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] são louvadas as pessoas que se ocupam não apenas de seus interesses privados, mas também
dos negócios públicos, e são censurados como cidadãos inúteis àqueles que não se ocupam dos
segundos”. PÉRICLES

(Para que os cidadãos gregos pudessem se dedicar integralmente às atividades políticas, fazia-se
necessária a existência de escravos, pois era a eles que cabiam a execução de todas as outras tarefas
que não estivessem diretamente relacionadas a assuntos que dizessem respeito à gestão pública. CH
CH)

Para que na pólis grega os seus cidadãos pudessem dedicar-se ativamente às questões públicas
fazia-se necessário uma organização social voltada para o funcionamento da democracia direta.
Assim, fatores como a extensão territorial da pólis, as constantes guerras e a presença de escravos
favoreciam o funcionamento da democracia. Estes fatores se entrelaçam de forma tal que acabam
sendo uns conseqüência dos outros.

Com a obtenção de escravos para serem usados na agricultura e nas demais tarefas, o homem
grego possuía bastante tempo livre para dedicarse aos negócios públicos. Para justificar a
presença de escravos Aristóteles desenvolve a teoria da escravidão natural, segundo a qual alguns
homens seriam escravos por natureza e outros seriam senhores em decorrência de sua condição
natural.4 Esta organização social permitia aos atenienses manter o seu interesse pela democracia e
valorizar a participação de cada um deles para moldar a vida pública.

(O ENGAJAMENTO POLÍTICO era mais APRECIADO do que o ENCAPSULAMENTO


PRIVADO. CH CH CH DEMOCRACIA ANTIGA CH CH CH O VALOR de algumas propriedades
era estabelecido pela PÓLIS. O SERVIÇO MILITAR era OBRIGATÓRIO pela VIDA INTEIRA de
um INDIVÍDUO. Como se vê, o COLETIVO PREVALECE sobre o INDIVIDUAL CH CH CH)

Destarte, fica evidente que “a pólis era o eixo seguro e certo ao redor do qual girava toda a vida
de seus cidadão”, favorecendo, assim, a vinculação do indivíduo na comunidade.

(Na pólis, caso houvesse consenso, os indivíduos decidiam os rumos políticos da cidade. Em casa,
no entanto, a liberdade escolha subordinava-se a regras estritas. CH CH CH – o seu corpo pertencia
a pólis e estava voltado a sua defesa. CH CH CH)

A vida privada estava subjugada a onipotência da pólis, sendo esta dona do corpo e alma de seus
cidadãos; o homem não era independente ou livre, o seu corpo pertencia a pólis e estava
voltado à sua defesa.

Em Atenas, por exemplo, havia uma lei na qual era obrigatório o serviço militar por toda a
vida, e no que diz respeito à propriedade competia a pólis estabelecer o valor de muitos bens.

(Quais eram as pautas discutidas nas Assembléias que aconteciam nas ÁGORAS? Abaixo, alguns
dos assuntos sobre os quais os atenienses DELIBERAVAM – CH CH CH)

Na Ágora eles deliberavam sobre a guerra e a paz; a conclusão ou não de tratados de aliança; a
acusação, o julgamento, a condenação que variava entre a pena de morte ou o ostracismo, bem
como a absolvição de qualquer cidadão; elegiam alguns funcionários essenciais como os
generais; votavam as leis; examinavam as contas públicas etc. Podendo-se concluir que os
gregos exerciam pessoalmente e plenamente as funções: legislativa, executiva e judicial.
(OS EUA foram os responsáveis por instituírem pioneiramente a DEMOCRACIA
REPRESENTATIVA – CH CH CH CH CH – Renato, vale a pena lembrar das resslavas levantadas
por TOCQUEVILLE em relação à democracia representativa que começava a se consolidar nos
EUA. CH CH)

A Constituição estadunidense foi pródiga em novidades, dentre as quais a aplicação da teoria


da separação dos poderes de Montesquieu; a instituição do Senado e de uma Câmara dos
Deputados como órgãos representativos; o presidencialismo e a periodicidade no exercício de
cargos públicos para membros do Legislativo e para os chefes dos Executivos tanto na esfera
nacional quanto na estadual.

A junção de todos estes mecanismos, juntamente com a previsão de garantias dos direitos
individuais na Carta Magna propiciou o surgimento da democracia moderna.

(LÉXICO LÉXICO – DEFINIÇÃO eficiente e muito bem elaborada de DEMOCRACIA


REPRESENTATIVA)

A democracia representativa vem a ser “aquela na qual o povo, fonte primária do poder, não
podendo dirigir os negócios do Estado diretamente, [...] outorga as funções de governo aos
seus representantes, eleitos periodicamente”.

(Interessante estretégia argumentativa adotada por Bobbio na defesa do regime Parlamentarista.


Vale a pena alojar na cabeça! CH CH CH CH CH)

Na defesa da democracia representativa as palavras de Bobbio fortalecem a convicção daqueles que


crêem na inexistência de instituição apta a substituir a representação política, quando afirma que
“até agora (...) ninguém conseguiu ver um regime que tenha suprimido o Parlamento e
mantido as liberdades e nem mesmo um regime que tenha mantido o Parlamento e suprimido
as liberdades”.
Resumo do Livro DEMOCRACIA ANTIGA E MODERNA DE FINLEY, M. Por Talita Viana e
Manolo Quesada

Por: Talita Lino Viana

O livro Democracia Antiga e Moderna, de Moses Finley aborda a democracia no aspecto


contemporâneo e no clássico.

