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BIOÉTICA

Profa. Esp. Danielli A. Lavelli

UNIDADE I – BIOÉTICA
1. INTRODUÇÃO
A Bioética tem como objetivo facilitar o enfrentamento de questões
éticas/bioéticas que surgirão na vida profissional.
Sem os conceitos básicos da bioética, dificilmente alguém consegue
enfrentar um dilema, um conflito, e se posicionar diante dele de maneira ética.
Assim, esses conceitos devem ficar bem claros para que as pessoas possam
refletir e saber como se comportar em relação às diversas situações da vida
profissional em que surgem os conflitos éticos.
O conteúdo a seguir se divide em 3 partes: Conceitos gerais, origem da
bioética e história e evolução na medicina veterinária. Ao final da leitura desta
unidade, você saberá diferenciar os conceitos em torno da ética, moral e bioética,
conhecerá os fatores históricos que influenciaram a origem da bioética e
aprenderá sobre a história da medicina veterinária. Além disso, será capaz de
refletir para responder a questões como: “Será que minha conduta profissional
está fundamentada em princípios éticos?” ou “Estou agindo da maneira mais
adequada?”.

2. CONCEITOS GERAIS
2.1 Ética X Moral
O jeito próprio de cada indivíduo ou de cada povo viver, relacionar, se
organizar, agir no mundo é o que denominamos de ethos. Ética e Moral tem o
mesmo significado, porém uma tem origem grega e a outra do latim. A palavra
“Ética” do grego ethos, quer dizer ciência dos costumes, caráter ou modo de ser.
Os romanos traduziram o ethos grego, para o latim “mos” ou “mores” que traz o
mesmo significado, ou seja, a ciência dos costumes, normas de conduta própria
de uma cultura e de uma sociedade, valores, de onde surgiu a palavra moral
(BENTO, 2005).
Tanto ethos como mos indicam um tipo de comportamento humano que
não é natural, mas é adquirido ou obtido por hábito, conduta de vida que é
específica do homem. Etimologicamente, refere-se a uma realidade humana que
é produzida socialmente e historicamente baseada nas relações coletivas dos
indivíduos, no meio social onde nascem e vivem.

Figura 1. Diferença entre ética e moral. Fonte: netmundi.org

Na rotina as pessoas não diferenciam ética e moral. Entretanto, para


possibilitar o entendimento daquilo que se quer dizer, alguns conhecedores
preferem fazer uma diferenciação entre as duas palavras. Deste modo, a moral
é prática, representa um conjunto de ideias, de normas, princípios, preceitos,
costumes, valores, atos repetidos, tradicionais, que orientam o comportamento
do indivíduo no seu grupo social em um determinado local em um determinado
período, declarado válido por uma determinada comunidade (BENTO, 2005).
A moral consiste em princípios e regras morais fixas, ou seja, ela é
normativa. Por exemplo, não mentir, não matar, não roubar, são normas morais
que estão presentes em todas as culturas cujo todos estão de acordo. Mas não
se trata somente de questões mais graves, pode-se aplicar a questões simples
do dia-a-dia de uma sociedade como a regulamentação da vida em uma
faculdade. Por exemplo, se professores e alunos estabelecem princípios de
conduta, estão fazendo ética. Em uma universidade, se alunos e professores
concluem que, durante o ano letivo deverão se relacionar segundo os princípios
da igualdade, da compreensão, da solidariedade, do diálogo, e da liberdade
entre as pessoas, eles estabelecerão normais morais e fazendo ética. Isso quer
dizer que a ética é muito democrática e que as normas morais podem ser
estabelecidas de forma democrática (JUNQUEIRA, 2007).
A ética é definida como a ciência do comportamento moral dos humanos,
é teoria, estudo, reflexão, debate, que visa justificar, compreender, explicar
racionalmente e criticar a moral (valores e ideias), buscando assegurar harmonia
social e ajustar interesses individuais e coletivos. Enquanto a moral é mais
concreta, ela julga o que é uma boa ou má conduta.
Tanto ética como moral se referem à convivência humana e devem ser
realizadas em favor da experiência dos valores fraternos e harmônicos. Ambas
são comunitárias e tem por objetivo buscar a harmonia, a felicidade humana e a
união com o universo (BENTO, 2005).

Figura 2. Ética x moral. Fonte: isto é filosofia.com.br

Portanto, a ética está relacionada à discussão dos valores e da moral.


Entretanto, ser ético não se constitui simplesmente em seguir a moral e os
costumes predominantes na sociedade. Obedecer ao que é determinado por
outro, simplesmente não torna um indivíduo ético. A ética tem relação com
autonomia pessoal. O caráter é formado justamente nas decisões éticas das
pessoas. Consequentemente, a ética nos coloca em situações de escolha.
Quando precisamos escolher entre dois caminhos, em que ambos apresentam
aspectos positivos e negativos, estamos testando nossa ética. Deste modo, são
indispensáveis consciência e responsabilidade para uma vida ética (FORTES,
2003).
2.2 Bioética

Bio: conhecimento científico. Ética: Ciência que julga os atos humanos


como “bons” ou “maus”.
A bioética surgiu no início da década de 1970, após a publicação de duas
obras de suma importância de um professor pesquisador americano da área de
oncologia, Van Rensselaer Potter.

Van Potter estava preocupado com a dimensão que os


avanços da ciência, principalmente no âmbito da
biotecnologia, estavam adquirindo. Assim, propôs um novo
ramo do conhecimento que ajudasse as pessoas a pensar
nas possíveis implicações (positivas ou negativas) dos
avanços da ciência sobre a vida (humana ou, de maneira
mais ampla, de todos os seres vivos). Ele sugeriu que se
estabelecesse uma “ponte” entre duas culturas, a científica
e a humanística, guiado pela seguinte frase: “Nem tudo
que é cientificamente possível é eticamente aceitável”
Figura 3. Van Rensselaer Potter. Fonte: Bioethics: the bridge to the future, 1971.

Um dos conceitos que definem Bioética (“ética da vida”) é que esta é a


ciência que tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção
do homem sobre a vida, identificar os valores de referência racionalmente
proponíveis, denunciar os riscos das possíveis aplicações (LEONE; PRIVITERA;
CUNHA, 2001).
Para isso, a Bioética, como área de pesquisa, necessita ser estudada por
meio de uma metodologia interdisciplinar. Isso significa que profissionais de
diversas áreas (profissionais da medicina, psicologia, veterinária, educação, do
direito, da sociologia, da economia, da teologia, etc.) devem participar das
discussões sobre os temas que envolvem o impacto da tecnologia sobre a vida.
Todos terão alguma contribuição a oferecer para o estudo dos diversos temas
de Bioética. O progresso científico não é um mal, mas a “verdade científica” não
pode substituir a ética (JUNQUEIRA, 2007).
A Bioética contribui para que as pessoas determinem “uma ponte” entre
o conhecimento científico e o conhecimento humano, com o intuito de evitar
impactos negativos que a evolução tecnológica pode trazer sobre a vida.
Em decorrência da influência histórica, social e cultural vivenciada, é
preciso estar atento; pois do contrário, pode-se correr o risco de perder os
princípios que conduzem as atividades profissionais, para que as atitudes sejam
éticas. Se o processo de construção da reflexão ética/bioética, partindo do
fundamento bioético e do respeito a seus princípios, for seguido, agir eticamente
diante de uma situação ou conflito ético acontecerá naturalmente (JUNQUEIRA,
2009).

3. HISTÓRIA DA BIOÉTICA
3.1 Origem da Bioética
Um artigo publicado em 1927, no periódico alemão Kosmos, Fritz Jahr
usou a palavra bioética pela primeira vez. Ele a definiu como sendo o
reconhecimento das obrigações éticas, para todos os seres vivos, não apenas
ao ser humano (CNS, 2016). Fritz Jahr, ao final do seu artigo, sugere um
“imperativo bioético”: respeita todo ser vivo essencialmente como um fim em si
mesmo e trata-o, se possível, como tal.
No entanto, a criação da bioética é conferida a Van Rensselaer Potter,
como vimos anteriormente, caracterizando-a como a ciência da sobrevivência,
em 1970. Potter conceituou a Bioética como sendo uma Ponte (COSTA JÚNIOR,
2015), no sentido de determinar uma conexão entre as ciências e a humanidade,
o que assegura a possibilidade do futuro. A Bioética teve uma outra origem
paralela em língua inglesa. Ainda no ano de 1970, André Hellegers utilizou esse
termo para denominar os novos estudos que estavam sendo propostos na área
de reprodução humana, ao criar o Instituto Kennedy de Ética, então denominado
de Joseph P. and Rose F. Kennedy Institute of Ethics. Posteriormente, no final
da década de 1980, Potter enfatizou a característica interdisciplinar e abrangente
da Bioética, denominando-a de global (KOTTOW, 2008). O objetivo era incluir
as discussões e reflexões nas questões da medicina e da saúde, ampliando as
mesmas aos novos desafios ambientais, ou seja, ele buscava restabelecer o foco
original da Bioética, incluindo, e não restringindo. Em 1998, Potter redefiniu a
Bioética como sendo uma Bioética profunda (deep bioethics). A Bioética
profunda é “a nova ciência ética”, que combina humildade, responsabilidade e
uma competência interdisciplinar, intercultural, que potencializa o senso de
humanidade (KOTTOW, 2008).
A Bioética, dessa forma, nasceu provocando a inclusão das plantas e dos
animais na reflexão ética, já realizada para os seres humanos. A visão
integradora do ser humano com a natureza como um todo, em uma abordagem
ecológica, foi a perspectiva mais recente. Assim, a Bioética não pode ser
abordada de forma restrita ou simplificada (SCHRAMM; PALACIOS; REGO,
2008).
No Brasil, a Bioética incluiu-se como um campo de estudos, adaptando-
se à realidade brasileira e às propostas discutidas mundialmente, somente a
partir de 1990 (GARRAFA, 2000). O país esteve sob a ditadura militar, o que
dificultou a consolidação de uma área de conhecimento que se propunha a
discutir questões éticas pertinentes à autonomia e à dignidade humana
(GARRAFA, 2005).
No âmbito nacional, sua evolução refere-se diretamente com a
promulgação da Constituição democrática de 1988, tornando-se de imenso valor
o trato das questões inerentes aos direitos humanos. No mesmo ano, aconteceu
a elaboração de um novo código de ética médico, que passou por um processo
de revisão, atualização e ampliação, modificando as relações no país no fim da
década de 80 e contribuindo para o processo de redemocratização. Esta
atualização produzida durante a 1ª Conferência Nacional de Ética Médica,
realizada de 24 a 28 de novembro de 1987, trouxe avanços significativos para o
exercício da medicina em todo Brasil. A bioética brasileira até o ano de 1998,
ainda era uma cópia colonizada dos conceitos vindos dos países do Hemisfério
Norte, porém a narrativa começou a mudar a partir de 2002 (VIEIRA, 1988).

INDICAÇÃO DE LEITURA

Livro: Experimentação com seres humanos de Hossne e Vieira, publicado em


1988, foi apontado como um marco deste período acerca das pesquisas que
envolvem seres humanos e as preocupações geradas em torno delas.

