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Universidade Católica de

Moçambique
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HONÓRIO SUMALE
A Ética social como disciplina
filosófica e normativa
Ética normativa
• A ética normativa é uma área da filosofia que
procura definir o que é uma ação certa e uma
ação errada, o que diferencia uma ação boa
de uma má. O debate sobre essas questões
está presente na filosofia pelo menos desde 
Sócrates e os Sofistas e por isso, ao longo
desses mais de dois mil anos, várias teorias
alternativas foram elaboradas como uma
tentativa de respostas.
Cont.
• Esse campo de estudo da filosofia é chamado
de “normativo” porque procura definir
normas de conduta. Nesse sentido, se
diferencia de outras abordagens de disciplinas
como a sociologia ou a biologias que são
descritivas, porque se limitam a descrever as
ações morais.
Cont.
• A ética normativa também se diferencia de outras
abordagens sobre ética presentes na filosofia, como
a ética prática e a metaética. A primeira é uma
espécie de filosofia aplicada, que discute questões
polêmicas como o aborto, a eutanásia, o
melhoramento genético, o direito dos animais etc.
A segunda, questiona a natureza dos juízos morais,
se são objetivos ou subjetivos, se estão limitados à
cultura no qual surgiram ou se podem ser
universais.
Cont.
• Para perceber as relações dessas diferentes
abordagens sobre a ética na filosofia,
considere um exemplo. Suponha que estamos
discutindo se usar animais na alimentação é
correto. Diante de uma questão como essa,
cada uma dessas áreas colocaria questões
diferentes.
Cont.
• A ética normativa perguntaria, de modo geral, o
que é uma ação correta. Não apenas no caso
específico do uso de animais para alimentação, mas
o que é correto em si. A metaética, por outro lado,
colocaria em questão o que significa dizer que uma
ação qualquer é “correta”, se esse tipo de avaliação
é objetiva ou subjetiva, universal ou particular. A
ética prática, por fim, discutiria, a partir de alguma
teoria elaborada pela ética normativa, se é correto
ou não comer animais e porquê.
Teorias na ética normativa
• Ao longo da história da filosofia, algumas
teorias morais acabaram se destacando.
• Ética da virtude
• Iniciada por Aristóteles, essa abordagem
procura ver a ação humana como um tudo e
questiona o que é um bom caráter ou uma vida
virtuosa. O conceito central, para avaliar se uma
ação é correta ou não, é o a noção de virtude.
Deontologia
• Conhecida como ética do dever, esse grupo de
teorias argumenta que os seres humanos
possuem certos direitos básicos e que agir
corretamente é respeitar esses direitos.
Geralmente esses direitos são vistos como
absolutos e não devem ser desrespeitados
mesmo que isso gere consequências benéficas
ou prejudiciais para um grande número de
pessoas.
Cont.
• Essa é uma das correntes principais do
pensamento moral atualmente, pois está presente
no conceito de direitos humanos, por exemplo.
Entre as teorias que adotam uma perspectiva
deontológica, podemos destacar a 
teoria moral de Kant, a teoria da justiça de Rawls e
a teoria política de Locke. Os filósofos considerados
contratualistas ou defensores da chamada lei
natural também fazem parte dessa abordagem.
Consequencialismo
• O consequencialismo é uma abordagem na
ética normativa que acredita que a correção
de uma ação é determinada apenas pelas suas
consequências, nada mais importa. Se esses
consequências forem boas, a ação é correta;
ao contrário, se forem ruins, é incorreta. As
teorias consequencialistas são variações do 
utilitarismo de Jeremy Bentham e John Stuart
Mill.
O utilitarismo
• O utilitarismo é uma teoria em 
ética normativa que explica o que é uma ação
correta e o que é uma ação errada. Em
resumo, a ideia é que certo é tudo o que gera
mais felicidade e errado o que gera menos
felicidade. E felicidade é entendida como bem-
estar, prazer, aquilo que buscamos em nossas
vidas.
Cont.
• Os filósofos, desde Sócrates pelo menos,
refletiram sobre a natureza do certo e do
errado. E alguns deles propuseram teorias
gerais para explicar o que é uma ação correta.
Umas dessas teorias é o utilitarismo. Os dois
principais filósofos associados a essa teoria
são ingleses e viveram no século XIX: Jeremy
Bentham e John Stuart Mill.
Cont.
