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CE BENEDITA JORGE – FILOSOFIA – Profª Hilma Paixão

A ética de Aristóteles,de Kant e de Mill


Neste material estudaremos três teorias éticas tradicionais: a de Aristóteles, a de Kant e a de Mill.
Cada uma destas éticas é considerada tradicional porque forneceu uma resposta inédita sobre como o
homem deve agir moralmente e porque alcançou certa notoriedade e aceitação nas sociedades
ocidentais. Atente para o fato de que estas teorias foram propostas em um momento histórico e
em um contexto sócio-político-cultural único, muito diferente do nosso. Simplesmente por
conhecer estas éticas não significa que devemos necessariamente segui- las. Porém, ao conhecê-
las, podemos identificar que respostas estes grandes pensadores propuseram sobre o agir moral.

Figura 1 – Discussão entre Aristóteles, Kant e Mill (Alex Xavier)

Seção 1 – Aristóteles e a virtude


A ética de Aristóteles (384-322 a.C.) é considerada, por muitos, como mais célebre que a
ética de Sócrates. Uma das justificativas para esta posição refere-se ao fato de que Aristóteles
desenvolveu o primeiro estudo profundo e sistemático sobre a Ética.
Aristóteles, tal como Sócrates, também se dedicou a refletir sobrea moral. Porém, diferentemente
de Sócrates que nada escreveu (só conhecemos a filosofia de Sócrates a partir de registros e
testemunhos), Aristóteles tem uma vasta produção bibliográfica, sendo que um dos seus livros,
a Ética a Nicômaco, interessa-nos de modo especial. Por ela, podemos estudar o cerne da sua
ética.

Alguns elementos da ética de Sócrates são retomados na ética de Aristóteles. Se Sócrates pensa a
virtude como algo que deve brotar da alma do sujeito, em função de um conhecimento inato, Aristóteles,
por outro lado, pensa que a virtude não é uma habilidade inata que pode ser relembrada. Para
Aristóteles, a virtude pode e deve ser adquirida e desenvolvida pelo exercício. Podemos, então,
cultivar a virtude através de nossa autonomia racional de escolher o que fazer e do hábito de
praticar boas ações; mas Aristóteles enfatiza que a virtude é conseqüência de nossa disposição, de
nossa escolha racional, de nossa autonomia parapraticar estas boas ações.
Aristóteles destaca que não há um ato moral quando não podemos escolher ou quando
estamos diante de uma situação marcada pela necessidade (situação em que só podemos agir de
um único modo) ou pela impossibilidade (situação em que não podemos agir de outro modo).
Este pensador ainda explica que, no domínio da moral, lidamos com a inexatidão, com
irregularidades, pois não há certeza sobre que ações, de fato, escolheremos. Ora, somos
plenamente capazes de realizar escolhas racionais, virtuosas, mas precisamos reconhecer,
também, que existem inclinações, desejos e paixões que podem influenciar em muito as nossas
escolhas.

Filosofia - 2º Período | 1
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Aristóteles também defendia que toda ação moral almeja um fim. E que cada um destes fins,
cada objetivo que traçamos, representa para nós um bem. Existem inúmeros, incontáveis bens,
mas Aristóteles explica queo maior bem para os seres humanos é a felicidade, pois todos osoutros
bens visam, direta ou indiretamente, a felicidade.
Aristóteles ainda previne que, para o homem agir com virtude e ser feliz, ele precisa
reconhecer que algumas necessidades básicas devem ser satisfeitas - como ‘certa riqueza’,
‘amizade’, ‘beleza’, ‘boa origem’, ‘família’, - pois ‘não é fácil’ ser virtuoso e feliz sem estes meios.

Seção 2 – Kant e o dever


Como estudamos na seção anterior, conforme a ética de Aristóteles, nós devemos
cultivar a virtude com vistas à felicidade. A ética de Kant (1724-1804), por outro lado, atenua
a importância da felicidade – em relação às ações morais que praticamos. Para entendermos
esta afirmação, precisamos conhecer alguns elementos da ética de Kant.

