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Aluna: Izabelle Souza de Carvalho Matrícula: 2020087817 Turma: TR

Disciplina: Introdução a Filosofia: Ética

Relatório de Leitura 1: A defesa da justiça na república de


Platão. (Richard Kraut)

No decorrer da leitura do texto é possível compreender que o objetivo de


Richard Kraut é tentar identificar e explicar o argumento fundamental de Platão em A
República, onde entende-se que a justiça é algo que proporciona uma vida melhor para
quem a detém do que para a pessoa que é consumadamente injusta e pode usufruir dos
benefícios normalmente concedido aos justos. Vimos em Platão que a justiça consiste
na harmonia das partes da alma, sendo assim é de suma importância cultivá-la pois
podemos comparar a ausência de justiça na alma à vitalidade devastada de um ser,
onde, neste caso portanto, não se é interessante permanecer vivo. De mesmo modo é
para com a alma, para que valha a pena sua existência é necessária cultivar a justiça em
si.
Um dos argumentos apresentados por Platão ao ser introduzido é considerado
como o mais importante, visto que é tratado como sendo o caso supremo de injustiça
pelo autor. Ele diz respeito ao prazer e é considerado uma questão imprescindível para
apossar-se como preceito em um caso de justiça e injustiça, porém para Kraut este
argumento dispõe de atenção além do necessário sendo mais proveitoso direcionar
esforços para o argumento subsequente que profere sobre como a vida do justo e
injusto se comparam quanto ao prazer, cabe aqui salientar que caso Platão esteja
correto será possível constituir um caso decisivo em favor da vida justa. Este argumento
é estruturado de forma em que seria possível atingir a justiça sem abrir mão do prazer.
O elemento decisivo para definir a justiça como a melhor escolha seria provar que ela é
mais vantajosa até em meio ao caos do infortúnio do que a vida consumadamente
injusta.
É importante ressaltar que Platão de forma alguma adentra na questão de que
os prazeres da vida justa são mais satisfatórios que os da vida injusta e de modo algum
tenta nos conduzir a este pensamento. A discussão sobre se a vida do justo é detentora
de mais prazer que a do injusto acaba por ficar em aberto, mesmo sendo comprovado
ao longo do livro IX que a pessoa justa é mais feliz, isto posto, é fundamental explorar
novos argumentos alongando a discussão para Platão, logo ele se concentra em
demonstrar por que a justiça é tão mais vantajosa que a injustiça e abandona a questão
quantitativa relacionada ao prazer.
Para conseguir realizar progresso Kraut propõe algo que tem alguma semelhança
com o modo como Aristóteles aborda a filosofia moral de Platão, de acordo com ele
podemos descobrir o tipo de vida que deveríamos levar somente pela determinação do
bem que deveríamos, em última instância, perseguir. Kraut inicia tentando formular
uma teoria geral do bem que se sustenta no aspecto em comum de diversos quesitos
por exemplo: corpo humano, alma humana, comunidade política em bom estado,
compartilhar este aspecto é o que o caracteriza como “bem”. Platão vai dizer que o bem
de um corpo é a sua saúde e ela consiste em uma ordem natural de seus componentes
físicos, utilizando este pensamento ele explica que a alma de uma pessoa está em boas
condições se ela apresentar determinada ordem entre seus componentes. Percebe-se
que não é viável comparar bem-estar de saúde física com o bem-estar psicológico, o que
Platão busca é uma analogia de uma estrutura que tenha os mesmos tipos de
componentes de forma que exiba o mesmo equilíbrio que se tem na alma, ele vai
adquirir isto quando decide criar a melhor cidade possível – a cidade ideal – pois ele
acredita que sua estrutura tripartite corresponde à estrutura da alma humana.
Visualizando um tipo de ilustração platônica da vida filosófica podemos chegar
mais perto de entender o argumento de que a justiça vale por si só e então compreender
essa vida que é dita como tão mais digna que outrem, para isso é necessário recorrer à
