei 6.938, regulamentada pelo decreto 99.274, de 6 de junho de 1990, insti-


tui também o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), constituído por
órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos municípios
e pelas fundações instituídas pelo poder público, responsáveis pela proteção e
melhoria da qualidade ambiental, conforme a seguinte estrutura:

• Órgão superior: conselho de governo;


• Órgão consultivo e deliberativo: Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA);
• Órgão central: Ministério do Meio Ambiente (MMA);
• Órgão executor: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA);
• Órgãos seccionais: órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela
execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de ativi-
dades capazes de provocar a degradação ambiental;
• Órgãos locais: órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo con-
trole e pela fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdi-
ções.

A atuação do SISNAMA se dá mediante articulação coordenada de órgãos e


entidades que o constituem, observado o acesso da opinião pública às informa-
ções relativas às agressões ao meio ambiente e às ações de proteção ambien-
tal, na forma estabelecida pelo CONAMA.

Cabe aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios a regionalização das


medidas emanadas do SISNAMA, elaborando normas e padrões supletivos e
complementares.

PÁGINA 23
Principais instrumentos de proteção ambiental

• Estudo de Impacto Ambiental (EIA);


• Relatório de Impacto Ambiental (RIMA);
• Plano de Controle Ambiental (PCA);
• Relatório de Controle Ambiental (RCA);
• Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD);
• Relatório Ambiental Preliminar (RAP);
• Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos
(PGRS).

A Lei da Ação Civil Pública (lei 7.347, de 24/7/85) tutela os valores ambientais,
disciplina as ações civis públicas de responsabilidade por danos causados ao
meio ambiente, consumidor e patrimônio de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico. 

Em 1988, a Constituição Federal dedicou normas direcionais da problemática


ambiental, fixando as diretrizes de preservação e proteção dos recursos natu-
rais e definindo o meio ambiente como bem de uso comum da sociedade hu-
mana. 

O artigo 225 da Constituição Federal Brasileira de 1988 diz:

“todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi-


librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coleti-
vidade o dever de defendê-lo e preservá-lo para às presen-
tes e futuras gerações.”

Além disso, a Rio-92 – Conferência da ONU sobre meio ambiente e desenvol-


vimento – sacramentou a preocupação mundial com o problema ambiental, re-
forçando princípios e regras para o combate à degradação ambiental no do-
cumento intitulado “Agenda 21”, que consolidam a diretriz do desenvolvimento
sustentável. 

Em qualquer organização pública ou privada, o Direito Ambiental exprime a


busca permanente pela melhoria da qualidade ambiental de serviços, produ-
tos e ambientes de trabalho, num processo de aprimoramento que propicia o
desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental globalizados e abrangen-
tes. Ao operar nesses sistemas, as organizações incorporam as melhores práti-
cas corporativas em vigência, além de procedimentos gerenciais e técnicos que
reduzem ao mínimo as possibilidades de dano ao meio ambiente, da produção
à destinação de resíduos.

PÁGINA 24
REFERÊNCIAS

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 08 ed. Rio de Janeiro: Lu-


men Juris, 2005.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05


de outubro de 1988. 24 ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2000.

BRASIL. Lei n.° 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Dispõe sobre a Política Na-
cional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e apli-
cação, e dá outras providências) in Lei n.° 10.406, de 10 de janeiro de 2002,
acompanhada da legislação complementar. 09 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

BRASIL. Lei n.° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). 09 ed. São
Paulo: Saraiva, 2003

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 17


ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

DOS SANTOS, Fabiano Pereira. Meio ambiente e poluição. Jus Navigan-


di, 2004. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4753 – capturado em
24/02/2006

Figueiredo, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental – 6ª ed. –


São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2013. Pg. 64.

SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: MALHEI-
ROS, 1994.Romulo S. R. Tópicos de Direito Ambiental: 30 anos da politica
nacional do meio ambiente. Lumen Juris, 2011, pg 27.Cureau, Sandra. Direito
Ambiental / Sandra Cureau e Maricia Dieguez Leuzinger.- Rio de Janeiro: Else-
vier, 2013. Pg. 52.

LEITURA COMPLEMENTAR SUGERIDA:

https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/1701/Direito-Ambiental-Dos-
-principios-a-sua-aplicabilidade

PÁGINA 25
3CAPÍTULO
PRINCÍPIOS
AMBIENTAIS

Compreender o conceito de princípios e aplica-los na relações ambientais.

Professor Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira

Objetivos de Aprendizagem:
Apresentar os princípios informadores e norteadores do direito ambiental brasi-
leiro.

Plano de Estudo:
• Princípios Ambientais
• Conceito;
• Classificação
• Princípio da prevenção;
• Princípio da precaução;
• Princípio do poluidor-pagador;
• Princípio da responsabilidade;
• Princípio da gestão democrática;
• Princípio do Limite;
• Princípio do Direito Humano Fundamental ao Meio Ambiente
Sadio.

PÁGINA 26
INTRODUÇÃO

A palavra princípio significa o alicerce, a base ou o fundamento de alguma coi-


sa. Trata-se de um vocábulo de origem latina e tem o sentido de aquilo que se
torna primeiro. Na ideia de princípio está a acepção de início ou de ponto de
partida.

Maurício Godinho Delgado1 afirma que a palavra princípio significa proposição


elementar e fundamental que embasa um determinado ramo de conhecimento
ou proposição lógica básica em que se funda um pensamento.

No entendimento de Roque Antônio Carraza2, o princípio jurídico é um enun-


ciado lógico implícito ou explícito que, por conta de sua grande generalidade,
ocupa posição de preeminência nos vastos quadrantes da Ciência Jurídica e
por isso mesmo vincula de modo inexorável o entendimento e a aplicação das
normas jurídicas que com ele se conectam.

Os princípios exercem uma função especialmente importante frente às outras


fontes do Direito porque, além de incidir como regra de aplicação do Direito no
caso prático, eles também influenciam na produção das demais fontes do Direi-
to.

É com base nos princípios jurídicos que são feitas as leis, a jurisprudência, a
doutrina e os tratados e convenções internacionais, já que eles traduzem os va-
lores mais essenciais da Ciência Jurídica.

Se na ausência de uma legislação específica há que se recorrer às demais fon-


tes do Direito, é possível que no caso prático não haja nenhuma fonte do Direi-
to a ser aplicada a não ser os princípios jurídicos.

Com efeito, pode ser que não exista lei, costumes, jurisprudência, doutrina ou
tratados e convenções internacionais, mas em qualquer situação os princípios
jurídicos poderão ser aplicados.

1 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 4ª ed. São Paulo:


LTr, 2005, p. 184.
2 CARRAZA, Roque Antonio. Curso de direito Constitucional tributário. 11 ed.
São Paulo: Malheiros, 1998, p.31.

PÁGINA 27
Na opinião de Joaquim José Gomes Canotilho3 os princípios desempenham um
papel mediato, ao servirem como critério de interpretação e de integração do
sistema jurídico, e um papel imediato ao serem aplicados diretamente a uma
relação jurídica. Para o autor as três funções principais dos princípios são im-
pedir o surgimento de regras que lhes sejam contrárias, compatibilizar a inter-
pretação das regras e dirimir diretamente o caso concreto frente à ausência de
outras regras.

Nesse diapasão, é o entendimento de Ronald Dworkin:

Violar um princípio é muito mais grave do que transgredir uma norma. A desa-
tenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento
obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilega-
lidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, por-
que representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores
fundamentais4.

Luís Roberto Barroso5 defende que segundo a dogmática moderna as normas


jurídicas podem ser divididas em normas-disposição e em normas-princípio, de
maneira que a distinção entre normas e princípios está superada. Enquanto as
normas-disposição são regras aplicáveis somente às situações a que se diri-
gem, as normas-princípio ou princípios possuem um grau maior de abstração e
uma importância mais destacada dentro do sistema jurídico.

Celso Antônio Bandeira de Mello6entende que os princípios jurídicos constituem


o mandamento nuclear do sistema normativo, já que além de servirem de cri-
tério para a interpretação de todas as normas jurídicas eles têm a função de
integrar e de harmonizar todo o ordenamento jurídico transformando-o efetiva-
mente em um sistema.

Esclarecendo ainda mais esta questão temos, Bobbio faz uma clara análise
dos princípios gerais do Direito, inserindo-os no amplo conceito de normas nos
esclarecendo que:

3 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição.


Coimbra: Almedina, 1999, p. 122.
4 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1980, p. 230.
5 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 4ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2002, p. 149.
6 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1980, p. 230.

PÁGINA 28
Sendo assim, os princípios têm valor normativo, e não apenas valorativo, in-
terpretativo ou argumentativo, de maneira que se encontram hierarquicamente
superiores a qualquer regra. Na verdade, já que os princípios são o esteio do
ordenamento jurídico, é a eles que as regras têm se adequar e não o contrário,
e quando isso não ocorrer deverá a mesma ser considerada nula.
Assim, para que o Direito Ambiental tenha aplicabilidade e efetividade, é de ca-
pital importância que, além da ciência das leis e das demais legislações am-
bientais, sejam do senso comum seus princípios fundamentais, pois são estes
as normas de valor genérico que orientarão sua compreensão, aplicação e in-
tegração ao sistema jurídico como um todo, estando tais princípios escritos ou
não.

1. PRINCÍPIOS AMBIENTAIS.

1.1 Conceito

No âmbito do Direito Ambiental os princípios também desempenham essas mes-


mas funções de interpretação das normas legais, de integração e harmonização
do sistema jurídico e de aplicação ao caso concreto.

É preciso destacar também que a afirmação dos princípios do Direito Ambiental


desempenhou um papel fundamental no reconhecimento desse Direito enquanto
ramo autônomo da Ciência Jurídica.

Nesse diapasão, Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin aponta as quatro


principais funções dos princípios do Direito Ambiental no que diz respeito a sua
compreensão e aplicação:

a) são os princípios que permitem compreender a autonomia do Direito Ambien-


tal em face dos outros ramos do Direito;

b) são os princípios que auxiliam no entendimento e na identificação da unidade


e coerência existentes entre todas as normas jurídicas que compõem o sistema
legislativo ambiental;

c) é dos princípios que se extraem as diretrizes básicas que permitem compreen-


der a forma pela qual a proteção do meio ambiente é vista na sociedade;

d) e, finalmente, são os princípios que servem de critério básico e inafastável


para a exata inteligência e interpretação de todas as normas que compõem o
sistema jurídico ambiental, condição indispensável para a boa aplicação do Di-
reito nessa área7.
7 Apud MIRRA, Álvaro Luíz Valery. Principios Fundamentais do Direito
Ambiental. Revista de Direito Ambiental, nº 2, ano 1, abril-junho de 1996, p. 52.

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Um aspecto que ressalta a importância dos princípios no Direito Ambiental em
relação aos demais ramos da Ciência Jurídica é o fato da enorme proliferação
legislativa nessa área.

Paulo de Bessa Antunes expõe que há alguns anos em se tratando de proteção


à flora era apenas o Código Florestal que se aplicava, enquanto que atualmente
essa lei é apenas um dos inúmeros elementos de proteção à flora já que existe a
Convenção de Diversidade Biológica, o Sistema Nacional de Unidades de Con-
servação e uma série de normas objetivando a proteção específica de um bioma
ou de uma espécie de flora.

Com efeito, como existe uma competência legislativa concorrente entre os di-
versos entes federativos, é possível encontrar além das leis e decretos federais
e convenções e tratados internacionais, uma série de leis e decretos estaduais,
distritais e municipais.

É também imensa a proliferação de resoluções ou deliberações editadas pelos


conselhos de meio ambiente, seja no âmbito federal, estadual ou distrital e muni-
cipal, e de portarias elaboradas pelos órgãos administrativos de meio ambiente.

Muitas vezes tais normas são elaboradas por técnicos ambientais ou até por
representantes de associações de classe ou de movimentos sociais que adotam
uma redação confusa ou obscura sob o ponto de vista da técnica legislativa.

Por conta disso, os conflitos normativos são muito comuns nessa área e deverão
ser resolvidos por meio da aplicação dos princípios do Direito Ambiental.

Com relação ao papel relevante que os princípios jurídicos podem desempenhar


naquelas situações que ainda não foram objeto de legislação específica, trata-se
da mais um situação muito comum no que diz respeito ao meio ambiente.

A evolução da sociedade e o aparecimento de novas tecnologias fazem com


que a cada dia surjam novas situações capazes de interferir na qualidade do
meio ambiente e que por isso não podem deixar de ser reguladas pelo Direito
Ambiental.

Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin8 pondera que os princípios do Di-


reito Ambiental, da mesma forma que os demais princípios do Direito Constitu-
cional e do Direito Administrativo, e do Direito Público de uma maneira geral, são
valores que fundamentam o Estado e incidem sobre a organização política da
sociedade.

8 Apud MIRRA, Álvaro Luíz Valery. Principios Fundamentais do Direito


Ambiental. Revista de Direito Ambiental, nº 2, ano 1, abril-junho de 1996, p. 52.

PÁGINA 30
Por causa disso, esses princípios devem ser levados em consideração em todas
as decisões do Poder Público, especialmente em relação às políticas públicas
ambientais e a todas as políticas públicas de uma maneira geral, já que todos os
setores da atividade pública de alguma forma repercutem na questão ambiental.

De acordo com Paulo de Bessa Antunes9, são de dois tipos os princípios do Di-
reito Ambiental: os explícitos e os implícitos. Os primeiros são aqueles que se
encontram positivados nos textos legais e na Constituição Federal, e os segun-
dos são aqueles depreendidos do ordenamento jurídico constitucional. É claro
que tanto os princípios explícitos quando os implícitos encontram aplicabilidade
no sistema jurídico brasileiro, pois os princípios não precisam estar escritos para
serem dotados de positividade.

Devido ao fato de parte dos princípios do Direito Ambiental serem construções


eminentemente doutrinárias inferidas dos textos legais e das declarações inter-
nacionais de Direito, a quantidade e a denominação desses princípios variam de
um autor para outro.

No entendimento de Celso Antônio Pachêco Fiorillo10 os princípios do Direito


Ambiental são os seguintes: desenvolvimento sustentável, poluidor pagador,
prevenção, participação (de acordo com o autor, a informação e a educação
ambiental fazem parte deste princípio) e ubiquidade.

Luís Paulo Sirvinskas11 enumera os seguintes princípios do Direito Ambiental: di-


reito humano, desenvolvimento sustentável, democrático, prevenção (precaução
ou cautela), equilíbrio, limite, poluidor-pagador e responsabilidade social.

Edis Milaré12 elenca como princípios do Direito Ambiental: meio ambiente eco-
logicamente equilibrado como direito fundamental da pessoa humana, natureza
pública da proteção ambiental, controle de poluidor pelo Poder Público, consi-
deração da variável ambiental no processo decisório de políticas de desenvolvi-
mento, participação comunitária, poluidor-pagador, prevenção, função social da
propriedade, desenvolvimento sustentável e cooperação entre os povos.

9 ANTUNES, Paulo de Bessa. Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA:


Comentários à Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p.
16.
10 FIORILLO, Celso Antonio Pachêco. Curso de direito ambiental brasileiro. 4ª ed.
São Paulo: Saraiva, 2003, p. 23/42.
11 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 3ª ed. São Paulo: Saraiva,
2005, p. 34/38.
12 MILARÉ, Edis. Direito do ambiente. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2004, p. 136/152.

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Para Rui Piva13 o Direito Ambiental possui os princípios a saber: participação
do Poder Público e da coletividade, obrigatoriedade da intervenção estatal, pre-
venção e precaução, informação e notificação ambiental, educação ambiental,
responsabilidade das pessoas física e jurídica.

Paulo Affonso Leme Machado14 classifica os seguintes princípios do Direito Am-


biental: acesso equitativo aos recursos naturais, usuário-pagador e poluidor-pa-
gador, precaução, prevenção, reparação, informação e participação.

É importante destacar o relevante papel que a Declaração Universal sobre o


Meio Ambiente e a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desen-
volvimento, ambas documentos redigidos respectivamente na 1ª e na 2ª Con-
venção Internacional da Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambien-
te, tiveram na formação dos princípios do Direito Ambiental.

A maior parte dos princípios de Direito Ambiental trazidos pela Declaração Uni-
versal sobre o Meio Ambiente foram consagrados explícita ou implicitamente
pela Constituição Federal de 1988 e pela legislação ambiental de uma forma
geral.

De qualquer forma, passarão a ser analisados de forma objetiva apenas os prin-


cípios mais importantes do Direito Ambiental.

1.2 Classificação

1.2.1 - Princípio da Prevenção

Ao dispor sobre o meio ambiente a Constituição Federal se fundamenta no


princípio da prevenção, que é aquele que determina a adoção de políticas pú-
blicas de defesa dos recursos ambientais como uma forma de cautela em rela-
ção à degradação ambiental.

Seja no caput do art. 225, quando fala sobre o dever do Poder Público e da co-
letividade de proteger e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras
gerações, ou seja na maior parte do restante do dispositivo.

A Declaração Universal sobre o Meio Ambiente já consagrou desde 1972


o princípio da prevenção ao estabelecer no Princípio 6 que:

13 PIVA, Rui. Bem ambiental. São Paulo: Max Limonad, 2000, p. 51.
14 MACHADO, Paulo Affonso Leme Machado. Direito ambiental brasileiro. 9ª ed.
São Paulo: Malheiros, 2001, p. 43/78.

PÁGINA 32
“Deve-se pôr fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais e,
ainda, à liberação de calor em quantidades ou concentrações tais que o meio
ambiente não tenha condições para neutralizá-las, a fim de não se causar da-
nos graves ou irreparáveis ao ecossistemas. Deve-se apoiar a justa luta dos
povos de todos os países contra a contaminação”.

A Lei nº 6.938/81 também consagra o princípio da prevenção ao dispor nos in-


cisos III, IV e V do art. 4º que a Política Nacional do Meio Ambiente tem como
objetivo o estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental e de
normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais, o desenvolvimen-
to de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de
recursos ambientais e a difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente,
à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consci-
ência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do
equilíbrio ecológico.

Já os incisos II, III, IV, VI, VII, IX e X do art. 2º da referida Lei elenca entre os
princípios da Política Nacional do Meio Ambiente a racionalização do uso do
solo, do subsolo, da água e do ar, o planejamento e fiscalização do uso dos
recursos ambientais, a proteção dos ecossistemas, com a preservação de áre-
as representativas, os incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orien-
tadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais, o acompa-
nhamento do estado da qualidade ambiental, a proteção de áreas ameaçadas
de degradação e a educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive
a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na
defesa do meio ambiente.

A prevenção é o princípio que fundamenta e que mais está presente em toda a


legislação ambiental e em todas as políticas públicas de meio ambiente.

A dificuldade, improbabilidade ou mesmo impossibilidade de recuperação é a


regra em se tratando de um dano ao meio ambiente.

A recuperação de uma lesão ambiental é quando possível muito demorada e


onerosa, de forma que na maior parte das vezes somente a atuação preventiva
pode ter efetividade.

São inúmeros os casos em que as catástrofes ambientais não têm reparação e


seus efeitos acabam sendo sentidos apenas pelas gerações futuras, o que res-
salta o dever de prevenção.

De fato, é melhor para o meio ambiente que o dano ambiental nunca ocorra do
que ele ocorrer e ser recuperado depois.

PÁGINA 33
A reparação, a indenização e a punição devem ser, respectivamente, os últimos
recursos do direito ambiental.

Devido a essas características do dano ambiental, a Constituição Federal reco-


nheceu que deve ser dada prioridade às medidas que impeçam o surgimento
degradações ao meio ambiente.

O princípio da prevenção é aplicado em relação aos impactos ambientais co-


nhecidos e dos quais se possa estabelecer as medidas necessárias para pre-
ver e evitar os danos ambientais.

1.1.2 - Princípio da Precaução

O princípio da precaução estabelece a vedação de intervenções no meio am-


biente, salvo se houver a certeza que as alterações não causaram reações ad-
versas, já que nem sempre a ciência pode oferecer à sociedade respostas con-
clusivas sobre a inocuidade de determinados procedimentos.

A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento con-


sagrou pioneiramente o princípio da precaução no âmbito internacional, eman-
cipando-o em relação ao princípio da prevenção, ao estabelecer no Princípio
15 que “De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve
ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades.
Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de abso-
luta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medi-
das eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”.

Ao contrário dos tratados e convenções, que têm de passar por um proces-


so de ratificação junto ao Poder Legislativo dos países membros da ONU, o
princípio da precaução não é transposto automaticamente para o ordenamento
jurídico interno do mesmos tendo em vista constar somente em declarações de
direito.

Com efeito, existe uma grande semelhança entre o princípio da precaução e o


princípio da prevenção que o primeiro é apontado como um aperfeiçoamento
do segundo. Prova disso é que os instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente que se prestam a efetivar a prevenção são apontados também como
instrumentos que se prestam a efetivar a precaução.

Nesse sentido é a opinião de Ana Carolina Casagrande Nogueira:

O “princípio de precaução”, por sua vez, é apontado, pelos que defendem seu
status de novo princípio jurídico-ambiental, como um desenvolvimento e, sobre-
tudo, um reforço do princípio da prevenção. Seu fundamento seria, igualmente,

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a dificuldade ou impossibilidade de reparação da maioria dos danos ao meio
ambiente, distinguindo-se do princípio da prevenção por aplicar-se especifica-
mente às situações de incerteza científica15.

Dessa forma, ao passo que a precaução diz respeito à ausência de certezas


científicas, a prevenção deve ser aplicada para o impedimento de danos cuja
ocorrência é ou poderia ser sabida.

Paulo de Bessa Antunes16 pondera que o impedimento de uma determinada ati-


vidade com base no princípio da precaução somente deve ocorrer se houver
uma justificativa técnica fundada em critérios científicos aceitos pela comunida-
de internacional, já que por vezes opiniões isoladas e sem embasamento têm
sido utilizadas como pretexto para a interrupção de experiências e projetos so-
cialmente relevantes.

