Você está na página 1de 66

UNIVERSIDADE METODISTA DE ANGOLA

FACULDADE: DIREITO CURSO: DIREITO

3ºANO ANO LECTIVO: 2021/2022

TEXTOS DE APOIO

Professora: Manuela C. G. da Veiga

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


CONTEÚDOS PROGRÁMITICOS
Enquadramento da disciplina e a sua importância para a área do direito.

• EVOLUÇÃO CONCEPTUAL DA ÉTICA: HISTÓRIA E DOUTRINAS


ÉTICA
o Conceitos e funções/papeis
o Importância
o Evolução conceptual da ética
o Diferença entre a moral e ética
o Kant e os princípios da acção moral
o As relações entre a ética/moral e o direito e a sua importância
para o biodireito

• Bioética: evolução histórica


o Génese e desenvolvimento
o Diferentes momentos da bioética:
- Geral
- Especial
- Clínica
o Princípios da bioética:
- Autonomia
- Beneficiência
- Não malificiência
- Justiça
- Proporcionalidade
o Ética e ciência

• Bioética e biodireito e o respeito a dignidade da pessoa humana


• Correntes liberais e conservadores da bioética
o Enquadramento
o O titular da dignidade:
- O nascituro e o embrião
- Embrião no útero e in vitro
- A personalidade jurídica
• O aborto:
o Noção geral – definição
o Tipologia:
- Espontâneo
- Induzido
- Ilegal
o Legislação constitucional e ordinária – punibilidade do aborto

o Visão internacional sobre o aborto

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


o A moralidade do aborto
• Anencefalia:
o Conceitos
o Argumentos favoráveis e desfavoráveis à retirada do fecto
anencéfalo
• Ética profissional:
o Conceptualização
o Importância
o Vantagens da ética aplicada ao trabalho
o Exemplos de atitudes éticas
o O que fazer e não fazer no ambiente de trabalho

Metodologia

• Expositiva/dialógada
• Demonstração (apresentação de slides)
• Teórica/prática
• Debates

Sistema de avaliação

• Duas (2) frequência = 40% cada


• Outros elementos de avalição: participação/intervenção nas aulas,
assiduidade = 10%

Obs: O sistema de valiação será analisado e decidido em concerto com os


estudantes.

Os conteúdos a serem ministrados, poderão ser ajustados caso algum


tema tenha pertinência para o aumento do conhecimento.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


EVOLUÇÃO CONCEPTUAL DA ÉTICA: HISTÓRIA E DOUTRINAS
ÉTICA
Todo ser humano é dotado de uma consciência moral, que o faz distinguir entre
certo ou errado, justo ou injusto, bom ou ruim, com isso é capaz de avaliar suas
ações; sendo, portanto, capaz de ética. Esta vem a ser os valores, que se tornam
os deveres, incorporados por cada cultura e que são expressos em ações. A
ética, portanto, é a ciência do dever, da obrigatoriedade, a qual rege a conduta
humana.

Isso implica dizer que ética pode ser conceituada como o estudo dos juízos de
apreciação que se referem à conduta humana suscetível de qualificação do
ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade,
seja de modo absoluto.

O bem é uma forma de vida que mistura inteligência e prazer. Para Baruch
Espinoza "el hombre que es guiado por la razón es más libre en el Estado donde
vive según el decreto común, que en la soledad donde sólo se obedece a sí
mismo." Portanto, o homem que vive pela razão, não vive guiado pelo medo,
deseja fazer o que é melhor para todos e através até mesmo das leis do Estado,
viver livremente.

Ainda podemos definir a ética como um conjunto de regras, princípios ou


maneiras de pensar que guiam, ou chamam a si a autoridade de guiar, as ações
de um grupo em particular (moralidade), ou, também, o estudo sistemático da
argumentação sobre como nós devemos agir (filosofia moral). A simples
existência da moral não significa a presença explícita de uma ética, entendida
como filosofia moral, pois é preciso uma reflexão que discuta, problematize e
interprete o significado dos valores morais.

Existe uma profunda ligação entre ética e Filosofia: a ética nunca pode deixar de
ter como fundamento à concepção filosófica do homem que nos dá uma visão
total deste como ser social, histórico e criador. Uma série de conceitos com os
quais a ética trabalha de uma maneira específica, como os de liberdade,
necessidade, valor, consciência, sociabilidade, pressupõe um prévio
esclarecimento filosófico. Também os problemas relacionados com o
conhecimento moral ou com a forma, significação e validade dos juízos morais
exigem que a ética recorra a disciplinas filosóficas especiais, como a lógica, a
filosofia da linguagem e a epistemologia. As questões éticas fundamentais
devem ser abordadas a partir de pressupostos básicos, como o da dialética da
necessidade e da liberdade. Assim, a história da ética se entrelaça com a história
da filosofia, e é nesta que ela busca fundamentos para regular o
desenvolvimento histórico-cultural da humanidade.

Etimologicamente o termo ética, deriva da palavra Grega “Ethos” – carácter,


modo de ser de uma pessoa.

O QUE É A ÉTICA?

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


 Conjunto de valores morais e principios que norteam a conduta humana
na sociedade.

 Forma de proceder ou de comportar do ser humano no seu meio social.

 Doutrina que estuda os juízos morais referentes a conduta humana.

 Virtude caracterizada pela orientação dos actos pessoais segundo os


valores do bem e da decência pública.

OBJECTIVOS DA ÉTICA

 Regular o comportamento do homem na sociedade;


 Equlibrar o bom funcionamento da sociedade;
 Ajudar o ser humano a realizar-se como pessoa.
 Pretender a perfeição humana.
As doutrinas éticas nascem e desenvolvem em diferentes épocas e sociedades
como respostas aos problemas de:
 Relacionamento entre os homens;
 Pelo seu comportamento perante a moralidade;
 Mutação da sociedade.
As doutrinas éticas não podem ser consideradas isoladas, mas dentro de um
processo de mudanças e de sucessão que constitui a sua história.
Pode-se dizer que todas as doutrinas estão interligadas e em conexão umas com
as outras.
Divisão do percurso das doutrinas éticas em correlação com a história:
 Ética grega: Socrátes , Platão, Aristoteles
 Ética cristã: São Tómas de Aquino, Santo Agostinho
 Ética mediaval: Nicolau Maquiavel,
 Ética moderna
 Ética contemporânea
Há um princípio histórico de que a ética teve a sua origem, na antiguidade grega,
através de Aristóteles, porém é possivel identificar as primeiras abordagens com
os pré-socráticos, quando buscam entender as razões do comportamento
humano. “Podemos dizer, a partir dos textos de Platão e Aristóteles, que, no
Ocidente, a ética ou filosofia moral inicia-se com Sócrates”

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Sócrates (470-399 a.C.)
Ninguém prática voluntariamente o mal. Somente o ignorante não é virtuoso, ou
seja, só age mal quem desconhece o bem, pois o homem quando sabe o que é
o bem, reconhece-o racionalmente e passa a praticá-lo.
Ao praticar o bem, o homem sente-se dono de si e é um ser feliz.
Platão (427-347 a.C.)
Sudordinou a ética à metafisíca (depois de, além de. Tentativas de descrever os
fundamentos, as condições, as leis, a estrutura básica, as causas ou princípios,
bem como o sentido e a finalidade da realidade como um todo ou dos seres em
geral).
Sua metafísica era do dualismo entre o mundo sensível e o mundo das idéias
permanentes, eternas, perfeitas e imutáveis, que constituem a verdadeira
realidade.
O Mundo Sensível é aquele onde se encontra a maioria das pessoas,
aprisionadas do mundo iluminado, onde somente podem ver sombras de
imagens manipuladas por outros, tanto na sua forma como na sua dimensão. O
mundo das ideias (o dos filósofos) é aquele onde o ser liberta-se da caverna e
pode lançar seu próprio olhar para o mundo iluminado.
A alma é o princípio que anima e move o homem e divide-se em:
 Razão- deve aspirar à sabedoria
 Vontade- deve aspirar à coragem
 Apetite ou desejos- devem ser controlados para atingir a temperança (ter
controle sobre as paixões, ter sobriedade em suas atitudes e decisões,
evitar os excessos em seus apetites, seus desejos e vontades).
Para Sócrates, o conceito de ética iria além do senso comum da sua época, o
corpo seria a prisão da alma, que é imutável e eterna. Existiria um “bom em si”
próprios da sabedoria da alma e que podem ser rememorados pelo
aprendizado.[3] Esta bondade absoluta do homem tem relação a uma ética
apriorística, pertencente à alma e que o corpo para reconhecê-la terá que ser
purificado.
Aristóteles (384-322 a.C.)
Privilegia as virtudes (justiça, caridade e generosidade), tidas como propensas
tanto para provocar um sentimento de realização pessoal àquele que age quanto
simultaneamente beneficiar a sociedade em que vive.
O homem virtuoso é aquele capaz de deliberar e escolher o que é mais
adequado para si e para os outros, movido por uma sabedoria prática em busca
do equilíbrio entre o excesso e a deficiência.
“ A bondade tanto é rara quanto nobre e louvável.”
“Ser ético é para ser feliz.”

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Aristóteles subordina sua ética à política, acreditando que na monarquia e na
aristocracia se encontraria a alta virtude, já que esta é um privilégio de poucos
indivíduos. Na sua doutrina a ética está em conformidade com a ordem vigente.
“Cada virtude seria um meio-termo entre dois extremos, e cada um desses
extremos seria um vício”. Assim, sua ética era adaptativa, servindo as
necessidades políticas de sua época, onde o homem deveria ser conformado
com a sua realidade, para tanto se fazia necessário à interferência da família e
da educação para conter suas paixões.

Aristóteles diz que na prática ética somos o que fazemos, visando a uma
finalidade boa ou virtuosa. Isso leva à ideia de que o agente, a ação e a finalidade
do agir são inseparáveis: “Toda arte, toda investigação e do mesmo modo toda
ação e eleição, parecem tender a algum bem; por isso se tem dito com razão
que o bem é aquilo a que todas as coisas tendem”.

Do livro grande tratado de filosofia moral, a Ética a Nicômaco, de Aristóteles,


testemunha a gênese da Ética como branca autônoma da filosofia. Isto acontece,
com Aristóteles, quando a reflexão moral se separa da especulação teorética
(em Platão intimamente conexas), e assume as características de ter um próprio
objeto específico e um próprio método de indagação. Aristóteles diz que o objeto
da filosofia política (o novo nome da filosofia prática) é o bem supremo do
homem, seu fim último. Não é somente o bem de cada indivíduo, mas de toda a
Polis. A ciência da Polis, por ocupar-se do fim último, é a ciência arquitetônica,
que desempenha uma função diretiva nas relações entre todas as outras artes
ou ciências práticas.

A Ética define a “filosofia das coisas do homem”, e com a Política constitui o


âmbito das realidades que podem ser diferentemente do que são, reinos da
contingência e não da necessidade. A Ciência política não somente deve
conhecer o bem, mas deve realizá-lo. No campo da Ética, a razão intervém para
definir regras de conduta, mas através de um procedimento muito diferente do
dedutivo, próprio das ciências teoréticas.

O Epicirismo (fundado por Epicuro de Samos- 341-270 a.C.)


Defende que o homem deve fazer o que gosta mais, o que lhe dá prazer, do
corpo e da alma, ou seja o prazer é um bem e como tal o objectivo de uma vida
feliz.
Esta busca do prazer deve ser regida pela prudência, para afastarmos a dor e
preocupações. O homem deve diminuir os desejos, para ser auto-suficiente,
despreocupado e tranquilo.
Os melhores prazeres não são os corporais, mas os espirituais que contribuem
para a paz da alma.
Para ser feliz o homem precisa de liberdade, amizade e tempo para meditar.
“A presença do prazer era sinonimo da ausência da dor.”

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Os Estoicos (fundado por Zenão de Cício, Sêneca e Marco Aurélio por volta 300
a.C)
Defendiam que a ética decorre de uma lei natural racional e perfeita. A vida feliz
é a vida virtuosa, conforme a natureza e a razão.
O fundamental é viver com retidão, lutando contra as paixões.
O homem virtuoso é aquele que enfrenta seus desejos com moderação
aceitando seu destino.
Defendiam aspectos como: compreensão, igualdade e o homem como cidadão
do mundo.
O Cristianismo (São Tómas de Aquino: 1226-1274 e Santo Agostino: 354-430)
Com o fim da escravatura, constrói-se a sociedade feudal, estratificada e
hierarquizada e a religião garantia uma certa unidade social.
A igreja católica passa a exercer, além do poder espiritual, o poder intelectual.
A ética cristã é subordinada à religião, que regula o comportamento do homem
para a divindade.
Com o cristianismo, através de S. Tomás de Aquino e Santo Agostinho,
incorpora-se a ideia de que a virtude se define a partir da relação com Deus e
não com a cidade ou com os outros. Deus nesse momento é considerado o único
mediador entre os indivíduos. As duas principais virtudes são a fé e a caridade.

Através do cristianismo, se afirma na ética o livre-arbítrio, sendo que o primeiro


impulso da liberdade dirige-se para o mal (pecado). O homem passa a ser fraco,
pecador, dividido entre o bem e o mal. O auxílio para a melhor conduta é a lei
divina. A ideia do dever surge nesse momento. Com isso, a ética passa a
estabelecer três tipos de conduta; a moral ou ética (baseada no dever), a imoral
ou antiética e a indiferente à moral.

Santo Agostinho, colaborava com as ideias do Platão.


O objectivo da moral é ajudar o homem a ser feliz, mas a felicidade suprema
consiste num encontro amoroso do homem com Deus.
Só através e pela graça de Deus podemos ser felizes.
São Tomás de Aquino, colaborava com as ideias do Aristóteles.
“Ser ético é para ser feliz.”
Cada um procura alcançar o bem ao actuar, pelo que do bem depende a auto-
realização do homem.
Ética Medieval: Época em que a razão se separa da fé.
Nicolau Maquiavel (1469-1527)

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Provoca uma revolução na ética ao romper com a moral cristã, que impõe os
valores espirituais como superiores aos políticos.
O que importa são os resultados e não a acção política em si.
Thomas Hobbes (1588-1679)
A vida do homem no estado de natureza, sem leis nem governo, era solidária,
podre, curta..., uma vez que os homens são por índole agressivos, autocentrados
e obcecados por um desejo de ganho imediato.
O principal dos bens é a conservação de si mesmo.
Baruch de Espinosa (1632-1677)
Os homens tendem naturalmente a pensar apenas em si mesmos.
Os seus desejos e opiniões são sempre conduzidas por suas paixões, as quais
nunca levam em conta o futuro ou as outras pessoas.
Cada um deve se amar a si mesmo, procurando o que lhe é útil de verdade,
desejando tudo o que conduz a uma maior perfeição
Jonh Locke (1632-1704)
Deus estabeleceu uma ligação indissolúvel entre a virtude e a felicidade pública,
e tornou a prática da virtude necessária à conservação da sociedade humana.
O homem deve aprovar as regras e recomendá-las aos outros.
David Hume (1711-1776)
O fundamental da moral é a utilidade, ou seja, é boa acção aquela que dá
felicidade e satisfação à sociedade.
Ao invés de limitar os desejos humanos, Hume percebeu que muitas das nossas
paixões estão baseadas na simpatia – capacidade de sentir em si mesmo os
sofrimentos e as alegrias de outrem.
Jean Jaques Rosseau (1712-1778)
O homem é bom por natureza e seu espírito pode sofrer um aprimoramento
quase ilimitado.
Ética Moderna
Immannuel Kant (1724-1804)
A ideia fundamental é a concepção da ética como um sistema de regras que
devemos seguir partindo de um sentido de dever, independentemente do nosso
desejo.
Um juízo ético tem de se apoiar em boas razões e as razões têm de ser válidas
para todos em todos os momentos.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Existem alguns direitos e deveres morais que o homem deve obrigatoriamente
cumprir independentemente dos benefícios que obtenha.
Máxima Kantiana
“Não faz aos outros o que não gostarias que te fizessem.”
Kant afirma que se nos deixarmos levar por nossos impulsos, apetites, desejos
e paixões não teremos autonomia ética, pois a Natureza nos conduz pelos
interesses de tal modo que usamos as pessoas e as coisas como instrumentos
para o que desejamos. Não podemos ser escravos do desejo. Para isso
devemos agir conforme o Imperativo Categórico, ou seja, o ato moral deve
concordar com a vontade e com as leis universais que ela dá a si mesma: “Age
apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela
se torne lei universal”.

Kant também afirmava que “(...) a moralidade de um ato não deve ser julgada
por suas consequências, mas apenas por sua motivação ética [10]”. Ele
sustentava que o homem é o centro do conhecimento e da moral. Sendo o ato
ético e moral criado e seguido pelo homem, isso passa a ser incondicionado e
absoluto.

Friedrich Hegel (1770-1831)


A vida ética ou moral dos indivíduos, enquanto seres históricos e culturais, é
determinada pelas relações sociais.
Divide a ética em ética subjectiva (pessoal), consciência de dever e a ética
objectiva (social), formada pelos costumes, leis e normas de uma sociedade.
No século XIX, Friedrich Hegel traz uma nova perspectiva complementar e não
abordada pelos filósofos da Modernidade. Ele apresenta a perspectiva Homem
- Cultura e História, sendo que a ética deve ser determinada pelas relações
sociais. Como sujeitos históricos culturais, nossa vontade subjetiva deve ser
submetida à vontade social, das instituições da sociedade. Desta forma a vida
ética deve ser “determinada pela harmonia entre vontade subjetiva individual e
a vontade objetiva cultural”.

Através desse exercício, interiorizamos os valores culturais de tal maneira que


passamos a praticá-los instintivamente, ou seja, sem pensar. Se isso não ocorrer
é porque esses valores devem estar incompatíveis com a nossa realidade e por
isso devem ser modificados. Nesta situação podem ocorrer crises internas entre
os valores vigentes e a transgressão deles.

Já na atualidade o conceito de ética se fundiu nestas duas correntes de


pensamento. Na visão da ética praxista, o homem tem a capacidade de julgar,
ele não é totalmente determinado pelas leis da natureza, nem possui uma
consciência totalmente livre. O homem tem uma co-responsabilidade frente as
suas ações. Com raízes na apropriação de coisas e espaços, na propriedade, a
ética Pragmática tem como desafio à alteridade (misericórdia, responsabilização,
solidariedade), para transformar o Ter, o Saber e o Poder em recursos éticos

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


para a solidariedade, contribuindo para a igualdade entre os homens:
“distribuição equitativa dos bens materiais, culturais e espirituais”.

