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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA:HISTÓRIA ANTIGA I
PROFESSORA: MARTA MEGA
ALUNA: MARIA EDUARDA REIS
DRE:121054617

Avaliação 2: Koinônia e política na concepção Aristotélica

Vlassopoulos, em Unthinking the Greek Polis (despensando a Polis grega),


disponibiliza inúmeras análises através da ideia de pólis aristotélica e a noção de
“Koinônia”. É utilizado artifícios conceituais da política aristotélica para sugerir uma
forma de trabalhar com a questão da formação de comunidade. Por isso, através
dos materiais concebidos para a elaboração do trabalho, pretendo desenvolver a
ideia proposta pelo o autor, para alcançar a política grega no período clássico.
A princípio, é importante destacar algo que perdura ao longo da escrita e
também da disciplina, que é o fato de que o modo de pensar o mundo antigo
sempre esteve amarrado com a visão unicamente ocidental. Assim como é afirmado
pelo autor, o estudo moderno da história grega foi moldado fundamentalmente pelas
perspectivas do Ocidentalismo, então, o resto é reduzido a “o outro”, que são
aberrações a serem explicadas. Vlassopoulos, portanto, tem o objetivo de resgatar
as narrativas periféricas da história que são silenciadas pelas imposições da
supremacia ocidental. Ademais, também desconstrói a concepção de que a pólis
não tem contradições em sua amplitude sobre o mundo grego.
No capítulo dois do livro, o autor busca demonstrar que muitas ideias
propostas por Aristóteles, indicam uma visão distinta das visões modernas, e um
dos pontos levantados para justificar as limitações de Aristóteles, se deu pelo fato
dele, mesmo tendo um vasto conhecimento sobre o passado, possuir uma
abordagem filosófica, e não histórica. No que tange ao termo grego “pólis”, na
concepção aristotélica possui três definições que são explicadas de maneira bem
sólida. Em síntese, “A primeira delas define a pólis como um plêthos dos politai,
cidadãos; a segunda, como uma espécie de koinônia, uma aglomeração de fato de
várias koinônia; a terceira, como uma unidade indispensável de merê (partes) e há
uma quarta definição, que não é vista como algo absoluto, por isso o autor distingue
das demais, que define a pólis como uma participação de cidadãos na constituição
(VLASSOPOULOS, 2007. p.72). No que concerne à Koinonia, é alegado que a pólis
é uma de koinonia, e tem como finalidade a autarkeia que pode ter como significado
“um suprimento de tudo, que não falte nada”. (Política, 1326b, 27-30) e a melhor
vida que busca a vida feliz e nobre. Uma comunidade que tem como alicerce
interesses compartilhados. Essas definições, segundo Vlassopoulos, possuem
algumas brechas, mas neste texto procuro privilegiar as relações entre elas.
Dessa forma, a conexão entre a koinonia e a Política se torna visível, e trazer
esses elementos nos leva consequentemente a afirmação de que “o homem é, por
natureza, um animal político, e aquele que, por natureza e não por mero acaso, não
possui uma cidade é, portanto, um ser inferior ou superior à humanidade.” (Política,
1253a, 2–5). Ou seja, é lícito afirmar que a pólis é uma comunidade (koinonia) que
caminha para a prática política, visto que é algo próprio dos homens. Sendo assim,
ainda conforme Aristóteles,

É visível que a pólis deva vir em primeiro lugar, por natureza, em relação ao
que é individual, pois cada indivíduo, uma vez que separado, não pode ser
autarkês, ele deve se relacionar a toda pólis, como as partes se relacionam
com o todo. Ao passo que o homem que é incapaz de koinônein (adentrar
em uma koinônia), ou que devido a sua própria autarkeia não sente
necessidade de assim agir, não é parte da pólis, de modo que deve ser ou
um animal selvagem ou um deus.

Tratando-se desses aspectos políticos, é imprescindível discutir sobre a


concepção de democracia ateniense, que foi abordada no capítulo quatro de
Unthinking the Greek Polis de maneira bem interessante, indicando que a temos
como algo “atemporal”, homogênea e Vlassopoulos justifica tal hegemonia devido à
força da democracia ateniense, que era dependente da sua posição imperialista no
mundo político, que transformou escassa qualquer intervenção externa.
Tendo uma outra perspectiva para debater, Paul Veyne, em “Os gregos
conheceram a democracia?” aponta a democracia com uma ideia distinta, que
também rompe com o pensamento que precisa comparar a democracia antiga com
a democracia moderna, e nos leva a pensar se tivesse a possibilidade de alguma
comparação, estes atributos políticos não seriam o estado, e sim a “militância”.
Sendo assim, enquanto Vlassopoulos acredita no raciocínio aristotélico, Veyne
aponta determinadas características da democracia ateniense, mas não como um
modelo perfeito, e sim passível de críticas, pois não atingiu todo mundo.

Diante da curta exposição de pontos de vistas diferentes, foi perceptível que


as abordagens diante do mundo clássico são variadas, contudo, temos algumas
limitações, haja vista que o que nos é apresentado, sobretudo no senso comum,
está em consonância com o panorama de um pensamento colonizado. A pólis grega
(ou cidade-estado), serviu para distinguir os gregos, como aqueles que deram
origem à liberdade e democracia, enquanto o “outro” dá origem aos despotismo,
monarquias. Um caráter completamente dicotômico em relação ao oriental. Esses
recursos tornam a ideia "Apenas o que não tem história pode ser definida" bem
clara, e amplia a fronteira para o historiador.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

VEYNE, P. “Os Gregos Conheceram a Democracia?”. Diógenes. UNB, 6: 57-82,


1984.

VLASSOPOULOS, K. 2007. Introdução. Unthinking the Greek Polis. Ancient Greek


History Beyond Eurocentrism. Cambridge: UP

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