1.1.3 - Princípio do Poluidor-Pagador

O objetivo do princípio do poluidor-pagador é forçar a iniciativa privada a inter-


nalizar os custos ambientais gerados pela produção e pelo consumo na forma
de degradação e de escasseamento dos recursos ambientais.

Esse princípio estabelece que quem utiliza o recurso ambiental deve suportar
seus custos, sem que essa cobrança resulte na imposição taxas abusivas, de
maneira que nem Poder Público nem terceiros sofram com tais custos.

Como afirma Paulo Affonso Leme Machado, ao causar uma degradação am-
biental o indivíduo invade a propriedade de todos os que respeitam o meio am-
biente e afronta o direito alheio.

O princípio do poluidor-pagador foi introduzido pela Organização para a Coo-


peração e Desenvolvimento Econômico – OCDE em 26 de maio de 1972 por
meio da Recomendação C(72) 128 do Conselho Diretor, que trata da relação
entre as políticas ambiental e econômica.

15 NOGUEIRA, Ana Carolina Casagrande. O conteúdo jurídico do princípio


da precaução no direito ambiental brasileiro. Estado de direito ambiental: tendências:
aspectos constitucionais e diagnósticos. FERREIRA, Heline Sivini; LEITE, José Rubens
Morato (orgs). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p 199.
16 ANTUNES, Paulo de Bessa. Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA:
Comentários à Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p.
28.

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A segunda parte do inciso VII do art. 4º da Lei nº 6.938/81 prevê o princípio do
poluidor-pagador ao determinar que a Política Nacional do Meio Ambiente visa-
rá à imposição ao usuário de contribuição pela utilização de recursos ambien-
tais com fins econômicos.

A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento tam-


bém dispôs sobre o princípio do poluidor-pagador ao estabelecer no Princípio
16 que “Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo
decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a
internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômi-
cos, levando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e
os investimentos internacionais”.

O princípio do poluidor pagador tem sido confundido por grande parte da doutri-
na com o princípio da responsabilidade.

Contudo, o seu objetivo não é recuperar um bem lesado nem criminalizar uma
conduta lesiva ao meio ambiente, e sim afastar o ônus econômico da coletivi-
dade e voltá-lo para a atividade econômica utilizadora de recursos ambientais.

Nesse sentido, destaca Paulo de Bessa Antunes:

O princípio do poluidor pagador parte da constatação de que os recursos am-


bientais são escassos e o seu uso na produção e no consumo acarretam a sua
redução e degradação. Ora, se o custo da redução dos recursos naturais não
for considerado no sistema de preços, o mercado não será capaz de refletir a
escassez. Assim sendo, são necessárias políticas públicas capazes de eli-
minar a falha de mercado, de forma a assegurar que os preços dos produtos
reflitam os custos ambientais.

Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin afirma que o princípio do polui-


dor-pagador visa a fazer com que o empreendedor inclua nos custos de sua
atividade todos as despesas relativas à proteção ambiental.

A poluição dos recursos ambientais de uma maneira geral, e especialmente em


se tratando daqueles bens mais facilmente encontrados na natureza, como a
água, o ar e o solo, por conta da natureza difusa, é normalmente custeada pelo
Poder Público.

Em termos econômicos, esse custo é um subsídio à atividade econômica po-


luidora, já que não está sendo levado em conta os prejuízos sofridos pela so-
ciedade que ocorrem tanto quando a coletividade sente os efeitos da poluição
quando os cofres públicos deixam de aplicar seu dinheiro em outra finalidade
para descontaminar uma determinada região ou um determinado recurso am-
biental.

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O objetivo do princípio do poluidor-pagador é evitar que ocorra a simples priva-
tização dos lucros e a socialização dos prejuízos dentro de uma determinada
atividade econômica.

Os recursos ambientais de uma forma geral, e principalmente aqueles encon-


trados em maior abundância na natureza, como a água (no caso de determina-
das regiões do Brasil e do mundo), o ar e a areia, são historicamente degrada-
dos por determinados setores econômicos, que têm obtido o lucro à revelia do
prejuízo sofrido pela coletividade.

Trata-se de uma espécie de privatização dos lucros e socialização dos prejuí-


zos, o que significa um enriquecimento ilícito visto que de acordo com o caput
do art. 225 da Constituição Federal o meio ambiente é um “bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida”.

O princípio do poluidor-pagador leva em conta que os recursos ambientais são


escassos, portanto, sua produção e consumo geram reflexos ora resultando
sua degradação, ora resultando sua escassez.

Além do mais, ao utilizar gratuitamente um recurso ambiental está se gerando


um enriquecimento ilícito, pois como o meio ambiente é um bem que pertence
a todos, boa parte da comunidade nem utiliza um determinado recurso ou se
utiliza, o faz em menor escala.

1.1.4 Princípio da Responsabilidade

O princípio da responsabilidade faz com que os responsáveis pela degradação


ao meio ambiente sejam obrigados a arcar com a responsabilidade e com os
custos da reparação ou da compensação pelo dano causado.

Esse princípio está previsto no § 3º do art. 225 da Constituição Federal, que


dispõe que “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e admi-
nistrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.

A primeira parte do inciso VII do art. 4º da Lei nº 6.938/81 prevê o princípio da


responsabilidade ao determinar que a Política Nacional do Meio Ambiente visa-
rá à imposição ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou inde-
nizar os danos causados ao meio ambiente.

O inciso IX do art. 9º dessa Lei também prevê o princípio da responsabilidade


ao classificar como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente as pe-
nalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas
necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental.

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O princípio da responsabilidade também foi consagrado pelo inciso VII do art.
4º e no § 1º do art. 14 da referida Lei ao dispor, respectivamente, que a Políti-
ca Nacional do Meio Ambiente visará à imposição, ao poluidor e ao predador,
da obrigação de recuperar e/ou indenizar  os danos causados e, ao usuário,
da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos, e
que sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor
obrigado, independentemente de existência de culpa, a indenizar ou reparar os
danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade,
prevendo ainda que o Ministério Público da União e dos Estados terá legitimi-
dade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados
ao meio ambiente.

A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento tam-


bém dispôs sobre o princípio do poluidor-pagador ao estabelecer no Princípio
13 que “Os Estados irão desenvolver legislação nacional relativa à responsabi-
lidade e à indenização das vítimas de poluição e de outros danos ambientais.
Os Estados irão também cooperar, de maneira expedita e mais determinada,
no desenvolvimento do direito internacional no que se refere à responsabilida-
de e à indenização por efeitos adversos dos danos ambientais causados, em
áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu
controle”.

Pelo princípio da responsabilidade o poluidor, pessoa física ou jurídica, respon-


de pelas ações ou omissões de sua responsabilidade que resultarem em pre-
juízo ao meio ambiente, ficando sujeito a sanções cíveis, penais ou adminis-
trativas, já que a responsabilidade ambiental se dá de forma independente e
simultânea nas esferas cível, criminal e administrativa.

Se for detectado falha no sistema de prevenção ou de precaução de uma de-


terminada atividade econômica, assistirá a ela a obrigação de reparar o meio
ambiente degradado.

É importante destacar que muitos autores confundem esse princípio com o do


poluidor pagador, porém a aplicabilidade deles ocorre em momentos distintos.

A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento tam-


bém dispôs sobre o princípio da responsabilidade ao estabelecer no Princípio
13 que “Os Estados devem desenvolver legislação nacional relativa à respon-
sabilidade e indenização das vítimas de poluição e outros danos ambientais.
Os Estados devem ainda cooperar de fomra expedita e determinada para o de-
senvolvimento de normas de direito ambiental internacional relativas à respon-
sabilidade e indenização por efeitos adversos de danos ambientais causados,
em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob
seu controle”.

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Este é o princípio da responsabilidade, segundo o qual o degradador assume
os riscos de sua atividade arcando com os todos os prejuízos em matéria am-
biental, seja perante as pessoas com quem se relacionou, ou seja, perante ter-
ceiros.

O poluidor poderá reparar uma área degradada, por exemplo, e/ou indenizar os
prejudicados como uma forma de compensação pelos prejuízos.

Vale ressaltar que esse procedimento também possui a função de prevenir tais
danos posto que inibe, por meio de exemplos, potenciais degradações.

1.1.5 Princípio da Gestão Democrática

O princípio da gestão democrática do meio ambiente assegura ao cidadão o


direito à informação e a participação na elaboração das políticas públicas am-
bientais, de modo que a ele deve ser assegurado os mecanismos judiciais, le-
gislativos e administrativos que efetivam o princípio.

Esse princípio da gestão democrática diz respeito não apenas ao meio ambien-
te, mas a tudo o que for de interesse público.

Na verdade, a democracia participativa também é consagrada por diversos dis-


positivos da Constituição Federal, como o parágrafo úncio do art. 1º que dispõe
que o poder é exercido por meio de representantes eleitos ou diretamente pelo
povo.

Entretanto, no que diz respeito ao meio ambiente o princípio da gestão demo-


crática é ainda mais importante, visto que se trata de um direito difuso que em
regra não pertence a nenhuma pessoa ou grupo individualmente considerado.
A realidade tem mostrado que é praticamente impossível que o Poder Público
consiga acabar ou diminuir a degradação ambiental sem a participação da so-
ciedade civil.

O caput do art. 225 da Constituição Federal consagra o princípio da gestão de-


mocrática ao dispor que é dever do Poder Público e da coletividade defender e
preservar o meio ambiente.

A Política Nacional do Meio Ambiente está estruturada no pressuposto de que


a sociedade deve participar ativamente nas decisões e nos processos adminis-
trativos que possam dizer respeito ao meio ambiente.

É por isso que o inciso I do art. 2º da Lei nº 6.938/81 classifica o meio ambien-
te como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido
tendo em vista o uso coletivo.

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Os incisos VI, VII e VIII do art. 5º do Decreto nº 99.247/90 determinam a parti-
cipação da sociedade civil, por meio de entidades de classe, de organizações
não governamentais e de movimentos sociais no CONAMA, que é o órgão con-
sultivo e deliberativo do SISNAMA.

O art. 20 da Resolução nº 237/97 do CONAMA exige que para os entes federa-


tivos poderem exercer a competência licenciatória é necessário que tenham im-
plementado os Conselhos de Meio Ambiente com caráter deliberativo e a obri-
gatória participação da sociedade civil.

O art. 2º da Resolução nº 9/87 do CONAMA e o art. 3º da Resolução nº 237/97


do CONAMA preveem a realização de audiência pública nos processos admi-
nistrativos de licenciamento ambiental em que for necessário o estudo e o rela-
tório de impacto ambiental, caso alguma entidade civil, o Ministério Público ou
pelo menos cinquenta cidadãos o requeira.

O Estatuto da Cidade, ou Lei nº 10.257/2001, determina nos incisos II e XIII do


art. 2º que a política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimen-
to das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante a gestão
democrática por meio da participação da população e de associações repre-
sentativas dos vários segmentos da comunidade na formulação, execução e
acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano
e a audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos pro-
cessos de implantação de empreendimentos ou atividades com efeitos poten-
cialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou
a segurança da população, entre outras diretrizes.

O art. 43 da referida Lei determina que para garantir a gestão democrática da


cidade, deverão ser utilizados, entre outros instrumentos, os órgãos colegiados
de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal, os debates, audi-
ências e consultas públicas, as conferências sobre assuntos de interesse urba-
no, nos níveis nacional, estadual e municipal, e a iniciativa popular de projeto
de lei e de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano.

O Direito Ambiental surgiu em virtude da atuação dos movimentos sociais, sen-


do por isso a importância do princípio da gestão democrática, que se manifesta
por meio da informação e da participação.

A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento tam-


bém dispôs sobre o princípio da responsabilidade ao estabelecer no Princípio
10 que “A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a par-
ticipação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível na-
cional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio
ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações
acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a

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oportunidade de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e
estimular a conscientização e a participação popular, colocando as informações
à disposição de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judi-
ciais e administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação
de danos”.

De acordo com Paulo de Bessa Antunes, o princípio da gestão democrática


assegura a participação dos cidadãos na elaboração das políticas públicas de
meio ambiente e no acesso à informação dos órgãos administrativos de meio
ambiente e do Poder Público de uma forma geral em relação à questões am-
bientais.

O princípio da gestão democrática é também chamado de princípio democrá-


tico ou de princípio da participação e deve ser aplicado tanto em relação aos
três Poderes ou funções do Estado.

No que diz respeito ao Poder Executivo, esse princípio se manifesta por exem-
plo através da participação da sociedade civil nos Conselhos de Meio Ambiente
e do controle social em relação a processos e procedimentos administrativos
como o licenciamento ambiental e o estudo e relatório de impacto ambiental.

No que diz respeito ao Poder Legislativo, esse princípio se manifesta por exem-
plo através de iniciativas populares, plebiscitos e referendos de caráter ambien-
tal e da realização de audiências públicas que tenham o intuito de discutir pro-
jetos de lei relacionados ao meio ambiente.

No que diz respeito ao Poder Judiciário, esse princípio se manifesta por exem-
plo através da possibilidade dos cidadãos individualmente, por meio de ação
popular, e do Ministério Público, das organizações não governamentais, de sin-
dicatos e de movimentos sociais de uma forma geral, por meio de ação civil
pública ou de mandado de segurança coletivo, questionarem judicialmente as
ações ou omissões do Poder Público ou de particulares que possam repercutir
negativamente sobre o meio ambiente. Há doutrinadores que citam a informa-
ção e a educação ambiental como princípios do Direito Ambiental.

Os incisos VII e XI do art. 9º da Lei nº 6.938/81 estabelece o sistema nacio-


nal de informações sobre o meio ambiente e a garantia de prestação de infor-
mações relativas ao meio ambiente como instrumento da Política Nacional do
Meio Ambiente, dispondo inclusive que o Poder Público é obrigado a produzir
as informações quando elas forem inexistentes.

A segunda parte do inciso V do art. 4º determina que a Política Nacional do


Meio Ambiente visará “à divulgação de dados e informações ambientais e à for-
mação de uma consciência pública sobre a necessidade a necessidade de pre-
servação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico”.

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O § 3º do art. 6º dispõe que os órgãos administrativos de meio ambiente têm a
obrigação de fornecer os resultados das análises efetuadas e sua fundamenta-
ção, quando solicitados por pessoa legitimamente interessada.

O Constituição Federal também trata da informação em matéria ambiental ao


determinar genericamente no caput do art. 220 que “A manifestação do pensa-
mento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo
ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Consti-
tuição”.

No inciso II do § 3º do citado dispositivo existe uma referência direta à informa-


ção em matéria ambiental, quando se dispõe que compete à lei federal estabe-
lecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se
defenderem de programas ou programações de rádio e televisão bem como da
propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde
e ao meio ambiente.

Já a educação ambiental e a conscientização pública para a preservação do


meio ambiente está prevista expressamente como uma obrigação do estado
em relação a todos os níveis de ensino pelo inciso VI do § 1º do art. 225 da
Constituição Federal.

O inciso X do art. 2º da Lei nº 6.938/81 dispõe que um dos princípios da Políti-


ca Nacional do Meio Ambiente é a promoção de educação ambiental a todos os
níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la
para participação ativa na defesa do meio ambiente.

O inciso VII do art. 1º do Decreto nº 99.247/90 determina que na execução da


Política Nacional do Meio Ambiente cumpre ao Poder Público, nos seus dife-
rentes níveis de governo, orientar a educação, em todos os níveis, para a par-
ticipação ativa do cidadão e da comunidade na defesa do meio ambiente, cui-
dando para que os currículos escolares das diversas matérias obrigatórias con-
templem o estudo da ecologia.

A Lei nº 9.795/99 estabeleceu a Política Nacional de Educação Ambiental, defi-


nindo como educação ambiental no art. 1º “os processos por meio dos quais o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilida-
des, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente,
bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua susten-
tabilidade”.

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1.1.6 Princípio do Limite

Também voltado para a Administração Pública, cujo dever é fixar parâmetros


mínimos a serem observados em casos como emissões de partículas, ruídos,
sons, destinação final de resíduos sólidos, hospitalares e líquidos, dentre ou-
tros, visando sempre promover o desenvolvimento sustentável.

A Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento tam-


bém dispôs sobre o princípio da responsabilidade ao estabelecer no Princípio
3 que “O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que
sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de
meio ambiente das gerações presentes e futuras”.

O inciso V do § 1º do artigo 225 da Constituição Federal determina que para


assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado incumbe ao
Poder Público “controlar a produção, a comercialização e o emprego de técni-
cas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente”.

De acordo com Paulo de Bessa Antunes(p. 43), a manifestação mais


palpável da aplicação do princípio do limite ocorre com o estabelecimento
de padrões de qualidade ambiental concretizados na forma de limites de
emissões de partículas, de limites aceitáveis de presença de determinadas
substâncias na água etc.

Somente são permitidas as práticas e condutas cujos impactos ao meio am-


biente estejam compreendidos dentro de padrões previamente fixados pela le-
gislação ambiental e pela Administração Pública.

Esse controle ambiental se dá pela averiguação e acompanhamento do poten-


cial de geração de poluentes líquidos, de resíduos sólidos, de emissões atmos-
féricas, de ruídos e do potencial de riscos de explosões e de incêndios.

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Conclusão

O Poder Judiciário tem deixado de proteger efetivamente o meio ambiente por


causa do atrelamento excessivo ao positivismo jurídico e da falta de considera-
ção aos princípios jurídicos.

Entretanto, os princípios exercem uma função especialmente importante frente


às outras fontes do Direito porque, além de incidir como regra de aplicação do
Direito no caso prático, eles também influenciam na produção das demais fon-
tes do Direito.

É com base neles que são feitas as leis, a jurisprudência, a doutrina e os trata-
dos e convenções internacionais, posto que traduzem os valores mais essen-
ciais da Ciência Jurídica.

Os princípios possuem valor normativo e não somente valorativo, interpretativo


ou argumentativo, de maneira que se encontram hierarquicamente superiores a
qualquer regra.

Os princípios do Direito Ambiental servem para atestar a independência desse


ramo da Ciência Jurídica, já que é uma disciplina recente cuja autonomia cien-
tífica até há pouco tempo ainda era contestada.

No Direito Ambiental a aplicação dos princípios se torna ainda mais importante


por conta da enorme profusão legislativa na área, já que União, Estados, Distri-
to Federal e Municípios legislam a respeito com bastante intensidade.

Não existe consenso na doutrina a respeito do conteúdo, da quantidade e da


terminologia dos princípios do Direito Ambiental.

O princípio da prevenção determina que os danos ambientais devem ser pri-


mordialmente evitados, já que são de difícil ou de impossível reparação.

O princípio da precaução estabelece a vedação de intervenções no meio am-


biente, salvo se houver a certeza que as alterações não causaram reações ad-
versas, já que nem sempre a ciência pode oferecer à sociedade respostas con-
clusivas sobre a inocuidade de determinados procedimentos.

O princípio do poluidor-pagador estabelece que quem utiliza o recurso ambien-


tal deve suportar seus custos, sem que essa cobrança resulte na imposição
taxas abusivas, de maneira que nem Poder Público nem terceiros sofram com
tais custos.

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O princípio da responsabilidade faz com que os responsáveis pela degradação
ao meio ambiente sejam obrigados a arcar com a responsabilidade e com os
custos da reparação ou da compensação pelo dano causado.

O princípio da gestão democrática do meio ambiente assegura ao cidadão o


direito à informação e a participação na elaboração das políticas públicas am-
bientais, de modo que a ele deve ser assegurado os mecanismos judiciais, le-
gislativos e administrativos que efetivam o princípio.

O princípio do limite visa fixar parâmetros mínimos a serem observados em ca-


sos como emissões de partículas, ruídos, sons, destinação final de resíduos
sólidos, hospitalares e líquidos, dentre outros, visando sempre promover o de-
senvolvimento sustentável.

É preciso que o Poder Judiciário recorra efetivamente aos princípios jurídicos, e


em especial aos princípios do Direito Ambiental, com o objetivo de harmonizar
a legislação ambiental e de garantir o direito humano fundamental ao meio am-
biente ecologicamente equilibrado.

1.2.7 - Princípio do Direito Humano Fundamental ao Meio Ambiente Sadio.

A Constituição Federal veio com algumas inovações, em relação às Constitui-


ções brasileiras anteriores: a primeira foi a criação de um capítulo próprio em
relação ao meio ambiente, Capítulo VI do Título VIII; e, a mais importante das
inovações, a fruição de um meio ambiente saudável e ecologicamente equili-
brado à um direito fundamental, estendendo-o a um direito subjetivo da perso-
nalidade e criando dessa forma um campo para a construção de um sistema de
garantias da qualidade de vida dos cidadãos.

Apesar de haver um capítulo todo voltado ao meio ambiente, sendo ele com-
portado em um único artigo, 225, há diversos outros artigos e incisos que o
reconhecem como de vital importância para o conjunto de nossa sociedade,
seja porque são necessárias para a preservação de valores que não podem ser
mensurados economicamente, seja porque a defesa do meio ambiente é um
princípio constitucional que fundamenta a atividade econômica (Constituição
Federal, art. 170, VI). É importante salientar que tal capítulo não foi de intenção
dos parlamentares, mas, sim, resultado de uma emenda popular. Diz a impor-
tante norma constitucional:

“art. 225. todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre-
sentes e futuras gerações.” (grifo nosso)

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Ao analisar o caput deste artigo vemos a riqueza e abrangência que o legis-
lador conseguiu sintetizar em poucas palavras. Podemos concluir, a partir da
análise deste, que foi elevado o meio ambiente a um direito fundamental da
pessoa humana, podendo ser, assim, considerado uma extensão do art. 5° e
um importante marco na construção de uma sociedade democrática e partici-
pativa e socialmente solidária. É importante salientar que o direito ao meio am-
biente sadio não se limita apenas aos brasileiros ou estrangeiros residentes no
país, mas, sim, a todos que aqui estejam, mesmo que seja transitoriamente, a
pessoas coletivas e indeterminadas. Daí a natureza difusa e de caráter público
(pois é relativo a um interesse coletivo ou difuso ambiental). Ao criar para todos
um direito subjetivo a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, a CF/88
deu legitimidade para provocar a ação do Poder Público; ensejou limitações ad-
ministrativas e intervenções na propriedade. Ou seja: o que o constituinte pre-
tendeu foi constituir um bem jurídico próprio distinto daquele sobre o qual se
exerce o direito de propriedade (art. 1228 do Código Civil). Vemos, também,
que é dever jurídico de natureza objetiva (do Estado e da coletividade) a pro-
teção ambiental; tendo como titular desse direito as gerações presentes e futu-
ras, derivando daí o seu caráter intergeracional e dúplice.