Finley utiliza como base a democracia antiga que teve sua origem na Atenas Clássica e a compara
com o nosso sistema de governo. O autor faz uma crítica aos fundamentos modernos da democracia
através dos fatos históricos ocorridos na Grécia Antiga, especificamente em Atenas, o berço da
democracia clássica para mostrar as diferenças e semelhanças entre uma democracia e a outra
e até que ponto podemos denomina-las da mesma forma.

CAPÍTULO I – LÍDERES E LIDERADOS

Neste capitulo autor trata da relação entre líderes e liderados, termo que dá nome ao capítulo, e a
forma como essa relação se dá em Atenas e hoje.

Ele começa mostrando as concepções de democracia e a forma como o poder é exercido. Traz um
conceito chave da nossa sociedade que é a “apatia política” que será tratado com mais detalhes
mais à frente no texto.

A democracia na Grécia Antiga era participativa e dava-se por meio da assembléia em que todos
tinham poder e voz de decisão. Apesar de muitos serem contra essa forma de governo como, por
exemplo, Platão e Aristóteles, era a forma de governo vigente e mesmo aos trancos e barrancos
funcionava.

É importante ressaltar que na Grécia Antiga nem todos tinham os mesmos privilégios, nem eram
considerados cidadãos com voz e voto na assembléia, ao passo que quando se tinha esse privilégio a
idade não era importante pois haviam na Assembléia homens de várias faixas de idade, desde os 18
anos até os mais velhos.

A condição de orador não era restrita, quem quisesse falar poderia fazê-lo sem restrição, pois o
importante era ter habilidade com a palavra e poder de convencimento.

Em Atenas, os líderes e os liderados se viam, pelo menos na teoria, da mesma forma, pois todos
eram iguais.

A nossa tão sonhada democracia que era tão rejeitada por muitos pensadores antigos, rejeição que é
expressa por Finley quando ele diz que a iniciativa popular é desastrosa, que “governo do povo,
pelo povo e para o povo” é ingênua ideologia (...) (FINLEY, 1988, p. 20). Esse sentimento contrário
à democracia também se reflete nos dias de hoje por muitos estudiosos e uma das justificativas
usadas por eles é a própria apatia política, que Finley aborda brilhantemente em grande parte do
livro.
A apatia política consiste no sentimento de rejeição à política causada pela frustração em poder
participar da política apenas como eleitor (uma vez a cada quatro anos, por exemplo),
escolhendo os governantes e esperando tomem decisões sem poder tira-los do cenário político
depois de escolhidos e sem poder participar das decisões diretamente.

(Certa vez, um dos assuntos submetidos à votação popular na Ágora dizia respeito a uma questão
militar. Os cidadãos deviam expor os motivos pelos quais consideravam conveniente ou indesejável
a invasão de tropas atenienses no território da Sicília. Segundo Tucídedes, a maioria dos cidadãos
declaram-se favoráveis à invasão. Apesar de acreitarem em uma vitória, os atenienses são
derrotados. Platão, avaliando os prejuízos causados pela guerra, aproveita a ocasião para reiterar a
imprudência de delegar ao povo a tomada de decisões políticas. CH CH CH LÉXICO)

Esse fenômeno moderno não se aplicava à Atenas, pois havia participação. Tucídides relata muitos
episódios do processo decisório em assembléias e o poder de convencimento de oradores na mesma.
Um desses episódios foi a invasão da Sicilia, ao ter em vista que o autor cita que Platão foi o
único a destacar que a maioria dos atenienses tinha uma “educação incompleta”.

Podia-se perceber, segundo o autor, uma clara diferença entre conhecimento técnico e
discernimento político, o que fez com que essa invasão fosse catastrófica, segundo o próprio
Tucidides:

(CH CH CH CH CH CH CH CH - “UM INIMIGO DO POVO”, IBSEN – CH CH CH CH –


VELHO DO RESTELO – CH CH CH Aqui, temos uma porva pedagogicamente clara dos motivos
pleos quais PLATÃO e ARISTÓTELES OPUNHAM-SE à DEMOCRACIA – CH CH)

“havia uma paixão pela expedição que se apoderou de todos.

Os mais velhos achavam que , ou conquistariam os lugares para onde navegavam ou, em
qualquer caso, com uma força tão grande, não lhes poderia suceder nada de mal;

os jovens ansiavam por ver lugares diferentes e pelas experiências, e estavam confiantes que
voltariam sãos e salvos;

a massa, inclusive os soldados, via a perspectiva de ganhar dinheiro no momento e depois ao


anexar a Sicilia ao Império, assegurar uma renda futura.

O resultado desse excessivo entusiasmo da grande maioria foi que aqueles que realmente se
opunham à expedição ficaram com medo de serem considerados antipatriotas se votassem
contra e, portanto, mantiveram-se calados” (FINLEY, 1988, p. 39).

...

esse relato ilustra muito bem o porque de muitos serem contra a democracia e serem a favor da
aristocracia.

Ao analisar o fato de que democracia moderna não se dá de forma igual e que os cidadãos não tem
esse poder decisório em relação às questões militares do pais, por exemplo, reforça a questão da
apatia política.

