Você está na página 1de 5

HERANÇA SOCRÁTICA E TRAÇOS DA RELIGIÃO ÓRFICA

 Platão tem muitas características herdadas de Sócrates, como sabemos.


Por exemplo: cuidar da sua alma; exercitá-la; no sentido que não somos
só matéria, mas corpo e alma. É então o homem dotado de uma
natureza fundamental: a alma. Ainda em Sócrates podemos ver o
conceito de felicidade: “conhece-te a ti mesmo”. Ou seja, cuidar de si e
viver bem, segundo uma regra.
 “Conhece-te a ti mesmo” – pressupõe o cuidado; pressupõe uma regra
de vida; CONHECER (o bem e o mal o justo e não justo, etc.) antes,
para depois EXERCITAR.
 Platão não ficará fora desta perspectiva de relação corpo/alma.
Provavelmente estimulado pela religião órfica Platão entendeu que o
corpo é o cárcere da alma; lugar de expiação. Em face disso, enquanto
a alma vive o corpo morre. Portanto há uma compreensão negativa do
corpo. Ele é raiz de todo o mau; fonte dos amores; das paixões insanas;
das discórdias; da ignorância e da loucura.
 Platão ensina então a morrer bem, que significa VIVER BEM; viver
segundo as regras da razão; de modo que a alma é quem deve
comandar o corpo. Nesse sentido, O FILÓSOFO É AQUELE QUE
DESEJA A VIDA VERDADEIRA; A MORTE DO CORPO. Portanto, deve
ele suprimir os furores do corpo; fugir dos prazeres do mundo e do
mundo. Ou seja, das causas materiais (1ª navegação).

CONHECIMENTO E VIRTUDE

 O homem deve valer-se do conhecimento para praticar a virtude. Agir


segundo a alma é agir segundo a nossa melhor parte. Seguir a alma é
seguir também a Deus, que significa em Platão: “buscar a medida de
todas as coisas”. Então, na medida em que nossa alma segue a Deus,
podemos considerar que os verdadeiros valores são os valores contidos
na alma: CONHECIMENTO E VIRTUDE. Por isso ele funda aí a
concepção intelectualista da moral, pois é a alma o agente que pode
condicionar as virtudes mais puras. A alma está ligada direto ao
intelecto. É, portanto, através da capacidade de inteligir que o homem
pode ponderar as paixões e as virtudes, agindo segundo as virtudes
mais nobres que são as oriundas da própria alma. É a razão quem
avalia, analisar, distinguir as virtudes mais puras; facultar e dar o livre
arbítrio; a capacidade de escolha do indivíduo. O CONHECIMENTO
torna-se então o CRITÉRIO que nos dá a regra de vida.

VIDA PÚBLICA E PRIVADA

a) Segundo a interpretação do autor Trabatoni, em Platão não há distinção


entre Política e Ética. Na estrutura política grega o cidadão vivia inserido
na comunidade; isso significa que os comportamentos privados da vida
privada tinham validade na vida pública. Inversamente, o mundo político
influía nas normas éticas, então, a ética é a vida perfeita na dimensão
privada. A política é esta vida privada na DIMENSÃO PÚBLICA. A vida
pública é a extensão da vida ética. A dimensão da vida privada se
realiza na Polis, na vida pública. Há aqui uma coincidência entre o modo
que se vive na vida privada e na vida pública; uma é extensão da outra.
Hoje nós fazemos distinção da vida pública e da vida privada, mas na
época de Platão não era assim: a vida pública era um espaço para a
participação do homem nas questões do Estado, a vida política pública
era própria do homem livre.

b) Platão faz uma distinção SUTÍL entre vida pública e privada. A família é
o espaço da reprodução da espécie. O estado é o reino ético; dos
costumes públicos. No caso da ética de Platão, a moral é também uma
moral da FELICIDADE, pois ela implica na coincidência entre a ALMA e
DEUS, visto que a alma é a parte boa do corpo; então a alma de fato se
ASSEMELHA ao transcendente. O corpo, pelo contrário, está sujeito a
corrupção e, portanto, é imperfeito; ele não pode se assemelhar àquilo
que é puro; eternamente bom – a alma. Deste modo a felicidade está no
transcendente cuja realidade é independente de nós – da causa
segunda.
c) A alma deve então sempre desejar sair do corpo. A racionalidade/alma
aspira os bens mais elevados, enquanto que o corpo não. Cabeça =
racionalidade; peito = irascível; membros inferiores = partes menos
nobres da condição humana. Então as partes inferiores não devem
governar as partes superiores, o que isso que dizer? Que é a cabeça do
homem – a razão – que deve governar o seu modo de agir e seu corpo.
Uma vida verdadeira é uma vida dedicada ao conhecimento. A filosofia é
então a vida puramente na dimensão do espírito = na dimensão da
alma/intelecto; pois é na alma que estão contidas todas as virtudes do
homem.

