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MARCOS AURÉLIO CÂMARA PORTILHO CASTELLANOS

(RA 8049591)
Licenciatura em Filosofia

PAIDEIA NO CONTEXTO DA REPÚBLICA DE PLATÃO SOB A


ÓTICA DA JUSTIÇA.
Onde enquadras a justiça?

Tutora: Maria Cecília de Oliveira Adão


Claretiano – Centro Universitário

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS


2018
PAIDEIA NO CONTEXTO DA REPÚBLICA DE PLATÃO SOB A ÓTICA
DA JUSTIÇA
Onde enquadras a justiça?

RESUMO: O presente trabalho tem em vista desenvolver pesquisa na obra A República de Platão
objetivando encontrar a virtude da justiça. Pretende-se no contexto da Paideia, em vislumbre do
homem novo e da polis ideal, na qual Platão encontrou certos fracassos na observância das
virtudes, e que resultaram, necessariamente na injustiça. Estes fracassos ocorreram em decorrência
da natureza humana que se compõe das partes vegetal, animal (biológica) e alma (racional) e neste
contexto, a parte biológica, irracional, eventualmente se realça na busca dos prazeres sensíveis e
corpóreos. E, não obstante aos eventuais fracassos, identificar onde se encontra a justiça num
contexto da tríplice classe de cidadãos: governantes, guardiães e produtores, foi a alternativa
platônica para encontrar a justiça. As classes de cidadãos representam as virtudes da sabedoria, da
coragem e da temperança na alma do indivíduo. E buscar onde não se encontra a justiça é salutar
para responder. Onde enquadras a justiça? Exatamente na formação do homem novo e da polis
está o caminho para encontrar a resposta.

Palavras-chave: Paideia; Homem racional; Virtudes; Sabedoria; Coragem; Temperança; Justiça.

1. INTRODUÇÃO

Urge neste momento ressaltar que se pretende examinar os diálogos expressados por Platão
em suas obras com a finalidade de conhecer, identificar, perscrutar, em síntese, interiorizar a
virtude da justiça neste âmbito: “Onde enquadras a justiça? “Eu a situo entre os bens mais
excelentes, como algo a ser valorado por qualquer um que será abençoado com a felicidade, tanto
devido a ela mesma quanto devido aos seus efeitos”. (A REPÚBLICA – Livro II – 357d-358a).
Se faz necessário considerar as virtudes ou qualidades da alma, baseando-se na tripartição
das funções dos cidadãos na polis: os governantes, os guardiões e os produtores, eis que
representam a sabedoria, a coragem e a temperança. Compreende-se que a justiça resulta na
harmonia destas três virtudes na alma e na polis.
Neste propósito, pretende-se, adentrar a pequenos passos à virtude da justiça, eis que
alcançada, o indivíduo e o Estado serão abençoados com a felicidade e seus respectivos efeitos
como expressa Platão, todavia, percorrer primeiramente as três virtudes para contextualiza-las no
âmbito da alma e da polis é tarefa de salutar importância.
Primeiramente, uma análise quanto ao indivíduo ou mesmo a alma, como expressa
JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego, p. 757/758:

O Estado de Platão versa, em última análise, sobre a alma do Homem. O que ele nos diz
do Estado como tal e da sua estrutura, a chamada concepção orgânica do Estado, onde
muitos veem a medula da República platônica, não tem outra função senão apresentar-
nos a “imagem reflexa ampliada” da alma e da sua estrutura respectiva. E nem é numa
atitude primariamente teórica que Platão se situa diante do problema da alma, mas antes
numa atitude prática: na atitude de modelador de almas.

Ainda, percorrendo contextualizar o termo Paideia na República, mormente no ambiente


da educação temos ainda descrito na obra de Jaeger que para Rousseau a República não era uma
teoria do Estado, todavia, o mais famoso estudo jamais escrito sobre a educação.
Daí perguntamos: Qual é virtude que Platão encontrou para a formação da alma que
proporcionasse a felicidade? A justiça é a virtude encontrada por Platão. E retornamos com a
pergunta: “Onde enquadras a justiça?
Em busca das respostas, o embasamento teórico pretendido será da obra Paideia; a
formação do homem grego, de Jaeger, bem como, os próprios textos platônicos, mais
especificamente a República.
E ao final, espera-se encontrar a ordem na alma e consequentemente na polis, ainda que,
como paradigma platônico para a sociedade hodierna, como algo a ser buscado na construção do
conhecimento que resulta numa atitude prática de modelador de almas, conforme expressado por
Jaeger (2018).