A rotatividade da Assembléia é um ponto crucial da Grécia Antiga. Essa rotatividade não faz, dos
seus participantes, políticos profissionais, o que hoje em dia é comum, pois quando perguntamos a
um político qual é a sua profissão ele dirá, com muita certeza, que é deputado, vereador, senador e
assim por diante, como se essas funções fossem vitalícias. A rotatividade, que é positiva em muitos
aspectos a fim de evitar a oligarquia, tinha como contraponto o fato de que os participantes da
Assembléia não serem devidamente educados e preparados para tomarem decisões importantes que
influíram na vida cotidiana e no futuro de Atenas.

Os críticos da democracia defendem que a mesma só pode ser aplicada em uma sociedade “pequena
e rural”, em que os cidadãos não se cruzem no dia-a-dia e se vejam apenas em dia de reunião da
Assembléia, que é totalmente se viver num regime democrático quando a população é muito grande.

(Finley afirma que, a rigor, aquilo que contemporanemante denominamos democracia já não
corresponde ao sistema político que vigorou em Atenas. Segundo o autor, em Atenas governo e
sociedade eram intercambiáveis em Atenas, pois estavam inerentemente\simbioticamente\
sinergeticamente\ ligados. Se em Atenas verificava-se uma intersecção entre governo e sociedade, o
que se observa em sistemas democráticos modernos é uma franca cisão entre essas duas instâncias.
LÉXICO CH CH CH CH)

Na Atenas Clássica, havia uma reciprocidade entre governo e sociedade, pois os dois eram uma
“única instituição” e

já na democracia contemporânea a relação governo/sociedade é oposta e totalmente separada.


A ideia é a de que o governo é superior e comanda a sociedade o que, segundo o autor, não
pode ser chamada de democracia.

...

CAPÍTULO II – DEMAGOGOS ATENIENSES

A invasão mal sucedida da Sicilia traz, segundo Finley, um debate sobre os demagogos atenienses,
essas pessoas, ou melhor, falsos líderes, segundo Tucidides, citado por Finley, atribui a culpa aos
oradores que incitaram o povo a votar a favor.

Nas Assembléias atenienses as decisões eram tomadas após o discurso de alguém defendendo suas
razoes, críticas ou ideias, porém isso se torna complicado, pois entrando na questão dos demagogos
pode influenciar o povo em benefício próprio ou em favor de determinado grupo.

O autor defende a ideia de que para se destacar na Assembléia é necessário ser um grande orador,
ter o poder de convencimento para que o povo acredite em determinada posição e se aproprie da
mesma.

Na literatura grega não é costume utilizar a palavra demagogo para caracterizar determinadas
pessoas e é nesse contexto que debate a questão política versus politicagem.

Muitos se esforçaram para permanecer no poder e buscavam apoio e, por esse apoio, caminhava-se
para a utilização de qualquer artifício para se manter e, nesse momento, entra a questão de “enganar
o povo por não saber lidera-lo”, que coloca em xeque o interesse de quem o líder lidera? Para
entender melhor a questão o autor diz:

“por trás dessa questão jazem três proposições. A primeira é que os homens não são iguais, seja em
seu valor e idoneidade moral, seja quanto ao status socioeconômico. A segunda é que qualquer
comunidade tende a se dividir em facções, sendo que as mais fundamentais dentre elas são as dos
ricos e bem nascidos de um lado, e os pobres do outro, cada uma com suas próprias qualidades,
potencialidades e interesses. A terceira proposição é que o Estado bem ordenado e bem governado é
aquele que supera as facções e serve como instrumento para uma vida digna”. (FINLEY, 1988, p.
60).

Segundo Finley, “facção é o maior e o perigo mais comum” em uma democracia. Essas facções
podem ser vistas mais claramente em nossos dias, pois em Atenas a democracia era direta e a nossa
é representativa; os eleitos representam quem eles querem representar, pois não é oferecido ao
povo o poder direto de decisão.

Finley afirma que “o Estado deve ficar afastado dos interesses de classe ou de outros interesses
facciosos. Seus fins e objetivos devem ser morais, atemporais e universais”

Em suma, os demagogos atenienses que utilizavam a persuasão para atender necessidades de uma
determinada facção e se manter o máximo possível no poder.

Em suma podemos resumir o desempenho dos demagogos através da frase do autor: “não podemos
louvar e admirar o feito de dois séculos e ao mesmo rejeitar os demagogos, que foram os arquitetos
da estrutura política e os que puseram em prática, ou a Assembléia, na qual realizaram seu
trabalho”. (FINLEY, 1988, p. 88).

CAPÍTULO III – DEMOCRACIA, CONSENSO E INTERESSE NACIONAL

O autor começa questionando quem são os maiores beneficiados pela estrutura do governo.

A apatia política é aceita pelo consenso e no “aparelho político” tudo o que os políticos fazem é
aceito pela população, não pressupondo que quando um político corrupto é pego ao roubar a
sociedade o aplaude, porém ao deixar que o mesmo continue no cargo há um consenso que ele
realmente pode faze-lo.
(Concordo integralmente, meu caro Finley. Este é o ponto! Não devemos naturalizar corrupção,
abuso de poder ou salários obscenamente grandes. Essas questões não devem ser subestimadas sob
a alegação de que são problemas periféricos. CH CH CH CH – RENATO, você pode ilustrar esse
trecho com o quadro de Goya - “O SONO DA RAZÃO”)

Finley afirma que há um enfraquecimento do elo entre a ética e a ciência política, tal qual vemos
hoje. Tem que se tratar a política em termos morais.

