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Introdução à:

INTRODUÇÃO À Ética e à bioética


Um olhar hospitaleiro para a visão global da pessoa doente
ITINERÁRIO DA FORMAÇÃO

01 02 03
NOCÕES BÁSICAS DE ÉTICA Ética nas relações Da ética à bioética
Conceitos de Ética e de Moral Ética enquanto relação do Noção e fundamentação da bioética
indivíduo consigo e com o outro Características da Bioética
Princípios da Bioética

04 05 06
Directrizes éticas na psicoética Dilemas éticos Estudo e discussão de casos
Traços éticos fundamentais Modelo de cinco etapas para o Exercícios práticos
processo de análise e reflexão
crítica
“Uma pessoa vale mais que
o mundo inteiro!”

S. Bento Menni
(Fundador da Casa de Saúde do Telhal)
01
Nocões básicas de ética
Conceitos de Ética e de Moral
10 palavras chave em ética
● •Consciência Moral
● •Dever
● •Felicidade
● •Justiça
● •Liberdade
● •Pessoa
● •Razão Prática
● •Sentimento Moral
● •Valor
● •Virtude
O que é a ética? – história e muito breve resumo
O que é e como funciona a relação entre valores e comportamentos humanos?

Origem
O estudo da ética, em linhas gerais, compreende um ramo da filosofia que
estuda a acção humana a partir dos diferentes princípios e valores que a
orientam.

Estes valores estão associados ao que consideramos bom, justo ou


correcto, e variam de sociedade para sociedade.
O que é a ética? – história e muito breve resumo
O que é e como funciona a relação entre valores e comportamentos humanos?

A PALAVRA
A palavra “ética” tem origem do grego "ethos", que significa “costume”,
“carácter” ou “modo de ser”.
Sob alguns aspectos, a palavra ética é algumas vezes considerada
sinónimo de “moral”, que vem do latim “mos” ou “mor”, e que possui, na
origem da palavra, o mesmo significado.
Mas afinal, moral e ética são a mesma coisa?
O que é a ética? – história e muito breve resumo
O que é e como funciona a relação entre valores e comportamentos humanos?

Discussões – ÉTICA x MORAL


Como já vimos a ética é um ramo da filosofia que estuda os princípios que
regem a acção dos homens. Por outras palavras, ela analisa os valores por
detrás das acções humanas.
A moral, por sua vez, consiste justamente nesses valores: pode ser definida
como o conjunto de regras que determinam os comportamentos.
Apesar de os dois termos serem vistos como sinónimos de “agir bem” ou
de “agir correctamente”, ética e moral não são necessariamente a mesma
coisa.
De certa forma, a ética é uma reflexão sobre a moral.
O que é a ética? – história e muito breve resumo
NEM TUDO O QUE É MORAL É ÉTICO – CASO ROSA PARKS, NOS EUA

Uma vez que moral é o conjunto de Assim, a partir do seu julgamento, a


regras aceites pela cultura, educação ou moral vigente não era ética.
tradição, e ética é o julgamento feito
sobre elas, quando Rosa Parks, em 1955, Este parece-me um bom exemplo para
se recusou a dar lugar a um homem não se confundir ética com moral
branco no autocarro, deu início a um
“qui pro quo” danado nos EUA a partir
do Alabama.

Ela considerou que aquela regra não


era justa e que não promovia o bem.
02
Ética nas relações
Ética enquanto relação do indivíduo consigo e com o outro
Ética nas relações

ÉTICA x MORAL – sobre a relação entre elas


é importante destacar:

Enquanto a ética oferece uma Qualquer mudança na moral (ou


reflexão crítica acerca da moral, seja, nos valores de um
é a moral que dá base para a determinado grupo social),
existência da própria ética interfere diretamente na ética
(isto é, nas reflexões acerca dos
comportamentos deste grupo).
03
Da ética à bioética
Noção e fundamentação da bioética
Características da Bioética
Princípios da Bioética
10 palavras chave em bioética
● •Humanização
● •Aborto
● •Eutanásia
● •Morte
● •Reprodução assistida
● •Manipulação genética
● •Psicoética
● •Doenças infecciosas
● •Drogas
● •Ecologia
Da ética à bioética

