Você está na página 1de 11

IBET – INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS

Aluno: Luís Fernando Nadalin Sivers


Módulo: Incidência e crédito tributário
Seminário II – Crédito tributário, lançamento e espécies de lançamento
Data da entrega: 29.04.2020

Questões

1. Considerando os conceitos de norma, incidência e crédito tributário, responda:


a) Que é lançamento? Definir o conceito especificando: quem pode lançar, se é ato
ou procedimento e qual a sua finalidade.

Paulo de Barros Carvalho1 ensina que o vocábulo “lançamento” padece de problema


semântico da ambiguidade, podendo representar tanto o processo de determinação do
sujeito passivo e apuração da dívida tributária, como a norma individual concreta, posta no
sistema com a expedição do “ato de lançamento”.
Segundo afirma2, o Código Tributário Nacional inclinou-se pela acepção de
lançamento enquanto “processo” ao defini-lo, em seu art. 142, como “(...) o procedimento
administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação
correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido,
identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível”.
De outra forma, sustenta3 que a prevalência de qualquer dessas acepções
dependerá do interesse protocolar de quem se ocupe do assunto.
Contudo, ressalta4 que não basta haver procedimento administrativo de lançamento,
para que se possa falar, propriamente, em “lançamento”, devendo-se, pois, aguardar o seu
termo final, isto é, quando a sequência procedimental atingir seu objetivo, expresso pelo ato
conclusivo, que é o “ato de lançamento”. Muito prelo contrário, destaca que “o procedimento
não é imprescindível para o lançamento, que pode consubstanciar ato isolado, independente
de qualquer outro” 5.
Nesse sentido, propõe, o referido autor6, que “lançamento tributário” seja
compreendido como o ato jurídico administrativo, constitutivo e vinculado, mediante o qual
se insere na ordem jurídica brasileira uma norma individual e concreta, que tem como

1
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 413.
2
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 413.
3
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 421.
4
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 412.
5
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 426.
6
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 426.
2

antecedente o fato jurídico tributário e, como consequente, a formalização do vínculo


obrigacional, pela individualização dos sujeitos ativo e passivo, a determinação do objeto da
prestação, formado pela base de cálculo e correspondente alíquota, bem como pelo
estabelecimento dos termos espaço-temporais em que o crédito há de ser exigido.
Quanto a quem pode realizar o ato de lançamento, explica que, via de regra, é
aquela autoridade administrativa, cuja competência para tanto esteja definida em lei 7,
contudo, registra8 que a lei, em alguns casos, dá competência ao contribuinte para constituir
o fato jurídico e a obrigação tributária que dele decorre.
Em sua visão9, substancialmente, nenhuma diferença existe entre o ato praticado por
agente do Poder Público e aquele empreendido pelo particular, porquanto em ambas as
situações opera-se a descrição de um acontecimento do mundo físico-social, ocorrido em
condições determinadas de tempo e espaço, que guarda estreita consonância com os
critérios estabelecidos na hipótese da regra-matriz de incidência, ocasionando o surgimento
de outro enunciado protocolar instituidor de uma relação entre dois ou mais sujeitos de
direito, que, de sua vez, haverá, também, de se manter em rígida conformidade ao que for
estabelecido nos critérios da consequência da norma geral e abstrata.
Assim o faz, o particular, seguindo os comandos da lei, implementando deveres
instrumentais previstos, como preenchimento de formulários e documentos específicos para,
desse modo, estruturar a norma individual e concreta que lhe corresponda expedir10.
Contudo, alerta11 que o legislador brasileiro, em sua tradição de expandir as
iniciativas do Poder Público, invadindo sem necessidade os setores privativos da atividade
do administrado, não optou por equiparar o ato praticado pelo fisco (lançamento) e o
realizado pelo contribuinte. Não obstante, salienta que no caso desse último, o ato
homologatório exercitado pela Fazenda não passa de um ato fiscalizatório que se
consubstancia num controle de legalidade.

b) É correto afirmar que o lançamento tributário se apresenta em três


espécies? Se positiva a resposta, qual o critério que orienta tal classificação, ou seja,
o que diferencia uma espécie da outra?

