Você está na página 1de 39

SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR

TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

TEMA 1.- TURISMO E SUSTENTABILIDADE.

Objectivo:
Conhecer e aprofundar nas relações conceituais e práticas entre turismo e sustentabilidade

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 1
1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES ......................................................................................................... 3
1.1 SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ....................................................... 3
1.2 TURISMO SUSTENTÁVEL ...................................................................................................... 6
1.3 ANÁLISE SWOT DO TURISMO SUSTENTÁVEL ........................................................................... 8
2. MODALIDADES DE TURISMO SUSTENTÁVEL ............................................................................... 10
2.1 OS TRÊS PILARES DA SUSTENTABILIDADE ............................................................................ 10
2.2 TIPOLOGIAS TURÍSTICAS SUSTENTÁVEIS ............................................................................. 11
2.2.1 Turismo Rural ............................................................................................................... 11
2.2.2 Turismo na Natureza ...................................................................................................... 12
2.2.3 Turismo Cultural ............................................................................................................ 15
2.2.4 Turismo de Aventura....................................................................................................... 18
2.2.5 Geoturismo .................................................................................................................. 20
2.2.6 Ecoturismo ................................................................................................................... 25
2.2.6.1 Origem do conceito .................................................................................................. 25
2.2.6.2 Caracterização do Ecoturismo ..................................................................................... 27
2.2.6.3 Efeitos da atividade turística em ambientes naturais .......................................................... 30
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................... 32
ANEXO 1 ................................................................................................................................ 35
África Scientia 3/4: Turismo Responsable en NAMIBIA y LESOTO....................................................... 35
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

INTRODUÇÃO

O turismo é uma actividade económica que tem crescido muito, como fenómeno social e como
factor de crescimento, a partir de meados do século XX, por diferentes rações. Mas é uma actividade
que já estava em desenvolvimento desde meados do século anterior, primeiramente na Inglaterra. O
turismo quando é comparado com outras actividades (industria, agricultura) é percebido, de forma geral,
como causador de menores impactos tanto à natureza como às pessoas. Contudo, quando o turismo
está mal planeado pode ser causador de importantes estragos nas paisagens naturais e culturais nas
áreas destino.

Nas décadas de 70 e 80 do século XX, houve um crescimento dos locais turísticos como nunca
antes tinha acontecido. Foi uma fase onde foram predominantes os excessos, acentuada por razoes
varias como o crescimento desordenado, falta de controlo e fiscalização, predomínio do concreto, etc.
Grandes extensões de espaços, anteriormente naturais ou agrícolas, ficaram transformados em
destinações turísticas, desabitadas fora da temporada de visitação. Algumas das consequências dessa
época foram segundo Bernaldez (1994 como citado por Bittencourt César, Stigliano, Raimundo, & Nucci,
2007), entre outras:
 Esgotamento de recursos naturais;
 Grande quantidade de construções descaracterizadas da paisagem original;
 Aumento da produção de lixo e esgoto;
 Alteração de ecossistemas naturais;
 Introdução de espécies exóticas (de fora dos espaços destino) tanto de animais como de
plantas;
 Produção de lembranças a partir de elementos naturais escassos;
 Aculturação, com perda de valores tradicionais;
 Aumento do custo de vida, gerando inflação;
 Incremento de fluxos migratórios para áreas de concentração turística;
 Conglomerados urbanos não planeados e aumento de concentrações de população em áreas
precárias (favelização).

Mas esse modelo turístico está se esgotando faz já um bom tempo, e novas formas de praticar o
turismo, respeitando a natureza, começarem a se consolidar desde finais dos anos 1990 e princípios do
presente século. As aspirações de sustentabilidade resultam das reflexões sobre o processo actual de
desenvolvimento social e econômico, conduzindo a novas formas de pensar, abordar e agir. O
reconhecimento e a valorização de temas tais como: os problemas sociais e ambientais, o aumento da

1
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

consciência ambiental, o respeito ao ambiente natural, o respeito às singularidades culturais, a relação


entre os seres humanos e a qualidade de vida, têm levado à discussão e à proposição do denominado
“desenvolvimento sustentável”. (Hanai, 2012)

Os princípios que se almejam para o Turismo Sustentável são aplicáveis e devem servir de
premissa para todos os tipos de turismo em quaisquer destinos (Brasil-Ministério do Turismo, 2010). A
transposição dos princípios norteadores de sustentabilidade, da teoria à prática, e a operacionalização
do conceito de desenvolvimento sustentável tem representado um grande desafio para as diversas áreas
de conhecimento, no sentido de implementar iniciativas e ações que gerem, simultaneamente, uma maior
equidade social, um nível elevado de conservação ambiental e uma maior racionalidade (eficiência)
econômica. As abordagens que resultam do interesse e da preocupação em conceber o turismo sob a
óptica do desenvolvimento sustentável, bem como os seus desdobramentos socioeconômico e
ambientais, sob a averiguação da sustentabilidade, vêm proporcionando inúmeras contribuições à
reflexão e ao debate a respeito do mérito, bem como os rumos que se apresentam para essa atividade.
(Hanai, 2012)

2
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES

1.1 SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

“O uso do termo sustentabilidade aparece, a partir da década de 70, como uma das palavras mais
em voga na sociedade. O termo encontra espaço em diversos ramos da sociedade e se espraia pelos
seus diversos segmentos sociais e setores político-económicos. Constantemente, depara-se com o uso
do termo sustentabilidade em comerciais de empresas, nas missões de organizações não-
governamentais, nas discussões acadêmicas, nos discursos de personalidades políticas e empresariais
de alcance mundial, assim como em fóruns internacionais. É possível, também, encontrar uma clara
correspondência entre a sustentabilidade e práticas que protegem o meio ambiente, que discutem o uso
de materiais e da produção industrial. Igualmente, verifica-se a correlação entre sustentabilidade e a
discussão do aprimoramento das humanas e sociais, com foco na diminuição da pobreza e da
marginalização. O termo ainda tem amplo espaço nas construções teóricas das ciências naturais. Mas,
afinal, o que é sustentabilidade?” (Costa, Weber, & Moutinho dos Santos, 2017).

Conforme consta na literatura a origem do termo sustentabilidade está no conceito de


"Nachhaltigkeit" do jurista alemão Hans Carlowitz, que em 1713 desenvolveu uma teoria sobre a
utilização ótima das florestas, que eram a principal fonte de energia da época. Nas sociedades pré-
industriais europeias o problema fundamental centrava-se sobre o uso intensivo dos bosques e
pastagens, tanto para fins energéticos (cocção de alimentos, metalurgia, etc.), quanto para produção de
alimentos. (Marquardt, 2006; Boff, 2013 como citado por Costa et al., 2017).

No entanto, a concepção de preservação da natureza local, necessária não só para si, mas
também para as gerações futuras, foi um dos núcleos de muitos direitos individuais anteriores ao conceito
alemão. Estima-se que, entre os anos 1000 e 1300, a Europa Central era um grande bosque e, em
apenas três séculos, este bosque foi substituído completamente por uma paisagem agrícola. Dentro
dessa perspectiva, o ápice da crise ambiental da Idade Média ocorreu entre os anos 1300 e 1350, e foi
culminado pela poluição atmosférica causada pelo uso do carvão, pela contaminação da água potável.
De acordo com Gimpel (1975, p. 82, como citado por Costa et al., 2017) “a palavra ‘poluição’ ainda não
existia, mas a linguagem da Idade Média nem por isso é menos expressiva: ‘A corrupção do rio é tão
grande que até os peixes morrem’”.

Contudo, nesse momento, houve uma grande diminuição populacional devido à epidemia de peste
negra, dizimando grande parte da população europeia e, assim, contribuindo para suavizar a crise
ambiental e agrícola que estava a se produzir. Assim, somente no final do século XIII e início do século
XIV que se encontraram registros de formulações de princípios da sustentabilidade. Esses princípios são
descritos nas leis da época e versavam sobre dois temas principais, vinculados diretamente ao uso de
3
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

energia, a exploração de lenha para cocção, construção de casas e a criação de animais para
alimentação (Costa et al., 2017):
 Em 1536, em decreto do Condado de Kyburg (Suiça) – foi estipulado que os agricultores não
podiam usar mais lenha e madeira do bosque local que o “necessário para viver... para que nossos
filhos e as seguintes gerações possam também desfrutar (do bosque)”;
 Na mesma linha que o anterior, no decreto de 1456, na comunidade de Bludnez (Áustria) sobre
os pastos “[...] para que nós possamos desfrutar, nossos herdeiros e os que vieram depois deles”.
 Na Eslovênia, em 1573, foi proibido dilapidar e destruir o bosque do qual todos subsistiam. Foi
garantido aos camponeses o direito de extrair madeira para suas necessidades, mas havia
proibição para livre remoção;
 Na Alemanha, uma lei de 1583 do Duke Júlio de Braunschweig, chamada de "Preparação de
floresta", tentava impedir a falta de madeira para a indústria extrativa (minas e salinas);
 No condado de Seisenburg (Áustria), em 1604, foi decretado que não se poderia vender a madeira
do bosque local, pois foi proibido ganhar dinheiro aos custos da comunidade. Adicionalmente,
foram implementadas normas contra o desperdício da madeira.

Segundo o Dicionário Integral de Língua Portuguesa (2010), o adjetivo sustentável significa “que
se pode sustentar”. Assim, a palavra sustentar procede do Latim sustentare, verbo que significa segurar
por baixo, suster, suportar ou impedir que caia. Mas o conceito de sustentabilidade, propriamente dito,
foi apresentado por Lester Brown, o fundador do Instituto Worldwatch1, apenas no início da década de
80, e nele definia-se a sociedade sustentável como aquela que seria capaz de satisfazer as suas
necessidades sem comprometer as hipóteses de sobrevivência das gerações futuras (Almeida & Abranja,
2009, p. 16).

Depois destes comentários, percebe-se que a sustentabilidade, implica o uso dos recursos, em
qualidade e em quantidade, de forma adequada e compatível com a sua capacidade de renovação, em
soluções económicas e ambientalmente viáveis, com vista a garantir qualidade de vida para todos no
presente e também no futuro.

Durante o período da revolução industrial, o conceito de sustentabilidade foi praticamente olvidado.


Afinal, a ciência ou a razão parecia ter vencido a natureza e a possibilidade de esgotar os seus recursos
indefinidamente. No entanto, “Esse conceito se manteve vivo nos círculos ligados à Silvicultura e fez-se

1O WWI-Worldwatch Institute, é uma organização não-governamental de ambiente fundada em 1974, sediado em Washington, destaca-se
na promoção de uma sociedade ambientalmente sustentável, onde as necessidades humanas sejam atendidas sem ameaças à saúde da
natureza. Os principais objetivos da missão do Instituto são o acesso universal a energia renovável e alimentos nutritivos, expansão de
empregos e desenvolvimento ambientalmente saudáveis, transformação de culturas de consumismo em sustentabilidade e um fim
prematuro do crescimento populacional por meio da reprodução saudável e intencional.
Fonte: http://www.worldwatch.org/
4
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

ouvir em 1970, quando se criou o Clube de Roma, cujo primeiro relatório foi sobre os limites do
crescimento (também conhecido como The Limits of Growth), que acarreou acaloradas discussões nos
meios científicos, empresas e na sociedade” (Boff, 2013, p. 34, como citado por Costa et al., 2017).

Em 1987, o Relatório Brundtland (intitulado Nosso Futuro Comum produzido pela ONU, Comissão
Mundial sobre o Ambiente e Desenvolvimento, UNCED) caracterizou um novo tipo de desenvolvimento,
denominado sustentável, como um processo que atende as necessidades das presentes gerações, sem
comprometer as das futuras, que foi a primeira referência objectiva sobre o conceito de desenvolvimento
sustentável. Mas, somente em 1992, na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento, também chamada de ECO-92 (ou Cúpula da Terra), o conceito de desenvolvimento
sustentável se consolidou com a publicação da Agenda XXI, que firmou o entendimento de que “todas
as nações têm a obrigação e o direito de perseguir a sustentabilidade do seu desenvolvimento” (Moutinho
dos Santos, 2004, p. 07, como citado por Costa et al., 2017).