Definição
«Bioética» é um termo criado por Potter em 1970. É formado por duas
palavras de origem grega. Bios, que significa «vida» e ethos, que significa
«costume». Etimologicamente: ética da vida.
Pode, então, definir-se como: a ciência que regula a conduta humana no
campo da vida e da saúde, à luz dos valores morais racionais.
Noção e fundamentação da bioética
Van Potter estava preocupado com a Um dos conceitos que definem Bioética (“ética da
dimensão que os avanços da ciência, vida”) é que esta é a ciência que tem como objetivo
principalmente no âmbito da biotecnologia, indicar os limites e as finalidades da intervenção do
estavam a adquirir. Assim, propôs um novo homem sobre a vida, identificar os valores de
ramo do conhecimento que ajudasse as referência racionalmente proponíveis, denunciar os
pessoas a pensar nas possíveis implicações riscos das possíveis aplicações. Para isso, a Bioética,
(positivas ou negativas) dos avanços da como área de pesquisa e de reflexão, necessita de
ciência sobre a vida (humana ou, de uma ser estudada por meio de uma metodologia
maneira mais ampla, de todos os seres vivos). interdisciplinar. Isto significa que profissionais de
Ele sugeriu que se estabelecesse uma “ponte” diversas áreas (profissionais da educação, do
entre duas culturas, a científica e a direito, da sociologia, da economia, da teologia, da
humanística, guiado pela seguinte frase: psicologia, da medicina etc.)devem participar das
discussões sobre os temas que envolvem o impacto
“Nem tudo que é cientificamente possível é da tecnologia e das intervenções sobre a vida.
eticamente aceitável”.
INFOGRÁFICO (DIAGRAMA)

bioética

Bio (vida) ética

ética da vida
(CONCORREM OS SABERES DO DIREITO, DA SOCIOLOGIA, DA EDUCAÇÃO, DA TEOLOGIA, DA ECONOMIA, DA MEDICINA, da psicologia, ETC…)
Caracteristicas da bioética

É humana É racional É universal É interdisciplinar


Diz respeito directamente à Regula os comportamentos É válida para todos os Serve-se da colaboração
vida e à saúde do homem e, segundo valores morais homens sem distinção de de diversas disciplinas:
indirectamente, ao ambiente sobre a dignidade da pessoa cultura ou religião, porque é biologia, medicina, direito,
em que vive. humana fundada unicamente sobre filosofia, etc…
a razão humana;
FundamentOS da
bioética
O VALOR DA VIDA HUMANA
O fundamento ético será
sempre a base para a nossa
tomada de decisão.
fundamentos DA bioética
Existem diversas propostas para estabelecer Se esse fundamento não está bem entendido,
quais são os critérios (o fundamento, a base) corremos o risco de não enfrentar de maneira
que nos devem orientar nos processos de adequada os desafios éticos com que nos
decisão com os quais nos podemos deparar deparamos. Entretanto, uma vez compreendido
na nossa reflexão bioética. Para nós, o esse fundamento, ele não precisa de ser lembrado
fundamento ético é como se fosse a estrutura a todo o tempo (como a estrutura de um prédio
de um prédio. A fundação do prédio é a que, no final da construção, nós não vemos, mas na
estrutura que permite que a construção seja qual confiamos quando entramos no edifício). O
feita e que o prédio permaneça em pé. Se a fundamento ético será sempre a base para a nossa
estrutura não for bem feita, o prédio desaba. tomada de decisão.
O nosso fundamento ético é tão importante
quanto a estrutura de um prédio. Mas qual é esse fundamento? .
Para trilhar um caminho correcto diante dos diversos desafios
éticos com que nos podemos deparar precisamos de uma “base
sólida”, de um fundamento, que nos oriente nos momentos de
decisão.

ESSE FUNDAMENTO É A PESSOA HUMANA.

o valor da vida humana


Definir o que é a pessoa pode ser uma
tarefa difícil (e que os filósofos
costumam estudar arduamente),
porém entender o que é a pessoa é
algo que fazemos todos os dias
quando nos olhamos ao espelho.

Nós conhecemos a “pessoa humana”


porque somos “pessoas humanas”.

Mas quais são os conceitos que


existem na realidade da pessoa dos
quais nos devemos lembrar por serem
importantes na abordagem das
questões bioéticas?
o valor da pessoa humana

Isso significa que as pessoas são diferentes (mesmo os gémeos


a A pessoa é unica idênticos são diferentes), têm as suas características, os seus anseios,
as suas necessidades, e esse património, essa identidade, merece ser
respeitado (para que as pessoas não sejam tratadas como
números).Reconhecer que “o outro é diferente de mim ”não significa
que uma pessoa é melhor que a outra. Uma pessoa não vale mais que
a outra. Somos iguais a todos no que se refere à dignidade.

b É PROVIDA DE DIGNIDADE Isso significa que a pessoa tem valor pelo simples facto de ser pessoa.