O homem é visto, como sujeito histórico-social, e como tal, sua ação não pode
mais ser analisada fora da coletividade. Por isso, a ética ganha um
dimensionamento político (área de avaliação dos valores nas relações sociais):
uma ação eticamente boa é politicamente boa, e contribui para o aumento da
justiça, distribuição igualitária do poder entre os homens. Na ética pragmática o
homem é politicamente ético, - “todos os aspectos da condição humana, têm
alguma relação com a política” - há uma co-responsabilidade em prol de uma
finalidade social: a igualdade e a justiça entre os homens. Segundo Severino, no
momento histórico em que vivemos existe um problema ético-político grave.
Forças de dominação teriam se consolidado nas estruturas sociais e
econômicas, mas através da criticidade seria possível desvelar a dissimulação
ideológica que existe nos vários discursos da cultura humana. Quando se está
agindo com a totalidade dos esclarecimentos que a objetividade pode fornecer
quando criticamente aplicada à práxis, feita através da intencionalidade
subjetiva, reflexão crítica. “Há o reino humano da práxis, no qual as ações são
realizadas racionalmente não por necessidade causal, mas por finalidade e
liberdade”, realizando assim uma ética consciente.

Karl Marx (1818-1883)


A moral cumpre a função social, que servia para sacrementar as relações e
condições de existência de acordo com os interesses da classe dominante.
Nietzsche (1844-1900)
A vida é vontade de poder, princípio último de todos os valores.
O bem é tudo que favorece a força vital do homem, intensifica e exalta o
sentimento do poder, vontade e o próprio poder.
O mal é tudo que vem da fraqueza.
John Satuart Mill (1806-1873) – Ética Utilitarista
A felicidade reside na busca do máximo prazer e do mínimo de dor
O objectivo da ética é o bem, dando a felicidade para o maior número possível
de pessoas.
“O que quer que traga essa felicidade tem validade. Vê no útil o valor supremo
da vida.”
Ética Moderna/Contemporânea
William James (1842-1910) – o bom é algo que conduz a obtenção eficaz de
uma finalidade, fim esse sob uma óptica utilitária.
Bertrand Russel (1872-1970)- a ética é subjectiva. Não contém afirmações
verdadeiras ou falsas.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Resumo:
 O que importa é aplicar princípios éticos aos casos concretos;
 Ter conduta ética não depende da formação, pratica-se no dia a dia;
 Tem como propósito ajudar o homem a ser bom e plenamente homem;
 Construção de uma vida;
 Procurar ser éticos aqui e agora;
 Ética não é para análise e mesmo para a vida.
Pergunta ética
“Qual é coisa certa a fazer nesta situação em que estou envolvido.”
“O que depende e o que não depende de nós.”

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


ÉTICA E MORAL
Ética: Conjunto de valores morais e princípios que norteam a conduta humana
na sociedade, garantindo o bem-estar social.

Moral: são os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada


sociedade.

 Conjunto de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por


cada cidadão. Essas regras orientam cada indivíduo, norteando as suas
acções e os seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral, certo ou
errado, bom ou mau.

Tanto a ética como a moral tem a mesma finalidade, são responsáveis por
construir as bases que vão guiar a conduta do homem em sociedade,
determinando o seu carácter e virtudes.

A ética é uma espécie de legislação do comportamento moral das pessoas.

A moral não é somente um acto individual, pois as pessoas são, por natureza
seres sociais, assim percebe-se que moral também é um empreendimento social
e esses actos morais, quando realizados por livre participação da pessoa, são
aceites voluntariamente. A Moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a
consciência Moral que o leva a distinguir o bem do mal no contexto em que vive.

Surgiu realmente quando o homem passou a fazer parte de agrupamentos, isto


é, surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos.

A moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma de
garantir o seu-estar. A moral independe das fronteiras geográficas e garante uma
identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam este mesmo
referencial moral comum.

É um conjunto de conduta ou hábitos julgados válidos para qualquer tempo ou


lugar.

A moral constitui um processo de construção do carácter da pessoa humana,


partindo normalmente de uma maneira de como foi direccionado pelos
ensinamentos dos pais. Ela adquire-se também no meio onde se vive.

A ética e a moral andam lado a lado com a liberdade, quando ela é vista como o
princípio do respeito pelas coisas alheias e a si mesmo

A Ética exige maior grau de cultura. Ela investiga e explica as normas morais,
pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas
principalmente por convicção e inteligência.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Uma completa a outra, havendo um inter-relacionamento entre ambas, pois na
acção humana, o conhecer e o agir são indissociáveis.

A ética se constitui das experimentações humanas, e, portanto, busca encontrar


o seu ponto de equilíbrio por meio de experiências vivenciadas e na postura
comportamental, no calor das decisões morais, em meio aos conflitos
existenciais, as paixões, sentimentos e agitações psicoemocionais afetivas que
impulsionam o indivíduo, os grupos sociais, a comunidade e a sociedade como
um todo.

O laboratório da ética são as inquietações humanas, fundamental a sua


existência. A ética funciona como uma balança de precisão, onde devem ser
pesadas, medidas e avaliadas, as ações e o comportamento humano, a fim de
se verificar a utilidade, o possível direcionamento e as possíveis conseqüências
advindas dessas ações.

É necessário que se busque um equilíbrio moderado, ou seja, bem dosado, como


no caso do uso do sal ao temperar os alimentos, sobre as atitudes e
comportamentos que terão importantes reflexos no plano da ação ética. A
questão da ética esta diretamente ligada às ações humanas no tempo e no
espaço que se manifesta de diversas formas, quer seja isolada ou no contexto
social, como trabalhar, estudar, construir, destruir, elogiar, ofender etc; movida
sempre pelo sentimento de alcançar alguma finalidade, como ganhar dinheiro,
ascender a algum cargo e/ou função dentro do serviço público ou privado,
ofender, magoar, estimular ou desestimular alguém etc; visando a consecução
de determinados efeitos positivos ou negativos como o de viver as próprias
custas, promover seu bem-estar ou o de outrem, subir a qualquer custo
causando sofrimento, o aniquilamento e a desgraça a outrem, não fazer nada e
criticar veementemente aqueles que fazem ou produzem alguma coisa etc.

Normalmente, as ações humanas são cogitadas com certa carga de


intencionalidade de modo a atingir determinados fins e a produzir efeitos no meio
externo, ensejando críticas, elogios, ideias, mudanças e inovações. Desta feita,
influir-se que, os atos exteriores realizados automaticamente pelo homem estão
intimamente ligados a atitude interna do pensar humano, isto é, de modo que da
consciência a ação, exista uma mínima diferença relacionada à consumação
daquilo que foi cogitado (pensado). Essas ações humanas são cargas de
energias positivas ou negativas direcionadas a produzir algum efeito no contexto
social, refletindo na sociedade de forma boa ou ruim, uma vez que a soma
dessas ações individualizadas convergirão para a formação da
intersubjetividade, momento em que se torna impossível distinguir uma ação
individual da outra, nesse entrelaçamento de ações que se inter-relacionam.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Dentre as mais variadas espécies de ações humanas como a ação política, a
ação de educar, a ação de trabalhar, a ação de se alimentar, a ação de se emitir
um discurso..., dependem de como são canalização as energias para se atingir
os determinados fins; sem dúvidas, neste caso, há que se priorizar as atenções
destes enfoques sobre a questão da ação moral.

É muito difícil definir o que seja a ação moral em si e por si, devido que ela não
corresponde especificamente à prática de um ato isolado e individualizado, como
no caso de se dar uma esmola, ajudar alguém em dificuldade pela idade a
atravessar uma rua, socorrer um oprimido diante de uma injustiça etc.
A ação moral tem a ver com todos os atos praticados no decorrer de uma
existência, pois, uma atitude isolada não serve de parâmetro para se determinar
se uma pessoa é ética ou não, haja vista que precisam ser observados e
somados seus diversos traços comportamentais na família, na sociedade, no
trabalho, entre outros.

Lembre-se que nenhuma pessoa é igual à outra, pois cada ser humano de
acordo com a sua educação familiar, sua crença religiosa, sua cultura, tem o livre
arbítrio de hierarquizar e eleger o que há de mais importante como conduta moral
e ética a ser observada e trilhada.

Ainda bem que essa forma de sentir e perceber as coisas, no ambiente em que
estamos inseridos, é tão diferenciado de indivíduo para indivíduo, pois, o que
torna a vida bastante interessante é o aprendizado de se conviver com essas
diferenças, buscando um ponto de equilíbrio, por meio da harmonização dessas
ações. Cada indivíduo, dentro dos padrões aceitos pela sociedade, tem a
liberdade de deliberar e decidir qual é a melhor forma de conduzir a sua própria
personalidade, tendo a ética como a capacidade coligada a essa liberdade.

Segundo o eminente professor Bittar (2009, p. 104/105): “Os pilares de uma


sociedade podem ser os próprios valores por ela construídos, capazes de
sustentá-la em períodos de crise, em momentos de conflito, em épocas de
cortesia. Quais são esses pilares, senão os sólidos valores de preservação do
indivíduo e da coletividade, construídos por processos históricos pela cultura de
uma sociedade”.

Enfim, a ética deve ser racional e relativizada de modo a fortalecer ainda mais a
moral, portanto, o saber ético não deve se ocupar somente das virtudes, mas
também dos vícios humanos e das habilidades em lidar com o bem e com o mal,
de modo a administrá-los da melhor forma possível, superando erros e buscando
cada vez mais o aperfeiçoamento da moral e da justiça imparcial tão sonhada e
almejada por muitos, para a construção de uma sociedade mais digna e mais
justa e que valorize tudo aquilo que é bom e útil para toda a humanidade.

Qual a diferença entre ética e moral? Podemos responder a esta pergunta


com uma história árabe.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Um homem fugia de uma quadrilha de bandidos violentos quando encontrou,
sentado na beira do caminho, o profeta Maomé. Ajoelhando-se à frente do
profeta, o homem pediu ajuda: essa quadrilha quer o meu sangue, por favor,
proteja-me!

O profeta manteve a calma e respondeu: continue a fugir bem à minha frente,


eu me encarrego dos que o estão perseguindo.

Assim que o homem se afastou correndo, o profeta levantou-se e mudou de


lugar, sentando-se na direção de outro ponto cardeal. Os sujeitos violentos
chegaram e, sabendo que o profeta só podia dizer a verdade, descreveram o
homem que perseguiam, perguntando-lhe se o tinha visto passar.

O profeta pensou por um momento e respondeu: falo em nome daquele que


detém em sua mão a minha alma de carne: desde que estou sentado aqui, não
vi passar ninguém.

Os perseguidores se conformaram e se lançaram por um outro caminho. O


fugitivo teve a sua vida salva.

A moral incorpora as regras que temos de seguir para vivermos em sociedade,


regras estas determinadas pela própria sociedade. Quem segue as regras é
uma pessoa moral; quem as desobedece, uma pessoa imoral.

A ética, por sua vez, é a parte da filosofia que estuda a moral, isto é, que reflete
sobre as regras morais. A reflexão ética pode inclusive contestar as regras
morais vigentes, entendendo-as, por exemplo, ultrapassadas.

Se o profeta fosse apenas um moralista, seguindo as regras sem pensar sobre


elas, sem avaliar as consequências da sua aplicação irrefletida, ele não poderia
ajudar o homem que fugia dos bandidos, a menos que arriscasse a própria vida.
Ele teria de dizer a verdade, mesmo que a verdade tivesse como consequência
a morte de uma pessoa inocente.

Se avaliarmos a ação e as palavras do profeta com absoluto rigor moral, temos


de condená-lo como imoral, porque em termos absolutos ele mentiu. Os
bandidos não podiam saber que ele havia mudado de lugar e, na verdade, só
queriam saber se ele tinha visto alguém, e não se ele tinha visto alguém “desde
que estava sentado ali”.

Se avaliarmos a ação e as palavras do profeta, no entanto, nos termos da ética


filosófica, precisamos reconhecer que ele teve um comportamento ético,
encontrando uma alternativa esperta para cumprir a regra moral de dizer sempre
a verdade e, ao mesmo tempo, ajudar o fugitivo. Ele não respondeu exatamente
ao que os bandidos perguntavam, mas ainda assim disse rigorosamente a

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


verdade. Os bandidos é que não foram inteligentes o suficiente, como de resto
homens violentos normalmente não o são, para atinarem com a malandragem
da frase do profeta e então elaborarem uma pergunta mais específica, do tipo:
na última meia hora, sua santidade viu este homem passar, e para onde ele foi?

Logo, embora seja possível ser ético e moral ao mesmo tempo, como de certo
modo o profeta o foi, ética e moral não são sinônimas. Também é perfeitamente
possível ser ético e imoral ao mesmo tempo, quando desobedeço uma
determinada regra moral porque, refletindo eticamente sobre ela, considero-a
equivocada, ultrapassada ou simplesmente errada.

Um exemplo famoso é o de Rosa Parks, a costureira negra que, em 1955, na


cidade de Montgomery, no Alabama, nos Estados Unidos, desobedeceu à regra
existente de que a maioria dos lugares dos ônibus era reservada para pessoas
brancas. Já com certa idade, farta daquela humilhação moralmente oficial, Rosa
se recusou a levantar para um branco sentar. O motorista chamou a polícia, que
prendeu a mulher e a multou em dez dólares. O acontecimento provocou um
movimento nacional de boicote aos ônibus e foi a gota d’água de que precisava
o jovem pastor Martin Luther King para liderar a luta pela igualdade dos direitos
civis.

No ponto de vista dos brancos racistas, Rosa foi imoral, e eles estavam certos
quanto a isso. Na verdade, a regra moral vigente é que estava errada, a moral
é que era estúpida. A partir da sua reflexão ética a respeito, Rosa pôde
deliberada e publicamente desobedecer àquela regra moral.

Entretanto, é comum confundir os termos ética e moral, como se fossem a


mesma coisa. Muitas vezes se confunde ética com espírito de corpo, que tem
tudo a ver com moral mas nada com ética. Um médico seguiria a “ética” da sua
profissão se, por exemplo, não “dedurasse” um colega que cometesse um erro
grave e assim matasse um paciente. Um soldado seguiria a “ética” da sua
profissão se, por exemplo, não “dedurasse” um colega que torturasse o inimigo.
Nesses casos, o tal do espírito de corpo tem nada a ver com ética e tudo a ver
com cumplicidade no erro ou no crime.

Há que proceder eticamente, como o fez o profeta Maomé: não seguir as regras
morais sem pensar, só porque são regras, e sim pensar sobre elas para
encontrar a atitude e a palavra mais decentes, segundo o seu próprio
julgamento.

Kant e o princípio da acção moral

A teoria ética de Kant oferece-nos um princípio da moral que deve poder ser
aplicado a todas as questões morais. Kant enuncia-o de diferentes maneiras com

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


o objectivo de esclarecer as suas implicações. Partiremos de um caso simples,
de senso comum, para esclarecer essas diferentes formulações:

O Silva reparou que uma pessoa que saía da sua pequena loja deixou cair uma
nota de 50 €. Apanhou-a e... que fez?

Avaliemos três decisões possíveis de Silva

1. Ficou com os 50 €.
2. Devolveu os 50 € para ficar bem visto e ganhar reputação de honesto.
3. Devolveu os 50 € pelo simples facto de pertencerem ao cliente.

O princípio do desinteresse: A acção 1 é claramente imoral. O Silva ficou com


os 50 € devido ao seu interesse. Quanto à acção 2, o senso comum diria que é
hipócrita ou interesseira, pois o Silva devolveu os 50 € apenas porque isso é do
seu interesse. De facto, o princípio da decisão em 2 foi o mesmo que em 1 — o
interesse. Pôr o seu interesse acima de tudo, como princípio das acções, é
imoral. Assim, só a acção 3 é moralmente correcta, já que o Silva ultrapassou os
seus interesses e agiu de forma desinteressada. O nosso juízo sobre cada uma
das possíveis decisões do Silva foi guiado pelo princípio do desinteresse: “Age
desinteressadamente.”

A teoria de Kant não impede que a pessoa satisfaça os seus interesses — afinal
também era do interesse do Silva decidir o que fazer com os 50 € e, apesar de
não ter sido esse o motivo da acção 3, também ganhou a consideração do
cliente. O acto deve ser desinteressado mas se, além disso, satisfizer interesses,
tanto melhor para o agente; se contrariar interesses, paciência.

O princípio da imparcialidade: Podemos enunciar o princípio do desinteresse


de outra maneira: “Decide com imparcialidade.”

Aprovamos moralmente as decisões e as acções quando o sujeito, como no caso


3, decide como um juiz imparcial. Nos casos 1 e 2 Silva permitiu que os seus
interesses lhe roubassem a imparcialidade.

É provável que Kant, neste aspecto, se afaste um pouco do senso comum. O


senso comum pode pensar que a “imparcialidade” será considerar igualmente
“cada um dos interesses envolvidos” ou, então, ajuizar sobre cada caso
atendendo ao “interesse de todos”. Mas os “interesses das partes envolvidas”
podem ser igualmente imorais. Quanto ao “interesse de todos” pode nem existir
(afinal é típico os interesses estarem em conflito...) e, se existir, será, como todos
os interesses, contingente, caprichoso como a humanidade, e a moral não pode
estar sujeita a caprichos. “Imparcialidade”, para Kant, significa decidir
independentemente de quaisquer interesses. De facto, Kant pensava, em parte
de acordo com o senso comum, que o progresso moral também ajuda à
felicidade e aos interesses mais dignos das pessoas. Mas ele sabe que a
harmonia entre a moral e a felicidade não é certa e que se a acção moral gerar
felicidade será por acréscimo ou efeito secundário.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


O princípio do dever: Se a pessoa não deve agir por interesse, então deve agir
por obrigação, por dever. A acção 1 foi em tudo contrária ao dever. A acção 2
está em conformidade com o dever, porque o Silva fez o que deveria ter feito,
mas foi feita por interesse e não por dever. Só a acção 3, a única a ter toda a
nossa aprovação moral, foi feita por dever. Assim, o princípio da moralidade pode
ser enunciado deste modo:

“Age apenas por dever e não segundo quaisquer interesses, motivos ou fins.”

Devemos ter em mente que falamos de decisões e acções morais. Se um papel


inútil na minha secretária me incomodar, é do meu interesse deitá-lo para a
reciclagem e, ao fazê-lo, não estou a violar o princípio dos deveres; mas se atirar
o papel para o quintal do vizinho, deixo de cumprir o dever de respeitar as
pessoas...

Os deveres morais e as convenções sociais: Os princípios do desinteresse,


da imparcialidade e do dever dizem a mesma coisa e têm as mesmas
implicações. Isto permite esclarecer o que são deveres morais: O dever é uma
regra estipulada por uma razão desinteressada, imparcial.

