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ECOTURISMO,

CONSERVAÇÃO E
SUSTENTABILIDADE

Autoria: Liz Ehlke Cidreira

1ª Edição
Indaial - 2021
UNIASSELVI-PÓS
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD:


Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Jairo Martins
Marcio Kisner
Marcelo Bucci

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2021


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

C568e

Cidreira, Liz Ehlke

Ecoturismo, conservação e sustentabilidade. / Liz Ehlke Cidreira


– Indaial: UNIASSELVI, 2021.

146 p.; il.

ISBN 978-65-5646-426-8
ISBN Digital 978-65-5646-427-5
1. Meio ambiente. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da
Vinci.

CDD 577

Impresso por:
Sumário

APRESENTAÇÃO.............................................................................5

CAPÍTULO 1
Ecoturismo e Unidades de Conservação.................................... 7

CAPÍTULO 2
Bases Para Desenvolver o Ecoturismo.................................... 55

CAPÍTULO 3
Planejamento e Gestão do Ecoturismo.................................. 101
APRESENTAÇÃO
Seja bem-vindo ao Livro de Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade. Este
livro contribui para a sua formação pessoal e profissional através de algumas refle-
xões e absorção de conhecimentos sobre o meio ambiente e a comunidade, sem dei-
xar de lado o desenvolvimento econômico. Diante disso e para que ocorra tal aprimo-
ramento, faz-se necessário conhecermos a história do ecoturismo, os seus conceitos,
a conservação da natureza e os elementos que permeiam a sustentabilidade.

Este livro está estruturado em 3 capítulos principais, que são subdivididos


em tópicos para facilitar a absorção de conhecimento e permitir que o leito realize
reflexões e pesquisas complementares referentes aos assuntos aqui abordados.

Desta maneira, ao estudar o Capítulo 1 – Ecoturismo e unidades de conser-


vação –, será possível encontrar informações referentes às unidades de conser-
vação existentes e criadas por meio da Lei Federal nº 9.985/2000, a chamada
SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Além disso será possí-
vel encontrar o conceito, a história e a legislação no Brasil aplicada ao Ecoturis-
mo. Bem como, será possível estudar o turismo em áreas naturais protegidas e a
aplicação da Educação Ambiental na atividade turística.

Já no Capítulo 2 – Bases para desenvolver o ecoturismo –, serão encontra-


das as leis aplicadas ao ecoturismo, as Políticas Públicas voltadas a valorização
do ecoturismo e também algumas boas práticas ambientais para o desenvolvi-
mento e o aproveitamento da atividade de ecoturismo da melhor maneira.

Por fim, no Capítulo 3 – Planejamento e Gestão do Ecoturismo –, serão ex-


planados os temas referentes ao planejamento e gestão do ecoturismo, a gestão
do ecoturismo aplicado às unidades de conservação, o planejamento do ecoturis-
mo para proteção de culturas tradicionais, bem como serão estudados os cases e
os modelos de sucesso do turismo sustentável no Brasil e no mundo.

Além dos textos do livro, você encontrará, no decorrer dos capítulos, suges-
tões para complementação dos seus estudos, como indicação de livros, filmes, si-
tes, bem como uma gama de opções de referências bibliográficas e autores concei-
tuados, que ampliarão ainda mais os seus estudos sobre os temas aqui abordados.

Organize seus horários, pratique o autoestudo e embarque nesse novo desa-


fio de conhecimentos.

Bons estudos!
C APÍTULO 1
Ecoturismo e Unidades de
Conservação
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:

� Definir o ecoturismo, sua história e sua legislação.


� Debater sobre os conceitos de ecoturismo, bem como sua história e a legisla-
ção aplicada a ele.
� Conhecer as unidades de conservação e as leis que as regem.
� Comparar os tipos de unidades de conservação existentes e discutir as suas
criações através da Lei Federal nº 9985/2000.
� Conhecer o turismo aplicado às áreas naturais protegidas.
� Demonstrar o turismo aplicado às áreas de conservação.
� Compreender como a educação ambiental pode ser aplicada à atividade turística.
� Valorizar a educação ambiental que é aplicada e desenvolvida nas atividades
turísticas.
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

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Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Quem nunca idealizou ou realizou um passeio turístico em meio a natureza? Nes-
tes passeios conseguimos os desconectar do urbano, do caos das cidades, e consegui-
mos nos conectar com a qualidade de vida que a natureza tem para nos oferecer.

