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Universidade Save-Extensão da Maxixe

Licenciatura em Direito

Cadeira: Antropologia Cultural de Moçambique

Erliks Hemerino Cuamba


Docente: Crimildo Muhache
Ficha de Leitura do 1º capítulo da obra antropologia política de George Balandier.

BALANDIER, G. Antropologia política. São Paulo: Difusão Europeia do Livro/Editora da


Universidade de São Paulo, 1969.

Capítulo 1
A construção da antropologia política
Balandier busca encontrar a essência do político, isto é, o ponto comum que aparece tanto na
sociedade que no são familiares bem como nas sociedades de que não nos são familiares. sobre
filosofia política e antropologia política: “[...] em suas ambições extremas, colimam atingir a
própria essência do político sob a diversidade das formas que o tornam manifesto.

A antropologia política aparece tanto como um projeto - muito antigo, mas ainda relevante -
como uma especialização da investigação antropológica, um desenvolvimento tardio. No
primeiro aspecto, assegura a superação de experiências e doutrinas políticas peculiares. No
segundo aspecto, a antropologia política delimita um campo de estudo no âmbito da antropologia
social ou etnologia. É dedicado à descrição e análise dos sistemas políticos (estruturas, processos
e representações) das sociedades consideradas primitivas ou arcaicas. Compreendida desta
forma, é, portanto, uma disciplina recém diferenciada. R. Lowie contribuiu para o seu
desenvolvimento, ao mesmo tempo que lamentava a inadequação do trabalho antropológico na
política.

Compreendida desta forma, é, portanto, uma disciplina recém diferenciada. R. Lowie contribuiu
para o seu desenvolvimento, ao mesmo tempo que lamentava a inadequação do trabalho
antropológico na política. Um facto muito significativo é que o "Simpósio Internacional de
Antropologia" realizado em 1952 nos Estados Unidos não lhe dedicou muita atenção. Muito
mais tarde, os antropólogos continuam a fazer um registo de ausência: a maioria deles confessa
que "subestimaram o estudo comparativo da organização política das sociedades primitivas" (I.
Schapera). Erros e afirmações enganosas levaram à exclusão da especialização política e do
pensamento de um grande número de sociedades.

O autor utiliza dos seus trabalhos de campo na África, que passava pelo seu processo de
descolonização, pela formação e consolidação de seus próprios Estados-nacionais. Momento
também de conflitos de interesse, à competição entre os grupos, apontando, que as tribos
primitivas não são desprovidas de organização política. Embora parecessem homogêneas,
apontavam organizações políticas bastante complexas e plurais, marcadas principalmente por
descontinuidades e contradições.

Como disciplina que aspira a um estatuto científico, a antropologia política impõe-se antes de
mais como um meio de reconhecimento e conhecimento do exotismo político, de "outras" formas
políticas. É um instrumento de descoberta e estudo das várias instituições e práticas que
asseguram a governação dos homens, bem como dos sistemas de pensamento e dos símbolos que
lhes estão subjacentes.

Montesquieu é o iniciador de uma tarefa científica que durante um período de tempo definiu as
funções da antropologia cultural e social. Fez um inventário da diversidade das sociedades
humanas, baseando-se nos dados da história antiga, nas "descrições" dos viajantes, e nas
observações de países estrangeiros e estrangeiros. Ele delineia um método de comparação e
classificação, uma tipologia; e isto leva-o a avaliar o domínio político e a identificar, de certa
forma, os tipos de sociedades de acordo com os modos de governo. A antropologia tentou
primeiro determinar as "áreas" de culturas e sequências culturais, considerando critérios técnico-
económicos, elementos de civilização e formas de estruturas políticas.

A antropologia política aparece como uma disciplina que olha para sociedades "arcaicas", nas
quais o Estado não está claramente constituído, e sociedades nas quais o Estado existe e
apresenta as mais diversas configurações. Considera necessariamente o problema do Estado, a
sua génese e as suas primeiras expressões: R. Lowie, ao dedicar uma das suas principais obras a
este problema (A Origem do Estado e a Origem do Estado), já lhe dedicou uma das suas obras
mais importantes.
É também confrontado com o problema das sociedades sedentárias, sem poder político
centralizado, que são objecto de um debate antigo e sempre renovado. Ao adiar o estudo
metódico dos "sistemas primitivos de organização política", os antropólogos encorajaram
interpretações negativas: as dos teóricos alheios à sua disciplina que negam a existência de tais
sistemas.

Questões sugerem os principais objectivos que podem ter sido vislumbrados pela antropologia
política e que continuam a defini-la:

Uma determinação da política que não liga esta última nem às únicas sociedades ditas históricas
nem à existência de um aparelho de Estado.

Um estudo comparativo, compreendendo as diferentes expressões da realidade política, já não


dentro dos limites de uma determinada história - a da Europa - mas sobre todo o seu âmbito
histórico e geográfico.