Assim, podemos evitar o erro, bastante difundido, de supor que os deveres


morais são criações ou convenções sociais. Dois argumentos contribuem para
este erro. O primeiro parte do facto de alguns dos “deveres morais” de uma
sociedade serem diferentes dos de outras, para concluir, erradamente, que todos
os deveres são convenções sociais. O segundo argumento parte do facto de
muitas vezes cumprirmos os deveres contrariados, como se fôssemos obrigados
por uma autoridade externa, para concluir que não podem ter origem em nós
mas sim numa autoridade externa.

Ora, a teoria kantiana permite distinguir os deveres morais das regras ditadas
por quaisquer autoridades exteriores ao agente. O indivíduo tem na sua razão o
critério dos deveres: pensando desinteressada e imparcialmente ele sabe o que
é o dever. O conflito entre o dever, que é a ordem que damos a nós mesmos
(“Sê honesto!” — ordenou o Silva a si mesmo), e os interesses que nos afastam
do dever (“Mas os 50 € davam-me jeito...” — hesitou o Silva), explica por que o
dever parece ter origem numa autoridade exterior que nos contraria.

O princípio da universalidade: A teoria moral de Kant concilia a ideia de que


os deveres morais são criações dos indivíduos e a ideia de que a moral é
universal, comum a todos. Esta ideia pode surpreender-nos: não é verdade que
“cada cabeça, sua sentença”?

A acção correcta é decidida pelo indivíduo quando adopta uma perspectiva


universal. Como? Abstraindo dos seus interesses, a pessoa pensará como
qualquer outra que também faça abstracção dos seus interesses adoptando,
portanto, uma perspectiva universal.

Regressa ao exemplo dado e verifica que qualquer pessoa que abstrai dos seus
interesses e pensa imparcialmente faz o mesmo: é honesta e devolve os 50 €.
Aplica a mesma ideia a deveres morais comuns como “Cumpre as promessas”,

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


“Paga o que deves”, “Sê leal”, “Não roubes” e verifica, com Kant, que só o
interesse e a parcialidade do agente podem levar à violação de tais regras ou
deveres morais. Eliminada a parcialidade, pensamos segundo uma perspectiva
universal e aprovamo-las. Kant exprimiu esta ideia numa fórmula conhecida por
princípio da universalizabilidade:

“Age apenas segundo uma máxima tal que possas querer ao mesmo tempo que
se torne lei universal.”

Uma máxima é uma regra que deve valer para certos tipos de acção e será moral
ou imoral consoante esteja ou não de acordo com o princípio moral, que é uma
regra que deve valer para todas as acções. A máxima da acção 1 poderia
enunciar-se assim: “Se isso servir os teus interesses, não devolvas dinheiro ao
seu dono.” Poderia o Silva querer que ela fosse universalmente acatada? Não,
porque a obediência universal a tal regra criaria um estado de coisas terrível em
que mesmo os seus interesses acabariam por ser lesados... Tenta transformar
outras violações dos deveres em máximas e pergunta se podes querer que todos
as cumpram. Pode o ladrão querer que todos roubem quando a oportunidade
surge? Podes querer que todos façam promessas sem a intenção de cumprir?

O princípio da autonomia: Se juntares agora o princípio da universalizabilidade


e o esclarecimento da origem dos deveres, compreenderás a ideia
surpreendente de Kant de que nas decisões morais nós somos legisladores
criando regras válidas para todos os seres racionais.

Esta ideia também pode parecer estranha porque nos parece que os deveres
não estiveram à nossa espera para serem criados. Pensamos que são as
tradições que constituem listas de deveres apoiadas em sistemas de punições e
recompensas. Mas, aceitar esta teoria implica afirmar que a acção 3 é impossível
porque, nesse caso, o Silva só poderia agir devido ao seu interesse em evitar
punições ou de ser recompensado e, em consequência, a nossa aprovação
moral de 3 não teria sentido. Se aceitarmos os princípios já expostos, conclui
Kant, aceitamos que em cada juízo ou decisão moral, o sujeito determina o
dever. O facto de esses deveres coincidirem com alguns dos deveres tradicionais
explica-se pela universalidade da razão. Kant sublinhou esta ideia de autonomia
do sujeito em outras fórmulas do princípio moral:

“Age como se a máxima da tua acção se devesse tornar, pela tua vontade, em
lei universal da natureza.”
“Age [...] de tal maneira que a vontade pela sua máxima se possa considerar a
si mesma ao mesmo tempo como legisladora universal.”

A fórmula da universalizabilidade ainda poderia sugerir que quando decide


moralmente, o sujeito escolhe entre máximas que ele não criou mas que já estão
disponíveis. A novidade mais notória destas fórmulas está no facto de
acentuarem a autonomia do sujeito: o sujeito deve obedecer apenas a regras
que criou, ao mesmo tempo, para si mesmo e para todos os seres racionais.

O princípio do respeito pela pessoa: Perguntemos como é que, em cada um


dos casos 1, 2 e 3, as pessoas são tratadas. Em 1, o Silva usou o outro como

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


meio, como se a outra pessoa fosse uma coisa ou instrumento, para o aumento
directo da sua fortuna. Em 2, o Silva usou a outra pessoa como meio de
marketing e propaganda. Nestes dois casos, ao mesmo tempo que usou a outra
pessoa apenas como meio, o Silva usou-se como meio, abdicando da sua
autonomia para favorecer impulsos e interesses que o escravizam. Que quer
dizer “usar-se como meio”? Silva é uma pessoa, um ser autónomo. O que
constitui esta pessoalidade ou autonomia é a capacidade de pensar e decidir por
si. Mas nos casos 1 e 2 ele usou estas capacidades para servir fins ditados pelo
interesse. Usar-se como meio é usar a sua autonomia para a perder. Em 3, o
Silva não tratou a outra pessoa como meio, tratou-a como um fim. Devemos
esclarecer esta ideia.

Se a devolução dos 50 € não visou servir qualquer interesse, então para quê
fazê-lo? Qual é a sua finalidade? A finalidade, já vimos, foi a de cumprir o dever
pelo dever. Mas isso, também já vimos, é, ao mesmo tempo, definir a única
legislação adequada a qualquer a pessoa, ou seja, a todo o ser racional, capaz
de ultrapassar interesses para pensar e decidir por si. Assim, cumprindo o dever
que deu a si mesmo, o Silva respeita todos os seres racionais, incluindo, claro,
tanto o próprio Silva como a pessoa do seu cliente. O mesmo seria dizer que
respeitando a pessoa do seu cliente, o Silva respeita-se e respeita todos os seres
racionais, tomando-os como fins da sua acção.

Kant sintetizou o seu pensamento noutra fórmula: “Age de tal maneira que uses
a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre e
simultaneamente como fim e nunca apenas como meio.”

Nota que a fórmula não proíbe as pessoas de serem meios umas para as outras,
porque se o proibisse, proibiria qualquer prestação de serviços. A lei moral não
proíbe o Silva de usar os seus clientes para prosperar, mas se enganar nos
preços e não devolver o dinheiro esquecido pelos clientes, está a tratá-los
apenas como meios, instrumentos ou objectos.

O que é uma acção moralmente válida?


Diremos imediatamente que é uma acção que cumpre o dever ou evita infringi-
lo. Quando dizemos a verdade em vez de mentir; quando não cometemos
qualquer fraude na declaração de impostos; quando socorremos os
necessitados ou não nos apossamos de bens alheios estamos a agir bem, a
fazer o que é devido. Mas será que agir bem, cumprir o dever - o que é sempre
louvável - é suficiente para que uma acção seja moralmente válida?Kant diz que
não.
Então o que é, para Kant, uma acção moralmente válida? É uma acção em que
cumprimos o dever - isso é importante - por dever - isto é mais importante. O que
quer dizer cumprir o dever por dever? Significa cumprir o dever tendo como único
e exclusivo motivo o respeito pelo dever, isto é, o cumprimento do dever é um
fim em si mesmo. Exemplifiquemos: há uma norma moral que me diz que não
devo mentir. Suponhamos que na minha declaração de impostos não cometo

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


qualquer fraude, não falsifico qualquer dado. É claro que cumpro o dever de não
mentir.

Imaginemos que cumpri o dever de não mentir por receio de ser preso, por não
querer ser alvo de uma investigação fiscal, para não ver a minha reputação
prejudicada. Não cometendo qualquer fraude, cumpri o dever de não mentir.
Contudo, não cumpri o dever por dever. Porquê? Porque não mentir foi um meio
para evitar situações desagradáveis: cumpri o dever por medo, por receio, por
interesse em evitar problemas. Não respeitei incondicionalmente a norma que
proíbe a mentira. Se dissesse a mim mesmo "Não devo mentir porque é meu
dever não mentir", estaria a cumprir o dever sem dar importância a mais nada:
cumpriria o dever por dever. Ora, o que concluir do exemplo dado? Disse a mim
próprio: "É do meu interesse cumprir o dever." Agi em conformidade com o dever,
fiz o que era devido, mas o motivo que me levou a agir conforme ao dever não
foi pura e simplesmente cumprir o dever. Quando cumprimos o dever sem
qualquer outro motivo a influenciar-nos a não ser a vontade de o cumprir,
estamos, segundo Kant, a agir de uma forma moralmente válida. Melhor dizendo,
esta é a única forma de agir que Kant considera moralmente válida.
Por outras palavras, o que está Kant a dizer-nos? Que para avaliar a moralidade
de uma acção o que conta é a intenção de quem age? O que nos motiva a
cumprir o dever é, para a ética kantiana, o problema decisivo. Não se trata
simplesmente de cumprir o dever, mas sim de como cumprir o dever. As normas
morais vigentes numa determinada sociedade dizem-nos que deveres cumprir
("Não matarás!"; "Não roubaras!"; "Não mentiras!"), mas não como cumprir esses
deveres, qual a forma válida de os cumprir. Onde encontrar o princípio que nos
diz como devemos cumprir o dever? Na nossa consciência de seres racionais
que se reconhecem dotados de liberdade. Que princípio é esse? Kant dá-lhe o
nome de lei moral.

A lei moral diz-nos: "Deves absolutamente e em qualquer circunstância


cumprir o dever pelo dever.

Come se vê, a lei moral exige um absoluto e incondicional respeito pelo dever.
Assim, é nosso dever não matar por absoluto respeito pela dignidade e valor da
vida humana e não por causa dos problemas que a infracção desse dever
acarretaria. Dizendo-nos a forma como devemos agir ao cumprir o dever, a lei
moral é, para Kant, uma lei puramente formal. Não dá regras concretas e
particulares de acção, mas exige que as nossas acções boas tenham sempre
uma determinada forma. Tal exigência é absoluta e deve-se cumprir o que a lei
moral ordena por puro e simples respeito por ela. Isto quer dizer que a lei moral
é um imperativo categórico e não um imperativo hipotético.

O imperativo hipotético é uma ordem condicionada. A sua forma geral é esta: Se


queres (A) deves fazer (B). Em termos mais concretos: «Se não queres ter

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


problemas, não ofendas os teus vizinhos. O cumprimento do dever não é exigido
por si mesmo. É um meio para um fim. "Não ofender os vizinhos" é a ordem que
se deve cumprir para evitar problemas. Se é meu interesse evitar aborrecimentos
e quezílias com os meus vizinhos não devo ofendê-los.

Por outro lado, o imperativo categórico é uma ordem que não está submetida a
condições: ordena que se cumpra o dever tendo em conta simplesmente o dever
("Não deves ofender os teus vizinhos porque esse é o teu dever"). O
cumprimento do dever é exigido como fim em si mesmo (sem esperar nada em
troca).

BIOÉTICA: evolução histórica

Discutir sobre ética nos remete à Bioética, que


procede do grego bios, vida e ethos, ética, que significa
ética da vida. Mas, como ocorreu a gênese e o desenvolvimento da Bioética?

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


O termo Bioética foi descrito pela primeira vez em
um artigo de 1970 de Van Rensselaer Potter, The science
of survival e, no ano seguinte, num livro do mesmo autor
Bioethics: bridge to the future. Também em 1971, Andre
Hellegers utiliza esse termo para nomear o Institute for
Study of Human Reproduction and Bioethics, instituição
importante na gênese e desenvolvimento da Bioética.

Entretanto, determinar o nascimento da Bioética não é


fácil, vários são os fatos e documentos que tiveram impacto na sua gênese e
desenvolvimento.

Documentos da gênese da bioética

O Código de Nuremberg é um conjunto de princípios éticos que regem a


pesquisa com seres humanos, sendo considerado como uma das
consequências dos Processos de Guerra de Nuremberg, ocorridos no fim da
Segunda Guerra Mundial.

A medicina, durante muitos séculos, foi exercida com autoritarismo. O


Juramento de Hipócrates, datado do século V a.C., enfatiza o sigilo médico e a
beneficência, mas não menciona, em momento algum, a autonomia do paciente.
A experimentação feita com seres humanos, a despeito de ter contribuído para
melhorar a qualidade de vida do homem e a sua relação com o ambiente, foi
exercida, desde os primórdios, muitas vezes de forma abusiva.

No século XX, nos campos de concentração nazistas, os prisioneiros raciais,


políticos e militares foram colocados à disposição dos médicos para todo e
qualquer tipo de experimentação. Mediante o advento da comunicação e o
alcance das informações, que mostram ao mundo o conflito entre o interesse
científico e o interesse da sociedade em sua totalidade, e a ética torna-se
norteadora da evolução social, o choque das imagens da Segunda Guerra
produziu efeito ímpar sobre a comunidade científica e a população.

Em 9 de dezembro de 1946, fim da Segunda Guerra Mundial, o Tribunal Militar


Internacional, em Nuremberg julgou vinte e três pessoas - vinte das quais,
médicos - que foram consideradas criminosas de guerra, pelos brutais
experimentos realizados em seres humanos nos campos de concentração
nazistas. Foi o 1º dos 12 Processos de Guerra de Nuremberg, sendo esse o
Processo contra os médicos, tais como Rudolph Brandt, Waldemar Hoven, e
muitos outros.

A Declaração de Genebra foi aprovada pela Assembleia Geral da Associação


Médica Mundial em Genebra, 1948, sofrendo alterações em 1968, 1984, 1994,
2005 e 2006. A declaração foi concebida como uma revisão modernizadora dos
preceitos morais do Juramento de Hipócrates e tem sido utilizada em vários
países na solenidade de recepção aos novos médicos inscritos na respectiva
Ordem ou Conselho de Medicina [1] .

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


A Declaração de Helsinque é um conjunto de princípios éticos que regem a
pesquisa com seres humanos, e foi redigida pela Associação Médica Mundial[1]
em 1964. Posteriormente, foi revisada 7 vezes, sendo sua última revisão em
outubro de 2013, durante a Assembleia Geral da WMA em Fortaleza (Brasil), e
teve dois esclarecimentos. A Declaração é um importante documento na história
da ética em pesquisa, e surge como o primeiro esforço significativo da
comunidade médica para regulamentar a investigação em si. É considerada
como sendo o 1º padrão internacional de pesquisa biomédica e constitui a base
da maioria dos documentos subsequentes.

Antes do Código de Nuremberg, em 1947, não havia um código de conduta que


regesse os aspectos éticos das pesquisas com seres humanos, embora alguns
países, tais como Alemanha e Rússia, tivessem políticas nacionais.[2]

Reconhecendo algumas falhas no Código de Nuremberg, realizado no fim da


Segunda Guerra Mundial, por ocasião dos Julgamentos em Nuremberg, a
Associação Médica Mundial elaborou a Declaração de Helsinque, em junho de
1964, durante a 18ª Assembleia Médica Mundial, em Helsinque, na Finlândia. A
partir de então, esse documento se tornou referência na maioria das diretrizes
nacionais e internacionais, defendendo em 1º lugar a afirmação de que "o bem
estar do ser humano deve ter prioridade sobre os interesses da ciência e da
sociedade", e dando importância especial ao consentimento livre e firmado em
pesquisas médicas que envolvam seres humanos.

A Declaração desenvolveu os dez primeiros princípios defendidos no Código de


Nuremberg, e aliou-os à Declaração de Genebra (1948), uma declaração de
deveres éticos do médico. Dirigida mais à investigação clínica, solicitou
mudanças na prática médica a partir do conceito de "Experimentação Humana"
utilizada no Código de Nuremberg, sendo uma delas a flexibilização das
condições de autorização, que era "absolutamente essencial" em Nuremberg.
Os médicos foram convidados à obtenção do consentimento "se possível" e a
possibilidade de investigação foi autorizada sem o consentimento, o qual
poderia ser conseguido através de um guardião legal.

O caso Tuskegee tem sido objeto de divulgação e reflexão nestes últimos anos.
Analisar um projeto de pesquisa feito no passado (1932) merece alguns
cuidados. O primeiro e mais o importante deles é o de manter a adequação
dentro dos parâmetros então utilizados e não cair na tentação de utilizar
reflexões posteriores como base para o julgamento. É fundamental utilizar os
critérios contemporâneos para criticar e prevenir outras situações semelhantes.

De 1932 a 1972 o Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos da América


realizou uma pesquisa, cujo projeto escrito nunca foi localizado, que envolveu
600 homens negros, sendo 399 com sífilis e 201 sem a doença, da cidade de
Macon, no estado do Alabama. O objetivo do Estudo Tuskegee, nome do centro
de saúde onde foi realizado, era observar a evolução da doença, livre de
tratamento. Vale relembrar que em 1929, já havia sido publicado um estudo,
realizado na Noruega, a partir de dados históricos, relatando mais de 2000
casos de sífilis não tratado.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Não foi dito aos participantes do estudo de Tuskegee que eles tinham sífilis,
nem dos efeitos desta patologia. O diagnóstico dado era de “sangue ruim”. Esta
denominação era a mesma utilizada pelos Eugenistas norte-americanos, no
final da década de 1920, para justificar a esterilização de pessoas portadoras
de deficiências.

A contrapartida pela participação no projeto era o acompanhamento médico,


uma refeição quente no dia dos exames e o pagamento das despesas com o
funeral. Durante o projeto foram dados, também, alguns prêmios em dinheiro
pela participação. A inadequação inicial do estudo não foi a de não tratar, pois
não havia uma terapêutica comprovada para sífilis naquela época. A
inadequação foi omitir o diagnóstico conhecido e o prognóstico esperado.

A partir da década de 50 já havia terapêutica estabelecida para o tratamento de


sífilis, mesmo assim, todos os indivíduos incluídos no estudo foram mantidos
sem tratamento. Todas as instituições de saúde dos EEUU receberam uma lista
com o nome dos participantes com o objetivo de evitar que qualquer um deles,
mesmo em outra localidade recebesse tratamento. A inadequação do estudo foi
seguindo o padrão conhecido como "slippery slope", isto é, uma inadequação
leva a outra e o problema vai se agravando de forma crescente. Da omissão do
diagnóstico se evoluiu para o não tratamento, e deste para o impedimento de
qualquer possibilidade de ajuda aos participantes.