d) O exercício filosófico é aquele que aprimora o espírito do homem,


levando-o a um conhecimento mais puro e o agir moral. No platonismo o
viver bem e viver uma vida dedicada ao conhecimento. A condição ética
do homem consiste em submeter os valores menores do homem aos
valores maiores (aos da alma/da razão): a sabedoria, fortaleza,
temperança e a justiça. Tudo o que foge disso (a ignorância, injustiça,
vícios do corpo) não podem conduzir o homem a uma vida virtuosa.
Então a tarefa/missão do filósofo é uma atividade moral de libertar a
alma do corpo; purificando a alma pela elevação do espirito e pelo amor
do filosofo ao saber; a sabedoria. Esse exercício se volta para dentro de
si, onde nossa alma se aproxima do divino. A conclusão é então que o
exercício filosófico leva a nossa alma a se unir com o divino/bem
supremo.

Temas presentes no pensamento ético de Platão:

1º: O BEM
“O bem é a luz com que os deuses alimentam sua eterna contemplação”
(livro X). Os Deuses são as almas que regulam os movimentos dos
céus. Ou seja, ele subordina a moral ao sobrenatural.
2º: TRANSCENDÊNCIA DO FIM (FINALIDADE)

“O fim da vida é o transcendente absoluto”. Em Platão a moral é então a


arte de se preparar para uma realidade que transcende este mundo.
Traços herdados por raízes órficas (um conceito mais religioso).

3º: A FELICIDADE
A felicidade é interior ao homem. Ela não tem caráter empírico/prático. A
felicidade não é algo contido no corpo, mas trata-se de viver na terra
uma beatitude que transcende todas as realidades terrenas. A felicidade
não está nos prazeres do corpo, mas da alma. “O mais feliz é aquele
cuja alma está isenta do mal” (Górgias 478. E). “Cada um de nós, para
ser feliz, deve procurar a temperança” (Górgias 507. D). “Somos mais
felizes em sofrer uma injustiça do que em cometê-las”.

4º: O VALOR
A virtude é conhecimento. O erro, ignorância. Para Platão a virtude vale
independentemente do ser útil. Ela tem valor em si. Vale mais do que
qualquer coisa prática. A virtude tem um valor que não se limita ao
aspecto prático; útil. O bem é sinônimo de valor. É sempre um bem
intrínseco (pag. 130 – FEDON).

5º: INDEPENDÊNCIA E DEPENDÊNCIA EM RELAÇÃO ÀS NORMAS


COMUNS
O Ético depende dos valores e normas reconhecidas pelo seu tempo e
meio (o ético tem então a dependência das normas do estado). Mas,
mais do que isso, transcende, quando entende que o filósofo é
independente das normas do Estado quando se refugia, nas abstrações
e pensamentos filosóficos, para em seguida, propor uma ordem/ou
reorganização da cidade, segundo o que ele contemplou no mundo
perfeito das ideias. Pode se fazer uma analogia com o mito da caverna.
O filósofo sai da caverna (Polis) para contemplar a luz da verdade (a
cidade perfeita) fora da caverna (no mundo das ideias), para retornar a
caverna (a Polis) e trazer o bem para a Polis.

POLIS; GOVERNANTE; EDUCAÇÃO E SUAS RELAÇÕES COM A


SABEDORIA

Conceito de JUSTIÇA na Polis: Os valores éticos à sabedoria, significa


afirmar que o filosofo é aquele que pela atividade filosófica busca a
verdadeira sabedoria afim de buscar a vida harmônica da cidade; o que
é virtuoso para ela. Por exemplo: a divisão do trabalho segundo as
habilidades de cada indivíduo. Na medida então eu cada individuo
realiza aquelas disposições que estão internas em sua alma, reinara na
Polis a felicidade, a harmonia e a prosperidade, pois estará este homem
realizando aquilo que lhe foi impresso na alma; Quando pois a ordem é
invertida (o artesão queira governar, por exemplo) a situação que se
instaura é o caos. O interesse do coletivo deve sempre imperar sobre os
individuais, justamente para que não ocorra este erro citado acima.
O que é o Estado: É a alma ampliada; parte da concepção tripartite da
alma, entendendo que o estado é então a expressão daquilo que é a
alma do filósofo. Se o Estado é a ampliação da alma, então posso dizer
que, na medida em que os indivíduos são bons, podemos dizer que o
Estado será virtuoso. Mas, se os indivíduos são ruins, então o Estado
também será ruim. Não pode haver um ESTADO JUSTO governado por
homens maus.
O papel de Educação: É preparar o homem para desenvolver as suas
virtudes inatas na vida pública; na Polis. É a educação que vai orientar o
sujeito a aprimorar e se preparar para desenvolver a sua função pública
segundo os seus carismas.

Você também pode gostar