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LIBERDADE:
UMA COMPARAÇÃO ENTRE ARISTÓTELES E GIOVANNI SARTORI
Niterói
2021
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………..2
2. ARISTÓTELES………………………………………………………………….………3
3. GIOVANNI SARTORI…………………………………………….…………………….6
4. CONCLUSÃO……………………………………………………………………..…..…9
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………...…....10
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1. INTRODUÇÃO
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2. ARISTÓTELES
Aristóteles foi um filósofo macedônio nascido em Estagira que dedicou sua vida aos
estudos políticos e biológicos relacionados à polis. Filho de um médico da família real da
Macedônia, Aristóteles foi educado como um membro da aristocracia e tornou-se aluno da
Academia de Platão, em Atenas. Já adulto, por ter sido designado preceptor na corte
macedônia, o filósofo foi encarregado de educar Alexandre, O Grande, período extremamente
importante para a formação de um dos que viria a ser considerado o maior líder militar da
Antiguidade. Anos depois, o pensador retorna à polis grega onde estabelece uma nova escola:
o Liceu, caracterizado pelo método peripatético e pelo ensino da comunidade política, ou
koinonia.
Conhecido por suas discordâncias com relação à filosofia platônica, Aristóteles marca a
história do pensamento político ao definir o homem como Zoon Politikon, ou “animal
político”. A partir desse momento, o filósofo sistematiza em sua obra A Política os elementos
constituintes da polis grega, a organização político-social dos cidadãos e a procura pelo
bem-estar, ou eudaimonia. Além disso, Aristóteles estabelece relações entre seu “estado
ideal” e a relação com as leis, com a justiça e com a educação, trazendo o questionamento
pedagógico como uma dinâmica bem pensada e completa.
Em A Política, o pensador estabelece preocupações principais, com o objetivo central de
analisar e contestar os pontos feitos por Platão em A República, como a escravidão e a
igualdade, o comunitarismo, a autossuficiência e tamanho ideal das cidades e o governo ideal.
Ademais, Aristóteles defende a importância da contemplação e um comportamento
extremamente gregário, marcado pela sociabilidade e pelas características inatas.
Em primeiro plano, Aristóteles procura trabalhar com a concepção de estratificação
social. Assim, carregado de argumentos biologicamente justificados, o filósofo defende a
existência de diferenças inatas entre indivíduos de diferentes classes e sexos. Ao descrever a
escravidão, Aristóteles fundamenta uma sociedade escravocrata a partir de qualidades
corporais que distinguem dominantes e dominados: maior força, corpo curvado e menor
capacidade intelectual para os escravos e corpo ereto e inteligente para os senhores. Depois, o
pensador estende o raciocínio para a questão de gênero e, contradizendo Platão, conclui que a
subordinação feminina também pode ser justificada pelos mesmos fatores anatômicos.
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Em segundo lugar, uma das mais marcantes críticas aristotélicas está ligada ao conceito
de comunitarismo. Em A República, Platão justifica a implementação de um sistema baseado
na igualdade e na unidade. Assim, o professor defende o compartilhamento de algumas
camadas sociais: os filhos, as mulheres e os bens. Aristóteles, por outro lado, argumenta em
prol da propriedade privada e da preservação da família, descrevendo as diversas dificuldades
não consideradas por Platão em seu plano. Para isso, o pensador pondera que a propriedade
seria um fator essencial para a construção do bem comum, e alega que este nunca poderia ser
alcançado a partir do comunitarismo.
Outra questão abordada em A Política diz respeito à autossuficiência das cidades.
Aristóteles entende que a cidade deve ser fundamentalmente plural e autônoma e, para isso, as
organizações sociais formadas naturalmente (família, aldeia e cidade) satisfariam as
necessidades quotidianas de todos os cidadãos. Assim, para Aristóteles, “O que constitui uma
cidade é uma comunidade de lares e de famílias com a finalidade de vida boa e a garantia de
uma existência perfeita e autônoma” (A Política, p. 221). Dessa forma, a questão do
comunitarismo perpassa a esfera da propriedade e, segundo a lógica aristotélica, torna-se um
obstáculo primordial para a autossuficiência e para a Autarquia.
Ainda sob essa discussão, outra importante discordância entre os filósofos encara a esfera
da quantidade ideal de cidadãos nas cidades. Enquanto Platão estipula um número em volta de
cinco mil e quarenta habitantes, Aristóteles defende uma maior complexidade nas relações,
sob uma cidade menor, e estima algo em torno de cinco mil cidadãos.
Por último, o governo ideal é a tese central da obra aristotélica. Nesse debate, Aristóteles
analisa empiricamente as formas de governo existentes, suas vantagens e desvantagens, além
de descrever o governo ideal. Para ele, existem duas classificações quanto à natureza dos
governos: formas corretas (realeza, aristocracia e regime constitucional), que buscariam o
bem comum, e formas defeituosas (tirania, oligarquia e democracia radical), que buscam o
bem dos governantes. Como descrito pelo autor, “A tirania é o governo de um só com vista ao
interesse pessoal; a oligarquia é busca do interesse dos ricos; a democracia visa o interesse
dos pobres. Nenhum destes regimes visa o interesse da comunidade.” (A Política, p. 213).
Depois de estudar detalhadamente todas as formas, Aristóteles conclui que o governo
ideal seria um meio termo entre a oligarquia e a democracia, a politeia, em que o povo
exerceria participação política acompanhada do discernimento dos “melhores cidadãos”.
