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Realizados por: Beatriz Gama

Unidade 1: Iniciação da Atividade Filosófica


Capítulo 1: O que é a filosofia? Os problemas e o método
A Filosofia
 Evolução da Filosofia
 A filosofia era o amor pelo saber
 O amor pelo saber, a valorização do saber, é algo que caracteriza os
filósofos
 Na Antiguidade, a filosofia abrangia praticamente todas as áreas do
saber. Era o estudo de tudo o que a humanidade pretendia conhecer
 Todas as disciplinas pertenciam ao campo da filosofia
 Aristóteles dividia a filosofia em:
 Filosofia primeira:
 Metafísica (estudo do que está para lá do mundo natural)
 Filosofias segundas:
 Física
 Astronomia
 Biologia
 Psicologia
 Ciência política
 A filosofia era a mãe de todas as ciências e os filósofos foram os primeiros
cientistas
 A partir do Renascimento, as diferentes áreas foram ganhando
autonomia, adquirindo métodos próprios, constituindo uma forma
própria, não filosófica, de responder aos problemas
 A filosofia sempre acompanhou o desenvolvimento das ciências
 A filosofia especializou-se. Dividiu-se em várias disciplinas
 Origem
A filosofia é uma invenção grega:
 Em Mileto (Ásia Menor) – colónia grega
 Mas foi Pitágoras, no século V a.C., a utilizar o termo filosofia e
filósofo
A filosofia nasceu devido:
 Ao aparecimento da pólis
 Surgimento da democracia
 À prosperidade económica e ao comércio:
 Debates políticos dos assuntos da cidade (Ágora)
 Contacto com outras culturas – trocas comerciais
 Tentativa de explicar racionalmente os fenómenos naturais e
humanos
 O que é a filosofia?
Definição etimológica
 Origem grega
 Resulta da junção de Philos + Sophia
 Philos = “amigo, o que deseja, busca ou ama” ou “amor”
 Sophia = “sabedoria, saber, conhecimento”
 O que é um filósofo?
Pitágoras terá considerado existirem 3 tipos de pessoas que se
relacionavam diferentemente com o saber:
 Ignorantes
 Não sabe nada
 Opina sempre, pois pensa que sabe ou aparenta saber
 Sábios
 Aquele que tudo sabe
 “Só o deus é sábio”, pois o conhecimento humano é sempre
incompleto e imperfeito.
 Filósofos
 Aquele que ama e busca o saber verdadeiro.
 Paradigma socrático: “Só sei que nada sei”:
 Consciência das limitações e incompletude do saber
 Procura incessante do saber possível ao Homem.
 O filósofo é aquele que está a caminho da sabedoria, tendo
como horizonte a verdade.
 Quem é filósofo?
A palavra filósofo vem do grego e significa “aquele que ama o saber”
Os filósofos são pessoas que:
 Mantêm vivo o espanto face à realidade
 Cultivam a dúvida como fundamental
 Assumem uma atitude de problematização face a si mesmos e ao
mundo
 Fazem perguntas e procuram respostas através da reflexão, atitude
crítica e argumentação, com a consciência de que existem outras
respostas possíveis.
 O que é filosofar?
Filosofar é:
 Levar uma vida examinada
 Colocar a nossa vida em perspetiva
 Refletir sobre o que são (factos) e como deveriam ser (ideais) o
mundo e a vida
 Procurar a sabedoria
 Buscar o essencial
NOTA:
Atitude crítica e antidogmática:
 Radicalidade: ir ao fundo ou essência dos problemas
 Autonomia: ousar pensar por si próprio
Disciplinas Filosóficas e Problemas Filosóficos
As disciplinas da filosofia são:
 Ética
 Filosofia da Religião
 Filosofia Política
 Filosofia do Conhecimento
 Lógica
 Metafísica
ÉTICA
Definição
Disciplina que procura responder ao problema de saber como devemos
viver
Problemas
 Como distinguir uma ação moralmente correta de uma incorreta?
 O que devemos fazer da nossa vida para a tornar boa ou valiosa?
Áreas
 Ética normativa: tem a haver com as normas; como distinguir ações
 Metaética: coloca questões sobre a ética
 Qual a natureza dos juízos morais?
 Será que a moralidade depende de Deus?
 Por que razão devemos agir moralmente?
 Ética aplicada: problemas morais concretos
 O que é uma guerra justa? Haverá guerras justas?
 Ajudar as pessoas pobres é nossa obrigação moral?
 A pena de morte é moralmente justificável?
Diferenças em relação às ciências
 Antropólogo: estuda e compara as diversas crenças morais de
diferentes sociedades
 Filósofo: coloca questões mais gerais e fundamentais a saber

FILOSOFIA DA RELIGIÃO
Definição
Disciplina que analisa os conceitos fundamentais e as crenças religiosas
básicas, interrogando-se sobre a sua verdade e justificação
Problemas
 Deus existe?
 Se Deus existe, por que é que há mal no mundo?
 Até que ponto a fé religiosa deve estar ao abrigo de discussão?
 Os milagres são provas credíveis da existência de Deus?
Diferença em relação às ciências
 Sociologia da religião: estuda as crenças religiosas das diversas
populações do mundo
 Filosofia da religião: pergunta se as crenças têm justificação
FILOSOFIA DO CONHECIMENTO
Definição
Disciplina que se interroga sobre a natureza, origem, limites e
justificação das nossas crenças
Problemas
 O que é o conhecimento?
 Será apenas uma crença verdadeira devidamente justificada?
 Como sabemos o que é a verdade?
 Será que o conhecimento depende fundamentalmente da
experiência ou da razão?
Diferença em relação às ciências
 Cientista: procura aumentar o nosso conhecimento dos factos
históricos e naturais
 Filósofo: interroga-se sobre o que é o conhecimento, como o
adquirimos, qual a sua extensão, se há verdades objetivas ou se
tudo é relativo, o que distingue o conhecimento científico de outros
tipos de conhecimento, etc

FILOSOFIA POLÍTICA
Definição
Disciplina filosófica que, em estreita ligação coma ética, reflete sobre a
natureza, funções e legitimidade da autoridade do Estado na sua relação
com os cidadãos
Problemas
 O Estado é um bem? É um mal menor? É necessário ou é
dispensável?
 Até que ponto é legítima a intervenção do Estado e da sociedade na
vida dos cidadãos?
 Qual é o valor político fundamental? A liberdade, a igualdade, a
justiça ou a segurança e a coesão sociais? Se é a liberdade, até que
ponto devemos obedecer às leis do Estado? Se é a igualdade, como
deve o Estado promovê-la?
 O que é uma sociedade justa?
Diferença em relação às ciências
 Cientista político: analisa as diversas formas de governo
 Filósofo: pergunta o que torna o governo legítimo e justo, quais são
os limites da sua autoridade se temos o dever de lhe obedecer
sempre
LÓGICA
Definição
Disciplina que estuda em que condições os nossos argumentos são
válidos
Problemas
 O que é um argumento?
 Que tipos de argumentos existem?
 Em que consiste a validade de um argumento? Será que um
argumento válido nada tem a haver com a verdade?
 O que distingue a validade dedutiva da indutiva? A verdade das
premissas garante a verdade da conclusão?
 Para que um argumento seja bom, persuasivo e convincente, é
suficiente que seja válido?
Diferença em relação às ciências
 Psicologia: estuda o pensamento como processo mental,
procurando determinar que regiões cerebrais estão mais envolvidas
nessas atividades
 Filosofia: dedica-se à forma de como os argumentos são utilizados e
se estes são válidos ou inválidos

METAFÍSICA
Definição
Disciplina que estuda os aspetos mais gerais da realidade
Problemas
 Será que a vida faz sentido?
 Temos livre-arbítrio?
 O que é a realidade? Há critérios seguros para distinguirmos as
aparências da realidade?
 O que é a liberdade? Somo realmente livres?
Diferenças em relação às ciências
 Físico: estudar os constituintes últimos da realidade física (átomos)
 Filósofo: interroga-se sobre a relação entre o físico e o mental,
perguntando se os estados mentais nada mais são do que
fenómenos do cérebro (“É a realidade física tudo o que existe?)
Os problemas filosóficos e a sua natureza
Os problemas filosóficos são:
 Não empíricos: problemas cuja resposta não pode ser obtida através
da experiência e da experimentação
 Sem solução científica disponível ou que nunca terão resposta
científica
 Muito gerais
 Abertos: as respostas não satisfazem todos os entendidos; a resposta
não obtém acordo e consenso racional da maioria das pessoas
São problemas que resultam da reflexão sobre os conceitos fundamentais
em que se baseiam várias atividades humanas:
Atividades Conceitos Questões filosóficas
básicos e
muito - O que faz com que os quadros de Picasso sejam
gerais que obras de arte? Uma obra de arte tem de ser bela
estão para ser artística? O que é a beleza? A arte deve
ligados a cumprir uma função educativa no plano moral e
essas social para ter valor?
atividades - De que depende a correção moral de uma
ação? Dos resultados ou da intenção? É correto
A arte, a Arte, sacrificar uma pessoa para salvar as outras? O
moral, a beleza, que conta mais, os nossos direitos ou os
política, a bem, mal, interesses da sociedade? há direitos que todas
religião, justiça, as pessoas devem ter sejam o que forem e
etc igualdade, vivam onde viverem? Devemos dizer sempre a
etc verdade?
- O que é o Estado? É um bem ou um mal
menor? A segurança é mais importante que a
liberdade? A liberdade de expressão deve ter
limites? Devo obedecer sempre às leis do
Estado? Até que ponto é o Estado pode intervir
na minha vida? Como distribuir a riqueza que
uma sociedade produz para que haja uma
justiça social?
São problemas que surgem de crenças incompatíveis acerca de certas
questões básicas ou fundamentais:
Deus existe
> Será que Deus existe?
Deus não existe
Temos livre-arbítrio Será que temos livre-
>
Não temos livre-arbítrio arbítrio?
É justo pagar impostos O que é a justiça? É justo
>
Os impostos são um roubo pagar impostos?
De que depende a correção
Boas intenções fazem boas as ações
> moral de uma ação? O que a
A árvore conhece-se pelos frutos
torna boa?

IMPORTANTE:
Crenças básicas ou fundamentais: crenças cuja verdade ou falsidade
determina a verdade ou falsidade de outras crenças que delas dependem.
Método da filosofia
O que caracteriza a filosofia é a discussão e a análise de ideias, de crenças
ou convicções que todas temos.
Os filósofos, primeiro, identificam e esclarecem os problemas. Depois
tentam respondê-los, usando os argumentos e as teorias.
Método da filosofia: pensamento crítico
O método da filosofia é a discussão racional de argumentos, pensar o mais
corretamente possível para tentar encontrar respostas adequadas.
Os filósofos defrontam-se com os problemas, procuram responder-lhes e
elaboram argumentos para apoiar ou justificar as suas respostas.
NOTA:
Elementos centrais da filosofia:
Uma teoria filosófica é uma tentativa de resposta a um problema filosófico.
O argumento filosófico procura justificar a teoria.
 Problema filosófico: Será que Deus existe?
 Teoria filosófica: Deus não existe
 Argumento filosófico: Se Deus existe, a vida tem sentido. A vida não
tem sentido. Logo, Deus não existe.
Atitude filosófica
 Características da atitude filosófica
A atitude filosófica tem determinadas características:
 Uso crítico e construtivo da razão:
Para a filosofia, as nossas crenças e opiniões não podem ser aceites
sem justificação. Temos de as defender com argumentos.
Argumentos com os quais não estejamos de acordo devem ser
examinados e testados mediante contra-argumentos. Ao interrogar
as nossas crenças mais fundamentais, a filosofia pretende que
pensemos se não estamos errados, não para nos desiludir, mas para
que procuremos ter uma compreensão mais alargada do mundo e
de nós.
 Problematização radical:
A filosofia transforma as nossas crenças em problemas. O que
parece evidente e bem esclarecido é para ser discutido.
 Autonomia:
A atitude filosófica é incompatível com a dependência em relação a
gurus ou orientadores espirituais e ao que a maioria julga ser a
verdade.
A atitude filosófica também tem como características:
 Curiosidade
 Desejo
 Necessidade de conhecer
 Capacidade de transformar em problema o que parece evidente e
indiscutível
 Recusa de aceitar como verdadeiras ideias feitas ou teorias sem
antes de examinar argumentos em que se apoiam
Capítulo 2: A dimensão discursiva do trabalho filosófico: Noções básicas de
argumentação
Conceitos importantes
Teses: afirmações acompanhadas de razões para as aceitarmos
Teorias: conclusões a que chegamos através de argumentos
Lógica
A lógica é indispensável para a filosofia uma vez que:
 Permite-nos distinguir argumentos de não argumentos
 Permite-nos clarificar argumentos
 Ensina-nos a avaliar criticamente argumentos
 Ensina-nos a pensar de forma consequente
 Torna-nos mais capazes de apresentar argumentos a favor de uma
ideia ou de contra-argumentar, isto é, de apresentar argumentos que
a refutem
Argumentos
 Definição
Conjunto de proposições formado pelas premissas que visam apoiá-la. Um
argumento pode ter várias premissas, mas só uma conclusão. Os
argumentos têm também o nome de raciocínios ou inferências.
Argumentamos para justificar determinadas afirmações, tentando mostrar
por que razão acreditamos que é verdadeira. Argumentar implica
apresentar razões para defendermos as nossas ideias perante os outros
tentando convencê-los, ao mesmo tempo que tornamos mais claras as
nossas ideias.
Exemplo:
Todos os animais que ladram são cães.
PREMISSAS
Tenho em casa um animal que ladra.
Logo, o animal que tenho em casa é um cão. CONCLUSÃO

