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Teoria Aristotélica

Tem por base as conceções eudemonistas – Referem-se ao facto do ser humano ser habitado
por um bom espírito que o permitirá alcançar a felicidade. As conceções éticas até à filosofia
moderna justificam as ações humanas em ordem de alcançarmos a felicidade.

Temos um telos (fim para o qual estamos orientados) e possuímos enteléquia (natureza
própria de cada ser de algo que está por cumprir e realizar, com o objetivo de uma realização
plena de uma tendência, potencialidade ou finalidade natural, concluindo um processo
transformativo).

Assim, a teoria aristotélica pressupõe uma alteração do ser humano.

Segundo Aristóteles, tudo tende para um fim, para uma finalidade. O ser humano tem um
telos. Nós não nascemos “terminados”, apenas quando atingimos a maturidade é que somos
capazes de agir por nós próprios – mas até lá precisamos dos outros – seres dialógicos (como
sucede em Habermas).

A felicidade
De acordo com a teoria aristotélica, a felicidade é vista como o bem – categoria fundamental
dos valores morais/éticos. Para Aristóteles, a felicidade é o objetivo final da vida humana, e é
alcançada através da realização da virtude. Segundo Aristóteles, a virtude é uma disposição do
caráter que permite a uma pessoa agir de maneira adequada e alcançar a excelência em tudo
o que faz.

Aristóteles acreditava que a felicidade não é algo que possa ser alcançado por meio de riqueza,
fama ou prazer. Esta é alcançada através de uma vida virtuosa, que é caracterizada pela prática
constante de ações virtuosas (como a coragem, a sabedoria, a justiça e a amizade).

Aristóteles diz que se tornarmos estes valores disposições no nosso caráter, podemos
tornarmos-mos seres virtuosos. Considera Aristóteles que todos somos seres racionais e que
utilizamos a nossa razão para determinarmos as nossas ações. Podemos fazer cálculos. Ex: Se
agir desta maneira estarei a agir corretamente? – Estamos a condicionar a ação pelo uso da
minha razão. Podemos usar a nossa razão para identificar se um comportamento é corajoso ou
não.

Só quando deixamos de fazer estes cálculos e tornarmos estes valores uma parte do meu
caráter (disposições do caráter) é aí que nos tornamos virtuosos, excelentes, pois já não
precisamos de ir apelar à nossa razão para agirmos de forma correta, porque é algo que já faz
parte de nós. Quando atingimos esta excelência e virtude, temos um bom espírito (eudaimon)
e atingimos o Telos – fim para o qual estou orientado (pode ser a felicidade, seja por onde for,
queremos ser felizes). Por norma as decisões que tomamos vão de acordo com o telos.

O bem que Aristóteles nos diz que é a felicidade só pode ser proporcionado pela comunidade.
A comunidade é anterior ao indivíduo, ou seja, cada indivíduo já nasce no seio de uma
comunidade.
Continuação…

Nós nascemos com capacidade para a racionalidade, mas não somos seres racionais desde
início.

Tal como uma semente tem a sua própria enteléquia, ela também tende para um fim/telos
(dar fruto). Mas para que ela possa florescer depende de uma quantidade de fatores (sol,
terra…) para que esta cumpra a sua natureza/finalidade. Tal como a semente, o Homem é um
ser racional que está orientado para a sua finalidade e que precisa de condições para crescer:

Precisa de outros homens (ser dialógico) para comunicar o seu logos, pois nós somos seres eu
só nos desenvolvemos socialmente:

A 1ª comunidade ética é a família (primeiro agente de socialização). Nós nascemos dentro


de uma família, onde se partilham valores, que são hierarquizados à sua maneira, num espaço
mais privado de relação. Na família, quando satisfazemos os desejos/necessidades de outro
membro, é como se estivéssemos a satisfazer necessidades nossas – pois, o amor é o laço que
une as pessoas numa família. Mas as famílias, não partilham todas os mesmos valores!

Todos pertencemos a uma comunidade, mas somos de famílias diferentes, e partilhamos o


mesmo código moral, e por isso, os mesmos valores.

No entanto, a família acaba por não bastar para a satisfação de todas as nossas necessidades e
por isso temos que passar a integrar uma comunidade + alargada – A ALDEIA.

Aldeia
De acordo com Aristóteles, a Aldeia serve para satisfazer as necessidades que a família não
consegue – saímos da família, relacionamos-mos com pessoas, não para satisfazer os
interesses delas mas os nossos próprios interesses.

E se são membros de diferentes famílias, pertencem a diferentes comunidades éticas


(diferentes valores). Quando duas pessoas com diferentes valores se juntam, por norma há
conflito. Numa aldeia, por norma, não há uma harmonização das necessidades. Somos pessoas
de diferentes famílias e estamos a relacionarmos-mos uns com os outros porque estamos a
tentar satisfazer as nossas necessidades, e para tal podem surgir laços de amizades e cordeais.

