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Instituto de Ciências de Saúde Tenha Esperança (INCISTE)

Delegação de Cuamba

Curso de Técnico de Medicina Geral (TMG VI)

Disciplina: Deontologia e Ética Profissional I

Licão número: 1 e 2 Data: 25 de Fevereiro de 2022

Tema: Ética, Bioética e Deontologia .

Sumario:

 Breve apresentação e considerações do Rigente da cadeira aos Estudantes;


 Introdução da Ética, Bioética e Deontologia.

1.0. Conteúdo

 Ética
 Moral
 Bioética
 Ética Profissional

Evolução Histórica e Conceitos ética medica, bioética, deontologia e Ética Profissional

A preocupação com a ética acompanha o homem desde a Antiguidade, tomando diferentes concepções e
parâmetro ao longo da história.Para Oguisso e Zoboli (2017), o homem é um ser ético, por usar a razão, a
liberdade e a consciência de seus actos. A ética pressupõe a capacidade de decisão, baseada em valores,
crenças e normas da sociedade.

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A ética poderia, talvez, ser definida como a ciência da moral. Sua importância sobre a actividade médica
reside no fato de que esta não é uma actividade puramente técnica, embora, desde o século XIX, a técnica
venha tomando dimensão cada vez mais ampla no exercício da medicina. Contudo, à medida que se criam
novas técnicas surgem novos problemas morais ou gera-se nova visão sobre antigas questões. Por mais
impessoal que a técnica torne a conduta médica, não esgotará o problema ético, pois perpassa a inter-
relação de pelo menos duas pessoas, a que a aplica e a que dela se beneficia. Dessa maneira,
estabelece-se um relacionamento humano no qual há exigências morais. É conveniente esclarecer que a
ética e o Direito têm seus próprios rumos, sem que um dependa do outro. Correm paralelos e podem se
inter - influenciar por provir da mesma fonte – a moral. A ética é, necessariamente, individual; o Direito,
individual ou colectivo. A ética baseia-se em valores predominantemente culturais; o Direito, para manter a
ordem social, traz a predominância dos valores consensuais e colectivos (Monte 2009).

A consideração sobre a ética é importante na prática médica e pesa nas decisões clínicas. Por isso, ao
tratar o raciocínio médico não se pode desconhecer a dimensão ética no agir profissional. Podemos
concordar com Cassel quando diz que a ética médica não é algo restrito à pieguice de salão em
conferências ou seminários. Como as demais ciências médicas, é uma base necessária, útil e produtiva
para a acção. Acrescente-se o fato de que a medicina não é profissão puramente técnica, mas também
moral. Infelizmente, nós, médicos, não somos ou fomos suficientemente treinados para perceber o lado
moral da prática profissional, para actuar segundo essa dimensão. Assim, para aqueles interessados em
avaliar e situar alguns dos conceitos relacionados à ética médica faz-se importante conhecer sua evolução
histórica (Monte 2009).

a) Ética

A palavra “ética” vem do grego éthos. Em grego, éthos tem duas grafias diferentes: encontramos um éthos
escrito com eta e outro escrito com épsilon. Escrito com eta, significava originalmente “morada” ou “lugar
de residência”. Mais tarde, veio a ter a acepção que historicamente foi a mais comum na tradição filosófica
do Ocidente: significa “carácter” ou “índole”, isto é, a disposição fundamental de uma pessoa diante da
vida. Escrito com épsilon, pode ser traduzido por “hábito” ou “costume”, ou seja, refere-se aos actos
concretos e particulares, por meio dos quais a pessoa realiza seu projecto de vida (Betioli 2015).

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A ética pode ser entendida como o estudo dos aspectos positivos e negativos de qualquer acção humana,
levando à discussão do agir humano. É considerada como o conjunto de princípios morais que regem a
conduta, os direitos e deveres de um indivíduo, grupo ou sociedade (OGUISSO; ZOBOLI 2017). De acordo
com Gelain (1998), a palavra ética vem do grego “êthos”, que significa caráter, modo deser.

Para Oguisso e Zoboli (2017), quando as acções do homem consideram o bem da colectividade, fala-se
em actos éticos e, quando as acções negligenciam o outro, atendendo exclusivamente a interesses
pessoais, fala-se de actos antiéticos.

