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E mesmo a sociedade com todas suas diferenças sociais, ela existe de forma espontânea pois
a sua pluralidade é condição da existência da vida em sociedade, e deve-se respeitar essas
diferenças para que todos tenham interesse em preservar a cidade, pois se não entrará em um
ciclo de decadência pela falta de consenso dentro da cidade.
A cidade é o ambiente em que o ser humano pode exercer livremente a sua vida moral,
assim sendo o caminho para dá liberdade ao desenvolvimento e se tornando o local em que o
homem consegue ser feliz, assim colocando a discussão política e ética de forma indissociável
e que devem se desenvolver juntas.
A análise das constituições
Os regimes em sua teoria, são distinguidos segundo o critério do número de dirigentes (do
governo de um só ao governo do povo inteiro) assim como Platão. No entanto, Aristóteles
prefere, como segundo critério, a questão do “interesse comum” em vez do critério platônico
do respeito pelas leis. Assim ele define as constituições corretas, em que o poder é
desinteressado e tem em vista o bem comum. E as constituições desviadas, que o poder é
exercido com interesses por parte de seus dirigentes. Com essa divisão Aristóteles chegou a
seis formas de governo. Três são respeitáveis e três são defeituosas. As constituições “retas”
são a monarquia, a aristocracia e a “politia”. Nestes regimes, os dirigentes governam em vista
do “bem maior da cidade e de seus membros”. As constituições “degradadas” são a tirania, a
oligarquia e a democracia; todos estes regimes têm o defeito de não ter “nenhuma
consideração pela utilidade comum".
É importante frisar que mesmo com essas definições, para ele não existe um regime “bom“
ou “mal” em si, pois qualquer governo pode levar a felicidade de seus cidadãos ou a
infelicidade da cidade. Tudo depende da virtude de seus dirigentes e das finalidades que eles
atribuem a sua função. Aristóteles não se limita a uma distinção abstrata entre constituições
corretas e constituições degradadas. Tenta mostrar a diversidade muito grande das situações
reais das cidades gregas apoiando-se em exemplos históricos.
Assim, mostrando que um governo pode aparecer de formas diferentes e com o exemplo
dele e de sua época, a constituição democrática equilibra-se de maneiras muito diferentes
segundo as cidades. O regime que ele chama de “democracia rural” pode dar origem a um
governo estável e equilibrado na medida em que a autoridade está habitualmente nas mãos
dos que possuem os meios de fortuna. Essa democracia é favorável ao respeito da lei. Cria as
condições de uma vida política moderada. Nas cidades, porém, a democracia está na origem
de todos os excessos políticos. Os cidadãos formam massas imensas facilmente manobráveis.
A assembleia do povo é, aí, muitas vezes ingovernável. Diariamente reunida num tumulto de
vozes, ela é dominada pelos demagogos sempre prontos a seduzir os mais fracos. A
constituição afunda então em dois defeitos: a potência absoluta da massa e o poder pessoal
dos tribunos. Aí se zomba constantemente da lei, que fica submetida aos decretos mutáveis da
assembleia.
Aristóteles se interessa mais pela comparação das constituições. Onde outros preferem se
fechar num raciocínio binário dominado pela Oposição entre bons e maus governos, ele
mostra que existe toda uma diversidade de regimes diversos e complexos contendo diversas
características diferentes (o número de dirigentes e sua atitude moral, o número de cidadãos,
o montante do tributo, as oposições entre ricos e pobres, o papel da lei, etc.), propondo uma
análise comparativa entre as constituições, levando em consideração a vantagem de se ter
conhecimento de toda a variedade de modelos políticos. Graças a essa leitura cruzada das
sociedades, ele é um dos primeiros a evitar as simplificações abstratas e a reconhecer o
caráter inevitavelmente relativo das constituições. A este respeito, pode ser considerado como
um dos fundadores da ciência política tal como ela é praticada hoje, seguindo um
procedimento empírico fundamentado na observação e na comparação.
Essa tripartição dos poderes se elabora em obras posteriores e é vista nos dias atuais como
uma das principais heranças de Aristóteles para as nossas sociedades. Nessas obras se
encontra a primeira formulação da repartição tripolar do poder entre as funções de legislação,
de execução e de julgamento. Porém, Aristóteles não faz da separação desses poderes a
condição da virtude em política; convém, para cada cidade, encontrar a organização que mais
lhe convém. A justiça, por sua vez, não depende tanto da organização dos poderes como do
comportamento moral dos dirigentes.
Apesar do seu relativismo, Aristóteles não resiste à tentação de definir os princípios gerais de
uma boa constituição. Ele procura a forma de governo que seja a mais comumente realizável,
busca os princípios aplicáveis ao maior número de cidades. Ele defende a este respeito o
princípio de uma “constituição mista” que ele chama de “politia”. Ela é o “meio justo”, a via
moderada entre duas vias excessivas da política: a oligarquia (o poder exercido peta classe dos
ricos) e a democracia (o poder controlado pelos pobres). A solução é confiar a direção política
da cidade “àqueles que estão no meio” entre ricos e pobres (a classe média). Estes apresentam
a dupla vantagem de serem suficientemente numerosos (para evitar que o poder seja
monopolizado por uma minoria) e possuir bens (o que mitiga o gosto pelas riquezas). Não
estão cegados pelas paixões. Não defendem interesses particulares. Um governo da classe
média, não esquece o papel do povo nem a importância da lei. Não seria justo privar a massa
dos cidadãos de qualquer cargo público quando ela constitui uma força decisiva na cidade,
especialmente para lutar contra os comportamentos perigosos dos dirigentes.