Premissas: proposições que usamos para defender ou justificar a conclusão


Conclusão: aquilo que é justificado ou apoiado pelas premissas
 Proposições
Frases declarativas com valor de verdade, que são verdadeiras ou falsas,
mesmo que o desconheçamos e ainda não o tenhamos descoberto.
É uma ideia expressa por uma frase declarativa com sentido, que pode ser
verdadeira ou falsa.
 Ser declarativa = declara e que através dela exprimimos diretamente
ideias e pensamentos
 Ter valor de verdade = pode ser verdadeira ou falsa
Frases que não são proposições:
 Frases interrogativas
 Frases exclamativas
 Promessas
 Ordens
 Conselhos
 Desejos
NOTA:
 Para que uma frase exprima uma proposição, é necessário que seja
declarativa, mas isso não é suficiente
 Uma frase só exprime uma proposição se for declarativa e se o seu
conteúdo tiver valor de verdade (ser verdadeiro ou falso)
 O conteúdo de uma frase declarativa tem valor de verdade, mesmo
que não saibamos de é realmente verdadeira ou falsa
 Clarificação e análise de argumentos
Etapas:
 Identificar argumentos
 Distinguir as premissas da conclusão
 Detetar premissas omitidas (se existirem)
Clarificar argumentos = saber identificar a conclusão e também explicar as
premissas que pretendem justificá-la.
No entanto, algumas premissas podem estar omitidas.
CAUSA EFEITO
Causa
Porque são barulhentos, os alunos daquela turma são indisciplinados.
Premissa Conclusão
Os alunos daquela turma são barulhentos Premissa
Os alunos barulhentos são indisciplinados Premissa Omitida
Logo, os alunos daquela turma são indisciplinados Conclusão
Efeito
Silogismo: argumento constituído por duas premissas
Silogismo hipotético: argumento constituído por duas premissas, que
coloca uma hipótese (“Se…”)
Exemplo.: Se a austeridade aumenta, o consumo diminui
A austeridade está a aumentar
Logo, o consumo vai diminuir
Entimemas: argumentos que contêm premissas omitidas ou implícitas
 Indicadores de premissa e de conclusão
Indicadores de Premissa
Porque O animal que tenho lá em casa é um cão, visto que
Uma vez que é um animal que ladra.
Pois
Visto que A proposição antes do indicador visto que é a
Em virtude de conclusão. A seguinte é a premissa.
Como
Assumindo que Implícita está outra premissa:
Considerando que Todos os animais que ladram são cães.
Pode inferir-se disto Argumento:
Devido a Todos os animais que ladram são cães.
Por causa de Tenho em casa um animal que ladra.
Ora Logo, o animal que tenho em casa é um cão.
Indicadores de Conclusão
Todos os animais que ladram são cães e por isso o
Então
animal que tenho em casa é um cão.
O que mostra que
Assim
A proposição antes do indicador por isso é uma
Consequentemente
premissa. A seguinte é a conclusão.
Daí que
Por conseguinte
Implícita está outra premissa:
Assim sendo
Tenho em casa em animal que ladra.
Por isso
Argumento:
Portanto
Todos os animais que ladram são cães.
Segue-se que
Tenho em casa um animal que ladra.
E por essa razão
Logo, o animal que tenho em casa é um cão.

Argumentos (dedutivos) válidos e sólidos


 Argumento válido
Argumento cuja conclusão é uma consequência necessária da ligação lógica
entre as premissas.
Um argumento é válido quando, se todas as suas premissas forem
verdadeiras, a conclusão tiver de ser verdadeira (sob a pena de
autocontradição).
Exemplo:
Todos os dentistas ganham muito dinheiro
Argumento inválido porque não diz
Ronaldo ganha muito dinheiro
que só os dentistas ganham muito
Logo, Ronaldo é dentista
dinheiro. Portanto, Ronaldo pode
Todos os portugueses gostam de cerveja ganhar muito dinheiro exercendo
Miguel é português outra profissão.
Logo, Miguel gosta de cerveja
 Se as premissas forem verdadeiras, a conclusão também é
verdadeira
 A validade de um argumento dedutivo depende da forma lógica do
argumento, ou seja, da relação correta que se dá entre as premissas
e a conclusão
 Os argumentos não são verdadeiros nem falsos. Isso são as
proposições. Os argumentos ou são válidos ou são inválidos
 Argumento sólido
Um argumento é sólido quando:
 É válido – está bem construído; é formalmente correto; a conclusão
deriva das premissas e é logicamente apoiada por estas, isto é, dadas
as premissas, a conclusão só pode ser essa.
 As premissas e a conclusão são de facto verdadeiras
IMPORTANTE:
 Todas as premissas têm que ser verdadeiras
 A verdade das premissas, em conjunto com a validade, garante a
verdade da conclusão
 Avaliar um argumento inclui uma dupla tarefa:
 Verificar se é válido
 Verificar a veracidade das premissas
 Embora não seja condição suficiente da solidez de um argumento, a
validade é condição indispensável ou necessária.
Argumento Sólido
Todos os animais que ladram são cães.
Os São Bernardo são animais que ladram.
Logo, os São Bernardo são cães.
- É válido. Tem forma correta
- Tem premissas e conclusão de facto verdadeiras
Mau Argumento (não é sólido por não ser válido)
Alguns futebolistas ganham muito dinheiro.
Adrien é futebolista.
Logo, Adrien ganha muito dinheiro.
- Não é válido.
- As premissas e a conclusão são de facto verdadeira, mas está mal
construído porque as premissas não defendem como deve ser a
conclusão
Mau Argumento (não é sólido, apesar de ser válido)
Todos os animais ladram.
Os São Bernardo são animais.
Logo, os São Bernardo ladram.
- É válido
- Não é sólido porque uma das premissas – Todos os animais ladram – é
de facto falsa.
NOTA:
Basta que uma das proposições de um argumento seja falsa ou muito
contestável para que o argumento, mesmo que válido, não seja sólido.
A lógica ensina-nos a pensar de forma consequente
O que é pensar de forma consequente? É tirar as conclusões que as
premissas permitem e não outras.
Para que pensemos de forma consequente ou correta, é importante
compreender em que consiste a validade de um argumento. O pensamento
consequente é o pensamento rigoroso.
A lógica é importante para a filosofia porque esta consiste na discussão
de argumentos e de ideias
Discutir ideias consiste, geralmente, em duas coisas:
 Avaliar um argumento para ver se, além de válido ou corretamente
construído, é constituído por premissas verdadeiras
 Criticar argumentos negando que alguma das premissas seja
verdadeira ou de certa forma indiscutível
Para discutir argumentos, é necessário avaliar as proposições que os
constituem.
 Tipos de proposições nos argumentos filosóficos
As proposições mais frequentes são as universais e as condicionais.
Proposições universais
São proposições que se referem a todos os elementos de um conjunto ou
classe de objetos.
Exemplos:
Todos os computadores têm memória.
Nenhum ser humano é de plástico.
Todos os animais têm direitos.
Como se negam?
Nega-se uma proposição universal apresentando um contraexemplo (um
caso em que ela não se verifica).
Exemplo:
Todos os computadores têm ecrã panorâmico.
Negação
Alguns computadores não têm ecrã panorâmico.
Proposições condicionais
Proposições que podemos representar na forma Se A, então B.
Estas proposições afirmam o que deverá acontecer casa aconteça uma
determinada condição.
Maneiras de exprimir condicionais em linguagem corrente
As proposições condicionais são constituídas por um antessente (hipótese)
e um consequente (consequência que supostamente deriva da hipótese).
A seguir a se aparece o antecedente e depois de então aparece o
consequente.
Na linguagem corrente, há outras formas de dizer o mesmo. Exemplos:
 A vida faz sentido se Deus existir
 Casa Deus exista, a vida faz sentido
 Desde que Deus exista, a vida faz sentido
 Para que a vida faça sentido, basta que Deus exista
 Que Deus exista é a condição suficiente para que a vida faça sentido
Como se negam?
Nega-se uma proposição condicional dizendo que a hipótese não implica a
consequência.
Exemplo:
Se ganhar o jogo, então pago o jantar.
Negação
Ganhei o jogo, mas não paguei o jantar.
Unidade 2: A Ação Humana: Análise e Compreensão do Agir
Capítulo 1: A ação humana
O conceito de Ação
 Definição
Uma ação é:
 Um acontecimento cujo autor é um agente que o causa voluntária e
intencionalmente.
 Um acontecimento desencadeado pela vontade e intenção do agente
 É algo que tem que acontecer intencionalmente e propositadamente
pelo agente
O agente é o que pratica a ação. A intenção é o facto de o agente ter que
querer realizar a ação.
As ações podem ser:
 Voluntárias: ações não constrangidas que têm a sua origem ou causa
em quem as realiza. O agente tem consciência de que as fez.
 Involuntárias:
 Forçadas: a origem não está no agente
 Devidas à ignorância das circunstâncias da ação (ações que
realizamos enquanto dormimos e tiques)
NOTA:
O que são acontecimentos?
Um acontecimento é algo que se verifica num certo momento e num centro
lugar. É um evento espácio-temporalmente enquadrado.
 Nem todos os acontecimentos são ações
 Uma ação tem que ser um acontecimento
 Um acontecimento para ser uma ação, tem de envolver um agente
A rede concetual da ação
A rede concetual da ação é o conjunto de conceitos que nos permitem
compreender e explicar as ações.
Exemplo base:
Inscrevo o meu filho do Instituto Britânico.
 Intenção
A intenção é o propósito ou o objetivo da ação. É o que eu pretendo com a
ação.
Exemplo: Para que aprenda inglês
Relação entre intenção e explicação da ação
Explicar uma ação é indicar a sua causa. A causa de uma ação é a intenção
ou propósito do agente ao realizá-la.
Intenções, desejos e crenças
As intenções são estados mentais frequentemente associados a outros
estados psicológicos que são as crenças e os desejos do agente.
Desejo: Que o meu filho aprenda mais inglês
Crença: Penso que o Instituto Britânico é a melhor instituição para o
conseguir
 Motivo
O motivo é a justificação ou a razão de ser da ação.
Exemplo: Porque acredito que dominar a língua inglesa é um requisito
essencial no mundo do trabalho e da investigação científica e porque desejo
que seja bem sucedido profissionalmente.
 O desejo e a crença acompanham e esclarecem o motivo da ação,
explicam-na e dão a conhecer a sua razão de ser
 As crenças e os desejos do agente estão associados à intenção e à
motivação do agente que age
Relação entre motivo e intenção
Saber qual o motivo da ação, o seu porquê ou razão de ser, clarifica a
intenção ou o para quê da ação.
 A ação é realizada intencionalmente quando é realizada por algum
motivo
 Pergunta “O que quer fazer aquele que age?” – intenção
 Pergunta “Por que razão…” – motivo
 Deliberação
A deliberação é um processo reflexivo que, em princípio, ou seja, em
muitos casos, antecede a decisão. É a ponderação sobre qual é a melhor
opção a tomar entre várias alternativas possíveis. Basicamente, é ponderar
quais são os prós e os contras da minha decisão.
Exemplo: Ponderar os prós e contras de todos os institutos que ensinam a
língua inglesa
 Decisão
A decisão é um ato que resulta frequentemente da deliberação.
 O motivo e a intenção implicam também a decisão de o alcançar.
 Decidir corresponde à escolha entre vários rumos possíveis da ação,
entre várias possibilidades ou alternativas.
 A decisão tem que ser realizável e também tem que estar ao alcance
do agente
 Consequências
As consequências são o modo como o resultado da ação irá afetar à minha
pessoa, aos outros e ao meio envolvente
NOTA:
Ordem da rede concetual da ação:
1. Deliberação
2. Decisão
3. Intenção
4. Motivo
5. Consequências
Condicionantes da ação humana
Os condicionantes da ação humana são:
 Os limites que fatores internos e externos impõem à nossa ação
 As possibilidades que fatores externos e internos conferem às nossas
ações.
Exemplo: A constituição genética impõe-nos limites: não podemos voar
como as aves, não podemos respirar debaixo de água como os peixes.
 Condicionantes biológicas
São as possibilidades e limites que estão ligados ao nosso património
genético.
 Condicionantes socioculturais
São as possibilidades e limites que estão ligados ao modo como
dependemos do meio social e cultural em que a nossa vida se desenrola.
 Condicionantes psicológicas
São as possibilidades e limites que estão ligados à nossa personalidade ou
maneira de ser, ao modo como interpretamos as situações e lhes
respondemos
NOTA:
Mal nascemos, estamos condicionados pela língua, costumes,
mentalidades e valores do nosso país.
Condicionantes e determinantes da ação
 Condicionantes da ação
Fatores (personalidade, crenças, desejos, educação, circunstâncias) que
influenciam a ação, que têm peso nas nossas decisões, mas que não as
determinam causalmente.
 Ações condicionadas derivam da nossa vontade, são causadas pela
nossa intenção de as levar a cabo, apesar das circunstâncias, do peso
de vários fatores e das nossas limitações.
 A nossa vontade, apesar de certos fatores, controla ação
 Determinantes da ação
Fatores que, atuando sobre nós, determinam as nossas ações, isto é,
impedem que a nossa vontade encontre cursos alternativos de ação.
 Não dispomos de outra opção a não ser realizar o que certos fatores
impõem
 As ações determinadas quando, fazendo o que fizemos, não tivemos
a possibilidade de fazer algo diferente
 A nossa vontade, por causa de certos fatores, não controla a ação
Capítulo 2: Liberdade e Determinismo na ação humana
Determinismo
Teoria filosófica segundo a qual todos os acontecimentos fazem parte de
uma cadeia causal, sendo cada um o desfecho necessário de
acontecimentos anteriores e das leis da natureza.
Ação determinada
 Ação que não pudemos evitar
 Ação que não depende da opção do agente
 Não havia alternativa disponível
 Depende de fatores que o agente não controla
NOTA
Cadeia causal: sequência causal necessária que consiste na relação de
dependência necessária entre acontecimentos que se vão sucedendo.
Liberdade e livre-arbítrio
O livre-arbítrio é a capacidade de fazer algo podendo, contudo, não o ter
feito.
 Agir livremente é realizar uma ação tendo, no entanto, podido não a
realizar ou realizar outra.
 Só depende de mim praticar ou não a ação, optar ou não por outra
ação.
 A decisão sobre o que fazer está sob o meu controlo
 Uma ação livre implica a possibilidade de agir de outra forma se o
tivéssemos escolhido
 Agir livremente é não ser coagido por fatores internos ou externos
que tornem a minha ação de certa forma inevitável.
 Uma ação livre não é uma ação realizada sob coação

