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O que é filosofia?

Uma forma de responder essa questão é através de uma visão geral


das suas principais áreas de estudo – metafísica, epistemologia, ética, estética, filosofia
política, lógica – e dos vários problemas abordados em cada uma delas.

Conhecer isso permite ter uma noção global do que essa disciplina trabalha. Para usar
uma analogia, imagine que é um turista explorando uma nova cidade. Você olha o mapa
para ter uma visão geral, conhecer algumas avenidas principais e onde estão os pontos
de seu interesse, os lugares que deseja visitar.

Conhecer as áreas de estudo e problemas da filosofia é como olhar um mapa: você terá
uma visão geral da disciplina e, assim, saberá, em certo sentido, o que ela é e poderá
identificar os temas e problemas que deseja conhecer.

Metafísica
A palavra “metafísica” é a junção das palavras gregas “meta”, que significa “depois de”
ou “além de” e “physis”, que significa “natureza” ou “física”. Ou seja, “metafísica” seria
aquilo que está “além da natureza” ou “além da física”. Para entender de fato essa
expressão, precisamos parar para examinar o que é essa “natureza” ou “física” e o que
seria algo que está além dela.

A natureza ou física nesse caso é entendida como tudo aquilo que está à nossa volta,
os fenômenos e objetos naturais. Isso inclui desde as partículas subatômicas e as
ondas eletromagnéticas até os planetas, estrelas e galáxias que compõem o universo.
Inclui fenômenos como o movimento dos corpos celestes no espaço, a formação de
nuvens e ocorrência de fenômenos climáticos, como tempestades e tornados. Mas
também inclui coisas produzidas pelos seres humanos: desde um foguete que vai para
a lua até um prédio ou livro. Todas essas são coisas ou fenômenos “físicos” ou
“naturais”.

Mas se a física é tudo isso, o que poderia estar “além” da física? Muitos filósofos
acreditam que existe uma realidade que está “além da física”. Um deles foi o grego
Aristóteles (384 a.C – 322 a.C). Ele pensava que para entender a realidade, entender
porque existe alguma coisa em vez de nada, era necessário ir além da física e perguntar
o que deu origem a tudo e faz com que as coisas permaneçam em movimento. Esse ser,
pensava o filósofo, não é algo material e que com o tempo deixa de existir, como todas
as coisas físicas. Ao contrário, ele é imaterial e eterno.
Assim, chegamos ao seguinte quadro:

● coisas físicas ou naturais: feitas de matéria e que se transformam


constantemente no tempo.
● coisas não físicas: não são feitas de matéria e não mudam.

Portanto, a metafísica, discute sobre isso que não é físico. E sua primeira questão, não
poderia deixar de ser, é se existe algo que não é físico. Por exemplo, será que existe
mesmo um deus, eterno e imaterial, que criou o universo e tudo isso que chamamos de
natureza?

Entre as várias perguntas metafísicas estão:

● O que é o ser? Ou seja, quais as características fundamentais disso que


chamamos de real?
● Por que existe algo em vez de não existir nada?
● Qual a origem de tudo o que existe? Existe Deus?
● Existe alma?
● A mente é algo imaterial? Ou os pensamentos são totalmente produzidos pelo
cérebro?
● Os seres humanos têm livre-arbítrio? Ou a liberdade não passa de uma ilusão?

Considerando essas questões, podemos ver que a metafísica coloca perguntas


fundamentais sobre a realidade que de uma forma ou de outra já paramos para pensar
sobre.

Epistemologia
Uma segunda área de estudo da filosofia é a epistemologia.

A palavra “epistemologia” é a junção de duas palavras gregas: “episteme” que significa


“conhecimento” e “logos” que significa “teoria” ou “estudo”. Literalmente, então,
“epistemologia” significa “estudo do conhecimento” ou “teoria do conhecimento”. De
maneira geral, essa área da filosofia discute sobre conhecimento humano, procura
definir o que ele é, se é possível conhecermos alguma coisa, além de abordar tipos
específicos de conhecimento, como a ciência.

Essas são algumas das questões abordadas pela epistemologia:


● Como sei que existo? Como saber se não estou sonhando nesse exato
momento?
● O que é conhecimento? O que significa afirmar que se conhece algo?
● Como diferenciar conhecimento verdadeiro de uma simples opinião?
● Quais os limites do nosso conhecimento? O que podemos conhecer e o que não
podemos conhecer?
● Qual a natureza do conhecimento produzido pela ciência? Como a ciência faz
para gerar conhecimento? Ela usa um método específico?

Note a diferença entre esses dois tipos de questões:

● Deus existe?
● É possível saber se Deus existe?

A primeira é uma questão metafísica, pergunta pela existência ou não de determinado


ser. A segunda, uma questão epistemológica, pergunta pelo conhecimento e suas
possibilidades.

Ética ou filosofia moral


A palavra “ética” vem do grego “ethos”, que significa “modo de ser”, “caráter” de uma
pessoa. Pense em alguns exemplos como ser bondoso, persistente, corajoso etc. Já a
palavra “moral” vem do latim “morus” e significa os usos e costumes de uma sociedade.
Por exemplo, o que a sociedade entende por respeito aos idosos e como pratica isso, ou
o que considera honestidade, justiça, igualdade, respeito pela vida etc.