Destaca-se ainda a última conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento,
ou World Summit on Sustainable Development (WSSD), também conhecida por RIO +10, ocorrida em
2002. Esta conferência procurou a adopção de metas quantificáveis para a implementação prática da
Agenda 21, tendo sido reforçados os três princípios da sustentabilidade: ambiental, social e económico
(WSSD, 2002). O documento resultante desta cimeira, a Declaração de Joanesburgo sobre o
desenvolvimento sustentável, comprova o compromisso das Nações Unidas e outras instituições com o
desenvolvimento sustentável, no sentido de construir uma sociedade mundial humanitária, equitativa e
consciente do respeito por todos os seres humanos.
Figura 1: Desenvolvimento Sustentável: Simbiose entre
Neste documento o turismo sustentável é definido como Economia, Ambiente e Sociedade.
uma das variáveis estratégicas para o desenvolvimento
sustentável (WSSD2, 2002, como citado por Oliveira,
2013).

O desenvolvimento sustentável está fortemente


associado à necessidade de gerir com visão de futuro os
recursos naturais e a qualidade ambiental, mas o seu
conceito é mais amplo e compreende três dimensões:
uma dimensão económica, social e ambiental (Figura 1).
Neste contexto trata-se de um novo modo de observar o
desenvolvimento nas suas múltiplas facetas,
Fonte: Almeida e Abranja, 2009.

2
WSSD (2002). Report of the World Summit on Sustainable Development. United Nations, Johannesburg. Disponível
em http://www.un-documents.net/aconf199-20.pdf. Acesso 19/02/2019.
5
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

constituindo-se como uma actuação transversal aos diferentes sectores de intervenção. Não é possível,
nem desejável, uma associação mais estreita às estratégias ambientais, económicas ou sociais. O
desenvolvimento sustentável apela, exactamente, para a imprescindibilidade de garantir uma articulação
sistémica (holística) entre as mesmas e apenas quando são considerados sistemicamente os factores
ambientais, sociais e económicos é possível o desenvolvimento sustentável (Almeida & Abranja, 2009).

1.2 TURISMO SUSTENTÁVEL

O turismo sustentável é uma expressão formada por turismo e sustentabilidade, que consiste em
direccionar suas acções à actividade turística na perspectiva de conservação e uso racional de recursos
por sua vez escassos e que não destrói o ambiente. O seu conceito não foge muito, se não igual ao do
desenvolvimento sustentável. De acordo com diferentes autores, Dias (2005, p. 107), em 1995, na ilha
de Lanzarote (Ilhas Canarias, Espanha), foi realizada a Conferência Mundial de Turismo Sustentável na
qual a OMT, define o desenvolvimento sustentável do turismo, como sendo um processo que busca
satisfazer às necessidades dos turistas e das regiões receptoras e ao mesmo tempo dispensar protecção
e impulsionar oportunidades futuras. (Oliveira, 2013, p. 22 como citado por Pinheiro, 2019, p. 18).

Assim, a OMT define turismo sustentável como “aquele ecologicamente suportável a longo prazo,
economicamente viável, assim como ética e socialmente equitativo para as comunidades locais,
mantendo a integridade cultural, os processos ecológicos essenciais, a diversidade biológica e os
sistemas de suporte de vida”. No conceito de turismo sustentável estão compreendidas questões não só
ambientais como também económicas e sociais. O turismo sustentável deve atender a todos os seus
impactes ambientais, económicos, sociais e culturais, aos positivos e mais ainda aos negativos, promover
a conservação dos espaços e dos seus valores naturais e culturais e estimular o desenvolvimento
socioeconómico das suas populações (Oliveira, 2013, 22-23).

O desenvolvimento sustentável do turismo pressupõe a adopção de estratégias políticas e


princípios de boas práticas, de forma a garantir a prossecução dos objectivos de um turismo sustentável.
A OMT definiu um conjunto de princípios que o desenvolvimento do turismo deverá seguir (UNEP &
WTO, 2005, p. 11):
 Uso eficiente de recursos naturais, pois eles constituem um elemento chave para o
desenvolvimento do turismo, devendo, por isso, ser mantidos os processos ecológicos essenciais
e assegurada a conservação do património natural e da biodiversidade;
 Respeitar a autenticidade sociocultural das comunidades locais, conservando o seu património
vivo e construído, bem como os seus valores tradicionais, e contribuindo para o diálogo
intercultural e a tolerância;
6
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

 Assegurar a viabilidade económica a longo prazo, garantindo que os benefícios socioeconómicos


são equitativamente distribuídos por todos os stakeholders, incluindo emprego estável,
oportunidade de negócio e serviços sociais às comunidades locais, contribuindo para a diminuição
da pobreza.

Em 1992 o Tourism Concern e o World Wildlife Fund (WWF) elaboraram os seguintes “Princípios
do Turismo Sustentável” (Partidário, 1999 como citado por Oliveira, 2013, 23):
1. Utilização sustentável dos recursos;
2. Redução do excesso de consumo e do desperdício;
3. Manutenção da diversidade;
4. Integração de um turismo planeado;
5. Suporte de economias locais;
6. Envolvimento das comunidades locais;
7. Consulta dos vários grupos de interesse, incluindo o público;
8. Formação de funcionários da indústria turística;
9. Marketing responsável do turismo;
10. Investigação.

Sachs (1993 como citado por Marujo e Carvalho, 2010) assegurava que o desenvolvimento
sustentável do turismo deveria ser implementado por meio de uma metodologia de planeamento “de
forma a ser um espaço de aprendizagem social e que possa reflectir uma síntese pedagógica”. Assim, o
turismo sustentável deveria estar fundamentado nos seguintes princípios:
 Sustentabilidade social: fundamentada no estabelecimento de um processo de desenvolvimento
que conduza a um padrão estável de crescimento, com uma redução das actuais diferenças
sociais;
 Sustentabilidade cultural: consolidada na necessidade de procurar soluções de âmbito local
através das potencialidades das culturas específicas, levando em consideração a identidade
cultural e o modo de vida local, bem como a participação da população nos processos de decisão
e na formulação de planos de desenvolvimento turístico;
 Sustentabilidade ecológica: apoiada na teoria de que o desenvolvimento turístico deve limitar o
consumo dos recursos naturais, e provocar poucos danos aos sistemas de sustentação da vida;
 Sustentabilidade económica: possibilitar o crescimento económico para as gerações actuais, bem
como o manuseamento responsável dos recursos naturais que deverão ter o papel de satisfazer
as necessidades das gerações futuras;
 Sustentabilidade espacial: baseada na distribuição geográfica mais equilibrada dos
assentamentos turísticos de forma a evitar exceder a capacidade de carga;

7
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

 Sustentabilidade política: alicerçada na negociação da diversidade de interesses envolvidos em


questões fundamentais que vão do âmbito local ao global.

Por tanto, o autor expõe para a sustentabilidade ser impulsionada o modelo de planeamento deve
recolher todas essas dimensões. É evidente que o conceito de desenvolvimento sustentável aplicado ao
turismo “funciona como uma estratégia saudável para a procura de uma integração entre uso turístico,
melhoria das condições de vida das comunidades locais e preservação do meio ambiente” (Marujo &
Carvalho, 2010, p. 151), ou seja, a integração das três dimensões clássicas da sustentabilidade: a
económica, a social e a ambiental.

1.3 ANÁLISE SWOT DO TURISMO SUSTENTÁVEL

Num artigo de 2017 (Koch, Junqueira, & dos Anjos) estabelecem as principais características
positivas e negativas do turismo sustentável como se observa no seguinte quadro:

Assim, alguns aspectos positivos do turismo sustentável são: a perspectiva holística, ao interligar
os diferentes sectores productivos com a dinamicidade do espaço geográfico alvo; planeamento
estratégico do desenvolvimento local no longo prazo quando tem em conta as gerações futuras e a
preservação dos recursos, e somado a este aspecto está outro aspecto positivo que é o embasamento
político-administrativo, pois o desenvolvimento sustentável do turismo está directamente ligado à política

Fonte: (Koch, Junqueira, & dos Anjos, 2017)

8
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

do governo em causa; por último, o reconhecimento das dinâmicas sociais, culturais, económicas,
ambientais, espaciais e políticas identificando as características locais para propor um planeamento
regional sustentável.

Entre as características negativas do turismo sustentável destacam: pouca preocupação pelos


interesses locais, porque o planeamento procede de um estudo político, da vontade do governo, que
geralmente não tem em conta as opiniões dos actores locais nem se aproxima da população para
identificar suas reivindicações e desejos; além disso, o debate sobre a sustentabilidade é muito utópico
e filosófico que dificulta sua implantação práctica, dessa feita há muita discussão para preservar e
conservar mas os caminhos para concretizar esses aspectos são obscuros e particulares em cada âmbito
local; O que impede, também, a aplicação do modelo de turismo sustentável é a sua complexidade em
interrelacionar diversos elementos por vezes contraditórios, como, por exemplo, promover o
desenvolvimento sem alterar as características essenciais do local (sem aculturação ou desapego da
comunidade local).

Porém, o turismo sustentável tem as suas oportunidades:


“A possibilidade de apresentar para o mercado turístico uma alternativa ao turismo de massa,
pois a proposta do turismo sustentável é melhorar a qualidade do turismo praticado pelos
visitantes. Dessa forma, o turismo sustentável obrigatoriamente controlará a capacidade de
carga das localidades e, consequentemente, a convivência será mais proveitosa. Ademais, os
destinos que planejam sustentavelmente o turismo tem uma aceitação melhor perante o
consumidor-turista internacional, o que pode tornar o destino reconhecido fora do país podendo
gerar mais investimentos em sua economia” (Koch, Junqueira, & dos Anjos, 2017, p. 49).
Mas a falta de engajamento comunitário devido ao facto de ser uma política de desenvolvimento
de cima para baixo (modelo top-down), a descaracterização da cultura local pela internacionalização do
destino (os processos de aculturação) e a descontinuidade política ao fim de cada mandato partidário
(quando há alternância política ou quando há imobilismo partidário e instala-se um acomodamento no
poder) pode ser uma séria ameaça ao desenvolvimento sustentável.

9
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

2. MODALIDADES DE TURISMO SUSTENTÁVEL

2.1 OS TRÊS PILARES DA SUSTENTABILIDADE

Uma questão que deve ficar esclarecida é que os princípios do turismo sustentável podem ser
aplicados a qualquer tipo ou forma de turismo, seja turismo de massas, ecoturismo, turismo cultural ou
turismo de natureza. Também podem ser aplicados a todos os sectores da indústria do turismo como
hotéis, agências de viagens, operadores turísticos, empresas de transportes, etc.

Para atingir a sustentabilidade o turismo deve estar assentado em três pilares, e não só na
sustentabilidade é ambiental, ou seja, numa sorte de equilíbrio entre a sustentabilidade económica, a
sustentabilidade ambiental e a sustentabilidade sociocultural. (Oliveira C. , 2013).

Os três pilares do Turismo Sustentável (adaptado de OMT, 1999 como citado em Oliveira,
2013)

Sustentabilidade Ambiental: O turismo afecta e depende ao mesmo tempo, da qualidade do


ambiente natural e cultural. O ambiente actua como produtor de bens turísticos mas também como
receptor de pressões que desafiam a sua capacidade potencial de oferecer oportunidades turísticas. A
sustentabilidade ambiental poderá ser alcançada se o desenvolvimento turístico for compatível com os
processos biológicos e com as características dos recursos ambientais existentes. A sustentabilidade
ambiental implica a conservação e gestão de recursos;

Sustentabilidade Económica: O desenvolvimento da actividade turística é importante para a


dinamização económica dos locais, das regiões e dos países. O turismo pode contribuir positivamente
para a criação de emprego e para a riqueza do país. Para além disso, pode assumir-se como motor da
actividade empresarial levando a um aumento das receitas, que poderão ser distribuídas de uma forma
mais equilibrada pela comunidade local. A sustentabilidade económica deve promover uma melhor
utilização dos recursos e uma gestão mais eficiente;

10
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Componente Social/Cultural: A sustentabilidade sociocultural implica o respeito dos direitos


humanos e a igualdade de oportunidades para todos os membros da sociedade. A sustentabilidade
sociocultural dedica-se principalmente às comunidades locais e só poderá ser alcançada se for
valorizado o património cultural e histórico e se forem preservados os costumes locais. É também
fundamental que os recursos sociais e culturais da comunidade sejam eles próprios os impulsionadores
do desenvolvimento, uma vez que a autenticidade e conservação desses valores contribuem para o êxito
da actividade turística (Almeida & Abranja, 2009).

2.2 TIPOLOGIAS TURÍSTICAS SUSTENTÁVEIS

Os princípios que se pretendem para o Turismo Sustentável são aplicáveis e devem servir de
premissa para todos os tipos de turismo em quaisquer destinos. Assim, apresentam-se aquí algumas
tipologias que ingressariam mais facilmente na conceituação de sustentáveis.