(Sobre as consequências devastadoras que decorrem da APATIA POLÍTICA – CH CH)

O autor diz que “a tranquilidade política e o consenso tornaram-se, aparentemente, o interesse


nacional dominante” .

O autor trata o consenso da seguinte forma:

“o consenso não é, necessariamente, um bem em si; houve consenso suficiente na Alemanha quanto
à ‘solução final’, se é que não houve unanimidade, e ninguém exige a unanimidade para o consenso.
O bem é naturalmente uma categoria moral e os objetivos morais, como já vimos, são rejeitados
por uma poderosa escola de cientistas políticos contemporâneos.(MAQUIAVEL e discípulos.
Adendo MEU).

(De acordo com estudiosos da ciência moderna, vínculo entre política e ética foi desintegrado
desde, pelo menos, Maquiavel. CH CH CH)

Como escreveu importante expoente dessa escola, ‘por um lado, há uma grande disposição para
tratar a política em termos morais, por outra, as descobertas da psicologia, da antrologia e da
observação política silenciaram esse impulso’ (...) nos quase dois mil e quinhentos anos que se
passa desde a descoberta da política pelos gregos, que os teóricos mais influentes chegaram a
afirmar que não só a prática política é geralmente amoral, mas também que, essencialmente,
não tem nada a ver com a ética” ” (FINLEY, 1988, p. 99).

Houve três grandes guerras e Atenas que a marcaram : a resistencia à invasão persa, do Peloponeso
e a contra Felipe da Macedônia.

Os lucros do Império vinham através de um sistema bastante peculiar que consistia em os ricos
arcavam com as despesas “litúrgicas” e também os povos dominados mantinham o governo que era
comum na época. Havia uma divisão em que os ricos entravam para o exército e os pobres entravam
na marinha e os jovens eram recompensados por isso, ser remador da marinha era uma profissão
que muitos jovens desempenhavam, em Atenas como já foi dito antes bancavam o governo e suas
despesas, já os pobres recebiam para desempenhar uma função na Marinha, por exemplo.

Esse sistema livrou Atenas da guerra civil por quase dois séculos, pois havia um equilíbrio
satisfatório entre as partes da sociedade e trouxe uma melhor distribuição de renda entre a
população.

O Império condicionou a democracia ateniense no século VI a.C. tanto que após a dissolução do
mesmo a democracia já estava enraizada em Atentas e não mais poderia ser mudada.

O conceito grego de liberdade era estendido apenas para população grega e os atenienses
estimulavam e impunham regimes democráticos aos povos dominados, pois tinham em mente que o
povo não teria condições de se organizar e tentar se libertar o que poderia acontecer mais facilmente
se deixassem na mão da aristocracia local, essa forma de impor a democracia era a “versão grega do
conceito romano de dividir e conquistar”.

A estrutura dos grupos de interesses eram simples, a divisão era entre ricos e pobres e não se
aplicava o conceito de classes.

Havia uma dupla dificuldade associada ao interesse nacional que era a determinação e a realização
prática e para amenizar essa dificuldade os “ajustes” eram utilizados a fim de que não haja
discrepância no pensamento que perambulava entre os interesses especiais e o nacional.

Hoje, o consenso é apenas ilusório pois se concentra apenas em uma pequena parte da população
que participa da sociedade e essa participação de um pequeno grupo traz a alienação política da
massa. O autor afirma que para o ateniense há uma dificuldade relacionada na divisão entre nós, o
povo e eles, a elite. Hoje essa divisão nos parece mais simples.

O autor afirma: “a questão, no entanto, é saber se a extensão que a satisfação simbólica” parece
refletir supera a profunda frustração registrada com a exatidão pela muito difundida apatia política,
que surge de um sentimento de impotência , da impossibilidade de neutralizar aqueles grupos de
interesse cuja vezes prevalecem nas decisões do governo.

O autor ainda afirma que sem uma filosofia social corrente o interesse nacional torna-se retórica,
política, e que essa filosofia vigente traz a visão do que é bom ou mal para o país.

Hoje há uma perda de noção de comunidade, pois existe o sentimento de não poder mudar a
política. Os movimentos extremistas são tentativas de provocar qualquer mudança e (reveter o
estado de inércia de pessoas apaticamente afastadas da arena política)

Em Atenas os movimentos extremistas se concentravam nas partes mais ricas, o autor até cita um
golpe oligárquico em 411 a.C. que durou pouco tempo.

Qualquer grupo de pressão pode vir a abandonar os processos democráticos e no caso das
oligarquias atenienses era impossível ganhar na Assembléia se não fosse através do terror.
CAPÍTULO IV – SÓCRATES E DEPOIS

(SÍNTESE EXCELENTE da argumentação defendida por John Suart Mill no seu clássico ensaio
SOBRE a LIBERDADE)

Na introdução à sua obra Sobre a Liberdade, John Stuart Mill escreveu o seguinte:

“o objeto deste ensaio é afirmar que um princípio muito simples tem o direito de governar de modo
absoluto as interações entre a sociedade e o individuo a titulo de obrigação e controle, que os meios
empregados sejam os da força física, sob a forma de penalidades legais, quer sejam os da coerção
mora, exercida pela opinião pública. O princípio a que nos referimos é o de que o único objetivo
pelo qual se permite à humanidade, de forma individual ou coletiva, interferir na liberdade de
ação de qualquer de seus integrantes, é o da legítima defesa. Que o único propósito para o qual
pode ser empregada com justiça a força contra qualquer membro de uma sociedade civilizada,
contra sua vontade, é o de impedir dano a outros (...). A única área de conduta do individuo pela
qual ele deve prestar contas à sociedade, é aquela que diz respeito aos seus semelhantes. Na parte
que diz respeito apenas a si mesmo, sua independência é, de direito, absoluta.

