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Como tal, o objetivo central é o de permitir ao estudante a assimilação daquilo que representa o
Valor Moral, como valor supremo. Além disso, sendo a Ética eminentemente prática, levar o
estudante a agir eticamente, ou seja, a praticar o bem pelo Bem como razão única das suas
acções. Último alcance é aquele de fornecer as normas concretas desse agir.
A abordagem que se propõe é aquela da Ética Geral, tendo os fundamentos do saber ético
como objeto de estudo.
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Metodologia: Aulas expositivas em português. Isso pressupõe que todos nós como seres
humanos possuimos a mágica capacidade da fala. O ser humano através da linguagem consegue
transmitir pensamentos simples e complexos. Durante as aulas, estarei produzindo sons com a
minha boca. Também estarei expirando, fazendo tons, assobios e sopros e esses estarão criando
vibrações no ar; por sua vez as vibrações, estarão viajando para vocês e atingindo vossos
tímpanos. Então vosso cérebro pegará essas vibrações dos vossos tímpanos e as transformará em
pensamentos. Por causa dessa habilidade, nós humanos, somos capazes de transmitir ideias
através do tempo e do espaço e transmitir conhecimento através das mentes. E a ideia que
passará pela nossa cabeça nesta cadeira de ética I chama-se ética, a ciência do bem e do mal.
Será que no final do curso nos transformaremos em ideias concretas do bem? Eis a questão. O
caminho é filosófico: das ideias para os fatos e dos fatos de volta as ideias…
Justificativa: A ética, sendo uma ciência, tem muito a ver com todos os seres humanos. É
imperativo estudar ética. Porquê estudar ética? Porque somos humanos. Acima de tudo, porque
somos homens em formação, em vista a uma missão? A missão de tornar o mundo e a vida
repleta de sentido e bem-estar. O sucesso de nossa missão pode muito bem depender do nosso
curso. Isso requer da parte do professor boa preparação e exposição dos conteúdos, mas também
a bela disposição dos estudantes.
Conteúdos Programáticos
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1. Introdução.
Ética e Moral: o que são?*
Importância da Ética*
2. Fenomenologia do Ethos
● Preliminares semânticos*
● Ethos e tradição*
● Ethos e o individuo*
● Ethos e conflito*
● A experiência moral: tentativa de negação, juízo sobe o comportamento dos outros;
juízo sobre o próprio comportamento;
● Características da experiência moral: vontade, dever, liberdade e responsabilidade;
● O Bem Moral.
3. Do ethos à ética
● Ethos e cultura*
● Nascimento da ciência do ethos*
● Estrutura da ciência do ethos*
● Condições do comportamento voluntário: actos do homem e actos humanos;
fenomenologia do agir humano; a inteligência no acto humano; a vontade no acto
humano;
● Emoções e sentimentos no agir humano;
● A liberdade no agir humano;
● O agir humano como atividade imanente
4. Ética e Razão
● Teoria da Praxis*
● Origens históricas da teoria da Praxis*
● A concepção aristotelica da phrónesis*
● Ética e teoria*
● Importância das virtudes no discurso ético;
● Virtudes e vícios;
● Classificação das virtudes;
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Bibliografia
Henrique Lima Vaz. Escritos de Filosofia II. Ética e Cultura. São Paulo:
Loyola, 1993.
TOMÁS DE AQUINO, Suma teológica: “O fim último dos actos do homem”, I-II, qq. 1-21; A
virtude, I-II, qq. 49-70; A Lei, I-II, qq. 90-105
VANDEMIATI A., In prima persona. Lineamenti di ética general, PUU, Cittá del Vaticano
2008.
Conteúdos Programáticos
10.Introdução: O termo Ética na linguagem quotidiana e na literatura
especializada
O ser humano é um ser com os outros seres pelas simples razão de estar inserido na existência.
Na hierarquia dos seres, ocupa um lugar privilegiado porque além do mundo fisico e natural, o
ser humano é criador do mundo simbólico, o mundo humano. Este mundo humano é governado
pelo humano servindo-se de várias ferramentas. Contudo, foi na Grécia antiga, que pela primeira
vez na história, a episthéme, o conhecimento, fruto da razão demonstrativa, passou a ocupar o
centro do mundo simbólico. E é nesse contexto que surgem todas as ciências, inclundo a Ética.
O ser humano tem a capacidade de formar juizos de valores ao longo de sua vida. Na linguagem
quotidiana, muitas são as pessoas que falam do bem e do mal, do justo e do injusto…do ético e
antiético, da moral e precisamente da imoralidade. Isso não acontece somente com a vida
quotidiana, mas é também possivel encontrar juizos de valores sobre o bem e o mal na
fraseologia política e na comunicação em massa. Um termo originalmente filosófico, em sua
migração e socialização com outros saberes acabou perdendo seu significado inicial e original.