• Para compreendermos como o utilitarismo explica o que é
certo e errado, como devemos agir, vamos considerar um
caso de dilema moral, o dilema do trem.
• Você vê um trem desgovernado indo em direção a cinco
pessoas amarradas nos trilhos. Caso nada seja feito, elas
serão mortas pelo trem. Mas você está ao lado de uma
alavanca que controla um interruptor. Se você puxar a
alavanca, o trem será redirecionado para uma pista lateral
e as cinco pessoas na pista principal serão salvas. No
entanto, na pista lateral também há uma pessoa presa que
acabará morrendo.
Dilema do trem
Cont.
• Qual é a coisa certa a fazer?
• Deixar que as cinco pessoas moram?
• Puxar a alavanca e matar uma pessoa?
Cont.
• Independente do que considere o mais
correto a fazer, nesse momento vamos deixar
nossas crenças pessoais de lado e analisar
essa questão do ponto de vista do utilitarismo.
De acordo com essa teoria, fazer o certo é
fazer aquilo que irá trazer a maior felicidade
ou bem-estar. Os utilitaristas chamam essa
regra básica de princípio de utilidade.
Cont.
• Nesse ponto, é importante diferenciar o
utilitarismo do egoísmo. De acordo com essa
visão, o certo é aquilo que nos é benéfico. Uma
pessoa egoísta, no dilema do trem, optaria pela
ação que vai lhe deixar mais confortável. Um
utilitarista, ao contrário, considera a felicidade de
todas as pessoas que serão afetadas pela ação.
Cont.
• Sabendo disso, você já deve imaginar o que os
utilitaristas teriam a dizer sobre o dilema do
trem. Fazendo um cálculo simples, a
sobrevivência das cinco pessoas gera
claramente mais bem-estar e menos
sofrimento. Portanto, deveríamos puxar a
alavanca.
Cont.
• A Ética é a área da Filosofia que discute o
comportamento moral. Diversas, porém,
podem ser as interpretações a respeito do agir
moral, como são as de Aristóteles e Kant.
Cont.
• A Ética é uma parte da filosofia prática
também conhecida por filosofia moral. Os
problemas principais da ética estão
relacionados com os fundamentos do dever e
com a natureza do bem e do mal, ou seja,
tudo aquilo que está relacionado com o modo
como devemos viver. Não por acaso, a palavra
“ética” vem do grego éthikos e significa modos
de ser.
Kant e o Imperativo Categórico
• A área da ética que enfrenta a questão do modo como
devemos viver é a Ética Normativa, que floresceu na
época do Iluminismo, quando os filósofos passaram a
entender que aquilo que deveria pautar as escolhas
morais deveria ser a razão humana, e não os valores
religiosos. O imperativo categórico de Kant é uma
importante expressão das perguntas acerca da ação
moralmente correta que marcaram esse período. Por
meio do Imperativo Categórico, Kant procurou
proporcionar um padrão pelo qual determinamos o que é
obrigatório ou permissível fazer.
Cont.
• Desse modo, no pensamento de Kant, entrelaçam-se
as noções de liberdade e de dever. A razão humana
seria uma razão legisladora e, por isso, pela atividade
do pensamento, seria possível chegar a normas.
Essas normas seriam universais porque são fundadas
na razão, algo que todos os humanos possuem. Ao
obedecer às normas, a pessoa exerceria sua
liberdade de estabelecer, por meio da razão, aquilo
que é correto. Para Kant, podemos entender que o
dever é uma expressão da racionalidade humana.
Cont.
• Mas o homem, sabia Kant, não é formado apenas
de razão, pois ele possui também desejos, medos
e interesses que interferem em suas decisões. Por
isso, Kant acreditava que, em qualquer decisão, o
homem deveria observar se sua ação pode ser
universalizada, ou seja, aplicável a todos sem que
ninguém seja prejudicado por ela. Se não puder
ser universalizada, não se trata de uma ação
moralmente correta.
A diferença entre Ética Formalista e Ética
Aplicada
• A ética de Kant pode ser entendida
como formalista, ou seja, ele apresenta uma forma
de agir moralmente correta, mas não especifica o
que devemos ou não fazer em situações concretas.
O filósofo Hegel criticou o formalismo de Kant e
propôs uma ética vinculada à história, ao contrário
do que ele entendia ser a ética kantiana, que, por
não levar em conta a história e o desenvolvimento
da sociedade, não conseguia resolver os problemas
do indivíduo concreto.