A ética ou filosofia moral, portanto, discute sobre caráter e costumes com o objetivo
central de entender o que é bom e o que é mau ou o que é certo e o que é errado. Por
exemplo, é certo que algumas pessoas sejam discriminadas por causa de seu gênero
ou cor de pele?

A ética trata tanto de questões que dizem respeito ao indivíduo e sua vida pessoal,
quanto de questões sobre ações que envolvem nosso comportamento em sociedade.
Entre essas questões, podemos considerar:

● O que é uma vida feliz? Como viver bem?


● Será que uma vida justa é feliz?
● Qual a natureza do certo e do errado? O que diferencia o bem do mau?
● Existem regras morais que deveriam ser válidas para todas as sociedades?
Além disso, dentro da ética há a chamada ética prática. Como o nome sugere, se trata
de discussões filosóficas sobre problemas práticos presentes nas sociedades
contemporâneas. Algumas dessas questões são:

● Temos o dever moral de fazer caridade?


● Praticar um aborto é errado?
● É certo usar animais para alimentação ou pesquisa?
● É correto praticar a eutanásia?

A ética é sem dúvida a área mais “prática” da filosofia. Dada a presença dessas
questões em uma série de circunstâncias em nossa sociedade, a ética filosófica está
presente em espaços profissionais como conselho de bioética de instituições
relacionadas à saúde ou até mesmo em empresas de tecnologia que trabalham na
criação de carros autônomos, por exemplo.

Estética ou filosofia da arte


A palavra “estética” tem sua origem no termo grego “aisthēsis”, que significa “sensação”
ou “percepção sensorial”. O filósofo alemão Alexander Baumgarten usou o termo
“estética” no século XVIII para se referir à teoria da sensibilidade e do gosto, buscando
compreender como os seres humanos criam, apreciam e julgam as obras de arte e os
objetos estéticos em geral.

Embora a palavra “estética” tenha entrado no vocabulário da filosofia no século XVIII, a


arte como objeto de reflexão filosófica, seu valor, a natureza do belo, são temas que
estiveram presentes desde o início da filosofia. Entre as questões que fazem parte
dessa área estão:

● O que é arte? Será que qualquer coisa é uma obra de arte?


● O que é a beleza? O que faz com que algo seja belo ou feio?
● Qual o valor da arte? Para que ela serve? Ela é útil ou inútil, prejudicial ou
benéfica?

Filosofia Política
A palavra “política” tem sua origem no termo grego “polis”, que significa “cidade”. Na
Grécia antiga, a pólis era a unidade política básica, formada por uma comunidade de
cidadãos que compartilhavam uma língua, uma cultura e um território comuns. A
“política”, por sua vez, se referia à arte de governar a polis, ou seja, de administrar os
assuntos públicos e garantir o bem-estar da comunidade. A partir dessa origem, o termo
“política” passou a se referir a todas as atividades relacionadas ao poder e à
governança, incluindo a elaboração de leis, a administração pública, a diplomacia, entre
outras.

A filosofia política, portanto, pensa sobre questões que surgem quando os seres
humanos precisam conviver em sociedades com outras pessoas. Entre essas questões,
estão:

● É necessário um governo para a sociedade? Será que não teria um jeito de viver
em sociedade sem um governo?
● Como o governo deve ser organizado? É melhor que seja uma monarquia, uma
aristocracia ou democracia?
● Como distribuir de maneira justa o que é produzido pela sociedade? Justiça é
sinônimo de igualdade? Uma sociedade só é justa se todos ganham a mesma
coisa?
● As pessoas devem ter liberdade? Até que ponto deve ir essa liberdade?

Filosofia política e ética se sobrepõem em alguma medida. A penúltima questão dessa


lista, por exemplo, sobre justiça, é tanto uma questão moral quanto política. Aliás, como
veremos melhor no próximo tópico, as diferentes áreas da filosofia não são isoladas,
como territórios de mundos diferentes sem relação entre si. Ao contrário, o que
pensamos sobre epistemologia afeta o que pensaremos sobre política e vice-versa. E o
mesmo ocorre com as demais áreas da filosofia.

Lógica
Ao longo dessa leitura, você deve ter se dado conta de que muitas questões filosóficas
são abordadas em diferentes espaços: desde a conversa de bar, passando pelas
religiões, no direito e nos hospitais.

É justo perguntar, então, o que a filosofia faz de diferente ao abordar essas questões?
Como discutir de forma filosófica esses problemas?

Não é nossa intenção dar uma resposta completa aqui, já é bom adiantar. Mas uma
pequena parte dessa resposta é a seguinte.

Uma das características centrais da filosofia é seu caráter argumentativo. Um filósofo


deve saber argumentar para justificar o que diz. É por isso que a lógica é tão importante
na filosofia. Ela estuda as formas corretas e incorretas de argumentação, permite
diferenciar entre bons argumentos e falácias.

Há ainda uma segunda característica fundamental do pensamento filosófico: seu


caráter sistemático. Isso quer dizer que um filósofo, quando pensa, o faz de maneira
que seu pensamento forma um todo integrado. Assim, se ele pensar sobre metafísica,
política e moral, suas concepções sobre cada um desses temas estarão relacionados.
Ao iniciar o estudo da filosofia é importante levar isso em consideração.

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