DIREITO E FILOSOFIA POLÍTICA EM PLATÃO E ARISTÓTELES
Larissa Franco de Jesus
O presente fichamento tem por objetivo abordar as perspectivas e características
centrais do artigo científico “Direito e Filosofia Política em Platão e Aristóteles”, dos autores Flávio Pansieri e Rene Sampar. O artigo versa sobre os pensadores da Grécia clássica, Platão e Aristóteles, e expõe a filosofia política de ambos, enfatizando seu caráter contemporâneo por meio de temas como justiça, liberdade e formas de governo. Inicialmente o artigo apresenta-se com o objetivo de difundir a pertinência do pensamento platônico e aristotélico acerca de suas críticas à democracia, salientando o período histórico em que os pensadores viveram. O texto é dividido em duas partes, a primeira parte é dedicada ao pensamento platônico e a segunda parte ao pensamento aristotélico, evidenciando desse modo, os antagonismos e as compatibilidades presentes no pensamento desses dois expoentes da antiguidade. Partindo do pensamento político de Platão, esse focado principalmente em sua história de vida, o que contribuiu imensamente a sua forma de enxergar a sociedade, e o período histórico vivido, onde observou o declínio da democracia na polis e a morte de seu mestre Sócrates. A forma de governo que Platão apoiava era a aristocracia do pensamento, onde haveria o Rei-filósofo, que para adquirir esse título transitaria por etapas de conhecimentos, para por fim ser um indivíduo altamente capacitado intelectualmente e moralmente. Os autores fazem referência ao famigerado Mito da Caverna quando tratam de governo ideal para o pensamento platônico, por meio desse mito Platão busca transmitir que somente através da razão se conhece a verdade que está fora da Caverna, nesse sentido quer dizer que aqueles que evadem da caverna são aqueles capazes de governar a polis, ou seja, são os filósofos que segundo ele são os únicos com capacidade para tal. Para Platão, a educação desempenhava um papel fundamental na formação de líderes justos e competentes, todavia, na Grécia Clássica predominava a escravidão e questões sociais, no entanto essas pautas não estavam concentradas no pensamento platônico, contraposto a isso estava o interesse dele de estabelecer um sistema de governo onde a sabedoria e a virtude intelectual fossem os requisitos para o poder, contestando assim a democracia ateniense, na qual ele observava falhas e instabilidades. Aprofundando-se mais na filosofia política de Platão, os autores descrevem a fundação da Kallipolis e o seu sistema educacional, apresentando três modelos de cidades distintas que contém seu ponto de vista acerca da justiça em cada uma delas, sendo elas a cidade mínima, a cidade opulenta e a cidade ideal (Kallipolis). O ingresso em um desses modelos de cidade se daria por meio da educação, nesse viés, ele quer abordar que nem todos os homens devem almejar tornar-se magistrado, mas devem buscar o aperfeiçoamento no nível mais alto em cada modelo de cidade. Para aprimorar o processo intelectual dos cidadãos da Kallipolis (cidade ideal), Platão divide etapas de qualificação para serem alcançadas, esses só se tornarão capazes de governar após cinquenta anos de estudos, o filósofo ressalta ainda que sem essa formação o cidadão não teria capacidade para se tornar magistrado, além disso, reforça que saltar de uma classe para outra provocaria grandes prejuízos para a cidade. Desse modo, entende-se que o pensamento platônico visava estabelecer que os cidadãos buscassem um aprimoramento intelectual em seu âmbito, para não serem escravos de suas paixões, exercendo assim a tão notória liberdade. Por meio de contribuições para melhor elucidar o que é justiça e liberdade para Platão, os autores fazem menção ao jurista Tércio Sampaio, que cita que a liberdade presente na Grécia naquele momento histórico não se relacionava com as escolhas e sim com as possibilidades, ou seja, não se podia querer algo impossível, o exemplo da mulher não poder participar das discussões políticas é um exemplo extremamente necessário, apesar de querer participar das questões políticas, as mulheres não podiam, pois sua situação (ser mulher) as impediam. Sobre a democracia no pensamento de Platão, pode-se dizer que ele a observava com deficiências e distante de ser um governo ideal. Suas críticas eram voltadas