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Licenciatura em Direito
Capítulo 1
A construção da antropologia política
Balandier busca encontrar a essência do político, isto é, o ponto comum que aparece tanto na
sociedade que no são familiares bem como nas sociedades de que não nos são familiares. sobre
filosofia política e antropologia política: “[...] em suas ambições extremas, colimam atingir a
própria essência do político sob a diversidade das formas que o tornam manifesto.
A antropologia política aparece tanto como um projeto - muito antigo, mas ainda relevante -
como uma especialização da investigação antropológica, um desenvolvimento tardio. No
primeiro aspecto, assegura a superação de experiências e doutrinas políticas peculiares. No
segundo aspecto, a antropologia política delimita um campo de estudo no âmbito da antropologia
social ou etnologia. É dedicado à descrição e análise dos sistemas políticos (estruturas, processos
e representações) das sociedades consideradas primitivas ou arcaicas. Compreendida desta
forma, é, portanto, uma disciplina recém diferenciada. R. Lowie contribuiu para o seu
desenvolvimento, ao mesmo tempo que lamentava a inadequação do trabalho antropológico na
política.
Compreendida desta forma, é, portanto, uma disciplina recém diferenciada. R. Lowie contribuiu
para o seu desenvolvimento, ao mesmo tempo que lamentava a inadequação do trabalho
antropológico na política. Um facto muito significativo é que o "Simpósio Internacional de
Antropologia" realizado em 1952 nos Estados Unidos não lhe dedicou muita atenção. Muito
mais tarde, os antropólogos continuam a fazer um registo de ausência: a maioria deles confessa
que "subestimaram o estudo comparativo da organização política das sociedades primitivas" (I.
Schapera). Erros e afirmações enganosas levaram à exclusão da especialização política e do
pensamento de um grande número de sociedades.
O autor utiliza dos seus trabalhos de campo na África, que passava pelo seu processo de
descolonização, pela formação e consolidação de seus próprios Estados-nacionais. Momento
também de conflitos de interesse, à competição entre os grupos, apontando, que as tribos
primitivas não são desprovidas de organização política. Embora parecessem homogêneas,
apontavam organizações políticas bastante complexas e plurais, marcadas principalmente por
descontinuidades e contradições.
Como disciplina que aspira a um estatuto científico, a antropologia política impõe-se antes de
mais como um meio de reconhecimento e conhecimento do exotismo político, de "outras" formas
políticas. É um instrumento de descoberta e estudo das várias instituições e práticas que
asseguram a governação dos homens, bem como dos sistemas de pensamento e dos símbolos que
lhes estão subjacentes.
Montesquieu é o iniciador de uma tarefa científica que durante um período de tempo definiu as
funções da antropologia cultural e social. Fez um inventário da diversidade das sociedades
humanas, baseando-se nos dados da história antiga, nas "descrições" dos viajantes, e nas
observações de países estrangeiros e estrangeiros. Ele delineia um método de comparação e
classificação, uma tipologia; e isto leva-o a avaliar o domínio político e a identificar, de certa
forma, os tipos de sociedades de acordo com os modos de governo. A antropologia tentou
primeiro determinar as "áreas" de culturas e sequências culturais, considerando critérios técnico-
económicos, elementos de civilização e formas de estruturas políticas.
A antropologia política aparece como uma disciplina que olha para sociedades "arcaicas", nas
quais o Estado não está claramente constituído, e sociedades nas quais o Estado existe e
apresenta as mais diversas configurações. Considera necessariamente o problema do Estado, a
sua génese e as suas primeiras expressões: R. Lowie, ao dedicar uma das suas principais obras a
este problema (A Origem do Estado e a Origem do Estado), já lhe dedicou uma das suas obras
mais importantes.
É também confrontado com o problema das sociedades sedentárias, sem poder político
centralizado, que são objecto de um debate antigo e sempre renovado. Ao adiar o estudo
metódico dos "sistemas primitivos de organização política", os antropólogos encorajaram
interpretações negativas: as dos teóricos alheios à sua disciplina que negam a existência de tais
sistemas.
Questões sugerem os principais objectivos que podem ter sido vislumbrados pela antropologia
política e que continuam a defini-la:
Uma determinação da política que não liga esta última nem às únicas sociedades ditas históricas
nem à existência de um aparelho de Estado.
Apesar das sugestões feitas nas várias épocas, o seu desenvolvimento foi lento; o seu
nascimento tardio deve-se a razões que explicam em parte as suas vicissitudes.
Dentre esses vários esforços, o autor chama atenção para a contribuição do “estruturalista
moderado” Edmund Leach, que destacava a insuficiência dos modelos explicativos elaborados
pelos antropólogos estruturalistas, visto que eles apareceriam como “sistemas estáticos” que não
acompanhavam o fluxo incoerente e desequilibrado da vida social, mas serviam apenas como
uma maneira de conferir elucidações lógicas às realidades que se escapavam de um
empreendimento puramente intelectual.
O capítulo critica alguns antropólogos como Malinowski entre outros, que não reconheciam a
dimensão política nas sociedades que não dispunham de um governo formalmente organizado. as
práticas: aparecem como “produto de unidades ou estruturas específicas”, que não podem ser
confundidas nem com a rigidez de certas dicotomias (com Estado/sem Estado; com história/sem,
história) nem com certas definições que carregam um caráter gradativo (mais político/menos,
político; mais histórico/menos, histórico).
Neste ponto, é possível perceber o esforço de Balandier em trazer para o debate a importância
das práticas, do jogo social em sua concretude, como a dimensão ritual e o próprio papel do
antropólogo em campo.
Para Balandier O Estado Moderno seria uma das manifestações históricas do político. “a
informação etnográfica revela grande diversidade de formas políticas “primitivas’”.
Ele aponta, nesse sentido, para a necessidade de uma visão dinamista, capaz de “apreender a
dinâmica das estruturas tanto quanto o sistema das relações que a constituem: isto é, tomar em
consideração as incompatibilidades, as contradições, as tensões e o movimento inerente a toda
sociedade.”
O “político” passa a ser encarado não como mero aspecto formal ou totalidade absoluta do
social, mas como algo inerente a ele.
Balandier evidencia um laço de união entre aqueles que exercem o poder e as coisas sagradas,
apontando para uma relação intrínseca entre religião e política. Por intermédio do poder, a
sociedade é apreendida como unidade - a organização política introduz o verdadeiro princípio
totalizador -, ordem e permanência. Ela é apreendida como forma idealizada, como garantia de
segurança coletiva e puro reflexo do costume ou da lei; posta à prova sob o aspecto de valor
supremo e coativo, torna-se, assim, a materialização de uma transcendência que se impõe aos
indivíduos e aos grupos particulares. Essa “unidade” ou “princípio totalizador” aparece na ideia
de que: “[...] o poder está sempre a serviço de uma estrutura social que não se pode manter
somente pela intervenção do ‘costume’ ou da lei, por uma espécie de conformidade automática
regras.”.
Em suma para Balandier, o poder, por outro lado, se referiria à representação deste mesmo
social, do que ele parece, do seu vir a ser. Tal representação é uma construção empreendida por
determinados sujeitos. Nesse sentido, o poder (essa força que constrói a noção de totalidade)
precisa ser exercido por indivíduos a que chamamos de “atores políticos”. Ao ser exercido por
esses “atores políticos”, o poder passaria a ser compreendido então como poder político.