Dimensão biológica (que as ciências da saúde, medicina,


É composta de diversas enfermagem, odontologia, fisioterapia e outras estão acostumadas
c dimensões a estudar), dimensão psicológica (que os psicólogos estudam
detalhadamente), dimensão social ou moral (estudada pelas
ciências sociais) e dimensão espiritual (estudada pelas
teologias).Por isso, dizemos que a pessoa é uma totalidade, pois
todas essas dimensões juntas compõem a pessoa.
Quando nos relacionamos com uma pessoa e não a respeitamos em todas as
suas dimensões, essa pessoa sentir-se-á desrespeitada e ficará insatisfeita
(história do Libório).

Assim, todas as nossas reflexões e acções diante das pessoas (seja em


situações de conflitos éticos ou não) devem ser guiadas pelo respeito a esse
fundamento, a pessoa humana (entendida como um ser único, que é uma
totalidade e dotado de dignidade).

Quando conseguimos agir dessa maneira, ou seja, respeitando esse


fundamento, podemos estar certos de que estamos a agir de forma ética.
O valor da vida humana
Outro conceito importante para construirmos a nossa reflexão ética/bioética é o de

VIDA HUMANA
Para a Bioética, é fundamental o respeito pela vida humana. Mas o que é que designamos de vida
humana?

Segundo os principais livros de Embriologia, a Este é o primeiro estágio de desenvolvimento de


vida humana inicia-se no exacto momento da cada um de nós. A nossa experiência humana
fecundação, quando o gameta masculino e o mostra que o desenvolvimento de todos nós se deu
gameta feminino se juntam para formar um da mesma maneira, ou seja, a partir da união dos
novo código genético. Esse código genético gametas do pai e da mãe.
não é igual ao do pai nem ao da mãe, mas é
composto por 23 cromossomas do pai e de
23cromossomas da mãe. Sendo assim, nesse
momento, inicia-se uma nova vida, com
património genético próprio, e, a partir desse
momento, essa vida deverá ser respeitada.
O valor da vida humana
a) Contínuo = porque é ininterrupto na sua duração. (Estar
vivo representa dizer que não existe interrupção entre
sucessivos fenómenos integrados. Se houver interrupção,
haverá a morte.
Além disso, a
vida é um b) Coordenado = significa que o ADN do próprio embrião é
processo que responsável pela gestão das etapas do seu desenvolvimento.
Esse código genético coordena as actividades moleculares e
pode ser celulares, o que confere a cada indivíduo uma identidade
genética.

c) Progressivo = porque a vida apresenta, como propriedade,


a gradualidade, na qual o processo de desenvolvimento leva a
uma complexidade cada vez maior da vida em formação.
Após a compreensão desse fundamento (o respeito pela pessoa e
pela vida humana), podemos utilizar “ferramentas” para facilitar o
nosso processo de estudo e de decisão sobre os diversos temas de
Bioética.

A essas ferramentas chamamos princípios.


Princípios da bioética
Princípios da bioética

1. BENEFICÊNCIA

2. NÃO MALEFICÊNCIA

3. AUTONOMIA
4. JUSTIÇA

NOTA: A título pessoal gosto de acrescentar a EQUIDADE.


Principios da bioética

Beneficência / não maleficência


O primeiro princípio que devemos considerar na reflexão bioética é o da beneficência /
não maleficência (também conhecido como benefício / não malefício).
O benefício (e o não malefício) do paciente (e da sociedade) sempre foi a principal
razão do exercício das profissões que envolvem a saúde das pessoas (física ou
b
psicológica).
Beneficência significa “fazer o bem”, e não maleficência significa “evitar o mal”.
Desse modo, sempre que se propuser um tratamento ou uma intervenção a um
paciente, deverá reconhecer-se a dignidade do paciente e considerá-lo na sua
totalidade (todas as dimensões do ser humano devem ser consideradas: física,
psicológica, social, espiritual…), procurando oferecer-lhe o melhor
tratamento/intervenção, tanto no que diz respeito à técnica quanto no que se refere ao
reconhecimento das necessidades físicas, psicológicas ou sociais da pessoa. Um
profissional deve, acima detudo, desejar o melhor para o seu paciente, para lhe
estabelecer ou promover a saúde, ou para prevenir um agravamento.
Principios da bioética