Nesse contexto, o ecoturismo tende a trazer benefícios diretos para a saúde


do homem, bem como permitir a apreciação da natureza utilizando os princípios
do desenvolvimento responsável e o respeito à natureza.

Desta maneira, iniciaremos o nosso estudo adentrando nos temas das uni-
dades de conservação, o ecoturismo, o turismo nas áreas naturais protegidas e a
educação ambiental voltada à atividade turística.

2 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E A
LEI FEDERAL Nº 9.985/2000

2.1 MEIO AMBIENTE E


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Os anos 1960 e 1970 foram marcados não só pelos períodos de industrializa-
ção no mundo, mas também pelo início da percepção populacional dos impactos
ambientais, por meio de adventos como alterações na qualidade da água e do
ar, os quais fizeram com que a população começasse a sentir os resultados de
anos de degradação ambiental desenfreada. Partindo deste pressuposto, órgãos
mundiais iniciaram uma série de eventos e reuniões que buscavam alternativas e
soluções para estes problemas recém descobertos.

O órgão mundial que tomou frente aos eventos de caráter ambiental foi a
Organização das Nações Unidas (ONU), a qual sugeriu uma conferência inter-
nacional com o intuito de relacionar temas referentes à preservação e proteção
ambiental no âmbito mundial.

Uma das consequências das conferências ambientais aconteceu no ano de


1972, no qual ocorreu a criação do PNUMA – Programa das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente, o órgão ambiental ligado à ONU é existente até hoje e é consi-
derado a principal autoridade ambiental global e que possui o intuito de defender
o meio ambiente no mundo.

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Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

CONHEÇA MAIS SOBRE O PNUMA EM: https://uniasselvi.


me/3yEsP9C

FIGURA 1 – CAMPANHA DO PNUMA PARA O DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

FONTE: <www.paho.org>. Acesso em: 9 mar. 2021.


Descrição da imagem: campanha do PNUMA realizado para chamar atenção ao Dia Mun-
dial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho devido à importância da conferência de
Estocolmo, que ocorreu nesta data.

Um dos relatórios mais importantes já redigidos sobre a causa ambiental foi


o chamado Relatório de Brundtland. Neste relatório, escrito em 1987 e elaborado
pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), foi
onde surgiu o conceito de Desenvolvimento Sustentável e onde ele foi utilizado
pela primeira vez. Cabe ressaltar que o conceito se encontra no documento cha-
mado “Nosso futuro comum”, elemento resultante da reunião da comissão cita-
da. Sua definição foi entendida como: “aquele que atende às necessidades do
presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às
suas necessidades” (ONU, 1987).

Segundo Gomes e Ferreira (2018, p. 159), “É nesse momento que a comuni-


dade mundial passa a conceber a possibilidade de se desenvolver sem degradar
de modo excessivo e insustentável o planeta, entrando em cena a preocupação
com as gerações presentes e futuras.”.

Ainda, conforme o referido relatório, o qual levou o nome da então primei-


ra-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, o Desenvolvimento Sustentável
deve contribuir para retomar o crescimento possibilitando as condições necessá-
rias para:

10
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

• promover a erradicação da pobreza;


• alterar a qualidade do crescimento para torná-lo mais justo, equitativo e
menos intensivo no uso de energias e matérias-primas;
• assistir às necessidades humanas essenciais de: emprego, energia, ali-
mentação, água potável e saneamento;
• manter um nível populacional sustentável;
• melhorar e conservar a base de recursos;
• reorientar a tecnologia e administrar os riscos; e
• incluir o meio ambiente e a economia no processo de tomada de decisões.

A empreitada mundial em prol da preservação ambiental vem sendo grande


e durante todo o percurso percorrido, diversos termos de compromisso, relatórios,
tratados e acordos foram assinados por diversos países a fim de buscar um meio
ambiente equilibrado, justo e saudável para todos. A criação do termo “desenvolvi-
mento sustentável” foi um dos principais ganhos das conferências internacionais e
hoje é um termo muito utilizado e difundido.

Japiassú e Gerra (2017, p. 1885), ao discutirem sobre o desenvolvimento


sustentável e o papel do homem neste conceito, afirmam que:

O homem, como agente dotado de racionalidade, é, ao mesmo


tempo, responsável por si mesmo e também tem responsabili-
dade em relação ao outro. A sustentabilidade ambiental reafirma
essa responsabilidade do homem em relação à manutenção da
higidez ambiental, das condições estéticas e sanitárias do meio
ambiente, da preservação da biodiversidade, que é tanto uma
responsabilidade para consigo mesmo, já que são condições
para a sadia qualidade de vida, como configura uma responsabi-
lidade para com aqueles que ainda virão, havendo a solene res-
ponsabilidade de legar às futuras gerações no mínimo o mesmo
grau de acesso aos recursos ambientais que recebeu, tendo ain-
da um dever de buscar promover a melhoria das condições do
meio ambiente. Daí os laços de solidariedade intergeracionais.