A Constituição Federal, com o intuito de tornar efetivo o exercício do direito ao


meio ambiente sadio, estabeleceu uma gama de incumbências ao Poder Públi-
co, arroladas nos incisos I ao VII do §1° (“... incube ao poder público.”) do art.
referido, que constituem em direitos públicos subjetivos, exigíveis a qualquer
momento . Nesses incisos estão contidos os comandos para o legislador or-
dinário e para os administradores. Tais comandos são de natureza obrigatória
(obrigação de fazer) e não podem ser descurados pelos destinatários.

Um dos incisos mais importantes do §1° do referido artigo, é o IV, que trata do
estudo prévio de impacto ambiental, consolidando, desta forma, o princípio da
prevenção e o da precaução e o da publicidade ou informação. Tal princípio é
de plena importância, pois ele garante e obriga a realização de um relatório,
que deve ser bem elaborado, no intuito de avaliar os impactos sociais, econô-
micos e ambientais que a instalação da obra ou atividade virá causar àquela
região. Apesar da importância deste instituto, há severas críticas a serem feitas
ao mesmo. A principal delas é que este estudo só analisa a obra em destaque,
em sentido unitário, isolado. Então, caso haja outra obra da mesma magnitude
sendo feita na mesma região, haverá dois estudos onde se encontrará o relató-
rio de cada impacto que cada obra irá causar naquele local, mas sem levar em
consideração o impacto que a obra vizinha irá causar em consonância com a
construção avaliada. Não há uma sinergia entre estes estudos. Outra crítica a
ser feita é que, pelo fato de tal estudo ser patrocinado pelo empreendedor, mui-
tas vezes há favorecimento, ou desvio - se assim posso dizer -, de “verdades”
para que esse laudo seja aprovado pelo Poder Público.

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Os demais incisos do §1° dispõem:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo


ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fis-


calizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus


componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supres-
são permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que compro-
meta a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente


causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de im-
pacto ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos


e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio
ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a cons-


cientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que co-
loquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais a crueldade.

Já, no § 2º desse mesmo artigo, a Constituição impôs a todos que explorarem


recursos minerais a recuperação do meio ambiente degradado (efetivação do
princípio da responsabilidade), de acordo com a solução técnica exigida pelo
órgão público competente, na forma da lei; e no § 3º (novidade): introduziu a
possibilidade de sanções penais para as pessoas jurídicas: “As condutas e ati-
vidades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pesso-
as físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados.”. No §4º, a Constituição Federal
elenca a Floresta Amazônica Brasileira, Mata Atlântica, Serra do Mar, Pantanal
Mato-Grossense e Zona Costeira como patrimônios nacionais.

Como já foi falado anteriormente, apesar de haver um capítulo próprio do meio


ambiente, há diversas outras proteções ao mesmo, de forma esparsa, na nossa
Constituição Republicana, como:

Art. 5º, inc.LXXIII - legitimando qualquer cidadão para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado

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participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histó-
rico e cultural.

Art.23 - estabelecendo competência comum da União, dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios para:

III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico


e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueoló-
gicos;

IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de


outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas for-


mas;

VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condi-


ções habitacionais e de saneamento básico;

XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e


exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios.

Art. 24 - estabelecendo competência concorrente à União, aos Estados e ao


Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e


dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;

VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e di-


reitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

Art. 129 - Colocando dentre as funções institucionais do Ministério Público:

III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimô-
nio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coleti-
vos.

Art. 170 - Incluindo a defesa ao meio ambiente como um dos princípios da or-
dem econômica;

Art. 174 - Estabelecendo, em seu §3º, a necessidade de harmonização da ativi-

PÁGINA 48
dade garimpeira com a preservação do meio ambiente.

Art. 182 – Plano Diretor – política de desenvolvimento urbano.

Art. 200 - Integrando o sistema único de saúde com a proteção do meio am-
biente, nele compreendido o do trabalho.

Art.216 - Relacionando os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisa-


gístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico como patri-
mônio cultural brasileiro.

A Constituição garante como bens ambientais:

• as águas (integrando os bens da União/art.20,III, ou dos Estados/art.26,


I);
• as cavidades naturais subterrâneas (art.20, X); • a energia (art.22, IV);
• espaços territoriais protegidos (225, §1º, III).;
• a fauna (art.24, VI);
• a flora (art.23, VII);
• as florestas (art.23, VII);
• as ilhas (União/20,IV, Estados/26, II e III);
• a paisagem (art.216, V);
• o mar territorial (art.20, VI);
• as praias fluviais (art.20,III);
• as praias marítimas (art.20, IV);
• recursos naturais da plataforma continental (art.20, V);
• recursos naturais da zona econômica exclusiva (art.20, V);
• os sítios arqueológicos e pré-históricos (art.20, X);
• os terrenos de marinha e acrescidos (art.20, VII);
• os terrenos marginais (art.20, III).
• Obs: os bens ambientais possuem regime jurídico especial, diferente do
estabelecido no Código Civil.

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São atividades relacionadas com o meio ambiente (CF/88):

• a caça (art.24, VI);


• a educação (art.225, §1º, VI);
• o garimpo (art.174, §3º);
• a irrigação;
• a manipulação de material genético (art.225, II);
• a mineração (art.225, §2º);
• a atividade nuclear (art.21, XXIII).

PÁGINA 50
REFERÊNCIAS

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Juris, 2000.

ANTUNES, Paulo de Bessa. Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA: Co-


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2005.

BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 4ª ed.


São Paulo: Saraiva, 2002.

BENJAMIN, Antônio Herman de Vasconcellos (coord). Dano ambiental: preven-


ção, reparação e repressão. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993.

BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 7ª ed. Brasília: Unb, 1996, 


p. 159.

CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição.


Coimbra: Almedina, 1999.

CARRAZA, Roque Antonio. Curso de direito Constitucional tributário. 11 ed.


São Paulo: Malheiros, 1998.

COELHO, Ricardo. Improbidade administrativa ambiental. Recife: Bagaço,


2004, p. 50.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 4ª ed. São Paulo:


LTr, 2005.

DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. 2ª ed. São Paulo: Max Limo-
nad, 2001.

DESTEFENNI, Marcos. Direito penal e licenciamento ambiental. São Paulo:


Memória Jurídica, 2004.

FIORILLO, Celso Antonio Pachêco. Curso de direito ambiental brasileiro. 4ª ed.


São Paulo: Saraiva, 2003.

NOGUEIRA, Ana Carolina Casagrande. O conteúdo jurídico do princípio da


precaução no direito ambiental brasileiro. Estado de direito ambiental: tendên-
cias: aspectos constitucionais e diagnósticos. FERREIRA, Heline Sivini; LEITE,

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José Rubens Morato (orgs). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.

MACHADO, Paulo Affonso Leme Machado. Direito ambiental brasileiro. 9ª ed.


São Paulo: Malheiros, 2001.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 1980.

MILARÉ, Edis. Direito do ambiente. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2004.

MIRRA, Álvaro Luíz Valery. Principios Fundamentais do Direito Ambiental. Re-


vista de Direito Ambiental, nº 2, ano 1, abril-junho de 1996.

MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense


Universitária, 2002.

PIVA, Rui. Bem ambiental. São Paulo: Max Limonad, 2000.

ROCHA, Carmem Lúcia Antunes. Princípios constitucionais de direito am-


biental. Revista da Associação dos Juízes Federais do Brasil, ano 21 nº 74
(2º semestre de 2003).

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 3ª ed. São Paulo: Sarai-
va, 2005.

LEITURA COMPLEMENTAR SUGERIDA:

https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1049198/qual-a-diferenca-entre-principio-da-
-precaucao-e-principio-da-prevencao

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4CAPÍTULO
POLÍTICA NACIONAL
DO MEIO AMBIENTE

Identificar os diferentes aspectos da Política Nacional do Meio Ambiente.

Professor Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira

Objetivos de Aprendizagem:
Reconhecer as principais questões relativas a Política Nacional do Meio Ambien-
te

Plano de Estudo:
• Politica Nacional do Meio Ambiente
• Conceito;
• Objetivos;
• Princípios;
• Instrumentos;
• Sistema Nacional do Meio Ambiente;
• Objetivo e estrutura do SISNAMA;
• Considerações Finais.

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INTRODUÇÃO

Com a edição da Lei nº 6.938/81 o país passou a ter formalmente uma Política
Nacional do Meio Ambiente, uma espécie de marco legal para todas as políti-
cas públicas de meio ambiente a serem desenvolvidas pelos entes federativos.
Anteriormente a isso cada Estado ou Município tinha autonomia para eleger as
suas diretrizes políticas em relação ao meio ambiente de forma independente,
embora na prática poucos realmente demonstrassem interesse pela temática.

Porém, a partir desse momento começou a ocorrer uma integração e uma har-
monização dessas políticas tendo como norte os objetivos e as diretrizes esta-
belecidas na referida lei pela União. Um aspecto importante disso foi a criação
do Sistema Nacional do Meio Ambiente, um sistema administrativo de coorde-
nação de políticas públicas de meio ambiente envolvendo os três níveis da fe-
deração que tem como objetivo dar concretude à Política Nacional do Meio Am-
biente.

1. POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE.

1.1 Conceito

A Lei nº 6.938/81 dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e institui


o Sistema Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formação e
aplicação, e dá outras providências. Essa é a mais relevante norma ambiental
depois da Constituição Federal da 1988, pela qual foi recepcionada, visto que
traçou toda a sistemática das políticas públicas brasileiras para o meio ambien-
te.

Segundo Luís Paulo Sirvinskas1 a lei em questão definiu conceitos básicos


como o de meio ambiente, de degradação e de poluição e determinou os ob-
jetivos, diretrizes e instrumentos, além de ter adotado a teoria da responsabi-
lidade. De acordo com Ricardo Carneiro2, a política ambiental é a organização
da gestão estatal no que diz respeito ao controle dos recursos ambientais e à
determinação de instrumentos econômicos capazes de incentivar as ações pro-
dutivas ambientalmente corretas.

1 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. 3ª ed. São Paulo: Saraiva,
2005, p. 59.
2 CARNEIRO, Ricardo. Direito ambiental: uma abordagem econômica. Rio de
Janeiro: Forense, 2003, p. 98.

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Maria Cecília Junqueira Lustosa, Eugênio Miguel Canepa e Carlos Eduardo Fri-
ckmann Young afirmam o seguinte sobre a Política Nacional do Meio Ambiente:

O conjunto de metas e mecanismos que visam reduzir os impactos negativos


da ação antrópica – aqueles resultantes da ação humana – sobre o meio am-
biente. Como toda política, possui justificativa para sua existência, fundamenta-
ção teórica, metas e instrumentos, e prevê penalidades para aqueles que não
cumprem as normas estabelecidas. Interfere nas atividades dos agentes eco-
nômicos e, portanto, a maneira pela qual é estabelecida influencia as demais
políticas públicas, inclusive as políticas industriais e de comércio exterior3.

Sendo assim, por Política Nacional do Meio Ambiente se compreende as diretri-


zes gerais estabelecidas por lei que têm o objetivo de harmonizar e de integrar
as políticas públicas de meio ambiente dos entes federativos, tornando-as mais
efetivas e eficazes.

1.2 Objetivos

A Política Nacional do Meio Ambiente tem como objetivo tornar efetivo o direito
de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, princípio matriz contido
no caput do art. 225 da Constituição Federal. E por meio ambiente ecologica-
mente equilibrado se entende a qualidade ambiental propícia à vida da presen-
te e das futuras gerações.

O objetivo da Política Nacional do Meio Ambiente é viabilizar a compatibilização


do desenvolvimento socioeconômico com a utilização racional dos recursos
ambientais, fazendo com que a exploração do meio ambiente ocorra em condi-
ções propícias à vida e à qualidade de vida.

Na verdade, a Política Nacional do Meio Ambiente possui objetivo geral e ob-


jetivos específicos, estando o primeiro previsto no caput do art. 2º da Lei nº
6.938/81:

A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria


e recuperação da qualidade ambiental propicia à vida, visando assegurar, no
país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segu-
rança nacional e à proteção da dignidade da vida humana.

3 LUSTOSA, Maria Cecília Junqueira, CANÉPA, Eugênio Miguel e YOUNG,


Carlos Eduardo Frickmann. Política ambiental. MAY, Peter H., LUSTOSA, Maria Cecília
Junqueira e VINHA, Valéria da (orgs). Economia do meio ambiente: teoria e prática. Rio
de Janeiro, Elsevier, 2003, p. 135.

PÁGINA 55
Dessa maneira, o objetivo geral da Política Nacional do Meio Ambiente está di-
vidido em preservação, melhoramento e recuperação do meio ambiente. Pre-
servar é procurar manter o estado natural dos recursos naturais impedindo a
intervenção dos seres humanos. Significa perenizar, perpetua, deixar intocados
os recursos ambientais.

Melhorar é fazer com que a qualidade ambiental se torne progressivamente


melhor por meio da intervenção humana, realizando o manejo adequado das
espécies animais e vegetais e dos outros recursos ambientais. É a atribuição
ao meio ambiente de condições melhores do que ele apresenta.

Recuperar é buscar o status quo ante de uma área degradada por meio da in-
tervenção humana, a fim de fazer com que ela volte a ter as características
ambientais de antes. A recuperação é o objetivo mais difícil, em alguns casos
até impossível, de ser alcançado, tendo em vista as características próprias do
dano ambiental, sendo mais importante do que a punição de um degradador a
imposição da recuperação do que foi degradado quando isso for possível.

Por sua vez, os objetivos específicos estão disciplinados pela lei em


questão de uma forma bastante ampla no art. 4º da Lei em comenta:

Art. 4º – A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

I – à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preserva-


ção da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;

II – à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade


e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

III – ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de nor-


mas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

IV – ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnológicas nacionais orientadas


para o uso racional de recursos ambientais;

V – à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de da-


dos e informações ambientais e à formação de uma consciência publica sobre
a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológi-
co;

VI – à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à utiliza-


ção racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do
equilíbrio ecológico propicio à vida;

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VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos causados, e ao usuário da contribuição pela utilização de
recursos ambientais com fins econômicos.

Tanto o objetivo geral quanto os objetivos específicos conduzem à concepção


de que a Política Nacional do Meio Ambiente, ao tentar harmonizar a defesa do
meio ambiente com o desenvolvimento econômico e com a justiça social, tem
como primeira finalidade maior a promoção do desenvolvimento sustentável e
como última finalidade maior a efetivação do princípio da dignidade da pessoa
humana.

1.3 Princípios da Política Nacional do Meio Ambiente

Os princípios da Política Nacional do Meio Ambiente não coincidem exatamen-


te com os princípios do Direito Ambiental, embora todos guardem coerência en-
tre si e tenham a mesma finalidade, visto que por razões de estilo e metodolo-
gia a Ciência Jurídica e um texto legal se expressam de maneira diferente.

O art. 2º da Lei nº 6.938/81, após estabelecer o objetivo geral da Política Na-


cional do Meio Ambiente, define o que chama de princípios norteadores das
ações:

I. ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, consideran-


do o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente
assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;
II. racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;
III. planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;
IV. proteção dos ecossistemas, com a preservação das áreas representati-
vas;
V. controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluido-
ras;
VI. incentivo ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso
racional e a proteção dos recursos ambientais;
VII. acompanhamento do estado de qualidade ambiental;
VIII. recuperação de áreas degradadas;
IX. proteção de áreas ameaçadas de degradação;
X. educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação
da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defe-
sa do meio ambiente.

PÁGINA 57
A enunciação de princípios é normalmente construída em forma de oração, em
que o verbo indica a natureza e o rumo das ações ao passo que as metas são
substantivas, nem todos os princípios do Direito Ambiental estão explicitamente
presente na principiologia determinada pela Política Nacional do Meio Ambien-
te.

Na verdade, a aplicabilidade dos princípios do Direito Ambiental é muito mais


ampla do que a dos princípios da Política Nacional do Meio Ambiente, posto
que estes são uma decorrência daqueles. Tanto é que a redação da maioria
dos incisos do artigo citado mais do que princípios sugere um elenco de ações
que melhor condizem com a característica de meta do que de princípios pro-
priamente ditos.

1.4 Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente

Os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente são aqueles mecanis-


mos utilizados pela Administração Pública ambiental com o intuito de atingir os
objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente.

Os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente encontram fundamen-


to constitucional no art. 225 da Constituição Federal, especialmente no § 1º e
seus incisos.

Os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente estão elencados pela


Lei nº 6.938/81:

Art. 9º – São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

I. o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;


II. o zoneamento ambiental;
III. a avaliação de impactos ambientais;
IV. o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente po-
luidoras;
V. os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou
absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambien-
tal;
VI. a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder
Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção am-
biental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;
VII. o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
VIII. o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa Am-

PÁGINA 58
biental;
IX. as penalidades disciplinares ou compensatórias não cumprimento das
medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambien-
tal.
X. a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divul-
gado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis – IBAMA;
XI. a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,
obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;
XII. o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/
ou utilizadoras dos recursos ambientais.

Os padrões de qualidade são as normas estabelecidas pela legislação ambien-


tal e pelos órgãos administrativos de meio ambiente no que se refere aos níveis
permitidos de poluição do ar, da água, do solo e dos ruídos. Os padrões de
qualidade ambiental fornecem os valores máximos de lançamento de poluentes
permitidos.

O estabelecimento de zoneamento urbanístico ou ambiental é comumente fei-


to por meio do Plano Diretor ou de Códigos Urbanísticos Municipais, ficando
na maioria das vezes a cargo dos Municípios, embora os Estados e a União
também tenham competência para estabelecer algum tipo de zoneamento. O
zoneamento é uma delimitação de áreas em que um determinado espaço terri-
torial é dividido em zonas de características comuns e com base nesta divisão
são estabelecidas as áreas previstas nos projetos de expansão econômica ou
urbana.

A avaliação de impacto ambiental é um instrumento de defesa do meio am-


biente, constituído por um conjunto de procedimentos técnicos e administrati-
vos que visam à realização da análise sistemática dos impactos ambientais da
instalação ou operação de uma atividade e suas diversas alternativas, com a
finalidade de embasar as decisões quanto ao seu licenciamento. É por meio da
avaliação de impactos ambientais que os impactos ambientais de uma determi-
nada atividade são levantados, de maneira a se apontar a viabilidade ambiental
da atividade ou não, visando a aumentar os impactos positivos e a diminuir os
impactos negativos.

O licenciamento ambiental é o processo administrativo complexo que tramita


perante a instância administrativa responsável pela gestão ambiental, seja no
âmbito federal, estadual ou municipal, e que tem como objetivo assegurar a
qualidade de vida da população por meio de um controle prévio e de um con-
tinuado acompanhamento das atividades humanas capazes de gerar impactos
sobre o meio ambiente.

PÁGINA 59
O licenciamento ambiental é o procedimento administrativo que tramita junto
aos órgãos ou entidades ambientais competentes e que visa a determinar as
condições e exigências para o exercício de uma atividade potencial ou efetiva-
mente causadora de impactos ao meio ambiente.

Alguns instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, embora não este-


jam elencados pela Lei nº 6.938/81, são de importância imensa, como é o caso
do Fundo Nacional de Meio Ambiente cirado pela Lei nº 7.797/89, já que se tra-
ta de um agente financiador de projetos ambientais.

As leis estaduais e municipais podem conter também indicações de instrumen-


tos para a implementação da Política Nacional do Meio Ambiente, com as ne-
cessárias adaptações à realidade de cada ente administrativo.

Os instrumentos estão alocados em três grupos distintos. O primeiro é o dos


instrumentos de intervenção ambiental, que são os mecanismos condicionado-
res das condutas e atividades relacionadas ao meio ambiente ( incisos I, II, III,
IV e VI do art. 9º da citada Lei).

O segundo é o dos instrumentos de controle ambiental, que são as medidas


tomadas pelo Poder Público no sentido de verificar se pessoas públicas ou par-
ticulares se adequaram às normas e padrões de qualidade ambiental, e que
podem ser anteriores, simultâneas ou posteriores à ação em questão (incisos
VII, VIII, X e IV do art. 9º da lei citada. Por fim, o terceiro é o dos instrumentos
de controle repressivo, que são as medidas sancionatórias aplicáveis à
pessoa física ou jurídica (inciso IX da Lei Citada).

1.5 Sistema Nacional do Meio Ambiente

De acordo com o caput do art. 6º da Lei nº 6.938/81, o Sistema Nacional do


Meio Ambiente é o conjunto de órgãos e entidades da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios e de fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental.

O SISNAMA é de fato e de direito uma estrutura político-administrativa


gover-namental aberta à participação de instituições não-governamentais
por meio dos canais competentes, constituindo na verdade o grande
arcabouço institucional da gestão ambiental no Brasil.

Pode ainda ser definido como conjunto articulado de órgãos, entidades, normas
e práticas da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Mu-
nicípios e de fundações instituídas pelo Poder Público sob a coordenação do
CONAMA.

