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UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR

CIÊNCIA POLÍTICA

Unidade VI – A Democracia
1. Do conceito de democracia;
2. A democracia direta no Estado-cidade da Grécia;
3. A democracia indireta;
4. A democracia vista pelo povo: pesquisa de opinião pública

1. Do conceito de democracia.

O termo democracia tem origem na Grécia antiga, mais especificamente na cidade-


estado de Atenas e etimologicamente significa governo do povo: (demo=povo e
kracia=governo).

O conceito de democracia é algo bem mais complexo, mas de forma sintética


seguem abaixo algumas dicas:

• “Se houvesse um governo de deuses, esse povo se governaria


democraticamente” (Rousseau)
• “A democracia é a pior forma de todas as formas imagináveis de governo,
com exceção de todas as demais que já se experimentaram” (Winston
Churchil)
• “A democracia é, sobretudo um caminho: o da progressão para a liberade”
(Kant)
• “Democracia é o governo do povo, para o povo e pelo povo; governo que
jamais perecerá sobre a face da Terra” (Lincoln)
• "Vivemos sob a forma de governo que não se baseia nas instituições de
nossos vizinhos; ao contrário, servimos de modelo a alguns ao invés de
imitar os outros. Seu nome, como tudo o que depende não de poucos, mas
da maioria, é democracia" (Péricles)

Norberto Bobbio fala em três tradições do pensamento político acerca da


democracia:

a) teoria clássica: divulgada como teoria aristotélica, do governo do povo e de


todos os cidadãos (democracia); governo de um só (monarquia) e governo de
poucos (aristocracia).

b) teoria medieval: de origem romana, apóia-se na soberania popular onde o poder


do soberano decorre do poder do povo; este o transfere para ser governado de
acordo com as leis.

c) teoria moderna: também conhecida como a teoria de Maquiavel, nascida com o


Estado moderno na forma das grandes monarquias, segundo a qual as formas
históricas de governo são duas: monarquia e república, e a antiga democracia nada
mais é que uma forma de república.

2. A democracia direta no Estado-cidade da Grécia.

No século V antes de Cristo, Atenas emergiu como uma das mais proeminentes
“Cidade-Estado” do mundo grego. O desenvolvimento de Atenas baseado em uma
economia escravagista – na mineração, agricultura e em certas indústrias de
manufatura – permitiu o florescimento de uma civilização urbana com cidadãos
livres de qualquer trabalho e aptos e disponíveis para aprimorar a igualdade entre
os cidadãos, a liberdade, o respeito pela lei ou pela justiça, pedras angulares do
ocidente influenciado até hoje pelos gregos.

Neste ponto impõe-se a transcrição de uma passagem de Péricles, general e político


grego:

“(...) Nossa Constituição é chamada de democracia porque o poder está nas mãos,
não de uma minoria, mas de todo o povo. Quando a questão é resolver disputas
privadas, todos são iguais perante a lei; quando a questão é colocar um a pessoa à
frente de outra em questão de responsabilidade pública, o que conta não é o ser
membro de uma classe em particular, mas a verdadeira habilidade que o homem
possui. Ninguém, desde que possua em si o desejo de ser útil ao estado, é mantido na
obscuridade política pela pobreza. E, da mesma forma que nossa vida política é livre
e aberta, nossa vida diária e nossas relações uns com os outros também o são.

Aqui cada indivíduo está interessado não apenas em seus próprios assuntos, mas
também nos assuntos do estado: mesmo aqueles que se preocupam principalmente
de seus próprios negócios são extremamente bem informados a respeito de questões
políticas em geral; esta é uma peculiaridade nossa. Não dizemos que um homem que
não tem interesse na política é um homem que cuida de seus próprios afazeres,
dizemos que ele não tem quaisquer afazeres aqui” (Tucídides, na Guerra do
Peloponeso)

Não havia dissociação entre o homem a coletividade, ou seja, recebendo tudo do


estado, devendo tudo ao estado. A democracia ateniense foi marcada por um
compromisso gera com o princípio da virtude cívica, dedicação à cidade-estado
republicana e subordinação da vida privada aos assuntos públicos e ao bem
comum (David Held).

A democracia grega se exercia na praça, o grande recinto da nação onde


diariamente o povo concorria ao comício, “cada cidadão era orador, quando
preciso”, anota Bonavides. E continua: “ali se discutiam todas as questões do
Estado, nomeavam-se generais, julgavam-se crimes”.