2. NATUREZA ANIMAL IRRACIONAL E ANIMAL RACIONAL

Salutar considerarmos que a natureza humana apresenta algumas semelhanças com os


animais, tais como: vida vegetal e vida animal, devemos ressaltar diferenças significativas, tais
como: os animais são seres já prontos e os homens trazem um impulso vital de crescimento, de
busca do conhecimento, de constante formação no seu ser. A vida humana se expressa como uma
abertura através da relação. Educação do homem no que mais o distingue dos outros animais.
Nesta perspectiva surge a paideia platônica como ideal da formação do homem pela
educação objetivando o homem novo para uma sociedade ideal. Em outras palavras, Platão tem
como proposta não formar o indivíduo para si mesmo, mas formar para a polis.
Jaeger (2018, p. 106) expressa que “A polis é o centro principal a partir da qual se organiza
historicamente o período mais importante da evolução grega”.
Retornando à dimensão individual do ser humano, urge destacar que Platão, em A
República, expressamente preocupa-se com aqueles que vivem a vida numa dimensão meramente
prazerosa, até mesmo, podemos asseverar, de maneira um tanto quanto biológica, eis que,
desprezam a dimensão intelectual, senão vejamos:

Portanto, os que não dispõem da experiência da Inteligência e da virtude, se mantendo


ocupados com banquetes e similares, são movidos para baixo e em seguida erguidos até
o estado intermediário, pelo que parece, e vagam dessa forma ao longo de suas vidas,
jamais ultrapassando esse estado para o que é verdadeiramente superior, jamais o
contemplando ou sendo movidos até ele, de sorte que não são preenchidos com aquilo
que realmente é e nunca provam qualquer prazer estável e puro. Ao contrário, mantêm-
se com o olhar voltado para baixo, para o solo, como o gado, e com suas cabeças
inclinadas para suas mesas, comem, engordam e copulam. Numa mútua emulação, para
se sobrepujarem reciprocamente nessas coisas, matando-se uns aos outros, posto que seus
desejos são insaciáveis e o vazio que tentam preencher é como um vaso repleto de furos,
e nem ele, nem as coisas com as quais tentam preenche-lo estão entre as coisas que são e
que são reais.

Notadamente, percebe-se que ao comparar aqueles que voltam seu olhar para baixo
equiparam se a gado. Como expressamos acima há alguma vida comum entre os animais
irracionais e os animas racionais, em Platão há uma crítica na vivência de uma vida meramente
biológica e prazerosa.
Será que uma vida experimentada neste contexto é possível ser virtuoso para alcançar a
verdadeira felicidade? Platão diz que são insaciáveis e o vazio que se tenta preencher é como um
vaso repleto de furos. Logo, a felicidade encontra-se um tanto quanto distante.
Certamente Platão não está desprezando a dimensão física, corporal e mesmo prazerosa nos
seres humanos, mas preocupa-se com a inversão dos valores, eis que uma vida governada pelo
apetite certamente encontra a desordem expressada, pois está desajustada ao fim para a qual fora
criada.

3. TRÊS CLASSES DE CIDADÃOS E EDUCAÇÃO DO HOMEM

E por falar em governo e desajuste, Platão afirma que os cidadãos devem ser divididos em
três classes: os produtores, os guardiães e os governantes. Então, quando é que para Platão há o
ajuste, ou em outras palavras a justiça?
Comentando A República Nickolas Pappas (2017, p. 93) diz que “Sócrates compara a
habilidade de governar com habilidades de medicina, da pilotagem e do treinamento de cavalos”.
Referindo-se à idéia platônica de que cada um tem dons próprios e os exercendo ajusta-se à ordem.
Continua Nickolas Papas “O médico governa sobre o corpo humano, pois é ele quem determina o
que o corpo deve comer e beber e de qual tratamento médico necessita”.
No entanto, para desenvolver as habilidades se faz necessário empenho e por outro lado o
acolhimento com virtude os dons recebidos. Eis que a virtude “nasce” com a educação.
Para Jaeger (2018, p. 547) a compreensão de Sócrates quanto à necessidade da educação
do Homem:

Tem necessariamente de educar o Homem para um de duas coisas: para governar ou ser
governado. Já na alimentação se começa a marcar diferença entre estes dois tipos de
educação. O Homem que é educado para governar tem de aprender a antepor o
cumprimento dos deveres mais prementes à satisfação das necessidades físicas. Tem de
sobrepor à fome e à sede. Tem de se acostumar a dormir pouco, a deitar-se tarde e a se
levantar cedo. Nenhum trabalho o deve assustar, por árduo que seja. Não se deve deixar
atrair pelo engodo dos prazeres dos sentidos...quem não é capaz de tudo isso fica
condenado a figurar entre as massas governadas.