PÁGINA 60
E também o SISNAMA é o conjunto de órgãos e instituições encarregados da
proteção ao meio ambiente nos níveis federal, estadual e distrital e municipal,
conforme definido em lei. O Sistema Nacional do Meio Ambiente representa a
articulação dos órgãos e entidades ambientais em todas as esferas da adminis-
tração pública, com o objetivo de trabalhar as políticas públicas ambientais de
uma maneira conjunta.

O SISNAMA está situado no âmbito do Poder Executivo da mesma maneira


que os demais sistemas administrativos, como o Sistema Nacional de Edu-
cação, o Sistema Nacional de Segurança e o Sistema Nacional de Defesa do
Consumidor. A consideração de um sistema envolve um caráter de todo e neste
reconhecimento podem auxiliar a: a) identificação de relação entre as partes
componentes, b) a localização de um padrão que rege as conexões encontra-
das e c) encarando-se o todo com a percepção de uma finalidade determinada.

1.6 Objetivo e Estrutura do Sistema Nacional do Meio Ambiente

O objetivo do SISNAMA é tornar realidade o direito ao meio ambiente ecologi-


camente equilibrado, conforme está previsto na Constituição Federal e nas nor-
mas infraconstitucionais nas diversas esferas da federação, é proteger o meio
ambiente e melhorar a qualidade de vida por meio da coordenação dos órgãos
e entidades públicas.

O SISNAMA é o conjunto de instituições públicas que atuam na defesa e na


gestão da qualidade ambiental e dos órgãos públicos cuja atuação pode afetar
diretamente o meio ambiente, e é constituído por uma rede de agências institui-
ções e órgãos ambientais.

O Sistema Nacional do Meio Ambiente é o conjunto de órgãos e entidades da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de fundações insti-
tuídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade
ambiental.

O SISNAMA é composto pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do


Distrito Federal, dos Municípios e pelas Fundações instituídas pelo Poder Pú-
blico, que têm o objetivo de proteger o meio ambiente e a qualidade de vida da
sociedade.

A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente estruturou o Sistema Nacional do


Meio Ambiente com os seguintes órgãos formadores:

Art. 3º. O Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), constituído pelos ór-
gãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e
pelas fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e

PÁGINA 61
melhoria da qualidade ambiental, tem a seguinte estrutura:

I. Órgão Superior: o Conselho de Governo;


II. Órgão Consultivo e Deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA);
III. Órgão Central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da Repú-
blica (SEMAM/PR);
IV. Órgão Executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA);
V. Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades da Administração Pública
Federal direta e indireta, as fundações instituídas pelo Poder Público
cujas atividades estejam associadas às de proteção da qualidade am-
biental ou àquelas de disciplinamento do uso de recursos ambientais,
bem assim os órgãos e entidades estaduais responsáveis pela execução
de programas e projetos e pelo controle e fiscalização de atividades ca-
pazes de provocar a degradação ambiental;
VI. Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo
controle e fiscalização das atividades referidas no inciso anterior, nas
suas respectivas jurisdições.

Estão fora do Sisnama as pessoas jurídicas que não fazem parte da adminis-
tração pública, a exemplo das associações e das fundações particulares previs-
tas no art. 20 e 24 do Código Civil.

Contudo, o fato de na composição dos conselhos ambientais ser obrigatória a


participação da sociedade civil, como reza o art. 20 da Resolução 237/97 do
CONAMA, assim como na comissão gestora de parte dos fundos ambientais,
além da menção no art. 225 da Constituição Federal ao dever da coletividade
de manter o meio ambiente ecologicamente equilibrado, serve para reforçar a
participação da sociedade civil na Política Nacional do Meio Ambiente e no Sis-
tema Nacional do Meio Ambiente, especialmente por meio de organizações não
governamentais.

O Sistema Nacional do Meio Ambiente é uma instituição sem personalidade ju-


rídica, e não um instituto jurídico ou legal, que possui atribuições que são exe-
cutadas por meio de órgãos, entidades e instituições que o integram. A ideia é
que do Ministério do Meio Ambiente às secretarias estaduais e municipais de
meio ambiente, o trabalho siga os mesmos princípios, finalidade e procedimen-
tos.

PÁGINA 62
2. Considerações Finais

Por Política Nacional do Meio Ambiente se deve compreender as diretrizes ge-


rais estabelecidas por lei que têm o objetivo de harmonizar e de integrar as po-
líticas públicas de meio ambiente dos entes federativos, tornando-as mais efeti-
vas e eficazes.

Tanto o objetivo geral quanto os objetivos específicos conduzem à concepção


de que a Política Nacional do Meio Ambiente, ao tentar harmonizar a defesa do
meio ambiente com o desenvolvimento econômico e com a justiça social, tem
como primeira finalidade maior a promoção do desenvolvimento sustentável e
como última finalidade maior a efetivação do princípio da dignidade da pessoa
humana.

A aplicabilidade dos princípios do Direito Ambiental é muito mais ampla do que


a dos princípios da Política Nacional do Meio Ambiente, posto que estes são
uma decorrência daqueles, e a redação da maioria dos incisos do art. 2º da
Lei nº 6.938/81 mais do que princípios sugere um elenco de ações que melhor
condizem com a característica de meta do que de princípios propriamente di-
tos.

Os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente são aqueles mecanis-


mos utilizados pela Administração Pública ambiental com o intuito de atingir os
objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente.

De acordo com o caput do art. 6º da Lei nº 6.938/81, o Sistema Nacional do


Meio Ambiente é o conjunto de órgãos e entidades da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios e de fundações instituídas pelo Poder Público,
responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental.

PÁGINA 63
REFERÊNCIAS
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COELHO, Ricardo. Improbidade administrativa ambiental. Recife: Bagaço,


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PÁGINA 65
5CAPÍTULO
INSTRUMENTOS DA
POLÍTICA NACIONAL
DO MEIO AMBIENTE

Compreender o art. 9º da Lei 6.938/81 que descreve os Instrumentos da Política


Nacional do Meio Ambiente.

Professor Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira

Objetivos de Aprendizagem:
• descrever os principais instrumentos da política ambiental brasileira;

Plano de Estudo:
• Conceito de Meio Ambiente;
• Previsão Legal;
• Classificação do Meio Ambiente;
• Principais Características dos bens ambientais.

PÁGINA 66
INTRODUÇÃO

Os Instrumentos da PNMA, estão elencados no artigo 9º da Lei n.º 6.938/81.


São mecanismos utilizados pela Administração Pública para que os objetivos
da política nacional sejam alcançados. Foram estabelecidos por meio de Re-
soluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

Dos Instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente mencionados no ar-


tigo  9º da Lei n.º 6.938/81 e definidos nas Resoluções do CONAMA, é im-
portante discorrer com mais detalhes sobre os Padrões de Qualidade, o Zo-
neamento Ambiental, a Avaliação de Impacto Ambiental, Estudo e Relatório
de Impacto Ambiental, o Licenciamento Ambiental e a Auditoria Ambiental, em
que se pese não estar prevista na Política Nacional, é instrumento de aferição
financeira em relação ao controle ambiental.

1. INSTRUMENTOS DA POLITICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE.

1.1 Definição

Os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente são aqueles mecanis-


mos utilizados pela Administração Pública ambiental com o intuito de atingir os
objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente.

Os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente encontram fundamen-


to constitucional no art. 225 da Constituição Federal, especialmente no § 1º
e seus incisos. Os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente estão
elencados pela Lei nº 6.938/81:

Art. 9º – São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

I – o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

II – o zoneamento ambiental;

III – a avaliação de impactos ambientais;

IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente


poluidoras;

V – os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação


ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade am-
biental;

VI – a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Po-

PÁGINA 67
der Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção
ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;

VII – o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;

VIII – o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa


Ambiental;

IX – as penalidades disciplinares ou compensatórias não cumprimento


das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação am-
biental;

X – a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser di-


vulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recur-
sos Naturais Renováveis – IBAMA;

XI – a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,


obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;

XII – o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluido-


ras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.

Os padrões de qualidade são as normas estabelecidas pela legislação ambien-


tal e pelos órgãos administrativos de meio ambiente no que se refere aos níveis
permitidos de poluição do ar, da água, do solo e dos ruídos.

Esses padrões de qualidade ambiental fornecem os valores máximos de lan-


çamento de poluentes permitidos. O estabelecimento de zoneamento urbanís-
tico ou ambiental é comumente feito por meio do Plano Diretor ou de Códigos
Urbanísticos Municipais, ficando na maioria das vezes a cargo dos Municípios,
embora os Estados e a União também tenham competência para estabelecer
algum tipo de zoneamento.

O zoneamento é uma delimitação de áreas em que um determinado espaço


territorial é dividido em zonas de características comuns e com base nesta divi-
são são estabelecidas as áreas previstas nos projetos de expansão econômica
ou urbana.

A avaliação de impacto ambiental é um instrumento de defesa do meio ambien-


te, constituído por um conjunto de procedimentos técnicos e administrativos
que visam à realização da análise sistemática dos impactos ambientais da ins-
talação ou operação de uma atividade e suas diversas alternativas, com a fina-
lidade de embasar as decisões quanto ao seu licenciamento.

PÁGINA 68
É por meio da avaliação de impactos ambientais que os impactos ambientais
de uma determinada atividade são levantados, de maneira a se apontar a viabi-
lidade ambiental da atividade ou não, visando a aumentar os impactos positivos
e a diminuir os impactos negativos.

O licenciamento ambiental é o processo administrativo complexo que tramita


perante a instância administrativa responsável pela gestão ambiental, seja no
âmbito federal, estadual ou municipal, e que tem como objetivo assegurar a
qualidade de vida da população por meio de um controle prévio e de um con-
tinuado acompanhamento das atividades humanas capazes de gerar impactos
sobre o meio ambiente.

É portanto, o procedimento administrativo que tramita junto aos órgãos ou enti-


dades ambientais competentes e que visa a determinar as condições e exigên-
cias para o exercício de uma atividade potencial ou efetivamente causadora de
impactos ao meio ambiente.

Alguns instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, embora não este-


jam elencados pela Lei nº 6.938/81, são de importância imensa, como é o caso
do Fundo Nacional de Meio Ambiente criado pela Lei nº 7.797/89, já que se tra-
ta de um agente financiador de projetos ambientais.

Nessa ordem de ideias ressalta-se que as leis estaduais e municipais podem


conter também indicações de instrumentos para a implementação da Política
Nacional do Meio Ambiente, com as necessárias adaptações à realidade de
cada ente administrativo.

Para José Afonso da Silva1 esses instrumentos estão alocados em três grupos
distintos. O primeiro é o dos instrumentos de intervenção ambiental, que são os
mecanismos condicionadores das condutas e atividades relacionadas ao meio
ambiente ( incisos I, II, III, IV e VI do art. 9º da citada Lei). O segundo é o dos
instrumentos de controle ambiental, que são as medidas tomadas pelo Poder
Público no sentido de verificar se pessoas públicas ou particulares se adequa-
ram às normas e padrões de qualidade ambiental, e que podem ser anteriores,
simultâneas ou posteriores à ação em questão (incisos VII, VIII, X e IV do art.
9º da lei citada). Por fim, o terceiro é o dos instrumentos de controle repressivo,
que são as medidas sancionatórias aplicáveis à pessoa física ou jurídica (inciso
IX da Lei citada). O termo meio ambiente tem sido dito com muita frequência
nos últimos tempos em reportagens, na internet enfim em todos os meios de
comunicação.

1 SILVA, José Afonso da. Direito constitucional ambiental. 4ª ed. São Paulo:
Forense, 1995, p. 216/217.

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1.1.1 Espécies de Instrumentos

1.1.1.1 Padrões de qualidade ambiental

Entre os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, estão os Pa-


drões de Qualidade Ambiental (artigo 9º, I), que envolve a gestão dos com-
ponentes do meio ambiente, que são a qualidade do ar, das águas e dos pa-
drões de ruído.

A Resolução do CONAMA n.º 5 de 1989, criou o Programa Nacional de Con-


trole de Qualidade do Ar (PRONAR), que estabelece os limites de poluentes
no ar atmosférico, para proteção à saúde. A Resolução n.º 3  de 1990 define
poluente como qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em
quantidade de concentração que possam afetar a saúde.

Em relação às águas, a Resolução n.º 357 de 2005, classifica as águas em:


doce, salgada e salina. Esta classificação tem por objetivo dar destinação ao
uso da água fixando os critérios de uso, que são estabelecidos pelo Conselho
Nacional de Recursos Hídricos. Quanto à qualidade dos ruídos, a Resolução
n.º 1 de 1990 do CONAMA, deu validade à NBR n.º 10.152 da ABNT, que ava-
lia a intensidade dos ruídos em áreas habitadas, onde deverá ser obedecido o
interesse à saúde e ao sossego público.

1.1.1.2 Zoneamento ambiental

A intervenção estatal no domínio econômico procura organizar a relação es-


paço-produção, regulando recursos, interferindo nas atividades, incentivando
condutas, para possibilitar o uso ordenado do território. O zoneamento am-
biental (artigo 9º, II), é fonte vigorosa do Poder Estatal.

Assim o define José Afonso da Silva: “O zoneamento é instrumento jurídico de


ordenação do uso e ocupação do solo. Em um primeiro sentido o zoneamento
consiste na repartição do território municipal à vista da destinação da terra e
do uso do solo, definindo, no primeiro caso, a qualificação do solo em urba-
no, de expansão urbana, urbanizável e rural; e no segundo dividindo o terri-
tório do Município em zonas de uso. Foi sempre considerado, nesta segunda
acepção, como um dos principais instrumentos do planejamento urbanístico
municipal, configurando um Plano Urbanístico Especial. Foi neste último sen-
tido, mais tipicamente de Zoneamento Urbano, que o definimos, de outra feita,
como um procedimento urbanístico destinado a fixar os usos adequados para
as diversas áreas do solo municipal.”

PÁGINA 70
O zoneamento ambiental, também é previsto no Estatuto das Cidades, Lei n.º
10.257 de 10 de julho de 2001, artigo 4º, inciso III, alínea c, com a finalidade
de contribuir com a sustentabilidade dos municípios, desde que seja utilizado
com eficácia, buscando a ordenação do uso do solo, evitando seu uso inade-
quado e impedindo a poluição e degradação das áreas de relevância para o
Meio Ambiente.

No artigo 30 da Constituição Federal de 1988, consta que, cabe ao Municí-


pio promover o adequado ordenamento territorial exercendo a tarefa quanto
ao uso e ocupação do solo. Desta forma, há ainda, outro instrumento para
sua utilização que é o Plano Diretor (artigo 182, parágrafos 1º e 2º da C.F.),
que consiste em lei municipal de diretrizes de ocupação da cidade, onde deve
constar segundo suas características físicas e vocações, as regras básicas
que determinem o que é permitido e o que não é em cada parte de seu terri-
tório. É processo de discussão entre a sociedade e a Prefeitura, devendo ser
aprovado pela Câmara dos Vereadores e sancionado pelo prefeito.

Verifica-se que há modalidades de zoneamento, o urbano, que consiste no


conjunto de normas legais que configuram o direito de propriedade e o direi-
to de construir, conformando os princípios da função social, mediante imposi-
ções gerais à faculdade de uso e de edificações.

A espécie zoneamento industrial é aquela em que as zonas destinadas à ins-


talação de indústrias cujos resíduos sólidos, líquidos e gasosos; ruídos, vibra-
ções, emanações e radiações possam causar perigo à saúde humana, mes-
mo que amenizados por emprego de controle e tratamento de efluentes. Esta
regulamentação encontra-se na Lei n.º 6.803/80 de 02 de julho de 1980.

Ainda, previsto dentre os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente,


artigo 9º, II, está o zoneamento ecológico-econômico, regulamentado pelo De-
creto n.º 4.297 de 10 de julho de 2002, que estatui em seu artigo 2º: “instru-
mento de organização do território a ser obrigatoriamente seguido na implan-
tação de planos, obras e atividades públicas e privadas, estabelece medidas
e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade ambien-
tal, dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, garan-
tindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da
população”. A finalidade precípua deste instrumento é a de assegurar a quali-
dade ambiental dos recursos hídricos e do solo e da conservação da biodiver-
sidade, vinculando as decisões dos agentes públicos e privados que de qual-
quer forma utilizem esses recursos. Desta forma a elaboração e execução do
zoneamento ecológico-econômico (ZEE), se tiverem por objetivo bioma de pa-
trimônio nacional que não deva ser fragmentado, deve ser de competência do
Poder Público federal.

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1.1.1.3 Avaliação de impactos ambientais (A.I.A.)

Como instrumento da PNMA, o AIA tem caráter preventivo para assegurar que
um determinado projeto possível de causar danos ambientais seja analisado,
levando-se em consideração as probabilidades de causar impactos ao meio
ambiente e que o potencial dano seja levado em consideração para o proces-
so de aprovação de licença ambiental. Os procedimentos devem garantir a
adoção de medidas de proteção em caso de aprovação para implantação do
empreendimento.

A Resolução do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) n.º 001/86,


define impacto ambiental: “Qualquer alteração das propriedades físicas, quí-
micas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria
ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente,
afetem: (I) a saúde, a segurança e o bem-estar da população; (II) as ativida-
des sociais e econômicas; (III) a biota; (IV) as condições estéticas e sanitárias
do meio ambiente; (V) a qualidade dos recursos ambientais.”

Muitos projetos são propostos para ambientes com diversidades que com-
põem vários significados para pessoas e realidades as mais diversas. Nes-
te sentido é necessário que haja uma avaliação prévia das condições deste
ambiente, principalmente para determinar quais os impactos ambientais que
o empreendimento irá causar. Cada área possui suas características próprias,
sendo necessário verificar as condições do ambiente natural, ainda avaliar o
ambiente social em sua estrutura material constituída pelo homem e pelos sis-
temas sociais em seu redor.

Para haver desenvolvimento socioeconômico e qualidade de vida é necessá-


rio avaliar, planejar e ainda, obrigar-se à manutenção do ambiente que será
utilizado por determinado empreendimento.

Avaliação de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental previstos


no artigo 9º, inciso III, estão definidos na Resolução CONAMA n.º 237, artigo
1º, inciso III:

“Art. 1º Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições: [...]

III. Estudos Ambientais: são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos
ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de
uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a aná-
lise de licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de
controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano
de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de
risco.[...]

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Art. 3º A licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas
efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio de-
penderá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de  im-
pacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, ga-
rantida a realização de audiências públicas, quando couber, de acordo com a
regulamentação”.

Esta avaliação tem por escopo verificar preliminarmente por meio de estudo
técnico, a probabilidade de existência de algum risco potencialmente degra-
dante ao Meio Ambiente, o que poderá impedir ou estabelecer novas regras
ao empreendimento que se pretende viabilizar.

1.1.1.4 Estudo de impacto ambiental (EIA) e relatório de impacto am-


biental (RIMA)

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) foi instituído dentro da Política Nacio-


nal do Meio Ambiente, por meio da Resolução CONAMA, n.º 001/86 de 23 de
janeiro de 1986. É documento técnico, onde são avaliadas as consequências
para o ambiente decorrentes de um determinado projeto. Nele encontram-se
identificados e avaliados de forma imparcial e técnica os impactos que um de-
terminado projeto poderá causar no ambiente, assim como apresentar medi-
das para minimizar os possíveis impactos.

O estudo prévio de impacto ambiental (EPIA) é um dos instrumentos da polí-


tica nacional do meio ambiente, tão importante quanto o zoneamento para a
proteção do ambiente. É um instrumento administrativo preventivo. Por tal ra-
zão é que foi elevado a nível constitucional (art. 225, § 1º, IV, da CF). Incum-
be, pois, ao Poder Público exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio am-
biente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade. Assim,
o procedimento de licenciamento ambiental deverá ser precedido do estudo
prévio de impacto ambiental (EPIA) e do seu respectivo relatório de impacto
ambiental (RIMA). Exigir-se-á o EPIA quando a atividade for potencialmente
causadora de significativa degradação ambiental. Entende-se por significativa
degradação ambiental toda modificação ou alteração substancial e negativa
do meio ambiente, causando prejuízo extenso à flora, à fauna, às águas, ao
ar e à saúde humana.

O objetivo de se estudar os impactos é o de avaliar as consequências das


ações, para prevenir danos que o ambiente poderia sofrer devido à execução
dos projetos. Está previsto no artigo 225, § 1º, inciso IV da Constituição Fede-
ral. Deve atender ao que exige a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente,
que estão elencados no artigo 5º da Resolução CONAMA n.º 001/86:

PÁGINA 73
“Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender a legislação, em
especial os princípios e objetivos expressos da Lei de Política Nacional do
Meio Ambiente, obedecerá as seguintes diretrizes gerais:

I – Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto,


confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto;

II – Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas


fases de implantação e operação da atividade;

III – Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada


pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em
todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza;

IV – Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em im-


plantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade.”

Havendo qualquer interesse peculiar local, o Poder Público poderá comple-


mentar com as questões pertinentes. O estudo exige ainda, visão multidiscipli-
nar, com a finalidade de avaliar todos os aspectos que envolvam a ação.

Como modalidade de avaliação ambiental o EIA é considerado um dos mais


notáveis instrumentos de desenvolvimento econômico-social, com a preserva-
ção da qualidade ambiental.

Trata-se de um procedimento complexo que deve se tornar público e envol-


ve vários entes, entre eles, o órgão público ambiental, o empreendedor que
pretende exercer a atividade ou obra, a equipe técnica multidisciplinar e os
interessados, que são as entidades ambientalistas, eventuais vítimas, enfim,
qualquer cidadão.

Todas essas exigências para o EIA, são de suma importância e devem fazer
parte do Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), para que não sejam levanta-
das possíveis nulidades.