Porque parece até ridiculo fazer uma ciência do bem agir considerando que bem muitas pessoas
sabem distinguir o certo do errado. Contudo, uma cadeira e um curso de ética que pretende
ser filosófica deve dar vários passos além do seu uso quotidiano e trocar as opiniões por
argumentos lógicos. O primeiro passo a ser percorrido é uma rememoração da origem semântica
do termo ética. O que significa? Em sua originalidade, qual era o objeto de estudo e de referência
do termo Ética? Pretendemos, primeiramente delinear os contornos semáticos da ética, e definir
o objeto de aplicação onde a razão crítica valendo-se de suas investigações e reflexões ilumina
vários aspectos importantes da ética; pretendemos também, ao mesmo tempo que situamos a
ética no todo do conhecimento humano, estabelecer suas delimitações.
Para este efeito, a origem semâtica do termo ética nos remete à história. E no segundo momento,
a história da própria teoria: como é que a ética, foi entendida ao longo da história? Terá a ética,
uma necessidade histórica ou uma validez teórica? O exame histórico e histórico-teórico do
termo nos ajudará a abrir o caminho para um exame minuciosa da natureza e estrutura da ética
filosófica, isto é, sua legitimidade como ciência. Mas antes de tudo, sentimos a necessidade de
clarificar o uso dos termo ética e moral.
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sacralizá-los, ou seja, as religiões os concebem ordenadas pelos deuses, na origem dos tempos.
Como as próprias palavras indicam, ética e moral referem-se ao conjunto de costumes
tradicionais de uma sociedade e que, como tais, são considerados valores e obrigações para a
conduta de seus membros. A filosofia moral ou a disciplina denominada ética nasce quando se
passa a indagar o que são, de onde vêm e o que valem os costumes. A ética nasce quando, além
das questões sobre os costumes, também se busca compreender o caráter de cada pessoa, isto é, o
senso moral e a consciência moral individual. Podemos dizer, com base nos textos de Platão e de
Aristóteles, no Ocidente, a ética ou a filosofia moral inicia-se com Sócrates.
Prática Socrática: “Percorrendo praças e ruas de Atenas – contam Platão e Aristóteles, Sócrates
perguntava aos atenienses, fossem jovens ou velhos, o que eram os valores nos quais
acreditavam e que respeitavam ao agir. Que perguntas Sócrates lhes fazia? Indagava: O que é a
coragem? O que é a justiça? O que é a piedade? O que é a amizade? A elas, os atenienses
respondiam dizendo serem virtudes. Sócrates voltava a indagar: O que é a virtude? Retrucavam
os atenienses: É agir em conformidade com o bem. E Sócrates questionava: Que é o bem? As
perguntas socráticas terminavam sempre por revelar que os atenienses respondiam sem pensar no
que diziam. Repetiam o que lhes fora ensinado desde a infância.”
A primeira acepção de ethos (com eta inicial) designa a morada do homem (e do animal em
geral). O ethos (caráter, disposição, costume, hábito) é a casa do homem. O homem habita sobre
a terra, acolhendo-se ao recesso seguro do ethos (eta inicial). Este sentido de um lugar de estada
permanente e habitual, de um abrigo protetor, constitui a raiz semântica que dá origem à
significação do ethos como costume, esquema praxeológico durável, estilo de vida e ação. A
metáfora da morada e do abrigo indica justamente que, a partir do ethos (eta inicial), o espaço do
mundo torna-se habitável para o homem. O domínio da physis ou o reino da necessidade é
rompido pela abertura do espaço humano do ethos (eta inicial) no qual irão inscrever-se os
costumes, os hábitos, as normas e os interditos, os valores e as ações. Por conseguinte, o espaço
do ethos (eta inicial) enquanto espaço humano, não é dado ao homem, mas por ele construído ou
incessantemente reconstruído. Nunca a casa do ethos (eta inicial) está pronta e acabada para o
homem, e esse seu essencial inacabamento é o signo de uma presença a um tempo próxima e
infinitamente distante, e que Platão designou como a presença exigente do Bem, que está além
de todo ser (ousia) ou para além do que se mostra acabado e completo.
É, pois, no espaço do ethos (eta inicial) que o logos torna-se compreensão e expressão do ser do
homem como exigência radical de dever-ser ou do bem. Assim, na aurora da filosofia grega,
Heráclito entendeu o ethos (eta inicial) na sua sentença célebre: ethos anthropo daimon. O ethos
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(eta inicial) é, na concepção heraclítica, regido pelo logos, e é nessa obediência ao logos que se
dão os primeiros passos em direção à Ética como saber racional do ethos (eta inicial), assim
como irá entendê-la a tradição filosófica do Ocidente.