3.2 Criação dos Comitês de Ética


Durante a segunda Guerra Mundial houve os maiores e piores crimes
contra a humanidade, ultrapassando todos os limites de crueldade, indignidade
e irresponsabilidade contra prisioneiros de guerra em campos de concentração.
As barbaridades envolvendo médicos e pesquisadores alemães foram reveladas
para a sociedade, que se organizou para julgar os criminosos de guerra no
Tribunal de Nuremberg, em 1947, julgamento este promovido pelos Estados
Unidos da América (FIGUEIREDO, 2011). Muitas pessoas foram obrigadas a
participar de experimentos de sofrimento de dor extrema. Principalmente os
médicos alemães lideravam experimentos da medicina pseudocientífica,
aplicando-os em centenas de pessoas, dentre os prisioneiros dos campos de
concentração, sem seu consentimento (COSTA JUNIOR, 2015). No Tribunal de
Nuremberg 20 médicos foram condenados por acusações de tortura disfarçada
de pesquisa (KOTTOW, 2008). Após as condenações pelo Tribunal de
Nuremberg, houve uma preocupação com os direitos dos pesquisados e da ética
envolvida nessas pesquisas. Posteriormente às condenações foi criado o Código
de Nuremberg. Nele, foram ditadas as primeiras normas éticas internacionais
para pesquisas envolvendo seres humanos, ficando explícita a obrigatoriedade
da livre vontade do indivíduo em fazer parte do experimento (KOTTOW, 2008).
O Código de Nuremberg, por vários anos, estabeleceu-se como medida
da valorização e do respeito ao ser humano no campo da experimentação
científica (XAVIER, 2000). Todavia, apesar da existência de diretrizes
internacionais sobre a ética em pesquisa, apresentada no Código, essas
diretrizes não eram amplamente aplicadas pelos médicos e cientistas em seus
estudos. Isto evidenciava que as pesquisas realizadas em países desenvolvidos
não expressavam critérios éticos aceitáveis e normatizados (COSTA, 2009).
Essas circunstâncias levaram a Associação Médica Mundial a elaborar a
Declaração de Helsinque, em 1964, na Finlândia, com o objetivo de estabelecer
critérios éticos para subvencionar as pesquisas na área médica. A Declaração
de Helsinque alcançou uma força histórica, com isso acabou tornando-se um
documento normativo global, denotado como referência moral e posto, muitas
vezes, acima da própria legislação de países, a partir de sua unânime aceitação
mundial (GARRAFA; LORENZO, 2008).
O relatório de Belmont surgiu em 1978, apresentando alguns princípios
éticos que devem ser exigidos em todas as pesquisas com humanos. É
importante destacar que, após esse relatório, a Declaração de Helsinque foi
revisada mais três vezes, em 1983, 1989 e 2000 (MELGAREJO; SOTT, 2011).
Constata-se que, em todas as revisões, houve um avanço significativo nas
pesquisas médicas e biomédicas realizadas em humanos. Contudo, alguns
pesquisadores continuavam conduzindo experimentos abusivos pela falta de
regulamentação e organizações que fiscalizassem suas ações. Percebeu-se, no
decorrer dos anos, a necessidade da criação de comitês de ética em pesquisa
que seriam fiscalizadores da atuação dos pesquisadores, impedindo
experimentos danosos aos indivíduos pesquisados, garantindo-lhes seus
direitos fundamentais e a dignidade da pessoa humana (MELGAREJO; SOTT,
2011).
No Brasil, somente na década de 80, demonstra-se o interesse do
Conselho Nacional de Saúde pelo controle das atividades em pesquisa
(FREITAS, 2006). Havia a preocupação de um grupo de pesquisadores sobre
experimentos envolvendo seres humanos e a indústria farmacêutica, já que o
Brasil participava em pesquisas, cujos autores estavam em países centrais, que
exigiam comprovadamente medidas de proteção para as pessoas envolvidas.
Nesse período já se discutia sobre questões de ética em pesquisa com seres
humanos e seus desdobramentos em países de todo o mundo. A primeira norma
que estabelecia critérios para pesquisa no Brasil – nº 1 de 18 de junho de 1988
do Conselho Nacional de Saúde (CNS) – previa a criação de comitês de ética
em pesquisa para avaliação de projetos na área de saúde. Esse era um assunto
relevante para o CNS – instância colegiada com representantes de diferentes
segmentos da sociedade –, pois compreendia controle social e participação da
comunidade (FREITAS, 2006).
Os comitês de ética em pesquisa, no Brasil, passaram a ser
regulamentados pela resolução 466/12, de 2012, revisando as pesquisas para
garantir que fossem realizadas dentro dos princípios da ética (MELGAREJO;
SOTT, 2011).
Atualmente, os comitês de ética em pesquisa são considerados
colegiados interdisciplinares e independentes, de relevância pública, de caráter
consultivo, deliberativo e educativo, desenvolvidos para defender os interesses
dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e para colaborar
na evolução da pesquisa dentro dos princípios éticos (CNS, 2012).

3.3 Noções Básicas de Ética Profissional na Medicina Veterinária

Um profissional deve cumprir os princípios éticos da sociedade e as


normas e regimentos internos das organizações. A ética profissional proporciona
ao profissional um exercício diário e prazeroso de honestidade,
comprometimento, confiabilidade, entre muitos outros, que direcionam o seu
comportamento e a tomada de decisões em suas atividades. A gratificação vem
através do reconhecimento, não só pelo seu trabalho, mas também por sua
conduta exemplar (ARRUDA, 2001).
Com base nos valores morais existentes, existem alguns fundamentos da
ética profissional que determinam que a sociedade valoriza os profissionais que
possuam os seguintes requisitos éticos:
● Honestidade enquanto ser humano e profissional
● Perseverança na busca de seus objetivos e metas
● Conhecimento geral e profissional para oferecer segurança na execução
das atividades profissionais
● Responsabilidade na execução de qualquer tarefa
● Iniciativa para buscar solucionar as questões apresentadas
● Imparcialidade na execução do trabalho e na apresentação de resultados e
sugestões
● Atualização constante e contínua
● Trabalho em grupo de modo que seja construído um espírito de equipe
● Eficiência na execução das tarefas, buscando aprimorar a qualidade
● Eficácia ao fazer o trabalho, visando atingir o resultado esperado
● Ambição na busca de crescimento pessoal e profissional
● Controle emocional nos relacionamentos pessoais e profissionais, visando
a administração de conflitos
● Relacionamento interpessoal baseado na compreensão, ajuda mútua,
respeito e consideração
● Postura profissional, privilegiando as boas maneiras, a boa educação, a
comunicação adequada, os bons hábitos e a boa aparência.

Um bom profissional executa suas atividades com zelo e cuidados. Dentre


as ações éticas profissionais, destacamos:

● Comunicar-se corretamente
● Aprender ouvir os outros
● Melhorar o vocabulário
● Nunca insultar ou gritar
● Evitar violência
● Oferecer informações
● Praticar a Ética profissional
● Chamar o outro pelo nome
● Usar linguagem clara que facilite a compreensão
● Perguntar objetivamente e com clareza
● Ouvir as respostas com atenção e sem fazer interrupções
● Sintetizar o que ouviu
● Dar respostas adequadas às perguntas do interlocutor
● Olhar nos olhos, braços soltos, movimentos leves com as mãos
● Cuidar de sua apresentação pessoal
● Ao lidar com público, manter um sorriso cordial (ARRUDA, 2001)

INDICAÇÃO DE VÍDEO
Vídeo: Ética Profissional; como agir de forma ética no ambiente de trabalho.
https://www.youtube.com/watch?v=pEXhGE7Fd6s

Ações antiéticas:
● Roubar a ideia dos outros
● Mentir
● Enganar
● Omitir informações
● Coagir ou abusar de outra pessoa
● Permitir abusos na organização
● Violar regras institucionais
● Falar mal de colegas para você sobressair
● Sabotar o trabalho dos outros

O Código de ética é um documento criado pelos principais gestores de


uma organização, ou pelos Conselhos que regem uma profissão (Conselho
Federal de Medicina Veterinária (CFMV), na Medicina Veterinária), que tem por
objetivo apresentar os princípios, a missão, as atitudes e comportamentos
adequados do Médico Veterinário ou empresa, de forma a atender às
necessidades e os anseios da sociedade. Discutiremos de forma mais
aprofundada sobre os comitês e legislação na Medicina Veterinária no próximo
módulo (CAMARGO, 1999).
4. HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA MEDICINA VETERINÁRIA
4.1 Histórico
A medicina veterinária ou “ARS VETERINARIA” (a arte de curar animais,
como foi denominada na Roma Antiga) originou-se de observações e princípios
elementares desenvolvidos paralelamente com a “Medicina Humana” (MELO,
2014).
Pode-se dizer que o início do ensino formal da Medicina Veterinária se
deu no período após a Guerra dos 30 anos (início da Idade Moderna), onde
houve um crescente aperfeiçoamento da Medicina, inclusive da Veterinária,
resultando na necessidade de ensinar os serviçais a tratarem dos animais feridos
ou enfermos (BIRGEL, 2014).
A primeira escola de Medicina Veterinária do mundo foi instituída em Lyon,
na França, criada pelo hipologista e advogado francês Claude Bougerlat, a partir
do Édito Real assinado pelo Rei Luiz XV, em 04 de agosto de 1761. A primeira
turma de médicos veterinários iniciou com 8 alunos, em 19 de fevereiro de 1762.
A partir daí, novas escolas foram abrindo e a profissão foi se tornando cada vez
mais comum, alcançando, no final do século XVIII, 19 escolas, das quais 17
estavam em funcionamento (KOSHIYAMA, 2014).

4.2 Medicina Veterinária no Brasil


A família real portuguesa se viu forçada a mudar para o Brasil devido a
crise política e econômica enfrentada por Portugal. A instalação da sede do
Império no Rio de Janeiro trouxe avanços consideráveis para a Medicina
Veterinária, como para as áreas científicas e a vida cultural do país. No Brasil,
até então, não existiam bibliotecas, imprensa e ensino superior. As primeiras
faculdades foram fundadas em 1815 - faculdade de Medicina, 1827 - faculdade
de Direito e 1874 - faculdade de Engenharia (KOSHIYAMA, 2014).
As ciências agrárias despertavam imenso interesse em D. Pedro II. Foi
quando, viajando à França, em 1875, ele visitou a Escola Veterinária de Alfort e
se impressionou com a instituição e com uma conferência ministrada pelo
médico-veterinário fisiologista Gabriel-Constant Colin (1825-1896) (CRMV-SP,
2019).
O imperador retornou ao Brasil com o anseio de criar uma instituição
semelhante. D. Pedro II foi o primeiro homem público a reconhecer a importância
da formação de médicos-veterinários qualificados e, portanto, a necessidade de
uma organização de ensino científico sobre a Medicina Veterinária (CRMV-SP,
2019).
No início do século XX, já sob regime republicano, foram criadas as duas
primeiras instituições de ensino de Medicina Veterinária brasileiras, ambas na
cidade do Rio de Janeiro (RJ):
Decreto nº 2.232, de 6 de janeiro de 1910 - Escola de Veterinária do Exército:
aberta em 17 de julho de 1914.
Decreto nº 8.919, de 20 de outubro de 1910 - Escola Superior de Agricultura e
Medicina Veterinária: aberta em 4 de julho de 1913 (CRMV-SP, 2019).

SAIBA MAIS

A primeira mulher diplomada em Medicina Veterinária no Brasil, foi Nair Eugenia


Lobo, em 1929, pela Escola Superior de Agricultura e Veterinária, hoje
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

4.3 Símbolo da Medicina Veterinária


Embora não seja uma norma, lei ou diretriz, o símbolo da Medicina
Veterinária representa grande parte dos princípios éticos preconizados pelos
Órgãos reguladores da profissão e pelo Código de Ética do Médico Veterinário.
Até 1994 não havia um símbolo que representasse a Medicina Veterinária
no Brasil, logo, cada Conselho, Clínica, Instituição de ensino e outras empresas
usavam o símbolo que achassem mais apropriado. Com o objetivo de padronizar
o símbolo em nosso país, em outubro do ano citado, o CFMV instituiu um
concurso, em nível nacional, em que, entre 172 sugestões, uma foi escolhida
(Figura 4) (CFMV, 2019d).
Figura 4. Símbolo da Medicina Veterinária. Fonte: CFMV, 2019d.