Para Van Rensselaer Potter a finalidade da bioética é auxiliar a humanidade no


sentido de participação racional, porém cautelosa no processo da evolução
biológica e cultural. Bioética é a combinação de conhecimentos biológicos e
valores humanos.

O vocábulo "bioética" indica um conjunto de pesquisas e práticas


pluridisciplinares, objetivando elucidar e refletir acerca das soluções para
questões éticas provocadas principalmente pelo avanço das tecnociências
biomédicas. O interesse pela análise deste tema se acelerou ainda mais, quando
se decifrou o código genético humano, mostrando novos recursos de
manipulação científica da natureza. O homem se viu diante de problemas
imprevistos.

Assim, seu estudo vai além da área médica, abarcando psicologia, direito,
biologia, antropologia, sociologia, ecologia, teologia, filosofia etc, observando as
diversas culturas e valores. Esta pesquisa não tem fronteira, dificultando,
inclusive, uma definição uma vez que os problemas são considerados sob vários
prismas, na tentativa de harmonizar os melhores caminhos.

Qual a razão da emergência da bioética?

Ocorre que nos últimos anos a medicina, a biologia e a engenharia genética


alcançaram extraordinários avanços: multiplicaram-se os transplantes,
experiências bem sucedidas com animais se multiplicaram, inseminações
artificiais se tornaram corriqueiras, bem como nascimentos humanos fora do
corpo humano (fertilização in vitro). Igualmente pela crescente legislação,

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


adotada por vários, países, que permite o aborto e, em menor escala, a
eutanásia. Ela tem procurado orientar não só os cientistas dedicados a
experiências genéticas como também a opinião pública e os legisladores em
geral. Aos cientistas alerta-os para os limites da sua investigação, à opinião
pública para esclarecê-la e aos legisladores para que façam as leis seguindo
princípios éticos aceitáveis.

Diferentes momentos da Bioética

a) Bioética geral: ocupa-se das funções éticas, é o discurso sobre os valores e


os princípios originários da ética médica e sobre fontes documentais da bioética

b) Bioética especial: analisa os grandes problemas enfrentando-os sempre sob


o perfil geral, tanto no terreno médico quanto no biológico (engenharia genética,
aborto, eutanásia, experiência clínica etc...). São as grandes temáticas da
bioética.

c) Bioética clínica (o de decisão): trata da praxis médica e do caso clínico,


quais são os valores em jogo e quais os caminhos corretos de conduta.

Define-se Bioética como "o estudo sistemático das dimensões morais - incluindo
visão, decisão e normas morais - das ciências da vida e do cuidado com a saúde,
utilizando uma variedade de metodologias éticas num contexto multidisciplinar."
Trata, portanto, entre outros assuntos, do direito dos indivíduos à saúde, do
direito dos pacientes, do direito à assistência, das responsabilidades jurídicas
dos pacientes e dos profissionais da saúde, das responsabilidades sobre as
ameaças ã vida no planeta, do direito ambiental, dos direitos com respeito às
novas realidades tecnológicas da medicina e da biologia (incluindo as novas
tecnologias genéticas), etc.

São cinco, os princípios bioéticos:

1. Princípio da autonomia: requer do profissional respeito à vontade, o respeito


à crença, o respeito aos valores morais do sujeito, do paciente, reconhecendo o
domínio do paciente sobre sua própria vida e o respeito à sua intimidade. Este
princípio gera diversas discussões sobre os limites morais da eutanásia, suicídio
assistido, aborto, etc. Exige também definições com respeito à autonomia,
quando a capacidade decisional do sujeito (ou paciente) está comprometida. São
as pessoas ou grupos considerados vulneráveis. Isto ocorre em populações e
comunidades especiais, como menores de idade, indígenas, débeis mentais,
pacientes com dor, militares, etc. Com relação à ética em pesquisa, gera o
princípio do "termo de consentimento livre e esclarecido" a ser feito pelo
pesquisador e preenchido pelos sujeitos da pesquisa ou seus representantes
legais, quando os sujeitos estiverem com sua capacidade decisional
comprometida.

2. Princípio da beneficência: assegura o bem-estar das pessoas, evitando


danos e garante que sejam atendidos seus interesses. Trata-se de princípio
indissociável ao da autonomia.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


3. Princípio da não maleficência: assegura que sejam minorados ou evitados
danos físicos aos sujeitos da pesquisa ou pacientes. Riscos da pesquisa são as
possibilidades de danos de dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social,
cultural ou espiritual do ser humano, em qualquer fase de uma pesquisa e dela
decorrente. Dano associado ou decorrente da pesquisa é o agravo imediato ou
tardio, ao indivíduo ou à coletividade, com nexo causal comprovado, direto ou
indireto, decorrente do estudo científico.

4. Princípio da justiça: exige eqüidade na distribuição de bens e benefícios em


qualquer setor da ciência, como por exemplo: medicina, ciências da saúde,
ciências da vida, do meio ambiente, etc.

5. Princípio da proporcionalidade: procura o equilíbrio entre os riscos e


benefícios, visando ao menor mal e ao maior benefício às pessoas. Este princípio
está intimamente relacionado com os riscos da pesquisa, os danos e o princípio
da justiça

A Bioética é uma ética aplicada, chamada também de “ética prática”1[1], que


visa “dar conta” dos conflitos e controvérsias morais implicados pelas práticas no
âmbito das Ciências da Vida e da Saúde do ponto de vista de algum sistema de
valores (chamado também de “ética”).

Como tal, ela se distingue da mera ética teórica, mais preocupada com a forma
e a “cogência” (cogency) dos conceitos e dos argumentos éticos, pois, embora
não possa abrir mão das questões propriamente formais (tradicionalmente
estudadas pela metaética), está instada a resolver os conflitos éticos concretos.
Tais conflitos surgem das interações humanas em sociedades a princípio
seculares, isto é, que devem encontrar as soluções a seus conflitos de interesses
e de valores sem poder recorrer, consensualmente, a princípios de autoridade
transcendentes (ou externos à dinâmica do próprio imaginário social), mas tão
somente “imanentes” pela negociação entre agentes morais que devem, por
princípio, ser considerados cognitiva e eticamente competentes. Por isso, pode-
se dizer que a bioética tem uma tríplice função, reconhecida acadêmica e
socialmente: (1) descritiva, consistente em descrever e analisar os conflitos em
pauta; (2) normativa com relação a tais conflitos, no duplo sentido de proscrever
os comportamentos que podem ser considerados reprováveis e de prescrever
aqueles considerados corretos; e (3) protetora, no sentido, bastante intuitivo, de
amparar, na medida do possível, todos os envolvidos em alguma disputa de
interesses e valores, priorizando, quando isso for necessário, os mais “fracos”
(Schramm, F.R. 2002. Bioética para quê? Revista Camiliana da Saúde, ano 1,
vol. 1, n. 2 –jul/dez de 2002 – ISSN 1677-9029, pp. 14-21). Mas a Bioética, como
forma talvez especial da ética, é, antes, um ramo da Filosofia, podendo ser
definida de diversos modos, de acordo com as tradições, os autores, os
contextos e, talvez, os próprios objetos em exame. Algumas definições:

"Eu proponho o termo Bioética como forma de enfatizar os dois componentes


mais importantes para se atingir uma nova sabedoria, que é tão

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


desesperadamente necessária: conhecimento biológico e valores humanos.”
(Van Rensselaer Potter, Bioethics. Bridge to the future. 1971)

“Bioética é o estudo sistemático das dimensões morais - incluindo visão moral,


decisões, conduta e políticas - das ciências da vida e atenção à saúde, utilizando
uma variedade de metodologias éticas em um cenário interdisciplinar”.(Reich
WT. Encyclopedia of Bioethics. 2nd ed. New York; MacMillan, 1995: XXI).

“A bioética, da maneira como ela se apresenta hoje, não é nem um saber


(mesmo que inclua aspectos cognitivos), nem uma forma particular de expertise
(mesmo que inclua experiência e intervenção), nem uma deontologia (mesmo
incluindo aspectos normativos). Trata-se de uma prática racional muito
específica que põe em movimento, ao mesmo tempo, um saber, uma experiência
e uma competência normativa, em um contexto particular do agir que é definido
pelo prefixo ‘bio’. Poderíamos caracteriza-la melhor dizendo que é uma instância
de juízo, mas precisando que se trata de um juízo prático, que atua em
circunstâncias concretas e ao qual se atribui uma finalidade prática a través de
várias formas de institucionalização. Assim, a bioética constitui uma prática de
segunda ordem, que opera sobre práticas de primera ordem, em contato direto
com as determinações concretas da ação no âmbito das bases biológicas da
existência humana.” (Ladrière, J. 2000. Del sentido de la bioética. Acta Bioethica
VI(2): 199-218, p. 201-202).

“A palavra ‘bioética’ designa um conjunto de pesquisas, de discursos e práticas,


via de regra pluridisciplinares, que têm por objeto esclarecer e resolver questões
éticas suscitadas pelos avanços e a aplicação das tecnociências biomédicas.
(...) A rigor, a bioética não é nem uma disciplina, nem uma ciência, nem uma
nova ética, pois sua prática e seu discurso se situam na interseção entre várias
tecnociências (em particular, a medicina e a biologia, com suas múltiplas
especializações); ciências humanas (sociologia, psicologia, politologia,
psicanálise...) e disciplinas que não são propriamente ciências: a ética, para
começar; o direito e, de maneira geral, a filosofia e a teologia. (...) A
complexidade da bioética é, de fato, tríplice. Em primeiro lugar, está na
encruzilhada entre um grande número de disciplinas. Em segundo lugar, o
espaço de encontro, mais o menos conflitivo, de ideologias, morais, religiões,
filosofias. Por fim, ela é um lugar de importantes embates (enjeux) para uma
multidão de grupos de interesses e de poderes constitutivos da sociedade civil:
associação de pacientes; corpo médico; defensores dos animais; associações
paramédicas; grupos ecologistas; agro-business; industrias farmacêuticas e de
tecnologias médicas; bioindustria em geral” (Hottois, G 2001. Bioéthique. G.
Hottois & J-N. Missa. Nouvelle encyclopédie de bioéthique. Bruxelles: De Boeck,
p. 124-126).

“A bioética é o conjunto de conceitos, argumentos e normas que valorizam e


justificam eticamente os atos humanos que podem ter efeitos irreversíveis sobre
os fenômenos vitais” (Kottow, M., H., 1995. Introducción a la Bioética. Chile:
Editorial Universitaria, 1995: p. 53)

Biodireito:Ramo do Direito Público que se associa à bioética, estudando as


relações jurídicas entre o direito e os avanços tecnológicos conectados à

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


medicina e à biotecnologia, com peculiaridades relacionadas ao corpo e à
dignidade da pessoa humana.

O biodireito se associa a cinco matérias:

• Bioética
• Direito Civil
• Direito Penal
• Direito Ambiental
• Direito Constitucional,

Bioética: Bioética é o estudo interdisciplinar entre biologia, medicina e ética


(especificamente a ética normativa e da moral humana), que investiga todas as
condições necessárias para uma administração responsável do profissional de
saúde em relação à vida humana em geral e da dignidade da pessoa humana
em particular. Esta ciência relacionada ao biodireito, portanto, estuda a
responsabilidade moral de cientistas e bacharéis em medicina na pesquisa
médica e de biotecnologias e suas aplicações sem causar dano a ninguém que
se submete a qualquer risco terapêutico. Este ramo da biomedicina trata de
todas as questões delicadas do biodireito e é dividido em dois grupos de estudo:

Microbioética: É o ramo da bioética que tem por objetivo o estudo das relações
entre médicos e pacientes e entre as instituições e os profissionais de saúde. A
microbioética trabalha, especificamente, com as questões emergentes, que
nascem dos conflitos entre a evolução da pesquisa científica e os limites da
dignidade da pessoa humana.

Macrobioética: É o ramo da bioética que tem por objetivo o estudo das questões
ecológicas em busca da preservação da vida humana. A macrobioética trabalha,
especificamente, com as questões persistentes. As QUESTÕES
PERSISTENTES são aquelas que reiteradamente se manifestam no grupo
social e por isso se encontram regulamentadas, por exemplo, a preservação
florestal ou de um patrimônio cultural. Também denominada de Macrobiodireito,
o mesmo pode abranger questões de cunho ambiental e internacional ambiental,
pela amplitude de sua incidência.

Ética e ciência
Ciência- conjunto de saberes, conhecimentos sistematizados, rigorosos e
racional com um objecto de estudo deternimado.

Ética- conjunto de valores e princípios que orientam o comportamento do


homem em sociedade.

Tecnologia- conjunto de instrumentos métodos e técnicas para a resolução de


um problema.

A relação entre a ciência e a ética é um dos grandes colocados a nós na 2ª


metade do séc, XX.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


As ambiguidades do processo cientifico-tecnólogico passou do plano teórico
para o real, ou seja, começamos a perceber a deteriorização do meio físico,
social e da integridade humana.

As conquistas tecnologicas no campo da comunicação, transporte, alimentação,


moradia, saúde, lazer vivem ao lado do desiquilibro ecológico, da miséria, da
fome, desemprego, violência que destroi a dignidade da pessoa humana.

Tudo o que se cria nas áreas cientifícas e de conhecimento é para superar as


necessidades e muitas vezes a ambição dos homens e corre-se o risco de
acreditarmos que a superação do impasse se dará por um “código de ética.”

A ciência tem como objectivo transformar a natureza, mininizar incertezas,


dúvidas, preconceitos e procurar soluções para as diversas inquietações e dar
respostas a inumeras questões.

Fazer a ciência especialmente nos dias de hoje é estar carregado de implicações


com a ética.

O melhor seria um entendimento entre os cientistas e a população em geral em


que discutissem o assunto e participassem das avaliações e tomadas de
decições tendo em conta que todos estão implicitos nisso.

E as pessoas que participam das decisões estão mais interessadas em


desenvolver e aplicação do conhecimento cientifico gerado do que em questões
éticos/morais.

Bioética e Biodireito: Respeitando o direito à vida e à dignidade


da pessoa humana

Todo ser humano, recém-iniciado ou adulto, são ou enfermo, com funções


biológicas ou insuficientes, deve ser respeitado em sua vida e dignidade.
Arnaldo Rizzardo

Com a realidade da biotecnologia e da biomedicina, as pesquisas avançadas


sobre o ser humano e a aplicação dessas descobertas no homem fizeram surgir
conflitos jurídicos não imaginados pelo legislador, reclamando o nascimento de
normas jurídicas para solucionar tais situações, com a finalidade precípua de
proteger a vida, sem desacelerar o progresso da ciência.

A exemplo da aplicação desses avanços no homem, podemos citar a


reprodução humana medicamente assistida, que tem por objetivo auxiliar
pessoas com dificuldades de reprodução; a clonagem terapêutica, que emprega
a criação e a utilização de embriões especificamente para pesquisa, cujo escopo

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


é desvendar a cura de doenças e, futuramente, gerar órgãos para reposição; o
transexualismo, que visa adequar o sexo físico ao psíquico, a fim de amenizar
o sofrimento psicológico e a dignidade do transexual.

Ainda nessa mesma linha de raciocínio, assuntos como sexualidade, biologia


do sexo, objeção de consciência, contracepção e aborto eugênico, bancos de
sêmen e óvulos, homossexualidade, transplante de órgãos, eutanásia,
distanásia e ortotanásia, maternidade de substituição, obesidade, dentre outros,
são temas que, apesar de não regulamentados legalmente, com o
desenvolvimento biotecnológico e biomédico, visando melhorar a qualidade de
vida dos indivíduos, vêm sendo aplicados no ser humano.

Primeiramente, vale destacar que os experimentos biotecnológicos e


biomédicos no ser humano devem observar como linhas mestras os princípios
bioéticos.

De acordo com a Encyclopedia of Bioethics, a Bioética é um “estudo sistemático


da conduta humana no campo das ciências biológicas e da atenção de saúde,
na medida em que esta conduta seja examinada à luz de valores e princípios
morais”.

Declara Eduardo de Oliveira Leite: “o desenvolvimento de novas tecnologias a


serviço da vida ou da saúde colocou em xeque as referências e medidas
habituais e os fundamentos da moral e da deontologia que figuravam nos
códigos jurídicos que regulavam a conduta humana”.

Assim, mesmo a bioética traçando limites éticos e morais para a biomedicina e


a biotecnologia, não é o suficiente para dissipar dúvidas e exageros cometidos,
usando o ser humano como objeto de manipulação. Por isso, é necessária a
presença de um novo ramo do direito dentro do ordenamento jurídico, capaz de
regularizar tais assuntos. Esse novo ramo é denominado Biodireito.
O Biodireito, apesar de sua relevância no que tange à proteção do ser humano
frente à biotecnologia, não é consagrado como ciência jurídica. Podemos
analisá-lo sobre o prisma dos direitos de 4ª geração, que se referem ao
progresso técnico-científico do homem sobre o próprio homem.

Tem-se, então, a Bioética como a disciplina que examina e discute os aspectos


éticos relacionados com o desenvolvimento e as aplicações da biologia e da
medicina, indicando os caminhos e o modo de se respeitar o valor da pessoa
humana, como unidade e como um todo. O biodireito como um processo de
concretização normativa dos valores e princípios fixados pela ética, tomando
como paradigma o valor da pessoa humana. É um novo ramo do direito da vida
humana, necessário porque a legislação do passado é insuficiente.

Conclui Emerson Ike Coan que, frente a esses avanços “se deve considerar o
homem não um simples produto da natureza, ou seja, só um ser biológico, mas
um ser social capaz de atuar conscientemente sobre aquela, modificando-a,
pela sua liberdade racional e responsável, o que implica sempre limites éticos.
Isto embasa o princípio da dignidade humana.”

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


O Direito e a Bioética devem estar lado a lado, cada um cumprindo o seu papel,
a Bioética no campo da obrigação moral e o direito elaborando leis legítimas
que regulem as atitudes humanas visando à proteção da VIDA. Assim, o
Biodireito torna-se um dos pilares da Bioética.

Censurável seria esquecer-se do surgimento de um novo ramo do Direito, vale


dizer, o Biodireito, o qual embasar-se-ia em princípios constitucionais, gerais e
específicos, valendo-se ao mesmo tempo do direito consuetudinário, de normas
e regulamentos éticos nacionais e internacionais, tendo como padrão o valor da
pessoa humana.

A vida e a dignidade são os bens mais valiosos do ser humano. Admitir que
esses bens sejam menosprezados frente aos experimentos científicos,
possivelmente acarretaria riscos de aberrações genéticas, seleção racial, dentre
outras conseqüências prejudiciais à humanidade.

Urge, portanto, que o Estado conscientizese da imprescindibilidade do tão


famigerado eespeculado Biodireito.