De acordo com David Held, “a assembléia reunia-se mais de 40 vezes por ano e
tinha um quorum de 6000 cidadãos. Todas as questões mais importantes, tais
como a estrutura legal para manutenção da ordem pública, as finanças e taxação
direta, o ostracismo, os assuntos estrangeiros eram levados ante os cidadãos
reunidos em assembléia para debates e decisão”
Além dessa assembléia existia um conselho de 500 que era encarregado da
organização e proposição de decisões públicas; este conselho era auxiliado por um
Comitê bem estruturado e composto por 50 cidadãos e presidido por uma pessoa
que só podia exercer seu cargo por um dia.

As bases da democracia grega compreendem a isonomia a isotimia e a isagoria:


a) isonomia é igualdade de todos perante a lei, sem distinção de grau, classe ou
riqueza; todos eram iguais sem foros privilegiados, não havia homens invioláveis.

b) isotimia abolia os títulos ou funções hereditárias, abrindo a todos os cidadãos o


livre acesso ao exercício de todas as funções públicas; merecimento, honradez e
confiança dos cidadãos era o pressuposto para exercício de funções públicas.

c) isagoria é o direito de palavra, de igualdade reconhecida a todos os cidadãos de


falar nas assembléias populares, de debater publicamente os negócios públicos.

3. A democracia indireta.

Montesquieu que foi um dos primeiro teóricos da democracia direta acusava o


povo de ser bom para escolher, mas ruim para governar, daí a necessidade de
representantes que iriam decidir e querer em nome do povo: a representação.

É de se indagar: este seria o motivo único para deixar a cargo de representantes o


governo das coisas do estado? Não.

O Estado moderno ou Estado-Nação já não é mais um aglomerado de 40 ou 50 mil


cidadãos que era o Estado-Cidade dos gregos. Possui o estado moderno uma vasta
dimensão territorial, sob a égide de um poder político severamente unificador, que
risca sobre todas as instituições sociais seu traço de visível supremacia
(Bonavides), não é possível captar a vontade dos cidadãos a todo o momento como
se fazia na Atenas do século V – AC.

Acresça-se a isto que o homem da democracia grega era essencialmente político; o


homem do estado moderno é apenas acessoriamente político; transforma-se o
homem moderno em “homem-massa” e, precisando prover suas necessidades
materiais não pode se dedicar integralmente à política ou à causa pública, como
podia o ateniense livre daquela quadra da evolução do homem.

E arremata Bonavides: “Evidentemente, só há, pois uma saída possível, solução


única para o poder consentido, dentro no Estado moderno: um governo
democrático de bases representativas”.

E continua:

“A moderna democracia ocidental, de feição tão distinta da antiga democracia, tem


por bases principais a soberania popular como fonte de todo o poder legítimo, que
se traduz através da vontade geral (a volonté générale do Contrato Social); o
sufrágio universal, com pluralidade de candidatos e partido; a observância
constitucional do princípio da distinção de poderes, com separação nítida nos
regimes presidenciais e aproximação ou colaboração mais estreita no regime
parlamentar; a igualdade de todos perante a lei; a manifesta adesão ao princípio da
fraternidade social; a limitação de prerrogativas dos governantes; o Estado de
direito, com a prática e proteção das liberdades públicas por parte do Estado e da
ordem jurídica; a liberdade de opinião; de reunião, de associação e de fé religiosa; a
temporiedade dos mandatos eletivos; e, por fim, a existência plenamente garantida
das minorias políticas, com direitos e possibilidades de representação, bem como
das minorias nacionais, onde estas porventura existirem” (Paulo Bonavides citando
Maurice Duverger).

A democracia representativa é como se o povo realmente governasse, há uma


presunção de que a vontade representativa é a mesma vontade do povo, ou seja,
aquilo que os representantes querem vem a ser legitimamente aquilo que o povo
haveria de querer.

Características da democracia indireta:

• Soberania popular como fonte de todo poder legítimo


• Sufrágio universal com pluralidade de candidatos e partidos
• Separação de poderes de forma nítida no presidencialismo e aproximação
no regime parlamentarista
• Igualdade de todos perante a lei
• Manifesta adesão ao princípio da fraternidade social
• Representação como base das instituições políticas
• Limitação das prerrogativas dos governantes
• Estado de Direito com a prática e proteção de todas as liberdades públicas:
opinião, reunião, associação, fé religiosa
• Temporariedade dos mandatos eletivos
• Garantia de existência das minorias políticas

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