Sobre si mesmo, sobre seu próprio corpo e mente, o individuo é soberano”. (FINLEY, 1988, p.
127).

É preciso notar que o traçar os limites entre o “que diga respeito a si mesmo” e “causar dano a
outros” é muito difícil.

O mesmo autor, diz em outro trecho: “contra a tirania do magistrado não basta; é preciso também
haver proteção contra a tirania do sentimento e da opinião predominantes, contra a tendência da
sociedade a impor, por meios outros que não as penalidades civis próprias ideias e práticas como
regra de conduta àqueles que delas divergem”. ” (FINLEY, 1988, p. 128).

Diz ainda o mesmo Mill abrindo uma brecha:

(John Suart Mill – há circunstâncias em que ações individuais, ainda que afetem somente seus
agentes, devem ser proibidas. Por exemplo: posso me masturbar em casa, mas não posso repetir o
mesmo gesto em um transporte público. CH CH CH)

“há muitos atos que, sendo diretamente prejudiciais exclusivamente aos próprios agente não
deveriam ser proibidos por lei; mas que, se realizados em público, constituem uma violação da
boa conduta, incluindo-se portanto na categoria dos delitos públicos, o que justificaria sua
proibição”. ” (FINLEY, 1988, p. 128).

A preocupação de Finley é com a esfera pública, com a política e com os direitos do individuo.

O Estado passa por um dilema, pois sabe que é difícil manter a própria defesa com a existência
da liberdade de expressão.

Finley cita a primeira emenda da constituição dos Estados Unidos:

“o congresso não fará nenhuma lei que diga respeito à oficialização de qualquer religião, ou que
proíba seu livre exercício, ou que limite a liberdade de expressão, ou de imprensa, ou o direito do
povo à reunião pacífica e a requerer do governo atendimento de reivindicações”.

(FINLEY, 1988, p. 129).


Neste trecho ele usa a interpretação jurídica liberal para mostrar que não é possível usar a expressão
“nenhuma lei” pois existe um quase antagonismo entre dois interesses sociais: a segurança pública e
a busca da verdade” (FINLEY, 1988, p. 129).

Diz ainda sobre a liberdade de expressão: “ela se situa bem próximo ao ponto em que as palavras
possam dar margem a atos ilegais”. (FINLEY, 1988, p. 129).

A palavra busca, no campo político, provocar a ação e essa ação pode transformar o sistema político
ou a estrutura social tão radicalmente que pode vir a ser uma ameaça ao Estado. O problema todo é
encontrar o equilíbrio.

Essa preocupação não é só dos estados democráticos, é de toda organização que necessite da
comunidade e não da autoridade superior para sancionar decisões finais. Um rei não enfrenta esse
problema, nem qualquer governante cujo poder provenha de sanção divina.

Esse dilema foi vivido pelos gregos, antes da democracia, basta vejamos a Ilíada e constataremos
que os heróis podiam propor livremente o que, do ponto de vista do interesse geral, envolvesse
perigo.

Isso aconteceu no inicio da formação das comunidades democráticas e intensificou-se quando essas
comunidades tornaram-se genuinamente democráticas.

Uma das formas eficientes de coibir a liberdade de expressão era o ostracismo. A pessoa era
fisicamente excluída da comunidade, o que diminuía a sua influência.

Outra forma era o graphé paranomon, procedimento jurídico pelo qual alguém podia ser
processado, condenado e receber pesadas multas por ter feito uma proposta “ilegal” à Assembléia,
mesmo que aprovada. Isso levava o orador a assumir os riscos de seu discurso.

Através dessas considerações, Finley propõe examinar a experiência ateniense durante e


imediatamente após a longa guerra com Esparta, guerra que durou 27 anos e que recebeu aprovação
explicita de todos os setores da população ateniense, que acreditavam estar em jogo interesses
vitais, nos lembrando que a “guerra representa o teste mais rigoroso da tensão entre a liberdade e a
segurança”. (FINLEY, 1988, p. 131).

Finley cita, ainda, o Alien and Sedition Act, de 1798, onde a critica a autoridades e leis podiam ser
punida como insubordinação e diz que um juiz federal, em 1917, chegou a determinar:

“a nenhum cidadão deveria ser permitido que, por ato deliberado ou mesmo irrefletido, fizesse algo
que pudesse de alguma forma prejudicar os esforços que os Estados Unidos estão envidando, ou que
pudesse servir para adiar por um momento sequer a iminente chegado do dia em que o sucesso de
nossas armas será um fato”. (FINLEY, 1988, p. 131).
É difícil saber se algum tribunal repetiria essas palavras hoje; “mas políticos e editorialistas agem
assim regularmente, e grande parte da opinião pública concorda com eles”. (FINLEY, 1988, p. 132).

Para responder como os atenienses teriam reagido à Guerra do Peloponeso ele traça alguns
princípios gerais e começa dizendo que as duas proibições da primeira emenda à Constituição dos
Estados Unidos, não seriam compreendidas pelos atenienses, ou seriam consideradas repugnantes,
se o fossem compreendidas.
Continua nos falando sobre religião, família, estado, pois essas instituições estavam perfeitamente
interligadas.