crítica platônica das Formas que consiste em objetos eternos, imutáveis, imperceptíveis
e incorpóreos, a compreensão dos quais é o objetivo da educação do filósofo. O filósofo
é descrito como aquele que tem plena admiração pelo conhecimento que sua paixão
assume forma de objetos abstratos como o bem, justiça e beleza. Platão introduz essa
concepção e exterioriza que é pelo filósofo ter essa conexão que sua vida é superior a
qualquer outra.
Ademais dirá também que quem não identifica e possui tal concepção quanto às
Formas vive como num sonho uma vez que não conseguem perceber que os objetos
corpóreos que eles percebem são nada além de semelhanças de outros objetos. Dado
que os filósofos são dotados de tal habilidade eles não tendem a cometer tais equívocos
já que aprendem a observar as coisas da forma que elas realmente são em sua
individualidade, enquanto os que vivem em sonho veem algum objeto com olhar
comum os filósofos sabem apreciar o elemento em seu estado singular observando
aquilo de maneira completamente diferente, por essa razão desvencilham-se do erro
comum dos sonhadores, tal erro que é responsável por desconfigurar a vida de um
filósofo. Exemplificando, Platão esboça a Alegoria da Caverna onde maior parte das
pessoas (sonhadores) se encontra sendo manipuladas pelas sombras enquanto a
minoria (filósofos) conseguem se livrar das amarras e adentrar um novo mundo de
perspectivas. Para conseguir atingir novas perspectivas é necessário mudar a nossa
concepção quanto ao que tipo de objeto eles são.
Pode-se induzir que para Platão o conhecimento platônico das Formas é válido
porque ele é um meio para algum outro objetivo. Tendo como exemplo, ele pode
afirmar que se não estudarmos a Forma da Justiça podemos em algum momento
cometer erros em nosso juízo sobre quais atos, pessoas ou instituições são justos e se
cometermos tais erros tomaremos muito provavelmente más decisões quanto ao agir.
Entende-se que agir com justeza é bom para quem o exerce e que um conhecimento
indispensável para agir assim é o conhecimento das Formas, por consequência é viável
adquiri-lo.
Talvez ele entenda que o conhecimento das Formas valha a pena não somente
por ser um meio de ação, mas também por ao compreender as Formas desenvolvermos
a capacidade de raciocinar. É da natureza dos seres humanos além de sermos emotivos
e lascivos, dispormos da curiosidade do aprendizado e se esta característica não for
trabalhada a vida se torna limitada e empobrecida.
Kraut sugere que para Platão as Formas são um bem – na verdade o maior bem
que existe. Com o objetivo de bem viver devemos romper com os pressupostos
limitantes dos comuns objetivos de busca (prazer, poder, honra, bem material), pois as
Formas são os únicos tipos de bem que existe. Como as Formas são consideradas o bem
supremo devemos incorporar tais objetos em nossas vidas entende-los, amá-los, imitá-
los já que são incomparavelmente superiores a qualquer bem que tínhamos ou teremos.
Observando tal argumento podemos finalmente contemplar o porquê para Platão o
filósofo é o tão melhor que os outros homens, pois ele conseguiu escapar das amarras
do senso comum e adentrou o universo das Formas, tal universo que é mais digno de
amor do que o das paixões humanas comuns. Platão observa na descoberta das Formas
algo que é de suma importância de que elas são o bem preeminente que precisamos
para alcançar a felicidade e toma a razão como sendo a mais valiosa capacidade da alma,
pois somente através dela que conseguiremos compreender as Formas. Se não
houvesse o desconhecido para nós, então perderíamos o sentido em reivindicar o tipo
de vida dedicada ao raciocínio como superior aos outros tipos de vida.
Embora Platão insista na preeminência dessa Forma do Bem ele não diz
exatamente em que ele se baseia pela qualidade do bem, ele somente nos diz que não
é a respeito de prazer nem conhecimento. Aqui contrastamos o que a justiça é e a
sutileza de sua discussão sobre o bem. Contemplamos o que caracteriza uma cidade, um