Ao prescrever, o médico considera, com base em conhecimento e


responsabilidade, a segurança e eficácia do produto. A ANVISA definiu o "erro
de medicação" e "reação adversa"1.O primeiro é o evento evitável que, de fato
ou potencialmente, pode levar ao uso inadequado de medicamento, que, por
sua vez, poderia lesar ou não o paciente. Pode estar relacionado à prática
profissional, ao produto usado, procedimento, má comunicação na prescrição,
rótulos, embalagens, preparação, dispensação, distribuição, monitoramento,
etc. "Reação adversa" é qualquer efeito prejudicial ou indesejado após a
administração do medicamento, em doses normalmente utilizadas para
profilaxia, diagnóstico ou tratamento. Expressa o risco inerente do
medicamento, quando usado corretamente. A possibilidade da prevenção é uma
das diferenças entre reações adversas e erros de medicação: a primeira é
considerada inevitável e o erro de medicação é passível de prevenção. Menos
definidas são as ocorrências a partir do momento em que o paciente chega à
farmácia. Minoria entre as mais de 50 mil farmácias brasileiras possui
farmacêutico, único autorizado por lei a orientar o uso da medicação ou efetuar
troca de medicamento por genérico. Esse diálogo entre balconista e paciente
pode ser um problema para este último e para o sistema de saúde porque girará
em torno de preço, sem consideração à fabricação e ao ato da prescrição
médica. Se essa troca resultar em menor eficácia, ineficácia ou reação adversa
inesperada, a quem responsabilizar? Não se discute aqui o genérico,
intercambiável com o produto-referência. O médico muitas vezes prescreve
apenas o princípio ativo, com a consciência de que a troca pode acontecer, caso
não oriente de forma contrária, na receita. Todavia, entre marcas e genéricos,
há os "bonificados". Estes são comercializados por empresas, muitas vezes,
sem compromisso ético, que se beneficiam das deficiências da fiscalização e
operam com estratégias comerciais e fiscais questionáveis, oferecendo a
balconistas de algumas lojas bonificações variáveis em espécie e valor em troca
de vendas. Garantir a qualidade desses produtos - origem da matéria-prima,
local de fabricação e adesão às boas práticas laboratoriais - nem sempre é
rotina para alguns desses laboratórios, assim como também nem sempre o é

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


farmacovigilância. A questão que fica para os médicos é: o que fazer se um
paciente retorna queixando-se de falha terapêutica do medicamento prescrito e
substituído pela farmácia? Sendo o responsável pela receita, o seria também
pela troca? Muitos profissionais optam por explicitar na receita que "os
medicamentos prescritos não devem ser trocados na farmácia". Assim, o
médico pode assumir total responsabilidade pela sua prescrição, não a
compartilhando com terceiros desprovidos do devido preparo e movidos por
interesses comerciais.

Tutela da vida humana

Civil: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, mas a


lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro. A discussão toda
acontece por não se chegar a um consenso sobre qual é momento da
concepção. Na Tutela Civil estão previstos o nascituro, a existência e os efeitos
"post mortem".

Penal: Não há crime sem lei anterior que o defina; não há penalização sem
prévia cominação legal. Nesta tutela estão previstos o homicídio, o suicídio,
infanticídio, fratricídio, lesão corporal e aborto.

Duas respostas aos temas da bioética: Os liberais e os


conservadores

As questões políticas referentes à bioética foram respondidas de forma diversas


pelas duas grandes linhas do pensamento contemporâneo: liberais e
conservadores. Para que se possa, de uma forma geral, verificar onde se
encontram as diferenças entre os dois grandes grupos doutrinários do cenário
político da modernidade, torna-se necessário situar as políticas advogadas, por
ambas as correntes do pensamento social, no quadro de três perguntas básicas,
cujas respostas servem para diferenciar os pensadores liberais dos pensadores
conservadores (Fagot-Largeault, 1996: 33 e segs.). Essas perguntas
representam o cerne da indagação bioética contemporânea e em função delas
encontramos, grosso modo, respostas que têm a ver com a concepção do
homem e da sociedade, como foram formuladas pelo pensamento social.

As perguntas que constituem o cerne da temática política da bioética são as


seguintes:

a) o que é necessário evitar?

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


b) o que é necessário promover e apoiar?

c) qual o estatuto do corpo humano?

As respostas às três questões acima referidas traçaram o quadro teórico dentro


do qual desenvolveu-se o debate sobre a bioética nos tempos atuais, quadro
este que deverá informar ou complementar o trabalho do legislador e do
julgador. À primeira pergunta, os conservadores responderam com a afirmação
de que não se encontra em discussão a liberdade dos indivíduos, mas sim os
problemas individuais e sociais, provocados pelas novas tecnologias, ainda não
devidamente controladas e conhecidas em suas consequências pelo homem.
Sustentam os conservadores que, no caso de dúvida, deve-se paralisar as
experiências e transferir para especialistas bem intencionados a decisão e o
controle final do processo científico e tecnológico.

Os liberais, por sua vez, respondem colocando em situação privilegiada o


indivíduo, acima de considerações de caráter público ou social. Considerado
como agente moral, cuja a liberdade constitui a sua dimensão principal, o
indivíduo é o senhor absoluto dos seus destinos, não devendo sujeitar-se às
imposições dos detentores do conhecimento ou do poder público; trata-se,
portanto, para os liberais, de evitar qualquer restrição ao exercício pleno da
liberdade individual. Em torno da ideia de pessoa e de liberdade, a boa doutrina
liberal (Engelhardt, ob.cit) sustenta que, por tratar-se da pessoa humana, e em
função dela, é que se deverão aplicar os princípios da bioética; e da pessoa
humana que vive numa sociedade democrática e pluralista, significando, assim,
que os princípios da bioética supõem a existência de uma sociedade liberal.
Essa objetivação dos princípios da bioética, para Engelhardt, sòmente pode
ocorrer na sociedade plural, estruturada através de uma ordem política liberal,
sendo essa a razão pela qual, em seu pensamento, o princípio da autonomia
torna-se hegemônico em relação aos dois outros princípios da bioética. A
solução política liberal deixa, então, para o indivíduo, através de seus
representantes políticos, a tarefa de avaliar o progresso da ciência e da
tecnologia, cujo ritmo e objetivos deverão estar sujeitos ao contrôle da
sociedade civil.

A segunda questão de caráter geral que se coloca para a bioética - o que se


deve fazer -, também, é respondida de forma diversa pelas duas correntes de
pensamento. O pensamento liberal sustenta que se deve promover a tolerância
e assegurar a resolução pacífica dos conflitos. Os conservadores consideram,
por outro lado, que se torna necessário aprofundar os debates sobre as
descobertas e tecnologias da genética, antes que a ciência humana aventure-
se por campos do conhecimento ainda pouco conhecidos; esses debates devem
obedecer a uma estratégia política de dissuasão, através do medo, a chamada
"heurística do medo" (Hottois, 1993:23). Assim, na concepção conservadora
seria exorcizada a compulsão tecnicista da contemporaneidade, que, ao ver de
importantes críticos da modernidade, transformou o homem de sujeito em objeto
da técnica.
Tanto liberais, como conservadores, entendem o estatuto do corpo do indivíduo
de forma diferente, sendo que esse entendimento resulta de uma concepção,
também diversa, da natureza ontológica do ser humano. Para os

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


conservadores, o homem estrutura-se em função de uma unidade orgânica, na
qual a liberdade constitui a espinha dorsal, essencial para o equilíbrio e
aperfeiçoamento da pessoa humana. Por essa razão, a natureza biológica do
ser humano é facilmente atingida pelas temidas agressões tecnológicas, cujas
consequências acabam atentando contra a própria natureza humana.
Sustentam os conservadores ser necessário suspender essas experiências, que
resultam em violações desse espaço primitivo de liberdade natural, para que se
possa recuperar a unidade natural do indivíduo. Os liberais respondem à
questão sobre o estatuto do ser humano relacionando-o com uma das formas
naturais que garantem o exercício da liberdade; na verdade, os liberais, pelas
próprias caraterísticas do seu pensamento, não têm uma concepção unificada
do ser humano, a não ser a remissão à liberdade.

As diferentes respostas, dadas por liberais e conservadores, permitem


determinar qual o entendimento do homem e da sociedade, que se encontra
subjacente em cada uma das posições e quais as consequências para o mundo
da nova biologia. A posição conservadora parte da suposição de que as
aplicações dos novos conhecimentos, principalmente genéticos, devem ser
encarados com cautela. Não se encontrando no contexto das biotecnologias
parâmetros seguros, que possam servir de referência para pesquisas, ainda
embrionárias, deve-se procurar preservar a todo o custo a esfera da pessoa,
considerada como um todo orgânico. Propõem os conservadores, o
estabelecimento de uma moratória nessas pesquisas, impedindo-se, assim, que
a natureza humana seja desnaturada (Jonas, 1980:141 e segs.). Essa moratória
serviria, portanto, para resguardar a pessoa humana de tecnologias que
poderão ou não modificar a própria natureza humana, pois, sustentam os
conservadores, ninguém conhece com precisão os resultados e as
repercussões, principalmente, da engenharia genética. O temor de um
progresso científico e tecnológico, que se desenvolvia em ritmo acelerado, a
partir de 1950, fez mesmo com que o argumento contrário ao prosseguimento
das pesquisas fosse aceito pela comunidade científica, durante a reunião de
Asilomar, em 1974, quando cientistas concordaram em estabelecer uma
moratória nas pesquisas sobre a recombinação artificial com vistas à
transferência de material genético para uma célula receptora. Em 1975, ainda
em Asilomar, a moratória foi suspensa, retomando-se as pesquisas.
Constatamos, assim, como para o pensamento conservador o importante, tendo
em vista a imprevisibilidade do novo mundo que se vai abrindo para o
conhecimento humano, é evitar o risco tecnológico, ainda que custe novos
avanços na ciência.

A posição liberal sustenta não ser possível determinar uma definição do bom e
do mal de forma abstrata e com expressão universal. Em conseqüência, o
importante nas questões da bioética, como em todos os demais problemas
sociais, consistirá na preservação da liberdade de escolha e do debate público,
permitindo-se que cada indivíduo e comunidade estabeleçam seus próprios
padrões de contrôle (Charlesworth, 1993: 10 e segs.). Os liberais consideram
mesmo que esta não é uma questão essencial, pois cada sociedade, em
princípio, deve determinar os seus próprios parâmetros normativos, seja do
ponto de vista moral, seja sob o aspecto jurídico.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Nascituro: O titular da dignidade:

Um nascituro é um feto. No Direito é grande a controvérsia se tal feto pode ser


considerado um ser humano quanto à sua personalidade jurídica (pois ter "vida"
não é sinônimo de ter "vida humana") e sobre quais direitos tal feto possui, se é
que possui.

Nos termos do art. 2º do Código Civil de 2002, "A personalidade civil da pessoa
começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os
direitos do nascituro". Nos termos de nossa legislação surge um impasse, pois,
embora não tenha personalidade, que apenas começa com o nascimento com
vida, o nascituro pode titularizar direitos, como, por exemplo, a busca de
"alimentos gravídicos". Em razão das controvérsias acerca da natureza jurídica
do nascituro, três teorias forjaram-se, basicamente. A primeira, natalista, afirma
que o nascituro possui mera expectativa de direito, só fazendo jus à
personalidade após o nascimento com vida (art.2º, 1ª parte do CC/02); já a teoria
concepcionista assegura ao nascituro personalidade, desde a concepção,
possuindo, assim, direito à personalidade antes mesmo de nascer; a teoria da
"personalidade condicionada" forja, a seu turno, uma "personalidade virtual ao

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


nascituro", vez que ele possui personalidade, mas sob a condição de nascer com
vida.

Essas teorias foram defendidas por diferentes juristas brasileiros. Para José
Carlos Moreira Alves, em um posicionamento mais alinhado com a teoria
natalista, "não há, nunca houve, direito do nascituro, mas, simples, puramente,
expectativas de direito, que se lhe protegem, se lhe garantem, num efeito
preliminar, provisório, numa Vorwirkung, porque essa garantia, essa proteção é
inerente e é essencial à expectativa do direito". Assim, aduz, se "o nascituro não
é titular de direitos subjetivos, não será também, ainda que por ficção,
possuidor".

Já Ives Gandra da Silva Martins, em um posicionamento concepcionista,


alinhado com os seus preceitos religiosos, partindo do pressuposto que um
nascituro já é um ser humano postula que "o primeiro e mais importante de todos
os direitos fundamentais do ser humano é o direito à vida. É o primeiro dos
direitos naturais que o direito positivo pode simplesmente reconhecer, mas que
não tem a condição de criar. O homem nasce com certos direitos, que não vem
a receber por mera repetição de fatos históricos que os valorizam. O direito a
vida é o principal direito do ser humano. Cabe ao Estado preservá-lo, desde a
sua concepção, e preservá-lo tanto mais quanto mais insuficiente for o titular
deste direito. Nenhum egoísmo ou interesse estatal pode superá-lo. Sempre que
deixa de ser respeitado, a História tem demonstrado que a ordem jurídica, que o
avilta perde estabilidade futura e se deteriora rapidamente".[3]

Em que pese as diferenças apontadas pelas correntes, é sustentado que o


Código Civil brasileiro as adotou, a depender do momento. Assim é que, para
fins sucessórios, foi utilizada a 3ª terceira corrente. A busca de alimentos
gravídicos (lei 11.804/2008) se funda na segunda, sendo certo que a primeira
fundamenta a definição de personalidade no CC/02. A lei brasileira põe a salvo,
desde o momento da concepção, os direitos do nascituro.[4] O nascituro tem seus
direitos assegurados, mas ainda não os detém. Somente os terá quando nascer
com vida, ainda que esta seja breve, sendo essa a teoria da "personalidade
condicionada".

Alimentos: Os doutrinadores divergem quanto aos direitos a alimentos ao


nascituro na impossibilidade deste ser até mesmo considerado ser humano,
quanto mais titular ou capaz de direito.

O Código Civil, ao mesmo tempo em que concebe direitos ao nascituro, dispõe


que a personalidade começa do nascimento com vida, o que põe em questão a
relação entre personalidade (humana) e subjetividade jurídica. Para os
defensores dos direitos dos animais, por exemplo, um animal pode ser titular de
direitos subjetivos, mas não possui personalidade (humana). A diferenciação
entre ambos os institutos é questionada por Amaral, que desafia: "como se fosse
possível separar personalidade da subjetividade jurídica". Para Bevilácqua, in
Teoria geral do direito civil (RIO 1975), "a capacidade de direito confunde-se com
a própria personalidade".

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Já com relação à questão da capacidade jurídica, Carlos Maximiliano expressa
que "A mãe da criança pode acionar, porém, em nome do filho menor ou
nascituro, no papel de tutora, ou curadora, nata; pois não se cogita de reparação
à mulher, e sim de adquirir ou recobrar o filho o seu estado civil. Basta estar a
pessoa concebida para ser sujeito de direito; naquilo que ao embrião aproveita,
intervém a seu favor a Justiça, provocada a agir pelos representantes legais dos
incapazes: Infans conceptus pro jam nato habetur quoties de ejus commodis
agitur, "a criança concebida se tem como nascida já, toda vez que se trata do
seu interesse e proveito"."[5]

É premissa, portanto, que o nascituro é pessoa incapaz. E ele pode ser


representado judicialmente por quem detém o pátrio poder, quando não tiver
interesses conflitantes e for capaz ou, caso contrário, por curador nomeado ou
pelo Ministério Público, até quando for suficiente para o exercício pleno.

Esta ressalva exprime que o ser humano, desde o momento em que é concebido,
considera-se como já tendo nascido para tudo quanto diga a conservação de sua
expectativas de direito. É a consagração do velho preceito do direito romano -
"nasciturus pro jam nato habetur si de ejus commodo agitur” (o nascituro
considera-se como nascido, quando se trata de seus interesses)."[6]

Nasciturus pro iam nato habetur quando de eius commodo agitur ("no interesse
do nascituro, é ele considerado já nascido"). Sempre que se trata de aplicação
do princípio, há pretensão do nascituro à sentença (resolução judicial), qualquer
que seja (declarativa, condenatória, constitutiva, mandamental, executiva), e à
execução. A cada pretensão corresponde ação, como aconteceria se o titular da
pretensão fosse pessoa já nascida.[7]

Continuando, Pontes de Miranda reforça a necessidade que justificam os


alimentos:

"Durante a gestação, pode ser preciso à vida do feto e à vida do ente humano,
após o nascimento, outra alimentação ou medicação. Tais cuidados não
interessam à mãe; interessam ao concebido. Por outro lado, há despesas para
roupas e outras despesas que têm que ser feitas antes do nascimento, delas
exigir a pessoa logo ao nascer. O “quantum” de alimentos é limitado, e o que
escreveu Oliveira Cruz "o maior desses direitos é, sem dúvida o de ser
alimentado e tratado para poder viver; assim pode a mãe pedir alimentos para o
nascituro, hipótese em que, na fixação, o juiz levará em conta as despesas que
se fizerem necessárias para o bom desenvolvimento da gravidez, até o seu
termo final, e incluindo despesas médicas e medicamentos".

Reafirmando-se, "os alimentos provisionais podem ser pedidos ... inclusive a


nascituro", no entendimento de Moura Bitencourt, em seu livro Alimentos, página
115 (EUD,1979).

Guima Tamã (in: Tudo sobre alimento, Síntese), didaticamente discrimina todas
as possíveis situações em que são devido os alimentos, destacando-se: "1.11.
A descendente grávida de qualquer um: Estando grávida a filha, neta ou bisneta,
etc, sem rendimentos para se manter, pode acionar os pais, avós ou bisavós,

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


que os tenham para alimentá-la, mesmo sendo ela maior e filho não legitimo.
Essa obrigação do ascendentes decorre da necessidade de ser alimentado o
nascituro".

Uma vez concebido, ou seja, a partir do ovo, a responsabilidade dos alimentos


esta presente. Ao nascituro são devidos alimentos em sentido lato – alimentos
civis – para que possa nutrir-se e desenvolver-se com normalidade, objetivando
o nascimento com vida. Deve-se incluir nos alimentos, a adequada assistência
médico cirúrgica e as despesas do parto.

Aborto: noção geral

O aborto é a interrupção de uma gravidez.

É a expulsão de um embrião ou de um feto antes do final do seu desenvolvimento


e viabilidade em condições extra-uterinas.
O aborto pode ser espontâneo ou induzido. São várias as causas e os motivos
que podem levar a que uma gravidez seja interrompida, quer espontaneamente,
quer por indução.
O aborto pode ser induzido medicamente com o recurso a um agente
farmacológico, ou realizado por técnicas cirúrgicas, como a aspiração, dilatação
e curetagem.