2.2.1 Turismo Rural

De alguma forma, o turismo precisa desconcentrar-se e diversificar-se, aproveitando o potencial


das regiões e configurando produtos turísticos alternativos, o sucesso da actividade turística prende-se
de perto com os recursos locais. Esta perspectiva fundamenta-se no paradigma do desenvolvimento
endógeno, que surgiu no final dos anos 70/início dos anos 80 do século passado como uma reacção aos
modelos e às políticas regionais tradicionais. De facto, a política regional tradicional, assente numa
estratégia de “cima para baixo”, vai sendo progressivamente substituída, como refere Barquero (1995,
como citado por Ribeiro & Vareiro, 2007), por uma orientação de “baixo para cima”, que procura
ultrapassar os desequilíbrios regionais através do apelo não só a factores externos mas, também, aos
recursos próprios dos territórios.

O sucesso de uma região dependerá, em última análise, da sua capacidade de chamar a si a


resolução dos seus problemas, de organizar vários agentes em torno de objectivos comuns, e de adaptar-
se e ajustarse com sucesso às pressões externas. As fontes de desenvolvimento residem, deste modo,
na própria população, no seu sentido de comunidade e, talvez mais importante que tudo, no seu espírito
de inovação e iniciativa.

Para que a endogeneização do desenvolvimento ocorra, será necessário que se verifiquem, em


simultâneo, como salienta Baptista (1997, como citado por Ribeiro & Vareiro, 2007), três condições:
 haver alguém com vontade e capacidade para organizar os meios de produção, isto é, haver
alguém com um projecto;

11
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

 existirem condições materiais e institucionais que permitam concretizá-lo;


 e haver capacidade organizativa que garanta a competitividade no mercado.

O desenvolvimento do Turismo no Espaço Rural não pode, assim, ser considerado acidental ou
temporário. É, antes, o resultado da evolução do modelo de sociedade. Na realidade, aspectos como a
qualidade ambiental, a tranquilidade, o contacto com a natureza, assim como a preferência por períodos
de férias mais curtos, são factores que incrementaram o interesse do turista pelos espaços rurais. Por
outro lado, um importante volume de investimento, na Europa propiciado fundamentalmente pelas ajudas
da União Europeia, favoreceu a entrada no mercado de uma ampla e heterogénea oferta, que de algum
modo reflecte também a importância crescente desta modalidade de turismo (Ribeiro & Vareiro, 2007).

Como já ocorre em outros países, o Turismo Rural em Angola pode criar novas fontes de trabalho,
além de resultar em complemento econômico das atividades agropecuárias e artesanais desenvolvidas
pela produção rural. Pode, ainda, favorecer a integração da população urbana no meio rural com vistas
ao enriquecimento humano, à medida que aumenta os intercâmbios e contatos socioculturais em geral.
Serve como instrumento de manutenção, revitalização e valorização do patrimônio arquitetónico,
contribuindo para o respeito e a proteção do patrimônio natural e cultural.

A atividade denominada Turismo Rural deve abranger, desde o ponto de vista conceptual,
aspectos referentes ao turismo no meio rural, ao resgate e valorização da cultura local, à função de
atividade econômica de base familiar e complementar às tradicionais, ou com estas comprometidas, com
o mínimo impacto ambiental possível, objetivando a sustentabilidade. O Turismo rural vem ganhando
força, pois faz com que passe a gerar possibilidades de crescimento neste meio, diminuindo assim, o
êxodo rural e o crescimento das cidades devido a esse fenómeno. Também a busca de um maior contato
com a terra, o processo de colheita e plantação e a tranquilidade do meio rural, promovem ao turista esse
retorno às origens, pois o estresse do dia-a-dia nas grandes cidades, favorece a procura por locais mais
calmos, onde poder descansar do desgaste diário.

2.2.2 Turismo na Natureza

Todas as modalidades de turismo, em especial o turismo de natureza, devem abraçar os princípios


da sustentabilidade para o desenvolvimento e gestão das áreas de destino turístico, a autenticidade
sociocultural das comunidades de acolhimento e a participação de todos os agentes. O turismo de
natureza está diretamente relacionado com o desenvolvimento e o turismo sustentável, e praticamente
se refere aos habitats naturais e sua biodiversidade, onde parques naturais, reservas protegidas,
ecoturismo, áreas rurais, agro-turismo e envolvimento da população pertencente a determinada área de
implantação turística.
12
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

A importância desse turismo começa a ser percebida nos riscos que a indústria do turismo tem
acarretado, e não é mais considerada uma indústria branca, devido aos impactos sociais, culturais e
ecológicos. As críticas foram decididas na década de setenta do século XX, e somente na década
seguinte é que a conceituação do turismo como portador de graves riscos para a sociedade começou a
se transformar.

Com o turismo de natureza surge o ecoturismo, que contribui para a conservação do meio
ambiente e de sua população e, embora não haja uma definição compartilhada, pelo menos quatro ideias
básicas são acordadas: 1) viajar para ambientes naturais virgens, 2) internalizar a experiência obtida em
ambientes puramente naturais e em contato com a população local, 3) promover a conservação dos
recursos naturais e 4) educar sobre os valores ambientais e culturais dos locais visitados. O ecoturista é
um viajante que desfruta dos seus momentos de lazer com um sentido ético que o motiva a participar em
trabalhos de reabilitação em locais degradados e a ajudar em tarefas de desenvolvimento das
populações locais.

O Worldwatch Institute (Chafe, 2005 como citado em Martinez Quintana, 2017) distingue oito
categorias de turismo semelhantes baseadas na natureza e no meio ambiente, tais como turismo de
aventura, ecoturismo, geoturismo, turismo de massa (mar, areia, sol), turismo baseado na natureza,
turismo pró-pobre, turismo responsável e turismo sustentável:
 O termo ecoturismo e todas as suas implicações dizem respeito basicamente à conservação da
natureza e dos recursos naturais, e é uma palavra que é usada internacionalmente para explicar
o turismo de natureza. O termo é usado principalmente na esfera americana, e é menos frequente
no resto dos mercados. As férias de ecoturismo incluem férias para caminhadas, férias para
observação de pássaros, caminhadas nas montanhas, caminhadas na floresta tropical e safaris.
Inclui estadias de até um dia e abrange também o período de férias temporárias para desfrutar de
áreas de notável beleza natural;
 O turismo rural é uma definição muito debatida e questionada, e está inserida numa atividade
turística que se desenvolve no meio rural, cuja principal motivação é a procura de atrativos
turísticos associados ao descanso, paisagem, cultura tradicional e fuga da superlotação. Nesse
sentido, a oferta turística é o conjunto de alojamentos, equipamentos, estruturas de lazer e
recursos naturais e arquitetónicos existentes em áreas de economia predominantemente agrícola;
 Nas últimas correntes do século XXI, o turismo alternativo surge como uma definição mais
adequada que engloba aquelas viagens que têm por finalidade atividades recreativas em contacto
direto com a natureza e com expressões culturais que dizem respeito ao conhecimento, fruição e
conservação dos recursos naturais e culturais. É também um turismo responsável, justo e

13
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

solidário, com baixo impacto ambiental e cultural, que se ramifica entre o ecoturismo, o turismo de
aventura e o turismo rural.

Todo o setor turístico está diretamente envolvido com a problemática ambiental, sociocultural e
econômica. Mas nem todas as ações de transformação e introdução de atividades produzem impactos
negativos, uma vez que o turismo, em muitas áreas, tem dado uma importante contribuição para a
conservação da biodiversidade. A International Ecotourism Society (TIES) indica em seus relatórios que
há 109 países com recifes de coral; Em 90 deles, os recifes são danificados por âncoras de
transatlânticos e esgoto, por turistas quebrando pedaços de coral e por safras comerciais para vender
aos turistas. Na Dominica e em outras ilhas do Caribe, os turistas que usam pequenos hotéis naturais
gastam 18 vezes mais do que os passageiros dos navios de cruzeiro quando visitam a ilha. E enquanto
80% do dinheiro gasto em pacotes com tudo incluído vai para companhias aéreas, hotéis e outras
empresas internacionais, os chamados Eco-hotéis alugam e compram localmente e às vezes contribuem
com até 95% do dinheiro para a economia (Matínez Quintana, 2017).

O perfil do ecoturista na Europa mostra um viajante experiente, de alto nível de renda, já maduro,
que informa seus amigos sobre suas viagens, e costuma ser a fonte mais importante de informações
turísticas. Em nível global, são identificados alguns locais classificados como turismo ecológico como as
Ilhas Galápagos (Equador), o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (Brasil), a Reserva
Biológica Privada da Floresta Nublada de Monteverde (Costa Rica), a Reserva Biológica Privada da
Organização para Estudos Tropicais (Costa Rica), do Parque Nacional Kruger (África do Sul), do Parque
da Reserva Maasai Mara (Quênia) e do Parque Nacional Turuepano (Venezuela). Todos eles atraem um
número significativo de turistas e estão sujeitos a impactos negativos inevitáveis.

Para as comunidades locais pobres, o ecoturismo representa uma saída fundamental para as
possibilidades limitadas de seu modo de vida e favorece a manutenção e a saída do ciclo da pobreza.
Da mesma forma, o manejo e a proteção dos ecossistemas mundiais são essenciais, para que não sejam
vítimas do desmatamento, da agricultura excessiva e do urbanismo em massa. A organização UK
Tourism Concern monitora e exige campanhas de organizações em países de destino, que aplicam o
ecoturismo e têm um impacto negativo sobre o meio ambiente, as pessoas e as culturas.

Para que o ecoturismo funcione é necessário que além de providenciar boas medidas de
conservação, a comunidade tenha possibilidades significativas de participação, como é o caso da
Namíbia, um país cujo turismo é baseado na comunidade e em safaris, e possui uma grande diversidade
de grupos étnicos que se envolveram no turismo. Aqui, acampamentos apoiados por iniciativas públicas
e privadas foram estabelecidos. A Namibian Community Based Tourism Association representa e
promove vinte e um acampamentos comunitários, museus e empresas de turismo. Os benefícios do
14
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

turismo são divididos entre as comunidades e o turismo é administrado por eles para seu benefício
(Matínez Quintana, 2017).

Quanto à motivação para praticar o turismo na Natureza, temos dois casos:


 Um levantamento efectuado no Parque Nacional de Gorongosa (Moçambique) em 2009 concluiu
que a maioria dos visitantes vai ao parque motivado pelo safari fotográfico, e outros motivos
destacados foram: prática de actividades na Serra da Gorongosa (observação de pássaros ou
ornitofilia, escalar o cume da serra Gogogo, e visitar as famosas cascatas do rio Murombozi), mera
curiosidade de conhecer o parque ou excursões para apreciar o pôr-do-sol no Rio bué-Maria
(Belchior, 2017);
 No caso do Parque Nacional da Quissama, no ano 2019, numa monografia (Pinheiro, 2019) o
autor concluiu que a motivação mais destacada é a contemplação da natureza, da fauna e da flora,
sendo a educação ambiental a motivação com menor aderência entre os inquiridos nessa
pesquisa. Também, foram assinaladas algumas das actividades que mais desejariam realizar
esses visitantes do parque, destacando entre as actividades terrestres os passeios em veículo
safari, as caminhadas e os passeios a cavalo; entre as actividades aéreas os passeis em balão de
ar quente; e entre as aquáticas estão os passeios de barco, de canoa ou de jangada.

2.2.3 Turismo Cultural

A cultura, segundo Afonso (2003 como citado por Carneiro, Oliveira, & Carvalho, 2010), figura
como atrativo significativo para os turistas, especialmente para aqueles que buscam na apreciação do
outro, um diferencial em relação às suas vivências habituais. Nesse contexto, conhecer a herança cultural
reelaborada na cotidianidade de povos e comunidades específicos, através de suas diversas formas de
representações, constitui-se um viés integrador. O interesse pela cultura sempre fez parte de uma
necessidade humana, encontrando nas diversas formas de turismo um importante instrumento de
legitimação.

De acordo Köhler e Durand (2007 como citado por Carneiro et al, 2010), a partir da década de 80
o tema “turismo cultural” passou a estar presente na literatura turística, estes autores dividem os
conceitos em dois grupos, aqueles que analisam o turismo a partir da demanda e os que focalizam
aspectos da oferta:
 As definições a partir da demanda apresentam o turismo cultural sob o foco das motivações,
percepções e experiências pessoais;
 As definições a partir da oferta baseiam-se no desfrute turístico de equipamentos e atrações
previamente classificados como culturais e aptas ao consumo do fluxo turístico. Os conceitos
15
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

voltados para a oferta são de fácil aplicação porque auxiliam a elaboração de políticas públicas e
a operacionalização da atividade.