a como a maioria de uma população poderia tomar decisões políticas sendo a maioria das pessoas ignorantes (pessoas que não alcançaram a virtude intelectual), além disso o filósofo também analisava a democracia como forma de governo propenso a ter divisões sociais e instabilidade política, visto que muitos grupos políticos lutariam pelo poder e a população constantemente mudaria de opinião, além disso o pensamento platônico sempre se direciona para a estabilidade e a contenção, esses males presentes na democracia seriam então a ausência de limites. O filósofo Werner Jaeger, também citado pelos autores, em sua obra “Paidéia: A formação do homem grego”, faz referência a liberdade democrática no pensamento platônico, cita que Platão trata o Estado democrático como aquele em que há todo tipo de homem, com constituições diversas que se envolvem nas questões políticas visando apenas seus gostos particulares. Afastando-se do que é tratado pelos autores de forma descritiva, vale salientar alguns pontos acerca da filosofia política presente no pensamento platônico. A aristocracia do pensamento descrita por Platão, soa de forma excludente e irreal em certos trechos, o modo como enfatizava a busca por um conhecimento abstrato foge da prática do mundo real, onde existem questões como economia e questões sociais que devem ser tratadas de forma sólida, a forma elitista do pensamento platônico também pode ser observada, visto que com base na sua elite intelectual de governo (Rei-Filósofo) haveria mais a exclusão de grande parte da população para a tomada de decisões políticas, caracterizando a desigualdade, entretanto, como já abordado anteriormente, o filósofo não centralizava seu pensamento nessas questões, tendo assim uma visão utópica de governo ideal. Explorando agora a filosofia política de Aristóteles, esse diferente de Platão era um meteco (estrangeiro) que residia em Atenas, e por não ser um cidadão ateniense não possuía direitos políticos, todavia, tornou-se um influente e respeitado filósofo. A princípio, os autores fazem questão de ressaltar sua influência e capacidade, quando citam um marcante momento histórico que ocorreu quando Aristóteles um dos maiores pensadores de todos os tempos, educou um dos maiores conquistadores do mundo antigo, Alexandre Magno, que lhe proporcionou uma educação abrangente na literatura, filosofia, ética e etc. O pensamento aristotélico possui influências e semelhanças ao de Platão, entretanto, o supera em razão da amplitude de temas que já discutiu, abrangendo diversos ramos de estudos. Para Aristóteles a polis era o local ideal para que a plenitude humana fosse desenvolvida, o pensamento aristotélico era voltado à indução, observação e experimentação, e diferentemente de Platão a filosofia política de Aristóteles era voltada para a política institucional dos povos daquela época, a partir dessa análise política que suas conclusões eram tiradas. Na esfera política, Aristóteles também acredita na ideia de Estado ideal. Ocorre que o pensamento aristotélico baseia-se na eudaimonia, ou seja, seria uma vida plena e virtuosa na convivência coletiva, o principal foco da polis para Aristóteles era o de ultrapassar as necessidades coletivas e alcançar a vida boa, o zoon politikon que traduzido significa animal político está baseado nessa ideia de o homem precisar conviver em sociedade para ter sua honra elevada. É nesse ponto, que se pode ver nitidamente as divergências de pensamentos entre Aristóteles e Platão, o primeiro tem uma ideia de convivência coletiva, evolução e observação da capacidade humana, enquanto Platão tem um pensamento de fragmentação dos âmbitos da sociedade em trabalho e formação de classes. Uma crítica a Kallipolis de Platão, pode ser levantada após avaliar o pensamento aristotélico, ocorre que a visão singular de Platão foge da ideia de Estado, pois, através das divisões o governo foge de sua “naturalidade” ao formar classes pré determinadas. A filósofa política Hannah Arendt, citada pelos autores Rene Sampar e Flávio Pansieri, contribui imensamente para a discussão abordada no texto. Sobre a liberdade, a filósofa que teve suas ideias também baseadas no pensamento aristotélico, cita que o que contribuía para a liberdade e participação naquele período eram os grupos/companhias de homens de condições