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MARÍLIA
2022
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RESUMO
Num contemporâneo contexto, situado entre reivindicações cada vez mais acirradas por
igualdade e reconhecimento dos novos movimentos sociais e também avançada ofensiva
neoliberal, a ascendente globalização expõe cada vez mais os limites das democracias liberais
e dos territórios nacionais em lidar com as questões e os dilemas da justiça atual. É através
dessa perspectiva, que a filósofa e cientista política feminista, Nancy Fraser propõe-se a
repensar os rumos da democracia e da justiça, reconsiderando os limites dos Estados-nação. A
autora compõe seus trabalhos através de influentes diálogos com diversos outros teóricos, em
especial, o filosofo da tradição frankfurtiana, Jurgen Habermas, e o conceito que o autor
concebe de esfera pública. Assim, a pesquisa pretende analisar a proposta de esferas públicas
transnacionais como alternativa a esfera pública oficial, frente ao um novo modelo de justiça
pós-Westfaliano elaborada por Nancy Fraser, a partir das reflexões e correções de outras
teorias feitas pela autora. Metodologicamente foi utilizado ferramentas filosóficas e
sociológicas, amparada em técnicas documentais e bibliográficas, como livros, artigos,
periódicos científicos.
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INTRODUÇÃO
Nancy Fraser é uma filósofa política feminista estadunidense, seus estudos valem-se
fortemente da teoria crítica da Escola de Frankfurt conjugada ao pragmatismo americano e
pós-estruturalismo francês. A teoria crítica é uma tradição de pensamento teórico-social que
se utiliza dos diagnósticos e perspectivas marxistas como orientação para transformação
social e emancipação humana, ao tomar como projeto uma sociedade livre e igualitária ela se
aproxima das ações e interesses dos grupos que sofrem dominação no seu presente, nesse
sentido, o cunho interpretativo teórico-crítico é sempre atento ao conhecimento produzido no
interior das sociedades capitalistas e nas relações socias que nelas vigoram. (SANTOS, 2020).
dicotômica entre espaço público e privado incidiu impacto sobre a experiencia das mulheres,
enquanto ser social não apenas porque foram alijadas da participação e pertencimento à esfera
pública, mas, por ser destinada à satisfazer as necessidades da vida intima, a esfera privada
definiu uma série de experiências como não políticas, isolando as dinâmicas de poder e
negando o caráter conflitivo das relações familiares e do trabalho doméstico, trabalho este, do
qual a vida pública sempre é dependente. (MIGUEL E BIROLI, 2010).
Até mesmo as instituições econômicas mais materiais têm uma dimensão cultural
constitutivas irredutível; estão atravessadas por significados e normas. Similarmente,
até mesmo as práticas culturais mais discursivas têm uma dimensão político-
econômica constitutiva irredutível; são suportadas por apoios materiais. Portanto,
longe de ocuparem esferas separadas, a injustiça econômica e injustiça cultural
normalmente estão imbricadas dialeticamente reforçando-se mutuamente.
(FRASER, 2001, p. 251)
No entanto, Fraser diz existir uma frequente tensão entre as lutas contra essas
injustiças, o que autora denomina de dilema da redistribuição e do reconhecimento, isso
ocorreria pois segundo Fraser as lutas por redistribuição tentam abolir as estruturas de classe,
a divisão racial e sexual do trabalho, de modo que tendem a promover a não diferenciação de
grupo, em contraste, as lutas por reconhecimento, buscam afirmar o valor de grupos
oprimidos, como os homossexuais, as mulheres, as pessoas não brancas, de modo que tendem
a promover a diferenciação desse grupo. (FRASER, 2006,2007a).
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A justiça social para Fraser requer assim, tanto redistribuição como reconhecimento,
guiadas pelo princípio da paridade participativa, um conceito amplo da justiça capaz de
acomodar lutas culturais e econômicas, de modo que nenhuma se sobreponha a outra, já que
nenhuma luta sozinha é suficiente pra remediar as injustiças.