Assim, seria dever da população votar nas assembleias, mas os cargos políticos só poderiam
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ser preenchidos por membros das classes mais altas. Dessa forma, a grande questão que
impulsionava a tensão política em Atenas, os conflitos de classe, seria remediada, visto que o
novo governo combinaria as vontades tanto dos ricos quanto dos pobres.
É de extrema importância, no entanto, destacar que toda a obra de Aristóteles em A
Política permeia uma concepção de liberdade característica do período antigo, e totalmente
diferente do sentido atual. Ao caracterizar o homem como um “animal político”, Aristóteles
transfere o indivíduo privado para a coletividade, transformando-o em um puro e simples
agente político. Dessa maneira, a liberdade faz-se coletiva, e o homem passa a ser, em todas
as suas camadas, um cidadão. Ao mesmo tempo, não só a liberdade como também a vida
torna-se essencialmente política, e todas as esferas sociais passam a ser movidas e abastecidas
pela vontade e decisão da polis. Isso, porém, mostrou-se extremamente penoso para a
sociedade ateniense que, ao focar unicamente no ambiente público, pecou em administrar
conscientemente a economia e o abastecimento da cidade.
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3. GIOVANNI SARTORI
Giovanni Sartori foi um cientista e comentador político italiano conhecido por ser um dos
principais responsáveis pela institucionalização da ciência política. Em seu livro A Teoria Da
Democracia Revisitada, o autor procura estabelecer um balanço entre as diferentes formas de
regimes democráticos durante a história, mais especificamente entre as democracias grega e
moderna. Para isso, o principal argumento utilizado é baseado na ideia de que o conceito atual
de democracia é inapropriado, e não condiz com o seu sentido literal. Dessa forma, ao
construir sua argumentação, Sartori busca tecer o contexto histórico do conceito trabalhado,
além de analisar as diferentes concepções que envolvem o entendimento democrático, como a
liberdade.
Primeiramente, Giovanni Sartori estabelece que o sentido atual relativo à palavra
“democracia” tem poucas semelhanças com sua concepção original. Para ele, a “democracia
antiga era concebida numa relação intrínseca, simbiótica, com a polis” (SARTORI, p. 35), e
polis significava apenas uma koinonia, ou seja, uma comunidade. Por outro lado, a
democracia moderna, baseada principalmente na figura do Estado, não reflete o sistema
grego, e identifica cada vez mais ideais como a autoridade e a legitimidade, sob uma ótica
muito mais ligada às grandes extensões dos países contemporâneos.
Além disso, Sartori argumenta que o que diferenciava os dois estilos de democracia não
era somente a existência ou não de um Estado, nem mesmo as simples questões geográficas,
mas a transformação histórica de objetivos e valores entre as comunidades. Assim, o autor
alega que o homem moderno não tem o mesmo ideal de democracia que os antigos e que essa
transição, que perpassa mais de dois mil anos de humanidade, está claramente ligada às
grandes experiências intelectuais e práticas pelas quais os homens foram submetidos com o
tempo. O cristianismo, as guerras, o Renascimento, a Reforma e a criação do liberalismo,
todas essas vivências teriam enriquecido e moldado as metas e os valores humanos e, para o
autor, torna-se óbvio o motivo pelo qual nossas democracias são tão diferentes.
Como exemplo, Sartori destaca que atualmente não existem casos de democracias diretas,
como a grega. Dessa maneira, todos os exemplares de regimes democráticos atuais seguem
modelos representativos liberais, caracterizados pelo autor como sistemas de “limitação e
controle de poder” (SARTORI, p. 37), estruturados sob uma dualidade entre Estado e
cidadãos não existente na Grécia Antiga.
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Ademais, Giovanni Sartori busca distinguir o funcionamento de cada tipo de democracia,
destacando seus pontos mais fortes e fracos. Para o escritor, o regime grego carecia de "filtros
e válvulas de segurança” (SARTORI, p. 40), estando submetido à falta de estratégias de
precaução e restrição. Além disso, o autor destaca a falta de planejamento em outros setores
da sociedade como uma das principais falhas da democracia ateniense. Assim, Sartori define
os conceitos de “hipertrofia política” e “atrofia econômica” (SARTORI, p. 40) e explica que,
enquanto grande parte da sociedade grega esforçava-se para exercer sua participação política,
a economia e o abastecimento da polis eram deixados de lado, o que culminou em intensas
crises na realidade de Atenas.
Ao mesmo tempo, o pesquisador ressalta a transição entre a democracia grega e o ideal
liberal democrático. Desse jeito, Sartori explica que o crescimento das estruturas políticas e da
população exigiriam cada vez mais participação política direta, e “quanto maior o número de
pessoas envolvidas, tanto menos efetiva é sua participação política.” (SARTORI, p. 40).
Então, a partir do momento em que o regime democrático direto é exposto à cenários
compostos de nações inteiras, ele torna-se impraticável:
Os dois sistemas não são alternativas a serem escolhidas com base no gosto
pessoal. Com certeza, como enfatizei desde o começo, a democracia no
sentido social é a construção de uma rede de pequenas comunidades e se
baseia na vitalidade dos grupos participantes. No entanto, nada disso é
exequível se não for garantido por uma "democracia soberana" que,
decididamente, não é uma democracia direta.1
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4. CONCLUSÃO
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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SARTORI, Giovanni. A Teoria Da Democracia Revisitada. Volume II. São Paulo: Editora Ática,
1994
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