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O VÍCIO COMO OBSTÁCULO PARA A FELICIDADE NA ÉTICA


A NICÔMACO

Francisco Gabriel López González1


Ilmario Pinheiro2

RESUMO

Este artigo se destina a estudar um dos maiores filósofos da Grécia antiga, que é
Aristóteles, e, a sua obra Ética a Nicômaco, que tem como objetivo abordar a
presença do vício como um obstáculo na busca da eudaimonia aristotélica, bem
como os conceitos de virtude na mediania ou arete, que é a excelência. É de
interesse das discussões empreendidas, a relação entre elas no processo filosófico
da busca da felicidade. Além disso, acudiu-se a estudiosos para o aprofundamento e
melhor entendimento do filósofo grego, como o livro da Metafisica do mesmo autor,
Giovanni Reale, e as respectivas obras História da Filosofia e Comentários a Ética a
Nicômaco que ajudaram para a discussão desenvolvida.
Palavras-chave: Aristóteles. Virtude. Vício. Felicidade.

INTRODUÇÃO

No presente artigo, analisa-se o tema do vício como obstáculo para a virtude


e também para a felicidade eudaimónica, que é proposta por Aristóteles na sua obra
Ética a Nicômaco. O objetivo é entender e demonstrar a função do vício como
obstáculo na aquisição da felicidade e a relação existente entre o vício e a virtude no
que diz respeito à eudaimonia. Para analisar esta problemática, foi necessária a
leitura completa da obra, e, acudiu-se a outras fontes que estudaram o filósofo
Aristóteles.
Primeiramente, explicita-se o termo virtude segundo o pensamento aristotélico
e os meios para a sua aquisição; passa-se logo a compreender o termo vício, sua
origem, e se pode ser considerado voluntário. Após as discussões destes dois
termos, abordou-se a concepção da felicidade, a visão peripatética do termo, e a

1
Aluno do primeiro ano do Bacharelado em Filosofia do Centro Universitário Salesiano de São Paulo
(UNISAL). E-mail: franga955@gmail.com.
2 Professor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL).
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relação com a virtude e o vício, esclarecendo mais a obra filosófica e o pensamento


aristotélico sobre ética.

1 A VIRTUDE COMO DISPOSIÇÃO NA MEDIANIA

Conforme a definição do filósofo peripatético, na sua obra Ética a Nicômaco, a


alma do homem possui uma estrutura composta de três elementos: paixões,
faculdades e disposições. Entende-se pelas paixões como o mundo do sensível,
quer dizer, é esse sentimento intenso que possui a capacidade de alterar o
comportamento de uma pessoa, compreendido, de forma geral, como sentimentos
próprios do ser humano, ou seja, como um estado inerente na sua natureza e que o
acompanha no prazer, e, do mesmo modo, no sofrimento.
Assim, também, o termo faculdade, que é, a capacidade possuída pela
pessoa que a torna apta para a compreensão dos sentimentos, emoções,
acontecimentos da vida através da razão, entendida ainda pelo filósofo estagirita
como uma potência ativa no homem pelo qual pode chegar a ser ou se tornar
alguém. O raciocínio é a faculdade que distingue o homem dos demais seres vivos,
pois o entendimento e a reflexão faz com que o ser humano julgue uma realidade
como boa ou má e decida realizar ou não uma determinada ação.
O terceiro elemento que se apresenta na alma, a disposição, que é entendida
como a condição ativa na qual o ser racional encara certa situação, em outras
palavras, é a adequação de um sujeito dotado de inteligência com alguma
circunstância real para algum fim determinado.
Com estes três componentes apresentados, fica mais esclarecida a virtude
como aquela finalidade procurada pelo homem em um ambiente de pugna
intelectual entre as partes da alma humana e que se obtém através da correta
disposição vinculada com a eleição racional no exercício da atividade humana numa
mediania prática. O termo mediania, quer dizer, um estado centrado ou um ponto de
equilíbrio, de harmonia entre os componentes da alma humana. Assim sendo, seria
impossível adquirir uma condição virtuosa estando numa posição afastada do ponto
médio ou justo entre os elementos explicitados acima, de modo que Aristóteles
estabeleceu duas classes de virtudes fundamentais, as intelectuais e as morais.
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Como vimos, há duas espécies de virtude, a intelectual e a moral. A


primeira deve, em grande parte, sua geração e crescimento ao ensino, e por
isso que requer experiência e tempo, ao passo que a virtude moral, é
adquirida em resultado do habito, de onde o seu nome se derivou por uma
pequena modificação de essa palavra3 (ARISTOTELES, 2001, p. 40).