Quando realizado precocemente por médicos experientes e com as condições


necessárias, o aborto induzido apresenta elevados índices de segurança.

Aborto

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Um aborto, ou interrupção da gravidez é a remoção ou expulsão prematura de
um embrião ou feto do útero, resultando na sua morte ou sendo por esta
causada. Isto pode ocorrer de forma espontânea ou induzida, provocando-se o
fim da gestação, e consequente fim da atividade biológica do embrião ou feto,
mediante uso de medicamentos ou realização de cirurgias.

O aborto induzido, quando realizado por profissionais capacitados e em boas


condições de higiene é um procedimento seguro para a mãe. Entretanto, o
aborto feito por pessoas não qualificadas ou fora de um ambiente hospitalar,
resulta em aproximadamente 70 mil mortes maternas e cinco milhões de lesões
maternas por ano no mundo Estima-se que sejam realizados no mundo 44
milhões de abortos anualmente, sendo pouco menos da metade destes
procedimentos realizados de forma insegura.

A incidência do aborto se estabilizou nos últimos anos, após ter tido uma queda
nas últimas décadas devido ao maior acesso a planejamento familiar e a
métodos contraceptivos. 40% das mulheres do mundo têm acesso a aborto
induzido em seus países (dentro dos limites gestacionais).

Historicamente, o aborto induzido vem sendo realizado através de diferentes


métodos e seus aspectos morais, éticos, legais e religiosos ainda são objeto de
intenso debate em diversas partes do mundo. No Brasil os grupos religiosos,
liderados pela Igreja Católica mas com a participação ativa de evangélicos e
espíritas, são os principais atores sociais contrários ao aborto. Eles atuam no
Congresso Nacional e em outras instâncias para que a proibição do aborto seja
mantida.

Tipos de Aborto:

▪ Aborto Espontâneo
▪ Aborto Induzido
▪ Aborto Ilegal

Aborto Espontâneo surge quando a gravidez é interrompida sem que seja por
vontade da mulher. Pode acontecer por vários factores biológicos, psicológicos
e sociais que contribuem para que esta situação se verifique.

Aborto Induzido é um procedimento usado para interromper uma gravidez.


Pode acontecer quando existem malformações congénitas, quando a gravidez
resulta de um crime contra a liberdade e autodeterminação sexual, quando a
gravidez coloca em perigo a vida e a saúde física e/ou psíquica da mulher ou
simplesmente por opção da mulher.
É legal quando a interrupção da gravidez é realizada de acordo com a
legislação em vigor. Quando feito precocemente por médicos experientes e em
condições adequadas apresenta um elevadíssimo nível de segurança.

Aborto Ilegal é a interrupção duma gravidez quando os motivos apresentados


não se encontram enquadrados na legislação em vigor ou quando é feito em
locais que não estão oficialmente reconhecidos para o efeito.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


O aborto ilegal e inseguro constitui uma importante causa de mortalidade e de
morbilidade maternas. O aborto clandestino é um problema de saúde pública.

Complicacões do aborto. :Embora o aborto, realizado adequadamente, não


implique risco para a saúde até às 10 semanas, o perigo aumenta
progressivamente para além desse tempo. Quanto mais cedo for realizado,
menores são os riscos existentes.
Entre as complicações do aborto destacam-se as hemorragias, as infecções e
evacuações incompletas, e, no caso de aborto cirúrgico, as lacerações
cervicais e perfurações uterinas. Estas complicações, muito raras no aborto
precoce, surgem com maior frequência no aborto mais tardio.
Se nos dias seguintes à intervenção a mulher tiver febre, com temperatura
superior a 38ºC, perdas importantes de sangue, fortes dores abdominais ou
mal-estar geral acentuado,deve contactar rapidamente o estabelecimento de
saúde onde decorreu a intervenção.

Todos os estabelecimentos que prestam este serviço têm de estar equipados


de forma a reconhecer as complicações do aborto, com pessoal treinado quer
para lidar com elas, quer para referenciar adequadamente as mulheres para
cuidados imediatos.

Não há evidência de que um aborto sem complicações tenha implicações na


fertilidade da mulher, provoque resultados adversos em gravidezes
subsequentes ou afecte a sua saúde mental.

Outras classificações do aborto

Quanto ao tempo de duração da gestação:

• Aborto subclínico: abortamento que acontece antes de quatro semanas


de gestação
• Aborto precoce: entre quatro e doze semanas
• Aborto tardio: após doze semanas

Riscos de um aborto: Os riscos para a saúde envolvidos no aborto induzido


dependem de o procedimento ser realizado com ou sem segurança.

A Organização Mundial de Saúde define como abortos não-seguros aqueles


realizados por indivíduos sem formação, equipamentos perigosos ou em
instituições sem higiene.[10] Os abortos legais realizados nos países
desenvolvidos estão entre os procedimentos mais seguros na medicina. Nos
Estados Unidos, a taxa de mortalidade materna em abortos entre 1998 e 2005
foi de 0,6 morte por 100.000 procedimentos abortivos, tornando o aborto cerca
de 14 vezes mais seguro do que o parto, cuja taxa de mortalidade é de 8,8 mortes
por 100.000 nascidos vivos.

O risco de mortalidade relacionada com o aborto aumenta com a idade


gestacional, mas permanece menor do que o do parto até pelo menos 21
semanas de gestação. Isso contrasta com algumas leis presentes em alguns

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


países que exigem que os médicos informem os pacientes que o aborto é um
procedimento de alto risco.

A aspiração uterina a vácuo no primeiro trimestre é o método de aborto não-


farmacológico mais seguro, e pode ser realizado em uma clínica de atenção
primária em saúde, clínica de aborto ou hospital. As complicações são raras e
podem incluir perfuração uterina, infecção pélvica e retenção dos produtos da
concepção necessitando de um segundo procedimento para evacuá-los.

Geralmente são administrados antibióticos profiláticos (preventivos) (como a


doxiciclina ou metronidazol) antes do aborto eletivo, pois acredita-se que eles
diminuem substancialmente o risco de infecção uterina pós-operatória. As
complicações após abortos no segundo-trimestre são similares às que ocorrem
após o aborto no primeiro trimestre, e dependem do método escolhido.

Existe pouca diferença em termos de segurança e eficácia entre o aborto


farmacológicos usando regime combinado de mifepristona e misoprostol e o
aborto não-farmacológico (aspiração a vácuo) quando são realizados no início
do primeiro trimestre (até 9 semanas de idade gestacional). O aborto
farmacológico com o uso do análogo de prostaglandina misoprostol isolado é
menos efetivo e mais doloroso do que o aborto usando o regime combinado de
mifepristona e misoprostol ou do que o aborto cirúrgico.

Existe controvérsia na comunidade médica e científica sobre os efeitos do


aborto. As interrupções de gravidez feitas por médicos competentes são
normalmente consideradas seguras para as mulheres, dependendo do tipo de
cirurgia realizado. Entretanto, um argumento contrário ao aborto seria de que,
para o feto, o aborto obviamente nunca seria "seguro", uma vez que provoca sua
morte sem direito de defesa.

Os métodos que não são realizados com acompanhamento médico (uso de


certas drogas, ervas, ou a inserção de objectos não cirúrgicos no útero) são
potencialmente perigosos para a mulher, conduzindo-a a um elevado risco de
infecção permanente ou mesmo à morte, quando comparado com os abortos
feitos por pessoal médico qualificado.

Segundo a ONU, pelo menos 70 mil mulheres perdem a vida anualmente em


consequência de abortos realizados em condições precárias, não há, no entanto,
estatísticas confiáveis sobre o número total de abortos induzidos realizados no
mundo nos países e/ou situações em que o aborto é criminalizado.

Existem, com variado grau de probabilidade, possíveis efeitos negativos


associados à prática abortiva, nomeadamente a hipótese de ligação ao câncer
de mama, a dor fetal, a síndrome pós-abortiva. Possíveis efeitos positivos
incluem redução de riscos para a mãe e para o desenvolvimento da criança não
desejada.

Em janeiro de 2012 uma pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde


revelou que a prática do aborto é maior nos países em que ele é proibido e quase

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


metade de todos os abortos feitos no mundo é realizada com altos riscos para a
mulher.

Entre 2003 e 2008, cerca de 47 mil mulheres morreram e outros 8,5 milhões
tiveram consequências graves na sua saúde, decorrentes da prática do aborto.

Quase todas as interrupções de gravidez intencionais realizadas de maneira


insegura, aconteceram em nações em desenvolvimento, na América Latina e
África. "O aborto é um procedimento muito simples. Todas essas mortes e
complicações poderiam ter sido facilmente evitadas", disse Gilda Sedgh,
pesquisadora-sênior do Instituto norte-americano Guttmacher, autora do estudo.

Câncer de mama

O médico estadunidense Joel Brind é o principal defensor de uma suposta


relação causal entre o aborto induzido e o risco de desenvolvimento de câncer
de mama.

Sua teoria é que no início da gravidez, o nível de estrogénio aumenta, levando


ao crescimento das células mamárias necessário à futura fase de lactação. A
hipótese de relação positiva entre câncer de mama e aborto sustenta que se a
gravidez é interrompida antes da completa diferenciação celular, então existirão
relativamente mais células indiferenciadas vulneráveis à contracção da doença.

Esta hipótese não é aceita pelo consenso científico das entidades ligadas ao
câncer Bind é um pesquisador com uma agenda enviesada e pseudocientífica
para a promoção de suas crenças religiosas através do do "Breast Cancer
Prevention Institute".

Dor do feto

A existência ou ausência de sensações fetais durante o processo de


abortamento é hoje matéria de interesse médico, ético e político. Diversas provas
entram em conflito, existindo algumas opiniões defendendo que o feto é capaz
de sentir dor a partir da sétima semana enquanto outros sustentam que os
requisitos neuro-anatómicos para tal só existirão a partir do segundo ou mesmo
do terceiro trimestre da gestação.

Os receptores da dor surgem na pele na sétima semana de gestação.

O hipotálamo, parte do cérebro receptora dos sinais do sistema nervoso e que


liga ao córtex cerebral, forma-se à quinta semana.

Todavia, outras estruturas anatómicas envolvidas no processo de sensação da


dor ainda não estão presentes nesta fase do desenvolvimento. As ligações entre
o tálamo e o córtex cerebral formam-se por volta da 23ª semana. Existe também
a possibilidade de que o feto não disponha da capacidade de sentir dor, ligada
ao desenvolvimento mental que só ocorre após o nascimento.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Novos estudos do Hospital Chelsea, realizados pela Dra. Vivette Glover em
Londres sugerem que a dor fetal pode estar presente a partir da décima sétima
semana de vida do feto. O que justificaria, segundo os proponentes do aborto, o
uso de anestésicos para diminuir o provável sofrimento do feto. Estes estudos
contrariam a versão da entidade que reúne obstetras e ginecologistas do Reino
Unido, o Royal College of Obstretics and Gynacologists; para esta organização,
só há dor depois de 26 semanas.

Síndrome pós-abortiva

A síndrome pós-abortivo seria uma série de reações psicológicas apresentadas


ao longo da vida por mulheres após terem cometido um aborto.

Há vários relatos de problemas mentais relacionados direta ou indiretamente ao


aborto; uma descrição clássica pode ser encontrada na obra "A psicopatologia
da vida cotidiana", de Sigmund Freud. No livro "Além do princípio de prazer",
Freud salienta: "Fica-se também estupefato com os resultados inesperados que
se podem seguir a um aborto artificial, à morte de um filho não nascido, decidido
sem remorso e sem hesitação.

Há médicos portugueses, porém, que questionam a existência do síndroma; não


existe nenhum estudo português publicamente divulgado sobre o assunto.
Entretanto nos Estados Unidos, Reino Unido e mesmo no Brasil, essa
possibilidade já é bastante discutida, com resultados contrastantes.

O síndroma pós-abortivo (PAS), conhecido também como síndroma pós-


traumático pós-abortivo ou por síndroma do trauma abortivo, é um termo que
designa um conjunto de características psicopatológicas que alguns médicos
dizem ocorrer nas mulheres após um aborto provocado. Alguns estudos, no
entanto, concluem que alguns destes sintomas são consequência da proibição
legal e/ou moral do aborto e não do ato em si. [

Entretanto, tal síndrome teria sido catalogada em inúmeras pesquisas, entre elas
a do dr. Vincent Rue, que no estudo da Desordem Ansiosa Pós-Traumática
(DAPT), presente em ex-combatentes do Vietnã, e teria sua correspondente na
síndrome pós-aborto (SPA).

Algumas estatísticas de organizações pró-vida argumentam que há um aumento


de 9% para 59% nos índices de distúrbios psicológicos em mulheres que se
submetem ao aborto.

Outro estudo, do Royal College of Psychiatrists, a associação dos psiquiatras


britânicos e irlandeses, considerou que o aborto induzido pode trazer distúrbios
clínicos severos para a mulher, e que essa informação deve ser passada para a
mesma, antes da opção pelo aborto.

Mulheres grávidas vítimas de violência

Embora existam notícias indicando que muitas mulheres grávidas morrem em


consequência de atos violentos, aparentemente não há dados conclusivos que

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


cruzem esta informação com o risco de morte geral das mulheres não-grávidas
em situações semelhantes.

Consequências a longo prazo para a criança não desejada

Muitos membros de grupos pró-escolha consideram haver um risco maior de


crianças não desejadas (crianças que nasceram apenas porque a interrupção
voluntária da gravidez não era uma opção, quer por questões legais, quer por
pressão social) terem um nível de felicidade inferior às outras crianças incluindo
problemas que se mantêm mesmo quando adultas, entre estes problemas
incluem-se:

• doença e morte prematura


• pobreza
• problemas de desenvolvimento
• abandono escolar
• delinquência juvenil
• abuso de menores
• instabilidade familiar e divórcio
• necessidade de apoio psiquiátrico
• falta de autoestima

Uma opinião contrária, entretanto, apresentada por grupos pró-vida, seria que,
mesmo que sejam encontradas correlações estatísticas entre gravidez
indesejáveis e situações consideradas psicologicamente ruins para as crianças
nascidas, esta situação não pode ser comparada com a de crianças abortadas,
visto que estas não estão vivas. Uma "situação de vida" não seria passível de
comparação com uma "situação de morte", visto a inverificabilidade desta
enquanto situação possivelmente existente (a chamada "vida após a morte")
pelos métodos científicos disponíveis. Como não se pode estipular se uma
situação ruim de vida, por pior que fosse, seria pior que a morte, o aborto, no
caso, não poderia ser apresentado como solução, visto que não dá a capacidade
de escolha ao envolvido, enquanto ainda é um feto

Métodos de indução

Aborto farmacológico

Também conhecido como aborto médico, químico ou não-cirúrgico, é o aborto


induzido por administração de fármacos que provocam a interrupção da gravidez
e a expulsão do embrião. O aborto farmacológico é aplicável apenas no primeiro
trimestre da gravidez.

Tornou-se um método alternativo de aborto induzido com o surgimento no


mercado dos análogos de prostaglandina no início dos anos 1970 e do
antiprogestágeno mifepristona (RU-486) nos anos 1980.

Os regimes de aborto mais comuns para o primeiro trimestre utilizam


mifepristona em combinação com um análogo de prostaglandina (misoprostol)
até 9 semanas de idade gestacional, metotrexato em combinação com um

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


análogo de prostaglandina até 7 semanas de gestação, ou um análogo de
prostaglandina isolado. Os regimes de mifepristona–misoprostol funcionam mais
rápido e são mais efetivos em idades gestacionais mais avançadas do que os
regimes combinados de metotrexato-misoprostol, e os regimes combinados são
mais efetivos que o uso do misoprostol isolado.

Em abortos muito precoces, com até 7 semanas de gestação, o regime


combinado de mifepristona-misoprostol é considerado mais efetivo do que o
aborto cirúrgico (aspiração à vácuo). Os regimes de aborto médico precoce que
utilizam 200 mg de mifepristona, seguido por 800 mcg de misoprostol vaginal ou
oral 24-48 horas após apresentam efetividade de 98% até as 9 semanas de
idade gestacional. Nos casos de falha do aborto farmacológico, é necessária a
complementação do procedimento com o aborto cirúrgico.

Os abortos farmacológicos precoces são responsáveis pela maioria dos abortos


com menos de 9 semanas de gestação na Grã-Bretanha, França,Suíça, e nos
países nórdicos. Nos Estados Unidos, o percentual de abortos farmacológicos
precoces é menor.

Regimes de aborto farmacológico usando mifepristona em combinação com um


análogo de prostaglandina são os métodos mais comumente usados para
abortos de segundo trimestre no Canada, maior parte da Europa, China e Índia,
ao contrário dos Estados Unidos, onde 96% dos abortos de segundo trimestre
são realizados cirúrgicamente com dilatação e esvaziamento uterino.

Aborto cirúrgico ou por procedimentos

Os procedimentos no primeiro trimestre podem geralmente ser realizados


usando anestesia local, enquanto os realizados no segundo trimestre podem
necessitar de sedação ou anestesia geral.[19]

Aspiração uterina a vácuo

Um aborto realizado por aspiração a vácuo com equipamento elétrico em uma


gestação de oito semanas (seis semanas após a fertilização).1: Bolsa
amniótica2: Embrião3: Endométrio4: Espéculo5: Cureta de aspiração6: Saída
para a bomba à vácuo

No procedimento de aspiração uterina a vácuo o médico realiza vácuo no útero


da gestante para remover o feto. São utilizados equipamentos manuais ou
elétricos para a realização do vácuo. Geralmente são realizados em gestações
de até doze semanas (primeiro trimestre).

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


A aspiração manual intrauterina (AMIU) consiste em uma aspiração cujo vácuo
é criado manualmente utilizando-se uma cânula flexível acoplada a uma seringa.
Foi desenvolvida para ser realizada ambulatorialmente sem anestesia geral, não
necessitando ser realizada em bloco cirúrgico. Não é necessária a dilatação
cervical.

O procedimento também pode ser utilizando um aparelho de vácuo eléctrico.


Neste tipo de aspiração o conteúdo do útero é sugado pelo equipamento.

Ambos os procedimentos são considerados não-cirúrgicos e são realizados em


cerca de dez minutos. São eficazes e seguros, pois apresentam um baixo risco
para a mulher (0,5% de casos de infecção).

Dilatação e curetagem uterina

Figura mostrando como é empregada a técnica da


curetagem

Em gestações mais avançadas, nas quais o material a ser removido do útero é


muito volumoso, recorre-se à curetagem. Ao contrário da aspiração uterina à
vácuo, que pode ser realizada em consultórios ou clínicas, a dilatação e
curetagem é um procedimento cirúrgico, devendo ser realizado em um hospital
com bloco cirúrgico. Inicialmente o médico alarga o colo do útero da paciente
com dilatadores, para permitir a passagem da cureta a seguir. A cureta é um
instrumento cirúrgico cortante, em forma de colher, que é introduzida no útero
para realizar a raspagem. Servindo-se da cureta, o médico retira todo o conteúdo
uterino, incluindo o endométrio.