4.4 Juramento
Ao final de nossa graduação, ao colarmos grau, proferimos o juramento
do Médico Veterinário, a seguir, também presente no Código de Ética:
“Sob a proteção de Deus, PROMETO que, no exercício da Medicina Veterinária,
cumprirei os dispositivos legais e normativos, com especial respeito ao Código
de Ética da profissão, sempre buscando uma harmonização entre ciência e arte
e aplicando os meus conhecimentos para o desenvolvimento científico e
tecnológico em benefício da sanidade e do bem-estar dos animais, da qualidade
dos seus produtos e da prevenção de zoonoses, tendo como compromissos a
promoção do desenvolvimento sustentado, a preservação da biodiversidade, a
melhoria da qualidade de vida e o progresso justo e equilibrado da sociedade
humana. E prometo tudo isso fazer, com o máximo respeito à ordem pública e
aos bons costumes. Assim o prometo” (CRMV).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Medidas atuais, como a criação dos comitês de ética, bem como o ensino
da ética, moral e bioética nas instituições, colaboram com o avanço científico e
o progresso do respeito da relação homem-animal. As questões éticas farão
parte do cotidiano de todas as profissões, cabendo a cada um buscar e tomar
decisões respeitando os princípios fundamentados na ética e na moral.
Nesta unidade, abordamos importantes conteúdos históricos de como se
originou a bioética e a Medicina Veterinária no mundo e no Brasil. Esse conteúdo
nos faz refletir que não houve conquistas fáceis e do quanto ainda é atual e de
extrema relevância falarmos e discutirmos sobre ética dentro das profissões,
principalmente na Medicina Veterinária, tendo em vista o respeito pelos seres
vivos. Um bom profissional alcançará o triunfo a partir de um espírito tenaz, forte,
obstinado, mas acima de tudo com ética, respeito e com amor à profissão.

UNIDADE II – DEONTOLOGIA E LEGISLAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

O termo Deontologia deriva das palavras gregas déon ou deontos, que


significam dever, e logos, que significa tratado. Sendo assim, podemos definir a
deontologia como um conjunto de deveres ou princípios de conduta adotados
por uma classe de profissionais, em nosso caso, os Médicos Veterinários.
Tais princípios são estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina
Veterinária (CFMV), órgão federal que regula e fiscaliza as atividades referentes
à profissão, em consonância com os Conselhos Regionais de Medicina
Veterinária (CRMV).
Nesta unidade iremos abordar os fatos históricos que levaram a
regulamentação da profissão no Brasil, bem como a criação dos conselhos
federal e regionais de Medicina Veterinária. Além disso, vamos destacar
algumas resoluções, normas e diretrizes que visam assegurar os direitos e
deveres dos graduados em Medicina Veterinária e assegurar o bem-estar animal
e da população.

2. REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO DE MÉDICO VETERINÁRIO E


LEGISLAÇÃO

2.1 Regulamentação Profissional


Apesar das primeiras escolas brasileiras surgirem do início do século XX,
o exercício da profissão só foi reconhecido em 1933, por meio do Decreto nº
23.133, assinado pelo presidente Getúlio Vargas, tendo como ministro da
Agricultura Juarez do Nascimento Fernandes Távora, reconhecido
posteriormente como patrono da Veterinária no Brasil. O decreto legalizou e
regulamentou o exercício da profissão de médico-veterinário, além de
estabelecer as diretrizes do ensino na área, que deveria seguir o padrão da
Escola Superior de Agronomia e Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV,
2019).
O decreto representou um grande marco na evolução da profissão no
Brasil. Por mais de três décadas foi ele que estabeleceu as condições e os
campos de atuação para o exercício da Medicina Veterinária. Por esse motivo,
a data de publicação do Decreto, 9 de setembro, foi escolhida para comemorar
o Dia do Médico Veterinário no Brasil. O mesmo estabeleceu a obrigatoriedade
do registro do diploma, o que começou a ser feito a partir de 1940, pela
Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário do Ministério da Agricultura,
órgão igualmente responsável pela fiscalização do exercício profissional.

DECRETO Nº 23.133 DE 9 DE SETEMBRO DE 1933 (CRMV, 2022)


Revogado pelo Decreto nº 99.678, de 1990
Regula o exercício da profissão veterinária no Brasil e dá outras
providências
O Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil,
usando das atribuições que lhe confere o artigo 1º do decreto n. 19.398 de
11 de novembro de 1930, resolve:
Art. 1º Fica criado o padrão do ensino de medicina veterinária no Brasil
constituído pela Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária do
Ministério da Agricultura.
Art. 2º O exercício da profissão de médico veterinário ou de veterinário em
qualquer de seus ramos, com as atribuições estabelecidas no presente
decreto só será permitido no território nacional.
Rio de Janeiro, 9 de setembro de 1933, 112º da Independência e 45º da
República.
2.2 Conselhos de Medicina Veterinária

O panorama econômico mundial do final dos anos de 1960 e o aumento


da produção e da comercialização de carnes no Brasil (em 1970, o consumo de
carne bovina atingiu 65% do total dos produtos de origem animal) reacenderam
a chama entre os médicos veterinários que defendiam a regulamentação do
exercício profissional e o estabelecimento do Conselho Federal e dos Regionais
de Medicina Veterinária (CFMV/CRMVs). O primeiro passo neste sentido havia
sido dado, em 1953, com a mobilização da classe em torno da elaboração de
um projeto de lei que reivindicava a instituição de uma entidade representativa,
apresentado ao Congresso Nacional, em 1957 (CRMV, 2019).
A promulgação da Lei nº 5.517, em 23 de outubro de 1968, estabelece a
criação do CFMV e dispõe sobre o exercício da Medicina Veterinária no País. A
publicação da Lei 5.550, que trata do exercício da Zootecnia, aconteceria apenas
dois meses depois, em 4 de dezembro de 1968, estabelecendo que o registro e
fiscalização do exercício profissional ficaria também a cargo dos Conselhos de
Medicina Veterinária, e não mais do Ministério da Agricultura. O Sistema
CFMV/CRMVs foi estabelecido como autarquia federal, dotada de personalidade
jurídica de direito público, adquirindo então, autonomia técnica, administrativa e
financeira, a partir do Decreto nº 64.704, de 17 de junho de 1969. Com a
decisão, cada Conselho Regional passaria a atuar como um braço do Conselho
Federal nas diversas regiões do Brasil. Os primeiros Conselhos Regionais foram
estabelecidos por meio da Resolução CFMV nº 05, de 28 de julho de 1969, de
acordo com a competência delegada por lei, sendo inicialmente 14 CRMVs,
designados pela ordem numérica e por região de atuação, todos localizados em
capitais (CRMV, 2019).

Figura 5. cfmv.gov.br
Um ano após a publicação, em 1969, nasce o Conselho Regional de
Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR), nas dependências da Sociedade
Paranaense de Medicina Veterinária. A eleição para a primeira diretoria do
Conselho foi realizada no dia 9 de setembro daquele ano, com vitória do médico
veterinário José Quirino dos Santos, o primeiro presidente eleito do CRMV-PR.

Diretamente ou por meio dos CRMVs, o CFMV tem como finalidades:

● fiscalizar o exercício profissional;

● orientar, supervisionar e disciplinar as atividades relativas à


profissão de médico-veterinário e do zootecnista em todo o
território nacional; e

● servir de órgão de consulta dos governos da União, dos estados,


dos municípios e dos territórios, em todos os assuntos relativos à
profissão de médico-veterinário ou ligados, direta ou indiretamente,
à produção ou à indústria animal.

Figura 6. crmv-pr.org.br

Nesse contexto, o CFMV vem seguindo uma forte caminhada voltada a


promover a transparência e a modernização do Sistema CFMV/CRMVs. Sempre
com o objetivo claro de disciplinar a Medicina Veterinária e a Zootecnia, assume
o papel de articulador da promoção da Saúde Única, conceito que engloba o
tripé de saúde humana, animal e meio ambiente (CFMV, 2021).
SAIBA MAIS

A Sede atual do CRMV-PR, localizada na Rua Fernandes de Barros, 685, no Alto


da XV, foi inaugurada em 9 de setembro de 2002 e está em pleno funcionamento
desde abril de 2003.

O CRMV-PR conta também com nove Unidades Regionais de


Atendimento (URAs), onde é possível realizar todos os procedimentos
administrativos oferecidos pela Autarquia. As URAs estão situadas em Campo
Mourão, Cascavel, Cornélio Procópio, Guarapuava, Londrina, Maringá,
Paranavaí, Pato Branco e Ponta Grossa.

2.3 Outras Resoluções de Importância na Medicina Veterinária

Resolução Nº 879, de 15 de fevereiro de 2008: Dispõe sobre o uso de


animais no ensino e na pesquisa e regulamenta as Comissões de Ética no Uso
de Animais (CEUAs) no âmbito da Medicina Veterinária e da Zootecnia
brasileiras e dá outras providências.
Resolução Nº 1000, de 11 de maio de 2012: Dispõe sobre procedimentos
e métodos de eutanásia em animais e dá outras providências.
Resolução Nº 1330, de 16 de junho de 2020: Aprova o Código de
Processo Ético-Profissional no âmbito do Sistema CFMV/CRMVs.
Lei Arouca Nº 11.794, de 8 de outubro de 2008: Regulamenta
procedimentos para o uso científico de animais (CFMV, 2021)

3. CÓDIGO DE ÉTICA DO MÉDICO VETERINÁRIO

O código de ética do Médico Veterinário é o documento que norteia as


ações, direitos e deveres dos profissionais na área. O documento é
confeccionado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) em
consonância com os Conselhos Regionais (CRMV). O código de ética atual foi
publicado no diário oficial da união, em janeiro de 2017, passando a vigorar no
dia 09 de setembro de 2017, dia do Médico Veterinário (CFMV, 2019a). O
documento, constituído por 17 capítulos e 51 artigos, aborda os princípios
fundamentais da profissão, deveres e direitos dos médicos veterinários,
comportamento profissional, honorários, responsabilidade técnica, interação
com os consumidores, animais e meio ambiente, infrações e suas penalidades
(CFMV, 2019a). É direito e dever de todo médico veterinário conhecer o código
de ética. A seguir abordaremos os principais pontos do documento.

3.1. Princípios Fundamentais

São 5 os princípios fundamentais inerentes à profissão (CFMV, 2019b).

I - Exercer a profissão com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade.

II - Denunciar às autoridades competentes qualquer forma de agressão aos


animais e ao seu ambiente (CFMV, 2019b).

Muitos municípios contam com órgãos públicos voltados para o


atendimento de animais abandonados ou em condições de maus tratos. No
município de Maringá, a Secretaria de Meio Ambiente e Bem-estar Animal
(SEMA) presta atendimento a animais de rua doentes, vítimas de maus tratos e
de acidentes de trânsito. Denúncias de situações suspeitas ou confirmadas de
maus tratos podem e devem ser feitas por qualquer cidadão, incluindo
profissionais da área.

III - Empenhar-se para melhorar as condições de saúde animal e humana e os


padrões de serviços médicos veterinários.

