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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

ESCOLA DE HOTELARIA E TURISMO


Departamento de Turismo

INOCÊNCIO TCHICONDA
PEDRO DANIEL

OS RESORTS – IMPLICAÇÕES DA SUA INSTALAÇÃO E


FUNCIONAMENTO NAS COMUNIDADES LOCAIS

Docente: Bumba de Castro, Ph.D

LUANDA, 2022
RESUMO

O presente estudo objectiva fazer uma abordagem sobre os resorts em


contextualização com a realidade nacional e as implicações da sua
instalação e funcionamento nas comunidades locais. A pesquisa em
causa é de natureza qualitativa e utlizaram-se, como técnica de colecta
de dados, as pesquisas bibliográfica e documental. Dos resultados,
constatou-se que a instalação de resorts nas comunidades locais
acarrecta efeitos, que podem ser tanto negativos como positivos
dependendo, em grande parte, do seu planeamento.

Palavra-chaves: Resorts; Enquadramento legal; Implicações locais.


Tópico
• Introdução

1. Os Resorts

 Implicações legais dos resorts em alguns países da CPLP

 Enquadramento legal dos resorts em Angola

 Implicações da instalação e exploração dos Resorts nas comunidades


locais

 Formas de Implementação / Sugestão de implementação de um resort


em Angola

• Conclusão
INTRODUÇÃO

Por todo o mundo, em plena era do turismo globalizado, proliferam os


empreendimentos turísticos do tipo resorts. Muito comuns em países ou regiões
como Caribe. Em Angola, segundo dados recentes de anuários estatísticos do
turismo nacional, é possível aferir a inexistência deste tipo de empreendimento
turístico no território nacional (Angola - Ministério da Cultura, Turismo e
Ambiente [MCTA], 2020).
Não descartando a possibilidade de, num futuro próximo, se implementarem
resorts em Angola, torna-se importante a abordagem e relevante as principais
condicionantes para o sucesso destes nas comunidades.
Objectivo geral
 Aprofundar os conhecimentos acerca dos empreendimentos turísticos do tipo
resorts, evidenciando suas implicações nas comunidades locais.
INTRODUÇÃO

Objectivos específicos
 Estudar as especificidades dos resorts considerando o seu enquadramento legal;
 Identificar os factores que condicionam o sucesso deste tipo de empreendimento nas
comunidades locais.
 Sugerir estratégias para a inserção de um resort no mercado angolano.
Justificativa
O interesse em se abordar esta temática tem como base a contribuição que pode
representar aos principais grupos de interesse sobre os detalhes a se terem em conta no
caso de instalação e funcionamento de resorts em Angola.
Ainda, a relevância do tema em causa cinge-se pelo facto de configurar um dos
pouquíssimos estudos a nível nacional a abordar sobre os resorts e, portanto, espera-se
também que o presente trabalho represente um contributo para o campo do saber e para
a comunidade académica, em especial a ligada ao turismo, no aprofundamento dos
conhecimentos e debates voltados ao tema em estudo no presente trabalho.
1. OS RESORTS

 Génese e evolução dos resorts


A história dos resorts está intrinsecamente relacionada aos costumes da civilização
Romana Antiga. Apesar destes terem se tornado mais conhecidos, difundidos e
acessíveis para uma parcela maior da população mundial apenas no Século XX,
isto, fundamentalmente após a Segunda Guerra Mundial (Comerlatto, 2015).
De acordo com Comerlatto (2015, p. 28) os resorts têm seus antecedentes no
Império Romano. Os primeiros banhos públicos aconteciam em épocas em que
ainda existiam um número ínfimo de equipamentos e uma infraestrutura escassa
e/ou limitada. Tais banhos tinham propósitos tanto sociais quanto por motivos de
saúde.
Com o passar do tempo, os resorts vão ganhando estilo e se destacam como forma
de lazer, tornando-se mais cómodos e adquirindo maior estrutura.
 Conceitos e definições de resorts

Na concepção de Patuleia, Ferreira e Almeida (2011), um resort é uma instalação


de serviço completo que oferece acesso ou oferece uma variedade de
comodidades e recreação para enfatizar uma experiência de lazer.