 Problema do livre-arbítrio
Problema = “Será que escolhemos realmente o que fazemos ou as nossas
ações são causadas por fatores que não controlamos?”
É um problema porque, apesar de acreditarmos que escolhemos realmente
o que fazemos, também somos influenciados pela explicação científica da
natureza ou do mundo físico.
Determinismo nega Livre-arbítrio

As nossas escolhas, decisões e ações não são mais do que efeitos


inevitáveis do funcionamento do nosso cérebro, do nosso património
genético e da educação que recebemos
 Importância prática da resposta dada ao problema do livre-arbítrio
Responsabilidade moral
 Não se pode responsabilizar uma pessoa por uma ação se ela não
agiu livremente
 Um agente pode ser responsabilizado por uma ação quando podia
ter agido de modo diferente, não ter feito o que fez ou podia ter
evitado fazer o que fez
 É moralmente responsável uma pessoa que podia não ter feito o que
fez, ou seja, havia alternativa

 Respostas ao problema do livre-arbítrio


Determinismo radical
Definição
 Só o determinismo é verdadeiro
 Afirma que qualquer acontecimento é o desfecho necessário de
acontecimentos anteriores
 Todas as nossas ações são o resultado necessário de acontecimentos
anteriores --- Efeitos de causas necessárias
 As nossas ações não dependem de nós, mas de fatores que não
podemos controlar

Nega completamente livre-arbítrio


Argumentos
 Todos os acontecimentos são causalmente determinados por
acontecimentos anteriores e pelas leis da natureza
 As escolhas e ações humanas são determinadas por acontecimentos
anteriores e pelas leis da natureza
 As ações humanas estão sujeitas a cadeias causais determinadas
 As ações do Homem não constituem uma exceção à necessidade
causal que governa todos os acontecimentos
 As ações do ser humano resultam de estados mentais e de fatores
psicológicos como crenças, desejos, motivos, intenções, valores e
personalidade
 As nossas escolhas são o resultado da influência de fatores
biológicos (genéticos e fisiológicos) e ambientais (circunstâncias em
que somos socializados e educados)
Críticas
 Não é possível construir a vida social sem a ideia de
responsabilidade moral
 Se não fossemos responsáveis pelo que fazemos, como é que
se pode condenar ou ilibar alguém e como é que explicamos
os sentimentos de remorso, arrependimento ou de culpa?
 Existem acontecimentos que não implicam que todos os seus
anteriores e as ações humanas sejam elos de uma cadeia causal
Indeterminismo
Teoria que defende que um acontecimento não é determinado por leis
causais, mas pelo acaso.
Assim, na perspetiva do indeterminista, dizer que um acontecimento não
tem uma causa não implica que aquele seja um efeito inevitável desta.
Acontecem devido à intervenção do acaso.
Ações humanas não são livres
 Ações imprevisíveis são as que escapam do nosso controlo, o que não
parece coadunar-se com a ideia de livre-arbítrio, isto é, de que há
ações que dependem da nossa vontade
 Se uma ação deve a sua ocorrência ao acaso e não à minha vontade,
então, não é da minha autoria, não é controlada por mim e por ela
não posso ser responsabilizado.
Tanto o determinismo radical tanto o indeterminismo afirmam que não
existem ações livres. As ações ou são determinadas pelos acontecimentos
anteriores ou pelas leis da natureza ou pelo acaso.
Determinismo moderado
Definição
Teoria filosófica que defende a compatibilidade entre o determinismo e o
livre-arbítrio.
Nesta teoria, existem dois tipos de ações:
 Livres
 Ação cujas causas são estados internos do sujeito – Crenças e
Desejos
 Constituem a personalidade que o agente formou
normalmente
 A personalidade resulta de um conjunto de experiências
e de processos educativos que determinam a sua
maneira de ser, de pensar e de agir
 Não livres
 Ação cujas causas são fatores externos, que o agente não pode
controlar
Argumentos
 Há ações que são ao mesmo tempo livres e determinadas
 Só realizamos uma ação livre quando as causas para a sua realização
são as minhas crenças e desejos. Só nesta situação é sou moralmente
responsável por aquilo que faço
Críticas
 Esta teoria não distingue claramente ações livres de ações não livre
 Mesmo as causas externas podem ser consideradas internas
Ex.: Eu aponto uma arma a alguém e grito “A carteira ou a
vida”. A pessoas dá-me a carteira. Assim, parece uma ação não
livre porque a causa não é interna. No entanto, a pessoa só me
deu a carteira porque acreditava que eu a matava se não me
obedece (CRENÇA) e porque queria conservar a vida (DESEJO).
Deste modo, as causas que pareciam externas são, na verdade,
internas.
Portanto, evidencia-se uma contradição clara.
 Não salvaguarda a ideia comum de liberdade
 Ser livre significa ter alternativa, ou seja, poder ter agido de
modo diferente
 No determinismo moderado, como as ações livres são
determinadas pelas minhas crenças e desejos, se eu quisesse
agir de outra maneira, as minhas crenças e desejos teriam que
ser diferentes, logo, tinha que ter uma personalidade
completamente diferente e, consequentemente, tinha que ser
outra pessoa
Libertismo
Definição
Teoria que afirma que as ações humanas decorrem das suas deliberações
e não necessariamente causadas por acontecimentos anteriores.
As nossas escolhas e ações são livres se não forem mais um elo numa longa
cadeia de causas e efeitos. Assim, defende que as nossas ações só são livres
se desencadearem uma nova cadeia causal de acontecimentos. Somos nós
que controlamos essa cadeia de causas e efeitos. Não somos controlados
por ela.
Para os libertistas, a causalidade dos acontecimentos significa que um
acontecimento ocorre antes de outro e causa necessariamente o
acontecimento seguinte. A causalidade dos agentes ocorre quando algo
resulta da vontade de um agente.

Há ações livres
Argumentos
 Crença no livre-arbítrio é uma crença de senso comum, isto é, algo
em que toda gente acredita. A deliberação é um exemplo pois só faz
sentido deliberarmos se pudermos escolher agir de modo diferente
 O livre-arbítrio é uma condição necessária para se poderem
responsabilizar as pessoas pelas suas ações
Crítica
 As minhas ações são determinadas pelo o meu eu interior. Mas o que
é este eu?
 Entidade física: se é físico, está sujeito ao encadeamento
causal necessário que rege todas as coisas físicas
 Não é entidade física: se não é físico, como é pode atuar em
atos físicos, como as ações?
Unidade 3: Os Valores: Análise e Compreensão da Experiência Valorativa
Capítulo 1: Valores e valoração – a questão dos critérios valorativos
Valores
São os padrões ou referências em função das quais julgamos objetos,
pessoas e atos.
São os critérios das nossas preferências. São as ideias que influenciam as
nossas decisões e ações, as nossas escolhas e preferências. São a
justificação que damos às nossas ações e decisões.
Os valores:
 Exprimem aquilo que julgamos que é importante e significativo na
nossa vida
 São diversos
 São hierarquizados
 São polarizados (polo negativo e positivo)
 Ex.: Coragem vs. Cobardia
 Implica uma componente afetivo-emocional
Tipos de valores
 Religiosos
 Estéticos
 Éticos
 Políticos (conhecimento)
 Teoréticos (conhecimento)
 Sensíveis (prazer e satisfação)
 Económicos (necessidades económicas)
Conceitos importantes
Valores absolutos Valores relativos
Valem independentemente de
Só valem para algumas pessoas ou
todas as pessoas e de qualquer
apenas numa determinada época
época
Valores intrínsecos Valores extrínsecos
Quando o valor tem valor em si Quando o valor tem apenas valor
próprio. A origem do seu valor está instrumental, quando se lhe
em si e não em algo externo. Estes reconhece valor por ser útil ou por
justificam-se a si mesmos ser um meio para algo que é valioso
Valores objetivos Valores subjetivos
Referem-se à realidade tal como ela
é e não ao modo como o sujeito a
Dependem do gosto e do ponto de
interpreta ou vê. Não dependem da
vista de cada pessoa
opinião ou ponto de vista de cada
pessoa
Absolutismo moral
Há valores morais que nunca podem ser violados, não admitindo
exceções, sejam quais forem as consequências

 Relação entre valores e ações


Os valores são os critérios das nossas preferências. Ao tomarmos decisões,
agimos segundo valores que constituem o fundamento, a razão de ser ou o
porquê (critério) de tais decisões.
A atitude valorativa é uma constante da nossa existência:
 Amor: desafiar convenções sociais em vez de perder a oportunidade
de sermos felizes
 Solidariedade: auxiliar os mais necessitados

 Juízos de valor e juízos de facto


Juízos de facto
Juízos sobre o modo como as coisas são. Descrevem um estado de coisas
ou uma situação, podendo essa descrição corresponder ou não à realidade.
 São descritivos
 Têm valor de verdade (V ou F)
 São objetivos (a sua verdade ou falsidade dependem de como a
realidade é e não da opinião de cada pessoa)
Juízos de valor
Juízos sobre que coisas são boas ou más, agradáveis ou desagradáveis,
belas ou feias e sobre como devemos agir.
 Atribuem um valor a um certo estado de coisas (positivo vs. negativo)
 São subjetivos
Ex.: O João tem um metro e noventa = Juízo de facto
O João é um rapaz bondoso = Juízo de valor
 Questão dos critérios valorativos
Critérios valorativos
Justificações em que nos apoiamos para determinar que coisas – ações,
pessoas, locais, objetos – têm valor ou importância.
Ex.: Valorizamos uma pessoa honesta porque damos importância à
honestidade
Questão dos critérios valorativos
“Será que existem valores objetivamente verdadeiros? Ou será que a sua
verdade depende daquilo que um indivíduo ou uma sociedade
consideram verdadeiro?”
É um problema que trata da verdade e da objetividade dos juízos de valor.
 Os juízos morais têm valor de verdade?
 Se têm valor de verdade, essa verdade é objetiva (não depende dos
gostos dos indivíduos ou do modo de pensar da sociedade em que
vivem)?