O desenvolvimento sustentável, em seu conceito mais amplo, engloba três


principais dimensões, também conhecido como os três pilares da sustentabilida-
de: ambiental, social e econômico.

A intenção primordial do desenvolvimento sustentável é promover o cres-


cimento econômico sem esgotar os recursos naturais para as gerações futuras.
Partindo dessa premissa, a ONU lançou em 2015 durante a Cúpula das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Sustentável os objetivos do desenvolvimento
sustentável (ODS), os quais somam 17 objetivos e são um apelo global para atin-
gir os objetivos iniciais do conceito de desenvolvimento sustável, porém, trazido
para a realidade atual do mundo. Além dos 17 objetivos, os ODS contam com 169
metas a serem alcançadas até o ano de 2030.

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Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

O antigo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em entrevista afirmou que:


“os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são a visão comum para
a humanidade e um contrato social entre os líderes mundiais e os povos” e in-
formou que os ODS “são uma lista das coisas a fazer em nome dos povos e do
planeta, e um plano para o sucesso!” (ONU, 2015).

FIGURA 2 – OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FONTE: <https://brasil.un.org/pt-br/sdgs>. Acesso em: 10 mar. 2021.


Descrição da imagem: imagem ilustrativa dos 17 objetivos do de-
senvolvimento sustável elaborados pela ONU.

Conheça como o Brasil está se preparando para alcançar os


Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e conheça cada uma dos
17 ODS em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs

Vamos compreender melhor as dimensões do desenvolvimento


sustentável?
No vídeo abaixo, a ONU Brasil (Organização das Nações Uni-
das) demonstra que a Agenda 2030 da ONU e os Objetivos de De-
senvolvimento Sustentável não são apenas itens de uma lista. Repre-
sentam uma abordagem holística para a compreensão e a resolução

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Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

de problemas da atualidade, ao nos orientar a fazer as perguntas


certas no momento certo.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=pZ2RsinirlA

Ao analisar os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável, pode-se citar


alguns dos objetivos que se enquadram diretamente com a atividade de promover
o turismo sustentável, sendo eles: saúde e bem estar; cidades e comunidades
sustentáveis; ação contra a mudança global do clima, vida na água, vida terrestre,
entre outros.

É possível perceber, ao analisar o conceito e o conteúdo acerca do desenvol-


vimento sustentável, bem como conhecendo os 17 objetivos do desenvolvimento
sustentável, que estes conceitos estão estritamente relacionados com o que se
espera do Ecoturismo. Sendo assim analisaremos, no próximo tópico, as unida-
des de conservação e as suas aplicações e legislações e, na sequência, aborda-
remos sobre o ecoturismo.

1 Com relação à definição de Desenvolvimento Sustentável, com-


plete a frase abaixo preenchendo corretamente as lacunas.

A definição de desenvolvimento sustentável foi entendida como:


“aquele que atende às necessidades do _____________ sem
comprometer a possibilidade de as _______________ atenderem
às suas _________________”.

2.2 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO


Antes de entrarmos no assunto unidades de conservação e para que seja
possível entender a fundo alguns outros conceitos relacionados à área ambiental,
pode-se citar a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), descrita por meio da
Lei Federal nº 6.938/1981.

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Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo: a preservação, me-


lhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar,
no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da se-
gurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. A PNMA elenca al-
guns conceitos específicos e importantes para aguçar o entendimento, sendo eles
(BRASIL, 1981):

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de


ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as
suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das característi-
cas do meio ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades
que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos;
IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, respon-
sável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;
V - recursos ambientais, a atmosfera, as águas interiores, superficiais e sub-
terrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da bios-
fera, a fauna e a flora. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989).

Com a finalidade de preservação e conservação ambiental, nos moldes em


que a PNMA foi descrita, foi instituído no País algumas regras e definições sobre
estes assuntos. Sendo assim, por meio da Lei Federal Nº 9.985, de 18 de julho de
2000, foi regulamentado o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Fede-
ral, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC)
e dá outras providências.