A utilização de conceitos voltados para a oferta não devem inviabilizar as motivações que a
demanda leva, pois os turistas possuem como principal motivação o desejo de entrar em contato com
outras culturas, visitando e desfrutando os elementos representativos do patrimônio de uma determinada
comunidade (conjuntos arquitetónicos, sítios arqueológicos, danças típicas, religiosidade, gastronomia,
o artesanato, a musicalidade, performances artísticas). Neste sentido, deve-se levar em consideração de
facto a motivação, pois determinados turistas podem visitar atrações culturais como atividades opcionais
em roteiros ou em momentos cuja motivação principal seja outra (negócios, ecoturismo, entre outros)
(Carneiro et al, 2010).

O turismo como prática econômica precisa, no entanto, encontrar formas mais respeitosas de se
inserir no cotidiano das comunidades acolhedoras dos visitantes/turistas. É fundamental que os
investimentos sejam adequados à vocação do lugar, possibilitando à população participar e usufruir dos
benefícios da actividade turística. O turismo cultural deve ser entendido como uma atividade capaz de
agregar valor aos bens culturais e, nesse contexto, a interpretação do patrimônio aliada a outras técnicas
de educação ambiental têm diversificado as oportunidades de conhecimento da cultura local tanto por
parte dos visitantes, como por parte da comunidade, além de possibilitar a inserção social em áreas de
interesse turístico (Carneiro et al, 2010).

Lucas (2000 como citado por Carneiro et al, 2010), ao citar os princípios do turismo cultural
estabelece algumas diretrizes necessárias para a formatação e gerenciamento da oferta turística
baseada no legado cultural:

a) Autenticidade e qualidade: contar a verdadeira história do lugar; a história distingue um lugar do


outro; agrega valor e qualidade ao produto cultural, tornando-o mais atraente ao turista cultural; os
profissionais envolvidos devem conhecer bem as características culturais e patrimoniais e as
especificidades locais, para entender a demanda segmentada; os visitantes têm interesse de
descobrir a trama humana e social que permeia a história local e não apenas nomes e datas;
interpretações inteligentes e verdadeiras são fundamentais;
b) Encontrar o equilíbrio entre a comunidade e o turismo cultural: as circunstâncias locais determinam
o que pode ser feito em turismo cultural; os programas elaborados devem considerar os recursos
e características que os autóctones dispõem e desejam com partilhar. Existência de produtos
formatados e temáticos;
c) Visão comunitária: definir a identidade da comunidade, “o jeito de ser” característico da localidade,
como parte de seu patrimônio, bem como de seu estilo de vida; elaborar descrição da comunidade
16
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

(a história das contribuições genuínas das gerações passadas e presentes desperta o interesse
das pessoas).

A partir dessas afirmações, observa-se que o aproveitamento do patrimônio cultural pela


actividade turística deve considerar os elementos definidores da cultura sob o olhar da comunidade (visão
endógena), incrementando a oferta local com roteiros, serviços e produtos que elevem a vivência dos
turistas no destino, além de enfatizar o protagonismo da comunidade em áreas de interesse turístico.
Nesses casos, a adoção de um novo modelo de planeamento e gestão no turismo emerge como
alternativa para amainar os impactos negativos decorrentes do processo de massificação dessa atividade
no meio ambiente natural e urbano, além de considerar as interferências na dinâmica sociocultural das
comunidades receptoras. (Carneiro et al, 2010).

Mário Beni (1998 como citado em Carneiro et al, 2010) afirma que existem várias interpretações
para o turismo sustentável, dentre elas o desenvolvimento econômico ecologicamente sustentável, onde
nesta interpretação, a sustentabilidade é definida como a totalidade do sistema ser humano/ meio
ambiente (incluindo recursos naturais e culturais), na qual as dimensões culturais, naturais, econômicas
e sociais teriam igual importância. As políticas de turismo devem estar integradas nas políticas
econômicas, sociais, culturais e ambientais, mas sem as preceder. Esta interpretação constitui uma
abordagem mais equilibrada e integrada, mais próxima do pensamento contemporâneo sobre o turismo.
Vale ressaltar que o conceito de sustentabilidade encontra, ainda, barreiras operacionais, dentre as quais
se destaca a dificuldade em medir as perdas e ganhos da operacionalização, ou seja, a inexistência de
uma metodologia que avalie se um destino ou atividade é realmente sustentável. Apesar de não existir,
atualmente, uma metodologia para a operacionalização da sustentabilidade no turismo cultural, esta
atividade pode ser desenvolvida seguindo alguns parâmetros dos ideais sustentáveis.

Assim, o envolvimento da comunidade torna-se premissa essencial na implementação de


propostas e de modelos de desenvolvimento do turismo cultural. A ampliação do conceito de
sustentabilidade pressupõe uma visão holística e sistêmica do turismo, com as comunidades
estabelecendo mecanismos de controlo da capacidade de carga social, monitoramento e avaliação das
atividades desenvolvidas. O planeamento sustentável do turismo deve privilegiar o atendimento
satisfatório das expectativas da população residente, no intuito de possibilitar sua participação em
projetos integrados de revigoramento da cultura local. Tal iniciativa consiste também em garantir a
qualidade dos produtos e serviços oferecidos aos visitantes, aumentando o seu nível de competitividade
e promovendo a hospitalidade no destino turístico. Desta maneira, o turismo se incorpora como um
componente da qualidade de vida do ser humano, atividade essencial de aproximação dos povos e
superação das barreiras raciais e étnicas existentes (Carneiro, Oliveira, & Carvalho, 2010).
17
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

2.2.4 Turismo de Aventura

O significado de aventura varia de indivíduo para o outro, consequentemente de turista para turista,
a aventura deve incluir a liberdade de escolha. As actividades de aventura devem incluir às sensações
de risco, incerteza, perigo e novidade ou singularidade, em contraste com emoções como desafio,
excitação, estímulo e a fuga ao rotineiro. Assim, o turismo de aventura compreende a comercialização
de produtos que proporcionam ao turista a oportunidade de fazerem parte de actividades mais excitantes
do que contemplativas, sendo o ambiente encarado sobretudo como um recurso para a actividades do
que propriamente uma paisagem (Bucley, 2006 como citado em Belchior, s.d.).

O turismo de aventura as vezes é confundido com outros segmentos, é o caso do ecoturismo, os


termos ecoturismo, turismo de aventura, desportes de aventura, desportes radicais e outros são
sinônimos, porém, pesquisadores do tema e a prática de tais desportes levam a uma diferença bem
marcada e necessária entre eles. Longe de um purismo acadêmico, o uso pouco preciso destes termos
pode ajudar a vender pacotes de turismo, mas, também, leva a equívocos sérios com reflexos no turismo,
nos desportes e para toda a sociedade (Oliveira, Matheus, Santos, & Bressan, 2010). Uma autora, Isabel
Albuquerque (2004, p. 56), ao definir os tipos de ecoturismo inclui “ecoturismo de aventura”, onde atribui
actividades como Trekking, montanhismo, expedições, contatos com culturas remotas, escalada,
canoagem, rafting, bóia cross, rapel, Surf, voo livre, etc.

Segundo Costa (2002 como citado em Belchior, s.d.) um conceito muito divulgado no Brasil diz
que “turismo de aventura é um segmento do mercado turístico que promove a prática de actividades
naturais e espaços urbanos ao ar livre, que envolvam emoções e riscos controlados, exigindo o uso de
técnicas e equipamentos específicos, a adoção de procedimentos para garantir a segurança pessoal e
de terceiros e o respeito ao património ambiental e sociocultural”.

No texto das normas técnicas, atividades do turismo de aventura estão definidas da seguinte
forma: “Aquelas oferecidas comercialmente, usualmente adaptadas das atividades de aventura, que
tenham ao mesmo tempo o caráter recreativo e envolvam riscos avaliados, controlados e assumidos”
(NBR15397, 2006 como citado em Oliveira et al 2010). As actividades de aventura que fornecem as
técnicas para a práctica do turismo foram definidos dois grupos de desportes:
 Desportes de aventura: “Compreende o conjunto de práticas esportivas formais e não formais,
vivenciadas em interação com a natureza, a partir de sensações e de emoções, sob condições de
incerteza em relação ao meio e de risco calculado. Realizadas em ambientes naturais (ar, água,
neve, gelo e terra), como exploração das possibilidades da condição humana, em resposta aos
desafios desses ambientes, quer seja em manifestações educacionais, de lazer e de rendimento,
18
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

sob controlo das condições de uso dos equipamentos, da formação de recursos humanos e
comprometidas com a sustentabilidade socio ambiental”;
 Desportes radicais: “Compreende o conjunto de práticas esportivas formais e não formais,
vivenciadas a partir de sensações e de emoções, sob condições de risco calculado. Desenvolvidas
em ambientes controlados, podendo ser artificiais, quer seja em manifestações educacionais, de
lazer e de rendimento, sob controlo das condições de uso dos equipamentos, da formação de
recursos humanos e comprometidas com a sustentabilidade socio ambiental”.

Assim, um aspecto importante do turismo de aventura é o relacionado ao risco, um risco controlado


que é assumido pelo turista”. Ao categorizarem os tipos de aventura, baseado nos riscos a elas
associadas e os conhecimentos necessários para a minimização do impacto dos mesmos, alguns autores
(Hill,1995; Addison, 1999; e Millington, 2001 como citado em Belchior, s.d.), dividiram a aventura em dois
(2) grupos:
 Soft aventura: referente a actividades onde se reconhece a existência do risco, mas onde o risco
real é limitado, recorrendo desse modo uma mínima apropriação de competências. Por norma são
actividades lideradas por técnicos credenciados;
 Hard aventura: em contraposição da anterior, este tipo de aventura engloba actividades com uma
elevada componente de risco, requerendo por isso elevadas competências e um programa de
treinos exigente.

Embora que Costa (2002 como citado em Belchior, s.d.) expõe as principais modalidades do
turismo de aventura separadas pelos 3 principais ambientes da natureza, nomeada terra, água e ar:
 Terra: espeleologia, excursionismo, caminhadas, corridas de aventura, rallies, bungjump, rope
swing, cavalgada, orientação – caminhada ou corrida, canionismo – rapel, tirolesa, montanhismo,
ciclismo, mountain-bike – cicloturismo, off-road, arborismo, motocross e sand board;
 Ar: pára-quedismo; sky-surf, base jump, asa-delta, parapente, balonismo e ultraleve;
 Água: caiaque, surfe, mergulho, vela, acqua-rider, bóia-cross, rafting, outrigger, canoa, windsurf,
body board, waveski.

Na Europa os maiores emissores de turistas aventureiros no mercado internacional são a


Alemanha, o Reino Unido, França e Itália, e de uma forma decrescente outros países que destacam
também são Escandinávia e Holanda, Espanha, Suíça e Bélgica e Áustria. Quanto aos mercados
receptores, destaque vai também para o América do Norte, sobretudo Estados Unidos da América e
Canadá, a Europa e a Austrália e Nova Zelândia. De acordo com as previsões da OMT, prevê-se que
até 2020, esse segmento movimentará 14% das viagens internacionais, contribuindo com cerca de 60
milhões de turistas (Belchior, s.d.).
19
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

O perfil dos turistas que practicam esta modalidade tem uma postura favorável à proteção do meio
ambiente o que se reflete no seu comportamento. Ele respeita as condições naturais do lugar e
geralmente existe o desejo de contribuir de alguma forma para a conservação do ecossistema visitado.
Na maioria dos casos são pessoas adultas ou de 3ª idade, mas também adolescentes e crianças
integrantes de grupos familiares ou escolares. Possuem espírito de aventura e são pessoas muitos
curiosas que desejam adquirir novas experiências de vida e, também, compartilhá-las com as pessoas
do seu convívio social.

Também, faz parte da expectativa dos aventureiros, experimentar vários níveis de riscos, e
excitação, numa clara situação de autoavaliação dos limites físicos e psicológicos. Os turistas que
procuram esse tipo de turismo, geralmente são mais experientes, independentes e flexíveis; procuram
diversão e vão em busca de novas experiências, são movidos pelo desejo de preencher activamente os
seus tempos livres, são espontâneos e gostam de correr riscos e sobretudo por um desejo de evasão ou
fuga ao conhecido (Belchior, s.d.).