O RIMA deverá ser divulgado, apresentando as conclusões para que sejam


discutidas junto à população em audiência pública (artigo 16 da Resolução
CONAMA 237/97), que permite o esclarecimento de dúvidas e a apresentação
de opiniões da sociedade, principalmente as pessoas do lugar afetado pelo
empreendimento.

A partir desse momento, o órgão ambiental fará sua manifestação a respeito


da atividade e de suas implicações, positivas ou não, e logo a seguir tomará a
decisão da emissão ou não da licença ambiental.

PÁGINA 74
É necessário ressaltar que esse instrumento tem como princípios o da pre-
venção e da precaução, não tendo por finalidade impedir o desenvolvimento
de atividades econômicas e sociais, mas adequar o crescimento à preserva-
ção ambiental. Assim, é relevante sua importância, pois requer atuação con-
junta do Poder Público, da sociedade e da comunidade científica, com a finali-
dade de se harmonizarem em um objetivo comum, o de impulsionar o desen-
volvimento social e econômico à preservação do meio ambiente.

É necessário dizer que o deferimento da licença ambiental, será possível


mesmo que o EIA seja desfavorável. Fica caracterizada, com esta possibili-
dade, a discricionariedade da administração pública para conceder ou não a
licença ambiental. Neste caso, havendo algum dano ao meio ambiente, e, no
entanto, se a atividade contribui para o desenvolvimento socioeconômico, é
possível que o Poder Público autorize a atividade, desde que fundamente sua
decisão.

A Constituição Federal foi explícita no sentido de que as pessoas jurídicas de


Direito público e as de Direito privado prestadoras de serviços públicos res-
ponderão pelos danos que seus agentes nessa qualidade causarem a tercei-
ros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo
ou culpa” (art. 38, § 6º).

A Administração Pública ao conceder uma licença ambiental, mesmo diante


de pontos desfavoráveis apontados pelo EIA, não poderá deixar de considerar
os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiên-
cia que a norteiam e, ainda, a responsabilidade objetiva pelos danos que sua
decisão vier a causar.

1.1.1.5 Licenciamento ambiental

O Licenciamento Ambiental já havia sido previsto na Lei n.º 6.938/81, em seu


artigo  9º, inciso IV, como um dos Instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente. A Resolução CONAMA 237/97, definiu que o órgão do SISNAMA
é que verificará quando da necessidade das licenças ambientais específicas
de acordo com a natureza, características e peculiaridades das atividades ou
empreendimentos a serem realizados, que tenham potencial para interferir no
meio ambiente.

A própria Resolução n.º 237/97, traz em seu texto a definição de Licenciamen-


to Ambiental:

PÁGINA 75
“Art. 1º - Para efeitos desta Resolução são adotadas as seguintes definições:

I – Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual ao órgão


ambiental compete licença e localização, instalação, ampliação e a operação
de empreendimentos e atividades utilizadora de recursos ambientais, consi-
deradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer
forma possam causar degradação ambiental, considerando as disposições le-
gais e regulares e as normas técnicas aplicáveis ao caso”.

O  texto Constitucional brasileiro outorga o exercício livre de atividades eco-


nômicas, logo o Poder Público deverá intervir quando embasado por lei que
determine essa intervenção, pois, a atividade econômica não poderá ser sim-
plesmente cerceada. Quando se entrelaçam, desenvolvimento econômico e
meio ambiente deve haver a intervenção, tendo em vista todo o estudo e a
constatação de que o meio ambiente não é um bem inesgotável, é passível
de ser exaurido. Esta verdade absoluta é vislumbrada por quase todo o mun-
do.

O Licenciamento Ambiental é ato complexo que envolve vários agentes e


deve ser precedido do EIA/RIMA, que constatará a significância do impacto
que será causado pelo empreendimento.

Na Resolução CONAMA, constam os tipos de Licenças Ambientais, que são:


Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO).

Estabelece ainda, que os estudos necessários ao processo de licenciamento,


deverão ser realizados por profissionais habilitados. As despesas que envol-
vam os procedimentos ficarão a cargo do empreendedor.

Estabelece também no artigo 5º, as diretrizes gerais necessárias, que são:


“a) contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização do proje-
to, confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto; b) identifi-
car e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de
implantação e operação da atividade; c) definir os limites da área geográfica
a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de in-
fluência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na
qual se localiza; e d) considerar os planos e programas governamentais pro-
postos e em implantação na área de influência do projeto e sua compatibilida-
de.

Toda a atividade que possa gerar algum dano ao meio ambiente, terá como
requisito o licenciamento ambiental. Essas atividades estão elencadas nos
anexos da Resolução CONAMA n.º 237/97. Resumidamente são elas: indús-
trias de qualquer porte; depósitos; atividades de parcelamento do solo; cria-
ção animal; irrigação; lavanderias, atividades que envolvam resíduos; cemi-

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térios; obras civis; serviços de utilidade como o tratamento de água e esgoto;
usinas termelétricas; hidrelétricas; energia eólica; portos; terminais; comple-
xos de lazer; pista de corrida; recondicionamento de pneumáticos; forno de
carvão; comércio de agrotóxicos; de produtos de origem mineral, vegetal ou
químicos; postos de combustíveis e lavagem; restaurantes; lanchonetes; labo-
ratórios; hospitais e clínicas.

A ausência de licença caracteriza crime previsto na Lei n.º 9605/98, que dis-


põe sobre as sanções penais e administrativas para as condutas lesivas ao
Meio Ambiente. Apesar do rol que traz a Resolução CONAMA, n.º 237/97, há
atividades que não estão sujeitas ao Licenciamento Ambiental.

A competência para a concessão das licenças ambientais é dos órgãos que


compõem o SISNAMA, descritos no artigo 6º, da Lei n.º 6.938/81. Via de re-
gra a competência é do órgão público estadual. O CONAMA fixa as regras
gerais para a concessão. Na Resolução n.º 237/97, artigo 4º, estão essas re-
gras gerais, “compete ao SISNAMA, o licenciamento ambiental, que se refere
o artigo 10 da Lei n.º 6.938/81, de empreendimentos e atividades com signifi-
cativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional” e na Resolução n.º
001/86, artigo 2º, estão dispostas as modalidades e prazos de validade, ainda
as hipóteses de revogação das licenças concedidas, “Dependerá de elabora-
ção de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA), a ser submetido à aprovação do órgão estadual competen-
te e do IBAMA, em caráter supletivo, o licenciamento de atividades modifica-
doras do meio ambiente”.

Torna-se necessário fazer um adendo por haver em determinados casos con-


flitos de competência. Podemos citar, por exemplo, quando o IBAMA se diz
competente para conceder a licença quando está envolvido potencial risco de
degradação ambiental a bem da União e órgão estadual contestarem essa
manifestação. Nesses casos é necessário parecer do Ministério do Meio Am-
biente ou da Advocacia Geral da União para dirimir o impasse e determinar
qual órgão concederá a licença.

É certo que ao IBAMA são atribuídas as seguintes práticas: executar a polí-


tica florestal estabelecida pelo Ministério do Meio Ambiente; sugerir medidas
legais e técnicas para o aprimoramento da política de aproveitamento dos re-
cursos florestais; ordenar o aproveitamento dos recursos florestais; promover,
executar, fazer executar e avaliar os inventários florestais e planos de manejo
florestal sustentável de florestas nativas; promover o aproveitamento susten-
tável e transformações de recursos florestais; prestar assistência técnica aos
estados, municípios, entidades civis e organizações não governamentais, no
que diz respeito ao ordenamento dos recursos florestais; orientar e supervi-
sionar as atividades de manejo dos recursos florestais, desenvolvidas junto às
representações do IBAMA nos Estados.

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1.1.1.6 Auditoria ambiental

Auditoria pode ser definida como um instrumento de verificação de condição


financeira de determinada instituição, desta forma, auditoria ambiental pode
ser vista como avaliação da gestão ambiental, ou seja, de seu comportamento
em relação ao meio ambiente. Ela é uma consequência da qualidade utilizada
pela empresa (pública ou privada), que busca a certificação de sua gestão.
No entanto não está determinada como instrumento pelo artigo 9º da Lei de
Política Nacional do Meio Ambiente.

Porém, tendo em vista uma gama de instrumentos nacionais que visam a pro-
teção dos bens ambientais, a auditoria ambiental deve seguir os direitos e de-
veres determinados pela legislação pátria, para que sejam alcançados os fins
a que se destinam.

O direito constitucional brasileiro estabelece que os bens ambientais aponta-


dos no art. 225 da Carta Magna, assim como qualquer outro bem, necessitam
observar as regras estruturais descritas no art. 1º da Constituição Federal, o
que significa compatibilizar a denominada relação jurídica ambiental, atenden-
do às necessidades vitais da pessoa humana em nosso país em face de sua
dignidade (art. 1º, III), dentro das normas jurídicas que organizam a ordem
econômica do capitalismo (art. 1º, IV), ou seja, a ordem econômica – que por
óbvio dos bens ambientais particularmente no âmbito do manejo do meio am-
biente natural, visando implementar no mercado seus produtos e serviços –
deve observar no Brasil não só a defesa do meio ambiente (art. 170, VI), mas
também a defesa do consumidor (art. 170, V) dentro das regras constitucio-
nais em vigor.

Hodiernamente pode-se verificar que as auditorias ambientais são realizadas


por diversos motivos, não somente como anteriormente para assegurar ade-
quação às leis ambientais, evitando punições ou imposições de indenizações.
São hoje recomendadas em caráter regular e sistemático com a finalidade de
auferir o desempenho ambiental das instituições públicas ou privadas, haja
vista a imagem veiculada dos produtos e serviços fazer frente à população.
Ademais, os serviços públicos deixaram de ter posição diferenciada a partir
de  Constituição de 1988, em decorrência dos princípios da publicidade e da
eficiência (art. 37). Isso se deve ao fato de não só existirem normas de co-
mando e controle, mas instrumentos econômicos.

As auditorias procuram avaliar o desempenho dos sistemas de gestão, procu-


ram adequar-se à política ambiental e cumprimento dos objetivos propostos.
Vale frisar, neste ponto, que algumas auditorias são obrigatórias, quando em-
presas privadas buscam certificações, como as de ISO 14.000.

PÁGINA 78
A ABNT por meio da norma ISO 19.011/2002, orienta sobre os princípios de
auditoria, gestão de programas de auditoria, realização de auditorias de sis-
tema de gestão de qualidade ambiental, ainda, educação e avaliação de au-
ditores. Esta norma proporciona confiança no trabalho dos auditores, esta-
belece independência e abordagem baseada em evidências. Podem ser de
conformidade, para verificação do cumprimento da legislação; de desempe-
nho ambiental, para avaliação de geração de poluentes; due diligence, para
verificação da responsabilidade da empresa perante seus acionistas, credo-
res, fornecedores, etc.; de desperdício e emissões, que avaliam as perdas e
os impactos ambientais e econômicos, visando a melhoria de seus processos;
podem ser pós-acidente, que avaliam as causas e as responsabilidades; de
fornecedor, para selecionar fornecedores que mantenham projetos conjuntos;
e de sistemas de gestão ambiental, para avaliação dos SGA.

Em alguns Estados as auditorias ambientais são obrigatórias e utilizadas pelo


setor público, como instrumento de ação, controle e apoio para concessão de
licenças ambientais, por meio da contratação de empresas privadas para sua
realização. Os Estados do Rio de Janeiro (Lei n.º 1.898/91); em Minas Gerais
(Lei n .º 15.017/04); no Espírito Santo (Lei n.º 4.802/93); no Ceará (Lei n.º
12.685/97); em Santa Catarina (Lei n.º 10.720/98); no Amapá (Lei n.º 485/99);
na Paraíba (Portaria n.º 04/04); no Distrito Federal (Lei n.º 3.458/04), em São
Paulo são obrigatórias em alguns Municípios, onde há portos, como na cidade
de Santos. No Paraná (Lei n.º 13.448/020).

Tramita no Congresso Nacional, desde 2003, o projeto de lei n.º 1.254/03, que
dispõe sobre as auditorias e a contabilidade dos passivos e ativos ambien-
tais. O projeto é uma emenda à Política Nacional do Meio Ambiente, com o
objetivo de estipular o conceito de auditoria ambiental, assim como definir ati-
vos e passivos ambientais e colocar a auditoria como um dos instrumentos da
PNMA. Estabelece ainda a obrigatoriedade de empresas ou entidades reali-
zarem as auditorias para avaliar o cumprimento de suas obrigações relativas
à gestão segura, para torná-la compulsória. No entanto, a discussão sobre o
projeto está emperrada, tendo em vista a grande pressão do setor econômico
que não concorda com esta obrigatoriedade, e, ainda, há muita divergência
quanto as opiniões de ser ou não um instrumento inconstitucional e também
por não constar da PNMA.

Importante destacar que a divulgação de informações sobre as condições


ambientais é relevante para as instituições. Isso pode ser feito por meio dos
balanços e demonstrações de resultados. Para que estas informações sejam
acrescidas aos demonstrativos, é necessário que os gastos com Meio Am-
biente sejam incluídos na contabilidade, reconhecida hoje como contabilidade
ambiental, em item próprio, designado como custo ambiental, que são aque-
les relacionados a cálculos estimados de reposição, recuperação e preserva-
ção do ambiente por atividades lesivas ao meio, as indenizações pagas ou

PÁGINA 79
possíveis a pagar.

Para que a PNMA tenha consistência, é necessário que seus instrumentos se-
jam peças práticas e desempenhem seus papéis específicos. Os instrumentos
foram criados, acreditando-se ser o caminho a trilhar para a consecução da
finalidade da política nacional que é a sustentabilidade ambiental. Resta verifi-
car se esses instrumentos são deveras eficazes.

2 Eficácia dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente

O desenvolvimento econômico demanda satisfação das aspirações sociais e


para atender essas aspirações, o homem interfere no ambiente ocasionando
alterações em suas condições e qualidade.

Percebe-se que o homem interage com a natureza, mas na verdade não faz
parte dela como ser integrado e desta forma não a trata como igual e nem lhe
dá a devida importância, utilizando-se de tudo que ela proporciona sem que
se importe com o fato de que seu esgotamento é inevitável, pois seus recur-
sos não são infinitos. Assim, a criação e edição de instrumentos para frear
este uso indiscriminado, é responsabilidade de quem detém o poder e o dever
para tanto, ou seja, o Poder Público.

A eficácia desses instrumentos muitas vezes é questionável, pois não é sim-


ples manter o desenvolvimento econômico e conter o avanço da degradação
ambiental.

É certo que as questões ambientais sofreram transformações nos últimos


anos. A edição de novos instrumentos implica no envolvimento de vários
agentes, contribuindo assim, para o aparecimento de novas soluções. Um
dos principais agentes na transformação dos modelos é a sociedade, na me-
dida em que pressionam os órgãos públicos e as empresas, influenciando di-
retamente nas ações desses entes. Esse novo olhar quanto à necessidade
de preservação ambiental faz com que as ações se tornem, geralmente, mais
efetivas, pois os mais interessados, as gerações atuais em defesa das gera-
ções futuras, não podem atualmente, serem consideradas como menos im-
portantes.

Os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente buscam identificar as


atividades econômicas que ameaçam determinado sistema ambiental com
medidas preventivas e coibitivas, traduzindo-se em normas de comando e
controle, visando à regulamentação das atividades de potencial impacto am-
biental. Traduzem-se em restrições de atividades, controle do uso de recursos
naturais e especificação de tecnologias.

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Verifica-se que o Brasil tem um conjunto de leis ambientais mais completas
do mundo e que seus instrumentos deveriam bastar para que o país já tivesse
sob controle toda sua política ambiental. Porém, há barreiras entre o que po-
demos chamar de setores, ou seja, entre o Estado e a política de mercado, e
o que pode influenciar no aumento dessas barreiras é a falta de capacitação
em todos os níveis, a falta de recursos financeiros e a falta de políticas públi-
cas eficientes.

As normas ambientais têm caráter social e não assistencial, são direitos para
o homem e este deve exercê-los de forma a humanizar-se compromissada-
mente com a realidade. A produção das normas traduz o conflito social e nes-
te contexto, o conflito econômico e a necessidade da preservação ambiental.
Então, o cabedal legislativo, deve suprir o conflito social e trazer a pacifica-
ção.

A construção de medidas inovadoras para os processos produtivos, deveriam


estar mais calcadas no fortalecimento das medidas preventivas, de acordo
com o que preconiza a PNMA em seu artigo 2º, quando traçou seus objetivos.
No entanto, como está, prioriza as medidas de comando e controle, como já
observado, que se consubstanciam em exigências legais e mecanismos que
visam assegurar o cumprimento, transformando-se em sanções administrati-
vas e penais.

Para a eficácia da legislação ambiental, por meio da utilização dos instrumen-


tos da Política Nacional do Meio Ambiente, é necessária mais do que só a
normatização de vias de comando e controle, são imprescindíveis outras po-
líticas públicas, como conscientização de políticas educacionais com investi-
mentos nos aspectos voltados para a sustentabilidade, à mudança de hábitos
de consumo e estilo de vida.

A intervenção estatal sob a égide de instrumentos repressivos ainda é neces-


sária, porém, essas medidas são reativas e não preventivas e estas são cau-
telares dos danos potencialmente irreversíveis que demonstrarão resultados
positivos.

Trata-se da construção de um processo na nascente, um processo educacio-


nal que conduza ao saber ambiental, que se funde nos valores éticos e de
familiaridade que leve ao conhecimento futuro de convivência pacífica entre a
preservação ambiental e o mercado de consumo. A construção dessa cultura
ecológica se faz por meio de políticas públicas. No artigo 2º da Lei da Política
Nacional do Meio Ambiente, inciso X, está determinada a implantação de edu-
cação ambiental em todos os níveis, inclusive o da comunidade. No entanto,
passados quase três décadas, os passos ainda são tímidos.

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Ademais, a implantação de instrumentos econômicos pode introduzir mudan-
ças no comportamento dos agentes da cadeia produtiva causadores de algum
tipo de degradação ambiental. Esses instrumentos englobam questões que
envolvem taxas, tarifas e subsídios.

O modelo ideal, então, será aquele que reúna os instrumentos de comando


e controle, que influenciam diretamente nos atos do poluidor, limitando suas
ações, instrumentos econômicos que afetam o custo-benefício dos agentes e
a conscientização de todos em relação ao desenvolvimento sustentável, que
ocorrerá quando forem estabelecidas políticas de educação ambiental em to-
dos os níveis. No Brasil utiliza-se os dois tipos de instrumentos, mas a ênfa-
se é dada aos instrumentos repressivos, pois, a própria rigidez do sistema de
normas e a própria competência dos órgãos propiciam dificuldades para efeti-
vidade política.

Princípio fundamental de direito, base para a vida harmônica em sociedade, é


aquele, em que o responsável que causar dano a terceiro, deverá arcar com o
ônus proporcional ao prejuízo. Independente de qual setor, público ou privado,
advenha o prejuízo, haverá responsabilidade de reparar ou ressarcir o dano
causado.

CONCLUSÃO

A Constituição Federal acolheu a Lei n.º 6.938/81 (PNMA), elevando seus pre-


ceitos. Isso significa aplicar relevância à resolução dos problemas ambientais
enfrentados no Brasil.

Em que se pese serem os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambien-


te, teoricamente eficientes, tendo em vista ser a legislação ambiental brasilei-
ra uma das melhores do mundo, nota-se que não são eficientes para que se
alcance desenvolvimento sustentável.

Conclui-se, que não bastam as normas punitivas através da intervenção do


Estado, mais que são necessárias políticas públicas aliadas a essa interven-
ção, mais incisivas para a construção de uma consciência ecológica que alia-
da aos instrumentos, possa contribuir de tal forma que o Meio Ambiente seja
preservado na presente geração, visando as futuras.

PÁGINA 82
REFERÊNCIAS

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 08 ed. Rio de Janeiro: Lu-


men Juris, 2005.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05


de outubro de 1988. 24 ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2000.

BRASIL. Lei n.° 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Dispõe sobre a Política Na-
cional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e apli-
cação, e dá outras providências) in Lei n.° 10.406, de 10 de janeiro de 2002,
acompanhada da legislação complementar. 09 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

BRASIL. Lei n.° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). 09 ed. São
Paulo: Saraiva, 2003

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 17


ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

DOS SANTOS, Fabiano Pereira. Meio ambiente e poluição. Jus Navigan-


di, 2004. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4753 – capturado em
24/02/2006

Figueiredo, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental – 6ª ed. –


São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2013. Pg. 64.

SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: MALHEI-
ROS, 1994.Romulo S. R. Tópicos de Direito Ambiental: 30 anos da politica
nacional do meio ambiente. Lumen Juris, 2011, pg 27.Cureau, Sandra. Direito
Ambiental / Sandra Cureau e Maricia Dieguez Leuzinger.- Rio de Janeiro: Else-
vier, 2013. Pg. 52.

LEITURA COMPLEMENTAR SUGERIDA:

https://www.direitoambientalemquestao.com.br/2016/11/saiba-quais-sao-os-ins-
trumentos-da-politica-do-meio-ambiente.html

PÁGINA 83
6CAPÍTULO
ESTUDOS DOS
IMPACTOS
AMBIENTAIS

Apresentar a noção de dano ambiental e a avaliação de impacto ambiental


como instrumento preventivo da ocorrência do dano ambiental

Professor Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira

Objetivos de Aprendizagem:
Compreender avaliação de impacto ambiental como instrumento preventivo da
ocorrência do dano ambiental.

Plano de Estudo:
• Conceito;
• Tarefas do Estudo de Impactos Ambientais.

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INTRODUÇÃO

A humanidade, durante sua evolução, utilizou-se em larga escala dos recursos


naturais, sendo que no começo visava principalmente à sua subsistência, e
posteriormente passou a explorar economicamente tais recursos. Aliado a esse
fato, o crescimento populacional gera, por conseguinte, aumento na demanda
por recursos da Terra para sobrevivência do ser humano. Nessa perspectiva,
houve um agravamento nos impactos gerados sobre o meio ambiente, gerando
um desequilíbrio do ecossistema.