A ética é o ramo da filosofia que se dedica ao estudo dos valores e da moral. Para Cortina & Martinez
(2005:9), a ética ou filosofia moral, reflectindo questões morais desdobra conceitos e argumentos de tal
sorte a compreender a dimensão moral do ser humano, aumentando assim o conhecimento sobre nós
mesmos e nesta condição alcançando um maior grau de liberdade. “Em suma, filosofamos para encontrar
sentido para o que somos e fazemos e buscamos sentido para atender aos nossos anseios de liberdade,
pois consideramos a falta de sentido como um tipo de escravidão”.

Doutrina ainda a comemorada autora, a ética como um tipo de saber indirectamente normativo no sentido
de que se propõe a orientar as condutas humanas, enquanto a moral oferece acções específica para
situações concretas. Destarte, a ética enquanto filosofia moral tem por elemento teleológico “esclarecer
reflexivamente o campo da moral” de tal modo a orientar racionalmente para o apontamento da conduta
moralmente pertinente (De Oliveira; Capanema, 2009).

Moral é outro termo associado e algumas vezes confundido com ética. A palavra moral vem do latim “mor”
ou “mores” e significa costumes, sendo um conjunto de normas adquiridas pelo hábito (OGUISSO;ZOBOLI
2017).

b) A bioética

No termo bioético, bio representa o conhecimento biológico, a ciência dos sistemas viventes, enquanto
ética, representa o conhecimento dos sistemas dos valores humanos. O nascimento da bioética como
disciplina coincide, com um retorno do interesse da parte da ética filosófica pela ética prática, um interesse
motivado pela urgência de fornecer um adequado fundamento ao debate público e as legislações e de
conduzir o diálogo no contexto das sociedades pluralistas e democráticas. Esse subtema é o estudo
sistemático do comportamento perspectiva a luz dos valores e princípios morais.
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Bioética, pode ser definido como o estudo da conduta humana nas áreas das ciências da vida e da
atenção à saúde. A bioética é uma reflexão para formular e solucionar dilemas que emergem das
propostas de pesquisa e intervenção sobre a vida, a saúde e o meio ambiente. São exemplos de
discussões da bioética: vida e morte, aborto, eutanásia, planeamento familiar, transfusão de sangue,
doação de órgãos, segredo profissional, pesquisa envolvendo seres humanos.

A bioética apresenta uma dualidade de perspectivas, ao inserir-se na óptica filosófica e valorativa, atua
como uma filosofia moral e preceitua que a vida humana possui um valor, uma importância e uma supre
macia absoluta e que sua dignidade deve ser preservada ante os avanços médicos e científicos, cita-se
aqui a questão da autodeterminação e do livre arbítrio em face da eutanásia e da “morte digna”, temas
tratados e regidos por diversas legislações internacionais, (De Siqueira 2015).

A outra dimensão apresentada pela bioética é ser ela uma disciplina do conhecimento médico e biológico,
que apresenta as directrizes da autonomia e limites dos avanços médicos, abordando também questões
acerca da humanização da ciência.

É sabido que o desenvolvimento humano representa uma incansável busca de novos caminhos e
horizontes, o conhecimento científico transforma-se e evolui por meio da incessante acção do homem de
questionar, pensar, pesquisar e descobrir. Com o surgimento e amadurecimento da bioética, nascem
questionamentos que precisam ser respondidos pelo ordenamento jurídico, surge assim o bio direito.

Podemos entendê-lo como um conjunto de normas orientadoras da conduta humana em razão do princípio
da protecção à vida, tem como objectivo oferecer à sociedade, e aos operadores do Direito e das ciências
da saúde deliberações e subsídios éticos e normativos, gerando uma obrigatoriedade e imperatividade em
seu cumprimento, como normatizações jurídicas que são (Idem).

Importante salientar que, assim como as demais determinações legais, não se restringem a preceitos
técnicos e estritamente legalistas, constituem directrizes que são ordenadas de maneira coesa e
vinculadas com a realidade e os anseios sociais e científicos.

O bio direito, diante de sua abrangência e amplitude, trata de normas, princípios e directrizes relativos à
natureza jurídica do embrião, aborto, eugenia, eutanásia, procriação assistida, manipulação genética,
transplantes de órgãos, dentre outros (De Siqueira 2015).