Não. A classificação proposta pelo Código Tributário Nacional distingue o


lançamento em três tipos, a depender do índice de colaboração da administração com vistas
à celebração do ato. São eles o a) lançamento de ofício; b) lançamento por declaração e c)
lançamento por homologação. Contudo, partindo-se da premissa de que lançamento é ato

7
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 438.
8
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 470.
9
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 470.
10
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 470.
11
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 471-471.
3

jurídico administrativo, a classificação anterior perde a correspondência com a realidade que


pretende classificar.
Conforme expõe Paulo de Barros Carvalho, “se lançamento é ato jurídico
administrativo, na acepção material e formal, (...) não há cogitar-se das vicissitudes que o
precederam, principalmente porque não integram a composição intrínseca do ato, nada
dizendo com seus elementos estruturais”12.
De outro modo, afirma13 que as modalidades de lançamento estipuladas no CTN
revelam singularidades procedimentais do lançamento, o que, conforme visto, não se
confunde com a essência do lançamento propriamente dito.

c) O chamado lançamento por homologação é efetivamente lançamento? E o


lançamento por declaração?

Conforme já visto, as modalidades de lançamento por homologação e por declaração


dizem respeito a espécies de procedimento e não de lançamento.

d) O lançamento tem eficácia declaratória e/ou constitutiva? O que é declarado e/ou


constituído? Quando isso ocorre?

Segundo a lição de Paulo de Barros Carvalho14, o fato jurídico tributário localizado no


antecedente de uma norma individual e concreta – que tanto pode ser a do ato de
lançamento, como a do ato exarado pelo sujeito passivo a quem a lei outorgou a devida
competência – é constituído por um enunciado protocolar, denotativo, que relata um evento
pretérito que se consolidou numa unidade de tempo e num ponto do espaço social.
Passando ao consequente da mesma norma individual e concreta, tem-se aqui outro
enunciado, de índole relacional, que se arma para o futuro, constituindo, no hemisfério
jurídico, um direito subjetivo e um dever jurídico que, até então, inexistiam15.
Nesse sentido é que afirma que o ato de lançamento é, a um só passo, constitutivo
do fato jurídico tributário e, ao mesmo tempo, da obrigação que se irradia pelo liame lógico
de imputação normativa16.
Quanto ao momento em que isso ocorre, Paulo de Barros Carvalho 17 afirma que a
eficácia jurídica o fato instala-se, automática e infalivelmente, tão logo aconteça o relato do
evento, em linguagem competente, de modo que não há intervalo de tempo entre a
12
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 463.
13
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 463.
14
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 441.
15
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 442.
16
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 430.
17
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 443.
4

constituição do fato jurídico e a relação jurídica dele decorrente. Trata-se, pois, de uma
sucessão lógica e não cronológica.

e) Confrontar as noções de tempo no fato e tempo do fato.

Aurora Tomazini18 ensina que em relação aos fatos jurídicos, deve-se distinguir os
marcos temporal e espacial em que o fato se concretiza – tempo e lugar do fato - e as
coordenadas de tempo e espaço em que o fato é produzido – tempo e lugar no fato.
Segundo afirma, a) tempo do fato é o instante em que o enunciado denotativo da
hipótese normativa ingressa no ordenamento jurídico, isto é, o momento em que o fato é
constituído juridicamente, o que, no processo de positivação, geralmente se dá com a
notificação das partes. De sua vez, b) tempo no fato é o instante a eu alude o enunciado
factual juridicamente constituído, isto é, o momento descrito como aquele em que o evento
se realizou. Em resumo, o tempo do fato está relacionado ao processo de aplicação do
direito e constituição do fato jurídico, enquanto o tempo no fato refere-se ao evento.
Exemplificando, a norma individual e concreta representada pelo ato de lançamento
realizado na Secretaria Municipal de Finanças do Município de Curitiba no dia 20/02/2020
(tempo do fato) relata um evento em linguagem competente, qual seja, o fato de que no dia
1º de janeiro daquele ano (tempo no fato), o sujeito “x” era proprietário de imóvel naquele
município.

f) O que é erro de fato e erro de direito? E mudança de critério jurídico?