iguais, ou seja, o “ser livre” era ser imune a desigualdade, e era esse um dos fatores que determinava o cidadão ser livre e pensante. Embora Arendt tenha tido influências do pensamento aristotélico, eles abordaram o conceito de liberdade de forma diferente, entretanto, concordavam sobre a necessidade da participação ativa na vida política como um dos meios fundamentais para a liberdade. Nessa mesma linha de pensamento, convém ressaltar o que a filosofia política aristotélica aborda sobre a cidadania, para Aristóteles um escravo jamais seria ou geraria um cidadão, em suas palavras ‘o melhor Estado não fará do trabalhador um cidadão”, entende-se que a cidadania era reservada a uma classe específica, entretanto, considerava útil aqueles que desempenhavam funções econômicas, mas não enxergava essas funções como fundamentais para a cidadania plena. Citando a obra o Estagirita, pode-se avaliar como Aristóteles julgava as formas de governo, colocando a democracia como forma de governo que visa buscar objetivos próprios e possui uma falsa ideia de igualdade, dando apoio a aristocracia e monarquia que em seu ponto de vista tenciona a coletividade dos cidadãos. O filósofo não se limita a uma forma de governo, todavia, cita formas de governos que para ele visam o bem-estar comum. Vale salientar que, tanto a aristocracia quanto a monarquia podem favorecer bens particulares em detrimento do bem comum, na aristocracia pode ocorrer o nepotismo e na monarquia a opressão e autoritarismo. Contudo, não era fundamentalmente contrário à democracia, ele acreditava que para exercer justiça e eficácia, seria necessário equilibrá-la e a tornar moderada. O melhor cenário político então, seria a centralização do homem mais virtuoso que viva e saiba administrar a polis, garantindo o melhor para todos os cidadãos. A compreensão do pensamento desses grandes titãs do mundo antigo, como se referem os autores a Platão e Aristóteles, é bastante necessária, pois a política era o centro da vida comunitária na Grécia clássica. Fica claro então que Platão ensejava por uma cidade ideal liderada por Reis-Filósofos , enquanto Aristóteles estudava e analisava as formas de governo, tentando compreender como a política poderia garantir a virtude e o bem comum aos cidadãos. Apesar de divergirem na abordagem e análise de Estado ideal, ambos continuam sendo estudados, pois proporcionam a instigação e desenvolvimento do pensamento crítico, e ampliam a compreensão de questões políticas e filosóficas do mundo. As influências desses dois grandes pensadores é vista até os dias atuais, alguns dos filósofos trabalhados na disciplina de Filosofia do Direito também foram influenciados por suas ideias, como São Tomás de Aquino e Santo Agostinho, até os filósofos contemporâneos como Karl Marx e John Locke, desse modo, é possível ver suas contribuições sobre justiça, formas de governo e a natureza humana. Ademais, o artigo faz-se muito necessário, a partir da leitura do mesmo é possível entender a dimensão da filosofia política para ambos os filósofos, geralmente centraliza-se um ponto de vista a partir de uma obra específica, todavia, Rene Sampar e Flávio Pansieri buscaram mostrar as ideias e entendimentos sobre Platão e Aristóteles baseando-se em suas obras e no que outros grandes pensadores entendem sobre a concepção de direito e filosofia política para ambos, que de certo modo clareia a complexidade e nuances de suas teorias. Portanto, diante todo o exposto e com base em tudo que foi estudado, ressalta-se a importância de ambos os filósofos que trataram de questões cruciais relacionadas ao governo, à justiça e à organização da sociedade, mas com abordagens e conclusões distintas. Enquanto Platão procurava uma sociedade ideal, com um governo centralizado e uma estrutura hierárquica, Aristóteles defendia a adaptabilidade e a moderação na busca por um governo que promovesse o bem-estar de todos os cidadãos. Ambas as filosofias políticas deixaram um legado duradouro que continua a ser debatido e estudado na teoria política contemporânea, destacando a importância de considerar tanto a teoria ideal quanto às realidades práticas na busca por sistemas políticos justos e eficazes.
Referência Bibliográfica:
PANSIERI,Flávio; SAMPAR,Rene. Direito e filosofia política em Platão e Aristóteles. Revista de Teorias e