Necessidade vs Liberdade
O dado vs o construído
O mesmo vs o diferente
O natural vs o habitual
O ser vs o Bem
A segunda acepção de ethos (com épsilon inicial) diz respeito ao comportamento que resulta de
um constante repetir-se dos mesmos atos (hábito, costume, uso). É, portanto, o que ocorre
frequentemente ou quase sempre (pollakis), mas não sempre (aei), nem em virtude de uma
necessidade natural. Daqui há oposição entre ethei e physei, o habitual e o natural. O ethos, nesse
caso, denota uma constância no agir que se contrapõe ao impulso do desejo (orexis). Essa
constância do ethos como disposição permanente é a manifestação e como que o vinco profundo
do ethos como costume, seu fortalecimento e o relevo dado às suas peculiaridades. O modo de
agir (tropos) do indivíduo, expressão da sua personalidade ética, deverá traduzir, finalmente, a
articulação entre o ethos como caráter e o ethos como hábito. Neste sentido, ethos é o conjunto
de traços e modos de comportamentos que conformam o caráter ou a identidade de uma
coletividade1
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Porto Editora – etos no Dicionário infopédia da Língua Portuguesa.. Porto: Porto Editora. [consult. 2023-02-08
21:21:41]. Disponível em https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/etos Acesso em 8 de fevereiro de
2023.
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Mas, se o ethos (com épsilon inicial) designa o processo genético do hábito ou da disposição
habitual para agir de uma certa maneira, o termo dessa gênese do ethos – sua forma acabada e o
seu fruto – é designado pelo termo hexis, que significa o hábito como possessão estável, como
princípio próximo de uma ação posta sob o senhorio do agente e que exprime a sua autarkeia, o
seu domínio de si mesmo, o seu bem. Entre o processo de formação do hábito e o seu termo
como disposição permanente para agir de acordo com as exigências de realização do bem
ou do melhor, o ethos se desdobra como espaço de realização do homem, ou ainda como
lugar privilegiado de inscrição de sua praxis. Enquanto o ethos com eta inicial significa
morada do homem, o chão sobre o qual a humanidade é construída, o ethos com épsilon se refere
ao produto final, o ser humano que através da repetição do mesmo cria uma certa constância:
comportamento, o bom homem. Característica: ocorre frequentemente e quase sempre.
Para Aristóteles seria insensato e mesmo ridículo (geloion) querer demonstrar a existência do
ethos, assim como é ridículo querer demonstrar a existência da physis. Physis e ethos são duas
formas primeiras de manifestação do ser, ou da sua presença, não sendo o ethos senão a
transcrição da physis na peculiaridade da praxis ou da ação humana e das estruturas histórico-
sociais que dela resultam. No ethos está presente a razão profunda da physis (era a divindade
primordial da natureza e um dos primeiros seres a surgir no princípio dos tempos) que se
manifesta no finalismo do bem e, por outro lado, ele rompe a sucessão do mesmo que caracteriza
a physis como domínio da necessidade, com o advento do diferente no espaço da liberdade
aberto pela praxis. Embora enquanto autodeterminação da praxis o ethos se eleve sobre a physis,
ele reinstaura, de alguma maneira, a necessidade da natureza ao fixar-se na constância do
hábito (hexis). Demonstrar a ordem da praxis, articulada em hábitos ou virtudes, não segundo a
necessidade transiente da physis, mas segundo o finalismo imanente do logos ou da razão, eis o
propósito de uma ciência do ethos tal como Aristóteles se propõe constituí-la, coroando a
tradição socrático-platônica. A Ética alcança, assim, seu estatuto de saber autônomo, e passa a
ocupar um lugar preponderante na tradição cultural e filosófica do Ocidente.
A realidade humana aparece, pela primeira vez na cena ou na história, depois que o homem
aniquila e se eleva sobre a natureza, a física. O homem aniquila e constrói seu reino sobre o reino
das necessidades. Característica do reino humano são os costumes, hábitos, interditos, normas,
valores e ações. O espaço do ethos não é dado ao homem, mas é por ele construído ou
incessantemente reconstruído. Nunca, a casa do ethos esta acabada e totalmente construída. E
esse seu eterno e essencial inacabamento é um sinal da presença da esperança, espaço reservado
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às novidades, essencial inacabamento que se apresenta como campo a ser preenchido pelas várias
teorias do Bem.