Esclarece-se, deste modo, que a vida virtuosa é uma conquista produzida


pelo hábito que precisa de um trabalho como antecedente ou premissa que se pode
chamar de via intermediária sensata como ponto meio entre dois extremos para
poder assim passar a possuir uma conclusão, que é a virtude. (ARISTÓTELES,
2001).

1.1 TIPO DE SUJEITO QUE OBTÉM A VIRTUDE

No pensamento grego, a reflexão sobre o homem, na sua vida, como ser


dotado de capacidade intelectiva, e submergido em um em torno social com
costumes, religiões, saberes, comportamentos, ou seja, dentro de sua pólis, foi uma
das principais preocupações filosóficas. Aristóteles, que viveu na Grécia, deu grande
importância ao homem como ser racional na busca da sua realização dentro da
cidade, por conseguinte, é o protagonista principal na procura do arete, palavra
grega que significa excelência e que é traduzida como a palavra virtude. Portanto, é
a pessoa a única qualificada dos três elementos que controlam a ação e a verdade,
que são sensação, razão e desejo.
Os três componentes supramencionados convivem na vida do ser humano
como grandes procuradores de um fim chamado de virtude, mas só movido pela
sensação, isto é, um conhecimento instantâneo a partir de uma intuição pela qual
passa o conhecimento dos particulares, ou seja, só as sensações percebidas pelos
sentidos. Com um conhecimento particular não é possível se tornar virtuoso,
exemplo disso é o animal que embora esteja munido de sensações, por não possuir
um raciocínio que o dirija na escolha do que é bom, é considerado um ser inferior.
Também assim, somente com o intelecto o homem não pode alcançar a
excelência que é uma finalidade na sua vida, porque para que o sujeito chegue ao
grau intelectual conforme a virtude, seja dianoética, isto é, intelectual, ou seja, ética,

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Do grego: ethos, e sua derivação ethiké.
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que tem a ver com a prática, precisa antes equilibrar sua realidade junto com a
razão.
Do mesmo modo, o desejo, assim como a sensação para adquirir a
excelência, pois se só se procura chegar ao arete com o desejo, isto é, a inclinação
ou tendência para a aquisição de um fim determinado, deve-se entender que o
desejo pode se tornar um impulso que atrapalha a obtenção da virtude se não é
guiado pela luz da razão.
Enfim, somente o homem é plausível de ser um sujeito virtuoso, mas
novamente se ressalta, no pensamento aristotélico, um equilíbrio como fundamento
para chegar a um fim. Neste caso dos componentes citados acima, o desejo que
motiva, as sensações que outorgam conhecimentos iluminados pelo reto raciocínio
são as caraterísticas que qualificam o homem a ser apto para a virtude.
(ARISTÓTELES, 2001).

1.2 MEIO PARA A AQUISIÇÃO DA VIRTUDE

Após distinguidas as duas classes de virtudes que o homem e somente o


homem pode atingir, Aristóteles estabeleceu um caminho para o filósofo chegar a
possuir a excelência. Como se sabe, as virtudes têm relação com as ações e
afeições, por conseguinte, ambas sempre vêm acompanhadas do prazer ou da dor.
Acerca de se a virtude é natural no homem, o estagirita observa o seguinte:
“É evidente, portanto, que nenhuma das várias formas de excelência moral se
constitui em nós por natureza, pois nada que existe por natureza pode ser alterado
pelo hábito4” (ARISTÓTELES, 2001, p. 35).
O filósofo peripatético alega que as virtudes no ser humano derivam da
prática, mais ainda, explica que elas não estão no homem por natureza, ninguém
nasce com a virtude já pronta na sua vida, mas sim, todo homem a tem como
potência, quer dizer, a capacidade que o faz ser apto para a excelência. Portanto, a
natureza dá à pessoa a capacidade de alcançar a arete, mas só se pode aperfeiçoar
por meio do hábito.
A prática habitual é o fundamento essencial na procura da virtude. Desta
maneira, abordou-se o que é a virtude para Aristóteles em Ética a Nicômaco, e, que

4 Na língua grega a palavra éthos = hábito (ετoς) é uma ligeira variação da palavra éthos = caráter
(ήθος) há a alternância do épsilon e do eta.
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o homem que realiza o bem, habitualmente, é aquele considerado digno de ser


possuidor da excelência intelectual ou moral. A primeira se alcança pela
aprendizagem, uma atividade teórica que se realiza mais através do intelecto e a
segunda pela práxis, ação relacionada mais à atividade concreta do homem no seu
dia a dia.