O Estado bancava a Religião, seja na organização das festividades e na construção dos templos,
preparando o calendário religioso, a realização de sacrifícios, além disso a religião era politeísta e
complexa, com uma quantidade de deuses e heróis, composta por inúmeros ritos e mitos, tendo uma
capacidade de adaptação muito grande, proporcionando uma liberdade considerável em suas
preferências religiosas. Apesar disso considerava a blasfêmia, como um delito grave, cometido
contra a comunidade a quem os deuses poderiam responsabilizar, por isso o Estado tomava para si o
encargo da punição, preservando os deuses. Os atenienses, apesar de prezarem e praticarem a
liberdade expressão, entendiam que a Assembléia tinha o direito de intervir.

(FINLEY, 1988, p. 133).

Isso porque liberdade é o predominio da lei, participação no poder decisório, não a posse de direitos
inalienáveis.

Algumas leis que limitavam a liberdade de expressão foram aprovadas pelo Estado ateniense, isso
não acontecia com maior frequencia por opção, não por reconhecerem direitos privados fora do
alcance do Estado.

O sistema jurídico não era separado do Estado, mas o povo atuando de maneira distinta do
legislativo. Os magistrados cumpriam mandato anual escolhidos por sorteio. O procedimento era
semelhante tanto nos casos públicos quanto nos privados.

A máquina governamental de acusação não existia. Qualquer cidadão podia assumir essa
responsabilidade.

Os jurados eram sorteados numa lista de 6000 voluntários. Esperavam responsabilidade civil e
honestidade direta ao avaliar a lei e as provas.

Aristófanes é um poeta cômico, começou a carreira em 431 a.C e terminou em 386 a.C. Suas
comédias abordavam como tema a guerra do Peloponeso, de forma impetuosa, ultrajante,
escatológica, obscena e debochada, tinha um “gênio especial para descobrir o humor e a graça nas
fraquezas das figuras públicas, a começar por Péricles, nas qualidades do ateniense médio, nos
motivos e na condução da guerra, mesmo nos mitos e ritos conhecidos”. (FINLEY, 1988, p. 136).

Na peça “Os Arcanenses”, a guerra é o tema e a cena final marca principalmente porque o velho
camponês declara a paz com o inimigo separado de todos. Em 411, escreve Lisistrara. Nessa época
a guerra da Sicilia tinha dois anos do desfecho trágico; reinava a instabilidade política e a vitória
parecia depender do apoio financeiro do Imperador da Pérsia, inimigo dos atenienses. A peça trata
de fazer isso colocando Lisistrata, liderando as esposas gregas recusando-se a ter relações sexuais
com seus maridos, forçando-os à paz. É uma comédia erótica mas também tem um tema serio:
somente os persas podem sair vitoriosos se a guerra se prolongar. Nesse momento, Finley faz a
ligação com o juiz americano, visualizando como os lideres atenienses poderiam ter sentido nas
suas palavras.

A guerra tinha o apoio popular, a vitória era o objetivo comum, não só no início mas também após o
desastre na Sicilia. A irreverência de Aristófanes não era danosa para os esforços de guerra. O
problema é que o teatro privado não existia. Existiam concursos de comédia e tragédia,
apresentados ao ar livre, nos festivais religiosos realizados pelo Estado.
Finley diz: “o que mais desperta meu interesse é a forma agressiva com que se debochava da guerra,
em um festival organizado pelo Estado, não uma única vez, isolada, mas repetidas vezes, e não só
por parte de Aristófanes, mas através de outros comediógrafos que com ele concorriam aos prêmios
“.(FINLEY, 1988, p. 138).

Em 1967, que não foi ano de guerra, o Conselho do Teatro Nacional (na Grã-Bretanha) vetou a
produção futura de uma peça de Hochhuth. O veto foi defendido jpelo Sr. Jô Grimond, ex-líder do
Partido Liberal, nos seguintes termos: “o Teatro Nacional é uma instituição do Estado. Uma das
principais funções de qualquer Estado é impedir a dissidência”. (FINLEY, 1988, p. 129).

Diopeithes, adivinho profissional, aprovou uma lei, junto à Assembléia, tornando delito grave
ensinar astronomia ou negar a existência do sobrenatural.

(Ao contrário do que se supõe, Sócrates não foi a única figura de destaque a ser condenada pela
Democracia teniense. Anaxágoras, após ter declarado que o sol não era um Deus, mas sim uma
rocha incandescente, também teve a morte decretada. Diferentemente de Sócrates, porém, acabou
conseguindo escapar. CH CH CH CH)

Anaxágoras foi a primeira vítima, escapou por que não era cidadão ateniense e figuiu. O que
Anaxágoras ensinava era que o sol não era uma divindade e sim uma rocha incandescente.
Isso explica a origem do elo de formação entre a astronomia e a descrença no sobrenatural nas
mentes ortodoxas. Era amigo de Péricles, por isso historiadores sugerem que por trás de Diopeithes,
estivessem os inimigos dele, o que Finley acha pouco provável.

O sacrilégio e a blasfêmia eram crimes antigos.