Tanto o turismo alternativo, o ecoturismo como o turismo de aventura apresentam muitas


semelhanças, representando todos eles um conjunto de interesses que emergem de preocupações de
ordem ambiental, económica e social, ou seja, sustentáveis. Assim sendo, todas essas modalidades
constituem componentes essenciais de um desenvolvimento sustentável, requerendo uma abordagem
multidisciplinar, um planeamento cuidadoso e um gerenciamento esmerado.

2.2.5 Geoturismo

Antes de definir o conceito de Geoturismo vamos a entender alguns outros conceitos relacionados
como são geodiversidade, geossítios, geopatrimónio e geoconservação (Nascimento, Mansur, & Moreira,
2015):

 Geodiversidade: De maneira genérica, a geodiversidade representa os aspectos inanimados do


Planeta Terra, não apenas aqueles ligados ao passado geológico como os minerais, as rochas e
os fósseis, mas também os processos naturais, que ocorrem atualmente. Sharples (2002 como
citado em Nascimento et al, 2015) definiu geodiversidade como “a diversidade de características,
conjuntos, sistemas e processos geológicos (substrato), geomorfológicos (formas de paisagem) e
do solo”; Para a Royal Society for Nature Conservation do Reino Unido, geodiversidade pode ser
descrita como “A variedade de ambientes geológicos, fenômenos e processos ativos que dão
origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o
suporte para a vida na Terra”.

20
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

A geodiversidade apresenta um paralelo com a biodiversidade, pois enquanto esta é constituída


por todos os seres vivos do planeta e é consequência da evolução biológica ao longo do tempo, a
geodiversidade é formada por todo o arcabouço terrestre que sustenta a vida. É resultado da lenta
evolução da Terra, desde o seu surgimento, portanto a 4,6 bilhões de anos. A diversidade
geológica é uma das variáveis essenciais para a diversidade biológica. Ambas são responsáveis
pela evolução do planeta;
 Geossítios: na realidade é a ocorrência de um ou mais elementos da geodiversidade (afloramentos
quer por resultado da ação de processos naturais, quer devido à intervenção do homem), bem
delimitado geograficamente e que apresenta valor singular do ponto de vista científico, educativo,
cultural, turístico ou outro. Os geólogos, são os profissionais que, podem definir quais os
elementos da geodiversidade que possuem este valor especial. Além disso, um geossítio não só
deve possuir os requisitos de relevância científica, estética, raridade, etc., também deve possuir
territórios grandes ou suficiente para o desenvolvimento de actividades económicas que
promovam o desenvolvimento sustentável das comunidades envolvidas;
 Geopatrimónio: o conceito de patrimônio é muito amplo e está associado a uma herança comum,
que tem importância para uma dada região, um dado país ou mesmo para toda a humanidade. A
palavra “patrimônio” e a noção de patrimônio como “herança” vêm sendo progressivamente
adotada por várias áreas do conhecimento; por exemplo, patrimônio genético, biológico, religioso,
arquitetónico, geológico, dentre outros. Os bens culturais e naturais, saberes e modos de fazer
pertencem a todos e, portanto, devem ser cuidados para que não se percam. Possuem valor para
as sociedades.
Fazendo parte do patrimônio natural, existe o patrimônio geológico, este constituído pelos
geossítios (sítios geológicos), que registram a memória da história da Terra, num período que
alcança milhares, milhões e até bilhões de anos e que incluem (a) afloramentos de rochas; (b)
minerais; (c) fósseis; (d) conjuntos de valor paisagístico: serras, montanhas, picos, vales; e (e)
coleções de museus de geociências ou de história natural. Patrimônio geológico é apenas uma
pequena parcela da geodiversidade, que apresenta características especiais e, por conseguinte,
merece/necessita ser conservado. Por exemplo, não se pretende conservar todos os afloramentos
de fósseis do mundo, mas apenas aqueles que apresentam um grande valor científico e educativo,
são estes que podem ser chamados de “geossítios” e que, no seu conjunto, constituem o
patrimônio geológico.
Assim, o patrimônio geológico é definido como “o conjunto de geossítios inventariados,
caracterizados e bem delimitados geograficamente, em uma dada área ou região, onde ocorrem

21
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

um ou mais elementos da geodiversidade com elevado valor científico, pedagógico, cultural,


turístico e outro” (Brilha, 2005 como citado em Nascimento et al, 2015);
 Geoconservação: tem como objetivo proteger a geodiversidade relacionada aos importantes
processos e feições geológicas (substrato), geomorfológicas (paisagem) e de solos, garantindo a
manutenção da história de sua evolução em termos de velocidade e magnitude, incluindo na
definição a gestão do patrimônio geológico e dos processos naturais associados. Geoconservação
é um termo moderno para designar as intenções e atividades desenvolvidas para conservar e
proteger formas e processos geológicos para benefício das futuras gerações. De uma maneira
mais ampla, o termo Geoconservação tem sido usado para abarcar as diversas atividades
relacionadas à proteção do patrimônio geológico, desde as ações de levantamento básico até as
práticas de gestão.

O conceito de Geoturismo, basicamente, “é entendido como uma forma de turismo em que o objeto
de interesse principal é a paisagem e a geologia, ou uma forma de ecoturismo” (Timčák & Jablonská,
2013, p. 18). Para desenvolver o Geoturismo é necessário ter uma localidade ou área de interesse e, em
seguida, as condições e serviços relacionados (desenho da trilha, marcação e gestão, medidas de
proteção ambiental implementadas, instalações de hospedagem e alimentação, recursos humanos
disponíveis para serviços auxiliares e programas, apoio do governo local e da comunidade, etc.).

Geoturismo, segundo Dowling e Newsome (2018, p. 1), é o turismo baseado em características


geológicas. Com o tempo, tem sido descrito de várias maneiras como um tipo de turismo de orientação
"geológica" ou geográfica ". Enquanto a primeira visão era que o Geoturismo era um "tipo" de turismo
em uma veia semelhante ao ecoturismo, a última visão era mais ampla e abrangia-o, representando
assim uma nova "abordagem" do turismo. Há mais de uma década, que estes autores defendem a visão
anterior de que o Geoturismo é uma forma de nicho de turismo em área natural com base na geologia e
na paisagem.

A definição de Geoturismo havia-se expandido para abranger uma série de atributos - geologia,
turismo, geossítios, visitas e interpretação. A parte 'geo' ou geologia do Geoturismo inclui características
ou atributos geológicos considerados dignos de interesse turístico. A parte "turismo" se refere à
conversão de características ou atributos geológicos em recursos turísticos como atrações "geo" ou
passeios, muitas vezes em "geossítios" designados. Esses elementos foram combinados com aqueles
centrais para o turismo, ou seja, atrativos geológicos, na forma de geossítios, passeios geológicos,
Geoturismo juntamente com informações geológicas apresentando geopatrimónios específicos (Dowling
& Newsome, 2018).

22
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

A primeira definição publicada de Geoturismo (a versão “geológica”), como turismo baseado na


geologia, definiu-o como o fornecimento de instalações interpretativas e de serviço para permitir que os
turistas adquiram conhecimento e compreensão da geologia e geomorfologia de um local (incluindo sua
contribuição para o desenvolvimento das Ciências da Terra) além do nível de mera apreciação estética.
O Geoturismo também foi descrito como uma forma de nicho de turismo em área natural que se concentra
em geossítios que variam de pequenos locais, como um afloramento rochoso ou leito de fóssil, a grandes
formas de relevo ou paisagens (Dowling & Newsome, 2018, p. 2).

Nas décadas de 1990 e 2000, o Geoturismo estava sendo caracterizado na Inglaterra e na


Austrália por pesquisadores acadêmicos como um turismo essencialmente "geológico". No entanto, nos
Estados Unidos da América, a National Geographic Society estava assumindo uma postura "geográfica"
mais ampla. Em pesquisa realizada pela Travel Industry Association of America para a National
Geographic Society, uma definição mais ampla de Geoturismo foi exposta e argumentou que havia
identificado pelo menos 55,1 milhões de americanos que poderiam ser classificados como "turistas
sustentáveis" ou "geoturistas". O Geoturismo foi definido como o fornecimento de experiências de viagem
culturalmente autênticas que protegem e preservam o ambiente ecológico e cultural (Dowling &
Newsome, 2018, pp. 3-4).

A visão deles era que o Geoturismo abrangia uma área de abrangência mais ampla do que apenas
seu componente geológico, ou seja, incluía uma gama de formas de nicho de turismo, como turismo
cultural e ecoturismo. Afirmou que "Geoturismo é definido como o turismo que sustenta ou valoriza o
caráter geográfico de um lugar - seu ambiente, cultura, estética, patrimônio e o bem-estar de seus
residentes" (National Geographic, s.d.). Aqui, o termo ambiente foi considerado como incluindo geologia,
embora isso não tenha sido declarado explicitamente. A definição da National Geographic incorporou o
conceito de turismo sustentável e, na mesma linha do ecoturismo, afirmou que a receita do turismo deve
promover a conservação, e estendeu-a também à cultura e à história, ou seja, todos os bens distintivos
de um lugar (Dowling & Newsome, 2018, p. 4)

A principal diferença entre as versões "geológica" e "geográfica" da definição de Geoturismo é que


a primeira se concentra no Geoturismo como uma "forma" ou "tipo" de turismo, enquanto a última vê o
Geoturismo mais como uma "abordagem" do turismo, algo semelhante ao turismo sustentável. Nenhuma
das visões é mutuamente exclusiva como Geoturismo (de uma perspectiva "geológica"), naturalmente
abrange os princípios do Geoturismo defendidos pela National Geographic. É exatamente da mesma
forma que o ecoturismo (uma forma de turismo) não apenas incorpora os princípios do turismo
sustentável, mas na verdade deve ser um exemplo de boa prática disso. Em essência, a visão da National
Geographic do Geoturismo parece ser simplesmente a aplicação de princípios de turismo sustentável
23
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

combinados com o elemento de "senso de lugar" de uma área. Assim, o melhor caminho a seguir é ver
o Geoturismo tanto como uma forma de turismo quanto como uma abordagem a ele, mas que se vincule
firmemente primeiro à natureza geológica do "senso de lugar" de uma área. Esse desenvolvimento do
turismo gera benefícios para a conservação (especialmente geoconservação), valorização (por meio da
interpretação de geopatrimónios) e para a economia (Dowling & Newsome, 2018, p. 6).

A base para o Geoturismo está no estabelecimento de Geoparques, assim, segundo uma definição
da UNESCO (2006 como citado em Briggs, Dowling, & Newsome, 2021) os Geoparques são áreas
unificadas com características geológicas e paisagísticas de importância internacional e são gerenciados
com foco na conservação, educação e resultados de desenvolvimento sustentável, sendo o Geoturismo
seu marco económico. O conceito de geoparque foi inicialmente adotado para conservar sítios geológicos
na Europa e desde então evoluiu para ser muito mais. Os geoparques agora adotam uma abordagem
mais holística usando conservação, educação e desenvolvimento sustentável para atingir seus objetivos.
Eles demonstraram promover o crescimento dos negócios, criar empregos e melhorar o bem-estar da
comunidade onde estão implantados.

Tem havido um movimento internacional de geoparques desde o final da década de 1990, que foi
iniciado por geólogos preocupados com a conservação e proteção de geopatrimónios decorrentes do
aumento da pressão turística na Europa. Em 2001, a UNESCO forneceu suporte ad hoc ao conceito
global de geoparque. O movimento Geoparque Global de 2004 realizou uma conferência na sede da

Superior: Programas globais da UNESCO. Em baixo: Geoparques globais da UNESO no mundo.


Fonte: (Briggs, Dowling, & Newsome, 2021, p. 8)
UNESCO em Paris para lançar a Rede Global de Geoparques (GGN siglas em inglês de Global Geopark

24
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Network), reunindo 17 geoparques europeus e 8 chineses. Em 2020, o número de geoparques globais


aumentou para 169 em 44 países (Briggs, Dowling, & Newsome, 2021, p. 2).