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A expressão “enquadramento Keynesiano-Westfaliano” remete a centralidade estatal dos territórios nacionais
para se discutir as questões de justiça. Fraser utiliza-se do termo Westfalia em menção ao Tratado de 1648, e
também em alusão ao imaginário que “mapeou o mundo com um sistema de Estados territoriais soberanos
mutuamente reconhecidos” (FRASER,2009, p.12).
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permitindo a participação de todos os afetados nos processos que lhes sejam concernidos, as
lutas por justiça social só alcançaram êxito se caminharem juntamente com as lutas por
democracia metapolítica, o conceito de soberania elaborado por Fraser deve figurar assim em
múltiplos níveis contrapondo o Estado como única instância de justiça e transnacionalizando e
dando legitimidade a formação de novas arenas discursivas, para que através delas possa se
confrontar os padrões hegemônicos e o status quo e disseminar novas formas de interpretação
das necessidades dos grupos marginalizados, relegadas pela esfera pública oficial. A esse
processo, Fraser denominou “contradiscurso dos contrapúblicos subalternos”.
A ideia de que, mesmo diante das desigualdades, todos possuem acesso à esfera
pública e possam discutir o bem comum de forma paritária, para Fraser não passa de uma
idealização liberalista, que não visa desmantelar as desigualdades. Segundo a autora, ainda
que as minorias tenham direito formal a participação às arenas deliberativas, as desigualdades
econômicas e sociais são barreiras estruturadas de modo informal nos discursos e nas práticas
das configurações democráticas. Para Fraser, superar as iniquidades significa desmantelar
todas as injustiças institucionalizadas até mesmo transcender os Estados nacionais. A autora
localiza sua concepção de justiça através da radical interpretação democrática do igual valor
moral, o princípio paritário, nesse sentido, se concebe como uma prática normativa que
pretende sobrepujar os obstáculos impeditivos dos sujeitos atuarem de forma paritária.
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OBJETIVO GERAL
Esta pesquisa tem como objetivo geral, evidenciar as várias formas de injustiças que
perpassam as experiências de alguns grupos na realidade social, e que somadas, formam um
espectro opressor que deve ser levado em conta em sua totalidade para que assim possa se
pensar uma teoria abrangente de justiça. Evidencia também, os limites das democracias
liberais e dos Estados-nação em promover a integração dos sujeitos de forma paritária. Nesse
sentido, o modelo teórico proposto por Nancy Fraser, guiado pelo conceito da paridade
participativa, tem como objetivo formular uma perspectiva que demonstre a lógica moral dos
conflitos sociais presentes nas sociedades capitalistas, buscando conceber uma gramática
normativa abrangente, que servirá de horizonte aos grupos sociais subalternizados e as
estratégias a serem traçadas por eles, de maneira a promover profunda reestruturação do
sistema produtor de desigualdades, até mesmo transcendendo os Estados nacionais.
OBJETIVO ESPECÍFICO
PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
Esta pesquisa é delimitada por seus objetivos e tem caráter qualitativo
(BOGDAN e BIKLEN, 1994). Para análise da teoria de justiça de Nancy Fraser será utilizado
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como referencial teórico obras de Filosofia da autora. No que se refere às variáveis de teorias
de justiça, justiça social e sociedade contemporânea serão utilizadas obras de escritores Jurgen
Habermas, John Rawls, Axel Honneth, Judith Butler e Iris Marion Young.
CRONOGRAMA
1- Levantamento bibliográfico
2- Análise e Fichamento
3- Análise crítica do material
4- Revisão bibliográfica
5- Redação
6- Elaboração da versão final
7- Entrega
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REFERÊNCIAS
FRASER, Nancy. Rethinking Recognition. New Left Review, Londres, n.3, p.107-120,
2000.
FRASER, Nancy. Reconhecimento sem ética? Lua Nova, São Paulo, n.70, p.101-138,
2007a.
FRASER, Nancy. Fortunas del feminismo. Madrid: Traficante de Sueños, 2015. 279p.
MIGUEL, Luis Felipe e BIROLI, Flávia. Feminismo e política: uma introdução. São
Paulo: Boitempo, 2014.