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A ética normativa é uma área da filosofia que procura definir o que é uma ação certa e
uma ação errada, o que diferencia uma ação boa de uma má. O debate sobre essas questões
está presente na filosofia pelo menos desde Sócrates e os Sofistas e por isso, ao longo
desses mais de dois mil anos, várias teorias alternativas foram elaboradas como uma
tentativa de respostas.
Esse campo de estudo da filosofia é chamado de “normativo” porque procura definir
normas de conduta. Nesse sentido, se diferencia de outras abordagens de disciplinas como
a sociologia ou a biologias que são descritivas, porque se limitam a descrever as ações
morais.
A ética normativa também se diferencia de outras abordagens sobre ética presentes na
filosofia, como a ética prática e a metaética. A primeira é uma espécie de filosofia
aplicada, que discute questões polêmicas como o aborto, a eutanásia, o melhoramento
genético, o direito dos animais etc. A segunda, questiona a natureza dos juízos morais, se
são objetivos ou subjetivos, se estão limitados à cultura no qual surgiram ou se podem ser
universais.
Para perceber as relações dessas diferentes abordagens sobre a ética na filosofia,
considere um exemplo. Suponha que estamos discutindo se usar animais na alimentação
é correto. Diante de uma questão como essa, cada uma dessas áreas colocaria questões
diferentes.
A ética normativa perguntaria, de modo geral, o que é uma ação correta. Não apenas no
caso específico do uso de animais para alimentação, mas o que é correto em si. A
metaética, por outro lado, colocaria em questão o que significa dizer que uma ação
qualquer é “correta”, se esse tipo de avaliação é objetiva ou subjetiva, universal ou
particular. A ética prática, por fim, discutiria, a partir de alguma teoria elaborada pela
ética normativa, se é correto ou não comer animais e porquê.
1
Texto de William Godoy Tatim. William é formado em filosofia pela Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM), tem especialização em docência e trabalha como professor de filosofia no ensino médio.
Texto disponível em: < https://filosofianaescola.com/moral/etica-normativa/#google_vignette>. Acesso.
31/05/2021
Consequencialismo
O consequencialismo é uma abordagem na ética normativa que acredita que a correção
de uma ação é determinada apenas pelas suas consequências, nada mais importa. Se esses
consequências forem boas, a ação é correta; ao contrário, se forem ruins, é incorreta. As
teorias consequencialistas são variações do utilitarismo de Jeremy Bentham e John Stuart
Mill.
Referências
Frank Jackson, Michael Smith. The Oxford Handbook of Contemporary Philosophy.
A ética de Immanuel Kant2
Immanuel Kant (1724-1804) é considerado um dos filósofos mais profundos e originais
que já existiu. Suas ideias sobre ética e metafísica ainda são discutidas e influenciam
nossa forma de pensar o mundo.
2
Texto de William Godoy Tatim. William é formado em filosofia pela Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM), tem especialização em docência e trabalha como professor de filosofia no ensino médio.
Texto disponível em: < https://filosofianaescola.com/moral/etica-de-kant/ >. Acesso. 31/05/2021
Por isso Hume diz que a razão é escrava das paixões. A razão por si só não pode dizer o
que devemos ou não fazer. Ela depende sempre do desejo. Ela serve como um instrumento
para a realização de desejos.
Dever e inclinação
Até então temos o seguinte quadro da ética de Kant. Podemos agir com base em nossos
desejos (ele chama isso de inclinações) ou com base na razão. O primeiro caso ocorre
quando fazemos algo porque desejamos; o segundo, quando é nosso dever moral fazer.
Em resumo, podemos agir com base no dever ou com base na inclinação.
Essa teoria de Kant leva a algumas consequências contraintuitivas. Imagine que encontra
uma pessoa na calçada tendo um ataque cardíaco. Você sente compaixão pela pessoa e
num instante liga para um serviço de emergência médica.
Nesse caso, você agiu com base numa inclinação. Agora imagine um exemplo um pouco
diferente. Suponha que você é uma pessoa fria, que não sente compaixão nesse tipo de
situação. Porém, decide ligar da mesma forma para o serviço de emergência porque é
nosso dever ajudar pessoas necessitadas. Nesse último caso, então, o motivo da sua ação
foi o dever moral.
Naturalmente diríamos que as duas pessoas agiram corretamente. No entanto, Kant faz
uma distinção nesse caso. Ele não afirma que é errado agir com base na inclinação.
Fazemos isso o tempo todo. Porém, pensa que não devemos receber mérito por isso. Diz
que uma ação motivada por inclinação não tem valor moral.
Até animais ajudam outros animais ou pessoas por inclinação. Você já deve ter visto
histórias de cachorros que adotam um gatinho recém-nascido sem mãe ou que protege
com a vida seu dono. Embora bonitas e curiosas, tais ações são motivadas por inclinação
e não tem valor moral.
Portanto, para Kant só tem valor moral aquelas ações que são praticadas porque isso é
nosso dever. Cabe agora entender como ele determina o que é nosso dever fazer ou não.
E essa é a razão porque a ética de Kant é chamada de ética do dever. Fazer a coisa certa
é agir com base em regras morais (imperativos categóricos) por que isso é o certo a fazer.
Quando ajudo uma pessoa necessitada porque esse é meu dever, então minha ação tem
valor moral para Kant.
Uma forma de violação clara da fórmula do fim em si é a escravidão humana. Para Kant,
essa é uma ação incorreta porque está reduzindo seres humanos a meros objetos.
Com isso Kant não quer dizer que nunca devemos tratar as pessoas como meio. Afinal, a
todo instante estamos usando as pessoas para satisfazermos nossos desejos. Quando
almoçamos, por exemplo, estamos usando o trabalho do garçom, do cozinheiro e outras
pessoas. Não há nada de errado aqui, desde que a autonomia dessas pessoas estejam sendo
respeitada. Se pago pelos serviços e essas pessoas aceitam a troca, então estou tratando
elas não apenas como um meio, mas como um fim também.
O mesmo não pode ser dito de um trabalho escravo, por exemplo. Nesse caso, as pessoas
são reduzidas a coisas e sua autonomia é claramente desrespeitada.
Resumo
A ética de Kant é bastante complexa, pois combina uma série de conceitos que se
relacionam entre si. Esse resumo retoma e conecta algumas dessas ideias:
Kant queria justificar a ética sem referência à religião.
Acredita que a razão tem um papel fundamental na ética, pois é ela quem determina como
devemos agir.
A ética de Kant afirma que as ações têm valor moral quando agimos motivados pelo
dever. Quando fazemos o que é certo porque isso é certo.
O que é uma ação correta ou incorreta é definida pelas fórmulas do imperativo categórico.
A fórmula da lei universal diz que ações corretas são aquelas que podem ser
universalizadas.
A fórmula do fim em si diz que devemos tratar as pessoas com seres humanos, não como
coisas, respeitando sua autonomia.
Referências
SANDEL, Michael. Justiça: O que é fazer a coisa certa. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2015.
RACHEL, James. Elemento de filosofia moral. AMGH: Porto Alegre, 2013.