Por ser o meio ambiente imprescindível para o ser humano e os demais seres
vivos do nosso planeta, surge a necessidade de protegê-lo efetivamente, eri-
gindo-se o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, como indis-
pensável à sadia qualidade de vida, à categoria de direito fundamental. Além
da proteção, a recuperação e a preservação dos bens ambientais passam a ser
dever do Estado e também da população.

A proteção do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibra-


do é efetivada por meio de instrumentos jurídicos, dentre eles o Estudo de Im-
pacto Ambiental, instituído pela Lei nº 6.938/1981.

Como espécies desse estudo há o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), previsto


na Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981; o Estudo Prévio de Impacto Ambien-
tal (EPIA), inserido no inc. IV, § 1º, art. 225 da Constituição Federal (CF/88), e
regulamentado em parte pela Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005; e o Es-
tudo de Impacto de Vizinhança (EIV), criado pela Lei nº 10.257, de 10 de julho
de 2001. Também o licenciamento ambiental, procedimento administrativo que
visa à obtenção da licença ambiental é objeto de análise.

Assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, requer, além


de condutas da própria população, a adequada aplicação dos instrumentos jurí-
dicos postos à disposição tanto para o Estado quanto para todos, sendo tratado
nessa pesquisa o EIA. O EIA e suas espécies visam evitar o dano ao meio am-
biente ou, no mínimo, mitigar os seus efeitos negativos, sendo imprescindível a
análise de suas características e da legislação, predominantemente ambiental,
mas não só, específica.

PÁGINA 85
1. ESTUDO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS.

1.1 Conceito

Realizar um Estudo de Impacto Ambiental significa desenvolver um conjunto de


tarefas técnicas, descritas em uma certa ordem apenas para efeito de apresen-
tação, mas não implica que devam se desenrolar uma após as outras: diag-
nóstico ambiental, análise dos impactos, definição de medidas mitigadoras e do
programa de monitoramento dos impactos ambientais e do programa de moni-
toramento do prognóstico ambiental e comunicação dos resultados, e esta últi-
ma, relacionada também ao Relatório de Impacto Ambiental.

O EIA se destina a analisar os impactos ambientais de um projeto e suas pos-


síveis alternativas de um ou mais tipos, por exemplo: de localização, de tecno-
logias a serem empregadas, de cronograma, e inclusive, a de não implementa-
ção do projeto. 

A exigência de EIA/RIMA é de competência exclusiva dos Estados e supletiva


da União (Lei 6938/81). Contudo, conforme a Constituição Federal de 1988, os
municípios têm competência concorrente na exigência de EIA/RIMA (CF 1988).

Para que seja possível a realização desse processo analítico, há necessidade


de se conhecer o projeto e de todas as suas especificidades, as ações que
serão executadas, em todas as fases de implantação, desde o planejamento,
construção, operação, até a desativação, se for o caso. 

A elaboração de um EIA deverá atender requisitos mínimos, e como são ga-


rantias legais, vinculam o processo de licenciamento ambiental ao atendimento
a tais requisitos. A dispensa pelo órgão licenciador ou o não atendimento pelo
empreendedor de qualquer deles, invalida o procedimento. 

Os roteiros básicos apresentados para a elaboração de Estudo de Impacto Am-


biental e Relatório e Impacto Ambiental listam uma série de informações gerais
do empreendimento e sua respectiva caracterização nas fases de planejamen-
to, implantação, operação e, se for o caso, de desativação. 

PÁGINA 86
1.1.1 Tarefas do EIA

As tarefas do EIA são realizadas em função do desenvolvimento dos seguintes


requisitos: 

a) Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto

O diagnóstico ambiental da área de influência é a tarefa básica e de trabalho


preliminar do EIA, referente ao levantamento das características da região,
ainda sem a consideração das alterações que advirão com a futura implemen-
tação do empreendimento. Consiste no levantamento e análise dos recursos
ambientais e suas interações na área de influência do projeto, considerando o
meio físico, biológico e socioeconômico. 

No diagnóstico ambiental da área de influência deverão ser apresentadas a


descrição e análise dos fatores ambientais e suas interações, caracterizando a
situação ambiental da área de influência, antes da implantação do empreendi-
mento. 

Os fatores que englobam o diagnóstico ambiental da área de influência são re-


lativos às variáveis suscetíveis de sofrer, direta ou indiretamente, efeitos signi-
ficativos das ações executadas nas fases de planejamento, de implantação e,
quando for necessário, de desativação do empreendimento, e as informações
cartográficas com a área de influência devidamente caracterizada, em escalas
compatíveis como nível de destacamento dos fatores ambientais estudados. 

Os fatores ambientais a serem identificados são relativos ao meio físico, bio-


lógico e antrópico importantes para caracterizar a interferência do empreendi-
mento, conforme sugestão de aspectos considerados sugeridos a seguir:

Meio Físico: os aspectos a serem abordados serão aqueles necessários para


a caracterização do meio físico, de acordo com o tipo e o porte do empreendi-
mento e segundo as características da região, por exemplo:

 Clima e condições metereológicas da área potencialmente atingida pelo


empreendimento (umidade relativa, insolação, ventos, precipitações, sé-
ries metereológicas expressivas, qualidade das precipitações);
 Topografia (relevo);
 Formação da geomorfologia e geologia (caracterização: análises, sonda-
gens, imagens aéreas, sensoriamento remoto);
 Solos da região na área em que os mesmos serão potencialmente atin-
gidos pelo empreendimento: análise, aptidões, usos atuais, qualidade do
ar na região;

PÁGINA 87
 Níveis de ruídos na região;
 Recursos hídricos superficiais e subterrâneos: hidrologia superficial, hi-
drogeologia, oceanografia física, qualidade das águas, usos da água;
 Vazão de longo prazo (média anual);
 Vazão Q 7,10;
 Ciclo de estiagens e enchentes;
 Classificação de nascentes e corpos d’água;
 Delimitação das bacias hidrográficas – área, desenvolvimento dos cur-
sos d’água, índice de conformação ou de forma, largura média em baixa
vazão;
 Disponibilidade hídrica para os múltiplos usos: abastecimento doméstico
(rural e urbano), dessedentação animais, abastecimento industrial, irriga-
ção, aquicultura, navegação, energia elétrica, recreação – balneabilida-
de, drenagens urbanas e rurais;
 Qualidade das águas superficiais: caracterização da infiltração através
do solo;
 localização dos aquíferos, altura do lençol freático, variabilidade da zona
de saturação e da umidade do solo; ensaios de permeabilidade, ensaios
piezométricos para direção dos fluxos;
 Perturbação da macro e microdrenagem - subsistência dos solos, qua-
lidade das águas, origens naturais e antropogênicas da contaminação;
índices de qualidade dos recursos hídricos.

Meio Biótico: os aspectos abordados serão aqueles que caracterizam o meio


biológico, de acordo com o tipo e porte do empreendimento e segundo as ca-
racterísticas da região. Poderão ser incluídos aqueles cuja consideração ou de-
talhamento possam ser necessários – ecossistemas terrestres, aquáticos, de
transição, ou seja:

 Levantamento botânico, faunístico e protista;


 Levantamento de endemias;
 Vegetação: principais espécies vegetais, extensão e distribuição de es-
pécies em extinção;
 Fauna: principais vegetais, extensão e distribuição de espécies em extin-
ção;
 Caracterização dos ecossistemas ou nichos.

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Meio Antrópico (Socioeconômico): serão abordados os aspectos neces-
sários para caracterizar o meio antrópico, de acordo com o tipo e o porte do
empreendimento e segundo as características da região. Esta caracterização
aborda aquelas populações existentes na área atingida diretamente pelo em-
preendimento e as inter-relações próprias ao meio regional, passíveis de alte-
rações significativas por efeitos indiretos do empreendimento que incluem, por
exemplo:

 - Caracterização de uso e ocupação do solo, com informações em


mapa, na área de influência do empreendimento;
 Estrutura produtiva e de serviços;
 Atividades dos setores primário, secundário, terciário;
 Situação de empregos e sua criação;
 Deslocamentos populacionais;
 Dinâmica populacional na área de influência do empreendimento;
 Os aspectos Paisagísticos e Estéticos.

b) Descrição da ação proposta e suas alternativas e identificação, a nálise e


previsão dos impactos significativos, positivos e negativos.

A partir do conhecimento das ações do projeto, suas alternativas e do diagnós-


tico ambiental da área afetada, efetua-se a análise dos impactos, que consiste
na identificação e na caracterização dos impactos ambientais que serão objeto
de medição e pesquisa detalhada.

Nessa etapa de análise (identificação, valoração e interpretação e interpreta-


ção) dos prováveis impactos ambientais sobre os meios físico, biológico e an-
trópico, são determinados e justificados os horizontes de tempo e os critérios
considerados para descrever quais são os impactos:

• Diretos e indiretos;
• Benéficos e adversos;
• Temporários, permanentes e
cíclicos;
• Imediatos, médio e longo prazo;
• Reversíveis e irreversíveis;
• Locais, regionais e estratégicos.

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A análise dos impactos ambientais inclui a identificação, previsão de mag-
nitude, interpretação da importância de cada um, permitindo uma apreciação
abrangente das repercussões do empreendimento sobre o meio ambiente com
a síntese conclusiva de cada fase prevista para o empreendimento – planeja-
mento, implantação, operação e desativação, se for o caso (por exemplo: em
caso de acidentes).

São mencionados os métodos usados para a identificação dos impactos, as


técnicas utilizadas para a previsão da magnitude e os critérios adotados para a
interpretação e análise de suas interações.

c) Definição das medidas mitigadoras desses impactos, tais como, a implemen-


tação de equipamentos antipoluentes.

Nessa etapa são explicitadas as medidas que visam minimizar os impactos ad-
versos identificados e quantificados na etapa da análise dos impactos ambien-
tais, as quais são apresentadas e classificadas quanto:

 à sua natureza preventiva ou corretiva, avaliando, inclusive, a eficiência


dos equipamentos de controle de poluição em relação aos critérios de
qualidade ambiental e aos padrões de disposição de efluentes líquidos,
emissões atmosféricas e resíduos sólidos;
 à fase do empreendimento em que deverão ser adotadas; planejamento,
implantação, operação, desativação;
 ao fator ambiental a que se destinam: físico, biológico ou socioeconômi-
co;
 ao prazo de permanência de suas aplicações: curto, médio ou longo;
 a responsabilidade pela implementação: empreendedor, poder público
ou outros;
 ao seu custo.

Entre tais medidas, embora não expressamente prevista pela Resolução do


CONAMA n° 237/97, poderão estar as compensatórias, em caso de impacto
adverso irreversível, que não podem ser evitados ou mitigados.

d) Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento dos impac-


tos positivos e negativos.

O programa de monitoramento dos impactos é concebido a partir do diagnósti-


co ambiental da área de influência e da análise dos impactos, de modo que se
possa acompanhar os impactos que efetivamente vierem a ocorrer.

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Ressalta-se que, o monitoramento dos impactos produzidos pela atividade es-
tudada ocorrerá após o deferimento da Licença de Operação. Contudo, já de-
verá estar programado desde a elaboração do EIA.

O coração do EIA são as alternativas tecnológicas e locacionais confrontadas


com a hipótese de não execução do projeto, que contempla um prognóstico da
qualidade ambiental da área de influência em diferentes situações resultantes
de cada uma das alternativas consideradas, inclusive a alternativa do projeto
não se realizar.

Nessa etapa de elaboração do programa de acompanhamento e monitoramen-


to dos impactos positivos e negativos podem ser apresentados os seguintes
itens:

• indicação e a justificativa dos parâmetros selecionados para a avaliação


dos impactos ambientais sobre cada um dos fatores ambientais conside-
rados;
• indicação e a justificativa da rede de amostragem, incluindo seu dimen-
sionamento e distribuição espacial;
• indicação e a justificativa dos métodos de coleta e análise das amostras;
• indicação e a justificativa da periodicidade de amostragem para cada pa-
râmetro, segundo os diversos fatores ambientais;
• indicação e a justificativa dos métodos a serem empregados no proces-
so das informações levantadas, visando retratar o quadro da evolução
dos impactos ambientais causados pelo empreendimento.

PÁGINA 91
REFERÊNCIAS

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 08 ed. Rio de Janeiro: Lu-


men Juris, 2005.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05


de outubro de 1988. 24 ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2000.

BRASIL. Lei n.° 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Dispõe sobre a Política Na-
cional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e apli-
cação, e dá outras providências) in Lei n.° 10.406, de 10 de janeiro de 2002,
acompanhada da legislação complementar. 09 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

BRASIL. Lei n.° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). 09 ed. São
Paulo: Saraiva, 2003

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 17


ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

DOS SANTOS, Fabiano Pereira. Meio ambiente e poluição. Jus Navigan-


di, 2004. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4753 – capturado em
24/02/2006

Figueiredo, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental – 6ª ed. –


São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2013. Pg. 64.

SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: MALHEI-
ROS, 1994.Romulo S. R. Tópicos de Direito Ambiental: 30 anos da politica
nacional do meio ambiente. Lumen Juris, 2011, pg 27.Cureau, Sandra. Direito
Ambiental / Sandra Cureau e Maricia Dieguez Leuzinger.- Rio de Janeiro: Else-
vier, 2013. Pg. 52.

LEITURA COMPLEMENTAR SUGERIDA:


http://www.techoje.com.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/1818

PÁGINA 92
7CAPÍTULO
CRIMES AMBIENTAIS

Estudar a lei de crimes ambientais, possibilitando a análise dos aspectos gerais


e das penalidades em espécie.

Professor Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira

Objetivos de Aprendizagem:
• Entender a importância da Lei de crimes Ambientais;
• Conhecer as medidas de proteção à fauna e a flora;
• Conhecer as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente;
• Entender a finalidade principal da lei qual seja, a reparação do dano am-
biental.

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INTRODUÇÃO

A preocupação que a humanidade tem com a questão ambiental considerar-se-á


nova, desde que se leve em consideração à própria existência do ser humano,
como dominador do planeta. Realmente, apenas nas últimas décadas, passou-
-se a reconhecer a necessidade de conservação do ambiente em que se vive.

Procura-se de todas e quaisquer formas, cada vez mais, a busca de um compro-


metimento mundial no que se relaciona às causas do meio ambiente, neste sen-
tido, o Rio de Janeiro foi sede da Conferência Mundial do meio ambiente - ECO
92 - oportunidade em que as nações presentes buscaram uniformizar as ações
em defesa da natureza.

Sendo o país que detém a maior floresta tropical do mundo e, de certa forma,
uma incomparável biodiversidade na flora e na fauna, o Brasil sofre grande pres-
são internacional para que desenvolva atividades compatíveis com a conserva-
ção do meio ambiente.

Então, em 12 de fevereiro de 1998, o Brasil promulgou a Lei 9.605, a Lei dos


Crimes Ambientais, satisfazendo, ao menos em parte, as aspirações de ambien-
talistas e penalistas.

A referida lei é sem dúvida uma grande evolução do direito pátrio, vez que não
trata somente dos crimes contra o meio ambiente, mas também contra a Admi-
nistração Pública e contra o Patrimônio Cultural, no que se relacione á questão
ambiental.

Há de se destacar ainda que inúmeras foram as inovações da lei 9.605, não só


no que se relaciona ao referido no parágrafo anterior, sendo tais inovações visu-
alizadas não só no campo penal, no que se refere aos crimes praticados pelas
pessoas jurídicas e as sanções que lhe são peculiares, o recolhimento domiciliar
da pessoa física, mas também em matéria de direito à desconsideração da per-
sonalidade jurídica.

Assim sendo cabe a este instrumento de pesquisa acadêmica antes de entrar no


mérito do referido trabalho conceituar o direito ambiental, definindo o conceito de
meio ambiente, bem como os seus princípios e sua relação com o direito penal.

Após tais considerações serem feitas, poderá este instrumento avançar para
uma análise da lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, analisando a tutela penal
do meio ambiente, como suas inovações no que se relaciona à pessoa jurídica,
bem como as tipificações em relação à fauna, flora e a poluição.

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1. CRIMES AMBIENTAIS.

1.1 Definição

São considerados crimes ambientais as agressões ao meio ambiente e seus


componentes (flora, fauna, recursos naturais, patrimônio cultural) que ultrapas-
sam os limites estabelecidos por lei. Ou ainda, a conduta que ignora normas
ambientais legalmente estabelecidas mesmo que não sejam causados danos
ao meio ambiente.

Por exemplo, no primeiro caso, podemos citar uma empresa que gera emis-
sões atmosféricas. De acordo com a legislação federal e estadual específica
há uma certa quantidade de material particulado e outros componentes que po-
dem ser emitidos para a atmosfera. Assim, se estas emissões (poluição) estive-
rem dentro do limite estabelecido então não é considerado crime ambiental.

No segundo caso, podemos considerar uma empresa ou atividade que não


gera poluição, ou ainda, que gera poluição, porém, dentro dos limites estabe-
lecidos por lei, mas que não possui licença ambiental. Neste caso, embora ela
não cause danos ao meio ambiente, ela está desobedecendo uma exigência da
legislação ambiental e, por isso, está cometendo um crime ambiental passível
de punição por multa e/ou detenção de um a seis meses.

Da mesma forma, pode ser considerado crime ambiental a omissão ou sone-


gação de dados técnico-científicos durante um processo de  licenciamento ou
autorização ambiental. Ou ainda, a concessão por funcionário público de autori-
zação, permissão ou licença em desacordo com as leis ambientais.

1.1.1 A Lei 9.60598 e a tutela penal do meio ambiente;

A Lei 9.605/98, de certa forma, é uma tentativa de ser uma lei uniforme e úni-
ca sobre o tema. Os conceitos básicos do direito penal permanecem válidos e
fundamentais para a responsabilização do autor do ilícito penal ambiental. Os
princípios fundamentais da legalidade, tipicidade e subjetividade existem no di-
reito penal ambiental com força igual àquela que possuem em outros setores
do direito penal, seja no comum, seja no especial.

Certamente, a referida lei logrou êxitos, haja vista que, outrora diversas leis es-
parsas versavam acerca da questão ambiental, e assim sendo, qualquer tenta-
tiva de se diminuir o “sem número” de leis visualizadas no ordenamento jurídico
merece destaque.

No entanto, não é esta a única consideração que merece destaque por parte
deste instituto de pesquisa, outros avanços, como anteriormente citados, são

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visualizados na referida lei, merecendo eles serem em apartado, destacados.

1.1.2 Autoria.

De acordo com artigo 2º da Lei 9605/98, “quem, de qualquer forma, concorre


para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes comi-
nadas, na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador,
o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou
mandatário da pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem
deixar de impedir a sua práticas, quando podia agir para evitá-la”.

1.1.3. Da pessoa jurídica.

Dispõe o artigo 3º da Lei 9.605 da seguinte redação: “as pessoas jurídicas se-
rão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto
nessa lei, em caso que a infração seja cometida por decisão de seu represen-
tante legal ou contratual, ou de órgão colegiado, no interesse ou benefício da
sua entidade”.

Assim sendo, face às disposições legais, entenderam os legisladores que a


pessoa jurídica era penalmente capaz de ser punida pelas infrações ambientais
que lhe beneficiasse. No entanto, é importante enfatizar que de acordo com o
pará-grafo único do referido artigo, a responsabilidade da pessoa física não é
excluí-da com a responsabilidade da pessoa jurídica.

De acordo com a doutrina civil “surgem, então, as pessoas jurídicas, que se


compõem, ora de um conjunto de pessoas, ora de uma distinção patrimonial,
com aptidão para adquirir e exercer direitos e contrair obrigações”.

Em se tratando de Brasil verifica-se que a Constituição Federal promulgada no


ano de 1988, previu em seus artigos 173, § 5º e no artigo 225, § 3º, a
respon-sabilização da pessoa jurídica, bem como na Lei 8.078, de 11 de
setembro de 1990 (Código de Defesa do Consumidor).

Assim sobre tal evolução não só no direito pátrio, mas no direito mundial, só
nos cabe, citar, o que com louvor, prelecionou Rui Barbosa: “as Constituições,
guardando o mesmo rosto e a mesma linguagem, na sua inteligência e ação,
continuamente se vão modificando, significam hoje o contrário do que ontem
significavam; amanhã exprimirão coisa diversa do hoje estão exprimindo; e
neste contínuo acomodar-se às exigências das gerações sucessivas, tomas,
sucessivamente, a cor das épocas, das escolas dos homens, que as enten-
dem, comentam ou executam”.

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Verificado, então, entendimento doutrinário acerca da responsabilidade penal
das pessoas jurídicas, é importante enfatizar as condicionantes para que
haja tal responsabilização.

É sabido então que a pessoa jurídica reúne capacidade penal para responder
pelas infrações penais de acordo com o que dispõe a lei, no entanto, muito se
divergiu no que se relaciona a diferença entre as pessoas de direito público e
privado, e em ambos os casos são passíveis de responsabilidade no âmbito
penal.

No que se relaciona às pessoas jurídicas de direito público, entendem doutri-


nadores que, haja vista a lei não ter especificado a quais pessoas jurídicas de
direito se refere, aplicando-se então o conhecido princípio da hermenêutica jurí-
dica: “ubi lex non distinguit nec nos destinguere debemus”.

Entretanto, há de se destacar que qualquer punição às pessoas jurídicas de


direito público, certamente recairiam sobre toda a sociedade, em face de sua
natureza jurídica. Assim sendo, parte da doutrina defende que essas não são
passíveis de responsabilidade penal, no entanto, tal proibição não extingue a
dos agentes públicos responsáveis pela prática do referido ato lesivo. Nota-se
também a possibilidade da busca da reparação do dano na esfera cível, funda-
mentada no art. 37, § 6º, da Constituição Federal.