 Respostas à questão dos critérios valorativos


Subjetivismo moral
Teoria que defende que os juízos de valor podem ser verdadeiros ou falsos,
ou seja, têm valor de verdade. Contudo, a sua verdade não é objetiva,
portanto, varia de acordo com o ponto de vista.
O valor de verdade dos juízos de valor depende das crenças, sentimentos e
opiniões dos sujeitos que os emitem.
Negar a existência de juízos de valor objetivos e não admite que haja valores
absolutos.
“A cada um a sua verdade” ---- a cada qual a sua opinião de acordo com
aquilo em que acredita, e em nenhum caso o juízo de valor de uma pessoa
é mais correto ou razoável do que o de outra.
Opõe-se ao absolutismo e objetivismo.
Objetivismo moral
Teoria que defende que os juízos de valor podem ser verdadeiros ou falso
(valor de verdade) e que essa verdade ou falsidade não depende de pontos
de vista, de sentimentos ou de gosto, sejam estes individuais ou coletivos.
Os valores são propriedades, qualidades das próprias coisas, pessoas,
objetos, situações e instituições, embora sejam propriedades difíceis de
conhecer pois não existem num sentido físico.
O valor de verdade é independente da opinião de cada pessoa ou de cada
cultura.
Relativismo cultural
Teoria que afirma que os juízos são verdadeiros, mas não em todo o lado e
para todas as pessoas. A verdade dos juízos morais depende do que cada
sociedade acredita ser moralmente correto, depende do que esta aprova
ou desaprova.
 Moralmente verdadeiro é o que cada sociedade, ou a maioria dos
seus membros, acredita ser moralmente correto
 Moralmente verdadeiro é igual a socialmente aprovado, e
moralmente errado é igual a socialmente desaprovado
 Um juízo moral é falso quando os membros – a maioria – de uma
sociedade o consideram falso e verdadeiro quando consideram
verdadeiro
As convicções da maioria dos membros de uma sociedade são a autoridade
suprema em questões morais.
 O código moral de cada indivíduo deve-se subordinar ao código
moral da sociedade em que vive e foi educado
 Os juízos morais de cada pessoa são verdadeiros se estiverem em
conformidade com o que a sociedade a que pertence considera
verdadeiro
Argumentos
 Promover tolerância entre culturas
 Nenhuma cultura pode julgar-se autoridade em assuntos
morais: a cada cultura a sua verdade
 Promover coesão social
 Os membros de uma sociedade têm uma forma de pensar e de
sentir que impede que a moral seja uma questão de opinião
pessoal
 Promover respeito pela diversidade de opiniões
 Convida cada cultura a ser humilde, a olhar para si antes de
criticar ou de tentar impor a sua perspetiva a outra ou outras
Críticas
 Há uma diferença significativa entre o que uma sociedade acredita
ser moralmente correto e algo ser moralmente correto
 Transforma a diversidade de opiniões e de crenças morais em
ausência de verdades objetivas
 Assim, isso é um sinal de que há pessoas e sociedades erradas
e não de que ninguém está errado
 A conclusão não deriva necessariamente da premissa porque
essa discórdia pode ser sinal de que uma sociedade está certa
e a outra está errada
 Reduz a verdade ao que a maioria julga ser verdadeiro
 Não valoriza as minorias
 O que a maioria pensa não é necessariamente verdadeiro nem
moralmente aceitável
 Convida-nos ao conformismo moral, a seguir, em nome da coesão
social, as crenças dominantes
 Implica que a ação dos reformadores morais é sempre
incorreta
 Não há evolução moral
 Torna incompreensível o progresso moral
 Para o relativismo cultural, nenhuma sociedade esteve ou está
errada nas suas crenças e práticas morais
 Assim, torna-se difícil compreender a ideia de progresso moral
Ex.: No relativismo cultural, só podemos dizer que houve
tempos em que a escravatura era moralmente aceitável e que
agora ela já não é aceite.
A escravatura é um progresso moral pois já nenhuma
sociedade a pratica.
NOTA
Relatividade cultural: constatação de que nem todas as culturas têm as
mesmas práticas, valores e costumes. É um facto indiscutível.
Relativismo cultural: teoria que defende que, dada essa diversidade, não
há verdade morais objetivas. É uma teoria discutível que de um facto deduz
determinadas consequências.
Etnocentrismo: atitude de quem só reconhece legitimidade e validade à
normas e valores vigentes na sua cultura ou sociedade. Considera que a sua
cultura é a única que está correta
Capítulo 2: Valores e cultura – A Diversidade e o Diálogo de Culturas
Relativismo cultural e Direitos Humanos
“Ninguém pode invocar a diversidade cultural para violar os direitos
humanos garantidos pelo direito internacional, nem para limitar o seu
alcance”
 Direitos
Definição
Reivindicação legítima e/ou justificada que deve ser reconhecida e aceite
pelos outros.
 Ter direito é ter legitimidade
 Direitos implicam deveres
Ex.: Direito à vida implica que os outros têm o dever de não me matar
e que eu tenho a obrigação (dever) de não matar – Reciprocidade
Tipos de direitos
Direitos Morais Direitos Legais/Políticos
Direitos que as pessoas possuem só Direitos atribuídos pelo poder
por serem pessoas e não por serem legislativo de um determinado
cidadãos deste ou daquele Estado Estado

 Direitos Humanos
Definição
Os direitos humanos:
 São universais (de todos os seres humanos)
 São morais, naturais e próprios da natureza humana
 São exigências morais
 Não são atribuídos pelo poder político, ou seja, não estão sujeitos a
variações de tempo e espaço
 Estão longe de nascerem de uma concessão de uma sociedade
política, que lhe são logicamente anteriores e devem construir o
“centro ético” em torno do qual os seres humanos, vivam onde
viverem, organizem a vida política, económica e cultural
 Pretendem ser válidos, estejam ou não reconhecidos juridicamente
por um Estado
Características
 São inerentes à pessoa humana, têm o seu fundamento na dignidade
de cada ser humano. Por isso, são universais, válidos para toda a
pessoa, independentemente da sua condição socioeconómica,
religião, etnia, nacionalidade, “raça” e sexo
 São exigências éticas (“direitos morais”) porque representam valores
que devem ser respeitados por todos os seres humanos e garantidos
pelas leis e pelos governos de todos os países
 São ideais que devem orientar e inspirar os códigos legais de
qualquer Estado para que este seja considerado um Estado de
direito. Quando a legislação concreta de um Estado os contempla,
passam a integrar o Direito positivo deste, o que dá mais garantias
quanto ao seu respeito e proteção
 Existem, mesmo quando não são reconhecidos e cumpridos. Com
efeito, nenhum poder político pode retirar-nos (ou dar-nos) esses
direitos porque a dignidade humana que é o fundamento é algo que
temos por sermos pessoas e não algo que depende da vontade de
quem faz as leis

 Relativismo cultural face aos direitos humanos


Para o relativista cultural a ideia de direitos humanos é culturalmente
condicionada:
 Ideia vista como uma invenção das culturas de raiz ocidental e cristã
 Ideia vista como uma forma de tentar impor essa forma de pensar a
culturas de raiz diferente (Oriente)
Para o relativismo cultural, não devemos julgar nenhuma prática cultural
porque estas têm sentido inseridas numa dada cultura. Nenhuma cultura é
superior à outra, são apenas diferentes.
Conclusão
Sendo a Declaração de que há direitos universais um produto de uma
determinada cultura, parece que, se, em dado lugar no mundo, houver uma
prática moralmente aceite que viola direitos reconhecidos como de todos
os seres humanos, o relativista dirá que temos de aceitar que nessa cultura
é correto fazer tal coisa e que a Declaração se limita a exprimir uma
convicção diferente.
Portanto, parece que o relativismo cultural é incompatível com a ideia de
direitos humanos universais porque para o relativismo cultural não há
princípios éticos universais.
Não haverá práticas e costumes moralmente inadmissíveis? Até que
ponto a tolerância é uma virtude?
 Relativismo cultural e a tolerância
O relativismo cultural, ao defender que o moralmente correto, parece ser a
teoria que mais adequadamente defende a virtude da tolerância e o
diálogo entre culturas.
Esta teoria argumenta que ninguém pode legitimamente dizer que certas
práticas de determinadas culturas e sociedades são em si mesmas
moralmente reprováveis porque não há princípios morais objetivos a partir
dos quais pudéssemos julgar imparcialmente.
Tese da tolerância
Para o relativismo cultural, cada cultura tem a sua própria perspetiva sobre
o que é moralmente certo ou errado. Nenhuma cultura possui a verdade
em assuntos morais (uma vez que não temos um critério objetivo para
provar que algumas perspetivas são melhores do que as outras, devemos
trata-las como sendo igualmente corretas).
Tolerância = ter de aceitar o que os membros de outras culturas pensam e
fazem sem tentar corrigi-los
Argumento
Premissa 1: As diversas culturas têm conceções diferentes sobre o que é
moralmente bom ou mau
Premissa 2: Se diferentes sociedades têm crenças morais diversas, não há
verdades morais objetivas e universais
Conclusão: Logo, devemos adotar uma atitude de tolerância face às crenças
morais de outras culturas (devemos aceitar o que é aceite noutras
sociedades)
Objeções
 Da proposição “Não há verdades morais objetivas e universais” não
se segue que não haja práticas e crenças morais erradas
 Tese não justificada pelas premissas
 Divergência de conceções morais entre sociedades não implica
que todas essas conceções são equivalentes
 Não se vê como da proposição “Não há verdades morais
objetivas e universais” se chega à conclusão de que devemos
aceitar qualquer prática aprovada em sociedades diferentes da
nossa. Porque esta ideia baseia-se no pressuposto de que as
culturas são moralmente infalíveis
 O relativismo moral pode promover a intolerância
 Ser moralmente correto é igual a cultural e socialmente
aprovado, então essa atitude intolerante é moralmente
correta
 Assim, apesar de pretender promover o diálogo entre culturas,
o relativismo cultural pode promover o conflito e a agressão
 Para o relativista cultural, a aprovação de uma cultura é o que
torna moralmente certa ou boa uma ação. Cada cultura define
o certo e o errado. Ora, isto implica que cada cultura é
moralmente infalível, o que implica que os indivíduos não
podem discordar do que está estabelecido e ter razão. Logo,
esta tese é intolerante
Diálogo entre as diversas culturas
Os direitos humanos não são a negação da diversidade cultural. São:
 Uma forma de negar que os valores e normas de uma determinada
cultura sejam absolutos e intocáveis
 Servem para afirmar que há valores que estão acima de
qualquer costume cultural
 Há valores que não devem ser violados, mesmo que haja
várias culturas que divergem significativamente quanto ao que
é certo e ao que é errado
 Uma forma de salientar que não temos somente os direitos que as
nossas sociedades e culturas nos concedem
 Essa ideia impede que sejam legítimas quaisquer práticas,
desde que aprovadas pela maioria dos membros de uma
comunidade
 Apesar de um direito ser negado por uma cultura, ele existe
devido aos direitos humanos, uma vez que estes são universais
 Uma forma de salientar que a cultura no sentido próprio da palavra
é um fator humanizador
 Se determinada prática cultural degradar o ser humano
aproximando-o da condição de objeto ou de coisa, menos
legítima enquanto verdadeira “cultura” tal prática será

 A partir destas bases será possível o diálogo intercultural?