Por exemplo: Um professor ao dar aulas satisfaz as suas necessidades e as dos alunos. Há uma
harmonização das necessidades. A necessidade primária é ganhar dinheiro, portanto a
necessidade do professor, acaba por satisfazer a nossa necessidade de aprender.

Numa aldeia, por norma não há essa harmonia. As pessoas entram na aldeia para satisfazerem
as suas necessidades. Quando não há harmonia de necessidades, há conflito. Se houver só um
peixe, eu não o vou partilhar com a outra pessoa, pois preciso desse peixe para satisfazer as
minhas necessidades primeiro.

De acordo com Aristóteles, na aldeia, o laço que nos une é o da amizade e este é facilmente
quebrado! Facilmente entramos em conflito. O que sustenta a amizade são as normas morais e
são facilmente violadas/quebradas. Se violarmos as normas morais, podemos sentir remorsos
apenas… NA ALDEIA PROCURA-SE A SATISFAÇÃO DO BEM QUE É PARTICULAR. A RELAÇÃO
QUE EXISTE É DE AMIZADE E NÃO É DE AMOR, QUE É BEM MAIS FORTE.

Sistema aristotélico

• 1 - Amor --------- Família ---- Valores

• 2 -Amizade --------- Aldeia (formada por famílias) ------- normas morais

• 3 - Forma-se uma cidade – uma aldeia politicamente organizada através das leis que
dão força coerciva e punitiva às normas. Justiça – cidade – leis

Cidade
Na aldeia apenas existem normais morais, o que não impedem más situações/conflitos de
acontecer. E PORTANTO, OS CONFLITOS NÃO SE RESOLVEM, E NÃO CONSEGUIMOS ATINGIR
A FELICIDADE. A cidade vem fortalecer o laço da amizade. Vem trazer leis que dão organização
e segurança

Por exemplo se eu quiser muito um relógio sem ter que o pagar, numa aldeia poderia roubá-lo
e fugir. Mas na cidade, muito provavelmente já não o faço porque irei presa. Só podemos
atingir a felicidade se usufruirmos do bem comum – da cidade. Só através da cidade podemos
atingir o nosso Telos.

Nota: O bem comum é o maior bem que se pode usufruir. A cidade politicamente organizada
dá-nos bens que numa aldeia seria muito mais difícil. Os polícias podem dar a vida por um de
nós! E só dando valor à cidade e ao que ela nos proporciona é que podemos atingir a
felicidade.

A cidade institui-se um estado soberano, com poder para se fazer cumprir as normas morais,
através de leis. Aqui, o laço que nos une é a justiça.

A cidade proporciona o cumprimento das normas morais e dos valores, e consequentemente,


segurança e conforto. Algo que sozinhos não conseguiríamos atingir.

Mas, para alcançarmos a felicidade, apesar de termos todas as condições facultadas pela
cidade, temos que saber usar a razão, para procurarmos os bens que são adequados a nós.
Aqui entra a razão prática que nos ajuda a decidir como agir. – É só com o bom uso da razão
que conseguimos alcançar a virtude.

Tornamo-nos virtuosos através da razão por que esta nos permitirá agir de forma correta e
adequada, uma vez que nos dará o justo meio para agir. Assim, qualquer decisão será sempre
justa porque respeitará sempre o bem particular e o bem comum. Não devemos agir nem por
excesso nem por defeito, e isso vai nos levar à virtude.

Para alcançarmos a felicidade temos de tornar a ação do justo meio uma característica nossa.

Aristóteles diz que se tornarmos estes valores disposições no nosso caráter, podemos
tornarmos-mos seres virtuosos. Considera Aristóteles que todos somos seres racionais e que
utilizamos a nossa razão para determinarmos as nossas ações. Podemos fazer cálculos. Ex: Se
agir desta maneira estarei a agir corretamente? – Estamos a condicionar a ação pelo uso da
minha razão. Podemos usar a nossa razão para identificar um comportamento corajoso, e
posso pegar pelo modo defeituosos e tornar-me um cobarde (posso não ser corajosos) ou
tomar pelo modo positivo e tornar-me um herói (ser muito corajoso).

Só quando deixamos de fazer estes cálculos e tornar-mos estes valores uma parte do meu
caráter (disposições do caráter) é aí que nos tornamos virtuosos, excelentes, pois já não
precisamos de ir apelar à nossa razão para agirmos de forma correta, porque é algo que já faz
parte de nós. Quando atingimos esta excelência e virtude, temos um bom espírito (eudaimon)
e atingimos o Telos – fim para o qual estou orientado (pode ser a felicidade, seja por onde for,
queremos ser felizes). Por norma as decisões que tomamos vão de acordo com o telos.

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