Erro de fato, segundo Aurora Tomazini19, é um problema de utilização das técnicas


linguísticas de certificação do evento, verificado quando o enunciado factual não
corresponde às provas produzidas. Paulo de Barros Carvalho20, por sua vez, ressalta se
tratar de um problema intranormativo, isto é, um desajuste interno da estrutura do enunciado
de uma norma individual e concreta.
Erro de direito, de outro modo, conforme Tomazini 21, é um problema de subsunção,
causado quando o enunciado protocolar constituído como fato jurídica busca fundamento
numa norma, quando, na verdade, deveria buscar em outra. Nas palavras de Carvalho 22,
trata-se de um problema de ordem semântica envolvendo enunciados de normas jurídicas

18
TOMAZINI, Aurora. Teoria geral do direito (o construtivismo lógico-semântico) [online]. Disponível em<
http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp098895.pdf> Acesso em: 15.10.2019. p. 416.
19
TOMAZINI, Aurora. Teoria geral do direito (o construtivismo lógico-semântico) [online]. Disponível em<
http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp098895.pdf> Acesso em: 15.10.2019. p. 419.
20
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 453.
21
TOMAZINI, Aurora. Teoria geral do direito (o construtivismo lógico-semântico) [online]. Disponível em<
http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp098895.pdf> Acesso em: 15.10.2019. p. 419.
22
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 454.
5

diferentes – sendo elas, obrigatoriamente, regra individual e concreta, e outra, também


necessariamente, geral e abstrata -, isto é um problema internormativo.
Quanto à alteração do critério jurídico, Paulo de Barros Carvalho 23 sustenta que a
autoridade administrativa não está autorizada a majorar a pretensão tributária, com base em
mudança de critério jurídico, isto é, quando há erro de direito. Pode, entretanto, fazê-lo,
provando haver erro de fato.
É o que determina a redação do art. 146, do CTN: “a modificação introduzida, de
ofício ou em consequência de decisão administrativa ou judicial, nos critérios jurídicos
adotados pela autoridade administrativa no exercício do lançamento somente pode ser
efetivada, em relação a um mesmo sujeito passivo, quanto a fato gerador ocorrido
posteriormente à sua introdução”.

2. Dado o auto de infração fictício (anexo I), pergunta-se:


a) Identifique as normas individuais e concretas veiculadas no respectivo auto de
infração;

Norma jurídica individual e concreta do lançamento: H – dado o fato de ter realizado


operações de circulação de mercadorias (critério material), com saída de mercadorias no dia
01/01/2014 (critério temporal) no Estado de São Paulo (critério espacial); dever ser que C –
a empresa Bate o Pé Indústria e Calçados Ltda. (sujeito passivo) está obrigada a recolher à
Fazenda do Estado de São Paulo (sujeito ativo) o valor de R$ 11.599,29 (critério quantitativo
– base de cálculo: R$ 64.440,48 x alíquota: 18%).
Norma jurídica individual e concreta de imposição de multa de ofício: H – dado o fato
da não formalização do crédito tributário e do não pagamento do tributo em tempo hábil;
deve ser que C – a empresa Bate o Pé Indústria e Calçados Ltda está obrigada a pagar à
Fazenda Estadual multa de ofício no valor de R$ 5.799,64.
Norma jurídica individual e concreta de imposição de juros de mora: H – dado o fato
do atraso no pagamento do tributo devido; deve ser que C – a empresa Bate o Pé Indústria
e Calçados Ltda está obrigada a pagar à Fazenda Estadual juros de mora no valor de R$
1.275,92.

b) Confronte as noções de (i) auto de infração – documento, (ii) ato administrativo


de imposição de multa, (iii) ato administrativo de lançamento e (iv) ato de
23
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 461.
6

notificação;

Segundo Paulo de Barros Carvalho24, entende-se, por (i) auto de infração lato sensu,
instrumento portador de dois atos administrativos introdutores, ambos, de norma individual e
concreta, sendo uma de caráter sancionatório, cujo antecedente é fato tido como ilícito
tributário – (ii) ato administrativo de imposição de multa -; e outra de positivação da regra-
matriz de incidência tributária – (iii) ato administrativo de lançamento -, que, com a sua
publicidade por meio de (iv) ato de notificação válido do sujeito passivo, impede a sua
alteração, senão em virtude de impugnação do sujeito passivo, recurso de ofício ou inciativa
de ofício da autoridade administrativa, nos casos previstos em lei, nos termos do art. 145, do
CTN.

c) Em sua opinião, em que instante nasce a obrigação tributária? E o crédito


tributário? E, a multa tributária? Que significa “constituição definitiva do crédito”?