2 O VÍCIO COMO OPOSTO DA VIRTUDE

O homem virtuoso, é considerado aquele que conseguiu alcançar a


excelência, seja intelectual ou prática, no estado que Aristóteles chama de
mesothes, isto é, uma condição intermediária entre dois extremos. Encontra-se
sempre em uma situação que se refere à eleição de uma determinada ação.
É neste momento de escolha que aparecem os desejos desenfreados ou
descontrolados que convivem com o ser humano a todo tempo, que são definidos
como os vícios. Entende-se, no pensamento aristotélico, pelo termo vício, a
tendência de buscar o excessivo ou exagerado, assim como, buscar a deficiência ou
imperfeição a respeito da virtude que está no ponto meio. Desta tendência ou
inclinação na práxis é a que leva o homem a errar e se desorientar na procura da
mediania, portanto, por causar uma disposição distorcida para a busca do equilíbrio,
o vício é considerado oposto da virtude.
A falta e o excesso são caraterísticas próprias do vício, são apresentados
como contraste da excelência, pelo fato de possuir a força para conduzir o homem à
realização de práticas ou raciocínios errados. Por exemplo: com relação à verdade,
o meio-termo é a veracidade; o vício pelo excesso é a jactância e pela falta, a falsa
modéstia. Os dois pontos que distam da harmonia são definidas pelo filósofo
peripatético como disposições viciosas. (ARISTÓTELES, 2001).
Muito antes de ser elaborada a obra Ética a Nicômaco o filósofo Heráclito já
tinha estabelecido a lei dos contrários como uma harmonia, quer dizer, que um ente
existente precisa também da existência do seu contrário para assim ter um sentido
como ser. Nessa mesma linha do pensamento, é exposto o vício na obra aristotélica,
em um estado sempre presente junto com a virtude, mas ao mesmo tempo contrário
a ela por ser um hábito distorcido, que leva o homem a uma realização imperfeita.
(REALE, 1993).
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A pessoa que procura a excelência moral ou prática, embora, tenha uma boa
vontade para a aquisição da virtude, não poderá escapar da intervenção daqueles
desejos excessivos, de força contrária ao bem, que tentaram induzir à reta
disposição da alma, para tomar decisões equivocadas e dessa maneira afastá-la do
meio termo virtuoso.

2.1 ORIGEM DO VÍCIO

Aristóteles, fiel à filosofia clássica, que procura sempre a causa primeira de


todas as coisas, na sua obra Ética a Nicômaco, apresenta o vício como resultado de
uma eleição, basta só acudir a definição que o filósofo peripatético estabeleceu, dos
três elementos da alma humana, mencionado mais acima. Para compreender a
origem dos hábitos viciosos do homem, descartada a parte vegetativa por ser
semelhante aos animais que não faz uso da razão, ficam as duas partes, a apetitiva
e a racional que lutam por influenciar a ação da pessoa.
Agir com racionalidade é uma caraterística virtuosa, isto acontece só, quando
as partes da alma submetem-se a atuar em conformidade com a iluminação feita
pela razão, mas a alma também é o assento de todas as afeições, apegos,
inclinações, tendências, que estão sempre prontas para estimular o desvio do
caminho da reta disposição. Portanto, o vício como a virtude têm a sua origem
intrínseca na alma, no caso do vício, fundamentalmente se inicia quando a virtude
ou excelência vai diminuindo.
A práxis viciosa tem dois pontos de partida, o excesso e o defeito, mas, os
elementos são os mesmos, a liberdade joga um papel fundamental para as
disposições e eleições que o homem realiza.
Esta ação realizada habitualmente em um estado vicioso, isto é, corrompido
pelas paixões e desejos desordenados, em um estado de akrasía, termo com que o
estagirita define a incontinência, essa incapacidade de controlar os diversos estados
na alma do homem na sua vida cotidiana.
A imoderação no agir, é, considerada no pensamento peripatético sintoma de
que a pessoa, que tem a virtude como potência, tornou-se viciosa. O vício corrompe
o princípio da ação humana, a atitude ou disposição viciosa, é, a prática contínua,
por exemplo, para a força, o vício é a falta e o excesso de exercício.
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Enfim, a presença do vício no homem é também uma potência, isto é, a


capacidade de ser ou de se realizar da pessoa, em todo tempo, no percurso da vida
do homem, os desejos mais imperfeitos, por assim dizer, bateram à porta da sua
alma e tentaram levá-lo pelas sendas longes do meio termo.