Um estudo comparativo, apreendendo as diferentes expressões da realidade política, já não


dentro dos limites de uma determinada história - a da Europa - mas em toda a sua extensão
histórica e geográfica. Neste sentido, a antropologia política pretende ser uma antropologia no
sentido pleno do termo. Desta forma, contribui para reduzir o "provincialismo" dos cientistas
políticos denunciado por R. Aron, e para construir "a história mundial do pensamento político"
desejada por C. N. Parkinson.

As mudanças ocorridas nas sociedades em desenvolvimento dão um significado adicional aos


esforços combinados de antropologia e sociologia política permitem a análise, actual e não
retrospectiva, dos processos que asseguram a transição do governo tribal e do estado tradicional
para o estado moderno, do mito para a doutrina e ideologia política.

Apesar das sugestões feitas nas várias épocas, o seu desenvolvimento foi lento; o seu
nascimento tardio deve-se a razões que explicam em parte as suas vicissitudes.

Os precursores ao reconstruir o itinerário da sua ciência, os antropólogos redescobrem


frequentemente os marcos remotos que atestam o carácter permanente (e inelutável) das suas
preocupações fundamentais. M. Gluckman invoca Aristóteles: o seu "tratado sobre o governo", a
sua busca das causas da degradação dos governos estabelecidos, a sua tentativa de determinar as
leis da mudança política. D. F. Pocock recorda a atenção que Francis Bacon já tinha prestado às
provas relativas a sociedades diferentes ou "selvagens". Lloyd Fallers recorda que Maquiavel -
em O Príncipe - distingue dois tipos de governo, prefigurando dois dos tipos ideais diferenciados
por Max Weber na sua sociologia política: "patrimonialismo" e "sultanismo".

Dentre esses vários esforços, o autor chama atenção para a contribuição do “estruturalista
moderado” Edmund Leach, que destacava a insuficiência dos modelos explicativos elaborados
pelos antropólogos estruturalistas, visto que eles apareceriam como “sistemas estáticos” que não
acompanhavam o fluxo incoerente e desequilibrado da vida social, mas serviam apenas como
uma maneira de conferir elucidações lógicas às realidades que se escapavam de um
empreendimento puramente intelectual.

Balandier cita Montesquieu como um grande iniciador de uma antropologia política


científica, pois ele trouxe para o debate, a questão da diversidade das formas políticas.

O capítulo critica alguns antropólogos como Malinowski entre outros, que não reconheciam a
dimensão política nas sociedades que não dispunham de um governo formalmente organizado. as
práticas: aparecem como “produto de unidades ou estruturas específicas”, que não podem ser
confundidas nem com a rigidez de certas dicotomias (com Estado/sem Estado; com história/sem,
história) nem com certas definições que carregam um caráter gradativo (mais político/menos,
político; mais histórico/menos, histórico).

Neste ponto, é possível perceber o esforço de Balandier em trazer para o debate a importância
das práticas, do jogo social em sua concretude, como a dimensão ritual e o próprio papel do
antropólogo em campo.

Para Balandier O Estado Moderno seria uma das manifestações históricas do político. “a
informação etnográfica revela grande diversidade de formas políticas “primitivas’”.

Ele aponta, nesse sentido, para a necessidade de uma visão dinamista, capaz de “apreender a
dinâmica das estruturas tanto quanto o sistema das relações que a constituem: isto é, tomar em
consideração as incompatibilidades, as contradições, as tensões e o movimento inerente a toda
sociedade.”
O “político” passa a ser encarado não como mero aspecto formal ou totalidade absoluta do
social, mas como algo inerente a ele.

Balandier evidencia um laço de união entre aqueles que exercem o poder e as coisas sagradas,
apontando para uma relação intrínseca entre religião e política. Por intermédio do poder, a
sociedade é apreendida como unidade - a organização política introduz o verdadeiro princípio
totalizador -, ordem e permanência. Ela é apreendida como forma idealizada, como garantia de
segurança coletiva e puro reflexo do costume ou da lei; posta à prova sob o aspecto de valor
supremo e coativo, torna-se, assim, a materialização de uma transcendência que se impõe aos
indivíduos e aos grupos particulares. Essa “unidade” ou “princípio totalizador” aparece na ideia
de que: “[...] o poder está sempre a serviço de uma estrutura social que não se pode manter
somente pela intervenção do ‘costume’ ou da lei, por uma espécie de conformidade automática
regras.”.

Em suma para Balandier, o poder, por outro lado, se referiria à representação deste mesmo
social, do que ele parece, do seu vir a ser. Tal representação é uma construção empreendida por
determinados sujeitos. Nesse sentido, o poder (essa força que constrói a noção de totalidade)
precisa ser exercido por indivíduos a que chamamos de “atores políticos”. Ao ser exercido por
esses “atores políticos”, o poder passaria a ser compreendido então como poder político.

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