Alinho-me com a posição defendida por Paulo de Barros Carvalho 25, segundo o qual
a relação jurídica de cunho patrimonial denominada “obrigação tributária” quando verificada
a concretização de fato previsto na hipótese de regra de incidência (norma geral e abstrata),
desde que relatado em linguagem competente, de modo a figurar no descritor de norma
jurídica individual e concreta. Por sua vez, “nasce o crédito tributário no exato instante em
que irrompe o laço obrigacional”26 supramencionado.
De forma semelhante, a multa tributária surge quando da verificação da ocorrência
de fato tido como ilícito tributário em norma geral e abstrata, desde que relatado em
linguagem competente no antecedente de norma jurídica individual e concreta, que fará
irromper, no consequente dessa norma, relação de cunho patrimonial, cuja prestação é o
pagamento de uma quantia em dinheiro, a título de penalidade27.
Referido autor sustenta, ainda, que “sempre que o legislador do Código menciona
constituir o crédito reporta-se ao ato jurídico administrativo do lançamento, em que o agente
público, aplicando a lei ao caso concreto, formaliza a obrigação tributária” 28.
Especificamente quanto à “constituição definitiva do crédito”, Carvalho explica que
“um ato administrativo tem-se por pronto e acabado quando, reunindo os elementos que a
ordem jurídica prescrever como indispensáveis à sua compostura, vier a ser oficialmente
29
comunicado ao destinatário” . Sendo assim, quando da notificação válida do sujeito
24
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 453.
25
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 397.
26
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 399.
27
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 451.
28
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 402.
29
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 449.
7

passivo, constata-se a publicidade do ato administrativo de lançamento, que constitui


definitivamente o crédito tributário.

3. Empresa XXX, contribuinte de IPI, declara e formaliza seus créditos e débitos,


compensa tais valores (não-cumulatividade) e, de acordo com a lei, realiza o
pagamento do saldo devedor conforme discriminado abaixo:

Posteriormente, o Fisco Federal glosa os créditos de IPI utilizados pela empresa


devedora, sem, contudo, efetuar o lançamento de qualquer valor a título de tributo.
Em seguida, encaminha para inscrição na dívida ativa os valores não pagos em
razão do aproveitamento indevido dos créditos (R$ 200.000,00), pois entende não
ser necessário o lançamento de ofício. Esses valores, por sua vez, são acrescidos
das penalidades que o Fisco entende cabíveis, além dos juros de mora. Na sua
opinião, está correto o proceder da Fazenda? Ainda, o aproveitamento de créditos
da não-cumulatividade pode ser equiparado a pagamento antecipado? A glosa, por
sua vez, resultaria em não pagamento? Justifique sua resposta (Vide anexo II e III).

Inicialmente, cumpre ressaltar que, consoante classificação proposta pelo Código


Tributário Nacional, o IPI é imposto sujeito ao lançamento por homologação. Isto implica
dizer que cabe ao sujeito passivo o dever de apurar e antecipar o seu pagamento sem
prévio exame da autoridade administrativa. Posteriormente, atestando, esta, a existência de
prestações não recolhidas ou irregularidade que implique falta de pagamento de tributos,
desde que não escoado o prazo decadencial, procederá ao lançamento de ofício,
constituindo o crédito tributário e celebrando o ato de aplicação da penalidade cabível em
face do ilícito cometido.
No presente caso, o sujeito passivo, ao apurar o quantum devido, levou em
consideração os créditos e débitos existentes, recolhendo o imposto em face do saldo
devedor, de modo que aqui a compensação se equipara ao pagamento antecipado do
tributo.
Rejeitando, a Fazenda, os créditos de IPI utilizados pela empresa e apurando a
existência de saldo devedor, deveria, ela, procedido com o lançamento de ofício dos
respectivos valores, conforme preleciona o art. 149, do CTN, constituindo o crédito tributário,
bem como com a lavratura do auto de infração, para cominação de eventual penalidade,
com a notificação do contribuinte, para a que lhe seja oportunizado o pronto pagamento, ou,
8

em sendo o caso, o exercício de seu direito à ampla defesa e contraditório.


Vale dizer, a mera glosa dos créditos não é capaz de elidir o pagamento antecipado
do tributo. Creio, nesse sentido, que a direta inscrição em dívida ativa somente poderia se
dar, no caso em comento, em relação ao valor efetivamente declarado como sendo devido,
após o abatimento dos créditos pelo devedor, no caso R$ 120.000,00, caso este montante
não tivesse sido pago.
Isto por entender que é tão somente este o débito fiscal reconhecido pelo sujeito
passivo por meio da declaração, que, a princípio, dispensaria qualquer outra providência por
parte do fisco, e não o montante relativo ao suposto aproveitamento indevido dos créditos.
Ademais, superada a discussão em relação ao lançamento de ofício em substituição
à declaração do particular, é possível vislumbrar, aqui, que a Fazenda Nacional procedeu à
inscrição da Empresa XXX em dívida ativa, também, em relação à penalidade que entendeu
cabível.
Contudo, a aplicação da penalidade não decorre automaticamente do
descumprimento da obrigação principal (evento), mas tão somente surge para o direito,
quando do seu relato em linguagem competente (fato jurídico) no antecedente de norma
jurídica individual e concreta, que fará irromper relação jurídica de cunho sancionador,
consubstanciada, aqui, pelo auto de infração.

