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INTRODUÇÃO

Diferente de Sócrates, Platão não saía nas ruas, não participava da política ativamente e
não vivia no centro da pólis, pelo contrário, ele se afastou da política, e da prática política,
passando a buscar os conhecimentos da verdade na Academia, onde passa a ter uma vida
teórica. Essa reação de Platão se deve, principalmente, à morte de Sócrates, que, por ter
sido injusta, desencantou a visão de muitos pensadores sobre a perfeição democrática. O
medo da instabilidade da política em Atenas fazia com que muitos se revoltassem contra a
democracia, como Platão se revolta, afirmando que o governo de muitos ou da maioria é um
governo corrupto; justo seria que todos fossem governados por um único líder: o filósofo.

DA TRIPARTIÇÃO DA ALMA
Platão acreditava que a alma poderia ser dividida em três características: a alma logística:
que representa a cabeça, a parte pensante, atrelada ao filósofo; a alma irascível: que, por
sua vez, representa o peito, a parte da coragem, atrelada aos protetores da cidade, às
virtudes cavalheirescas; e a alma apetitiva: a parte baixa do corpo, abaixo do ventre,
representada pelos artesãos, comerciantes e o povo. Desse modo, nessa visão, Platão
acreditava que a parte logística era a ideal, pois ela é guiada pela razão e, por isso, é a
única capaz de realizar a ciência, que ele considerava ser perfeita e imutável.

É perceptível que aqui Platão tenta criar uma justificativa para o domínio da cabeça sobre
as outras partes do corpo com relação a uma organização social, e faz isso dizendo que se
o homem coloca o peito na frente da cabeça ele tende a tomar decisões irracionais, a seguir
vontades violentas e criar guerras desnecessárias; além disso, se o homem colocar a parte
de baixo como sua representante ele seguirá os caminhos dos desejos, da paixão, e por
consequência, da cegueira. Por conseguinte, a parte logística da alma sempre deve ter o
domínio entre os homens, pois representa a mediação, a razão e o equilíbrio, e isso se fará
possível com o poder sendo dado a uma autoridade virtuosa, um filósofo. Para ele, o erro
reside entre as partes da alma abaixo da cabeça, onde reina o caos, quando não estão
submissas ao poder da alma logística.

DA JUSTIÇA
Platão, como Sócrates, acreditava que o ser humano deveria tentar ser virtuoso como os
deuses, pois eles não possuem nossos defeitos (outras partes do corpo), ele acreditava que
a justiça divina é perfeita, imutável e absoluta. Para ele, um dos trabalhos do filósofo é o de
tentar entender essa justiça divina, entender o puro comportamento dos deuses e levar aos
homens, aí encontramos uma justificação para o domínio do filósofo.

Para esse governo do filósofo ser justo ele deveria ser harmônico, ou seja, as partes
deveriam obedecer às suas posições e não interferirem umas nas outras, tanto que ele
considera que apenas deveriam se relacionar as pessoas das mesmas posições, para que
se mantivesse uma ordem histórica, e que nenhuma cultura diferente interferisse no
processo de aprendizagem de cada parte. Qualquer interferência, para Platão, seria uma
ação injusta. A virtude, portanto, consiste no cidadão seguir seus desígnios.

Percebe-se que, em Platão, a política (justiça) se mistura com a ética, e como tal, busca
levar o ser humano à sua excelência, e essa deve ser uma preocupação do governo, e para
isso, ele apoia a ideia de que a educação deva ser pública, para que todos possam ter
oportunidades de desenvolver suas virtudes e participarem da justiça. o governo é
responsável por construir a virtude em seus cidadãos, pois a vida material é uma
preparação para o Hades (pós morte), onde, de acordo com a justiça divina (impecável e
imutável) o homem será julgado por suas realizações terrenas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos, desse modo, um filósofo preocupado com assuntos imateriais, com a metafísica,
com a sociedade, com a justiça e a virtude humana. E, desse modo, suas contribuições nos
campos que lhe foram caros nos são importantes para desenvolvermos nosso intelecto e
apreciarmos os diversos ramos com que a justiça se desenvolve historicamente no mundo
do direito, essa justiça que é alvo de diversos debates e controvérsias é estudada desde o
início da vida em sociedade. Com Platão, percebemos mais uma das diversas visões sobre
o tema, e sua importância como pensar foi imprescindível para que tivéssemos uma lista
enorme de grandes filósofos posteriores, principalmente Aristóteles, seu discípulo. Por fim,
espero que esse texto lhe tenha sido útil, se não de forma intelectual, que pelo menos de
forma material.

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