“Na metafisica, o ser se manifesta de vários modos, conhecidas como categorias do ser. A forma
física ou a natureza se apresenta como a primeira forma de manifestação do ser. Tratando-se do
ser humano, além da natureza, a segunda manifestação do homem é o ethos. A primeira
manifestação tem características distintas da segunda. Ora vejamos. Na manifestação natural do
ser, aparece o elemento da necessidade, do dado, do determinado e destinado. Porém, na
manifestação segunda do ser humano através do ethos, o necessário é rompido pelo advento do
diferente segundo a liberdade. O homem é criado e criador ao mesmo tempo. A ética como
ethos, é o espaço da realização do homem e o lugar de sua prática.
Para pensar: Será verdade pensar que a destruição do ethos significa o fim de todo o sentido de
vida propriamente humana?
Retomada:
Ethos com eta inicial significa morada do homem e do animal em geral. Este sentido do ethos
como lugar de estada permanente e habitual constitui a raiz semântica que dá origem ao
significado do ethos como costumes com o qual o espaço natural torna-se habitável ao homem. A
simples presença do homem sobre a natureza rompe o reino da necessidade, instaurando o reino
dos costumes. A casa do ethos é inacabada e e nesse inacabamente do ethos com eta inicial que o
logos se instala. Ethos com épsilon inicial diz respeito ao comportamento resultante da repetiçao
dos mesmos atos. É o que ocorre frequentemte, quase sempre. Neste sentido, o ethos denota uma
constância no agir que se contrapõe ao impulso do desejos.
Entre o processo de formação do hábito e o seu termo como disposição permanente para agir de
acordo com as exigências da realização do bem e do melhor, o ethos se desdobra como espaço da
realização do homem ou ainda como lugar privilegiado para a inscriação de sua praxis. Enquanto
ação ética, a praxis humana é a atualização imanente (enérgeia) de um processo estruturado
segundo uma circularidade causal de momentos e essa constitui a evidência primeira e fundadora
da reflexão ética. O éthos como costume ou na sua realidade histórico-social é príncipio e norma
dos atos que irão plasmar o ethos como hábito (ethos-hexis). Existe, pois, uma circularidade
entre os três momentos:
Na medida em que o costume é fonte das ações tidas como éticas e a repetição dessas ações
acabam por plasmar os hábitos. A praxis é a mediadora entre os momentos constitutivos do ethos
como costume e hábito. A universalidade abstrata do ethos como costume inscreve-se na
particularidade da praxis como vontade subjetiva. No sujeito se realiza a universalidade concreta,
sempre singular (como hábito e virtude). A ação ética procede do ethos como do seu príncipio
objetivo e ao ethos retorna como o seu fim realizado na forma do existir virtuoso.
No estado mais avançado, já com a razão governando e elevando a universalidade do ethos como
costumes, nós temos a lei (morada própria da liberdade), o nomos, cujo conteúdo é a liberdade.
No ethos como costumes, o seu conteudo é a ação ética do sujeito, a virtude. No ethos como lei o
conteudo da ação ética é a lei.
Qual é o ethos capaz de abrigar a ação humana propriamente livre? Não pode ser o costume, mas
sim o estado, como sociedade da soberania da lei. A ideia da constituiçao (Politeia) do estado
segundo leis que nascem da comunidade fecha assim o universo semântico da ética, atribuindo a
praxis suas mais alta qualificação da virtude politica.
Ethos e Tradição
Aristóteles faz uma excelente distinção entre as virtudes morais (ethike aretai) e virtudes
intelectuais (dianoetikai aretai) constitui o capítulo final da querela entre a possibilidade do
ensinamento das virtudes. Por obras de ensinamento, se adquire as virtudes intelectuais (e
didaskalia). Das virtudes morais, que procedem do ethos como costumes resultam do exercicios
constante (ethike pragmateia), lhes da origem e as fortalece. As contribuições Aristotélicas
trazem a tona a oposiçao entre tradiçao e razão. Entre a tradição e a razão oscila todo o debate
histórico da ética. A tradição é a forma histórica da existência do ethos. A origem do ethos da
tradiççao não tem um autor conhecido, um fundandor como um legisldor; o ethos da tradição é
sempre referida a uma divindade. O ethos é formado primeiro copiando e observando a costância
do mundo da física. Contudo, na natureza, temos uma realidade dada; no ethos, temos uma
necessidade instituida e é a tradiçao que garante e protege a permanência da tradiçao. Tradição
significa transmissao de uma riqueza simbólica que as gerações passadas construiram e passam
para a outra.
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À luz do significado da tradição, descobre que a relação entre fato e lei é inversa. No mundo
natual, se procede do fato à lei. Na tradição, a lei ou o preceito antecede inteligivelmente o fato.
Ou seja existe o fato e é tal enquanto referido à contiuidade ou à tradição normativa do ethos. Por
isso que qualquer fato ou ação, precisamente se qualificar como má se for em oposição à lei.