IV - No exercício profissional, usar procedimentos humanitários para evitar


sofrimento e dor ao animal.
V - Defender a dignidade profissional, quer seja por remuneração condigna, por
respeito à legislação vigente ou por condições de trabalho compatíveis com o
exercício ético profissional da medicina veterinária em relação ao seu
aprimoramento científico (CFMV, 2019b).

3.2. Deveres Profissionais

Os 15 deveres dos médicos veterinários listados no código de ética estão


diretamente relacionados com os 5 Princípios Fundamentais da profissão,
complementando-os. Os mesmos resumem-se a:

I - Aprimoramento contínuo do conhecimento (CFMV, 2019b).

Ao ingressarmos na faculdade, achamos que 5 anos de estudo é muito


tempo. No entanto, ao término deste período percebemos que muitos
conhecimentos adquiridos precisam ser aprofundados ou, até mesmo,
reaprendidos. Com o avanço constante da ciência e tecnologia, novas
informações a respeito da fisiologia dos animais, das doenças que os acometem
e dos métodos para tratamento surgem todos os dias. Logo, para nos mantermos
atualizados e, portanto, competitivos frente ao mercado de trabalho, o
aprimoramento contínuo dos conhecimentos é imprescindível, seja por meio de
leitura diária ou através de programas de pós-graduação e especialização.

II – Exercer a profissão de forma ética do ponto de vista comercial, não pensando


apenas no lucro, e sim no que é justo frente ao serviço que está sendo prestado.

III – Combater o exercício ilegal da Medicina Veterinária (CFMV, 2019b).

O Artigo 5º da Lei nº 5.517, de 23 de outubro de 1968, dispõe sobre as


atividades e funções privativas dos médicos veterinários. Enquanto profissionais
da área, cabe a nós denunciar às autoridades qualquer tipo de violação ao
descrito na lei.

INDICAÇÃO DE LEITURA
Exercício da profissão e áreas de atuação privativas dos Médicos Veterinários -
Lei nº 5.517, de 23 de outubro de 1968. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5517.htm

IV – Profissionais em cargo de direção devem trabalhar para que os demais


médicos veterinários possuam as condições mínimas para o seu desempenho.

V – Relacionar-se com os demais médicos veterinários, respeitando a opinião


profissional de cada um (CFMV, 2019b).

Em nossa rotina profissional nos deparamos com condutas médicas que


divergem daquelas que preconizamos. No entanto, embora diferentes, nem
sempre uma necessariamente está errada. É muito comum atendermos animais
que já passaram pela avaliação de outros veterinários e, segundo os
proprietários, continuam apresentando o mesmo problema. Porém, antes de
tomarmos como errada a conduta do profissional anterior é necessário levar em
consideração que muitos fatores podem contribuir para a manutenção ou
recidiva de um determinado quadro clínico. Ademais, em situações como essas,
se constatado alguma falha no atendimento anterior, existem formas corretas de
comunicarmos aos envolvidos sem agredir a ninguém. A mesma situação pode
ser aplicada para aqueles casos em que precisamos trabalhar em conjunto com
outros médicos veterinários, porém existem divergências a respeito de condutas
médicas. A melhor forma para a solução é o diálogo e o respeito mútuo.

VI – Exercer somente atividades que estejam no âmbito de seu conhecimento


profissional.

VII – Notificar aos órgãos responsáveis doenças de notificação obrigatória e


fornecer todas as informações necessárias a respeito dos casos (CFMV, 2019b).

São denominadas doenças de notificação obrigatória (compulsória)


aquelas cuja suspeita ou confirmação, conforme critérios pré-estabelecidos,
devem ser notificadas aos Serviços Veterinários Oficiais dos Estados ou
Unidades Veterinárias Locais. Todos os anos, comissões da Organização
Mundial de Saúde Animal (OIE) se reúnem e, levando em consideração critérios
como taxa de disseminação das doenças, presença de países livres,
possibilidade de transmissão para seres humanos (zoonoses), taxas de
mortalidade e morbidade elevadas, existência de testes de diagnóstico bem
padronizados, são formuladas listas de doenças de notificação obrigatória. No
Brasil, o Ministério da Saúde (MS) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) utilizam as listas divulgadas pela OIE e os dados locais
para elaborar as listas vigentes no país (BRASIL, 2013a). A portaria do MS nº
1.271, de 6 de junho de 2014, define a lista nacional de notificação compulsória
de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos
em todo o território nacional (BRASIL, 2014). Por sua vez, a instrução normativa
nº 50, de 24 de setembro de 2013, do MAPA, estabelece a lista de doenças de
notificação obrigatória do serviço veterinário oficial (BRASIL, 2013b).

INDICAÇÃO DE LEITURA

Lista de Doenças de Notificação Obrigatória do Serviço Veterinário Oficial –


Instrução Normativa nº 50, de 24 de setembro de 2013.

Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sanidade-animal-e-


vegetal/saude-animal/arquivos-das-publicacoes-de-saude-
animal/Listadedoencasanimaisdenotificacaoobrigatoria.pdf
VIII – Denunciar pesquisas, testes, práticas de ensino ou quaisquer outras
realizadas com animais sem a observância dos preceitos éticos e dos
procedimentos adequados (CFMV, 2019b).

Todos os procedimentos e atividades experimentais, tanto de ensino


quanto de pesquisa, envolvendo animais, devem seguir as determinações do
Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA). Para
avaliar o cumprimento, projetos que envolvam animais devem ser encaminhados
para as Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUA). Toda instituição de
ensino ou pesquisa credenciada que desenvolva atividades com animais deve
possuir CEUAs (BRASIL, 2008). Profissionais de diferentes áreas como
Medicina Veterinária, Agronomia, Farmácia, Biomedicina e Odontologia podem
fazer parte das comissões e irão julgar se a metodologia dos trabalhos enviados
a eles segue os preceitos básicos de bem-estar animal.

SAIBA MAIS

Para mais informações a respeito da Comissão de Ética no Uso de Animais


(CEUA) da UNINGÁ, Centro Universitário Ingá, acesse:

https://uninga.br/institucional?p=trab_conosco

IX – Não se utilizar de dados estatísticos falsos ou alterar sua interpretação


científica para obtenção de resultados esperados ou satisfatórios.

X – Informar a abrangência, limites e riscos de suas prescrições e ações


profissionais a quem possa interessar.

XII – Manter-se regularizado junto ao Conselho Regional de Medicina Veterinária


(CFMV, 2019b).

Para o exercício da medicina veterinária no território nacional, o profissional é


obrigado por lei (Lei Federal 5.517/1968; Lei Federal 5.550/1968 e Resolução
680/2000) a se inscrever no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV)
do Estado onde exercerá suas atividades.

SAIBA MAIS

Para maiores informações a respeito do CRMV/PR, acesse: https://www.crmv-


pr.org.br
XIII – Realizar a eutanásia de acordo com os princípios éticos e normas do
CFMV.

XIV – Não se apropriar de bens que não tenha posse ou desviá-lo em benefício
próprio ou de outros.

XV – Comunicar ao CRMV qualquer infração ao Código de Ética (CFMV, 2019b).

3.3. Direitos do Médico Veterinário

Todo médico veterinário tem direito a exercer sua profissão independente


de religião, sexo, opção sexual, raça, idade, opinião política e qualquer outra
questão. Adicionalmente, entre outros direitos, vale destacar que todos os
profissionais podem prescrever o tratamento que julgar mais indicado e escolher
livremente seus pacientes e clientes, exceto nos casos a seguir: ausência de
outro médico veterinário na região, quando outro colega solicitar sua
colaboração e nos casos de extrema urgência ou de perigo imediato para a vida
do animal ou do homem. Caso o profissional tenha cumprido com todas as suas
obrigações e estiver insatisfeito com a postura do cliente, fica a seu critério retirar
a assistência, exceto nos casos citados anteriormente (CFMV, 2019b).

3.4. Comportamento e Responsabilidade profissional

O código de ética afirma que médicos veterinários serão


responsabilizados, civil e penalmente, por infrações éticas praticadas com dolo
ou culpa que venham a causar danos ao paciente ou ao cliente. A prática
profissional de atos que caracterizem imperícia, imprudência ou negligência
podem acarretar em penalidades, como perda do registro no CRMV, multas e
processos (CFMV, 2019b). A seguir discutiremos o significado de cada uma
destas três palavras.
A imperícia é caracterizada pela falta de competência ou habilidade para
a realização de determinada atividade. Portanto, ao se sentir inseguro quanto à
capacidade técnica para a realização de determinado procedimento, o ideal é
encaminhar o animal para um profissional que possua tal capacitação. Por sua
vez, a imprudência caracteriza-se pelo ato de agir perigosamente ou sem
precaução. Por exemplo, o protocolo normalmente empregado antes de
qualquer procedimento cirúrgico é a realização de exame de sangue do paciente
para avaliar se as condições gerais se encontram dentro da normalidade. Ao
ignorar a realização de tal exame o profissional está sendo imprudente, uma vez
que intercorrências que podem trazer risco a vida do paciente durante a cirurgia
poderiam ser previstas e evitadas através do mesmo.
Por último, negligência, também conhecida por desatenção, omissão ou
falta de cuidado. Por exemplo, antes da realização de um procedimento cirúrgico,
o local onde será realizada a incisão deve ser limpo (antissepsia) para diminuir
as chances de infecção. Existe todo um protocolo para a realização da
antissepsia do local, devendo este ser cumprido à risca para garantir seu
sucesso. O médico veterinário que não realizar o procedimento de antissepsia
incorreto por estar com pressa, por exemplo, está sendo negligente, ou seja, está
agindo com falta de cuidado, colocando em risco as condições de saúde de seu
paciente. A diferença entre as três palavras é pequena e normalmente levam a
atos bem parecidos. Enquanto médicos veterinários devemos nos esforçar ao
máximo para evitá-las.

Adicionalmente, o código de ética reforça a proibição de ações, muitas


vezes consideradas óbvias, porém, realizadas por muitos profissionais da área.
Dentre elas podemos citar: deixar de fornecer laudo médico quando solicitado
pelo cliente, permitir que seu nome conste no quadro de profissionais de
empresas sem nelas exercer nenhuma função, deixar de dar as explicações
necessárias ao cliente, receitar medicamentos sem a realização de exames
prévios, usar títulos que não possui e criticar trabalhos profissionais ou serviços
de colegas (CFMV, 2019b).

3.5. Sigilo Profissional

Todo mundo adora ver fotos daquele cachorro fofinho e peludo que foi
visitar o Médico Veterinário, certo? No entanto, de acordo com o previsto no
código de ética, médicos veterinários não podem exibir pacientes ou suas
fotografias em qualquer meio de comunicação sem a autorização expressa do
cliente. O mesmo vale para o fornecimento de informações ou fazer referências
a casos clínicos identificáveis (CFMV, 2019b). Portanto, não se esqueça de pedir
autorização sempre que necessário.
3.7. Infrações e Penalidades

Infrações cometidas ao código de ética serão classificadas em levíssimas,


leves, sérias, graves e gravíssimas, de acordo com a análise dos fatos, causas
do dano e suas consequências. Fatores como reincidência, falso testemunho,
ações dolosas, violência, entre outras, são consideradas agravantes. Por sua
vez, algumas situações podem ser atenuantes, como, por exemplo, ausência de
punições anteriores e auxílio na elucidação do caso (CFMV, 2019b). Os
infratores são julgados pelos Conselhos Regionais e as penalidades aplicadas
se baseiam no Art. 33 da Lei nº 5517, de 23 de outubro de 1968, e no Art. 34 do
Decreto nº 64.704, de 17 de junho de 1969 (CFMV, 2019b). A seguir estão
descritas as penalidades de acordo com o grau de infração:

● Levíssimas: advertência confidencial.