Sim. No entanto, existe uma tensão entre o universalismo associado aos
direitos humanos e o relativismo cultural.
 Universalistas – dignidade absoluta/valor intrínseco do ser humano
é a fonte dos direitos humanos
 Relativistas – direitos dependem do sistema político, económico,
social e moral vigente em determinada sociedade. Cada cultura
possui o seu próprio discurso acerca do que entende por direitos
fundamentais. Não há moral universal, mas sim pluralidade de
culturas
A posição dos relativistas é encarada com desconfiança ---> Podemos
pensar que serve para encobrir/legitimar atos que violam os direitos
humanos e a dignidade da pessoa humana.
Posição extremamente autoritária, capaz de encobrir desigualdades,
reprimir a liberdade e legitimar dominação
O diálogo exige que cada cultura/sociedade tenha capacidade de
AUTOCRÍTICA. Aqueles que veem na promoção dos direitos humanos uma
forma de impor valores das culturas ocidentais deve-se lembrar que a ideia
de direitos humanos influenciou e modificou as tradições ocidentais. Isto
reforça a crença na natureza universal dos direitos humanos.
Em nome da diferença e da independência das culturas justificam-se
práticas inaceitáveis. A ideia de que não se podem julgar as práticas de
outra sociedade diferente da nossa é difícil de aceitar.
Crítica = Evolução de sociedades
Conclusão
Problema da universalização dos direitos humanos = PRECONCEITO
Preconceito = Ideia de que considerá-los universais é uma forma do
Ocidente impor a sua prática ao resto do mundo.
Unidade 4: As Dimensões da Ação Humana e os Valores: A Dimensão Ético-
-Política da Ação Humana
Capítulo 1: Intenção ética e Normas morais
Normas morais e Normas jurídicas
 Normas morais e Normas jurídicas
Normas Morais Normas Jurídicas
Normas que estão prescritas no
Regras de comportamento que
Direito.
determinam o que devemos ou não
Portanto, temos a obrigação de as
fazer para que a nossa ação seja
cumprir. Se não o fizermos,
moralmente valiosa
teremos um sanção ou uma pena

Todas as sociedades possuem um Código Moral = Conjunto organizado de


normas que prescrevem o que é moralmente valioso.
NOTA
Há normas cuja infração é considerada pela generalidade dos membros de
uma sociedade como moralmente mais reprovável do que o desrespeito de
outras.
Ex.: Assassínio é mais grave do que a Mentira
Uma sociedade ainda possui um Código Jurídico = Conjunto organizado de
normas que prescrevem as leis que cada sociedade deve cumprir.
Diferenças entre normas morais e jurídicas
 As normas morais não são impostas por uma autoridade externa
como as jurídicas
Normas Morais Normas Jurídicas
- Impostas por um poder interno
- Impostas por um poder externo
(Consciência Moral)
(Direito)
- Pretendem ser aceites pelos
- São coativas = Acompanhadas
valores que exprimem
pela imposição de penas e
- São obrigações da consciência
punições de tipo físico e
moral
financeiro (Privação da
- Impostas pela vontade a si
liberdade e multas)
própria
 As normas morais são mais abrangentes que as jurídicas
 Há aspetos da vida moral que não são abrangidos pelo Direito
(Lei)
Ex.: “Boas Maneiras”
 Nem tudo o que é legal é moral
 Uma coisa é a legalidade das normas jurídicas, outra é a sua
legitimidade (Não é porque uma lei está escrita no Código
Jurídico que ela é moralmente correta)
 Quando uma lei fere valores e direitos considerados
fundamentais perde a sua legitimidade
Conclusão:
É verdade que há diferenças entre a Moral e o Direito. Mas isso não impede
que ambas possam funcionar conjuntamente. A prova é o facto de algumas
leis serem promulgadas para defenderem valores morais básicos. As
normas do Direito podem ser a expressão pública do que uma sociedade
julga moralmente obrigatório ou inadmissível. Algumas ações que julgamos
moralmente incorretas são também consideradas legalmente erradas. (Ex.:
Roubar, matar e faltar ao cumprimento de promessas [contratos]).
Para agir bem basta cumprir o que uma norma moral prescreve? Violar
uma norma moral significa sempre que estamos a agir mal?
Existem normas morais estabelecidas que nos dizem o que é correto e o
que é errado fazer. Aparentemente, a sociedade com o seu código moral
dá-nos uma “receita” para aplicarmos a diversas situações e resolver os
problemas que elas nos colocam.
No entanto, isso não é bem assim. Muitas situações são consideradas casos
problemáticos. Há pessoas que se arrependem do que fizeram, que sentem
remorsos e culpa, que vivem experiências em que o recurso às normas
morais consagradas pelo uso não lhes dá uma solução para o problema.
Valor da intenção e Valor da consequência
A intenção com que se realiza uma ação é muito importante.
Exemplificando:
1. A minha irmã conduz um carro e, de repente, um pneu rebente e,
descontrolado, atravessa uma faixa para peões atropelando e ferindo
gravemente duas pessoas.
2. Um ladrão, fugindo da polícia, atravessa a faixa a alta velocidade, vê
dois peões, atropela-os e fere-os gravemente.
As duas situações não são iguais, apesar de terem o mesmo resultado:
 A minha irmã não atropelou e feriu intencionalmente os peões.
Simplesmente o carro avariou e, apesar de ter que pagar os prejuízos,
não agiu mal nem com intenção
 O ladrão viu as pessoas, mas, preocupado em fugiu da polícia, nem
pensou duas vezes em atropelá-las. Portanto, para além de ter agido
erradamente, realizou a ação intencionalmente
Outro exemplo:
1. Você é convidado pelo seu patrão para o aniversário da sua filha.
Tudo está magnífico e encantador. No entanto, esquece-se de
convidar a aniversariante para dançar. Ora, perante isto, vai ter com
a filha e faz-lhe o pedido. Contudo, esta desata a chorar uma vez que
era paraplégica.
Apesar da boa intenção do senhor, é quase impossível dizer que ele agiu
corretamente. A norma moral ecoa na sua cabeça “Não deves causar
sofrimento desnecessário”.
Afinal as consequências também contam.
Capítulo 2: A Necessidade de Fundamentação da Moral – Análise
Comparativa de Duas Perspetivas Filosóficas
Teorias Deontológicas e Teorias Consequencialistas
Todas as ações são realizadas com base em critérios que nós definimos e
esses mesmos critérios exigem uma fundamentação. No entanto, é
precisamente aqui que surgem diversas perguntas (Qual a base, o critério,
o fundamento para separar o certo do errado e distingui-los?, Em que é que
nos baseamos para dizer que uma ação é moralmente correta?).
Este problema é um dos grandes mistérios da reflexão moral ou ética.
Recebe o nome de Problema da Fundamentação da Moralidade da Ação
Humana. Para o resolver, foram criadas duas teorias filosóficas.
 Teoria Deontológica
É uma teoria filosófica criada por Immanuel Kant. Esta é designada por
deontológica (de = dever, onto = ser ---> Teoria do Dever Ser).
 Defende que há deveres absolutos que não podem em circunstância
alguma ser violados = Cumprir o dever pelo dever
 Só agindo com a intenção de cumprir absolutamente o dever é que
agimos bem
 Critério: INTENÇÃO
 As consequências de uma ação não são um critério adequado para
avaliar se uma ação é boa ou má
 Há ações que são erradas em si mesmas por melhores que
sejam as suas consequências
 Há ações que são boas em si mesmas, apesar das suas
consequências não serem boas

 Teoria Consequencialista
É uma teoria filosófica criada por John Stuart-Mill. Esta é conhecida como
utilitarismo, que é uma teoria consequencialista.
 Defende que o valor moral de uma ação depende das suas
consequências ou resultados
 Se as consequências são boas, a ação é boa
 Se as consequências são más, a ação é moralmente errada
 Critério: CONSEQUÊNCIAS
Ética deontológica de Kant
Biografia de Kant
 Immanuel Kant: 1724 – 1804 – Filósofo alemão
 Começou a escrever obras a partir dos 54 anos
 Crítica da Razão Pura
 Fundamentação da Metafísica dos Costumes
 Crítica da Razão Prática
 Crítica da Faculdade de Julgar
 A Religião nos Limites da Simples Razão
 Ética = Educação pietista (valorização da interioridade)
 Influências: Racionalismo iluminista, Valorização da Razão
 Defendeu a liberdade de pensamento e de expressão

 Cumprir o dever pelo dever


Dever: Aquilo que temos obrigação de fazer. Para Kant, há atos contrários
ao dever, em conformidade com o dever e realizados por dever.
Kant defendia que o valor moral das ações depende unicamente da
intenção com que são praticadas.
Porquê? Porque, sem conhecermos as intenções dos agentes, não
podemos determinar o valor moral das ações.
Quando é que a intenção tem valor moral ou é boa? Quando o
propósito do agente é cumprir o dever pelo dever, ou seja, uma ação
tem genuíno valor moral quando a sua razão de ser é o cumprimento
do dever.
Tipos de Ações segundo Kant
Contrárias ao dever Em conformidade Feitas por dever
Imorais com o dever Morais
- Cumprem o dever
- Cumprem o dever
porque é correto fazê-
porque daí resulta um
- Violam o dever lo.
benefício ou satisfação
- Única intenção da
de um interesse
ação é o cumprimento
- Sem valor moral
do dever
Ex.: Não roubar por Ex.: Não roubar porque
Ex.: Roubar
receio de ser castigado esse ato é errado
NOTA
Ações feitos por dever
 Cumprimento do dever é um fim em si mesmo
 Vontade que decide agir por dever é a vontade para a qual agir
corretamente é o único motivo na base da sua decisão
 Dispensa razões suplementares – Não age “com segundas intenções”
Ações em conformidade com o dever
 Exteriormente de acordo com o que devemos fazer
 Interiormente influenciada por outros motivos – Razões
suplementares
 Encarnam o cumprimento do dever como útil e não como um fim em
si

 Lei Moral. Relação existente entre o cumprimento do dever e a lei


moral
Segundo Kant, somos dotados de consciência moral. Agimos bem quando
a nossa consciência ouve e segue a voz da razão e se afasta da influência
das inclinações sensíveis.
Como se faz ouvir a voz da razão quando os problemas a resolver são de
tipo moral?
Lei Moral
 Lei/regra que nos diz que devemos em qualquer circunstância
cumprir o dever pelo dever.
 Lei da consciência do ser racional que lhe diz como se cumpre
corretamente o dever.
 Princípio geral que deve ser seguido quando cumpro regras concretas
Ouvir a lei moral = Ficar a saber como cumprir de forma moralmente correta
o dever. O cumprimento do dever é uma ordem incondicional.
 Lei Moral e o Imperativo categórico
Um imperativo é algo que se impõe à nossa consciência moral. É uma
obrigação ou dever.
Este pode ser hipotético (muda conforme os fins) ou categórico.
Imperativo Hipotético Imperativo Categórico
- Obrigação absoluta/incondicional
- Obrigação condicional ou relativa
- Existe sempre, sejam quais forem
- Só existe se houver interesse de
os interesses e objetivos do
um indivíduo no que com o seu
indivíduo
cumprimento pode obter ou evitar
- Universal (vale para todos as
- Particular (depende dos gostos,
pessoas, mesmo que o seu
sentimentos e desejos de cada um)
cumprimento não seja do interesse
destas)
Exemplos
- Um médico operar uma pessoa
que sofreu uma grave fratura
- Uma pessoa querer tirar a carta de
- Bombeiros combater um incêndio,
condução
desde que não ocupados com
- Uma pessoa fazer dieta porque
tarefas relevantes
quer perder peso
- Um “nadador-salvador” salvar
uma pessoa que se está a afogar

Lei Moral = Imperativo categórico


 O que a lei moral ordena (cumprir o dever pelo dever) é uma
exigência que tem a forma de imperativo categórico
 Ordena que uma ação boa seja realizada pelo seu valor intrínseco,
que seja efetuada por ser boa em si e não por causa dos seus efeitos
ou consequências

 Fórmulas do imperativo categórico


1.Fórmula da lei universal
“Age apenas segundo uma máxima tal que possas querer ao mesmo
tempo que se torne lei universal”
Ensinamento: Só devemos praticar ações que os outros possam imitar.
 Não cumprir o que prometemos é uma ação sem valor moral porque
é contraditório querer que todos os outros a sigam
 Não faz sentido querer que todos os outros adotem como modelo de
comportamento a falta de respeito e a transformação do seu
semelhante e de si mesmos apenas um instrumento ao serviço de
interesses conveniências
2.Fórmula da Humanidade ou do respeito pelas pessoas
“Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na sua pessoa como na
pessoa de outrem, sempre e simultaneamente como fim e nunca apenas
como meio”
Ensinamento: Cada ser humano é sempre um fim em si e não um simples
meio.
 É moralmente errado instrumentalizar um ser humano, usá-lo como
simples meio para alcançar um objetivo
 Os seres humanos têm valor intrínseco – Dignidade
 O Homem é um fim em si mesmo porque é o único ser de entre as
várias espécies de seres vivos que pode agir moralmente. Sem os
seres humanos, não havia bondade moral no mundo – Valor da
pessoa é absoluto
 Não é errado tratar pessoas como meios
 É errado tratá-las como simples meios/instrumentos. É errado
reduzir as pessoas a coisas que usamos
 Ex.: Escravatura, Prostituição, Masoquismo