2.2 A VOLUNTARIEDADE DO VÍCIO

Tanto a virtude como o vício dependem de uma eleição realizada em uma


disposição que tende para algum determinado fim, em dita esfera de escolha que
acontece na vida cotidiana do ser humano, a liberdade desempenha um papel muito
importante no seu processo de viver.
Neste sentido, é de vital importância compreender a relação que existe entre
a vontade humana e a concepção aristotélica do vício, só após esta compreensão se
pode falar da voluntariedade do vício.
A vontade é a determinação, que leva a uma pessoa a fazer alguma coisa, a
procurar seus objetivos ou desejos, entenda-se que entre estes objetivos ou desejos
podem estar, desejos repentinos, físicos, emocionais, empenhos, manifestações de
entusiasmo, embora as pessoas não percebam, estes sentimentos sempre estão
presentes em torno delas.
Então, pode-se falar da vontade, que sempre tem um objetivo ou finalidade,
em alguns casos esse fim será um bem, em outros casos será o contrário, o mesmo
filósofo peripatético fala na Ética a Nicômaco que para o homem bom o objeto da
vontade é o bem, assim como para o homem mau a finalidade não é o bem, pois
cada um tem uma visão da realidade diferente, isto é, um raciocínio filosófico
distinto. (ARISTÓTELES, 2001).
Após entendimento disto, então, os conceitos, tanto de vício como de virtude,
já tratados acima, e, o protagonismo da vontade no processo de escolha nas ações
do homem, procurando um objetivo final, a eleição e a deliberação que pressupõem,
pode-se dizer que os vícios têm a qualidade da voluntariedade, pois dependem das
decisões do homem, isto quer dizer, que o tornar-se vicioso está nas mãos da
pessoa que tem o poder na sua liberdade, de dispor-se para a realização dos seus
atos.

3 A FELICIDADE COMO PROCURA ÚLTIMA DO HOMEM


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Ao reconhecer que a filosofia peripatética, sempre manteve uma metodologia


científica, no sentido de dedicar-se mais ao estudo da realidade com uma visão mais
naturalista e concreta deste mundo, na sua obra Ética a Nicômaco, embora os
temas nele desenvolvidos sejam de índole ética-antropológica, a linha do
pensamento é fiel à filosofia clássica, porque o protagonista principal é o homem,
que vive em uma sociedade, e, toda a sua conduta ética e moral tem uma origem,
uma causa primeira, do mesmo modo, tem uma finalidade última, uma realização
que procura conseguir.
A meta final da busca da pessoa é o que o estagirita denominou de
eudaimonia, geralmente traduzido pelo termo felicidade, isto é, o bem supremo para
o qual tende toda a atividade do homem, até aqui a eudaimonia é ainda muito
ambígua, então, recorreu-se ao livro Metafísica do mesmo Aristóteles para
esclarecer o tipo de felicidade que realmente o peripatético apresentou na sua obra.
Aristóteles começou o livro da metafísica com as palavras "παντες ανθρωποι
του ειδέναι ορεγονται φυσει, todo homem por natureza deseja conhecer" (REALE,
2002, p. 1).
O conhecimento é de vital importância para alcançar a felicidade proposta em
Ética a Nicômaco, pois o grau mais elevado de eudaimonia apresentada na obra é a
contemplação teorética, o da ciência, que diz com respeito a parte racional da alma,
é este conhecimento universal teorético que faz feliz o homem, a meta que deve
propor-se a pessoa que quiser realizar-se e adquirir a felicidade na sua polis.
Portanto, o desejo de conhecer que o homem tem por natureza, é a origem desta
busca, embora se tenha distintas concepções da felicidade, sejam relacionadas ao
prazer, à saúde, à paz, ninguém pode negar que o homem procura a felicidade.