● Leves: censura confidencial (punição moral dada ao médico


veterinário reservadamente).

● Sérias: censura pública.

● Graves: suspensão do exercício profissional.

● Gravíssimas: Cassação do exercício profissional.

SAIBA MAIS:

A lista completa de infrações de acordo com os graus de gravidade está descrita


no Capítulo XV do Código de Ética do Médico Veterinário. Para mais
informações, acesse: http://portal.cfmv.gov.br/uploads/codeticacfmv.pdf

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta Unidade abordamos como se deu a regulamentação do Médico


Veterinário no Brasil, a criação dos órgãos regulamentadores da profissão, os
principais pontos referentes ao Código de Ética dos Médicos Veterinários, bem
como as principais leis, decretos e outras legislações ligadas a estes tópicos.
Muitas são as leis, normas e diretrizes que regulam a nossa profissão e o
mercado de trabalho que atendemos. É de extrema importância o conhecimento
de nossos direitos e deveres enquanto Médicos Veterinários, no entanto, se faz
mais importante ainda colocarmos tais deveres em prática. Agir de forma ética e
respeitando os animais, seres humanos e a natureza não só contribuiu para nos
tornar ótimos profissionais, mas também para a formação de uma sociedade
melhor. “Nosso direito termina onde começa o direito do próximo”. Em uma
sociedade com tanta atribulação, uma simples gentileza faz toda a diferença,
tanto em se tratando dos animais quanto de nossos clientes e concorrentes.
Busquem a perfeição e o sucesso profissional, porém, sem nunca deixar de lado
as qualidades que nos definem como “boas pessoas”.

UNIDADE III – BEM-ESTAR ANIMAL – BIOÉTICA APLICADA I

1. INTRODUÇÃO
Há uma preocupação cada vez maior com a relação do homem com os
animais e com suas intervenções no meio ambiente, já que os atos humanos
podem alterar irreversivelmente os processos da vida.
A bioética é um valor universal, construída com a união da reflexão ética,
questões morais humanas e questões morais da saúde (RUIZ; TITTANEGRO,
2017), sendo responsabilidade de todo profissional médico veterinário. Alguns
temas da bioética são: eutanásia, experimentação em animais, manipulação
genética, transplantes e a clonagem (MOORE; MEPHAN, 1995).
Com as novas biotecnologias, os animais são expostos a fatores de risco
que podem implicar em seu bem-estar, tais como: efeitos de mutações, efeitos
de expressão, efeitos metodológicos e efeitos sistemáticos. Os efeitos de
mutação podem gerar consequências imprevisíveis. Os efeitos de expressão
podem resultar em alterações fisiológicas que afetam o bem-estar animal. Os
efeitos metodológicos são resultado de situações geradas do processo de
tecnologia, podendo produzir animais com anomalias, expondo-os a sofrimentos.
Em relação aos efeitos sistemáticos, considera-se a situação de como os
animais em experimentação científica serão mantidos e tratados (ambiental e
manejo), podendo comprometer seu bem-estar (MOORE; MEPHAN, 1995).
As questões éticas ainda são pouco discutidas e, no Brasil, são raras as
atividades de ensino sobre bem-estar animal durante a graduação de Medicina
Veterinária. Contudo, posturas para alcançar a evolução dessas questões têm
sido observadas, tais como: formação de comissões de ética e de bem-estar no
uso de animais, políticas de classificação da dor e sofrimento animal e ensino da
bioética nos cursos de Medicina Veterinária (FARACO, 2010). Como exemplo, o
Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), por meio da sua comissão
de ética, bioética e bem-estar animal (CEBEA/CFMV), elaborou o Guia Brasileiro
de Boas Práticas para Eutanásia em Animais, o qual visa dar suporte aos
profissionais envolvidos no processo da eutanásia animal.

2. BEM-ESTAR ANIMAL (BEA) E DIREITO DOS ANIMAIS


2.1. Conceitos
Os animais são capazes de sentir emoções (medo, felicidade, irritação,
angústia, entre outras), ou seja, são seres sencientes (DUNCAN; DAWKINS,
1983). Animais de todas as áreas (produção, companhia, silvestres e de
laboratório) estão envolvidos no bem-estar único, que integra não só o bem-estar
animal, mas também o bem-estar humano e a sustentabilidade, conceito ligado
ao de saúde única (CFMV, 2013).
O estudo do bem-estar animal (BEA) tem por objetivo reconhecer as
necessidades básicas dos animais e estabelecer meios de aplicabilidade desta
ciência (KEELING et al., 2011). Isso inclui as necessidades fisiológicas, físicas,
comportamentais e ambientais. Além disso, o conhecimento do bem-estar
animal pode auxiliar na melhoria de práticas que utilizam animais, trazendo
também benefícios à humanidade (UFV, 2018).
Nos anos 60 foi criado o conceito sobre o bem-estar animal e as cinco
liberdades: livre de sede, fome e desnutrição; livre de desconforto; livre de dor,
lesões e doenças; livre para expressar seu comportamento natural; livre de medo
e distresse (FAWC, 2009; CFMV, 2013).
Figura 7. Os três círculos (Físico, Naturalidade e Mental) provedores do bem-estar animal.
Fonte: adaptado de Fraser (2008).

2.2. Cinco Liberdades do BEA


As cinco liberdades possibilitam avaliar e mensurar aspectos que
influenciam na qualidade de vida dos animais (FAWC, 2009). Sendo eles:

● Livre de sede, fome e desnutrição ou “Liberdade nutricional”:


inclui o acesso à água e comida em quantidade e qualidade
adequadas para manter a saúde plena. Animais privados de água e
comida manifestam alterações orgânicas importantes, como a
desidratação e desnutrição, gerando desiquilíbrio da homeostasia
(FAWC, 2009; CFMV, 2013) (Figura 2).

● Livre de desconforto ou “Liberdade ambiental”: inclui


instalações adequadas para cada espécie. O ambiente deve conter
abrigo confortável, temperaturas ideais, área de descanso e espaço
disponível (FAWC, 2009; CFMV, 2013).

● Livre de dor, lesões e doenças ou “Liberdade sanitária”: inclui


prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças e lesões, evitando
dor e sofrimento animal. Além disso, muitas doenças são
consideradas zoonoses e prover a saúde única é fundamental para
prevenção destas doenças (FAWC, 2009; CFMV, 2013).
● Livre para expressar seu comportamento natural ou
“Liberdade comportamental”: a sanidade animal está intimamente
conectada ao comportamento e qualidade de vida. Animais
supostamente saudáveis podem apresentar alterações
comportamentais se não permitirem que eles expressem o
comportamento natural de sua espécie (BROOM; FRASER, 2007).
Ter um espaço adequado e estimular o animal com atitudes e objetos
que incentivam o instinto natural são importantes para expressar este
comportamento. Adicionalmente, a companhia de outros animais da
mesma espécie também ajuda (FAWC, 2009; CFMV, 2013).

● Livre de medo e do estresse ou “Liberdade psicológica”: inclui


evitar situações de estresse excessivo, que pode levar ao sofrimento.
A orientação do médico veterinário neste aspecto é de grande valia
para ajudar o tutor/produtor a identificar transtornos psicológicos do
animal (CFMV, 2013).

Figura 8. Fornecimento de água limpa aos animais. Fonte: Filosofia e Cultura (2017).
INDICAÇÃO DE VÍDEO
Para entender melhor sobre a evolução e importância do bem-estar animal,
assista ao filme Temple Grandin – o filme. Baseado em uma história real, ele
conta a história de Temple Grandin, uma jovem autista, que observa como os
trabalhadores da fazenda lidam com a criação de gado e, apesar de sua
limitação, ingressa na faculdade e desenvolve diversas pesquisas direcionadas
ao bem-estar animal. Após assistir a esse filme, você, aluno, irá compreender
sobre tratamento racional de animais vivos em fazendas e abatedouros, além de
inspirar-se com uma célebre profissional, altamente respeitada no seguimento
de manejo pecuário.

Fonte: Beefpoint (2014).

2.3. LEGISLAÇÃO DE DIREITOS ANIMAIS


A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO), no ano de 1978, em Bruxelas, criou a Declaração Universal dos
Direitos dos Animais, que é reconhecida mundialmente. Tem como propósito
gerar amparo jurídico para os países que fazem parte da Organização das
Nações Unidas (ONU) sobre os direitos dos animais. Esta declaração motivou
vários países a criar novas leis para proteção animal. No texto da Declaração
Universal dos Direitos Animais é descrito:

Considerando que todo o animal possui direitos; Considerando que o


desconhecimento e o desprezo desses direitos têm levado e
continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e
contra a natureza; Considerando que o reconhecimento pela espécie
humana do direito à existência das outras espécies animais constitui
o fundamento da coexistência das outras espécies no mundo;
Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há o
perigo de continuar a perpetrar outros; Considerando que o respeito
dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo
seu semelhante; Considerando que a educação deve ensinar desde a
infância a observar, a compreender, a respeitar e a amar os animais,
proclama-se o seguinte:
Artigo 1º
Todos os animais nascem iguais diante da vida, e têm o mesmo direito
à existência.
Artigo 2º
1.Cada animal tem direito ao respeito.
2.O homem, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito
de exterminar os outros animais, ou explorá-los, violando esse direito.
Ele tem o dever de colocar a sua consciência a serviço dos outros
animais.
3.Cada animal tem direito à consideração, à cura e à proteção do
homem.
Artigo 3º
1.Nenhum animal será submetido a maus tratos e a atos cruéis.
2.Se a morte de um animal é necessária, deve ser instantânea, sem
dor ou angústia.
Artigo 4º
1.Cada animal que pertence a uma espécie selvagem tem o direito de
viver livre no seu ambiente natural terrestre, aéreo e aquático, e tem o
direito de reproduzir-se.
2.A privação da liberdade, ainda que para fins educativos, é contrária
a este direito.
Artigo 5º
1.Cada animal pertencente a uma espécie, que vive habitualmente no
ambiente do homem, tem o direito de viver e crescer segundo o ritmo
e as condições de vida e de liberdade que são próprias de sua espécie.
2.Toda a modificação imposta pelo homem para fins mercantis é
contrária a esse direito.
Artigo 6º
1.Cada animal que o homem escolher para companheiro tem o direito
a uma duração de vida conforme sua longevidade natural
2.O abandono de um animal é um ato cruel e degradante.
Artigo 7º
Cada animal que trabalha tem o direito a uma razoável limitação do
tempo e intensidade do trabalho, e a uma alimentação adequada e ao
repouso.
Artigo 8º
1.A experimentação animal, que implica em sofrimento físico, é
incompatível com os direitos do animal, quer seja uma experiência
médica, científica, comercial ou qualquer outra.
2.As técnicas de substituição devem ser utilizadas e desenvolvidas
Artigo 9º
Nenhum animal deve ser criado para servir de alimentação, deve ser
nutrido, alojado, transportado e abatido, sem que para ele tenha
ansiedade ou dor.
Artigo 10º
Nenhum animal deve ser usado para divertimento do homem. A
exibição dos animais e os espetáculos que utilizem animais são
incompatíveis com a dignidade do animal.
Artigo 11º
O ato que leva à morte de um animal sem necessidade é um biocídio,
ou seja, um crime contra a vida.
Artigo 12º:
1.Cada ato que leve à morte um grande número de animais selvagens
é um genocídio, ou seja, um delito contra a espécie.
2.O aniquilamento e a destruição do meio ambiente natural levam ao
genocídio.
Artigo 13º
1.O animal morto deve ser tratado com respeito.
2.As cenas de violência de que os animais são vítimas, devem ser
proibidas no cinema e na televisão, a menos que tenham como fim
mostrar um atentado aos direitos dos animais.
Artigo 14º
1.As associações de proteção e de salvaguarda dos animais devem
ser representadas a nível de governo.
2.Os direitos dos animais devem ser defendidos por leis, como os
direitos dos homens (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS
ANIMAIS, 1978).