1.1.4 Da desconstituição da pessoa jurídica.

Visualizada em diversos países a teoria da “desconsideração da personalida-de


jurídica” ou da “despersonificação da pessoa jurídica” vem, sem dúvidas,
ganhando espaço na doutrina brasileira e aos poucos sendo aplicada nos Tri-
bunais, não só no que se relaciona ao direito ambiental, mas também a outros
ramos do direito.

A referida consiste em extinguir a personalidade jurídica sempre que a existên-


cia desta, porventura, obstar ao ressarcimento dos prejuízos causados à qua-
lidade do meio ambiente, de acordo dispõe o art 4º da 9.605: “Poderá ser des-
considerada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente”.

A referida Lei dos Crimes Ambientais, no que se refere à desconsideração da


personalidade jurídica (art. 4º), praticamente, reproduz o que aduz o artigo 28,
§ 5º do Código de Defesa do Consumidor. O principal parâmetro da questão é
sem dúvidas a necessidade de reparação dos prejuízos causados.

O que na realidade se depreende é que a “desconsideração” é enfim aplicada


quando a pessoa jurídica em questão foge das finalidades a que foi criada ou,

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mesmo dentro dela, comete atos que, se analisados, demonstra fraude à lei ou
ao contrato, em detrimento de terceiros.

Como objeto da possível desconsideração ou despersonalização é, indubitavel-


mente, coibir a fraude, em todos os sentidos, bem como o abuso de direito,
haja vista o cometimento de excessos. Há de se destacar, no entanto que a
despersonalização só anula os atos em questão impugnados, preservando en-
tão os demais que se verificarem alheios aos atos outrora impugnados.

Em suma, grande parte da doutrina de direito ambiental entende que agiu bem
o legislador ao inserir na Lei dos Crimes Ambientais a possibilidade da descon-
sideração da personalidade jurídica, combatendo a fraude e o abuso de direito,
por meio de seus sócios, agredindo o meio ambiente e locupletando-o.

1.1.5 A aplicação das penas.

No que se relaciona à aplicação das penas, a lei 9.605/98 preve penas de mul-
ta, restritivas de liberdade e restritivas de direito.

Entretanto destaca-se a preferência legislativa em relação às penas restritivas


de direito e as pecuniárias e isso se explica por dois motivos. Inicialmente as
referidas penas aplicam-se a quaisquer pessoas, ou seja, às pessoas físicas e
jurídicas; e, haja vista a enorme diferença entre os delinquentes ambientais e
àqueles que tem ocupado o sistema prisional brasileiro. Ainda em relação a se-
gunda situação notaria um contrassenso se o legislador optasse pela pena res-
tritiva de liberdade, vez que a sociedade suportaria o dano causado e às custas
no que se relaciona a privação de liberdade do delinquente.

1.1.5.1. Das penas aplicáveis às pessoas físicas.

Ambas as penas do referido diploma legal se aplicam às pessoas físicas, sen-


do elas, as anteriormente citadas, ou seja, as restritivas de liberdade, de direito
e multa.

1.1.5.2. Penas restritivas de liberdade.

As penas privativas de liberdade que se verificam no ordenamento jurídico na-


cional são as de detenção e as de reclusão, e prisão simples em se tratando de
contravenção penal.

Diferencia-se a detenção e a reclusão por um aspecto meramente formal, de


acordo com o art. 33 do Código Penal. Dispõe este da seguinte redação: “a

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pena de reclusão de ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A
de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transfe-
rência a regime fechado”. Assim sendo, tal diferença consiste tão somente no
regime de cumprimento de pena.

Em se tratando da Lei dos Crimes Ambientais, como anteriormente citado, fez o


legislador explicita preferência pela restritiva de direito, podendo até, em deter-
minados casos, ser substituída pelas restritivas de direito. Assim sendo, verifi-
ca-se que sua aplicabilidade se dá tão somente no último caso.

1.1.5.3. Penas Restritivas de direito.

Face ao disposto no artigo 7º da Lei 9.605/98, que dispõe da seguinte redação:


“as penas privativas de direitos são autônomas e substituem as privativas de li-
berdade quando: I – trata-se de crime culposo ou for aplicada pena privativa de
liberdade, inferior a quatro anos; II – a culpabilidade, os antecedentes, a condu-
ta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circuns-
tâncias do crime indicarem que a substituição seja suficiente para efeitos de re-
provação e prevenção do crime”, verifica-se como anteriormente referido, que o
legislador brasileiro sem dúvida fez estrita opção pela pena restritiva de direito.

O fato acima descrito se deu face algumas características dos crimes ambien-
tais.

Inicialmente nota-se que há, indubitavelmente, uma diferença entre o perfil


do delinquente que o comete em relação ao que comete um crime, como por
exemplo, de homicídio, assim sendo, não é concebível a lei preveja a estes, a
mesma cominação de pena, nem mesmo o regime de cumprimento.

De acordo ainda a disposição do art. 7º, parágrafo único, da Lei dos Crimes
Ambientais, as penas restritivas de direito terão a mesma duração das restriti-
vas de liberdade.

Sem dúvida é uma evolução do direito moderno, haja vista a busca incessante
de se afastar as penas restritivas de liberdade em função do colapso que vive o
sistema prisional brasileiro, e são elencadas de acordo dispõe o art. 8º do refe-
rido diploma legal: “I – prestação de serviços à comunidade; II – interdição tem-
porária de direitos; III – suspensão parcial ou total de atividades; IV – prestação
pecuniária; V – recolhimento domiciliar”.

Das penas acima citadas, é mister enfatizar que não se verifica uma sobreposi-
ção ou uma hierarquia entre elas, tendo o juiz discricionariedade na aplicação
das mesmas, no entanto verifica-se ao passo da atual conjuntura econômica
nacional, a maior aplicação da pena de prestação de serviços à comunidade e

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a pena de prestação pecuniária, sendo que historicamente a primeira se deriva
da segunda, ao passo que era aplicada àquelas pessoas que não reuniam con-
dições de solver com as pecuniárias.

1.1.6. Penas da Pessoa Jurídica

Após descrever as penas aplicáveis as pessoas físicas, a Lei dos Crimes Am-
bientais elucida acerca das penas cabíveis as pessoas jurídicas.

Dispõe o art. 21: “as penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente


às pessoas jurídicas, de acordo com o art. 3º são: I – multa; II – restritivas de
direitos; III – prestação de serviços à comunidade”.

No que se relaciona à aplicação da pena, define o artigo anteriormente cita-


do, três possibilidade. Inicialmente as penas são impostas: isoladas, assim sen-
do uma só pena a ser aplicada; alternativa, em que nota-se que há mais de
uma pena, no entanto tão somente uma é aplicada, e; por fim as cumulativas,
onde verifica-se mais de uma pena e sendo, então, aplicadas ambas em
cumulo.

Em se tratando da pessoa jurídica a pena alternativa, ou seja, a restritiva de


direito será aplicada como regra, vez que a Parte Especial do diploma legal
em questão prevê tão somente penas privativas de liberdade, o que se verifica
como sendo fator motivador de muitos contrários a punição penal da pessoa
jurídica.

Ainda neste, foi citada as modalidades de penas no que se relaciona à sua apli-
cação. Na prática, quando, porventura, se verificar uma pena alternativa,
aplicar-se-á restritiva de direito; quando notar-se a cumulativa, aplicar-se-á
tão somente a restritiva de direito.

Em face ao grau dos danos causados, os prejuízos causados e a extensão da


degradação visualizada, entendem doutrinadores que ao lado da pena de mul-
ta, poderá ser aplicada outra restritiva de direito, como a prestação de serviços
à comunidade.

A Lei 9.605/98 devidamente elencou as penas restritivas de direito a serem


aplicadas à pessoa jurídica, sendo elas, de acordo com o art. 22: “as penas
restritivas de direito da pessoa jurídica são: I – suspensão parcial ou total das
atividades; II – interdição temporária de estabelecimento, obra, atividades; III
– proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,
subvenções ou doações”.

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Em se tratando da su8spensão das atividades, explicada no § 1ºdo artigo su-
pra citado, assim como se verifica no direito administrativo, constitui-se um ato
punitivo. Dada a gravidade do dano, verificar-se-á a aplicação da suspensão
parcial ou total, no entanto nota-se que a suspensão susta tão somente a exe-
cução (continuação).

Em se tratando da interdição, explica o § 2º: “a interdição será aplicada quando


o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida auto-
rização ou em desacordo com a concedida, ou com a violação de disposição
legal ou regulamentar”.

Nota-se que este acima traz de forma taxativa os casos onde caberá a aplica-
ção da interdição.

São sujeitas à interdição em face das disposições legais: a) obra ou atividade


– aqui, trata-se de qualquer execução, inclusive se esta tiver natureza tão so-
mente de reparos, como, por exemplo, reforma em galerias de águas pluviais.
Nota-se que para a sua aplicação há a necessidade de que esta esteja con-
trariando a lei ou a regulamento; b) estabelecimento – nota-se aqui que há a
necessidade da participação de uma empresa ou firma que está a desenvolver
atividades que não estão de acordo com as disposições legais.

No que se relaciona à interdição, verificar-se-á esta quando: 1 – autorização:


tal verifica-se por em relação ao funcionamento, bem como a construção de
uma obra. Em ambos os casos a não existência da autorização torna a ativi-
dade clandestina; 2 – em desacordo: aqui, há a autorização para realização de
determinada atividade, no entanto, tal poderá ser verificada em duas situações
distintas – a) concedida: verifica-se quando a autorização é dada para a conse-
cução de atividade diversa da que realmente se verifica ocorrendo; b) violação:
quando apesar de ter autorização para realização daquela determinada ativida-
de, não a executa de acordo com as disposições legais.

Por fim, a proibição de contratar com o Poder Público é aplicada às pessoas


jurídicas de grande repercussão em suas áreas de atuação.

Dispõe o § 3º, do art. 22 da Lei dos Crimes Ambientais que: “A proibição de


contratar com o Poder Público e dele obter subsídios, subvenções ou doações
não poderá exceder a dez anos”.

No que se relaciona à pessoa física, tal restrição foi fixada de 03 (nos casos de
crimes culposos) a 05 anos (nos casos de crimes dolosos). No caso da pessoa
jurídica, previu o legislador o prazo máximo de 10 anos. Sabe-se que as penas
que vedam subsídios e adjacências repercutem em muito nas empresas, haja
vista sua natureza financeira.

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Do art. 23 ao art. 25, prevê a Lei dos Crimes Ambientais acerca da prestação
de serviços, da liquidação forçada e da apreensão de produtos.

Inicialmente da prestação de serviços à comunidade tal se verificará num de-


senvolvimento por parte da pessoa jurídica condenada de programas e proje-
tos de cunho social, bem como o desenvolvimento de recuperação de áreas
degradas. Na impossibilidade de se verificar o cumprimento destas, poderá se
aplicada a contribuição a entidades, sendo que pela ordem, tais deverão ser:
ambientais, culturais e públicas.

Da liquidação forçada percebe-se que esta se configura como sendo uma pena
de morte, haja vista, ter por escopo por fim à pessoa jurídica. Destaca-se o fato
de seu patrimônio ser revertido para a união, e, assim como a pena de multa,
são revertidos ao Fundo Penitenciário.

Da apreensão do produto destaca-se o fato ser esta ligada diretamente aos


que foram utilizados na prática do crime. Tal apreensão é praticada pela autori-
dade policial o a quem faz suas vezes.

1.1.7. Das circunstâncias.

5.1. Atenuantes

Face ao princípio da especialidade, tratou o legislador de inserir na Lei dos Cri-


mes Ambientais, as circunstâncias que atenuam (art. 14), bem como as que
agravam (art. 15) a pena. Levou-se em consideração a especificidade das
agressões que são direcionadas ao meio ambiente, bem como os meios como
a ação fora executada.

Então, presentes quaisquer das situações prevista no art. 14, a pena será di-
minuída, sendo tal diminuição a critério do julgador, haja vista tal circunstância
não prevê o quantum. Das quatro circunstâncias visualizadas no referido artigo,
três têm referência direta com o dano: espontânea reparação, comunicação do
perigo, colaboração na vigilância. Tão somente uma se liga ao agente: baixo
grau de instrução e escolaridade.

1.1.7.2 Agravantes

Ante ao anteriormente disposto, prevê a Lei 9.605/98 as circunstâncias agra-


vantes no que se relaciona aos crimes ambientais. Dispõe o art. 15: “Art 15.
São circunstâncias que agravam a pena, quando não constituem ou qualificam
o crime: I - reincidência nos crimes de natureza ambiental; II - ter o agente co-
metido a infração: a) para obter vantagem pecuniária; b) coagindo outrem para

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a execução material da infração; c) afetando ou expondo a perigo, de manei-
ra grave, a saúde pública ou o meio ambiente; d) concorrendo para danos à
propriedade alheia; e) atingindo áreas de unidades de conservação ou áreas
sujeitas, por ato do Poder Público, a regime especial de uso; f) atingindo áre-
as urbanas ou quaisquer assentamentos humanos; g) em período de defeso à
fauna; h) em domingos ou feriados; i) à noite; j) em épocas de seca ou inunda-
ções; l) no interior do espaço territorial especialmente protegido; m) com o em-
prego de métodos cruéis para abate ou captura de animais; n) mediante fraude
ou abuso de confiança; o) mediante abuso do direito de licença, permissão ou
autorização ambiental; p) no interesse de pessoa jurídica mantida, total ou par-
cialmente, por verbas públicas ou beneficiada por incentivos fiscais; q) atingin-
do espécies ameaçadas, listadas em relatórios oficiais das autoridades compe-
tentes; r) facilitada por funcionário público no exercício de suas funções”.

Das anteriores descritas, merece, indubitavelmente destaque a reincidência. A


reincidência “perfaz-se pela prática de novo crime pelo agente, depois de tran-
sitada em julgado a sentença que, no país ou no estrangeiro, o tenha conde-
nado por crime anterior”, dispõe o art. 63 do Código Penal. No entanto, em se
tratando dos crimes ambientais, salienta o art. 15 a necessidade que a rein-
cidência se dê em crime de natureza ambiental. Assim sendo, tem-se o
que se denomina de reincidência específica. (p. 41) Destaca-se que a
reincidência não tem caráter de perpetuidade, mas sim, prescreve no
decurso de prazo de 05 anos (art. 64, I, do Código Penal).

1.1.8. Das excludentes de ilicitude

Sem dúvidas, o fato típico, sempre que se verificar um excludente de antijurici-


dade, perderá a sua ilicitude.

A Lei dos Crimes Ambientais tratou de elucidar as causas excludentes de ilicitu-


de. Elencou, por exemplo, no art. 37 situações que se configuram como sendo
excludentes de ilicitude em se tratando do abate de animais. Dispõe o referido
artigo da seguinte redação: “Não é crime o abate de animal, quando realizado:
I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família;
II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destrui-
dora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade
competente; III - (VETADO) IV - por ser nocivo o animal, desde que assim ca-
racterizado pelo órgão competente”.

Nas disposições finas, tratou o legislador de explicitar a aplicabilidade do princí-


pio da subsidiariedade da lei penal comum, tendo então, perfeita aplicabilidade
em se tratando de crimes ambientais o art. 23 do Código Penal.

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Por fim, há de se destacar o veto presidencial do inciso III, do art. 37. Tal se
verificou com louvor, haja vista, previa o referido inciso uma possibilidade de
legítima defesa contra o ataque de animais ferozes, o que, porventura aceito
vislumbraria no ordenamento jurídico mundial como uma aberração, em razão
da legítima defesa figurar-se possível contra sujeitos de direitos e deveres, ou
seja, pessoas.

1.1.9 Da ação penal.

Em se tratando da ação penal, tratou o legislador de ser objetivo, haja dis-pôs


tal matéria em tão somente três artigos, sendo eles o 25, 26 e 27 da Lei
9.605/98.

Do anteprojeto da referida lei, vetou-se o § único do art. 26, que previa a pos-
sibilidade de que nos municípios onde não se verificasse a Justiça Federal, a
competência seria da Justiça Estadual, bem como do Ministério Público Esta-
dual. Na motivação do veto anotou-se o fato de que já em muitos tipos penais
prevê-se a competência estadual.

Dispõe o art. 25: “nas infrações penais previstas nesta lei a ação penal é públi-
ca e incondicionada”.

Assim sendo, têm-se como exclusivamente competente para propor a ação


o Ministério Público, não cabendo de forma alguma a ação penal privada.
Salienta-se ainda que a referida ação independe de qualquer representação ou
requi-sição.

“Dentro dos princípios que regem o Ministério Público, mais do que a obriga-
toriedade (para alguns legalidade) funciona o princípio da oportunidade, espe-
cialmente nos crimes ambientais, onde uma ação esperada em lugar de uma
precipitada pode propiciar a descoberta do grupo ou de seus responsáveis”.

1.1.10. Dos crimes propriamente ditos.

1.1.10.1 Contra a fauna

Os atentados que se relacionam à fauna, então previstos na Lei 5.197/67 (Có-


digo de Caça) e o Decreto-Lei 221/67 (Código de Pesca), foram consolidados
então na Seção I do Capítulo V.

Aqui se cumpre salientar que as penas cominadas guardam, de certo modo,


uma adequação à gravidade dos fatos, distanciando-se do que foi outrora pre-
visto que, por considerar como inafiançáveis os delitos cometidos contra a fau-

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na silvestre e, por estabelecer sanções um tanto quanto rigorosas em dema-
sia, tinha sua aplicação prática um tanto quanto discreta. Aplica-se, na grande
maioria dos casos, os princípios da insignificância e da irrelevância penal do
fato (= delito de bagatela), absolvendo então os acusados.

Algumas considerações acerca dos tipos penais em se tratando a fauna mere-


cem destaque.

Inicialmente no art. 29 fez o legislador referência à “espécimes”, assim sendo,


este deu sentido de que o tipo penal só se verificará com a ação em face de
vários exemplares da fauna, ou seja, que o dano aplicado em relação a tão so-
mente um exemplar não configuraria crime.

Com relação ao art. 30, verificou-se a utilização da expressão: “exportar para o


exterior”, se não verificando-se essa redundante, ao menos restringiu a possi-
bilidade da prática de tal fato típico no comércio tão somente interno, fato muito
comum em se tratando de Brasil.

Questão também relevante é a que se refere ao art. 32, que trata da prática
de abuso contra os animas, haja vista não se ter definido legalmente o que se
configura como sendo a “prática de abusos”. “Maus-tratos” é o nome jurídico da
conduta que consta o art. 136 do Código Penal, no entanto, praticada contra
animais possui uma pena maior do que contra a pessoa.

1.1.10.2 Contra a flora.

Dos crimes contra a flora, previstos na Seção II do Capítulo V, destaca-se a in-


corporação como sendo conduta criminosa a maioria das contravenções penais
outrora previstas na Lei 4.771/65 (Código Florestal).

Em se tratando desta modalidade de crimes, sem dúvidas um dispositivo legal


que merece destaque é o art. 42, que se refere ao fabrico, venda, transporte ou
soltura de balão. O referido artigo é, sem dúvida, um comportamento adequado
para figurar no rol das contravenções penais ou das infrações administrativas,
haja vista, ter como escopo inibir conduta típica da cultura brasileira. Certamen-
te a alegria propiciada pelas festas juninas, que em nada se dista das manifes-
tações culturais fadará tal dispositivo ao desuso.

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1.1.10.3 Da poluição.

Em se tratando dos crimes previstos na Seção III do Capítulo V da Lei dos Cri-
mes Ambientais, o legislador destacou no art. 54 os crimes de poluição, revo-
gando então tipificação análoga prevista no art. 15 da Lei 6.938/81, em face
de possui um conteúdo mais abrangente. Dispõe o referido artigo da seguinte
redação: “Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem
ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortan-
dade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um
a quatro anos, e multa. § 1º Se o crime é culposo: Pena - detenção, de seis
meses a um ano, e multa. § 2º Se o crime: I - tomar uma área, urbana ou rural,
imprópria para a ocupação humana; II - causar poluição atmosférica que pro-
voque a retirada, ainda que momentânea, dos habitantes das áreas afetadas,
ou que cause danos diretos à saúde da população; III - causar poluição hídri-
ca que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de
uma comunidade; IV - dificultar ou impedir o uso público das praias; V - ocorrer
por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou
substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis
ou regulamentos: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 3º Incorre nas mes-
mas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando as-
sim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco
de dano ambiental grave ou irreversível”.

Destaca-se que o caput prevê a forma dolosa do crime. O tipo penal tutela en-
tão a saúde humana, podendo o crime ser figurado como de perigo ou de dano.
A segunda parte, tara o artigo da incolumidade animal e vegetal, sendo o referi-
do crime tão somente de dano, vez que, explicitamente tipifica a conduta capaz
de provocar a mortandade de animais ou a efetiva destruição significativa da
flora.

Tratou o § 1º da modalidade culposa do referido crime, em todas as suas mo-


dalidades. Já em seu § 2º cuida do crime qualificado pelo resultado, onde se
permite a aplicação de uma pena mais severa. Por fim o § 3º, prevê a omissão
na adoção de medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental gra-
ve ou irreversível, valorizando-se então os princípios de direito ambiental.

1.1.11. Conclusão
Assim sendo, ante à todas as considerações feitas perceberam-se que em sen-
do, como anteriormente citado, o Brasil possuidor da maior floresta tropical do
mundo a necessidade de uma legislação que busque sem dúvidas coibir os
abusos e permitir um uso sustentável dos recursos provenientes da natureza.
Tem-se como louvável a busca legislativa de reunir numa única disposição le-
gislativa todos os crimes pertinentes a tal.

PÁGINA 106
REFERÊNCIAS

BRASIL. Código Penal. Organização de textos, notas remissivas e índices por


Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia
Céspedes. 18. Ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de


outubro de 1998. Organização de textos, notas remissivas e índices por Anto-
nio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspe-
des. 29. Ed. Atual. E ampl. São Paulo: Saraiva, 2002.