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Essas técnicas constituem o novo panorama do desenvolvimento tecnológico da actualidade, que diante
da celeridade na evolução e desenvolvimento do saber cientifico, em pouco tempo podem até já estar
obsoletas pelo aprimoramento e surgimento de outras mais avançadas, mas o certo é que sempre
existirão novos métodos e técnicas necessitando de regulamentação e orientação jurídica. A Assembleia
Geral da Unesco estabeleceu duas importantes normatizações sobre o tema: a Declaração do Homem e
do Genoma Humano (1997) e a Declaração de Bioética e Direitos Humanos (2005), sob essas
orientações, parte importante da doutrina entende que as normatizações sobre o genoma correspondem a
4ª geração dos Direitos Humanos, atribuindo a essas garantias uma enorme relevância, colocando-as no
selecto rol dos Direitos Humanos, também conhecidos como direitos fundamentais, personalíssimos,
existenciais ou liberdades públicas (De Siqueira 2015).

c) Deontologia

O termo Deontologia surge das palavras gregas "deon, deontos" que significa dever e "logos" que se
traduz por discurso ou tratado. Assim sendo, a deontologia seria o tratado de dever ou o conjunto de
deveres, princípios e normas adoptadas por um determinado grupo profissional. A deontologia é uma
disciplina da ética especial adaptada ao exercício de uma profissão. São vários os inúmeros códigos de
deontologia, sendo esta codificação da responsabilidade de associações ou ordens profissionais. Regra
geral, os códigos deontológicos têm por base as grandes declarações universais e esforçam se por
traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando as, no entanto, as particularidades de cada país e
de cada grupo profissional. Para além disso, estes códigos propõem sanções, segundo princípios e
procedimentos explícitos, para os infractores do mesmo.

d) Ética Profissional

Ética Profissional é um termo utilizado quando estão envolvidos os direitos e deveres em uma organização
profissional ou dentro do trabalho. Também pode ser entendida como um conjunto de regras estabelecidas
para o exercício de uma profissão (Oguisso; Zoboli 2017).

Os profissionais de Enfermagem devem dominar conhecimentos, técnicas e habilidades para o exercício


da função e isso inclui o conhecimento sobre a conduta ética. Na Enfermagem, ao desenvolver o cuidado,
o profissional deve assumir uma atitude de respeito e a colhimento no que se refere aos valores, crenças e

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atitudes do cliente/paciente (Oguisso; Zoboli 2017). E esse respeito também se aplica na relação entre os
profissionais da equipe de Enfermagem e de saúde.

De acordo com Oguisso e Zoboli (2017), quando há diferenças de valores, crenças, experiências e
formação, surgem os dilemas éticos, que consistem em situações em que é necessário tomar uma decisão
entre duas ou mais opções. Para solucionar um dilema éticos, é importante que o profissional seja
imparcial e reflicta sobre os princípios éticos e legais da profissão.

Oguisso e Zoboli (2017) destacam algumas características necessárias ao profissional de Enfermagem,


como compaixão, honestidade, fidelidade, justiça, prudência e sabedoria.

Para nortear a acção dos profissionais, são elaborados os Códigos de Ética. Esses códigos oferecem
elementos para o pensar e agir do profissional diante de si e do outro (Oguisso; Zoboli 2017).

Para o exercício de uma profissão, a ética deve se iniciar antes da prática, pois envolve princípios, valores
e crenças pessoais (Oguisso; Zoboli 2017).Portanto, é fundamental que o Profissional de Enfermagem
compreenda os princípios éticos da profissão, de modo a exercer uma assistência adequada ao
cliente/paciente.

Referências Bibliográficas

Betioli, A. (2015). Bioética, a ética da vida. São Paulo: LTR.

Cortina, A; Martinez, E. (2005). Ética. São Paulo:Loyola.

De Siqueira, J. (2015). Direito e Bioética: Necessidade de Interacção. Brasil: RJLB.

De Oliveira, A; Capanema, F. (2009). Ética, bioética e deontologia em pesquisas envolvendo seres


humanos. Brasil: Rev Med Minas Gerais.

Monte, F. (2009). Ética médica: evolução histórica e conceitos. Brasil: Revista Bioética.

Oguisso, T., Zoboli, E. (org.). 2017. Ética e bioética : desafios para a enfermagem e a saúde. Barueri:
Manole,

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