Para a Organização Mundial do Turismo (2003) define resort como: “destinos


turísticos integrados e relativamente independentes que oferecem uma variedade
de instalações e actividades para os turistas”.
Já para o Regime Jurídico Turístico, de Angola, resorts são Conjuntos Edificados
Para o Turismo, sujeitos a uma administração comum de serviços partilhados e de
equipamentos de utilização comum […], que integrem dois empreendimentos
turísticos e um deles deve ser obrigatoriamente um estabelecimento hoteleiro, ter
um equipamento de animação e um estabelecimento de restauração (DP n.º 36/16
n.º 4 do art. 18°, 2016, p. 629).
 Características dos resorts

Segundo Paiva e Vargas (2013), a implantação de resorts exige localizações


privilegiadas, proximidade com o mar, lagoas e rios, além de infra-estrutura de
apoio e acessibilidade, embora prefira um certo distanciamento de áreas
urbanizadas.
Estes autores acrescentam, que a construção desses empreendimentos turísticos
demanda extensas áreas de terrenos para conter um programa diversificado de
lazer e esportes, já que o resort é o destino em si.
Ainda, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis ([ABIH],
s.d., cit. em Silva, 2003, p.67), os resorts reuniriam as seguintes
características:
 locais exóticos e desconhecidos;
 locais com apelo ecológico;
 agregação de cultura e conhecimento (artesanato, pintura, técnicas de
relaxamento, etc);
 decoração ao estilo da região ou temáticos e; ar livre.
 Características dos resorts
Por sua localização e organização operacional, os resorts podem ser descritos
sob diversas tipologias, tais como resorts litorâneos, de campo, de montanhas,
ecológicas, entre outros (Brito, 2011).

Figura 1- Dom Pedro Laguna Beach Resort, Figura 2 - Mountain Resort feuerberg,
Brasil - Resort Litorâneo. Aústria - Resort de Montanha.

Fonte: www.booking.com. Consultado em Maio Fonte: https://www.feuerberg.at. Consultado em


4, 2022. Maio 4, 2022.
 Implicações legais dos resorts em alguns países da CPLP

Para a análise quanto ao enquadramento legal dado aos resorts em alguns países
da CPLP teve-se como base regimes Jurídicos e legislações complementares
referentes aos empreendimentos turísticos de Angola, Brasil, Cabo Verde,
Moçambique e Portugal.
Denominação ou integração dos resorts por grupo de tipologia
Países Conjuntos turísticos

 Aldeamento turístico
Angola  Lodges
 Resorts

Cabo Verde  Resorts

Portugal  Resorts

Fonte: Adaptado (Angola – DP 36/16; Cabo Verde - Decreto-Lei n.º


35/2014; Portugal - Decreto-Lei n.º 39/2008)
 Implicações legais dos resorts em alguns países da CPLP

Diferença de conceitos adoptado em diferentes países da CPLP


Na resolução do Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem (SBClass),
um resort é um hotel com infra-estrutura de lazer... (Sauipe S.A, 2019).
Na mesma perspectiva e de forma mais específica, no regulamento dos empreendimentos
turísticos de Moçambique, resort é definido como “hotel de lazer que oferece aos hóspedes
várias opções de actividades recreativas, desportivas e culturais, além de serviço completo
de restauração, geralmente situado fora das zonas urbanas...” (Moçambique - Decreto nº
49/2016, art. 290º).
Diferente dos dois países mencionados acima, nos Regimes Jurídicos dos Empreendimentos
Turísticos de Angola, de Cabo Verde e de Portugal, hotel é um tipo de empreendimento
turístico diferente de resorts e, de acordo com os mesmos diplomas, o hotel é apenas um
dos empreendimentos turísticos que obrigatoriamente tem de integrar um resort (Angola -
DP n.º 36/16, art. 18.º; Cabo Verde - Decreto-Lei n.º 35/2014, art. 15.º; Portugal - Decreto-
Lei n.º 39/2008, art. 16.º).
 Implicações legais dos resorts em alguns países da CPLP
• Sistema de classificação dos resorts por estrelas
Países Classificação dos resorts por estrelas

Angola 1a5

Brasil 4a5

Moçambique 3a5

Portugal -

Fonte: Adaptado (Angola - DP n.º 36/16; Moçambique - n.º 49/2016; Turismo de Portugal,
2022; Ferreira et al., 2016).

• Sinalética turística
Para análise quanto à questão da sinalética turística, apenas teve-se como base Angola e
Moçambique, onde se pôde constatar que o Regulamento dos Empreendimentos turísticos
de Moçambique inclui, é específico e mais apurado em matérias de sinalética turística
quando comparado com o diploma angolano da mesma natureza.

Fonte: Moçambique-Decreto nº 49/2016.


 Enquadramento legal dos resorts em Angola

Em Angola a instalação, exploração e funcionamento dos empreendimentos turísticos, no


caso do presente estudo os resorts, é estabelecido pelo Regime Jurídico dos
Empreendimentos Turísticos - Decreto Presidencial n.º 36/16 de 15 de Fevereiro (DP n.º
36/16, art. 1.º).
Segundo o mesmo diploma, no seu artigo 6.º, quanto à tipologia, os empreendimentos
turísticos podem ser integrados num dos seguintes tipos:
a) Estabelecimentos Hoteleiros;
b) Conjuntos edificados para Turismo (Aldeamento Turístico, Lodges, Resorts)
c) Meios Complementares de Alojamento Turístico.