2.2.6 Ecoturismo

2.2.6.1 Origem do conceito


O turismo é responsável por 4,9% das emissões globais, principalmente por meio de transportes
e hotéis. Este aumento do consumo por um grande número de turistas pressiona intensamente os
recursos e as paisagens cênicas. Por exemplo, o turismo é responsável por apenas 1% do consumo
mundial de água, mas em alguns destinos turísticos populares, o número é +6% do consumo nacional
de água. Muitas vezes, esse consumo ocorre onde a água doce é escassa. Os países em
desenvolvimento são particularmente frágeis aos efeitos do turismo em seus ambientes naturais,
econômicos e sociais. Seus sistemas de resíduos e esgoto são mal equipados para suportar grandes
fluxos de pessoas e, portanto, prejudicam o destino. Os moradores são expulsos de suas casas e não
podem acessar os benefícios econômicos da receita do turismo. Os habitats da vida selvagem são
destruídos ou comprometidos para dar lugar ao aumento da construção. (The International Ecotourism
Society, 2019)

O Ecoturismo possui entre seus princípios a conservação ambiental aliada ao envolvimento das
comunidades locais, devendo ser desenvolvido sob os princípios da sustentabilidade. O Ecoturismo
pressupõe a elevada difusão de premissas fundamentais como princípios e critérios que apontam que o
alcance da sustentabilidade socio ambiental está associado ao processo de planeamento participativo,
com integração intersectorial e inserção da comunidade local para contemplar as necessidades de
infraestrutura e qualificação profissional para a gestão sustentável da atividade. (Brasil-Ministério do
Turismo, 2010)

A pesquisa científica prova que o estado do mundo está em perigo. Tomemos, por exemplo, o
meio ambiente. A biodiversidade já foi reduzida aos níveis mais baixos da história humana. Perdemos
25% de todas as espécies de pássaros, 24% das espécies de mamíferos, 11% das espécies de plantas
e 24% dos recifes de coral. Muitos meios de comunicação recentes deram um número de 1.000.000 de
espécies perdidas. As comunidades neste planeta não estão se saindo muito melhor. Cento e trinta e
seis milhões de pessoas vivem em extrema pobreza. Uma em cada nove pessoas na Terra não tem
comida suficiente para levar um estilo de vida ativo e saudável. E, globalmente, continuamos
experimentando graves desigualdades. (The International Ecotourism Society, 2019)

25
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Para evitar ou pelo menos minimizar os efeitos adversos e maximizar os benefícios potenciais do
turismo em áreas naturais, é necessária uma abordagem mais eficaz e ambientalmente responsável em
todo o mundo. Essa nova abordagem já é universalmente conhecida como turismo ecológico ou
ecoturismo. Não há um consenso geral sobre quem inventou ou usou o termo “ecoturismo” pela primeira
vez, só se pode inferir que em 1976, Budowski (1976 como citado em Magio & Valdez, 2019) utilizou os
princípios do ecoturismo para descrever seu pensamento em suas obras, que vinculam a conservação
com desenvolvimento socioeconômico, embora não tenha mencionado a palavra ecoturismo. O termo
apareceu pela primeira vez em uma publicação feita durante a década de 1980. Ceballos Lascurain, que
é considerado o primeiro a usar o termo ecoturismo em 1980, definiu o termo da seguinte forma:
“É aquela modalidade de turismo ambientalmente responsável que consiste em viajar ou visitar
áreas naturais [...] para desfrutar, apreciar e estudar os atrativos naturais (paisagem, flora e fauna
silvestres) dessas áreas, bem como qualquer manifestação cultural (do presente e do passado)
que aí se encontram, através de um processo que promove a conservação, tem baixo impacto
ambiental e cultural e [...] constitui um benefício social e económico para as populações locais ”.
(Ceballos Lascurain, 1996: p. 150) (Magio & Valdez, 2019, p. 99)
Assim, começou a surgir um turista interessado em ambientes conservados e as instituições que
trabalham com turismo passaram a estabelecer diretrizes políticas para um turismo sustentável. Houve
alguns encontros ao longo da década de 1980 que contribuíram, ao lado de novas aspirações dos
turistas, para a estruturação de um turismo alternativo ou brando, as raízes do ecoturismo:
 Em 1980, uma conferência da OMT, que é considerada um marco nas mudanças de direção do
turismo;
 Em 1981, é estabelecido em Bancoc, na Tailândia, a Comissão Ecumênica em Turismo do
Terceiro Mundo (ECTWT), que propõe apoio aos modelos de turismo alternativo desses países;
 Em 1989, na Polônia ocorre um encontro sobre perspectivas teóricas em formas alternativas de
turismo e;
 Também em 1989, na Argélia, realiza-se um seminário sobre turismo alternativo da OMT, do qual
surge a proposta de turismo sustentável.
Baseado em Paulo Pires (2002 como citado em (Bittencourt et al., 2007)

Atualmente, o ecoturismo se expande aproximadamente 20% ao ano. No Brasil, em 2001, 13,2%


dos estrangeiros que visitaram o país eram ecoturistas. Esse crescimento do turismo na natureza reflete
mudanças muito importantes na forma como os seres humanos observam e interagem com o ambiente
natural. Mas o turismo em ambientes naturais ainda vem sendo desenvolvido de forma bastante restrita
e com ações isoladas. Dessa forma, o grande potencial natural e cultural existente ainda não é
plenamente aproveitado como alternativa de desenvolvimento econômico e social para as comunidades
locais e como propulsor da conservação e da proteção do ambiente natural. Por isso, faz-se necessária
26
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

a ação conjunta de governantes, iniciativa privada, entidades do terceiro setor e comunidades, de forma
que os recursos existentes nos ambientes naturais sejam aproveitados de maneira sustentável.
(Bittencourt César, et al., 2007)

Sob esse enfoque, o Ecoturismo caracteriza-se pelo contato com ambientes naturais, pela
realização de atividades que possam proporcionar a vivência e o conhecimento da natureza e pela
proteção das áreas onde ocorre. Ou seja: O Ecoturismo assenta-se no tripé: interpretação, conservação
e sustentabilidade. Assim, o Ecoturismo pode ser entendido como as atividades turísticas baseadas na
relação sustentável com a natureza e as comunidades receptoras, comprometidas com a conservação,
a educação ambiental e o desenvolvimento socioeconômico. (Brasil-Ministério do Turismo, 2010)

Uma das estratégias de conservação e desenvolvimento sustentável que tem sido cada vez mais
aplicada nas últimas quatro décadas é o programa Homem e a Biosfera (MAB) da UNESCO. É uma
iniciativa de investigação ambiental interdisciplinar que teve início em 1972 com o propósito de
estabelecer as bases, nas ciências naturais e sociais, para o uso racional e conservação dos recursos
da biosfera e para melhorar a relação global entre as pessoas e o meio ambiente. Isso se tornou, dentro
do paradigma do desenvolvimento sustentável, um dos conceitos dominantes nas políticas de
conservação em nível internacional. Atualmente, a Rede Mundial de Reservas da Biosfera lista 669 locais
em 120 países. A estrutura intergovernamental da UNESCO, por meio do Conselho Internacional de
Coordenação, o principal órgão governante do MAB, fornece às reservas da biosfera uma estrutura para
auxiliar os governos dos países no planeamento e execução de programas de pesquisa e treinamento,
fornecendo assistência técnica e aconselhamento científico (Magio & Valdez, 2019).

2.2.6.2 Caracterização do Ecoturismo


Existem características importantes para o desenvolvimento do Ecoturismo que devem ser
observadas e entendidas de forma conjunta e integrada, uma vez que se tornam interdependentes nas
atividades do segmento. A seguir são apresentadas algumas delas (Brasil-Ministério do Turismo, 2010):

A) Gestão, proteção e conservação dos recursos naturais: Um dos aspectos essenciais que
caracteriza o segmento consiste principalmente na adoção de estratégias e ações para
minimizar possíveis impactos negativos da visitação turística por meio do uso de um modelo
de gestão sustentável da atividade. Para tanto, é preciso dispor de um conjunto de medidas
planejadas, organizadas e gerenciadas de forma sistêmica, capazes de promover a
conservação, recuperação, preservação e manejo da área em questão, em sintonia com as
demais atividades no território;

27
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

B) Escala do empreendimento e do fluxo de visitantes: O Ecoturismo pode ser caracterizado sob


dois aspectos principais, em função da capacidade de suporte de cada ambiente e da
atividade desenvolvida:
• Volume e intensidade dos fluxos turísticos, referem-se à quantidade de turistas e
à frequência da visitação;
• Porte dos equipamentos turísticos: o que diz respeito às dimensões -pequenas,
médias e grandes- das instalações.
O Ecoturismo, de modo geral, ocorre em pequenas e médias propriedades, com um fluxo
reduzido de turistas. Contudo, independente do porte dos equipamentos, o importante é
considerar a capacidade de suporte dos ambientes, ou seja, a capacidade do ambiente em
suportar uma quantidade de visitantes, sem que sofra alteração ambiental significativa;
C) Paisagem: A paisagem, além de ser um recurso turístico por excelência, é um importante
elemento na caracterização do segmento, pois são os locais preservados ou conservados e
sua atmosfera que compõem o cerne da motivação dos turistas. Nesse sentido, a busca por
infraestrutura, equipamentos e serviços adequados visam minimizar a intervenção na
paisagem. Na instalação de estruturas físicas pode-se, por exemplo, aproveitar a iluminação
e ventilação naturais para as áreas internas e a instalação de equipamentos de aquecimento
solar de água pode minimizar o consumo de energia elétrica.
As edificações devem observar o meio físico em que estão inseridos (montes, rios, lagos,
penhascos, cachoeiras, ilhas e praias), biológicos (flora e fauna) e culturais (ser humano e
artefactos em interação), a partir da utilização de elementos que expressem e fortaleçam a
identidade local, como artesanatos e comidas típicas. Aspectos da arquitetura devem ser
observados, como autenticidade dos elementos arquitetónicos e decorativos, contemplando-
se o conforto e a qualidade dos serviços.
Os equipamentos turísticos que se destacam no segmento devem revelar as práticas e
técnicas de construção utilizadas nas localidades e regiões, que pode ser conferida na
arquitetura vernacular, respeitando-se os critérios normativos ambientais existentes;
D) Educação ambiental: A educação ambiental pode ser entendida como o processo pelo qual o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente. É um processo de
aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida, afirmando valores
e ações que contribuem para a transformação humana e social e para a proteção ambiental.
Estimula a formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que

28
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

conservem entre si relação de interdependência e diversidade, o que requer responsabilidade


individual e coletiva local, nacional e mundial.
A educação ambiental perpassa as práticas formais (escolares) e recursos pedagógicos
comuns para obter resultados no campo informal, onde estão inseridas as atividades turísticas
em áreas naturais. Assim, o Ecoturismo tem papel estratégico ao privilegiar a educação
ambiental na promoção do contato com o ambiente natural, contribuindo para romper com
condicionamentos sociais inscritos nos hábitos de indivíduos acostumados com a cultura dos
centros urbanos, bem como para a busca de alternativas às relações da sociedade com a
natureza e seus indivíduos, por meio da descoberta de novos estilos de vida, gastronomia,
crenças e valores, arquitetura etc.
Cabe também observar que com as experiências inovadoras de formação de monitores locais
e a capacitação de agentes multiplicadores promovida por projetos de educação ambiental,
são iniciativas que podem significativamente ao estimular a reflexão e apontar soluções para
problemas enfrentados por comunidades tradicionais, promovendo uma efetiva participação
social e considerando valores e comportamentos particulares de diversas culturas que
compõem nossa sociedade em processos decisórios relacionados ao turismo e à melhoria da
qualidade de vida;
E) Interpretação ambiental: A interpretação é a arte de explicar o significado de determinado
recurso ou atrativo turístico. Trata-se de proporcionar o entendimento do ambiente natural,
despertar a atenção e o interesse do visitante em relação à natureza e à cultura, esclarecendo
dados, factos e correlações que normalmente não são claros ao simples olhar. As
características do local são ressaltadas e explicadas em um processo de facilitação da
informação, levando o turista a compreender e vivenciar experiências mais significativas, ricas
e aprazíveis.
Além disso, a interpretação serve ao propósito de sensibilizar e conscientizar em relação às
questões ambientais, fato que a torna uma estratégia de educação ambiental e uma forma
adequada de comunicação do conhecimento da natureza e da cultura. É também uma maneira
de contribuir para a sustentabilidade, na medida em que as mensagens transmitidas podem
mudar ou fortalecer a percepção do turista, estimulando a atenção para as questões
ambientais e promovendo a valorização e proteção da natureza, justamente por isso torna-se
imperiosa na prática do Ecoturismo.
A interpretação é também um excelente caminho para proporcionar novas oportunidades de
trabalho para a comunidade local, podendo estar integrado em programas ou ações de
educação ambiental, que promovem a interação entre turistas e comunidade por meio de
29
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

prácticas e vivências singulares da localidade: estimular os sentidos a partir de cheiros e


sabores que marcam a biodiversidade local; integração a atividades comunitárias ou de
projetos de conservação ambiental; participação em eventos que promovam a difusão da
cultura local e regional.
2.2.6.3 Efeitos da atividade turística em ambientes naturais
Qualquer atividade humana tem efeitos sobre a área em que é realizada. A essência desse efeito
pode ser econômica, sociocultural, ambiental, entre outras. Da mesma forma, o turismo gera efeitos, ou
impactos, sobre a localidade visitada e sobre os recursos naturais, especificamente, pois estes
constituem a base para o desenvolvimento do ecoturismo. Os possíveis efeitos ou impactos da atividade
turística sobre um ambiente natural são vários. Eles não são, necessariamente, negativos. Podem
também ser positivos, configurando-se como impactos econômicos, ambientais (ou físicos) e
socioculturais da localidade visitada. Devemos, então, cuidar para que os efeitos negativos sejam
controlados, de forma que a área seja conservada e que sejam gerados benefícios a todos os elementos
envolvidos (natureza e comunidade local). (Bittencourt César, et al., 2007)