A essência daética de Kant está disposta em seu livro intitulado


Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785); masseu livro Crítica da
Razão Prática (1788) também é importante para entender a sua ética.
Para Kant, a moralidade vigente não deve impor ao indivíduo o queele deve fazer, e sim
o indivíduo deve impor a si mesmo uma moral. Assim, a ética de Kant prima pela autonomia,
pois valoriza o indivíduo enquanto legislador de sua própria moral e não a moralidade que nos é
exterior. Cada ser humano, racional e livre, pode pensar como deve agir. A moral, na perspectiva
kantiana,tem como base a lei - determinada pelo próprio indivíduo.
Mas a questão é, como podemos determinar esta própria lei moral?
Antes de conhecermos de que modo o indivíduo pode ser legislador de
si mesmo, vamos entender o que é dever e o que é boa vontade.
O dever, para Kant, é uma obrigação moral que requer, por definição, liberdade. Assim, o
ato de não roubar, por exemplo, pode ser considerado como uma obrigação moral à medida que eu
tiver liberdade para agir.
Kant pensa que devemos agir considerando o dever, mas que tal ação deve ser praticada,
sobretudo, em função de uma boa vontade. A boa vontade significa que ‘devemos’ agir por
‘respeito ao dever’, considerando o dever imposto por nossa própria moral. Observe que a
compreensão de Kant sobre a boa vontade implica que temos a ‘obrigação’ de agir sempre por
respeito ao dever, independente do resultado que a ação possa acarretar para nós.
Observe que a moral kantiana procura transcender às inclinações, às paixões, às
tendências, aos impulsos ou aos desejos pessoais, pois o homem deve obedecer unicamente à
lei moral, determinada pela própria razão – com base na boa vontade e assim respeito ao
dever.
A partir da idéia de boa vontade, Kant propõe uma máxima para o indivíduo orientar a
constituição de sua própria moral: o imperativo categórico.
O imperativo categórico expressa que devo agir de tal modo, queminha ação torne-se um modelo
de moralidade, não apenas para mim, mas para todos os homens e em todas as situações. O
imperativo categórico expressa que devo agir de tal forma, que a ação que eu pratico seja válida
não apenas para mim, mas para todos os outros indivíduos.
Veja que a ética de Kant é formal, pois propõe uma forma de ação que deve valer para todos os
homens.

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Seção 3 – Mill e a utilidade


O londrino John Stuart Mill (1806-1873) defendeu uma éticautilitarista, principalmente através
do seu livro Utilitarismo. Em toda ética utilitarista a utilidade é o critério que deve orientar a
escolha da ação moral.
Na ética de Mill, especificamente, defende-se que toda ação moral deve visar à utilidade em
vista da realizaçãoda felicidade. A felicidade, por sua vez,é o maior bem que podemos almejar
e está ligada fundamentalmente à ausência de dor e presença de prazer, mas não apenas isso,
pois, para sermos felizes, também necessitamos cultivar avirtude e aprimorar o caráter.
Porém, as ações morais não devem visar à felicidade de um únicoindivíduo, de modo egoísta,
e sim devem visar à felicidade do maior número possível de indivíduos.
Logo, a bondade da ação moral depende da ‘maior’ felicidade, para o ‘maior’ número de
pessoas.
Observe que, conforme a ética de Mill, não precisamos agir de modo rígido, fixo, formal
- como é o caso da ética kantiana – pois para diferentes situações e diferentes indivíduos a
utilidade das ações apresenta-se variável, mutável, diversa.
Se para Kant a felicidade não é o fim mais importante que orienta nossa ação moral, para
Mill a felicidade representa o fim mais alto, em função do qual devemos agir. Por outro lado,
tanto na ética de Mill quanto na ética de Aristóteles, a felicidade é considerada como um fim
da ação moral.
Logo, para Mill, a ação é julgada como correta ou incorreta em função da maior
quantidade de felicidade alcançada, para o maior número de indivíduos.

SÍNTESE:
Observe que as três éticas - a de Aristóteles, a de Kant e a de Mill - são éticas normativas, pois
procuram estabelecer e normatizar como deve ser a ação para todos.

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