Uma das principais complicações da curetagem é a perfuração uterina causada


pela cureta.

Evita-se a realização da curetagem uterina em gestações com mais de 12-16


semanas sem antes realizar a expulsão fetal.

Dilatação e evacuação

O procedimento de curetagem é aplicável ainda no começo do segundo


trimestre, mas se não for possível terá de recorrer-se a métodos como a
dilatação e evacuação. Neste procedimento o médico promove primeiro a
dilatação cervical (um dia antes).

Na intervenção que é feita sob anestesia é inserido um aparelho cirúrgico na


vagina para cortar o material intra-uterino em pedaços, e retirá-los de dentro do
útero. No final é feita a aspiração. O feto é remontado no exterior para garantir

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


que não há nenhum pedaço no interior do útero que poderia levar a infecção
séria. Em raríssimas situações (0,17% das IVGs realizadas nos Estados Unidos
em 2000) o feto é removido intacto.

Eliminação ou expulsão fetal (indução do trabalho de parto)

A eliminação ou expulsão fetal geralmente é reservada para gestações com mais


de doze semanas. Consiste em forçar prematuramente o trabalho de parto com
o uso do análogo de prostaglandina misoprostol. Pode-se associar o uso de
ocitocina ou injeção no líquido amniótico de soluções hipertônicas com solução
salina ou ureia.

Após a expulsão fetal, pode ser necessária a realização de curetagem.

Aborto por esvaziamento craniano intrauterino

O aborto por esvaziamento craniano intrauterino (ECI), também conhecido como


aborto com "nascimento parcial", é uma técnica utilizada para provocar o aborto
quando a gravidez está em estágio avançado, entre 20 e 26 semanas (cinco
meses a seis meses e meio). Guiado por ultrassom, o médico segura a perna do
feto com um fórceps, puxa-o para o canal vaginal, e então retira o feto do útero,
com exceção da cabeça.

Faz então uma incisão na nuca, inserindo depois um cateter para sugar o cérebro
do feto e então o retira por inteiro do corpo da mãe. Em alguns países, essa
prática é proibida em todos os casos, sendo considerada homicídio e punida
severamente. Esta técnica tem sido alvo de intensas polêmicas nos Estados
Unidos.

Em 2003, sua prática foi proibida em todo o país, gerando revoltas de


movimentos pró-aborto.

Outros métodos

No passado, diversas ervas já foram consideradas portadoras de propriedades


abortivas e foram usadas na medicina popular.[75] No entanto, o uso de ervas
com a intenção abortiva pode causar diversos efeitos adversos graves e até
mesmo letais, tanto para a mãe quanto para o feto, e não é recomendado pelos
médicos.

O aborto, às vezes, é tentado através de trauma no abdômen. O grau da força,


se intensa, pode causar diversas lesões internas graves sem necessariamente
induzir com sucesso a perda fetal No Sudeste da Ásia, há uma tradição antiga
de se tentar o aborto através de forte massagem abdominal

Métodos utilizados em abortos autoinduzidos não seguros incluem o uso


incorreto de misoprostol e a inserção de materiais não cirúrgicos como agulhas
e prendedores de roupas no útero. A utilização destes métodos não seguros
raramente é observada em países desenvolvidos, onde o aborto cirúrgico é legal
e disponível.[79]

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


A história do aborto, segundo a Antropologia, remonta à Antiguidade.

Há evidências que sugerem que, historicamente, dava-se fim à gestação, ou


seja, provocava-se o aborto, utilizando diversos métodos, como ervas abortivas,
o uso de objetos cortantes, a aplicação de pressão abdominal entre outras
técnicas.

Terminologia

A palavra aborto tem sua origem etimológica no latim abortacus, derivado de


aboriri ("perecer"), composto de ab ("distanciamento", "a partir de") e oriri
("nascer").

Sociedade e cultura

Situação jurídica do aborto ao redor do mundo:


Legalizado em todos os casos,
Legalizado em caso de estupro, risco de vida, problemas de saúde, fatores
socioeconômicos ou má-formação do feto
Legalizado em caso de estupro, risco de vida, problemas de saúde ou má-
formação do feto
Legalizado em caso de estupro, risco de vida ou problemas de saúde
Legalizado em caso de risco de vida ou problemas de saúde
Proibido em todos os casos
Varia por região
Não há informação

Consequências positivas

Em um estudo polêmico de Steven Levitt da Universidade de Chicago e John


Donohue da Universidade Yale associa a legalização do aborto com a baixa da
taxa de criminalidade na cidade de Nova Iorque e através dos Estados Unidos.
Tal estudo apresenta, com base em dados de diversas cidades norte-
americanas e com significância estatística, o possível efeito da redução dos
índices de criminalidade onde o aborto é legal. Ainda segundo os autores,
estudos no Canadá e na Austrália apontariam na mesma direção.

O recurso a abortos ilegais, segundo os defensores da legalização, aumentaria


a mortalidade maternal. Tanto a mortalidade quanto outros problemas de saúde
seriam evitados, segundo seus defensores, quando há acesso a métodos
seguros de aborto.

Segundo o Instituto Guttmacher, o aborto induzido ou interrupção voluntária da


gravidez tem um risco de morte para a mulher entre 0,2 a 1,2 em cada 100 mil
procedimentos com cobertura legal realizados em países desenvolvidos. Este
valor é mais de dez vezes inferior ao risco de morte da mulher no caso de
continuar a gravidez.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Pelo contrário em países em desenvolvimento em que o aborto é criminalizado
as taxas são centenas de vezes mais altas atingindo 330 mortes por cada 100
mil procedimentos.[80] Para o Ministro da Saúde brasileiro, José Gomes
Temporão, defensor da legalização do aborto, a descriminalização do aborto
deveria ser tratada como problema de saúde pública.[81]

Consequências negativas

Como consequências negativas da legalização do aborto na sociedade,


apontam-se, entre outras: a banalização de sua prática, a disseminação da
eugenia, a submissão a interesses mercadológicos de grupos médicos e
empresas farmacológicas, a diminuição da população, o controle demográfico
internacional, a desvalorização generalizada da vida, o aumento de casos de
síndromes pós-aborto, e, indiretamente, o aumento do número de casos de
DSTs (doenças sexualmente transmissíveis).

Legislação Dependendo do ordenamento jurídico vigente, o aborto do nascituro


considera-se uma conduta penalizada ou despenalizada, atendendo a
circunstâncias específicas.

As situações possíveis vão desde o aborto ser considerado um crime contra a


vida humana, até ao apoio estatal para a sua realização a pedido da grávida. [85]

Meios de comunicação Os assuntos relacionados com o aborto de gravidez


ainda são um grande tabu em boa parte do mundo, sobretudo em países de
maioria religiosa. Os meios de comunicação divulgam posicionamentos e
opiniões variadas sobre a prática. O assunto já foi tema de muitas músicas,
filmes e documentários.

Recentemente Rebecca Gomperts provocou polêmica no Facebook, com a


publicação de um manual de aborto caseiro seguro.[86] O Facebook retirou,
entretanto, a imagem que continha informações sobre como praticar o aborto
com segurança - recorrendo a um medicamento com efeito abortivo - em países
onde o aborto é ilegal

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Anencefalia: Argumentos favoráveis e desfavoráveis à retirada
do fecto

A anencefalia é uma má formação rara do tubo neural, caracterizada pela


ausência parcial do encéfalo e da calota craniana, proveniente de defeito de
fechamento do tubo neural nas primeiras semanas da formação embrionária.

Ao contrário do que o termo possa sugerir, a anencefalia não caracteriza casos


de ausência total do encéfalo, mas situações em que se observam graus
variados de danos encefálicos. A dificuldade de uma definição exata do termo
"baseia-se sobre o fato de que a anencefalia não é uma má-formação do tipo
'tudo ou nada', ou seja, não está ausente ou presente, mas trata-se de uma má-
formação que passa, sem solução de continuidade, de quadros menos graves a
quadros de indubitável anencefalia. Uma classificação rigorosa é, portanto quase
que impossível".

Na prática, a palavra "anencefalia" geralmente é utilizada para caracterizar uma


má-formação fetal do cérebro. Nestes casos, o bebê pode apresentar algumas
partes do tronco cerebral funcionando, garantindo algumas funções vitais do
organismo.[2]

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Trata-se de patologia letal. Bebês com anencefalia possuem expectativa de vida
muito curta, embora não se possa estabelecer com precisão o tempo de vida
que terão fora do útero. A anomalia pode ser diagnosticada, com certa precisão,
a partir das 12 semanas de gestação, através de um exame de ultra-sonografia,
quando já é possível a visualização do segmento cefálico fetal.

O risco de incidência aumenta 5% a cada gravidez subsequente. Inclusive, mães


diabéticas têm seis vezes mais probabilidade de gerar filhos com este problema.
Há, também, maior incidência de casos de anencefalia em filhos de mães muito
jovens ou nas de idade avançada. Uma das formas de prevenção mais indicadas
é a ingestão de ácido fólico antes e durante a gestação.

Embriologia

A anencefalia é um dos três principais defeitos do tubo neural (DTN). Os outros


são a encefalocele e a mielomeningocele. Os defeitos do tubo neural resultam
de uma falha no fechamento do tubo neural que ocorre entre 25 e 27 dias após
a concepção.

Epidemiologia

Feto anencéfalo.

Nos Estados Unidos, a anencefalia ocorre em 1 a cada 10.000 nascimentos.[4] A


malformação é mais comum em meninas[5] , brancos e em mães nos extremos
de idade. A taxa de anencefalia em nascidos vivos provavelmente subestima a
real taxa de ocorrência da doença, pois diversos casos de aborto espontâneo
são causados por fetos afetados que não chegam a receber o diagnóstico.

A prevalência ao nascimento diminuiu nos Estados Unidos após a


suplementação obrigatória de alimentos com ácido fólico, que iniciou em janeiro
de 1998.

Sinais e sintomas

Um recém-nascido com anencefalia geralmente é cego, surdo, inconsciente e


incapaz de sentir dor. Embora alguns indivíduos com anencefalia possam nascer
com um tronco encefálico, a falta de um cérebro funcionante descarta a
possibilidade de vir a ter consciência e ações reflexas, como a respiração e
respostas aos sons ou toques.

Diagnóstico

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


A anencefalia frequentemente pode ser diagnosticada no pré-natal através de
um exame de ultrassom. O diagnóstico ultrassonográfico tem alta acurácia e é
baseado na ausência do cérebro e da calota craniana. Outra característica que
pode ser observada na ultrassonografia é a polidramnia, que ocorre em até 50%
dos casos durante o 2º e 3º trimestres de gestação devido à menor deglutição
do feto.

A dosagem de alfafetoproteína (AFP) sérica materna[6] e o ultrassom fetal[7] são


úteis para rastreio de defeitos do tubo neural como espinha bífida ou anencefalia.

Às vezes a anencefalia não é diagnosticada, pois o feto acaba evoluindo para


aborto espontâneo. Em outros, principalmente em mulheres que não têm acesso
ao pré-natal, a doença é diagnosticada apenas durante o parto.

Prognóstico

Não existe cura ou tratamento padrão para a anencefalia e o prognóstico para


estes pacientes é a morte. A maioria dos fetos não sobrevive ao nascimento, o
que corresponde a 55% dos casos não abortados. Quando a criança não é um
natimorto (nasce sem vida), ela geralmente morre de parada cardiorrespiratória
em poucas horas ou dias após o nascimento.

Entretanto, já existiram casos relatados de anencefalia que os pacientes


sobreviveram até 2 anos após o nascimento.

Em um caso que se tornou famoso no Brasil (ocorrido no Município de Patrocínio


Paulista), uma criança diagnosticada como anencéfala viveu por um ano, oito
meses e doze dias após o nascimento. A menina, batizada de Marcela de Jesus
Galante Ferreira, nasceu no dia 20 de novembro de 2006 e morreu no dia 31 de
julho de 2008. Marcela não tinha o córtex cerebral, apenas o tronco cerebral,
responsável pela respiração e pelos batimentos cardíacos. A menina faleceu em
consequência de uma pneumonia aspirativa.

O caso gerou divergências: alguns especialistas, baseados na deficiência de


uma definição exata do termo "anencefalia", levantaram a hipótese de que a
menina na verdade sofria de uma malformação do crânio (encefalocele),
associada a um desenvolvimento reduzido do cérebro (microcefalia). Outros
afirmam que o que houve, na verdade, foi uma forma "não clássica" de
anencefalia, como avaliou a pediatra da menina, Márcia Beani Barcellos,
profissional que mais acompanhou o caso. Segundo Márcia, a sobrevivência
surpreendente de Marcela foi "um exemplo de que um diagnóstico não é nada
definitivo".

Interrupção da gravidez

A interrupção da gravidez, também conhecida como aborto terapêutico, é


permitida em casos de anencefalia em diversos países.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


O Brasil autorizou em 2012 a realização do aborto terapêutico para fetos com
anencefalia. Até então, grávidas com fetos com anencefalia precisavam de
autorização judicial para realizar o aborto.

Segundo grupos contrários à manutenção da vida do feto com anencefalia, a


interrupção da gravidez nestes casos diferiria do aborto por interromper o
desenvolvimento de um feto que inevitavelmente morreria durante este
processo, ou logo após o parto, enquanto o aborto interromperia o
desenvolvimento de um bebê normal. A interrupção da gravidez seria um
processo semelhante, neste caso, a tirar a vida de uma pessoa em estado
terminal, a qual sabe-se que inevitavelmente irá morrer, mais cedo ou mais tarde
- no caso da anencefalia, provavelmente muito cedo. [13] . Essa visão é,
entretanto, contestada por grupos contrários ao aborto, que alegam que toda
vida tem valor, independente de seu tempo de duração.

Um estudo realizado na Alemanha, onde o aborto terapêutico é permitido,


demonstrou que as mães optam menos pela interrupção da gravidez em casos
de anencefalia do que em casos de síndrome de Down (trissomia do 21) (5.642
abortos em 6.141 diagnósticos pré-natais de trissomia do 21 = 91,9%; 483
abortos de 628 casos de anencefalia = 76,9%; 358 abortos de 487 casos de
espinha bífida = 73,5%)

A lei do aborto a nível internacional

Argentina:Na Argentina o aborto é ilegal, mas começou a ser debatido no


congresso em 2018.

Brasil:O aborto é proibido no Brasil, apenas com exceções quando há risco de


morte da mãe causado pela gravidez, quando esse é resultante de um estupro
e se o feto não tiver cérebro. Nesses três casos, permite-se à mulher optar por
fazer ou não o aborto. Quando essa decide abortar, deve realizar o procedimento
gratuito pelo Sistema Único de Saúde. Um dos argumentos pró-escolha é de que
a vida do indivíduo não começa na fecundação, e de que esse apenas deveria
ter direito civis, depois da formação do ser humano propriamente dito. Os pró-
vida, porém, dizem que depois do óvulo ter sido fecundado, o indivíduo passa a
existir e que ele tem os mesmos direitos de uma pessoa já nascida.

Bolívia: Na Bolívia o aborto é legal em três casos: em caso de estupro, de


incesto ou de risco de vida à mulher.

Canadá: O aborto não é restringido pela lei canadense. Desde 1969 que a lei
permite a prática de aborto em situações de risco à saúde, e, a partir de 1973, a
interrupção voluntária da gravidez deixou de ser ilegal. O Canadá é um dos
países do mundo que dá mais liberdade de fazer um aborto; o acesso ao aborto
é fornecido pela assistência médica pública para os cidadãos canadenses e para
os residentes permanentes, nos hospitais do país.
De 1994 a 1998, membros de movimentos "pro-life” alvejaram com armas de
fogo quatro médicos que praticavam abortos, tendo um sido assassinado em

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


1998. Em 1992, uma bomba incendiária causou severos danos numa clínica
onde se realizavam abortos.

Chile: No Chile o aborto é proibido em qualquer circunstância,[5] incluído fins


terapêuticos, durante todo o período da gestação. A ilegalização da interrupção
voluntária da gravidez inclui as gravidezes ectópicas.
O aborto terapêutico foi permitido pelo Código de Saúde de 1931, mas abolido
pelo regime militar no país em 15 de setembro de 1989. A preocupação em torno
das altas taxas de mortalidade materna decorrente do aborto ilegal levou o
governo do Chile a lançar um programa de planejamento familiar em 1964.As
mortes em decorrência de complicações do aborto ilegal caíram de 118 para 24
a cada cem mil nascidos vivos entre 1964 e 1979.

Colômbia: O aborto é legalizado em caso de estupro, de má formação do feto


ou de risco à mulher.

Cuba: O aborto é permitido até as dez primeiras semanas de gravidez, regra que
vigora desde a revolução comunista, em 1959. Cuba é primeiro país da América
Latina a legalizar o aborto sem restrições. O Uruguai é o segundo, e a Cidade
do México também é uma exceção.

Estados Unidos da América: O aborto é legal em todos os estados do país


desde 1973, a partir da decisão da Suprema Corte no caso Roe vs Wade.

México: No México a legislação sobre o aborto é muito regional. Existem


estados onde o aborto é legal quando o feto apresenta alguma deformação
genética ou quando é produto de uma violação. Recentemente no ano 2009 em
muitos estados mexicanos passaram leis que proíbem qualquer forma de aborto
como reação ao fato de que o aborto é legal na Cidade do México desde 2008,
com a única limitação de que seja praticado até a 12ª semana de gestação. [5] O
aborto neste caso é praticado e assistido em clinicas do estado com atenção
medica especializada e gratuita.

Nicarágua: Na Nicarágua, o aborto é proibido em qualquer circunstância e


durante todo o período da gestação.

Paraguai: No Paraguai o aborto é legal em caso de risco de vida à mulher.

Peru: No Peru o aborto é legal em três casos: em caso de estupro, de incesto


ou de risco de vida à mulher.