Cont.
• Diferente da ética formalista é a Ética
Aplicada, na qual se discute o que é
obrigatório ou permissível fazer em relação a
situações concretas. Consideremos, por
exemplo, que matar uma pessoa seja
moralmente incorreto. Mas e se essa pessoa
for uma ameaça à sua vida ou à vida de outra,
matá-la seria um ato moralmente correto?
Cont.
• Da mesma forma, consideremos o roubo e o
furto como atos moralmente incorretos. Mas
e se essa pessoa for uma mãe desesperada
para alimentar os filhos?
• Uma área que se desenvolveu a partir da Ética
Aplicada foi a Bioética, que discute, entre
outros problemas, aqueles relacionados com o
uso de animais em experimentos científicos.
O que os filósofos antigos pensavam sobre a
Ética?
• Desde os sofistas a preocupação sobre o
comportamento humano faz-se presente.
A ética dos sofistas era relativista, ou seja,
para eles não havia normas que poderiam ser
universalmente válidas, o contrário do que
disse Kant séculos depois.
Cont.
• Sócrates já dizia algo no mesmo sentido que Kant,
mas, para ele, a alma humana era, em sua essência,
razão e nela deveriam ser encontrados os
fundamentos da moral. Platão, por sua vez,
desenvolveu esse pensamento com uma distinção
entre corpo e alma: o corpo, por ser dotado de
paixões, poderia desviar o homem do bem. Para
alcançar a ideia de bem, o homem precisaria
da pólis, de modo que aquele que age de forma
ética é bom e, também, um bom cidadão.
Cont.
• Dissociando o homem da sociedade,
os estoicos pensavam na ética como um
autocontrole individual com aceitação em
relação ao que acontece e com a noção de
amor ao destino. Tudo faria parte dos planos
de uma razão universal. A consequência do
agir, segundo esses princípios, seria a
imperturbabilidade da alma.
Cont.
• Para os epicuristas, a imperturbabilidade da
alma era também a finalidade da ética, mas os
princípios que eles seguiam eram quatro: 1)
Não há o que temer quanto aos deuses; 2) Não
há o que temer quanto à morte; 3) A felicidade
pode ser alcançada; 4) Pode-se suportar a dor.
Eles defendiam também que o bem
fundamental é o prazer, mas não no sentido do
prazer sexual, e sim do prazer da amizade.
Aristóteles e a ética do equilíbrio
• A preocupação da ética de Aristóteles,
também racionalista como a de Platão, era
relacionar mais profundamente o homem com
a vida na pólis. Por isso, abandonou o
dualismo platônico corpo-alma.
• Em sua obra, Aristóteles investigou as formas
de governo que permitiriam que os homens
tivessem uma vida melhor em sociedade. Para
ele, “o homem é um animal político”, ou seja,
o homem só realiza sua natureza quando
envolvido na vida da pólis.
Cont.
• A política constitui, ao lado da ética, dentro do
sistema aristotélico, o “saber prático”, pois o
objetivo de ambas não é o conhecimento de uma
realidade – como no caso da física, astronomia,
ciências biológicas e psicologia, que constituem o
“saber teórico”. Segundo esse filósofo, ética e
polítca não poderiam ser pensadas separadamente,
pois enquanto a ética busca o bem-estar individual,
a política busca o bem comum.
Cont.
• A ética aristotélica é um estudo da virtude – em
grego, areté, que também pode ser traduzido por
“excelência”. Isso significa que o objetivo do ser humano
é atingir o grau mais elevado do bem humano – a
felicidade. Para alcançar a virtude, o homem precisa
escolher “o caminho do meio”, a justa medida das coisas,
e agir de forma equilibrada. A covardia e o medo de
tudo, por exemplo, não seriam o certo, mas não ter
nenhum medo também não. A melhor forma de agir
seria preservar a cautela, evitando os excessos, tanto de
medo tanto de destemor.
Cont.
• Para alcançar a felicidade, cada ser precisa cumprir
sua faculdade. A faculdade principal do homem e
que o distingue dos outros animais é a
racionalidade. Essa é a maior virtude do homem.
Sendo assim, para ser feliz, na concepção de
Aristóteles, ele precisa exercitar a sua capacidade
de pensar. Como o homem não vive sozinho,
seu agir virtuoso também terá impacto na relação
que estabelece com os outros, ou seja, na
vida social e política.
Fim

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