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30/04/2023 16:44

Política

As origens do pensamento político: a pól

Política

As origens do pensamento político: a pólis grega

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Publicado por Marcio Morena Pinto

há 9 anos

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A política surge na Grécia clássica, no século VI a. C., um período em que o homem abandona
a mitologia e o simbolismo, e passa a explicar racionalmente a sua existência no mundo que
o circunda. É nesse período que nasce a pólis grega, acontecimento decisivo que provocou
grandes alterações na vida social e política dos homens.

Nesse período, iniciou-se a estabilização da sociedade grega e das cidades-estado,


caracterizadas pelo aparecimento de uma classe mercantil politicamente muito influente,
graças ao desenvolvimento da atividade comercial e da expansão marítima. Por outro lado,
tornou-se imperiosa a criação de uma base institucional sólida para essa nova sociedade.

Essa solidez se refletiu nas reformas políticas iniciadas por Sólon, no século VI a. C., e levadas
adiante por Clístenes, que introduziu as primeiras regras democráticas. Essas reformas
representaram, concretamente, a quebra dos privilégios de uma oligarquia até então
dominante, e a progressiva secularização da sociedade.

Nesse contexto, a democracia surge como uma possibilidade de se resolverem as diferenças


por meio do entendimento mútuo e de leis que primassem pela isonomia entre todos; leis
estas que pudessem refletir os anseios do interesse comum dos cidadãos.

A originalidade das cidades gregas se centra justamente na possibilidade de se debaterem os


problemas de interesse comum em reuniões de cidadãos chamadas de “assembleias”, que
aconteciam em um espaço público conhecido como “ágora”.

Isso significa que as decisões passaram a ser tomadas por consenso, o que acarreta
persuadir, convencer, justificar e explicar, não se dispondo mais da força, dos privilégios e da
autoridade de origem divina, diferentemente do que ocorria antes, em que a imposição, a
violência, a obediência, o privilégio, a tradição e o medo eram as formas de exercício do poder.

Na pólis o domínio público e o privado passam a separar-se mais claramente, o que significa
dizer que ao ideal de valor de sangue, restrito a grupos privilegiados em função do
nascimento ou fortuna, sobrepunha-se a justa distribuição dos direitos dos cidadãos
enquanto representantes dos interesses da cidade.
É nesse preciso momento que está sendo elaborado um novo ideal de justiça, pelo qual todo
cidadão tem direito ao poder. Cultiva-se uma nova noção de justiça, que passa a assumir um
caráter político e não apenas moral, não dizendo respeito apenas ao indivíduo e aos
interesses da tradição familiar, mas também se referindo à sua atuação na sociedade.

A linguagem, por meio do diálogo e da discussão, passa a ocupar um papel primordial para
conviver-se na pólis, pois por meio dela se rompe com a violência, com o uso da força e do
medo, na medida em que, em princípio, todos os falantes têm no diálogo os mesmos direitos:
interrogar, questionar, contra argumentar, etc. A razão passa a se sobrepor à força,
tornando-se uma forma de controlar o exercício do poder.

É a expressão da individualidade, por meio do debate, que faz nascer a política, libertando o
homem dos exclusivos desígnios divinos, e permitindo a ele mesmo tecer seu destino em
praça pública. Por conseguinte, podemos dizer que o cidadão da pólis participava dos
destinos da cidade por meio do uso da palavra em praça pública.

Mas ao falarmos da democracia ateniense, é preciso ressaltar que ela se limitava apenas a
determinados indivíduos, considerados como os verdadeiros cidadãos da pólis.

Atenas possuía meio milhão de habitantes, dos quais 300 mil eram escravos e 50 mil
estrangeiros, conhecidos como “metecos”. Excluindo-se as mulheres e crianças, restavam
apenas dez por cento da população, que englobava os cidadãos propriamente ditos,
capacitados para decidir por todos. Por isso, quando falamos em democracia ateniense, é
bom lembrar que a maior parte da população se achava excluída do processo político.

Aliás, quanto mais se desenvolvia a ideia de “cidadão ideal”, com a consolidação da


democracia, mais a escravidão surgia como contraponto indispensável, na medida em que ao
escravo eram reservadas as tarefas consideradas menores.

De qualquer forma, é inegável que um houve na Grécia clássica, mormente em Atenas, um


processo de mutação do ideal político e o surgimento de uma concepção nova de poder
baseada na democracia.

Marcio Morena Pinto

Advogado e Professor

Advogado. Doutor em Direito Internacional pela Universidade de Barcelona (Espanha). Mestre


em Filosofia Política pela Universidade de São Paulo. Máster em Estudos Internacionais pela
Universidade de Barcelona (Espanha) . Especialista em Direito Empresarial pela Universidade
Mackenzie. É professor universitário e de cursos preparatórios para carreiras públicas. Foi
bolsista da FAPESP, da CAPES e da Fundação Carolina (Espanha).

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Adriana
Souza

3 anos atrás

Perfeito ser cidadão de acordo com Vernant significa ser livre , e ser do sexo masculino. Mas
de acordo com a prefeitura de Queimados significa ter propriedades e alfabetizado, você
concorda com essa afirmação?

Responder

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