Uruguai: No Uruguai, o aborto pode ser feito por qualquer motivo até a 12ª
semana de gestação, até a 14ª semana de gestação em caso de estupro, e a
qualquer momento em caso de má-formação do feto ou risco de vida para a mãe.
Há acompanhamento médico feito por uma equipe formada por um

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


ginecologista, um psicólogo e um assistente social, e cinco dias de reflexão para
que a mãe tenha certeza da decisão.[6]

Venezuela: Na Venezuela o aborto é legal em caso de risco de vida à mulher.[5]


Em todos os países da Europa, excepto Malta, o aborto não é penalizado em
situações controladas.
Alemanha: O aborto é permitido até às doze semanas a pedido da mulher após
aconselhamento médico, ou em consequência de violação ou outro crime sexual.
É também permitido após as doze semanas por razões médicas que possui,
segundo a lei alemã, uma definição lata, incluindo saúde mental e condições
sociais adversas.
A interrupção da gravidez é regulada na Alemanha pelo Artigo 218 do Código
Penal.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos manteve-
se entre 20 e 21% de 1980 a 1985, tendo diminuído até 13% em 1995. Em 1996
houve um aumento abrupto para 16%, mantendo-se em 1997 e a taxa de 2000
foi de 18%.
Áustria: O aborto é permitido até as doze semanas a pedido da mulher (lei de
1975). Permitida após as doze semanas em caso de perigo de vida, risco de
malformação do feto, mulher menor de 14 anos.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos manteve-
se estável em cerca de 15% de 1960 a 1974, tendo em 1975 tido um salto para
28% e diminuindo gradualmente até 17% em 1988. Em 1989 houve uma quebra
significativa para 4.1% tendo mantido valores entre 3.9% e 2.8% desde então.
Bélgica: O aborto é permitido até as doze semanas quando a gravidez coloca
em risco a mulher, razões sociais ou económicas. Permitida após as doze
semanas em caso de sério risco para a saúde
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos tem
variado entre 9% e 23% de 1992 a 1999, não apresentando dados para outros
anos.
Bulgária: O aborto é permitido a pedido da mulher até às doze semanas. Até às
vinte semanas por risco médico. Permitida após as vinte semanas em caso de
má formação do feto.
Segundo dados da Eurostat, há um número semelhante[10] de abortos legais e
nados-vivos desde 1960 a 1999. Estes valores diminuíram ligeiramente em 2000
e a taxa passou para 75% em 2001.
Dinamarca: O aborto é permitido até as doze semanas a pedido da mulher
mediante a apresentação de um requerimento a um médico ou centro social, que
aconselhará a mulher e a encaminhará para um hospital, se mantiver a intenção
de interromper. Permitida após as doze semanas em caso de risco de morte ou
saúde física da mulher, risco de malformação do feto.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos manteve-
se estável em cerca de 5% de 1960 a 1967, tendo aumentado rapidamente até
41% em 1976 e estabilizando até 1981 altura em que começou a diminuir

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


gradualmente até 25% em 1994 tendo-se mantido mais ou menos estável desde
então.
Grécia: O aborto é permitido até as doze semanas a pedido da mulher. Permitida
até as vinte semanas em caso de risco de morte ou saúde física ou mental da
mulher, violação ou outros crimes sexuais. Permitida até as 24 semanas no caso
de risco de malformação do feto.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos
aumentou de 7.3% em 1989 para 12.2% em 1994.
Países Baixos: O aborto é permitido até as treze semanas a pedido da mulher.
Permitida após as 24 semanas em comprovadas situações de dificuldade e falta
de alternativas da mulher, decisão tomada entre a mulher e um médico.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos manteve-
se[13] estável entre 9.5% e 9.9% em 1985 e 1992 tendo aumentado ligeiramente
desde então até 11.6% em 1997.
Itália: O aborto é permitido até aos noventa dias (entre as doze e treze semanas)
por razões sociais (incluindo as condições familiares e/ou as circunstâncias em
que se realizou a concepção), médicas ou económicas: de facto, a pedido da
mulher. Permitida em qualquer momento em caso de risco de morte ou saúde
física ou mental da mulher, risco de malformação do feto, violação ou crime
sexual.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos
aumentou de 32% em 1980 para 39% em 1984 tendo diminuído gradualmente
desde então até 26% em 1992 e mantendo-se mais ou menos estável até 1999.

Irlanda: Num referendo em 26 de maio de 2018, a maioria dos irlandeses votou


pela revogação da proibição constitucional do aborto. O "Sim" alcançou 68% dos
votos contra os 32% do "Não". O governo da Irlanda avançará até ao fim de 2018
com legislação que possibilite o aborto até às 12 semanas de gravidez em
qualquer circunstância.

Malta: O aborto é proibido em qualquer circunstância.

Noruega: O aborto é permitido a pedido da mulher até as doze semanas.


Permitida após as 12 semanas para proteger a saúde da mulher e nos casos de
violação.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos
variou entre 25% e 31% de 1974 a 1992, tendo-se mantido entre 25% e 23% até
2001.
Polônia: O aborto é permitido em caso de violação (estupro), incesto, risco de
morte ou saúde física da mulher ou risco de malformação do feto. Nos casos de
justificação médica, ela tem de ser realizada por dois médicos diferentes do que
vai realizar o aborto.
Na Polônia o aborto foi livre durante o regime comunista até 1993. Movimentos
fazem campanha para que a Constituição polonesa seja reformada, no sentido

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


de ampliar a proteção legal da vida humana até o momento da concepção. Há
também movimentos que defendem a despenalização da Interrupção Voluntária
da Gravidez à semelhança da maioria dos países da União Europeia.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos
aumentou de 23% 1963 para 30% em 1967, tendo diminuído até 20% em 1987.
A partir deste ano há uma quebra acentuada e os valores chegam a 2.3% em
1992 tendo mantido valores inferiores a 0.25% desde então.
Portugal: O aborto é permitido em Portugal até às dez semanas de gestação a
pedido da grávida. A Lei nº 16/2007 de 17 de Abril indica que é obrigatório um
período mínimo de reflexão de três dias e tem de ser garantido à mulher "a
disponibilidade de acompanhamento psicológico durante o período de reflexão"
e "a disponibilidade de acompanhamento por técnico de serviço social, durante
o período de reflexão" quer para estabelecimentos públicos quer para clínicas
particulares. A mulher tem de ser informada "das condições de efectuação, no
caso concreto, da eventual interrupção voluntária da gravidez e suas
consequências para a saúde da mulher" e das "condições de apoio que o Estado
pode dar à prossecução da gravidez e à maternidade". Também é obrigatório
que seja providenciado "o encaminhamento para uma consulta de planeamento
familiar."
O período de permissão é estendido até às dezesseis semanas em caso de
violação ou crime sexual (não sendo necessário que haja queixa policial), até às
vinte e quatro semanas em caso de malformação do feto.
É permitido em qualquer momento em caso de risco para a grávida ("perigo de
morte ou de grave e irreversível lesão para o corpo ou para a saúde física ou
psíquica da mulher grávida") ou no caso de fetos inviáveis.

Reino Unido: O aborto é permitido até as 24 semanas por razões sociais,


médicas ou económicas. Permitida após as 24 semanas nos casos de risco para
a vida da mãe, risco de grave e permanente doença para a mãe e nos casos de
risco de malformação do feto.
O aborto é legal na Inglaterra, Escócia e País de Gales desde 1967. Nessa
altura, a legislação britânica era uma das mais liberais da Europa. Hoje, a maioria
dos países europeus adoptaram legislação semelhante.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos manteve-
se[19] estável entre 23% e 26% de 1985 a 1997, tendo aumentado até 30% em
2001.

Rússia: Em 1885, a Rússia czarista baniu o aborto no Código Criminal Imperial,


sendo que esta lei foi questionada em 1914 pela divisão russa da União
Internacional dos Criminologistas de São Petesburgo e no início da Revolução
Russa, apesar de ser uma questão controversa devido a necessidade de
preservar a vida como um bem comunitário, por um lado, e a necessidade de dar
segurança e saúde para as mulheres; e evitar que elas dependam de médicos
especuladores, o procedimento foi legalizado. Uma mulher foi inocentada em
primeira instância por ter praticado o aborto em 1920 para ser legalizado em
escala nacional no mesmo ano pelo Ministério Soviético de Saúde e Justiça.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


O Stálin limitou o aborto por lei a casos de extremo perigo de vida para a mulher,
só voltando a ser desregulamentado em 1955.[27][28][29][30] Visando a constituição
de uma mão-de-obra fabril, Stálin criou leis que condenavam a morte ou a 2 anos
de prisão quem conduzia e pressionava por abortos, aumentou o salário e os
benefícios trabalhistas de mulheres grávidas e mães que recém-pariram seus
filhos além de aplicar penalidades a quaisquer empregadores que se
recusassem a contratam e/ou discriminar mulheres grávidas.
Suécia: O aborto é permitido a pedido da mulher até as dezoito semanas.
Permitida até as 22 semanas por motivos de força maior (ex: inviabilidade do
feto).
A primeira legislação aceitando o aborto na Suécia foi emitida em 1938. Previa
que o aborto seria legal caso existissem razões médicas, humanitárias ou
eugénicas.
Segundo dados da Eurostat, a taxa de abortos legais por nados-vivos
aumentou de 3% em 1960 para 36% em 1979 tendo-se mantido entre 28 e 36%
desde então.
Suíça:O aborto é permitido até as doze semanas . A mulher deve ser informada
exaustivamente antes de se submeter à intervenção.
O aborto é regulado pelo artigo 119 do Código Penal.

Taiwan: O poder executivo da Taiwan propôs uma emenda à legislação vigente


sobre o aborto que, entre outras coisas, estabelece um período de "reflexão" de
três dias para todas as mulheres que desejem abortar. Isto devido a recentes
estatísticas que revelam um número maior de abortos que de nascimentos por
ano no país. Segundo um estudo de 1992 publicado pelo Journal of the Royal
Society of Health, 46 por cento das mulheres de Taiwan já se submeteram a um
aborto. A agência Associated Press informa que vários proeminentes
ginecólogos de Taiwan actualmente creem que há mais abortos que
nascimentos por ano, uma cifra estimada em 230 mil abortos.
A emenda obrigaria as mulheres a provar que consultaram seu médico antes de
buscar um aborto, e as menores de 18 anos teriam que contar com autorização
de seus pais ou tutores.

Nova Zelândia: O aborto é permitido, desde 1977, até as vinte semanas de


gravidez, e depois das vinte semanas, se prejudicar a saúde da mulher. A
regulamentação requer que o aborto após as doze semanas de gestação têm
que ser realizadas em “instituições licenciadas”, que são normalmente hospitais.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


Ética Profissional: conceptualização

Ética profissional é o conjunto de normas éticas que formam a consciência do


profissional e representam imperativos de sua conduta.

Ética é uma palavra de origem grega (éthos), que significa propriedade do


caráter. Ser ético é agir dentro dos padrões convencionais, é proceder bem, é
não prejudicar o próximo. Ser ético é cumprir os valores estabelecidos pela
sociedade em que se vive.

Ter ética profissional é o indivíduo cumprir com todas as atividades de sua


profissão, seguindo os princípios determinados pela sociedade e pelo seu grupo
de trabalho.

Cada profissão tem o seu próprio código de ética, que pode variar ligeiramente,
graças a diferentes áreas de atuação. No entanto, há elementos da ética
profissional que são universais e por isso aplicáveis a qualquer atividade
profissional, como a honestidade, responsabilidade, competência, etc.

Código de Ética Profissional

Código de ética profissional é o conjunto de normas éticas, que devem ser


seguidas pelos profissionais no exercício de seu trabalho.

O código de ética profissional é elaborado pelos Conselhos, que representam e


fiscalizam o exercício da profissão.

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


O código de ética médica em seu texto descreve: O presente código contém as
normas éticas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício da profissão,
independentemente da função ou cargo que ocupem. A fiscalização do
cumprimento das normas estabelecidas neste código é atribuição dos
Conselhos de Medicina, das Comissões de ética, das autoridades de saúde e
dos médicos em geral. Os infratores do presente Código, sujeitar-se-ão às
penas disciplinares previstas em lei.

Ética Profissional (Ética no Trabalho)

A ética profissional é um conjunto de atitudes e valores positivos aplicados no


ambiente de trabalho. A ética no ambiente de trabalho é de fundamental
importância para o bom funcionamento das atividades da empresa e das
relações de trabalho entre os funcionários.

Vantagens da ética aplicada ao ambiente de trabalho:

- Maior nível de produção na empresa;

- Favorecimento para a criação de um ambiente de trabalho harmonioso,


respeitoso e agradável;

- Aumento no índice de confiança entre os funcionários.

Exemplos de atitudes éticas num ambiente de trabalho:

- Educação e respeito entre os funcionários;

- Cooperação e atitudes que visam à ajuda aos colegas de trabalho;

- Divulgação de conhecimentos que possam melhorar o desempenho das


atividades realizadas na empresa;

- Respeito à hierarquia dentro da empresa;

- Busca de crescimento profissional sem prejudicar outros colegas de trabalho;

- Ações e comportamentos que visam criar um clima agradável e positivo dentro


da empresa como, por exemplo, manter o bom humor;

- Realização, em ambiente de trabalho, apenas de tarefas relacionadas ao


trabalho;

- Respeito às regras e normas da empresa.

Ser bom profissional, ter conhecimentos técnicos, dons, talentos, habilidades e


capacidades bem desenvolvidas, cabe a qualquer pessoa que deseja ter uma
carreira de sucesso. Ter bom relacionamento com os colegas, facilidade no
trabalho em equipe, boa comunicação, flexibilidade entre outras características,
são aspectos altamente valorizados nas organizações.
Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga
Porém, uma conduta ética no trabalho, seguindo padrões e valores, tanto da
sociedade, quanto da própria organização são essenciais para o alcance da
excelência profissional. A dinâmica do mercado nos exige atualização a
aperfeiçoamentos constantes, e uma postura ética é de suma importância no
ambiente corporativo. Através dela ganhamos credibilidade e a confiança de
superiores, liderados e demais colegas e colaboradores.
Ética é que o conjunto de valores morais que conduzem o comportamento
humano dentro da sociedade. As organizações seguem os padrões éticos
sociais, porém criam suas próprias regras para o bom andamento dos processos
de trabalho, e alcance de metas e objetivos.
O profissional deve seguir tanto os padrões éticos da sociedade quanto as
normas e regimentos internos das organizações. Um exemplo são as
informações sigilosas, para a preservação de uma marca ou produto, onde este
deve manter uma postura congruente com seu trabalho e manter para si os
dados que lhe foram confiados, a fim de guardá-los.
A ética no ambiente de trabalho proporciona ao profissional um exercício diário
e prazeroso de honestidade, comprometimento, confiabilidade, entre tantos
outros, que o conduzem tanto na tomada de decisões como no processo de
adotá-las. Ao final, a recompensa é ser reconhecido, não só pelo seu trabalho,
mas também por sua postura ética, de valores e conduta exemplar.
Permita-se ir além! Chegou o momento de você iniciar uma nova etapa em sua
história.

Ética Profissional é compromisso social

Código de Ética é um documento de texto com diversas diretrizes que orientam


as pessoas quanto às suas posturas e atitudes ideais, moralmente aceitas ou
toleradas pela sociedade com um todo, enquadrando os participantes a uma
conduta politicamente correta e em linha com a boa imagem que a entidade ou
a profissão quer ocupar, inclusive incentivando à voluntariedade e à
humanização destas pessoas e que, em vista da criação de algumas atividades
profissionais, é redigido, analisado e aprovado pela sua entidade de classe,
organização ou governo competente, de acordo com as atribuições da atividade
desempenhada, de forma que ela venha a se adequar aos interesses, lutas ou
anseios da comunidade beneficiada pelos serviços que serão oferecidos pelo
profissional sobre o qual o código tem efeito.

Como tal, um código de ética fixa normas que regulam os comportamentos das
pessoas dentro de uma empresa ou organização. Apesar de a ética não ser
coactiva (não implica penas legais), o código de ética supõe uma normativa
interna de cumprimento obrigatório.

As normas mencionadas nos códigos de ética podem estar vinculadas às normas


legais (por exemplo, discriminar é um crime punido por lei). O principal objectivo
destes códigos consiste em manter uma linha de comportamento uniforme entre
todos os integrantes de uma empresa. Existindo instruções por escrito, não há

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


necessidade de os dirigentes explicarem constantemente quais são as
obrigações que têm os funcionários.

Os elementos mais importantes da ética profissional são muito


semelhantes aos da ética social
A ética profissional é o conjunto de práticas que determinam a adequação no
exercício de qualquer profissão. É através dela que se dão as relações
interpessoais no trabalho, visando, especialmente, o respeito e o bem-estar no
ambiente profissional.

É importante lembrar que a ética é indispensável para conviver em sociedade. É


através dela que se pratica o respeito. Portanto, dentro do ambiente de trabalho
ela é ainda mais importante. Afinal, atitudes inadequadas podem afetar o
desempenho e a reputação de uma empresa.

Existe uma ética padrão?


Algumas profissões possuem conselhos responsáveis pela criação de códigos
de ética específicos, como é o caso dos médicos, dos advogados, das
engenharias etc. No entanto, estes códigos se referem a procedimentos e
normas padrões das áreas, e são necessários por uma questão de segurança.
Eles preveem penas disciplinares em lei para violações. No entanto, há
comportamentos que devem ser adotados em qualquer que seja a área, por
contribuírem para o bom funcionamento do trabalho.

Quais são os principais fatores componentes da ética profissional?


Os elementos mais importantes da ética profissional são muito semelhantes aos
da ética social. São eles:
Honestidade: É um preceito básico para a convivência tanto pessoal quanto
profissional. Falar sempre a verdade, não culpar colegas por erros seus e
assumir falhas próprias são atitudes honestas e de valor para uma vida
profissional ética e reta.

Sigilo: Alguns assuntos são confidenciais por segurança, e não é nada ético
sair falando aos quatro ventos sobre coisas que não dizem respeito a
determinados públicos. Informações sigilosas geralmente estão protegidas por
lei e, caso algum funcionário quebre este protocolo, a pena é certa.

Competência: A competência envolve também o compromisso, a organização


e a capacidade de ajudar os demais, tudo com a finalidade de realizar um bom
trabalho de forma geral.

Prudência: Ter noção da hierarquia, cuidado com comentários, brincadeiras e


atitudes que podem até mesmo ofender os demais. É importante ainda ter

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga


prudência na realização das tarefas, fazer tudo da forma mais correta possível,
sem “atalhos” ou “jeitinhos”.

Humildade: Perguntar quando há dúvidas, no caso do empregado. É ouvir os


subordinados, no caso do líder. Ou, para ambos, reconhecer erros e aprender
com eles.

Imparcialidade: Tratar a todos de maneira igual, independentemente do cargo


que ocupam. Ser imparcial é mais importante ainda para os gestores. É comum
as relações profissionais extrapolarem os limites do escritório, mas é
imprescindível saber separar a relação pessoal da profissional.

A ética profissional vale para todos, independentemente de cargo.


Comportamentos antiéticos praticados por líderes invariavelmente abalam o
clima organizacional, prejudicando o rendimento da equipe. Seja respeitoso e
responsável, dessa maneira o sucesso profissional ficará mais próximo de você.

Boa leitura

Textos de apoio: Bioética e Biodireito Prof: Manuela C. G. da Veiga

Você também pode gostar