A fragilidade dos ecossistemas naturais, muitas vezes, não comporta certas atividades, como o
tráfego excessivo de veículos. Por outro lado, a infraestrutura necessária, se não atendidas normas pré-
estabelecidas, pode comprometer de maneira acentuada o meio ambiente, com alterações na paisagem,
nas águas, na vegetação, na fauna. Importante também é o cuidado com as populações locais para que
elas também possam usufruir os benefícios do turismo. A busca de alternativas ao turismo tradicional,
ou de massa, tem levado à exploração de lugares novos, em muitos casos, com ecossistemas frágeis
que correm o risco de degradação se não forem respeitadas suas características. Apresentam-se, a
seguir, alguns dos possíveis efeitos da atividade turística em ambientes naturais, baseados em alguns
pesquisadores como (Mathieson e Wall, 1982; Bernaldéz, 1992; Western, 1995; Lage e Milone, 2001
como citados em Bittencourt César, et al., 2007):

 Efeitos econômicos
 Positivos:
- Geração de empregos;
- Diversificação da economia regional, com a criação de micro e pequenos negócios;
- Fixação da população no local, evitando o êxodo rural;
- Desenvolvimento e melhoria da infraestrutura de transportes, comunicações, saneamento,
iluminação, etc.

 Negativos:
- Instalação de segundas residências, prejudicando espaços e fontes de renda da
população;
30
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

- Possíveis desvios dos recursos econômicos gerados na localidade pelo envio de divisas
para fora dela (pagamento de salários de trabalhadores de outras cidades ou de produtos
comprados fora do município, por exemplo);
- Aumento de preços de produtos em geral – inflação;
- Especulação imobiliária.
 Efeitos socioculturais
 Positivos:
- Valorização da herança cultural material e imaterial (festas, costumes, danças, culinária,
artesanato);
- Orgulho étnico;
- Intercâmbio cultural;
- Conservação de locais históricos, preservando a arquitetura local;
- Resgate e perpetuação de atividades típicas da comunidade;
- Fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
 Negativos:
- Descaracterização da vida social local;
- Relacionamento precário entre turistas e moradores, gerando tensões;
- Aumento de problemas sociais como uso de drogas, prostituição e violência;
- Degradação do patrimônio histórico e cultural.
 Efeitos ambientais
 Positivos:
- Diminuição do impacto sobre o patrimônio natural;
- Criação de alternativas de arrecadação para as Unidades de Conservação;
- Aumento da consciência da população local e dos turistas sobre a necessidade de
proteção do meio ambiente;
- Ajuda na conservação das áreas naturais;
- Criação de novas áreas protegidas;
- Conservação da biodiversidade;
- Melhoria da infraestrutura nas áreas naturais;
- Maior fiscalização por parte dos moradores, turistas e órgãos competentes.

 Negativos:
- Poluição sonora, visual e auditiva;
- Desmatamento;
- Introdução de espécies animais e vegetais exóticas;
- Prejuízos a espécies em seus hábitos alimentares, migratórios, etc.;
- Aumento na geração de lixo, esgoto e problemas com saneamento básico;
- Ocupação inadequada do solo.

31
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Nos últimos anos, o ecoturismo tem-se apresentado como uma opção viável tanto para conservar
o patrimônio natural e cultural, quanto para promover o desenvolvimento sustentável em Áreas Naturais
Protegidas. No entanto, a sustentabilidade ecológica e a viabilidade econômica do ecoturismo como
estratégia de conservação têm sido questionadas e a falta de participação local é apontada como um
dos principais desafios enfrentados em sua gestão (Magio & Valdez, 2019).

BIBLIOGRAFIA

Albuquerque, I. C. (2004). O Papel do Ecoturismo no Município de Urubici - SC. (Dissertação de


Mestrado). Florianópolis, Santa Catarina, Brasil: Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Obtido em 7 de Outubro de 2021, de https://core.ac.uk/download/pdf/30369111.pdf
Almeida, I. D., & Abranja, N. A. (2009). Turismo e Sustentabilidade. Cogitur, Journal Of Tourism
Studies, pp. 15-31. Obtido em 19 de Outubro de 2018, de
http://revistas.ulusofona.pt/index.php/jts/article/view/506
Belchior, S. d. (2017). Estratégias de Marketing do Parque Nacional de Gorongosa - Moçambique.
Inhambane. Obtido em 7 de Outubro de 2021, de
https://www.academia.edu/32680768/Estrategias_de_Marketing_Turistico_no_Parque_Naciona
l_de_Gorongosa_2017_pdf
Belchior, S. d. (s.d.). Apostas no Turismo Alternativo: Turismo na Natureza, Ecoturismo e Turismo de
Aventura. Inhambame, Moçambique. Obtido em 10 de Outubro de 2021, de
https://www.academia.edu/6317322/APOSTAS_NO_TURISMO_ALTERNATIVO_TURISMO_N
A_NATUREZA_ECOTURISMO_E_TURISMO_DE_AVENTURA
Bittencourt César, P. d., Stigliano, B. V., Raimundo, S., & Nucci, J. (2007). Ecoturismo. Caminhos de
futuro. São Paulo: Ministério do Turismo - Brasil. Obtido em 29 de Outubro de 2018, de
http://livros01.livrosgratis.com.br/tu000004.pdf
Brasil-Ministério do Turismo. (2007). Turismo e Sustentabilidade. Brasília: Ministério do Turismo.
Secretaria Nacional de Políticas de Turismo. Obtido em 31 de Outubro de 2018, de
http://www.regionalizacao.turismo.gov.br/images/roteiros_brasil/turismo_e_sustentabilidade.pdf
Brasil-Ministério do Turismo. (2010). Ecoturismo: Orientações Básicas (2ª ed.). Brasília: Ministério do
Turismo. Obtido em 11 de Agosto de 2020, de
http://www.turismo.gov.br/sites/default/turismo/o_ministerio/publicacoes/downloads_publicacoe
s/Ecoturismo_Orientacoes_Basicas.pdf

32
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Briggs, A., Dowling, R., & Newsome, D. (2021). Geoparks – learnings from Australia. Journal of Tourism
Futures, pp. 1-15. doi:10.1108/jtf-11-2020-0204
Carneiro, E., Oliveira, S. A., & Carvalho, K. D. (2010). Turismo Cultural e Sustentabilidade: uma relação
possível? Revista Electônica de Turismo Cultural, Volume 04, Nº. 01. Obtido em 6 de
Novembro de 2018, de http://www.eca.usp.br/turismocultural/07.1Carneiro.pdf
Cater, E. (2007). Ecotourism as a Western Construct. Em James Higham (Ed), Critical Issues in
Ecotourism: Understanding a complex tourism phenomenon (pp. 46-69). Oxford UK &
Burlington, MA, USA: Elsevier Ltd. Obtido em 25 de Julho de 2020, de
http://www.microlinkcolleges.net/elib/files/undergraduate/Tourism%20&%20Hotel%20Managem
ent/Critical%20Issues%20in%20Ecotourism%20(2007).pdf#page=89
Costa, H. K., Weber, N. A., & Moutinho dos Santos, E. (2017). Reflexões sobre o conceito de
sustentabilidade sua adjetivação e a unicidade humana. 6th International Workshop Advances
in Cleaner Production "Ten Years Working Together For A Sustainable Future. São Paulo.
Obtido em 19 de Fevereiro de 2019, de
http://www.advancesincleanerproduction.net/sixth/files/sessoes/4B/2/costa_hkm_et_al_academ
ic.pdf
Dowling, R., & Newsome, D. (2018). Geotourism: definition, characteristics and international
perspectives. Em R. Dowling, & D. Newsome (Eds.), Handbook of Geotourism (pp. 1-22).
Cheltenham, UK: Edward Elgar Publishing. doi:https://doi.org/10.4337/9781785368868
Hanai, F. Y. (Jan-Abr de 2012). Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade do turismo: conceitos,
reflexões e perspectivas. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, pp. 198-
231. Obtido em 10 de Fevereiro de 2019, de
https://www.researchgate.net/publication/277117554_Desenvolvimento_sustentavel_e_sustent
abilidade_do_turismo_conceitos_reflexoes_e_perspectivas
Koch, M. O., Junqueira, L. D., & dos Anjos, F. A. (Jul./Dez. de 2017). Análise comparativa do turismo
sustentável e turismo responsável: semelhanças e diferenças nos destinos turísticos do Brasil.
Caderno de Estudos e Pesquisas do Turismo, Vol. 6, nº 9, pp. 39-56. Obtido em 30 de
Setembro de 2021, de
https://www.researchgate.net/publication/335336528_Analise_comparativa_do_turismo_sustent
avel_e_turismo_responsavel_semelhancas_e_diferencas_nos_destinos_turisticos_do_Brasil
Magio, K. O., & Valdez, M. V. (Enero-Abril de 2019). El ecoturismo en las reservas de la biósfera:
Prácticas y actitudes hacia la conservación. Revista Pasos, Vol. 17, N.º 1, pp. 97-112.
doi:https://doi.org/10.25145/j.pasos.2019.17.007
Marujo, M. N., & Carvalho, P. (Outubro de 2010). Turismo, planeamento e desenvolvimento
sustentável. Turismo & Sociedade, Vol. 3, nº 2, pp. 147-161. Obtido em 2 de Novembro de
2018, de http://biblioteca.esec.pt/cdi/ebooks/docs/Marujo_turismo.pdf
Matínez Quintana, V. (2017). El Turismo de Naturaleza: un producto turístico sostenible. ARBOR
Ciencia, Pensamiento y Cultura, 193 (785). doi:http://dx.doi.org/10.3989/arbor.2017.785n3002