Legislações complementares aplicavéis

 Regulamento de Licenciamento das Operações de Loteamento, Obras de Urbanização -


Decreto n.º 80/06 de 30 de Outubro.

 Regime Geral das Edificações Urbanas – Decreto Executivo nº 13/07 de 26 de Fevereiro.

 Lei das Áreas de Conservação Ambiental, de Angola, que é a Lei nº 8/20 de 16 de Abril.
Construção e instalação de resorts

• Pedido de informação prévia - (DP nº 36/16, artigo 27º).

• Localização e Projecto (Regime aplicável) - (DP nº 36/16, artigo 28º).

• Anteprojecto e projecto - (DP nº 36/16, artigo 29º).

• Projectos de empreendimentos em edifícios a construir e projecto em


edifícios já construídos - (DP nº 36/16, art. 30º e art. 31º).

• Licenciamento da Construção (regime aplicável) - (DP nº 36/16, artigo


33º).

• Licença de utilização para fins turísticos - (DP nº 36/16, artigo 38º).

• Realização de Vistoria (Requerimento) - (DP nº 36/16, artigo 39º).

 Exploração dos Resorts - (DP nº 36/16, artigo 58º)


 Implicações da sua instalação e exploração dos resorts
nas comunidades Locais

É facto que os resorts beneficiam economicamente a região onde estão inseridos:


pagam impostos, geram empregos e contribuem para o equilíbrio da balança de
pagamentos. Mas, é questionável em que medida a implementação de resorts
contribuiu para o desenvolvimento sociocultural e económico e na proteção ambiental
das comunidades locais onde se inserem (Hasing & Bonfanto, 2016).
Assim como os demais empreendimentos turísticos e como (Hasing & Bonfanto, 2016)
comentam, os resorts podem ocasionar muitos impactos socioambientais positivos e
negativos.
Para os autores Silva e Melo (2012), os principais impactos negativos decorrentes dos
Resorts são: evasão de divisas; muitas vezes não possuem vínculo directo com a
comunidade e consequentemente não contribuem para a melhoria de vida da população
local; exclusão social; não valorizam a cultura local e polui as águas dos rios devido o
lançamento de esgoto directamente nesses locais.
Portanto, instalação de um resort promove alterações no seu entorno e na comunidade
local e requer um planeamento cuidadoso.
 Formas de Implementação / Sugestão de implementação de
um resort em Angola

Os países africanos têm um grande problema quando se trata de distribuição. O bom


planeamento deve respeitar o político, o social e num momento próprio o ambiental. Este
planeamento deve ter a sustentabilidade como meta.

Os autores Hasing e Bonfanto (2016), concordam que uma maneira de se maximizar este
tipo de empreendimento em países em desenvolvimento é na presença das grandes
cadeias internacionais de hotéis e, traz benefícios como: “multiplicação da oferta de
serviços e quartos, melhoria da qualidade, transferência de habilidades tecnológicas,
administrativas e organizacionais, qualificação da mão-de-obra e aumento do emprego”.
Entretanto, no processo de pleneamento e instalação desses empreendimentos nas
comunidades devem ser levados em conta todos os grupos de interesse, em especial, a
população local.
 Formas de Implementação / Sugestão de implementação
de um resort em Angola

Neste aspecto, sugere-se também um plano de educação ambiental. Os


empreendimentos turísticos bem como as atividades nelas realizadas, deverão ser
compatíveis com a conservação efectiva e operar dentro da capacidade natural da
área, para a regeneração e produtividade futura dos recursos naturais

Um projecto pode reduzir não só os seus custos de construção, mas todos os custos no
decorrer do seu ciclo de vida se optar por uma abordagem ecológica ou “verde”.
Projectos que apresentem uma filosofia de gestão direcionada para o
desenvolvimento sustentável podem facilmente atingir uma maior rentabilidade
económica, gerando receita e tornando-se mais competitivos graças a inovação e ao
planeamento direcionado nesse sentido.
CONCLUSÃO

A realização da presente pesquisa foi de carácter meramente bibliográfica e


documental, destinada à realização de um estudo sobre os resorts em
contextualização com a realidade angolana.
Dos resultados, foi observado que a implantação de resorts exige localizações
privilegiadas, proximidade com o mar, lagoas e rios, além de infra-estrutura de
apoio e acessibilidade, embora prefira um certo distanciamento de áreas
urbanizadas.
Observou-se ainda que, nos termos do regime jurídico dos empreendimentos
turísticos angolano, há cobertura legal para o processo de implementação de
resorts em Angola.
Entretanto, para além das leis, foram evidenciados, segundo autores, as
implicações negativas que o processo de implementação e exploração de resorts
podem ter nas comunidades locais, pelo que torna necessário um esforço
conjunto, tanto de agentes privados, comunidades locais como do poder público
ter formas de atenua-los.
Obrigado pela atenção!

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