“as pessoas eram processadas e punidas não por atos abertos de impiedade, mas por suas ideias, por
afirmações que tinham feito, mesmo quando elas não houvessem sido acompanhadas de ato que
pudesse interferir na ordeira condução religiosa”. (FINLEY, 1988, p. 140).
Aristófanes juntou-se ao ataque com “As nuvens”, dessa forma ele defendia o direito de expressão
ao máximo em determinada área, em outra concorria para acabar com as mesmas liberdades.

O episódio dos falos dos Hermes, em 415 a.C, pouco antes da partida da esquadra que lutaria na
Sicilia, foi a gota d´agua, principalmente porque os organizadores de tais atos provinham da
aristocracia de Atenas, acumpliciados com seus escravos e parasitas. O propósito que se pode inferir
é que a intenção era frustrar a expedição e atacar a figura de Alcibíades, um dos generais no
comando; logo foi chamado para responder processo por impiedade. Muitos conseguiram fugir,
tendo seus bens confiscados. Por tudo isso, em 411 a.C., votaram pela eliminação da democracia, os
golpistas queriam entregar Atenas a Esparta. A democracia foi restaurada pelo próprio Alcibíades,
que não se juntou a esse movimento. Os insurretos foram beneficiados pela tolerância, poucos
processos foram abertos apesar de terem derrubado a democracia. Em 404 a.C, Esparta vence e
instala uma Junta Militar conhecida como os Trinta Tiranos, brutais, cometeram atos de selvageria,
como mandar matar perto de mil e quinhentos atenienses, acusados de traição.

A democracia voltou após breve tempo e novamente as penalidades foram mínimas.

Sócrates não foi a julgamento em 399 a.C por atividade política e não se beneficiou da anistia que
foi concedida. Sócrates foi acusado de não acreditar nos deuses e corromper a juventude. Pena: a
morte.
A acusação de Sócrates foi levada a cabo por Meleto, na condição de individuo. A participação de
Anito, figura proeminente e responsável descaracteriza o julgamento de Sócrates como simples
vingança política.

A condenação de Sócrates foi decidida por pequena diferença e a pergunta é como foi possível
condenar Sócrates, um homem bom e piedoso culpado de impiedade?

(CH CH CH – Por que Sócrates, um homem virtuoso, foi condenado sob a alegação de ser
PEÇONHENTO? LÉXICO CH CH CH)

O principal motivo, segundo Finley, foi corrupção de menores. Nem Platão, nem Xenofonte são
consistentes em seus relatos sobre o julgamento de Sócrates.

A Apologia de Xenofonte tem um momento em que Meleto diz que pode dar os nomes a quem
Sócrates convenceu a seguir sua própria autoridade em vez da autoridade dos pais, e Sócrates
concorda, porém diz:

(KO KO KO KO – A observação de Sócrates fundamenta-se em sua crença de que a


SOFOCRACIA era indiscutivelmente superiro à DEMOCRACIA. As crianças da CALIPÓLIS, em
vez de serem instruídas pelos PAIS BIOLÓGICOS, seriam guiadas por EDUCADORES
ESPECIALIZADOS. - CH CH CH CH CH CH CH CH CH CH CH CH CH Retnha, Renato!
Retenha!)

“em questões de educação seria recomendável confiar em especialistas e não em parentes (...)”.

(De acordo com Platão, a condenação de Sócrates demonstrou de forma evidente os perigos aos
quais podemos estar sujeitos em uma sociedade aberta\livre e DEMOCRÁTICA – SOFOCRACIA –
CH CH CH)

Para Platão a condenação de Sócrates simbolizou o mal de toda a sociedade aberta ou livre, não
só o de uma sociedade democrática.

Os cidadãos de Atenas não temiam a crítica política, eles perdiam essa moderação na área da
religião e dos princípios morais e mesmo assim, as reações dependiam, em parte, da ocasião e da
forma de expressão.

Sócrates podia ter evitado a pena de morte, mas ele era cidadão ateniense e o exílio para ele teria
implicações diferentes.

Finley escreve: “uma sociedade política, na qual a discussão e o debate são técnica fundamental, é
uma sociedade cheia de riscos”. (FINLEY, 1988, p. 155). “Os perigos são bem conhecidos; os
processos por impiedade não são mais do que uma das manifestações”. (FINLEY, 1988, p. 156).
CAPITULO V – A CENSURA NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA

Finley diz que definir censor e censura é inadequado se não abrirmos espaço para Mary
Whitehouse, ou para o poder dos que os antropólogos ensinam sobre “tabus”, ou ainda para a
possibilidade de manipulação da lei da calúnia ou da blasfêmia com fins de censura, ou mesmo para
as restrições de ordem econômica que podem impedir a publicação e a distribuição de livros e
jornais, etc. A estrita definição administrativa reflete a luta moderna contra a censura estatal e a
ideologia libertária que surgiu dessa luta e dentro dela. Mesmo os partidários das liberdades civis
(com exceção de uma minoria extremista) admitem certa margem de censura “legítima” e não
questionam o direito do Estado de censurar.

Não só as organizações religiosas, ou as de Estado censuram. A censura faz parte do processo de


crescimento desde a infância até a integração como membro de uma determinada sociedade ao
processo de educação, de se tornar “civilizado”. Nas palavras de Sir Edmund Leach, em conferência
proferida em Cambridge: “um ambiente social livre de censura não seria um ambiente social de
forma alguma; seria como um pesadelo de maníaco”. (FINLEY, 1988, p. 160).