33
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Nascimento, M. A., Mansur, K. L., & Moreira, J. C. (2015). Bases conceituais para entender
Geodiversidade, Patrimônio Geológico, Geoconservação e Geoturismo. Revista Equador,
Vol.4, nº 3 (Edição Espacial 02. XVI Simposio Brasileiro de Geografia Física). Obtido em 17 de
Novembro de 2020, de
https://www.academia.edu/14882818/BASES_CONCEITUAIS_PARA_ENTENDER_GEODIVE
RSIDADE_PATRIM%C3%94NIO_GEOL%C3%93GICO_GEOCONSERVA%C3%87%C3%83O
_E_GEOTURISMO
Oliveira, A. C., Matheus, F. S., Santos, R. P., & Bressan, T. V. (2010). Ecoturismo (Vols. 5 - Cadernos
de Educação Ambiental). São Paulo: Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Obtido em 7 de
Outubro de 2021, de http://arquivos.ambiente.sp.gov.br/publicacoes/2016/12/5-ecoturismo.pdf
Oliveira, C. (2013). Caracterização do mercado de actividades de Turismo de Natureza. (Dissertação
de Mestrado). Lisboa: Universidade Nova de Lisboa. Obtido em 9 de Agosto de 2018, de
https://run.unl.pt/bitstream/10362/10063/1/Oliveira-2013.pdf
Pinheiro, P. J. (2019). Estudo sobre a Gestão e Aproveitamento do Parque Nacional da Kisama para o
Desenvolvimento Sustentável do Turismo. (Monografia de Fim de Curso). Luanda, Angola:
ESHOTUR, Escola de Hotelaria e Turismo, Universidade Agostinho Neto.
Ribeiro, J. C., & Vareiro, L. C. (2007). Turismo e Desenvolvimento Regional: o espaço rural como
destino turístico. Actas do 1º Congresso Internacional Casa Nobre - um património para o
futuro, (pp. 470-486). Arcos de Valdevez, Alto Minho. Obtido em 3 de Novembro de 2018, de
http://www3.eeg.uminho.pt/economia/nipe/docs/Publicacoes_Actas_conferencias/2007/Ribeiro
_Laurentina_2007_AV.pdf
The International Ecotourism Society. (15 de Julho de 2019). The State of Ecotourism. Obtido em 10 de
Outubro de 2021, de https://ecotourism.org/news/the-state-of-ecotourism/
Timčák, G., & Jablonská, J. (2013). Assessment of Geotourism and Tourism Development Impact in the
area of Zádiel and Háj Villages. Em Ľ. Štrba (Eds.), GEOTOUR & IRSE 2013 Strategies of
Building Geotourist and Geoheritage Attractions (pp. 18-26). Košice, Slovakia: Technical
University of Košice. Obtido em 21 de Setembro de 2020, de
https://www.academia.edu/9056210/Geoparks_in_the_world_Haute_provence_geopark_Chapa
da_diamantina_geopark_Hong_Kong_geopark_Lesvos_petrified_forest_geopark_Copper_coas
t_geopark_and_geopark_Naturtejo_?sm=b
UNEP & WTO. (2005). Making Tourism More Sustainable: a Guide for Policy Makers. Paris - Madrid:
United Nations Environment Programme (UNEP) & World Tourism Organization (WTO). Obtido
em 30 de Agosto de 2021, de https://wedocs.unep.org/bitstream/handle/20.500.11822/8741/-
Making%20Tourism%20More%20Sustainable_%20A%20Guide%20for%20Policy%20Makers-
2005445.pdf?sequence=3&isAllowed=y

DICIONÁRIOS
Dicionário Integral – Língua Portuguesa. Colecção Universal, Texto Editores, Lda. Luanda, 2010.

34
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

ANEXO 1

África Scientia 3/4: Turismo Responsable en NAMIBIA y LESOTO


Fonte: https://www.ecotumismo.org/africa-scientia-34-turismo-responsable-africa-en-namibia-y-lesoto/
J UL 0 5 , 2 0 1 2 POR J AVIE R T E J E R A

Continuando con la serie de entrevistas que he


realizado para el reportaje sobre turismo publicado
en el primer número de la revista África Scientia, hoy
le toca el turno a Paula Díaz. Una entrevista además
muy especial porque Paula se ha unido recientemente
al equipo de Ecotumismo y de Ecotouristing.
Diplomada en Empresas y Actividades Turísticas y
Licenciada en Ecoturismo, se define profesionalmente
como “Turismóloga”. Toma la decisión de
especializarse en Dirección y Gestión del Turismo
Responsable y cursar un Postgrado en
el International Center for Responsible Tourism
(Leeds, Reino Unido) cuando descubre la veracidad
del dicho asiático “el turismo es como el fuego, puedes cocinar tu cena en él pero si no tienes cuidado
incendiará tu casa”. Ha trabajado, residido y viajado en ocho países africanos, bien trabajando
internacionalmente en proyectos de desarrollo y gestión del sector turístico como consultora, como fue el caso
de su última estancia en Namibia o a través del Cuerpo de voluntarios de la Organización Mundial del Turismo
(OMT), de la que también es miembro. Esta es su entrevista:

Pregunta: Desde tu experiencia sobre el terreno en los países en los que has estado ¿qué impactos
consideras como más positivos y más negativos en relación a la actividad turística?
Respuesta: Entre los más positivos destacaría que, como consecuencia de la visita e interés mostrado
por los turistas, ha habido una mejora en la percepción de los recursos naturales y culturales por
parte de la comunidad, particularmente los jóvenes. Por ejemplo, en Maletsuyane Falls en Lesoto, en
donde se puede realizar el rapel más alto comercializado del mundo (Guiness record), hay una
iniciativa muy interesante en este sentido. El Semonkong Lodge es un establecimiento cuyo dueño,
sudafricano que ha residido desde niño en Lesoto, apoya muchas iniciativas en turismo: promociona y
comercializa una serie de rutas temáticas gestionadas por la comunidad sin cobrar ningún tipo de
comisión, financia cursos de formación para sus empleados y utiliza siempre productos locales. En
general, la artesanía local se revaloriza, algo destacable sobre todo en utensilios que antes de la llegada
del turismo habían dejado de ser usados. Luego hay tribus que, socialmente, están infravaloradas o
mal vistas pero que debido al interés de los turistas por ellas han subido su status como los himbas en
Namibia o los maasai en Kenya o Tanzania.
También es destacable que, gracias al turismo, se pueden desarrollar acciones de formación y
creación de puestos de trabajo en zonas rurales gracias a cursos para potenciales guías o el diseño
de rutas temáticas, lo cuál puede suponer una fuente de ingresos mensuales para muchas
familias gracias al apoyo a múltiples miembros del núcleo familiar por parte de los asalariados. Sobre
35
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

todo en el caso de colectivos más desfavorecidos como los jóvenes o las mujeres. Eso sin olvidar
algunos programas de conservación de la fauna, fruto de asociaciones entre empresas turísticas
privadas y comunidades locales, como en el caso de las Conservancies en Namibia.
Con respecto a los negativos, la realidad indica que muchas veces no existe un entendimiento entre
las comunidades y los visitantes porque los locales directamente creen que los turistas son ricos por
el hecho de poder permitirse un viaje así. También se dan casos de discriminación positiva por parte
de los propios turistas, que se dejan llevar por esa mirada demasiada paternalista. Muchos jóvenes,
especialmente aquellos que están más en contacto con los turistas, pueden llegar a sufrir
una occidentalización y un cambio de costumbres o valores. Frente a esa tendencia por parte de
muchos viajes organizados que llevan a turistas especialmente por ghettos o zonas marginales, subidos
en autobuses o camiones, para que saquen sus fotos, vean el panorama y poco más, yo destacaría una
iniciativa que conocí en Namibia y que ejemplifica justo lo contrario.
Katutura Tours trabaja en el suburbio de Katutura en Windhoek, la capital de Namibia, siguiendo
un circuito en bici en donde se evita invadir el espacio privado de los habitantes. Ofrece información
“pre- departure” con el código de conducta y normas de seguridad, siempre pide permiso a las personas
para mostrar sus actividades o tiendas y distribuye el beneficio económico del coste de la visita a lo largo
del trayecto entre diversos comerciantes.
Pregunta: ¿Qué consejos o recomendaciones le darías a una persona que se está pensando viajar a
los países en los que has estado viviendo?
Respuesta: Básicamente le diría que intente conocer, en la medida de lo posible, el entorno cultural,
social o político, bien a través de guías de viaje, libros, de la propia gente del lugar o de medios de
comunicación locales. Que intente entablar conversación con los habitantes del lugar pero evitando
molestias innecesarias, siempre evaluando la actitud de nuestro interlocutor. Hay que procurar realizar
alguna actividad con la gente local para poder comprender mejor su realidad. En este sentido, es
importante antes de viajar informarse de las costumbres y normas socioculturales, prestando atención
a no incumplir ninguna que pudiese ofender a la comunidad local.
Hay que seguir las recomendaciones del guía o recepcionista en cuanto a que zonas visitar u horarios.
Aquí, simplemente, un poco de sentido común como en todas partes. Es fundamental borrar la idea
de tener que dar regalos directamente a los niños. Procurar siempre consumir en establecimientos
gestionados por gente local o, en todo caso, extranjeros residentes que cumplan con la legislación
social, laboral y medioambiental. Hay que intentar redistribuir el dinero al máximo y a la hora
de regatear tener presente las horas de trabajo y el coste de los materiales para realizar el producto que
queremos comprar. Un par de euros para nosotros significan 2 cafés (uno en una buena cafetería de
Madrid), sin embargo ese dinero puede suponer una gran diferencia para el vendedor y su familia.
Tampoco hay que dejarse guiar por los estereotipos y las opiniones populares (ideas recurrentes en
torno al crimen, el hambre, la miseria, las guerras en África…). Windhoek, sin ir más lejos, la capital
de Namibia, es una ciudad muy limpia y organizada. Sirva como ejemplo que he vivido y viajado en ocho
países africanos y nunca he tenido ningún incidente, sin embargo este año me han robado en una ciudad
española.

36
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

Pregunta: ¿Hasta que punto influye la actitud del viajero a la hora de poder minimizar los impactos
del turismo? ¿Pesan mucho los estereotipos?
Respuesta: El consumidor tiene la palabra final a la hora de elegir sus vacaciones, debe de ser
consciente de que el producto o servicio que está comprando siga los principios del turismo
responsable. De hecho, debe tener presente que su comportamiento en el destino influye
muchísimo en la percepción de la comunidad hacia los extranjeros, pudiendo llegar a ser muy perjudicial
si no se respetan las normas locales o provocando un rechazo hacia los turistas.
Pregunta: ¿Tienes cifras de llegadas de turistas españoles en Namibia? ¿Se nota un mayor o menor
interés?
Respuesta: En Namibia el número de visitantes españoles ha descendido pero no tengo cifras.
En Lesoto era muy pequeño, no creo que haya estadísticas disponibles. Con la copa del mundo ganada
por España en Sudáfrica, si que ha aumentado claramente el número de turistas allí en los últimos dos
años.
Pregunta: En las dos últimas ediciones de Fitur se ha celebrado Investour, un foro para promover
inversiones turísticas en África bajo el paraguas del turismo sostenible. Al mismo tiempo, es
sabido que normalmente el 80-90% de los beneficios que se generan con inversión extranjera en
proyectos turísticos de países del Sur es repatriado a los países de origen de la inversión. ¿Es
posible llegar a un equilibrio? ¿La inversión extranjera es la fórmula más adecuada?
Respuesta: Hay modelos de grandes resorts de sol y playa, normalmente ‘all inclusive’, que son los
que además tiene esta tasa de repatriación de los beneficios, que aportan muy poco a la
comunidad. A pesar de que crean puestos de trabajo, la mayoría temporales durante una época del
año con lo que los empleados pueden atender a su familia durante el resto y se puede llegar a minimizar
el impacto cultural en sociedades musulmanas, en el caso de turistas que incumplen unas mínimas
normas de conducta, la realidad luego es que los impactos negativos son mucho mayores. Suelen
ocupar un lugar en primera línea de playa o en parajes de gran valor medioambiental o paisajístico,
los locales nunca van allí por lo que no hay ningún tipo de intercambio con los turistas, utilizan
muchos recursos como el suelo o el agua y los trabajos mejor pagados que requieren mayor
cualificación, siempre están ocupados por extranjeros.
No creo, por tanto, que el modelo actual del gran resort de playa sea la fórmula, sino que al contrario
puede acarrear múltiples problemas. No solamente debido a la fuga de capital, sino también a
la destrucción de fauna y flora, destrucción de los derechos de la comunidad sobre sus tierras,
la corrupción (de los gobiernos y las empresas privadas), por el uso de agua y energía que estaba
destinado a otros sectores o por la destrucción de sectores económicos tradicionales como la
agricultura o la pesca. Además, según diversas investigaciones, muchos de estos beneficios que
comentas ni tan siquiera van a los países de origen de la inversión, sino en muchos casos a paraísos
fiscales.
Creo que, en este sentido, el modelo más adecuado de darse inversión de este tipo tiene que ser el
de emprendedores extranjeros pequeños y medianos, siempre con la condición de ofrecer mejores
condiciones laborales para la población local o de apoyar a otros emprendedores locales con

37
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.
SUSTENTABILIDADE DO TURISMO - 5º ANO DE GESTÁO DE TURISMO – ESHOTUR
TEMA 1 – TURISMO E SUSTENTABILIDADE

menos recursos y oportunidades por sí solos, reinvirtiendo parte de sus beneficios en mejorar las
condiciones de vida de la comunidad y fomentar un turismo a pequeña escala, en colaboración
directa e indirecta con los habitantes del destino.

38
Docente: José Francisco Bethencourt González, MSc. (D.E.A. Universidade de La Laguna, Tenerife, Espanha).
Correio-e: jfbethencourt@gmail.com
Nota informativa: O presente material somente tem validade dentro do processo de ensino-aprendizagem da disciplina, sua reprodução fora desse âmbito,
sua venda ou sua publicação por qualquer meio digital ou não poderá ser perseguida legalmente segundo a legislação angolana vigente.

Você também pode gostar