INDICAÇÃO DE LEITURA
Para se informar sobre o regulamento, instituído pelo CFMV, para conduta do
médico veterinário e zootecnista em relação a constatação de crueldade, abuso
e maus tratos aos animais, acessar: CFMV. Resolução nº 1236, de 26 de outubro
de 2018. Portal online do Conselho Federal de Medicina Veterinária, 2018.
Disponível em: http://portal.cfmv.gov.br/lei/index/id/903.

No Brasil, o primeiro decreto que estabeleceu medidas de proteção aos


animais foi o Decreto Nº 24.645 – Lei Getúlio Vargas de Proteção aos Animais,
de 10 de julho de 1934. Posteriormente, foram criadas outras Leis:
● Lei Federal nº 11.794/08 – Lei Arouca – Normas para Pesquisas
com Animais: estabelece regulamentos à pesquisa com animais no
Brasil.
● Portaria 117/97 – IBAMA – Compra e Venda de Animais Silvestres:
estabelece diretrizes para comercialização de animais vivos, abatidos,
partes e produtos da fauna silvestre.
● Lei 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais: estabelece sanções
penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas
ao meio ambiente.
● Substitutivo ao Projeto de Lei 121/99 – Lei da Posse Responsável
de Cães: estabelece as diretrizes legais para posse, transporte e
guarda responsável de cães.
● Substitutivo ao Projeto de Lei 116/2000 – Lei Trípoli: estabelece
diretrizes para criação, propriedade, posse, guarda, uso e transporte
de cães e gatos.

Além destas Leis Federais, existem Leis Estaduais e Municipais, porém,


só abrangem alguns estados e municípios do Brasil (Figura 9).

Figura 9. Tópicos dos Códigos Estaduais de Proteção aos Animais que abordam o bem-estar
animal. Fonte: Franchi et al. (2012).
A Assembleia Legislativa do Estado do Paraná instituiu, no ano de 2003,
o Código Estadual de Proteção aos Animais, que estabelece diretrizes para
proteção dos animais do Paraná, visando compatibilizar o desenvolvimento
socioeconômico com a preservação ambiental. Em 2017, foi criado o Conselho
Estadual de Proteção ao Animal, que visa trabalhar nas questões que envolvem
o bem-estar dos animais no estado. O conselho é composto por representantes
de órgãos estaduais, como Secretaria Estadual da Saúde e do Meio Ambiente,
Força Verde, Bombeiros, Polícia Militar e Detran. Sua função atual é apoiar
organizações não governamentais (ONGs) em relação à legislação, a favor dos
animais, e investir na fiscalização de maus tratos (Figura 10).
Figura 10. Folheto explicativo sobre como denunciar crimes ambientais e maus-tratos aos
animais. Fonte: Assessoria de Comunicação do Conselho Federal de Medicina Veterinária
(2018).
SAIBA MAIS
O comércio de animais, cujos os criadores realizam a procriação
indiscriminadamente, ou os deixam em gaiolas para esta prática, é considerado
maus-tratos (Figura 11). No município de Maringá - PR, existe a Lei 10.467/2017,
que penaliza estes criadores com R$ 2 mil reais de multa, por animal.

Figura 11. Condição de maus-tratos em criadouro clandestino. Fonte: Tomas (2012).

INDICAÇÃO DE LEITURA
Para se informar sobre as diretrizes do município de Maringá - Paraná contra a
prática de maus-tratos aos animais, acessar: Leis Municipais. Lei 10.467/2017,
de 25 de agosto de 2017. Disponível em:
https://leismunicipais.com.br/a/pr/m/maringa/lei-ordinaria/2017/1047/10467/lei-
ordinaria-n-10467-2017-estabelece-no-ambito-do-municipio-de-maringa-
sancoes-e-penalidades-administrativas-para-aqueles-que-praticarem-maus-
tratos-aos-animais-e-da-outras-providencias-2018-09-17-versao-compilada>.
SAIBA MAIS
O animal chamado de “comunitário” é reconhecido pela Lei Estadual como
aquele que estabelece vínculo com a comunidade em que vive, laços de
dependência e de manutenção, ainda que não possua responsável único e
definido.

REFLITA
Quais ações a loja Carrefour, de Osasco, deveria ter frente ao caso “Manchinha”,
cão espancado pelo segurança da loja, no dia 28 de novembro de 2018? A
repercussão do caso trouxe debates e questionamentos sobre o assunto “maus
tratos”. Não basta a empresa criar um dia por ano de “Pet Day” ou feiras de
adoção, a questão vai além de apoios às entidades de acolhimento e defesa
animal. Deve-se prevenir que crises aconteçam, por meio de construção de
reputação voltada às boas práticas de gestão, transparência e confiança da
população. Implementar campanhas sobre posse responsável e aderir como
“comunitário” o cão que estabelece vínculo de dependência com a comunidade
da região em que ele vive, são medidas que podem ajudar a diminuir crimes
cometidos pelos homens em relação aos animais.

3. EUTANÁSIA ANIMAL

3.1. Conceitos e Indicações

O termo eutanásia pode ser julgado como “indução da cessação da vida


animal, por meio de método tecnicamente aceitável e cientificamente
comprovado, analisando sempre os princípios éticos” (BEAVER et al., 2001;
CFMV, 2002). Sua indicação se dá quando o animal constituir risco à saúde
pública e/ou ao meio ambiente, quando o animal for objeto de ensino ou
pesquisa, quando o tratamento (custo) for incompatível com a atividade
produtiva do animal ou com os recursos financeiros do tutor e quando o bem-
estar animal estiver comprometido de modo irreversível (AVMA, 2007).
A eutanásia faz parte da rotina médica veterinária e deve ser tratada com
profissionalismo e respeito aos animais e às pessoas envolvidas. A equipe
técnica deve estar treinada para manejar adequadamente os animais, com a
escolha do método ideal para cada caso, dentro das normas prescritas (AVMA,
2007; CFMV, 2013).
O bem-estar animal deve ser mantido em todos os momentos. Minimizar
a ansiedade e medo é essencial para realização de eutanásia sem sofrimento.
O ambiente calmo e a contenção cuidadosa do animal, de preferência realizada
por um indivíduo familiar, pode ajudar a diminuir o estresse (LUNA; TEIXEIRA,
2007).
Estudar fisiologia animal e compreender as alterações dos parâmetros
vitais em relação à eutanásia também é de suma importância, pois a angústia,
dilatação das pupilas, taquicardia, tremores, salivação e imobilidade pelo medo
influenciam nas respostas fisiológicas no momento da eutanásia e isso pode
levar o profissional ao erro em relação à inconsciência do animal (AVMA, 2007).
Para minimizar o sofrimento do animal submetido à eutanásia, o
procedimento de inconsciência seguida de morte deve ser o mais rápido
possível. A depressão cerebral geral sempre deve anteceder a parada
cardiorrespiratória (LUNA; TEIXEIRA, 2007; BEAVER et al., 2001).
Realizar eutanásia para controlar a população de animais de ruas nas
cidades deve ser desencorajada. Esta situação é analisada pelas autoridades
competentes junto ao Poder Público (CFMV, 2013).

3.2. Normas Profissionais

A presença do médico veterinário na coordenação dos atributos técnicos


da eutanásia é indispensável. Para tal, o profissional deve estar devidamente
registrado pelo Conselho Regional (CFMV, 2002).
Todo médico veterinário deve explicar, de modo claro e evidente, ao tutor
sobre a indicação e a técnica do processo de eutanásia. Posteriormente, é
obrigatório requisitar autorização, por escrito, para o ato do procedimento.
Ademais, se o responsável legal do animal desejar assistir, fica consentido,
desde que não haja possíveis riscos (LUNA; TEIXEIRA, 2007).
O prontuário médico consiste em um documento no qual revela todos os
procedimentos, evolução do paciente e as anotações realizadas durante a
permanência do animal na clínica ou no hospital veterinário. É vetado negar
acesso ao prontuário ao tutor e/ou às autoridades competentes (LUNA;
TEIXEIRA, 2007).
O ambiente onde o ato da eutanásia ocorre deve ser tranquilo, limpo e
adequado, respeitando as indicações dos órgãos de fiscalização referente à
estruturação médica veterinária (CFMV, 2002).
O profissional responsável pela técnica da eutanásia deve atestar o óbito
do animal, identificando as características: ausência de movimentos
respiratórios, ausência de batimentos cardíacos e pulso, perda da coloração das
mucosas, ausência de reflexos protetores (palpebral e corneal), perda do brilho
e umidade das córneas e presença de midríase paralítica bilateral. Observar
estes aspectos e confirmar a morte do animal são essenciais para evitar falhas
no procedimento (CFMV, 2002; CAFFREY et al., 2011).
Em relação ao descarte, o médico veterinário deve proceder conforme
regem as diretrizes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

3.3. Métodos Aceitos


Objetiva-se sempre buscar melhoria nos procedimentos referentes à
eutanásia, no sentido de diminuir o estresse e atender as necessidades do
animal, bem como proporcionar conforto e amenizar a dor (LUNA; TEIXEIRA,
2007).
Os métodos de eutanásia recomendados pelo Conselho Federal de
Medicina Veterinária (CFMV) são os métodos químicos e métodos físicos.

3.3.1. Métodos Químicos


Fazem parte dos métodos químicos: Agentes injetáveis (barbitúricos,
anestésicos injetáveis aceitos somente com combinação, outros agentes
anestésicos injetáveis e agentes complementares); Agentes inalatórios
(anestésicos inalatórios e outros agentes inalatórios); Agentes de imersão
(BEAVER et al., 2001; CFMV, 2013).
Os agentes injetáveis induzem ao óbito rapidamente, sendo considerados
eficazes na eutanásia quando usado em dose e técnica corretas. No entanto, a
maioria dos fármacos necessita de associação com outros agentes. Ademais,
deve-se atentar em relação aos medicamentos controlados que requerem
autorização para a compra, transporte e armazenamento adequados e registro
de uso. As vias de administração aceitas são: intravenosa (IV), intraperitoneal
(IP), intracardíaca (IC) e intratecal (IT). Estas duas últimas vias, IC e IT, só podem
ser realizadas quando o animal estiver sob anestesia geral ou em estado de
coma (CFMV, 2013). São agentes injetáveis:

- Barbitúricos: considerados depressores gerais do sistema nervoso


central (SNC), obtendo-se efeito imediato na indução da perda de
consciência até atingir o centro cardiorrespiratório bulbar, além de ser
um fármaco anestésico de custo baixo. Os barbitúricos mais usados
são o tiopental e o pentobarbital.
- Anestésicos injetáveis aceitos somente com combinação: fazem
parte o T-61® e o hidrato de cloral. Composto por uma associação de
três fármacos, o T-61® é um produto comercial indicado para uso
intravenoso, promovendo anestesia geral, paralisia do centro
respiratório e paralisia dos músculos estriados esqueléticos. O hidrato
de cloral é um sedativo que proporciona depressão lenta no SNC, e o
óbito ocorre devido a hipoxemia, sendo aconselhado utilizá-lo em
associação com barbitúricos ou com outros anestésicos gerais.
- Outros agentes anestésicos injetáveis: cetamina, xilazina,
propofol e etomidato, em dosagens altas, podem ser empregados na
eutanásia animal. A cetamina não é um anestésico geral, por este
motivo, sua utilização é indicada somente em associação com
miorrelaxantes de ação central, como por exemplo a xilazina, em
animais de laboratório. Os indutores gerais propofol e etomidato,
promovem anestesia e também podem ser utilizados como agentes na
eutanásia.
- Agentes complementares: considerados agentes auxiliares, devem
ser administrados somente após o animal estar sob anestesia geral. O
cloreto de potássio (KCl) é um íon cardiotóxico que causa fibrilação
ventricular seguido de assistolia. Os bloqueadores neuromusculares
(BNM) inibem a transmissão dos impulsos nervosos na junção
neuromuscular, causando paralisia dos músculos afetados, sendo
utilizados na eutanásia para promover parada respiratória (CFMV,
2013, p. 26).