BRASIL. Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções pe-


nais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio am-
biente, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasil, 12 de feverei-
ro de 1998.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 12.


Ed. Rev. Ampl. Atual. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2005.

FLORÊNCIO, Gilbert Ronald Lopes. Introdução ao Direito Civil: Parte Geral.


Tomo 1. Leme: Editora de Direito, 2001.

LEAL SARAIVA, Alexandre José de Barros. Direito Penal Fácil: parte geral.
Belo Horizonte: Del Rey, 2003.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:


Editora Revista dos Tribunais, 1998.

MANZIONE, Luiz. Resumo de Direito Civil. Leme: Editora de Direito, 2002.


MEIRELLES, Helly Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 28. Ed. Atual.
São Paulo: Malheiros, 2003.

MILARÉ, Édis. Direito Ambiental: doutrina, prática, jurisprudência, glossá-


rio. 2. Ed. Rev. Atual. Ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: Parte Geral. 19. Ed. Rev.
Atual. São Paulo: Atlas, 2003.

PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. 1. 16. Ed.
Rev. Atual. Rio de Janeiro: Forense, 1994.

PÁGINA 107
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro: Parte Geral. 2. Ed.
Rev. Atual. Ampl. São Paulo: RT, 2000.

Rogério Greco Filho. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 2. Ed. Rev. Ampl.
Atual. Rio de Janeiro: Impetus, 2003.
SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional Ambiental. 2. Ed. São Paulo:
Malheiros, 1998.

SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 2. Ed. Rev. Atual.


Ampl. São Paulo: Saraiva, 2003.

SOUZA, José Carlos Rodrigues de. Responsabilidade penal das pessoas


jurídicas e sua justificativa social. Revista de Direito Ambiental. São Paulo:
Editora revista dos Tribunais, 1998.

SZNICK, Valdir. Direito Penal Ambiental. São Paulo: Ícone, 2001.

LEITURA COMPLEMENTAR SUGERIDA:


https://www.mundoadvogados.com.br/artigos/quais-sao-os-crimes-ambientais-
-mais-comuns

PÁGINA 108
8CAPÍTULO
RESPONSABILIDADE
AMBIENTAL

Identificar os diferentes aspectos das responsabilidades administrativa, civil e


criminal em matéria ambiental.

Professor Esp. Patrícia de Moura Leal Teixeira

Objetivos de Aprendizagem:
• Conhecer os conceitos de responsabilidade;
• Entender o fundamento legal de responsabilidade;
• Diferenciar os tipos de responsabilidade;
• Compreender a responsabilidade tríplice no âmbito ambiental.

PÁGINA 109
INTRODUÇÃO

Trata-se de tema bastante comentado nos últimos tempos, em todos os meios


de comunicação. Contudo, sabemos que existe uma diferença extremamente
elevada entre a teoria e o que ocorre realmente na prática.

O tema da Responsabilidade Ambiental engloba vários aspectos que ensejam


bastante atenção, haja vista que nosso planeta está cada vez mais degradado
pelas ações do homem, seja no contexto individual, empresarial ou estatal, em
decorrência do processo de industrialização e evolução tecnológica.

Por outro lado, na maioria das vezes as pessoas físicas ou jurídicas só se preo-
cupam realmente em preservar o meio ambiente quando suas atitudes refletem
na esfera cível ou penal, trazendo consequências financeiras de grande vulto.

Por fim, saliente-se que a nossa sobrevivência e a das futuras gerações depen-
dem exclusivamente das atitudes que adotamos no presente, e por isso temos
o dever de educar nossos filhos nesse sentido.

1. RESPONSABILIDADE AMBIENTAL.

1.1 Conceito

Inicialmente, vale salientar que responsabilidade ambiental não pode ser con-
fundida com responsabilidade civil, como vem ocorrendo, haja vista que para
que efetivamente haja proteção ao meio ambiente, não se pode permitir que
primeiro aconteçam os impactos para depois, fixar a condenação indenizatória
em dinheiro.

Por conseguinte, percebe-se que responsabilidade ambiental não possui o


mesmo significado para todos, uma vez que para alguns representa a ideia de
obrigação, já para outros significa um comportamento ético, de maneira social-
mente consciente.

Na verdade, este conceito diz respeito à necessidade de revisar os métodos de


produção de forma que o sucesso empresarial não seja alcançado a qualquer
preço, e sim ponderando os impactos sociais e ambientais consequentes da
atuação administrativa das empresas.

PÁGINA 110
1.2 OBJETIVOS

O principal objetivo é de utilizar os recursos naturais, da melhor maneira possí-


vel, reduzindo ou evitando possíveis riscos e danos, sem redução nos lucros,
promovendo o chamado desenvolvimento autossustentável do planeta, das
empresas e das pessoas em geral.

Para tanto, podemos citar como exemplos de programas e projetos de Respon-


sabilidade Socioambiental: inclusão social, inclusão digital, programas de alfa-
betização, ou seja, assistencialismo social, coleta de lixo, reciclagem, progra-
mas de coleta de esgotos e dejetos, reflorestamento, etc.

Por fim, vale salientar que o êxito deste conceito depende da conscientização,
ou seja: consciência + ação, de toda a sociedade, e principalmente, investindo
em educação das crianças que são o futuro de nosso planeta e da espécie hu-
mana.

2. FUNDAMENTO LEGAL DA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

2.1 DANO AMBIENTAL

A lei brasileira define como poluidor toda pessoa física ou jurídica, de direito pú-
blico ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora
de degradação ambiental. Primeiramente, mas não exclusivamente, responsa-
biliza-se o empreendedor, que é o titular do dever principal de zelar pelo meio
ambiente. Havendo mais de um, a responsabilidade é solidária. Fica ressal-
vado ao empreendedor voltar-se regressivamente contra o causador do dano,
alcançando, inclusive, o profissional que eventualmente tenha se excedido ou
omitido no cumprimento da tarefa a ele cometida.

As pessoas jurídicas de Direito Público também podem ser responsabilizadas


como agente poluidor ou quando se omitem no dever constitucional de proteger
o meio ambiente. O Estado tem o dever de preservar a saúde pública e ordenar
as atividades produtoras. Responde solidariamente com o particular ou direta-
mente quando puder ser increpada a ele a causação direta do dano.

Com relação ao ônus da prova, nas questões envolvendo dano ambiental apli-
cam-se o princípio do ônus da prova e da igualdade processual entre os litigan-
tes, cabendo ao autor provar o dano sofrido e o nexo de causalidade. Tal prova
deve ser objetiva e técnica, utilizando-se de medições. Dano é o prejuízo cau-
sado a alguém por um terceiro que se vê obrigado ao ressarcimento. A doutrina
civilista tem entendido que só é ressarcível o dano que preencha aos requisitos
da certeza, atualidade e subsistência.

PÁGINA 111
A CF/88, em seu art. 225, §2º, determina que: “aquele que explorar recursos
minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com
a solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. “O
§3º acrescenta:” as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio am-
biente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais
administrativas, independentemente da obrigação de reparar o dano. A CF/88,
que emprega os termos “restaurar” e “reparar”, como a legislação infraconstitu-
cional, que utiliza termos como “restauração” e “reconstituição”, estão em har-
monia no sentido de indicar um caminho para as pessoas físicas e jurídicas
que danificarem o meio ambiente, como para a Administração Pública e para
os juízes que intervierem pra proteger o meio ambiente. O fato é que não existe
um critério único para a fixação da reparação.

Os tribunais brasileiros são extremamente restritivos quanto à reparação do


dano ambiental. Eles exigem do autor a prova do dano real e não apenas o
dano potencial, o que viola o princípio da cautela e enfraquece a responsabili-
dade objetiva do poluidor. Ou seja, a atuação judicial é fundamentalmente pos-
terior ao dano causado, o que significa que o poder judiciário está abdicando
de sua função cautelar em favor de uma atividade repressiva puramente re-
pressiva que, em Direito Ambiental, é de eficácia discutível

3. RESPONSABILIDADE AMBIENTAL DO ESTADO

3.1 A RESPONSABILIDADE DO ESTADO POR DANO AMBIENTAL

Após a Revolução Industrial houve uma intensa degradação do meio ambiente


em decorrência da ação do homem que em busca de novas descobertas, no
intuito de melhorar suas codições de vida,  o que vem ocasionando visíveis al-
teração no equilibrio ambiental. Apartir do alerta que foi dado a população pas-
sou a se preocupar com as futuras gerações, dando assim  origem a normas
especificas de proteção ao meio ambiente, as quais obrigavam a reparação do
dano causado.

Porém por muitas vezes a reparação não se apresentava de maneira satisfa-


tória, por não ser possível a recomposição do espaço físico destruído. Daí a
importância da prevenção, uma vez que o caráter preventivo inibiria as ativi-
dades de futuros agressores, tendo em vista que a proteção ao meio ambiente
é antes de tudo, uma obrigação do Estado por ser um bem de uso comum, a
Administração Pública exerce o Princípio da Prevenção por meio das licenças,
das sanções administrativas, da fiscalização e das autorizações.

Visto que a maioria dos danos ambientais graves são sempre causados por
grandes corporações econômicas ou pelo próprio Estado através das empre-
sas estatais de petróleo, de geração de energia elétrica, etc.

PÁGINA 112
Houve a necessidade de responsabilizar as pessoas jurídicas por dano am-
biental.

Surgindo assim a problematica de como responsabilizar o Estado por dano


causado por ele ao meio ambiente, uma vez que se trata de uma pessoa jurídi-
ca como sujeito ativo do crime, a doutrina estabelece duas correntes, uma que
seus  adeptos afirmam que a pessoa jurídica não pode configurar como sujeito
ativo do crime uma vez que não tem vontade suscetível de caracterizar o dolo e
a culpa, imprescindíveis para a configuração da culpabilidade. Asseguram, ain-
da que as punições penais, qual seja, a pena privativa de liberdade, se destina
exclusivamente à pessoas fisicas.

Já a outra corrente argumenta que o Estado sendo ele  sujeito de direitos, do-
tado de personalidade autônoma e capacidade de figurar no pólo ativo nas re-
lações jurídicas, assim como as demais pessoas fisicas ou jurídicas, deve res-
ponder pelos danos causados por sua ação ou omissão lesiva ao meio ambien-
te.

No entanto, a presente discussão foi parcialmente resolvida com a edição da


Lei n.° 9.605/98, que dispõe sobre as sansões penais e administrativas das
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente a qual em seu art. 3º dispõe
acerca da viabilidade da pessoa jurídica responder por crime no Brasil nos refe-
ridos casos. A presente lei foi fruto do reconhecimento da necessidade de res-
guardar de maneira uniforme e coerente com a importância do bem jurídico tu-
telado, aliada às dificuldades de inseri-la no Código Penal.

3.2 A RESPONSABILIDADE DO ESTADO

A aplicação das sanções penais ambientais, tem como objetivo assegurar a to-
dos e não só aos  residentes no País, o direito constitucional ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, sendo preciso levar em consideração a natureza
do bem jurídico tutelado, como integrante da categoria dos direitos fundamen-
tais, insuscetíveis de regulamentação individual, dado seu caráter coletivo.

A Lei n.° 6.938/81 definiu meio ambiente no inciso I do artigo 3°, disciplinando
que se trata de um “ conjunto de condições, leis, influências e interações de or-
dem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as
suas formas”.

A partir deste entendimento, introduziu-se a responsabilidade objetiva por dano


ambiental, prescindindo da culpa ou do dolo para o seu acontecimento, bastan-
do provar a existência do dano e o nexo de causalidade com o ato estatal.

PÁGINA 113
A Administração Pública, bem como seus agentes têm o dever de preserva-
ção do meio ambiente atribuído pela CF/88 ao Poder Público, conforme o Art.
225,que diz: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.

No entanto, surge uma outra problematica, o Estado ao ser responsabilizado


por atos de seus agentes públicos o que é premissa fundamental do Estado
Democrático de Direito, o ônus da responsabilização recairá sobre os encargos
financeiros mantidos com recursos dos próprios cidadãos, que neste caso se-
ram novamente lesados, a unica saida encontrada foi o Estado promover ação
regressiva contra o agente público causador do dano, caso o mesmo tenha
agi-do por ação ou omissão, sendo averiguado também a existência de
dolo ou culpa, por se tratar de responsabilidade objetiva, será ele obrigado a
ressarcir o poder público.

Entretanto, há determinadas atividades que, ocorrendo um dano ambiental, o


próprio Estado deverá ser o responsável subjetivamente, uma vez que se trata
de atividade de risco e de sua exclusiva competência, é o que ocorre quando o
Estado armazena produtos radioativos, vindo a ocasionar um dano ambiental.

A responsabilidade por dano ambiental é objetiva dada a dificuldade de com-


provação dos prejuízos e da dimensão do patrimônio tutelado pois trata-se de
um interesse transindividual, contudo a responsabilidade do Estado por danos
ambientais tem uma tríplice responsabilização que integra a esfera cível, penal
e administrativa.

Na esfera cível, por força do art. 37, §6° da CF/88, o Poder Público responderá
pelos danos causados pelo agente, sendo-lhe assegurado o direito de regresso
no caso de dolo e culpa do agente.

A responsabilidade civil objetiva por dano ambiental surgiu no Brasil pelo De-
creto n.° 79.347, de 20 de março de 1977, que promulgou a Convenção Inter-
nacional sobre responsabilidade civil em danos causados por poluição por óleo,
de 1969. Logo após, foi promulgada a Lei n.° 6.453, de 17 de outubro de 1977
que, em seu art. 4°, caput, acolheu a responsabilidade objetiva referente aos
danos oriundos de atividades nucleares. E, por fim, a Lei n.° 6.938/81 consa-
grou, latu sensu, a responsabilidade civil objetiva por danos ambientais.

A responsabilidade penal está prevista no art. 2° da Lei de Crimes Ambientais


n.° 9.605/98, o qual dispõe que: Quem, de qualquer forma, concorre para a prá-
tica dos crimes previstos nesta lei, incide nas penas a estes cominadas, na me-
dida de sua culpabilidade, como o diretor, o administrador, o membro do conse-
lho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pes-

PÁGINA 114
soa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a
sua prática, quando podia agir para evitá-la.

A ação penal deverá ser ajuizada em face de todos aqueles que concorreram
para a prática dos delitos ambientais, sendo que cada um responderá na medi-
da de sua culpabilidade.

Já na esfera administrativa, o agente público será co-responsável mediante sua


omissão quanto ao cômputo imediato de infração que teve ciência.

4. RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EMPRESARIAL

4.1 CONCEITO

Responsabilidade Ambiental é um conjunto de atitudes, individuais ou empre-


sarias, voltadas para o desenvolvimento sustentável do planeta. Ou seja, estas
atitudes devem levar em conta o crescimento econômico ajustado à proteção
do meio ambiente na atualidade e para as gerações futuras, garantindo a sus-
tentabilidade.

4.2 EXEMPLOS DE ATITUDES QUE ENVOLVEM A RESPONSABILIDADE


AMBIENTAL EMPRESARIAL:

• Criação e implantação de um sistema de gestão ambiental na empresa;


• Tratar e reutilizar a água dentro do processo produtivo;
• Criação de produtos que provoquem o mínimo possível de impacto am-
biental;
• Dar prioridade para o uso de sistemas de transporte não poluentes ou
com baixo índice de poluição. Exemplos: transporte ferroviário e maríti-
mo;
• Criar sistema de reciclagem de resíduos sólidos dentro da empresa;
• Treinar e informar os funcionários sobre a importância da sustentabilida-
de;
• Dar preferência para a compra de matéria-prima de empresas que tam-
bém sigam os princípios da responsabilidade ambiental;
• Dar preferência, sempre que possível, para o uso de fontes de energia
limpas e renováveis no processo produtivo;
• Nunca adotar ações que possam provocar danos ao meio ambiente
como, por exemplo, poluição de rios e desmatamento.

PÁGINA 115
5. RESPONSABILIDADE AMBIENTAL INDIVIDUAL

Nos termos da lei brasileira, responsável principal é o “poluidor”. Poluidor é


toda pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta
ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental ( art. 3º, IV
da Lei 6.938/81).

O legislador, não limita-se somente poluidor a quem sua ou inquina o meio am-
biente com matéria ou energia; estende, porém, o conceito a quem degrada ou
altera desfavoravelmente a qualidade do ambiente.

Na atuação da Responsabilidade ambiental individual, o indivíduo deve pensar


e atuar de forma coerente com a preservação do meio ambiente, isto é, agir de
forma que utilize o meio ambiente de uma maneira que satisfaça a sua necessi-
dade, mas, preservando o meio utilizado visando o bem estar não somente de
si próprio, mas de toda coletividade. Em suma, a Responsabilidade ambiental
individual consiste em atitudes individuais reiteradas para uma melhor preser-
vação do nosso meio. Lembrando que nessa parte do nosso trabalho iremos
ater-nos tão somente a pessoa física como responsável ambiental individual.

5.1 RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL PENAL

Quanto a responsabilidade penal individual, o criminoso ambiental é tratado de


forma diferente, por muitas vezes serem praticados por pessoas que não tra-
zem uma periculosidade ao meio social, ou seja, praticam tal atos muitas vezes
sem ter plena consciência do que se ocorre. O julgador deve estar atento ao
disposto no art. 59 do Código Penal e art. 14 da Lei 9.605/98.

PÁGINA 116
5.2 Exemplos de atitudes que envolvem a responsabilidade ambiental in-
dividual:

• Realizar a reciclagem de lixo (resíduos sólidos);


• Não jogar óleo de cozinha no sistema de esgoto;
• Usar de forma racional, economizando sempre que possível, a água;
• Buscar consumir produtos com certificação ambiental e de empresas
que respeitem o meio ambiente em seus processos produtivos;
• Usar transporte individual (carros e motos) só quando necessário, dando
prioridades para o transporte coletivo ou bicicleta;
• Comprar e usar eletrodomésticos com baixo consumo de energia;
• Economizar energia elétrica nas tarefas domésticas cotidianas;
• Evitar o uso de sacolas plásticas nos supermercados.

Visando ao melhor entendimento do assunto, o presidente do IDEIA fala sobre


como podemos atuar de forma prática na responsabilidade ambiental individu-
al:

O presidente do IDEIA (Instituto de Desenvolvimento e Integração Ambiental)


Cristiano Voitina biólogo e pescador ressalta a importância de cada pescador,
seja ele amador ou profissional agir com responsabilidade ambiental diante
da produção de resíduos gerados antes, durante e após a pescaria. Diz que é
fantástico organizar uma pescaria. Às vezes melhor do que pescar. Escolher a
isca, aquele tipo de anzol com aquela linha e chumbada para pegar aquele de-
terminado tipo de peixe, pra comer assado ali mesmo, com aquela cervejinha. 
Mas lembra que ao termino deste lindo momento, deve-se deixar o local do jei-
to que o encontrou, ou melhor, aproveitando para recolher o lixo que por ventu-
ra se deparar. Já os pescadores profissionais deveriam agir com mais compro-
misso com a manutenção de vida nos rios e mares, destinando corretamente
os resíduos produzidos diariamente, pois com certeza estarão garantindo sua
matéria prima. Pois nem sempre se pesca o peixe dos sonhos, mas se garantir
um ambiente saudável haverá chance de continuar sonhando.

6. Tipos de Responsabilidade Ambiental

No âmbito do Direito Ambiental, existem diversas formas de responsabilização


que exprimem, em suma, a obrigação de responder por algo relacionado ao
dano ambiental ou puramente o descumprimento de normas tuteladoras da ma-
téria. A doutrina denomina de “tríplice responsabilização” os três tipos de
responsabilidade em matéria ambiental, quais sejam: (i) responsabilidade civil,
(ii) responsabilidade administrativa e (iii) responsabilidade penal.

PÁGINA 117
A responsabilidade civil ambiental visa a reparação do dano, a responsabilida-
de administrativa visa a prevenção do dano e a responsabilidade penal visa a
repressão ao dano.

Supracitada responsabilidade tríplice advém do texto constitucional. A Consti-


tuição da República Federativa do Brasil – CRFB, que vigora desde o ano de
1988, é denominada por alguns estudiosos como Constituição Verde porque foi
a primeira Constituição Federal Brasileira a tratar do meio ambiente e dedicar
um capítulo ao tema. Em seu art. 225, §3°, resta determinado:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre-
sentes e futuras gerações.

[…] 3º – As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujei-


tarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administra-
tivas, independentemente da obrigação de reparar os danos (BRASIL, 1988).

PÁGINA 118
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 08 ed. Rio de Janeiro: Lu-
men Juris, 2005.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05


de outubro de 1988. 24 ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2000.

BRASIL. Lei n.° 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Dispõe sobre a Política Na-
cional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e apli-
cação, e dá outras providências) in Lei n.° 10.406, de 10 de janeiro de 2002,
acompanhada da legislação complementar. 09 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

BRASIL. Lei n.° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). 09 ed. São
Paulo: Saraiva, 2003

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 17


ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

DOS SANTOS, Fabiano Pereira. Meio ambiente e poluição. Jus Navigan-


di, 2004. http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4753 – capturado em
24/02/2006

Figueiredo, Guilherme José Purvin de. Curso de Direito Ambiental – 6ª ed. –


São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2013. Pg. 64.

SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: MALHEI-
ROS, 1994.Romulo S. R. Tópicos de Direito Ambiental: 30 anos da politica
nacional do meio ambiente. Lumen Juris, 2011, pg 27.Cureau, Sandra. Direito
Ambiental / Sandra Cureau e Maricia Dieguez Leuzinger.- Rio de Janeiro: Else-
vier, 2013. Pg. 52.

LEITURA COMPLEMENTAR SUGERIDA:

https://www.odebrecht.com/pt-br/sustentabilidade/politica-sobre-sustentabilida-
de/responsabilidade-ambiental

PÁGINA 119

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