3.1 O VÍCIO PRINCIPAL OBSTÁCULO DA FELICIDADE

Certamente, o filósofo é o sujeito mais apto para alcançar a felicidade, porém,


o caminho filosófico nem sempre é percorrido com facilidade, pela constante
intervenção das disposições chamadas pelo filósofo peripatético de viciosas para a
alma, que levam o homem a agir erradamente na sua procura da eudaimonia.
Exemplo disso é a intemperança como um vício da parte desejosa da alma,
isto é, a alma que se deixa dominar pelas paixões, até chegar a apetecer os maus
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prazeres sensuais, então acontece que a pessoa, que embora esteja caminhando
pela estrada da filosofia, de reflexões, e de busca da vida teorética, tropeça em um
obstáculo, que como se viu mais acima, encontra-se em todo tempo presente como
potência na alma.
Só basta que o homem escolha na liberdade aqueles desejos nocivos para a
excelência e o vício passará obstruir o trânsito do homem para adquirir o estado
edaimónico anelado.
É de vital importância, neste ponto de análise entre a felicidade e o vício que
obstaculiza a via de aquisição do fim último da alma, compreender o erro quase
generalizado dos homens que afirmam que a felicidade encontra-se nos prazeres da
vida ou nas riquezas, que são alguns dos vários fins das atividades humanas, quer
dizer, a maioria das pessoas tem essas metas, mas, não deveria ser este o objetivo
do filósofo.
A asserção que a felicidade consiste só no prazer ou na riqueza conduz o
homem a realizar eleições equívocas que no final terminam afastando-o da senda
que vai para a felicidade.
Deste modo, entende-se quão difícil torna-se atingir e adquirir o bem
supremo, pelas constantes intervenções das paixões que procuram os prazeres,
levando a busca filosófica da eudaimonia em direção a uma felicidade efêmera, e
produzindo desse modo homens viciosos, isto é, afastados do meio termo virtuoso.
Assim sendo, o vício é considerado o principal obstáculo da felicidade.

3.2 O CAMINHO MAIS EFETIVO DE AQUISIÇÃO DA FELICIDADE

Após compreender que o vício é o obstáculo essencial para atingir a


felicidade, quer dizer, o bem supremo proposto por Aristóteles na sua obra Ética a
Nicômaco, passa-se a analisar o ponto contrário, ou seja, o meio principal de
aquisição da eudaimonia aristotélica.
Para esclarecer o entendimento do assunto, é bom colocar na prática um dos
princípios clássicos da lógica aristotélica, e que aparecem na obra Órganon, que é a
categoria dos contrários. Neste sentido, o contrário do bom é necessariamente mau,
por exemplo, da saúde seu contrário é a doença, da justiça a injustiça, da valentia a
covardia. (ARISTÓTELES,1982).
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Assim, se o vício que é o principal obstáculo para a felicidade, então a virtude


é oposto ou contrário ao vício, como já foi exposto mais acima, é o principal meio
para a aquisição da felicidade.
Mas, ainda, pode-se confirmar o raciocínio lógico colocado no parágrafo
anterior com o que traz a mesma Ética a Nicômaco, a tarefa própria do homem
enquanto tal, não é a vida vegetativa que ele tem em comum com as plantas, nem a
vida dos sentidos que tem em comum com os animais, mas apenas a vida da razão.
Assim, o homem só será feliz se viver de acordo com a razão; e esta vida é da
virtude. Portanto, o caminho relativo à felicidade transforma-se também em uma
tarefa a respeito da virtude. (ARISTÓTELES, 2001).
Chega-se, então, a dilucidar com mais propriedade a trajetória que deve
traçar o filósofo, sempre que tente alcançar a eudaimonia proposta por Aristóteles. É
preciso que o filósofo procure o meio termo da virtude, lute contra os extremos
viciosos que sempre o acompanharão no caminho, para, desse modo, tornar-se
plenamente feliz.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo do artigo, logrou-se compreender a concepção aristotélica do termo


virtude, que no pensamento peripatético, ficou estabelecido em duas classes, éticas
e dianoéticas, o ideal proposto por Aristóteles: que o homem chegue até a
excelência teorética.
Foi esclarecido, também, que o principal meio para a aquisição da virtude é o
habito, isto é, a prática habitual do bem, porém o vício, apresentado como oposto da
virtude, é o principal obstáculo no processo filosófico na busca da excelência,
portanto, também, da felicidade.
O vício, igual no sentido de que a virtude tem a mesma origem, está sempre
como potência na alma e tem como função induzir ao homem a agir erradamente,
afastado do meio termo da virtude. A pessoa na sua liberdade tem a capacidade de
escolha que permite optar pela vida da virtude que é o meio mais efetivo de alcançar
a felicidade.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Torrieri Guimaraes. São Paulo:


Martin Claret, 2001.

______. Tratados de Lógica (Organon) 1. Tradução de Miguel Candel SanMartin.


Madrid: Gredos, 1982.

REALE, Giovanni. Aristóteles. Metafísica. Ensaio Introdutório, texto grego com


tradução e comentários de G. Reale. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo:
Loyola, 2002.

______. História da Filosofia Antiga. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo:


Loyola, 1993.

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