indivíduo ou uma ação ser justa e destacamos seus aspectos em comum, porém Platão
observa que não há nada em comum a todas estas coisas. Assim ele não se baseia no
fato de que as Formas são preeminentes pelo enunciar da propriedade em que consiste
o bem e pelo argumentar tal propriedade mais que qualquer outra coisa.
Kraut tentar construir um raciocínio para compreender porque Platão pensa nas
Formas como bens que tem como base focar em suas características que definam quais
são os pontos que exprimem superioridade em relação a outros elementos. Importante
nos lembrarmos que para ele objetos que são igualmente reais podem apresentar
valores distintos. Há pouco foi dito que Platão relaciona saúde à boa condição do corpo
com certa harmonia, equilíbrio, ordem entre seus elementos, também relaciona a
justiça à boa condição da alma que também apresenta certo tipo de harmonia entre
suas partes. Tendo isto em vista podemos inferir que Platão tomo o bem de alguma coisa
de certo tipo como sendo a harmonia ou proporção que é apropriada àquilo do gênero.
De acordo com esta sugestão de Kraut, a qualidade de bem que há nas Formas consiste
no fato de que elas possuem certa harmonia, equilíbrio e proporção e quanto a sua
supremacia em relação aos demais elementos consiste no fato de que seu tipo de
ordenação proporciona um grau mais elevado de harmonia do que nos demais casos.
Por mais que Platão faça tal observação ele ainda não explica precisamente no
que consiste o caráter ordenado das Formas; corpos, almas e comunidades políticas
exibem ordenação quando seus componentes estão relacionados de forma adequada,
mas não é possível saber se as Formas têm partes ou se elas alcançam sua ordem de
outra forma. Para Kraut com base nas informações interpretadas qualquer dúvida
relacionada as Formas seriam respondidas por Platão como bens e apresentando um
tipo de ordem apropriada superior a de qualquer outra coisa, sendo assim os melhores
bens que se pode haver.
Kraut insere no pensamento algo que ele julga poderoso no argumento de Platão
enfatizando segundo o qual a justiça tem valor por si própria. A tese consiste em que “o
bem da vida humana depende fortemente de termos uma relação estreita com algo
eminentemente digno de valor que resida fora de nós mesmos. Para viver bem é preciso
estar em boas condições psicológicas e essa condição consistir em uma receptividade
dos objetos de valor que existem independentemente de quem os percebe”. Caso a
pessoa se esqueça desses elementos e busque as paixões como o poder, aquisição e
acúmulo de riquezas, ele não só será um perigo para todos como deixará de atingir seu
próprio bem, pois são essas as forças psicológicas que conduzem à injustiça e devem ser
evitadas a todo custo num cenário em que o objetivo é possuir os objetos mais valiosos.
Mesmo que rejeitemos a perspectiva de Platão quanto às Formas ou que o bem
consiste em harmonia, podemos encontrar exemplo que amparam sua tentativa de
atrelar a qualidade do bem inerente à vida humana a algum bem externo à alma humana
como no caso dos cristãos onde se tem a figura de Deus que é o bem externo e que
nenhuma vida vale a pena ser conduzida sem que Deus esteja presente. Este raciocínio
parece representar o modo como as pessoas vivem suas vidas já que é pesado sustentar
a ideia de que a vida vale quando não se percebe conexão entre si e algum objeto maior.
Kraut vai buscar uma distinção de uma forma de platonismo para abranger aos
aspectos discutidos onde o platonismo fraco sustenta que o bem humano consiste na
relação adequada com algo de valor que seja externo à alma (pode ser uma divindade,
família, arte) e o platonismo forte que sustenta que o objeto de valor é um reino
imutável e eterno. Kraut conclui dizendo que mesmo a versão de Platão sendo rejeitada
é o caso de admitir que alguma forma deste pensamento seja ele fraco ou forte é de
interesse de muitos.

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