O uso dos agentes inalatórios, em altas concentrações, é eficiente na


eutanásia de animais de pequeno porte, como roedores e pássaros.
Adicionalmente, é de grande valia para aqueles animais cujo o acesso
intravenoso (IV) é dificultoso (LAPCHIK; MATTARAIA, 2009). São agentes
inalatórios:
- Anestésicos inalatórios: halotano, isoflurano e sevoflurano são os
principais fármacos empregados, promovendo perda da consciência.
- Outros agentes inalatórios: o uso do dióxido de carbono (CO2)
deve ser limitado a situações controladas. Como vantagem, o CO2
produz rápida depressão central (anestésico), além de não deixar
resíduos nos tecidos dos animais que serão consumidos. Os gases
nitrogênio (N2) e argônio (Ar) possuem características semelhantes
entre si, resultam em hipóxia, seguida de perda da consciência e óbito
(CFMV, 2013, p. 33).

Agentes de imersão são fármacos anestésicos, em altas concentrações,


depositados na água que são absorvidos pelo sistema respiratório de peixes e
anfíbios. A benzocaína é o anestésico mais utilizado no Brasil, possui baixo custo
e maior segurança para o operador. Etomidato, metomidato e o 2-fenoxietanol
também podem ser empregados (CFMV, 2013).

3.3.2. Métodos Físicos


Os métodos físicos (MF) podem ser úteis em situações próprias e devem
ser exercidos somente por operadores treinados. Os cuidados são essenciais,
pois a maioria dos métodos oferecem riscos tanto para os animais quanto para
o executor (AVMA, 2007).
Suas vantagens são o baixo custo (após aquisição do equipamento
específico) e a rapidez em relação ao alto número de animais (exemplo:
matadouros). Como desvantagem há a possibilidade de falhas no equipamento
utilizado ou técnica incorreta. E a percepção do público, frente ao trauma que os
métodos proporcionam, não é positiva (BEAVER et al., 2001; AVMA, 2007).
Fazem parte dos MF: deslocamento cervical; decapitação; pistola de ar
comprimido e dardo cativo; tiro por arma de fogo; eletrocussão; maceração;
exsanguinação (BEAVER et al., 2001).
O deslocamento cervical é uma técnica bastante empregada em
pequenos animais (roedores, coelhos, aves) e deve ser utilizada somente com o
animal sob anestesia geral. Promove rápida perda de consciência, seguida de
morte. Após o procedimento, é imprescindível verificar a presença de fratura das
vértebras do pescoço, por meio de palpação (CARPENTER, 2010).
A decapitação é recomendada para animais de laboratório (pequenos
roedores e aves) em situações científicas, quando os métodos químicos
influenciarem nos resultados da pesquisa. Promove rápida perda de consciência.
Utiliza-se guilhotinas específicas para o procedimento (Figura 1), sendo de
extrema importância sua manutenção periódica, para evitar falhas operacionais.
A anestesia prévia dos animais é recomendada, pois diminui estresse e torna o
método mais aceitável pelo público (BEAVER et al, 2001; LAPCHIK;
MATTARAIA, 2009).
Figura 12. Guilhotina: equipamento utilizado em laboratórios de biociências, para a prática de
eutanásia (decapitação) em roedores (gênero Ratus) Fonte: Bonther Equipamentos para
Ensino e Pesquisa (2019).

O emprego da pistola de ar comprimido (não penetrativa) (Figura 13a) e


dardo cativo (penetrativo) (figura 13b) são indicados para ruminantes, equinos,
suínos e animais silvestres. O posicionamento deve ser na região do osso frontal.
A pistola de ar comprimido promove a concussão cerebral (atordoamento),
enquanto que o dardo cativo causa o trauma propriamente dito, ultrapassa o
crânio e destrói o tecido cerebral. Amplamente utilizados em matadouros
comerciais, estes métodos são eficazes para grandes animais, mas necessitam
de equipes devidamente treinadas para conduzir as técnicas (BEAVER et al.,
2001; CFMV, 2013).
Figura 13. – Local correto do disparo (frontal) para utilização da pistola de ar comprimido (não
penetrativa), 2 cm acima do cruzamento das linhas (a). Local correto do disparo para utilização
do dardo cativo (penetrativo), no ponto do cruzamento das linhas (b). Fonte: Silva (2012).

A arma de fogo deve ser utilizada apenas em casos específicos, como


indisponibilidade de outros métodos a campo, frente ao sofrimento animal, e para
algumas espécies de aves difíceis de capturar (CARPENTER, 2010). A técnica
exige executores altamente capacitados para garantir o óbito imediato. O
posicionamento deve ser na região do osso frontal (CFMV, 2013).
Para eletrocussão dos animais, utiliza-se energia elétrica com corrente
alternada, provocando fibrilação cardíaca, seguida de hipóxia cerebral e óbito.
Pode ser empregada nas espécies bovina, equina, ovina, suína e canina. Não
pode ser usado como método único, o animal deve estar previamente
inconsciente antes da eletrocussão (BEAVER et al., 2001).
A maceração necessita de equipamento específico e é útil para
quantidades altas de animais, como por exemplo pintinhos defeituosos oriundos
das incubadoras industriais. Induz laceração rápida dos tecidos, com óbito
instantâneo (AVMA, 2007; CFMV, 2013).
A técnica da exsanguinação causa óbito por hipovolemia aguda. Os
animais devem estar obrigatoriamente inconscientes, pois o tempo para a efetiva
morte é prolongado (CFMV, 2013).

SAIBA MAIS
O abate Halal é uma técnica que deve seguir rituais Islâmicos (Zabihah), em que
o animal deve ser abatido por um muçulmano e este deve pronunciar o nome de
Alá durante o abate, com a face do animal voltada para Meca. O animal não pode
estar com sede no momento e a morte deve ser rápida para evitar sofrimento.
Com uma faca afiada, corta-se os principais vasos sanguíneos do pescoço e o
sangue deve ser totalmente retirado da carcaça.

Situações Relevantes

Proceder eutanásia em animais silvestres exige maior habilidade da


equipe executora. Treinamento é fundamental e requer manuseio adequado de
equipamentos específicos como: zarabatanas, pistolas, rifles e armadilhas
(redes e arapucas). A contenção química se faz necessária para evitar possíveis
riscos referentes aos procedimentos e para controlar a dor antes de conduzir a
eutanásia (CUBAS et al., 2007; CARPENTER, 2010).
Em relação aos embriões e fetos, o método de escolha para proceder a
eutanásia depende da maturidade do SNC da espécie, frente percepção aos
estímulos dolorosos. Fetos de camundongo, rato e hamster, até o 14º dia de
gestação, em que a percepção dolorosa é improvável, pode-se realizar a
eutanásia da mãe ou remoção do feto, pois o óbito ocorre rapidamente pela falta
de suprimento sanguíneo. Em cobaias, o prazo se estende para até o 35º dia de
gestação (LAPCHIK; MATTARAIA, 2009; CFMV, 2013).
Para os neonatos de camundongo, rato e hamster, os métodos variam
dependendo da idade (dias). Entre um e 6 dias, podem ser empregados os
métodos de decapitação (lâmina afiada), anestesia por hipotermia seguida de
decapitação; gás CO2 seguido de decapitação e anestesia inalatória. Animais
com idade entre 7 e 14 dias, preconiza-se o método de anestesia inalatória,
seguida ou não de decapitação com lâminas afiadas. A partir dos 15 dias de
idade deve-se utilizar a anestesia inalatória isolada (PRITCHETT et al., 2005;
LAPCHIK; MATTARAIA, 2009).
Para neonatos de cobaias, o procedimento é realizado com anestésicos
injetáveis ou inalatórios seguidos de outros métodos para garantir o óbito
(PRITCHETT et al., 2005; LAPCHIK; MATTARAIA, 2009).
INDICAÇÃO DE LEITURA
Para mais informações sobre diretrizes e práticas de eutanásia animal, acessar:
CFMV. Guia Brasileiro de Boas Práticas em Eutanásia em Animais – Conceitos
e Procedimentos Recomendados. Portal online do Conselho Federal de
Medicina Veterinária, 2013.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A avaliação científica é um fator primordial para reconhecer situações que


afetam a saúde e estado psicológico do animal, ou seja, afetam o bem-estar.
Assim, é possível implantar condutas de boas práticas, tais como: prevenção e
tratamento de doenças, prevenção e controle da dor, do estresse, manejo
nutricional adequado e procedimentos humanitários de eutanásia.
A morte humanitária de animais envolve questões técnicas e éticas. Os
procedimentos devem seguir as diretrizes de boas práticas para eutanásia
prescritas no CONCEA. O executor que realiza o método deve ter experiência e
qualificação técnica comprovada. As vantagens e desvantagens de cada método
devem ser consideradas antes de escolher o oportuno.
A medicina veterinária exerce fundamental papel na defesa do bem-estar
dos animais, pois no exercício da profissão, o médico veterinário observa indícios
em seus pacientes que foram alvo de maus-tratos. Este profissional, que está a
serviço da coletividade, tem obrigação de denunciar à autoridade competente,
como estabelece o Código de Ética do Médico Veterinário.
Apesar dos avanços legislativos no Brasil, faltam políticas públicas para
conscientizar a sociedade em relação a posse responsável e bem-estar animal.
Assim, os direitos dos animais serão respeitados quando houver um
investimento na educação e possibilitar o aumento das penas para crimes contra
animais.

UNIDADE IV – BEM-ESTAR ANIMAL – BIOÉTICA APLICADA II

1. EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL

1.1 O Que é Experimentação Animal


A experimentação animal relaciona-se a procedimentos realizados em
animais. Aborda amplamente os seres do reino animal e exclui-se os animais
humanos. O termo “experimentação animal” vem sendo empregado
genericamente, apesar de as formas de utilização dos animais serem bem
variadas (PATON, 1993).
Um cenário que deve ser destacado é que a experimentação animal pode
se incluir ao estudo em animais para uma maior compreensão deles próprios, e
prováveis aplicações na própria saúde e bem-estar dos animais, da mesma
maneira que ocorre especialmente no campo da medicina veterinária.
Entretanto, os animais são aplicados como “modelos” de pesquisas
frequentemente, com a finalidade de se conquistar conhecimento e possíveis
beneficiação para a espécie humana. Essa classe de pesquisa biomédica é
constantemente alvo principal de discussão, reflexão, críticas, tanto em seus
aspectos morais quanto em aspecto científico (SMITH; BOYD, 1991).

Figura 14. Animais eram sujeitos a procedimentos que lhes causavam stress, dor e
desconforto. Fonte: Cruelty Free Internacional por Carlota Saorsa.