 Cumprimento do dever. Imparcialidade. Respeito pelas pessoas


Ação moralmente correta é decidida pelo indivíduo quando adota uma
perspetiva universal.
Como? Colocando de parte os seus interesses, a pessoa pensará
como qualquer outra que também faça abstração dos seus interesses
adotando, assim, uma perspetiva universal.
Eliminada a parcialidade, pensamos segundo uma perspetiva universal.
 Quando a satisfação dos nossos interesses é a única finalidade da
nossa ação, não estamos a ser imparciais e a máxima que seguimos
não pode ser universalizada
 Estamos a usar os outros apenas como meios para o nosso proveito
 Todos os seres racionais têm valor incondicional
 Devem ser respeitados como fins em si
 Sempre que somos parciais e egoístas nas nossas escolhas, não
respeitamos esta condição
A ética kantiana não é a ética de um fanático pelo dever. Se insiste no
cumprimento absoluto e sem concessões do dever é porque é uma ética
que valoriza sobretudo o respeito pelos direitos das pessoas.
 Boa vontade
Boa vontade
 Bem supremo
 Vontade cuja bondade não deriva dos resultados ou efeitos da ação,
mas do motivo pelo qual é realizada
 Vontade que decide agir por puro e simples respeito pelo que a lei
moral exige
 Única coisa absolutamente boa
 Vontade que age com uma intenção: Cumprir o dever pelo dever
O que é a torna a vontade boa? A intenção que subjaz à sua ação.
 O que caracteriza a boa vontade é cumprir o dever sem outro motivo
a não ser fazer o que é correto
 É uma vontade autónoma
 Kant não admite autoridades moral externas e superiores à
razão
 Autonomia = união entre o que a razão ordena e o que a
vontade quer

 Crítica
A ética kantiana é incapaz de resolver situações de conflito moral.
Exemplo:
Vários pescadores holandeses transportavam, secretamente, no seu barco
refugiados judeus para Inglaterra. Numa das suas viagens, foram
intersetados por nazis. Eles perguntaram qual era o seu destino e quem ia
a bordo.
Havia 2 alternativas: Mentir e obter passagem ou Permitir o homicídio de
inocentes e de eles mesmos.
Segundo Kant, qualquer uma das opções é errada porque as regras morais
“não mentir” e “não matar” (permitir o assassínio de inocentes) são
absolutas.
Conclusão: A teoria ética de Kant não sabe responder a esta situação de
caso-conflito já que proíbe ambas as possibilidades de ação por estas se
revelarem moralmente incorretas.
NOTAS
 Ética de Kant é rigorosa e exigente
 O cumprimento do dever é incompatível com qualquer cálculo de
custos e benefícios
 O cumprimento do dever também é incompatível com a ideia de que
é em nome de Deus que respeitamos a pessoa humana
 É a nossa razão que nos diz o que temos obrigação absoluta de
respeitar
 A religião não pode ser a base da moral
 Fazê-lo por causa do que os outros possam pensar é um sinal
de menoridade – Heteronomia*
 O valor absoluto da pessoa humana cujo respeito é um imperativo
incondicional está acima de tudo e deve valer por si
 Nenhuma obrigação moral pode depender dos nossos sentimentos
porque isso implicaria:
 Tratar as pessoas de modo diferente conforme o que por elas
sentíssemos
 O desaparecimento de uma obrigação caso uma pessoa não
despertasse em mim um sentimento favorável
 *Heteronomia
 Característica de uma vontade que não cumpre o dever pelo
dever
 O motivo para agir é encontrado em razões externas (receio
das consequências, temor a Deus) e não no cumprimento do
dever pelo dever
 A vontade submete-se a autoridades que não a razão
Ética utilitarista de Stuart-Mill
Biografia de Stuart-Mill
 John Stuart-Mill: Século XIX – Filósofo inglês
 Principal obra: Utilitarismo
 Ética consequencialista e hedonista
 Critério último da moralidade = Utilidade/Felicidade
 Maior bem para o maior número
 Distinguiu a qualidade da quantidade dos prazeres. Considerava que
os prazeres superiores resultam da atividade intelectual
 Defendeu a igualdade de direitos entre homens e mulheres

 Ideia central do utilitarismo. Por que razão o seu consequencialismo


é um utilitarismo?
Segundo Mill, a utilidade é o que torna uma ação moralmente valiosa.
 Devemos agir de modo a que da nossa ação resulte a maior felicidade
possível para as pessoas por ela afetadas
 Ação boa = Mais útil = Produz mais felicidade global ou menos
infelicidade (quando não é possível produzir felicidade ou prazer,
devemos tentar reduzir a infelicidade)
Para o utilitarista:
 Não há ações intrinsecamente boas
 Ações moralmente (in)corretas só conforme as consequências:
Promovem imparcialmente o bem-estar = Boas
 Não há deveres morais absolutos
Princípio da Utilidade/Maior felicidade
 Teste da moralidade das ações
 Uma ação deve ser realizada somente se dela resultar a máxima
felicidade possível para as pessoas ou partes que por ela são afetadas
 Maior bem para o maior número

 Utilitarismo: Teoria Hedonista


As atividades humanas têm um objetivo último – Meios para uma finalidade
que é o ponto de convergência de todas.
Felicidade ou Bem-estar
Hedonismo
 Teoria filosófica em que o supremo critério é a busca do meu maior
prazer
 Procura em todas as atividades a que o Homem se dedica a viver
experiências aprazíveis e evitar experiências dolorosas ou
desagradáveis
Felicidade individual e Felicidade geral
A felicidade de que se fala é a felicidade de quem?
 Não é só a felicidade individual
 Não é a felicidade geral à custa da felicidade do agente
 A minha felicidade é tão importante como a dos outros
 A minha felicidade não conta mais do que a felicidade dos outros
De que tipo de felicidade se trata?
 Nenhuma felicidade humana é evidentemente possível sem um
“sentido de dignidade”
 Nem todos os prazeres se equivalem; Não podemos reduzir a
felicidade à satisfação dos prazeres físicos
 Hierarquia de prazeres
 1º) Prazeres intelectuais
 2º) Prazeres sensíveis
 Princípio da maior felicidade
 Não à cegueira moral
 Não à defesa de atos moralmente repugnantes
 Avaliação do prazer não é puramente quantitativa

 Princípio da utilidade e Normas morais comuns


Nas nossas decisões morais devemos ser guiados pelo princípio da
utilidade e não pelas normas ou convenções socialmente estabelecidas.
Exemplo:
A verdade é um ato normalmente mais útil do que prejudicial e, por isso, a
norma “Não deves mentir” sobreviveu ao teste do tempo. Mas há situações
como em que não respeitar absolutamente uma determinada norma moral
e seguir o princípio de utilidade terá melhores consequências globais do que
respeitá-la.
Princípio da utilidade
 Ajuda-nos a deliberar
 Ajuda-nos a tomar decisões quando as regras morais não nos dão
resposta à questão “O que devemos fazer?”
 Ex.: Dilemas e conflitos morais em que temos que violar uma
norma e respeitar outra
Para Mill:
 Há princípios e regras morais objetivas (ex.: Princípio da utilidade)
 Não há normas morais absolutas
 Opõem-se ao absolutismo moral e à teoria de Kant

 Objeções à teoria de Mill


O utilitarismo justifica a práticas de ações imorais
 Acontece porque esta teoria apenas dá importância às
consequências das ações enquanto critério para avaliarmos a
moralidade das mesmas
Ex.: Uma pessoa desrespeita a norma moral básica “Não matar” e,
ainda assim, age moralmente, desde que essa sua ação proporcione
uma maior quantidade de felicidade a um maior número de pessoas
a quem provocou dor ou sofrimento.
O utilitarismo é excessivamente imparcial
 Esta teoria não distingue os familiares e amigos na promoção de
felicidade (Não liga às relações humanas de afetividade)
 Não é tão intuito como parece
 É difícil agir em todas as situações de modo a promover a
felicidade sem atender àquilo que a pessoa é
 Não nos comportamos da mesma forma em relação aos nossos
amigos e familiares como em relação a estranhos
 Contra a natureza humana
 Se seguíssemos em todas as nossas ações o critério utilitarista
da imparcialidade, acabávamos por destruir as relações
pessoais que mantemos com as pessoas que mais gostamos
O utilitarismo exige demasiado do agente moral
 Exige muito porque, ao realizarmos uma ação, temos que pensar nas
suas consequências, se esta é boa ou má e se esta cumpre o princípio
da maior felicidade (Maior bem para um maior número)
 Seria mentalmente desgastante pensar sempre no bem-estar do
todo e em beneficiar o maior número possível em tudo o que
fazemos
 Consequência: Arruinamos as nossas relações pessoais e as
obrigações familiares
NOTA
 Utilitarismo concentra-se demasiado no futuro (Consequências) - As
nossas ações passadas criam obrigações que não podem ser
suplantadas pela consideração da felicidade geral
 Não obriga a que renunciamos à nossa felicidade individual

Moralmente correto/Moralmente incorreto segundo o utilitarismo


Ação moralmente correta Ação moralmente incorreta
- Tem boas consequências - Tem más consequências
- Melhores consequências do que - Piores consequências do que as
as ações alternativas ações alternativas
Ação com boas consequências Ação com más consequências
- Resultados não contribuem para o
aumento da felicidade ou
- Resultados contribuem para o diminuição da infelicidade do maior
aumento da felicidade ou número possível de pessoas por ela
diminuição da infelicidade do maior afetadas
número possível de pessoas por ela - Egoísta (felicidade do maior
afetadas número não é tida em conta ou em
- Subordinada ao Princípio da que só o meu bem-estar ou
utilidade satisfação é procurado)
- Não se subordina ao Princípio da
utilidade
Comparação entre as éticas de Kant e de Stuart-Mill
Questões Kant Stuart-Mill
São as
consequências
o que mais
conta para Não. Sim.
decidir se uma (Não é consequencialista) (É consequencialista)
ação é ou não
moralmente
boa?
A intenção é o
que mais conta
para decidir se
Sim. Não.
uma ação é ou
(É deontológica) (Não é deontológica)
não
moralmente
boa?
Sim.
Não.
(Valor da ação depende
(Não podemos dizer que
Há ações boas da máxima que o agente
uma ação é boa ou má
em si mesmas? adota; Independente das
antes de olharmos para as
consequências do que
suas consequências)
fazemos)
Não.
Exceto o dever de
maximizar a felicidade.
(Há situações em que não
Existem deveres cumprir certos deveres
absolutos? tem como consequências
Sim.
Existem normas um melhor estado de
Ex.: Mentir, roubar,
morais que coisas. Há normas morais
matar
nunca devemos que se tem revelado úteis
desrespeitar? para organizar a vida do
Homem, mas devemos ter
em conta que nem sempre
o seu cumprimento produz
bons resultados)
Sim.
Existem valores Sim.
(Felicidade entendida
absolutos? (Dignidade humana)
como prazer)
Qual é o
princípio moral Nunca tratar os outros – Princípio de utilidade
fundamental nem a minha pessoa – (Das nossas ações resulte a
que temos de como um meio ou um maior felicidade possível
respeitar para instrumento útil para um para o maior número
que a nossa certo possível de pessoas)
ação seja boa?
Não.
Maximizar o
(Não é obrigatório nem
bem-estar ou a
permissível. Porque há Sim.
felicidade é algo
direitos das pessoas que
obrigatório?
são absolutos)
O que é a É um bem, mas não deve
felicidade? É o influenciar as nossas
Objetivo fundamental da
fim ou um escolhas morais.
ação moral
objetivo último (Fim último = respeito
das ações? pela pessoa humana)
Condenável
Grande inimigo da
(Impede que se tenha em
O que é o moralidade.
vista um fim objetivo –
egoísmo? (Impede ações imparciais
maior bem para o maior
e desinteressadas)
número)
Capítulo 3: A Dimensão Pessoal e Social da Ética
Moralidade
- Fenómeno social – os nossos problemas morais envolvem a relação com
os outros (Ex.: Não matar ou não roubar)
- Fenómeno pessoal – dadas as normas morais que devemos seguir, nós
interrogamo-nos sobre a sua razão de ser, se há boas razões para as seguir
ou se são necessárias (As normais morais afetam a minha forma de ser e a
minha felicidade)
Problemática: “Por que razão devemos agir moralmente?”
Cenário da Questão

Interesse Pessoal Exigências da Moralidade


(Devemos respeitar normas morais
fundamentais, e a moralidade
parece exigir que demos tanta
importância aos nossos interesses
como aos dos outros)

“Porquê agir moralmente se muitas vezes parece ser do meu interesse


agir imoralmente?”
 Moralidade como Contrato Social: a moralidade é um acordo
convencional que serve os meus interesses e os dos outros
Perspetiva de Hobbes:
Existe um mundo em que cada pessoa considera unicamente os seus
interesses e não há normas e leis que impedem os indivíduos de fazerem o
que querem.
Naquele lugar, as pessoas têm que se convencer a seguir um conjunto de
normas que definem certos atos ou como errados ou como obrigatórios ou
como permissíveis.