Necessário de faz, ainda esclarecer que para Platão há notória distinção entre conhecimento
e opinião, conforme em A República, 478 a.
Perseverando em busca de encontrar a resposta para a questão: Onde enquadras a justiça?
Constatamos que para almejarmos ajustar, as três classes de cidadãos vislumbrando a felicidade,
se faz necessário, ainda, entendermos o que é virtude. Discorre Platão, em outras palavras, que
virtude é a arte da boa medida, senão vejamos: “Que todos precisavam se dedicar a uma das
ocupações no Estado para a qual tivesse naturalmente mais aptidão”.
Consequentemente nas três classes de pessoas é que encontramos a aptidão natural para a
construção da felicidade individual e da polis. Platão afirma em A República, 415a que:

De fato, era bastante natural que devesse estar”, eu disse, “mas ouve o resto do conto.
“Todos vós no Estado são irmãos”, diremos a eles ao contar nossa fábula, mas o deus que
vos moldou misturou um pouco de ouro naqueles que estão aptos a governar, razão pela
qual são mais preciosos; adicionou prata aos auxiliares e ferro e bronze aos agricultores
e outros trabalhadores.

Neste tripé, nestas três classes de pessoas como diz Jaeger (2018, p. 757/758) “onde muitos
veem a medula da República platônica, não tem outra função senão apresentar-nos a “imagem
reflexa ampliada” da alma e da sua estrutura respectiva”.
Exatamente na alma acontece a paideia, a formação do homem novo e consequentemente
o Estado ideal. Partindo do indivíduo para o coletivo.
E Platão assevera que, em outras palavras, que somente aos indivíduos formados pela
educação e experiência de vida seria entregue a polis. Estas pessoas deveriam ser dotadas de boa
memória, facilidade de aprendizado, amáveis, amantes da verdade, da justiça, da coragem e da
temperança.
Aquelas pessoas dadas aos banquetes e toda sorte de prazeres como que gado, inclinadas
às mesas, comem, bebem e copulam não poderiam experimentar as virtudes da temperança,
coragem e sabedoria. Estas pessoas estariam sob a definição platônica na categoria de
governantes? Seriam sábias o suficiente para agirem com justiça?
Abrindo uma “janela” ampliemos o olhar para nosso país e indaguemos: as pessoas que o
governaram nas últimas décadas eram virtuosas, ou seja, amantes da verdade, da sabedoria, da
coragem, da temperança e consequentemente da justiça? Ou a história revela que as condutas se
assemelham com mais proximidades com aquelas pessoas amantes dos banquetes?
Jaeger (2018) assevera que:

E, se a justiça for considerada equivalente à vantagem do mais forte, então toda a luta dos
homens por um ideal superior de direito se converterá numa ilusão, e a ordem do Estado
que o pretenda realizar, num mero biombo, por trás do qual continuará a se desenrolar a
implacável guerra de interesses.

Evilázio Teixeira (2015, p. 31) diz, ainda que:

Para Platão, os prazeres mais excelsos da vida são aqueles ligados à alma; a vida feliz é a
do homem que tende para o inteligível e não cede à fascinação do sensível. A felicidade
é da ordem do conhecimento. A Felicidade está na procura do Bem e do Belo, está na
marcha para a fonte do ser e do conhecimento.