1.2 Controle na Experimentação Animal

O debate ampliado sobre os pesquisadores, instituições e órgãos


governamentais, incentivou através de diferentes iniciativas o processo de
controle da pesquisa biomédica, que envolve o uso de animais. Os principais
fatores associados a essas tentativas foram: o surgimento de leis mais rigorosas
em vários países, a criação dos comitês institucionais de ética no uso de animais,
novas políticas e controle por parte de agências financiadoras. Vale ressaltar que
essa forma de controle ainda não alcançou manifestação significativa em alguns
países, e mesmo existindo, estão sujeitas a contestações ou discussões quanto
às formas de atuação e inúmeras interpretações quanto à efetividade em
realmente controlar a experimentação animal (ORLANS, 1993).
Um dos fatores mais importantes da nova legislação foi o estabelecimento
obrigatório das comissões institucionais de ética no uso de animais (Institutional
Animal Care and Use Committee – IACUC) (ORLANS, 1993).
De uma forma geral, o processo de controle da experimentação animal,
sejam voluntários ou através da legislação, apresentam as seguintes finalidades
principais (HAMPSON, 1986):

1 – Avaliação e autorização para os projetos, incluindo a avaliação dos


propósitos da pesquisa e dos níveis de dor e estresse nos animais.

2 – Inspeção das condições e procedimentos nos experimentos em animais.

3 – Assegurar padrões “humanitários” na criação e nos cuidados com os animais.

4 – Assegurar visibilidade pública (HAMPSON, 1986).

INDICAÇÃO DE VÍDEO

Campanha global para proibir os testes de cosméticos em animais. Curta-


metragem de animação em stop-motion produzido pela Humane Society
International. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AjdMtLF0Z6w.

2. PRINCÍPIOS ÉTICOS NA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL


O uso de animais para conhecimento da própria espécie ou de outra é
uma ação repleta de comprometimento ético, pois não é cedida a eles outra
escolha. A sociedade vem cada vez mais sendo atraída por questões
fundamentais como ética e bem-estar animal. A globalização levou a um
aumento na investigação científica e uma maior colaboração, por outro lado
aumenta-se também a concorrência entre os pesquisadores. A vista disso, torna-
se cada vez mais necessária, uma abordagem política normativa lógica e
integrativa (RIVERA, 2002).
Como as questões éticas continuam, surge a teoria dos 3Rs
(Replacement, Reduction, Refinament), ferramenta que podemos utilizar para
um melhor consentimento ético de trabalhos científicos. Segundo Howard Bryan,
os 3Rs devem ser considerados como placas de sinalização indicando o
caminho para a ciência ética. A compreensão, a implementação e o
compartilhamento dos princípios dos 3Rs, como critério digno e incontestável
para a experimentação animal, aumenta a percepção dos possíveis métodos de
utilização de animais no experimento, colaborando, potencialmente, para
melhora da qualidade científica (BRYAN, 2010).

2.1 Os 3Rs
Na obra “The principles of humane experimental tecnique” (William Russel
e Rex Burch, 1959) surgiu o Princípio dos 3R’s da experimentação animal.
Mesmo surgindo no final da década de 50, os princípios de William Russell e Rex
Burch ainda se encontram ativos nos meios científicos e acadêmicos.
O princípio dos 3Rs:
▪ Reduction, que significa reduzir o número de animais usados, sem
prejudicar a confiabilidade dos resultados.
▪ Replacement, que se traduz por substituir os animais sencientes, ou seja,
capazes de experimentar dor, prazer, felicidade, medo, frustração e
ansiedade.
▪ Refinement, que quer dizer refinamento, ou seja, a diminuição da incidência
ou severidade de procedimentos aplicados (RUSSEL; BURCH, 1959).

REDUCTION (redução)
● Estabelecimento de banco de dados, facilitação de acesso à
literatura especializada e estímulo à publicação de resultados
negativos.
● Qualidade genética, sanitária e ambiental dos animais possibilita
uma menor dispersão dos resultados, portanto diminuição do número
de animais utilizados;
● Planificação das experiências a fim de poder compartilhar os
mesmos animais.
REPLACEMENT (substituir)
● Substituição de estudos em animais vertebrados vivos, por
invertebrados, embriões de vertebrados ou microorganismos;
● Trabalhos com órgãos e tecidos isolados de animais;
● Técnicas “in vitro” utilizando cultura de tecidos e células;
● Sistemas físico-químicos mimetizantes de funções biológicas;
● Simulação de processos fisiológicos utilizando computadores.

REFINEMENT (refinar)
● Refinar os protocolos experimentais para minimizar a dor ou o
estresse sempre que possível. Como refinar?
● Obter treinamento adequado antes de executar qualquer
experimento;
● Usar técnicas apropriadas para o manuseio dos animais;
● Assegurar que as dosagens das drogas estão corretas;
● Identificar a dor ou o estresse e estabelecer procedimentos para
prevenir ou aliviá-los;
● Usar analgésicos e anestésicos apropriados para experimentos
potencialmente dolorosos;
● Realizar cirurgias de forma asséptica para evitar infecções;
● Realizar uma única cirurgia por animal;
● Estabelecer cuidados pós-cirúrgicos adequados.

Não podemos esquecer de Respeito aos animais, pois lidamos com vidas
e a Relevância da importância da pesquisa, dessa forma pensar se os resultados
podem sobrepor a realidade para o ser humano ou animal (RUSSEL; BURCH,
1959).

INDICAÇÃO DE LEITURA

Ebook: Guia prático da legislação vigente sobre experimentação animal


CEUA/UNIFESP. Disponível em:

https://ceua.unifesp.br/images/documentos/CEUA/E_Book_CEUA_UNIFESP_1
a_Edicao.pdf

2.2 CEUA
No dia 8 de outubro de 2008, o Brasil aprovou a Lei 11.794, conhecida
como “Lei Arouca”, que regulamenta no país o uso de animais em pesquisas
científicas. O maior desafio dos elaboradores de políticas públicas é buscar a
harmonia entre as disposições legais e as pesquisas biomédicas (FILIPECKI et
al., 2011).
O CONCEA - Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal,
conforme o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – é o órgão integrante
deste Ministério. Dentre suas atribuições aponta-se a formulação de normas
referente à utilização humanitária de animais com o objetivo de ensino e
pesquisa científica, bem como o estabelecimento de métodos para instalação e
funcionamento de laboratórios de experimentação animal (CONCEA, 2013).
As instituições que utilizam animais com o intuito de ensino e pesquisa
científica precisam criar e registrar a Comissão de Ética no Uso de Animais
(CEUA). Deste modo, os CEUAs são registrados no CONCEA. De acordo com
a Lei Arouca, sem esse cadastro as instituições não podem solicitar o seu
credenciamento, sem isso não poderão utilizar animais. Cada instituição é
encarregada por sua experimentação e ética nas pesquisas com animais.
Qualquer irregularidade ou descumprimento da Lei Arouca, as CEUAs devem
ser denunciadas à CONCEA (CONCEA, 2013).
Para um pesquisador submeter e desenvolver um projeto de pesquisa
com animais é necessário preencher um formulário de solicitação de
autorização. A CEUA da instituição analisará as informações recebidas com
atenção e levará em consideração o número de animais a ser utilizado, o método
de eutanásia e ao bem-estar dos animais experimentais e, então, emitirá um
parecer concordando ou não com os procedimentos pretendidos. A partir do
recebimento do protocolo positivo, o pesquisador poderá iniciar os estudos. A
qualquer momento também, poderá ser emitido um parecer solicitando
esclarecimentos, de acordo com o regimento interno da CEUA (CONCEA, 2013).

SAIBA MAIS

O modelo do formulário unificado para solicitação de autorização para uso de


animais em experimentação e/ou ensino está disponível na página do CONCEA
na internet.

https://www.gov.br/mcti/pt-br/composicao/conselhos/concea.

3. USO DE ANIMAIS E O AVANÇO CIENTÍFICO NA SAÚDE PÚBLICA

São grandes os avanços proporcionados à humanidade e à saúde pública


através da experimentação animal nas pesquisas científicas. Dentre as
pesquisas mais relevantes, podemos citar como exemplos;
Descoberta e controle de qualidade de vacinas contra:
● Poliomielite
● Sarampo
● Difteria
● Tétano
● Hepatite
● Febre Amarela
● Meningite
Os testes com animais também foram fundamentais para a descoberta de
anestésicos, antibióticos, anti-inflamatórios, analgésicos, controle de asma,
diabetes, dor, hipertensão, antidepressivos, anticoncepcionais, quimioterápicos
e tratamento da ansiedade (CAMARGO, 2019).
Na atualidade, vários estudos estão sendo desenvolvidos em laboratórios
por todo o país visando a descoberta de vacinas e medicamentos para malária,
aids, dengue, tuberculose, covid-19 e outras doenças. Deste modo, podemos
ressaltar que os animais experimentais são de grande relevância para a
evolução da saúde pública e sobrevivência da raça humana no mundo
(CAMARGO, 2019).

3.1 É possível abrir mão desse tipo de experimentação?

Embora já existam técnicas altamente sofisticadas e equipamentos com


alta tecnologia para a realização de algumas pesquisas, em virtude da
complexidade da biologia celular, o uso de animais em laboratório ainda é
necessário para seu desenvolvimento. No Brasil e no exterior, vários
pesquisadores já fazem grandes esforços visando a descoberta de métodos
alternativos, para que em um futuro próximo os animais não sejam mais
necessários ou utilizados em pesquisas experimentais. Porém, somente em
alguns casos a Biologia Celular e Molecular, através da técnica de cultura de
tecidos, e simulações em computadores oferecem essa possibilidade. Neste
contexto, no cenário atual, afirmar que os animais não são mais necessários
para descobertas de novas vacinas, medicamentos, terapias, entre outros, se
torna um grande equívoco e de grande irresponsabilidade (CAMARGO, 2019).

REFLITA

A discussão sobre o uso de animais para testes científicos é fundamental e a


sociedade tem que participar das decisões do que é feito, em termos éticos, com
a pesquisa animal. Nesta discussão, os que são a favor e aqueles que são contra
a utilização de animais precisam ser ouvidos para chegarmos a um consenso.
Após discutirmos este tema nesta unidade, qual sua opinião sobre este assunto?
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao fim dessa jornada de ideias que refletem a visão que o


homem tem estabelecido sobre os animais, e especialmente sobre a
experimentação animal. O principal objetivo desta unidade foi apontar a
importância da ética com os animais e o tratamento que é destinado a eles.
A busca por métodos alternativos que minimizem e cessem o uso de
animais em alguns procedimentos deve ser de caráter obrigatório e ético de
todos que se preocupam com os animais. Precisamos reconhecer no Brasil
métodos alternativos validados internacionalmente, para que as leis sejam
cumpridas.
Um item importante a ser destacado na competência da ética e da
integridade na pesquisa, são as publicações. Publicar as pesquisas, inclusive as
de resultado negativo, é fundamental para que os experimentos não sejam
repetidos e os animais sejam utilizados desnecessariamente.
Equilibrar a necessidade da ciência com a necessidade dos animais é um
grande desafio. A aplicabilidade, a reflexão ética efetiva e o compromisso com a
qualidade de vida animal comunica diferentes grupos que se preocupam com o
bem-estar do animal, utilizado na pesquisa, atingindo perspectivas dos cientistas
utilitaristas e, também dos que se preocupam com o bem-estar, incluindo
médicos veterinários, cientistas, políticos, organizações humanitárias, e a
sociedade de modo geral.
5. REFERÊNCIAS

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