Moral = Interesse de cada um


Assim, as pessoas pensariam que é importante haver normas porque:
 Impedem as pessoas de fazer mal umas às outras
 Criam um ambiente de confiança quanto ao cumprimento dos
acordos que estabelecem entre si
 Restringem a liberdade de fazerem as coisas simplesmente de acordo
com os seus desejos
Por isso, cria-se um Estado:
 É um governo que assegura a ordem de modo a que sejam
respeitados os interesses de cada pessoa
 É a garantia da vida em sociedade
 Existe para sustentar e fazer cumprir as regras necessárias à vida em
sociedade
Acordo = Contrato Social
Moralidade = Conjunto de regras que facilitam a vida em sociedade
 É preferível abdicar da liberdade de fazer tudo em nosso gosto e
seguir as regras que são vantajosas para todos
 Estas regras exigem que, ao agir, tenhamos em conta os interesses
dos outros e que estes tenham em consideração os nossos
 Este acordo protege os nossos interesses
Agir moralmente = Meio para que os meus interesses sejam satisfeitos
 Apelo às Sanções Divinas: devemos agir moralmente para não
desagradar a Deus
Teoria dos Mandamentos Divinos
 Deus é o criador das leis morais que devem governar-nos
 Deus dá-nos, mediante os seus mandamentos, um guia para
distinguir ações morais de imorais
 Moralmente correto = Decidido e aprovado por Deus
 Moralmente incorreto = Não foi querido ou aprovado por Deus
 Ex.: Se as normas morais são expressões da vontade de Deus, então
roubar é errado porque Deus o proíbe
Devemos ser morais porque nos dá esperança de que a moralidade será
recompensada e a imoralidade punida
 Moralidade é uma condição necessária da Felicidade
Platão: Felicidade e Imoralidade não são compatíveis
 Imoralidade destrói a nossa harmonia interior e corrompe a alma
 Virtude purifica a alma
 Felicidade depende da nossa integridade moral e só o
desenvolvimento da virtude permite viver a melhor vida possível
 Somos mais felizes quando a razão governa a nossa vida
 É mais feliz quem controla os seus desejos do que quem
constantemente sente necessidade de os satisfazer
 Exemplos
 Vida hedonista é descontrolada porque cada desejo satisfeito
é seguido por um novo desejo que exige satisfação
 Pessoa imoral com muito bens materiais não é feliz porque a
corrupção da sua alma faz com que essa pessoa não possa
gozar plenamente tal riqueza
Interesse pessoal exige que os meios para alcançar esses fins sejam
morais e não imorais
 Egoísmo é uma posição insustentável
Egoísmo ético ou normativo
 O interesse pessoal é a fonte da moralidade e o egoísmo é a regra
fundamental do nosso comportamento
 Todos nós em todas as nossas ações devemos fazer o que serve os
nossos interesses
 Cada um de nós tem a obrigação moral de pesar que os seus
interesses têm prioridade sobre os interesses dos outros
 Princípio Geral: “Todas as pessoas devem agir sempre em função
dos seus próprios interesses”
Objeções
 Incapaz de resolver conflitos de interesse
 Se a defesa dos meus interesses implicar que prejudique os
outros, não tenho também de admitir que os outros me
prejudiquem para defenderem os seus?
 Se procuro satisfazer o meu interesse pessoal e advogo que os
outros devem fazer o mesmo, esta regra é a negação dos meus
interesses porque os outros estarão em competição comigo
 Incompatível com o poto de vista moral
 Ponto de vista moral = Ter uma atitude imparcial própria de
pessoas que não pensam só nos seus interesses pessoais nem
somente nos interesses do grupo a que pertencem
 Os egoístas éticos não conseguem adotar o ponto de vista
universal e imparcial
 São condicionados pelos seus próprios interesses
pessoais
 Reivindicam um estatuto privilegiado e tratamento
diferente em todas as questões e situações
 Afirmam que há diferenças relevantes entre eles e os
outros seres humanos
Capítulo 4: Ética, Direito e Política
Estado: Instituição que regula e organiza a vida social, exercendo o seu
poder e autoridade sobre os cidadãos. Tem como características essenciais
a soberania e, como consequência dessa autonomia, possui o monopólio
da “violência legítima”
Direito: Conjunto de normas e leis que, apoiadas no poder coercivo do
Estado que as elabora e institui, regulam o comportamento dos membros
de uma sociedade
Problema da Justificação do Estado
Para que exista Estado e para que este subsista, quem obedece deve aceitar
a autoridade dos que mandam. Mas por que devemos obedecer? Há
justificação para isso?
 Aristóteles: Perspetiva Naturalista
Estado = Forma natural dos indivíduos organizarem a sua vida em sociedade
Todos os seres humanos procuram o bem supremo: Felicidade
(Desenvolvimento e aperfeiçoamento das capacidades racionais do ser
humano).
Comunidades do Estado
Família Aldeia Cidade (Estado)
- População une-se
- Reunião natural de - Evolução natural dos
naturalmente em
várias famílias agrupamentos do
famílias
- Aqui desenvolvem-se Homem mais simples
- Envolve diferentes
necessidades mais - Objetivo: Preservar a
relações (Pai – Filho)
complexas que na vida e assegurar a vida
- Célula básica da
família boa/felicidade
sociedade
- Poder Patriarcal - Poder Político
- Poder Patriarcal

O que nos realiza como seres humanos?


Podermos desenvolver a nossa racionalidade realizando livres escolhas,
exercendo a nossa capacidade de raciocínio e de discurso com os outros,
participar em decisões importantes para a comunidade em vez de nos
fecharmos na nossa vida privada e nos nossos interesses económicos
imediatos.
Só nos podemos realizar no Estado (Pólis ou Comunidade Política)
E por que não na família ou na aldeia? Porque a possibilidade de livre
escolha é severamente limitada:
 A função natural da família é assegurar as nossas necessidades
biológicas
 O Estado é a arena pública onde as pessoas se reúnem para discutir
e tomar decisões que afetam todas a comunidade para o bem e para
o mal
 O debate exige o discurso livre, o uso público da razão
 O discurso é uma virtude política fundamental, a expressão ativa da
nossa racionalidade
Para Aristóteles, o Homem é um “animal político”:
 Pela sua palavra (distinguir o bom do mau) e pelo seu discurso
(nascer com a justiça e a possibilidade de deliberar e definir leis)
 Política= Expressão superior da sociabilidade humana
 Pólis = Lugar onde se pode desenvolver ao mais alto grau as
faculdades racionais dos humanos
 Caso contrário, seriamos pouco diferentes dos outros animais
Estado (Aristóteles): Comunidade de indivíduos que partilham uma
conceção comum de bom e de mau, de justo e de injusto. A natureza do
poder político, que caracteriza o Estado, liberta o ser humano dos modos
incompletos de associação e eleva-o à condição de cidadão.
 Hobbes: Perspetiva Contratualista
O Estado autoritário protege os seres humanos uns dos outros
Estado de natureza
 Indivíduos vivem isolados e em luta permanente
 O direito mede-se pela força (Tem-se direitos ilimitados desde que se
tenha força para impor os seus desejos aos outros)
 Ninguém reconhece ou respeita direito nenhum
 Reina o medo da morte violenta
 É uma vida sem garantia
Razões para sair do estado de natureza
 Ninguém aceita viver numa situação em que não há garantia alguma
de viver
 Indivíduos renunciam de todos os seus direitos em prol de garantir a
segurança, ordem e estabilidade
Estado de sociedade e Paz cívica
 Paz e Segurança = Se cada um renunciar ao direito que tem sobre
tudo. Todos abdicam dos seus direitos e colocam-nos nas mãos de
alguém, que será o detentor absoluto do poder
Contrato Social
 Contrato é feito entre cidadãos
 Estado = Soberano absoluto
 Transferência de poderes dos indivíduos para o Estado = Ilimitada.
É uma alienação completa e definitiva de poderes e direitos
Os cidadãos aceitam isso porque, se os cidadãos tivessem o direito
de interferir em algumas das ações do Estado, haveria conflito entre
governo e governados – Conflito que pode destruir o poder do Estado
e todos regressam ao estado de natureza
 Paz cívica = Para ser assegurada, é necessária a defesa de que não
deve haver conflito entre governantes e governados. Para além disso,
no interior do próprio governo são indesejáveis o desacordo e a
divergência
 Única forma de controlar o funcionamento do governo = Ter um único
governante com poder absoluto = Garantir a paz, a segurança e a
proteção da vida dos cidadãos
 Estado = Absoluto (Justiça = Obediência da lei)
 Direito à vida = Inalienável
 Propriedade privada = Não deve ser respeitada
 Poder legislativo do Estado = ILIMITADO
 Paz cívica + importante que a liberdade e justiça
 Locke: Perspetiva Contratualista
O Estado é criado para proteger a Vida, a Liberdade e a Propriedade
Estado de natureza
 Vida sem governantes. Ser humano tem o poder de se autogovernar
 Há restrições e deveres que os seres humanos nesse estado são
obrigados a cumprir pela sua consciência moral e em nome do seu
interesse = DIREITOS NATURAIS: Vida, Liberdade e Propriedade
Razões para sair do estado de natureza
 Não é um estado de guerra de todos contra todos. É um estado de
guerra de alguns contra alguns (A maioria respeita os direitos
naturais, mas alguns não o fazem)
 Estado de natureza = Insatisfatório
Ausência de leis, tribunais e autoridades policiais não garante uma
defesa adequada dos seus direitos naturais (Vida, Liberdade e
Propriedade)
 Contrato Social = Seres humanos renunciam, não aos seus direitos,
mas a fazerem justiça por suas próprias mãos
 Vontade + Consentimento dos cidadãos criam o Estado (Definem os
termos do contrato tacitamente dado por aqueles que irão nascer no
interior da sociedade política assim formada)
Limites da autoridade do Estado
 Vontade do povo tem prioridade sobre a autoridade política
 Transferência de poderes e de direitos para o Estado que surge do
contrato social não é ilimitada – Serve só para assegurar a
convivência social, protegendo a vida, a liberdade e a propriedade
 Autoridade do Estado é limitada pelos Direitos Naturais
 Estado = Garantir a segurança, mas sem violar os direitos naturais
 Direitos naturais continuam no estado de sociedade
 Estado – Tem poder legislativo e executivo e é que faz justiça, a fim
de conserva a propriedade
 Se alguma lei desrespeitar os direitos naturais, justifica-se a
desobediência dos cidadãos
 Contrato social = Revogável – Pode ser revogado caso os
governantes não respeitam os direitos naturais dos cidadãos
NOTAS
Perspetiva Contratualista
 Contrato Social justifica por que razão alguns têm direito de governar
outros
 Há um “estado de natureza” em que o ser humano está entregue a si
próprio e pode fazer justiça pelas suas mãos
 Estado resulta de um livre acordo mediante o qual alguns indivíduos
admitem ser governados por outros e, em troca da sua liberdade,
recebem benefícios (segurança, proteção da vida e da propriedade)
Locke
 Fonte de discórdia = Propriedade privada (À medida que uns vão
acumulando mais bens materiais, surgem as primeiras desigualdades
económicas e despertam conflitos de interesse)
 Direitos Naturais: Derivam da natureza humana, não sendo
concedidos por uma autoridade política. São inalienáveis e absolutos
 Estado não deve interferir na vida privada dos cidadãos. No plano
económico, traduz-se no direito à acumulação ilimitada de
propriedade e de bens
 Estado = Estado Mínimo (Governo não interfere na vida privada,
exceto para proteger os cidadãos)
 Objeção – “Mas eu e muitas outras pessoas nunca demos
explicitamente o nosso consentimento para ser governado pelo
Estado. Não é um abuso injustificável a autoridade que o Estado
exerce?”
Solução – Se aceitamos algumas das vantagens de sermos
governados, então estamos a dar o nosso consentimento tácito à
autoridade do Estado
Problema da Relação entre Liberdade e Justiça Social
Debate sobre o problema da justiça social/distributiva. O que é uma
sociedade justa? Deve o Estado ter algum papel na promoção e construção
de uma sociedade justa? Será que é sua função corrigir as desigualdades
económicas através da redistribuição da riqueza que a sociedade produz?
Será que tem o direito de tirar a uns para poder dar a outros? Se deve e é
indispensável que tenha esse papel, como deve proceder para realizar a
justiça social?
 John Rawls: Liberdade, Justiça e Equidade
Sociedade
 Sistema de cooperação (Divide-se tarefas)
 Vantagem: Cooperando com os outros, atingirei objetivos que
até então não conseguiria
 Constituída por indivíduos/cidadãos
 Têm propriedades morais básicas: Liberdade e Igualdade
 Têm 2 poderes morais
 Capacidade de conceção do bem (Racionalidade) – sabe
o que é o bem Liberdade
 Capacidade de justiça (Razoabilidade) – sabe o que é
justo e injusto Igualdade
Justiça
 Papel
 Distribuir benefícios e encargos
 “Bens sociais primários” (Atribuídos pelo Estado; Não são as
qualidades naturais; São essenciais à vida em sociedade)
 Liberdade e Oportunidades
 Rendimento e Riqueza
 Respeito Próprio
 Objeto
 “Estrutura básica da sociedade” – Instituições
 Direitos (ex.: Saúde, Educação)
 Constituição
 Leis fundamentais
 Modo como operam
 Objetivo
 Definição de princípios
 Aplicação dos princípios na estrutura social
 Criação da “sociedade bem ordenada”
Princípios da Justiça
Princípio da Liberdade
 Não há sociedade justa se não respeitarmos todas as liberdades
 Estado deve garantir todas as liberdades básicas de forma igual
 Nenhum indivíduo dever ter mais liberdade do que os outros para
conduzir a sua vida e realizar os seus projetos e ambições pessoais
 Tem precedência sobre os outros princípios (Liberdade não pode ser
sacrificada em nome do bem-estar da maioria ou em nome da
felicidade geral nem de nenhuma igualdade económica estrita)
 Cada pessoa deve ter um máximo de liberdade que seja compatível
com idêntico grau de liberdade de todos os outros
Princípio da Igualdade de Oportunidades
 Estado deve promover a igualdade de oportunidades
Através de políticas sociais que assegurem que todos teremos a
possibilidade de realizar os nossos objetivos profissionais, apesar das
nossas condições económicas desfavoráveis
 Quem não tem recursos económicos suficientes dever ser apoiado
pelo Estado de modo que o seu sucesso (ou o seu insucesso) dependa
apenas do empenho pessoal e não de outros fatores (dotes naturais
e o “berço” em que nascemos)
 Cada um deve ter as mesmas oportunidades de acesso às várias
funções e posições sociais
 A posição social de um indivíduo deriva das suas escolhas e não da
sua sorte ou acaso
Princípio da diferença (Ex.: Impostos)
 Todos os membros de uma sociedade deverão beneficiar dos
resultados daqueles que, em virtude dos que tendo sido beneficiados
pela lotaria natural, foram bem-sucedidos
 Deve-se proceder à redistribuição dos rendimentos de modo que os
mais favorecidos pela sorte na lotaria natural contribuam para quem
foi desfavorecido
 Propósito: Regular e corrigir as desigualdades ao defender que a
riqueza deve ser distribuída de forma desigual desde que essa
desigualdade permita que os menos favorecidos fiquem o melhor
possível
 Riqueza deve ser distribuída de forma igualitária, exceto se as
desigualdades beneficiarem os menos favorecidos e lhes derem a
oportunidade de melhorar a sua situação
Equidade
Distribuição desigual dos bens básicos que deve favorecer quem se
encontra em pior situação por razões económicas, físicas ou intelectuais.
Justifica-se que algumas pessoas ganhem acima da média, desde que essa
desigualdade beneficie os membros menos favorecidos da sociedade.
A desigualdade económica justifica-se:
 Se beneficiar todos os membros da sociedade, em especial os menos
favorecidos
 Se for uma condição necessária e suficiente para incentivar uma
maior produtividade (Uma certa desigualdade torna as pessoas mais
produtivas. Se a desigualdade for maior que o necessário para
aumentar a produtividade, então é injusta)
Posição Original e “Véu da Ignorância”
Posição Original
Modo como indivíduos racionais escolheriam as regras de funcionamento
de uma sociedade o mais justa possível, não fazendo a menor ideia do meio
social em que nasceram (se são pobres, ricos, de classe média, que
educação e cuidados de saúde recebem, se são homens ou mulheres, etc).
Cada indivíduo que vai escolher os princípios da justiça está coberto por
um “véu da ignorância”
“Véu da Ignorância”
Desconhecimento por parte de cada indivíduo da sua condição social e
económica no momento do estabelecimento do contrato social.
Vantagem
 Torna as decisões racionais – Garante a imparcialidade das opções e
escolhas de cada um
 Possibilita que os indivíduos exijam uma organização da sociedade
que seja dentro do possível a mais vantajosa e melhor para todos,
não inferiorizando qualquer grupo de pessoas (Exigir valores básicos
para ter uma vida aceitável, com a mesma liberdade para todos e o
mínimo de desigualdades)
Exemplo: “3 Sociedades”
Existem 3 sociedades (A,B,C) e uma pessoa tem que escolher qual das
sociedades é mais vantajosa para ele viver, sendo que ele não sabe que
lugar ocupará na sociedade (Está coberto pelo “véu da ignorância”).
A B C
1 2 3 1 2 3 1 2 3 Classes
100 50 25 95 55 30 90 35 31 Rendimento