Destarte, notória é a incapacidade de governar por aqueles que não detém a sabedoria, que
é o amor à verdade. Logo, neste contexto, onde o homem se aproxima mais da vida animal
irracional não pode habitar a virtude da justiça, eis que esta está associada à razão, em outras
palavras à virtude da sabedoria harmonizada com as virtudes da temperança e da coragem.
Mas por que a virtude da justiça não se encontra no contexto dos amantes dos banquetes,
nos prazeres sensíveis?
Urge, ainda, ressaltar que Evilázio Teixira (2015, pág.31) expressa que “Viver a vida, tendo
como único horizonte de sentido o prazer, está longe de ser chamada vida humana”.
Salutar recordar a alegoria da Caverna onde Platão em síntese apresenta homens no interior
de uma Caverna de costas para a saída tendo como iluminação uma fogueira e apenas com a visão
das sombras refletidas na parede pelos movimentos do exterior da Caverna. Estas pessoas estavam
como que deslumbradas com os movimentos das sombras e de alguma maneira satisfeitas e
acomodadas. Acentua-se que estavam todas presas, acorrentadas. Quando então, uma obtém a
liberdade e com sacrifício inicia o caminho em direção à saída da Caverna onde uma luz nunca
vista a atrai e ao mesmo tempo ofusca os olhos. Quando então, consegue atingir o exterior e
experimenta a alegria de ver as coisas reais e não apenas sombras, percebe o quanto estava
deslumbrada com as simples aparências, eis que a essência, as causas, a verdade, agora conhecidas,
possibilitam constatar que há algo além dos prazeres das sombras, sensíveis, limitadas. Sim, este
adquiriu a verdadeira sabedoria, mas necessitou da coragem para encaminhar-se até a saída e
temperança para adequar-se aos prazeres da luz do fogo que resultava nas sombras das aparências
com a luz do sol das realidades essenciais de todas as coisas.
Questiona Jaeger (2018, p. 764), é a justiça um bem que se deva buscar por si próprio ou
apenas um meio que acarreta determinada utilidade?
Então, “Onde enquadras a justiça?
Sendo um meio para eventual utilidade estaríamos incorrendo no equívoco dos amantes
dos banquetes e prazeres pelas aparências. Todavia, se se trata de um bem a ser buscado por si
próprio, certamente estaríamos avançando no caminho íngreme da saída da Caverna, ou seja, ao
desenvolvimento do intelecto, da razão, da sabedoria e ajustando nosso interior, cabeça, peito e
ventre, governantes, guardiães e produtores respectivamente.
Jaeger (2018, pág. 758) afirma que não é numa atitude primariamente teórica que Platão se
situa diante do problema da alma, mas antes numa atitude prática: na atitude de modelador de
almas.
Como Sócrates afirmava, maiêutica, arte do parto ou trazer para à luz. Scolnicov (2003,
apud BARBRA BOTTER, 2013, p. 35) expressa que: “para Sócrates, a verdade não pode vir de
fora. Ela está aí para ser vista, mas não se pode ver por outrem”.
Josef Pieper (2007, p. 57) refere-se a Platão que diz: “a sabedoria, tal como Deus a possui”,
já nos foi de alguma forma anunciada e tornada acessível antes que começasse a procura amorosa
por essa sabedoria, isto é, o filosofar”.
E nesta perspectiva, destaca Enrico Berti (2013, p. 49) a importância de se manter “um
estado de ânimo relevante, em todo caso de submissão, isto é, uma disponibilidade para aceitar as
coisas como elas são, sem ter muitas ilusões sobre elas”.
Salutar considerarmos em nossa pesquisa o que assevera José Trindade Santos (2012, p.
163) que “A ética socrático-platônica é denominada pela tese abrangente segundo a qual a “Virtude
é Saber”, desenvolvida a partir do princípio, considerado “socrático”, de que ninguém pratica
voluntariamente o mal”.
Ainda, discorrendo sobre a ética socrático-platônica diz que: “o mal manifesta-se na vida
humana, em primeiro lugar, como consequência de uma deficiente relação entre a alma e o corpo”
(SANTOS, 2012, p.163).
Eis que, nesta deficiência vislumbramos o desiquilíbrio, a desarmonia e mais
especificamente a injustiça. O que se nota ser necessária a Paidéia como proposta de buscar o
equilíbrio, a harmonia, a justiça por meio da construção do conhecimento, pois neste se encontra
a verdadeira possibilidade de alcançar a verdade e consequentemente a felicidade.
A opinião e o conhecimento acontecem exatamente em ambos os contextos, o de dentro e
o de fora da Caverna. Permanecer é se limitar a mera opinião sobre as aparências e sair para a luz
é conhecer a realidade, a essência das coisas, a verdade. Sair da Caverna, será, portanto, um
processo nada fácil. Ambas as experiências implicam perdas, dúvidas, incertezas e sacrifícios.
Tirar o homem da condição de alienação é papel da paideia, da educação, do filósofo.
Pois a contemplação das verdades eternas e imutáveis que não estão sujeitas ao tempo,
espaço, matéria e adquiridas pela razão, pelo pensamento, conhecimento intelectual e imutável é
o caminho que se deve percorrer para a saída da Caverna, pois como expressa Jaeger (2018)
citando Sócrates:

O Homem que é educado para governar tem de aprender a antepor o cumprimento dos
deveres mais prementes à satisfação das necessidades físicas. Tem de sobrepor à fome e
à sede. Tem de se acostumar a dormir pouco, a deitar-se tarde e a se levantar cedo.
Nenhum trabalho o deve assustar, por árduo que seja. Não se deve deixar atrair pelo
engodo dos prazeres dos sentidos...quem não é capaz de tudo isso fica condenado a
figurar entre as massas governadas.

Diz ainda Platão em A República, 505d que:

E não é evidente que, quanto ao justo e belo, muitas pessoas escolherão as aparências e,
ainda que não tenham realidade, mesmo assim é isso que querem praticar, possuir e
aparentar, ao passo que quanto ao bem a ninguém basta já possuir a aparência, mas
procurando a realidade, nesse ponto, já toda a gente despreza a aparência?

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que de alguma maneira Platão ao desenvolver a Teoria da Idéia na obra


A República, em sua busca do homem novo, do Estado ideal constata que há certo fracasso na
vivência das virtudes, não obstante ser uma meta, um ideal a ser almejado pelo homem.
Neste contexto desenvolve a tripartição da alma apresentada na forma das três classes de
cidadãos: produtores, guardiães e governantes (sábios). Os produtores representam a virtude da
temperança, os guardiães à virtude da coragem e os governantes à virtude da sabedoria.
Dividindo a alma em três partes: o racional, o impulso e o apetite, considera que as duas
últimas representam a dimensão irracional do homem, que de alguma maneira, em sua maioria
acomodam o olhar para as aparências. Reservando aos sábios o acesso ao conhecimento das
essências, da realidade de todas as coisas, portanto, hábeis em governar e aos demais hábeis em
serem governados.
Exatamente na harmonia de que cada uma das classes se ocupe a desenvolver suas aptidões
naturais é que consiste a Justiça segundo Sócrates, ”a justiça reside em cada um cuidar do que lhe
diz respeito”.
Portanto, a justiça encontra-se na harmonia das três virtudes, sabedoria, coragem e
temperança e uma vez vivenciadas pelo homem e consequentemente na polis resultará na mais
plena Felicidade. “Onde enquadras a justiça? “Eu a situo entre os bens mais excelentes, como
algo a ser valorado por qualquer um que será abençoado com a felicidade, tanto devido a ela
mesma quanto devido aos seus efeitos”. (A REPÚBLICA – Livro II – 357).
“Aqui sustentei esta proposição: que a virtude é suficiente para fazer o homem feliz [...] a
arte de viver feliz – e não foi senão a esperança de alcançar a felicidade o que os levou a fazer
tantas investigações.” (CÍCERO, 2005, p. 3-5)
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERTI, Enrico. Convite à filosofia. Tradução: Fernando Soares Moreira. São Paulo, Edições
Loyola, 2013.

BOTTER, Barbara. Fazer filosofia: aprendendo a pensar com os primeiros filósofos. São Paulo:
Paulus, 2013.

CÍCERO, Marco Túlio. A virtude e a felicidade. Tradução: Carlos Ancêde Nougué. São Paulo,
Martins Fontes, 2005.

JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. Tradução de Artur M. Parreira. 6ª ed.
São Paulo: Martins Fontes, 2018.

PAPPAS, Nickolas. A República: Uma chave de leitura. Tradução de Fábio Creder. Petrópolis,
Vozes, 2013.

PIEPER, Josef. Que é filosofar? Tradução: Francisco de Ambrosis Pinheiro Machado. São Paulo:
Edições Loyola, 2007.

PLATÃO, A República. Tradução, textos complementares e notas: Edson Bini. 2ª ed. – São Paulo:
Edipro, 2014.

SANTOS, José Gabriel Trindade. Platão: a construção do conhecimento. São Paulo: Paulus, 2012.

SOUSA, Antônio Bonifácio R. de. Filosofia prática e a prática da filosofia: guia de estudo para
o Ensino Médio. São Paulo: Paulus, 2011.

TEIXEIRA, Evilázio Francisco Borges. A Educação do Homem Segundo Platão. São Paulo:
Paulus, 2015.

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