autonomia
O segundo princípio que devemos utilizar como “ferramenta” para o enfrentamento de questões
éticas é o princípio da autonomia.
De acordo com esse princípio, as pessoas têm “liberdade de decisão” sobre a sua vida. A
autonomia é a capacidade de autodeterminação de uma pessoa, ou seja, o quanto ela pode
gerir a sua própria vontade, livre da influência de outras pessoas.
b que o respeito pela autonomia das pessoas seja possível, duas condições são
Para
fundamentais: a liberdade e a informação. Isso significa que, num primeiro momento, a pessoa
deve ser livre para decidir. Para isso, ela deve estar livre de pressões externas, pois qualquer
tipo de pressão ou subordinação dificulta a expressão da autonomia.
A correcta informação das pessoas é que possibilita o estabelecimento de uma relação
terapêutica ou a realização de uma pesquisa. A primeira etapa a ser seguida para minimizar
essa limitação é reconhecer os indivíduos vulneráveis (que têm limitação de autonomia) e
incorporá-los ao processo de tomada de decisão de maneira legítima. Assim, será possível
estabelecer uma relação adequada com o paciente e maximizar a sua satisfação com o
tratamento.
Principios da bioética

justiça

O terceiro princípio a ser considerado é o princípio de justiça. Este refere-se à


igualdade de tratamento e à justa distribuição dos recursos, como as verbas do Estado
para a saúde, para a pesquisa etc.
Gosto
b de acrescentar outro conceito ao de justiça: o conceito de equidade que
representa dar a cada pessoa o que lhe é devido segundo as suas necessidades, ou
seja, incorpora-se a ideia de que as pessoas são diferentes e que, portanto, também
são diferentes as suas necessidades.
De acordo com o princípio da justiça, é preciso respeitar com
imparcialidade o direito de cada um. Não seria ética uma decisão
que levasse um dos personagens envolvidos (profissional ou
paciente)a prejudicar-se.
Princípios da bioética (resumo)

1. BENEFICÊNCIA

2. NÃO MALEFICÊNCIA

3. AUTONOMIA
4. JUSTIÇA
5. (EQUIDADE)
04
DIRECTRIZES ÉTICAS NA PSICOÉTICA
Traços éticos fundamentais
directrizes éticas da psicoética
1 O doente tem direito ao tratamento

E este deve ser concretizado no tratamento que for mais apropriado para
cada doente no leque de modelos terapêuticos hoje existentes.

O doente tem direito a dispor do serviço terapêutico


2 prestado por um indivíduo que seja competente

E a competência do profissional deve existir tanto no campo técnico como


no ético .
directrizes éticas da psicoética
3 O doente tem direito a pagar honorários razoáveis

O doente tem direito a um terapeuta que esteja apenas


4
Preocupado em promover o seu melhor intersse e o seu bem estar pessoal
Princípio da Beneficência

O doente tem direito a ser informado do plano de tratamento para,


5
desse modo, dar o seu prévio consentimento
Princípio da autonomia
directrizes éticas da psicoética
O doente tem direito a consultar outros terapeutas e, se o necessitar,
6
a ser encaminhado para outros profissionais
E este deve ser concretizado no tratamento que for mais apropriado para
cada doente no leque de modelos terapêuticos hoje existentes.

O doente tem direito a que os seus dados sobre o processo terapêutico


7 Sejam guardados em arquivo seguro. Tem também direito a dispor de
cópias para outros profissionais, se assim o desejar
Os dados da história clínica são propriedade do doente.
directrizes éticas da psicoética
8 O doente tem direito à privacidade e à confidencialidade

Sempre que daí não derivem danos graves contra terceiros ou contra si
próprio no que diz respeito à vida ou à saúde pessoal

Há pessoas com doença mental em que é importante considerar o risco para a própria vida ou para a
dos outros (depressivos, paranoides e agressivos…).Dever-se-ia incluir também o perigo para a vida
ou integridade física do próprio terapeuta. Não se pode exigir eticamente ao terapeuta que permaneça
inactivo se existe essa ameaça contra si. Igualmente não se pode manter a confidencialidade se existir
o risco de que o paciente possa ocasionar gravíssimos danos materiais(pensemos nos pirómanos, ou
nos destruidores de obras de arte, como o caso de La Pietá), embora não exista ameaça objectiva
contra a vida ou a integridade física de terceiros. Nestes casos deverá fazer-se uma avaliação dos
danos implicados em ambas as partes.
directrizes éticas da psicoética
O doente tem direito a exigir a reparação dos danos que possam ser
9
ocasionados na terapia

O doente tem direito a uma experiência terapêutica


10 com um determinado limite

A não ser tratado sem necessidade ou por tempo indefinido

O doente tem direito a não ser explorado, enganado ou manipulado por


11 Meio da informação que se lhe dá, ou pelo poder da sugestão que
O terapeuta exerce

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