Resposta: Sociedade C
- A: Não pode ser porque, apesar de parecer a melhor para mim, tem
uma grande diferença entre as classes e, como não sei a que classe
pertenço, posso ser muito rico ou muito pobre
- B: Não pode ser já que, mesmo sendo uma sociedade muito
próspera, continuo a não saber a que classe pertenço e o rendimento
da classe mais pobre é baixo
- C: Esta é a sociedade que uma pessoa racional escolheria uma vez
que, apesar de não ser tão próspera, a diferença entre os
rendimentos das classes é menor comparando com as sociedades A
e B. Para além disso, sendo que não sei a minha condição social, esta
é sociedade cujo rendimento mínimo é de 31, o valor mais alto, e
mais seguro, de todas as outras sociedades
Crítica ao Utilitarismo
Rawls acusa o utilitarismo pelo princípio sacrificial. Este princípio expressa
o facto de ser legítimo sacrificar a felicidade de uns para gerar a felicidade
da maioria (Maior bem para o maior número).
Rawls combate esta teoria através do seu princípio da diferença, onde
refere que os menos favorecidos devem receber uma parte da riqueza
proveniente dos mais beneficiados, redistribuindo a riqueza de uma modo
equitativo.
NOTA
Princípio Maximin
É preferível uma sociedade desigual, capaz de distribuir mais riqueza, a uma
sociedade com mais igualdade, mas com menos riqueza.
A melhor sociedade é a que consegue a maximização do benefício mínimo
As pessoas da posição original preferem maximizar o menor dos ganhos que
possam vir a obter, quaisquer que sejam as possibilidades.
Desigualdade económica excessiva
 Tem efeitos negativos
 Dar aos mais ricos a possibilidade de oprimir os mais pobres e de
influenciar o governo e as decisões políticas, económicas e sociais
 Poder económico excessivo dá privilégios que reduzem e limitam os
direitos de outros, deixando desprotegidas as liberdades básicas de
muitas pessoas

 Nozick: É injusto impor limites à desigualdade económica


Libertarianismo
Teoria filosófica em que cada indivíduo deve exigir do Estado a máxima
liberdade, sobretudo no que diz respeito à possibilidade de adquirir e dispor
de uma quantidade desigual os bens sociais. O Estado deve ser mínimo e
qualquer intervenção deste na vida económica para regular a distribuição
de riqueza é uma violação dos direitos dos indivíduos.
Estado = Mínimo: Não interfere na vida privada dos cidadãos e só serve
para assegurar a segurança e proteção dos indivíduos e ainda o
cumprimento dos contratos entre estes.
 Direitos Individuais (Invioláveis): Vida, Liberdade e Propriedade
 Não há nenhuma injustiça só por haver uma grande desigualdade
O fosso entre pobres e ricos só é injusto se for criado através de
meios injustos (fraude, roubo)
 Não há uma forma padronizada de distribuição de riqueza que
determine até que ponto deve ir a desigualdade económica entre
indivíduos, ou seja, o que cada qual deve possuir
 Nozick discorda de Rawls por 2 razões:
 Distribuir os benefícios sociais de acordo com um padrão exige
sempre o uso ilegítimo da força e da coerção
 As livres escolhas dos indivíduos perturbam os padrões de
distribuição que as sociedades pretendem estabelecer
 Defende a existência da esfera individual e da não interferência
externa na mesma
Características
 Individualismo: Faço o que quero comigo e com os meus bens
 Temos direitos pré-políticos (anteriores ao Estado) e negativos
(estabelecem restrições àquilo que o outro/Estado podem fazer)
 Deontológico: Cada indivíduo é tratado como um fim e nunca como
meio
 Igualdade: Tenho os meus bens e o Estado respeita-os como meus
 Justiça Social: Permitir que os bens de que sou proprietário legítimo
permaneçam em meu poder dispondo deles conforme entendo
 A redistribuição de riqueza e rendimentos é imoral e injusta
 Deve-se apelar à generosidade dos mais favorecidos, mas não é justo
obriga-los a socorrer os mais necessitados
Titularidade
 Tenho direito de dispor livremente do que ganhei e adquiri
 Sou titular do meu corpo, das minhas coisas, do meu trabalho e do
meu rendimento
 Direito moral que não pode ser suplantado pelo objetivo utilitarista
de aumentar de aumentar o bem-estar geral nem por ideais
igualitários
 Princípios
 Justa Aquisição – O que eu adquiri foi de forma justa
 Justa Transferência – Há bens que me podem ser transferidos
justamente (Ex.: Heranças)
 Retificação – Tenho direito a reclamar aquilo que é meu (Ex.:
Alguém tem uma propriedade e, depois de uma avaliação,
reclamo-a como minha)
Críticas a Rawls
1.Refutação do princípio da liberdade
 A redistribuição de riqueza pode configurar uma violação da
liberdade individual e da propriedade privada
 Cobrança de impostos é um “trabalho forçado” – nós ao
cobrarmos impostos, estamos a roubar o trabalho e esforço
dos outros só para redistribuir a riqueza
2.Refutação do princípio da igualdade de oportunidades
 Não é exequível devido às diferenças culturais
 Como é que vamos executar a igualdades de oportunidades se
as sociedades são todas diferentes
 Desencadear a ascensão dos menos capazes – Criação de uma nova
desigualdade
3.Refutação do princípio da diferença
 Exige uma abusiva e contínua intervenção do Estado
 Estado não consegue controlar o que os cidadãos farão com os
benefícios
 Por muito que o Estado intervenha na sociedade, vai haver
sempre desigualdade
Comparação entre as teorias de Hobbes e de Locke
Questões Hobbes Locke
Não Sim
O Estado é uma
(Construção humana, (Construção humana, algo
instituição
algo que impomos à que impomos à nossa
natural?
nossa natureza) natureza)
Condição da vida Condição da vida humana
O que é o humana marcada pela marcada pela
Estado de possibilidade que cada possibilidade que cada um
Natureza? um tem de fazer justiça tem de fazer justiça por
por suas mãos suas mãos
O Estado de
Natureza é uma Não Não
condição (Guerra de todos contra (Tende a ser a guerra de
satisfatória? todos) alguns contra alguns)
Porquê?
Transferência de todos Não há abdicação dos
Como se dá a os direitos dos indivíduos direitos naturais.
passagem do de forma ilimitada. Transferência do poder de
Estado de Renúncia à liberdade em legislar, de executar as
Natureza à nome da segurança e da leis, de julgar os litígios
Sociedade Civil? proteção das suas vidas e civis e de punir criminosos
dos seus bens e infratores
Não Sim
A autoridade do
(Renúncia do direito a (Há valores mais
Estado tem
todas as coisas em nome importantes do que a
limites?
da segurança e proteção) segurança e a ordem)
Comparação entre as teorias de Rawls e de Nozick
Questões Rawls Nozick
Respeita-se de forma
absoluta os direitos
Ninguém põe em causa
individuais, permitindo
O que é uma as liberdades básicas
que os bens de que sou
Sociedade para todos nem a
proprietário legítimo
Justa? igualdade de
permaneçam em meu
oportunidades.
poder, dispondo deles
conforme entendo
Será que é
função legítima
do Estado Sim
corrigir as (Estado tem direito e
Não
desigualdades dever de tirar a uns para
(É uma violação da
económicas dar a outros – Força
liberdade individual do
através da alguns a contribuírem
indivíduo)
redistribuição para a melhoria do nível
de riqueza que de vida de outros)
a sociedade
produz?
Estado promove a justiça
se não interferir na vida
Estado deve promover o económica, respeitando
Como deve o
Princípio da Diferença e do direito de titularidade.
Estado proceder
o Princípio da Igualdade Estado é mínimo e é o
para realizar a
de Oportunidades único poder político
justiça social?
(Ex.: Impostos) legítimo.
Justiça Social 
Redistribuição de riqueza

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