4. Com relação ao lançamento por homologação, pergunta-se:


a) Que é homologação? O que se homologa: (i) o pagamento efetuado
antecipadamente; (ii) a norma individual e concreta posta pelo contribuinte; ou (iii)
ambos? Justifique sua resposta.

Paulo de Barros Carvalho30 propõe que a expressão “homologação” a que se refere o


§1º, do art. 150, do CTN, encerra “ato de fiscalização, em que o Estado, zelando pela
integridade de seus interesses, verifica o procedimento do particular, manifestando-se
expressa ou tacitamente sobre ele”, e, sendo atestada a existência de prestações não
recolhidas ou irregularidade que implique falta de pagamento de tributos, desde que não
escoado o prazo decadencial, constitui o crédito tributário e celebra o ato de aplicação da
penalidade cabível em face do ilícito cometido.
Justamente em razão disso, diz-se que a homologação diz respeito tanto ao
pagamento efetuado antecipadamente, quanto à norma individual e concreta posta pelo
contribuinte, no tocante à existência de erro de fato ou de direito eu a macule.

b) Quando se verifica a homologação expressa? Trata-se de ato administrativo?

30
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.471-472; 467.
9

Ainda, é possível revisar-se o ato homologatório expresso? Há no direito positivo a


possibilidade de pagamento de tributos sem lançamento?

Homologação expressa é ato administrativo inerente ao controle administrativo, que


atesta expressamente a regularidade do procedimento e do pagamento realizado pelo
sujeito passivo, extinguindo a relação jurídica tributária.
Segundo afirma Paulo de Barros Carvalho31, sim, inclusive, “a maior parte dos
tributos hoje existentes prescindem do lançamento tributário, dando-se a incidência [e
constituição do crédito tributário] mediante ato do particular”, ainda que sujeito à fiscalização
e controle de legalidade pela autoridade fazendária. E prossegue afirmando que nesses
tributos, o lançamento, quando existe, aparece incidentalmente na hipótese de a
Administração, no exercício de sua atribuição fiscalizatória, surpreender alguma anomalia na
constituição do crédito tributário.

5. A Lei n. 10.035/00 estabelece que serão executados, nos autos da reclamação


trabalhista, os créditos previdenciários devidos em decorrência da decisão
proferida pelos Juízes e Tribunais, resultantes de condenação ou homologação do
acordo. Pergunta-se: a decisão judicial, cognitiva ou homologatória, constitui o
crédito tributário? E, eventuais acordos posteriores entre os litigantes? Há
necessidade de lançamento? Como ficam os princípios do contraditório e da ampla
defesa? (Vide anexos IV, V e IV).

Nos termos da Súmula Vinculante 53, do STF: “A competência da Justiça do


Trabalho prevista no art. 114, VIII, da CF alcança a execução de ofício das contribuições
previdenciárias relativas ao objeto da condenação constante das sentenças que proferir e
acordos por ela homologados”. No mesmo sentido é o teor da Súmula 368, do TST.
Contudo, em respeito à premissa de que a constituição definitiva do crédito tributário
somente se dá com a notificação do sujeito passivo acerca do ato de lançamento, que, por
sua vez, é emitido pela autoridade administrativa a quem a lei atribui competência para
tanto, diz-se que a sentença trabalhista e os acordos homologados não tem o condão de
constituir o crédito tributário relativo às contribuições previdenciárias em questão.
Não obstante, já se afirmou a possibilidade de pagamento de tributos sem
lançamento, conforme o é o presente caso. É que aqui, a sentença trabalhista e o acordo
homologado substituem-se ao ato de lançamento, à medida em que identificam a ocorrência
da hipótese de incidência, identificando sujeito passivo e o quantum devido, constituindo

31
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2008. p.
442-443.
10

verdadeiro título executivo judicial, no qual subjaz o crédito em favor da Fazenda Pública.
Por sua vez, a União deverá ser intimada para que se manifeste a este respeito,
conforme preleciona §3º, do art. 879, do CTN, e, para além disso, o direito à ampla defesa e
ao contraditório há de ser observado no curso da execução promovida no âmbito da Justiça
do Trabalho.

