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ÉTICA, UNIVERSIDADE
E SOCIEDADE
Juan Morales Ordóñez
Irene Cristina de Mello
Rossana Valéria de Souza e Silva
1. Introdução
O presente capítulo opta por tecer considerações conceituais sobre a re-
lação entre moral e política para entender sua relação com o direito, o Estado
e a esfera pública em abordagem histórica. Para isso realizar um percurso fi-
losófico desde as reflexões aristotélicas, passando pela escolástica, os contra-
tualistas do renascentismo até o iluminismo, passando por Kant e chegando
a reflexões modernas de Reinhart Koselleck e Jurgen Habermas. O objetivo
foi propor um diálogo entre teorias e apresentar conceitos que tangenciam a
ideia de moral e sua relação com o Estado. Penso que, sendo o homem um
animal social o Estado é por consequência a construção social que permi-
te o desenvolvimento da civilidade pensada como progresso humano. Essa
construção se dá, a grosso modo, através da interação pela via comunicativa
entre a esfera privada de onde advêm a critica moral com a esfera pública
onde se constrói o debate a cerca da política publica. Conciliação entre Moral
e Política são, portanto, indissociáveis para o Estado Democrático moderno.
O Esforço dessa reflexão é justamente mostrar como se deu esse processo
dicotômico entre a moral e política ao longo da construção do Estado e do
direito até o advento do ambientalismo. Trata-se de um trabalho breve que
demonstra a serventia que as reflexões sobre moral suscitadas ao longo da
disciplina puderam gerar, quando se propõem uma abordagem de diálogos
que seja transdiciplinar. As reflexões aqui apresentadas são articuladas com
as construções discursivas desenvolvidas ao longo do curso “Curso Ética,
Universidade e Sociedade” oferecido pelo programa de Ética de la Universi-
dad del Azuay e parceria com o Grupo de Cooperação Internacional de Uni-
versidades Brasileiras - GCUB durante o ano de 2021.
Ora, podemos dessa reflexão indagar que moral e política estão no em-
brião da criação do Estado, enquanto forma de organização social. Restando
perguntar, como essa relação se deu na formação do Estado moderno? A
resposta relacionou a compreensão Aristotélica apresentada pelo Prof. Or-
dóñez, relacionada ao Conceito de Esfera Pública de Jürgen Habermas, aos
contratualista que fundamentam o Estado moderno e também recorrendo à
historicidade.
Locke distingue três espécies de lei: em primeiro lugar a ‘Lei divina, que
regulamenta o que é pecado e que deve ser’ (The Divine Law the Measure
of Sin and Duty) e se anuncia ao homem pela natureza ou pela revelação;
em segundo, ‘a Lei civil, que regulamenta o crime e a inocência’ (The Civil
Law the Measure of Crimes and Innocence), ou seja, a lei do Estado, ligado a
coerção cuja tarefa consiste em proteger o cidadão; em terceiro lugar Locke
enuncia a Lei específica moral (The Philosophical Law the Mesure of Virtue
and Vice), que e a medida do vício e da virtude (Koselleck, 1999 p. 50).
Qualquer direito que derive do Estado é direito público, mesmo aquele que
os juristas costumam denominar direito privado. Todo direito estatal é ne-
cessariamente um direito público. Um direito privado, para Kant, portanto,
somente seria possível fora do âmbito do Estado. Tal seria possível? [...]
Para Kant, que é um jusnaturalista, tal é possível. O direito fora do estado, e,
portanto, não público, seria o direito natural, aquele que regula as relações
entre os homens no estado de natureza. O direito privado seria assim o di-
reito próprio do estado de natureza, próprio de um estado pré-estatal. Desta
forma, o problema da distinção entre direito privado e direito público em
Kant muda para a distinção entre direito natural e direito positivo, ou seja,
entre o direito a que se visa no estado de natureza e o direito a que se visa
no estado civil (Pessoa, 2002 p.1).
Kant afirma que a razão é o que marca o homem como indivíduo distin-
to dos demais seres viventes, capaz de ajuizar e dirigir suas ações de acor-
do com os propósitos que melhor lhe convierem, e, portanto a partir da
razão que o homem desenvolve sua consciência. Como faculdade humana,
a razão está associada à liberdade de modo que, a liberdade e a razão são
imprescindíveis àquilo que se chamou de servir-se de si, e do fazer bom
uso público da razão, como acrescenta:
[...] uso público de sua razão deve ser sempre livre e só ele pode realizar
o esclarecimento [Aufklärung] entre os homens. O uso privado da razão
pode, porém, muitas vezes, ser muito estreitamente limitado, sem, contudo
por isso impedir notavelmente o progresso do esclarecimento (Kant, 1998
p. 65).
Por fim, o Tempo histórico, para Koselleck este é ditado, de forma sem-
pre diferente, pela tensão entre expectativas e experiência. Há, por exemplo,
ações e práticas humanas que são constituídas precisamente desta tensão,
como ocorre com a elaboração de “prognósticos”, que sempre exprimem
uma expectativa a partir de certo campo de experiências (Barros, 2010).
3. Considerações finais
Em conclusão o presente capítulo objetivou dialogar com a ideia da
moral, direito e Estado por meio de sua historicidade e considerando as
lições e reflexões sobre ética e sociedade apreendidas.
Referências
PESSOA, R. (2002). Poder, Estado, Direito, Justiça e Liberdade em Kant e Hegel. Jus
Navigandi, ano 7, n. 56.