Na Grécia do sec. V, os filósofos e cientistas eram menosprezados por colherem frutos ainda verdes
de sabedoria e esperava-se que a platéia que assistiu “As nuvens” se divertisse com o incêndio da
“Loja do Pensamento” e não se incomodasse muito se Sócrates também saísse queimado”.
(FINLEY, 1988, p. 161).

Portanto os homens se censuravam; e quando deixavam de faze-lo, a intervenção oficial ou não,


recebia com frequencia amplo apoio popular. (FINLEY, 1988, p. 161).

Os contextos sociológicos e ideológicos são peculiares o que explica que algo pode ser concebível
em um e não em outro contexto.

Claudio, um dos primeiros imperadores, escrevia relatos históricos. Quando passou a escrever sobre
a Roma contemporânea sua mãe e sua avó o convenceram que aquilo não era produtivo. Todo
organismo social considerando-se legitimo procura se defender, procurando enfraquecer a oposição.

A censura de livros e jornais, por parte dos escritores, hoje em dia é forma de evitar dissabores
futuros.

A expulsão ou exílio é associada em nossas mentes especialmente com a oposição política.

Na Antiguidade Clássica isso era usado como censura, pois predominava a comunicação verbal e
não a escrita. Os livros eram queimados e pouca diferença fazia, a diferença era a palavra falada
divulgando ideias. O que faziam as autoridades? Enviavam para o ostracismo os donos das ideias,
que, em pais distante, ficavam desprovidos de platéia que os ouvisse e seguisse.

Os filósofos eram expulsos pela ameaça que eles constituíam para a ordem e para a segurança
pública, segundo os governantes.

Os jovens que se interessavam pela retórica ou filosofia eram ricos, o que evidencia que não só as
ideias veiculadas eram o ponto central mas também as pessoas a quem essas ideias eram dirigidas:
herdeiros do poder. O medo era vago mas a censura severa e eficaz.

A religião foi outro contexto onde a platéia a ser isolada era muito maior e representativa.

O politeísmo é tolerante, tem limites amplos.


Antes do Cristianismo dificilmente alguém corria o risco de ser punido por sua religião.

Os cristãos, como os adeptos das bacanais, formavam grupos de cultos não oficiais.

A historia da astrologia é recheada de casos. As autoridades públicas consultavam oráculos. Havia


uma inevitável atração com relação ao adivinho. O conhecimento do que ia acontecer era, ao
mesmo tempo, confortante e perigoso. Muitos deles foram expulsos de Roma. Isso evidencia o
ponto: as ideias eram mais perigosas que os livros.

Com o tempo as comédias mudaram, deixam de retratar pessoas reais, desviando sua atenção por
completo da vida pública. A explicação não está na censura formal. Não havia lei que impedisse os
dramaturgos do sec. IV a.C. de seguirem as tradições de seus antecedentes.

“a mudança, no final das contas, revela-se muito mais abrangente. Dodds salientou que ‘um
observador inteligente no ano 200 a.C, ou por volta dessa época’, teria ficado ‘tristemente surpreso’
ao saber que a civilização grega estava entrando em um ‘período de lento declínio intelectual que
iria durar até a conquista de Bizâncio pelos turcos, com exceção de algumas recuperações ilusórias
e algumas brilhantes atitudes individuais na retaguarda; que em todos os dezesseis séculos de
existência à sua frente o mundo helênico não produziria um poeta melhor do que Teócrito, um
cientista melhor do que Eratostenes e que o único grande nome na filosofia iria representar um
ponto de vista julgado extinto – o platonismo transcendental”. Nem é preciso acrescentar que isso
incluiria o mundo romano, excetuando alguns grandes poetas. (FINLEY, 1988, p. 129).
RESUMO 2

A grande questão desta obra é: será que a experiência política da Grécia antiga tem algo a nos
ensinar? A partir de uma série de comparações, num texto erudito e acessível, Sir Moses Finley
prova que sim. Com as breves notas abaixo, espero aguçar a curiosidade para esse estudo original,
um dos melhores livros que li no ano passado.

No primeiro dos cinco estudos do livro, "Líderes e liderados", começa analisando a indiferença e
ignorância da maioria do eleitorado nas modernas democracias ocidentais. Em muitos países,
inclusive, uma boa proporção dos eleitores sequer se dão ao trabalho de votar. Nesse sentido, Finley
compara autores antigos e modernos que destacam a importância da apatia dos cidadãos. O mesmo
paralelo, entre escritores antigos e modernos, é feito quando é explicada a delegação da política a
especialistas.

Na Antiguidade a maioria esmagadora dos intelectuais desaprovava o governo popular;


atualmente, a mesma cifra dos estudiosos defende que a democracia é a melhor forma de
governo.

A seguir, nesse estudo, Finley apresenta as definições gregas para política e democracia, e explica
como os atenienses lograram manter seu sistema democrático em funcionamento. "Os gregos (...)
foram os primeiros a pensar sistematicamente sobre política, a observar, descrever e, finalmente
formular teorias políticas" (p. 27). Apesar disso, "os próprios gregos não desenvolveram uma teoria
da democracia" (p. 39).

"Para Aristóteles, o homem, por natureza, não era apenas um ser destinado a viver em uma cidade-
Estado, mas também um ser da família e um ser da comunidade" (p. 41). Nesse sentido, seria
fundamental que esse homem tivesse uma boa formação acadêmica e cívica. Por isso, Protágoras e
Platão, ainda que extremamente opostos, defendiam a importância da educação.

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