6. Sobre as hipóteses correlatas às alterações do lançamento, responda:


a) Há diferença entre erro de direito e mudança de critério jurídico, para fins de
revisão do lançamento tributário? Há possibilidade de revisão do lançamento
fundado em erro de direito? E em erro de fato? Qualquer erro de fato é suficiente
para fundamentar a alteração do lançamento? (Vide anexos VII, VIII e IX).

Segundo afirma Paulo de Barros Carvalho 32, o CTN elenca taxativamente, eu art.
145, as hipóteses em que o crédito tributário definitivamente constituído pode ser
alterado. São elas: (i) impugnação do sujeito passivo; (ii) recurso de ofício; e (iii) iniciativa
de ofício da autoridade administrativa, nos casos previstos no art. 149. Este dispositivo,
de sua vez, apregoa que o lançamento pode ser efetuado e revisto de ofício, em síntese,
quando verificada fraude, erro de fato, omissão por parte do sujeito passivo ou quando
surgir prova ou fato novo que não era conhecido pela autoridade fiscal. Não verificada
quaisquer dessas hipóteses, o exercício de novo lançamento tributário, mais gravoso ao
contribuinte, se mostra impossível.

De outro lado, o artigo 146, do referido Diploma, veda a alteração do lançamento,


relativo ao fato jurídico passado, em virtude da modificação nos critérios jurídicos
adotados pela autoridade administrativa.

Nesse sentido, citando Mary Elbe Queiroz Maia, ensina que, em relação à
alteração o critério jurídico, há de se considerar não só a ignorância da norma jurídica
(geral e abstrata), como também, o seu falso conhecimento e a sua interpretação
errônea.

Feitas essas considerações, relembre-se que Paulo de Barros Carvalho33


conceitua o erro de direito como sendo descompasso entre a norma individual e concreta
e a geral e abstrata, ou, conforme coloca Tomazini34, é um problema de subsunção,
quando um enunciado protocolar constituído como fato jurídico (norma individual e

32
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2008. p.
445.
33
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2008. p.
446.
34
TOMAZINI, Aurora. Teoria geral do direito (o construtivismo lógico-semântico) [online]. Disponível em<
http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp098895.pdf> Acesso em: 15.10.2019. p. 419.
11

concreta) busca fundamento em uma norma (geral e abstrata), quando, na verdade,


deveria buscar em outra.

Sendo assim, afirma-se que para fins de revisão do lançamento tributário, o erro
de direito e mudança de critério jurídico não se diferenciam, posto que aquele pode ser
englobado no conceito deste.

Em relação ao segundo e terceiro questionamentos, Paulo de Barros Carvalho


expressamente afirma que o erro da autoridade fiscal que justifica a alteração do ato de
lançamento é apenas o “erro de fato”, nunca o “erro de direito”.

Finalmente em se tratando, o “erro de fato”, conforme ensina Aurora Tomazini 35,


de um problema de prova, isto é, quando o enunciado factual da norma individual e
concreta não corresponde às provas produzidas; e uma vez que este erro pode ser de
ordem material (ausência ou insubsistência de prova) ou formal (vício na apreciação da
prova), afirma-se que somente este último (erro de fato formal) pode justificar a alteração
do lançamento.

b) A alteração da base de cálculo, ou da sistemática de apuração do tributo pode


ser feita mediante retificação do lançamento? A eleição errônea da base de cálculo,
ou da sistemática de apuração configura-se como erro de fato, erro de direito ou
mudança do critério jurídico? Tem o condão de acarretar anulação do lançamento?
(Vide anexos X, XI e XII)

A eleição errônea da base de cálculo ou da sistemática de apuração do tributo


decorre de uma interpretação errônea da norma geral e abstrata, gerando um
descompasso desta com a norma individual e concreta produzida, o que caracteriza
manifesto “erro de direito”. Sendo assim, a sua alteração implica na modificação dos
critérios jurídicos adotados pela autoridade administrativa para proceder à constituição do
crédito tributário o que, conforme visto, é vedado, em relação a um mesmo fato jurídico.
Isto, por sua vez, impede a simples revisão do lançamento e impõe, por consequência, a
sua anulação.

35
TOMAZINI, Aurora. Teoria geral do direito (o construtivismo lógico-semântico) [online]. Disponível em<
http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp098895.pdf> Acesso em: 15.10.2019. p. 419.

Você também pode gostar