O artigo citado no caput da Lei nº 9985 informa que: “Art. 225. Todos têm di-
reito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletivi-
dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”
(BRASIL, 1988). E seu parágrafo primeiro cita que:

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao


poder público:

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Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e


prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio gené-
tico do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e
manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços terri-
toriais e seus componentes a serem especialmente protegidos,
sendo a alteração e a supressão permitidas somente através
de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integrida-
de dos atributos que justifiquem sua proteção;
[...]
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as
práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provo-
quem a extinção de espécies ou submetam os animais a cruel-
dade (BRASIL, 1988).

Portanto, analisando os deveres do poder público em relação ao meio am-


biente, a Lei nº 9.985 institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza – SNUC, e estabelece critérios e normas para a criação, implantação e
gestão das unidades de conservação. Com relação aos conceitos definidos pela
Lei, o Art. 2º informa que se entende por:

I - unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos


ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com característi-
cas naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Públi-
co, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime
especial de administração, ao qual se aplicam garantias ade-
quadas de proteção;
II - conservação da natureza: o manejo do uso humano da na-
tureza, compreendendo a preservação, a manutenção, a utili-
zação sustentável, a restauração e a recuperação do ambiente
natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases
sustentáveis, às atuais gerações, mantendo seu potencial de sa-
tisfazer as necessidades e aspirações das gerações futuras, e
garantindo a sobrevivência dos seres vivos em geral;
III - diversidade biológica: a variabilidade de organismos vivos de
todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas
terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os comple-
xos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diver-
sidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas;
IV - recurso ambiental: a atmosfera, as águas interiores, super-
ficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o
subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora;
V - preservação: conjunto de métodos, procedimentos e políti-
cas que visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats e
ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos,
prevenindo a simplificação dos sistemas naturais;
VI - proteção integral: manutenção dos ecossistemas livres de
alterações causadas por interferência humana, admitido apenas
o uso indireto dos seus atributos naturais;
VII - conservação in situ: conservação de ecossistemas e habi-
tats naturais e a manutenção e recuperação de populações viá-
veis de espécies em seus meios naturais e, no caso de espécies

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Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

domesticadas ou cultivadas, nos meios onde tenham desenvol-


vido suas propriedades características;
VIII - manejo: todo e qualquer procedimento que vise assegurar
a conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas;
IX - uso indireto: aquele que não envolve consumo, coleta, dano
ou destruição dos recursos naturais;
X - uso direto: aquele que envolve coleta e uso, comercial ou
não, dos recursos naturais;
XI - uso sustentável: exploração do ambiente de maneira a ga-
rantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos
processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais
atributos ecológicos, de forma socialmente justa e economica-
mente viável;
XII - extrativismo: sistema de exploração baseado na coleta e
extração, de modo sustentável, de recursos naturais renováveis;
XIII - recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma
população silvestre degradada a uma condição não degradada,
que pode ser diferente de sua condição original;
XIV - restauração: restituição de um ecossistema ou de uma
população silvestre degradada o mais próximo possível da sua
condição original;
XV - (VETADO)
XVI - zoneamento: definição de setores ou zonas em uma unida-
de de conservação com objetivos de manejo e normas especí-
ficos, com o propósito de proporcionar os meios e as condições
para que todos os objetivos da unidade possam ser alcançados
de forma harmônica e eficaz;
XVII - plano de manejo: documento técnico mediante o qual,
com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de con-
servação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que
devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais,
inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à ges-
tão da unidade;
XVIII - zona de amortecimento: o entorno de uma unidade de
conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a nor-
mas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os
impactos negativos sobre a unidade; e
XIX - corredores ecológicos: porções de ecossistemas naturais
ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que pos-
sibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota,
facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas
degradadas, bem como a manutenção de populações que de-
mandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do
que aquela das unidades individuais.

Conforme visto acima, as unidades de conservação são um espaço territorial


e seus recursos ambientais, com objetivos de conservação e limites definidos. O
SNUC é constituído pelo conjunto das unidades de conservação federais, estadu-
ais e municipais, de acordo com o disposto nesta Lei. Entende-se, portanto, que
é possível encontrar unidades de conversação em todos os âmbitos (Municipal,
Estadual e Federal).

Os órgãos que gerenciam as unidades de conservação, são (BRASIL, 2000):

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Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

• Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente


- CONAMA, com as atribuições de acompanhar a implementação do Sis-
tema.
• Órgão central: o Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de coor-
denar o Sistema.
• Órgãos executores: o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodi-
versidade (ICMBio) e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Re-
cursos Naturais Renováveis (IBAMA), em caráter supletivo, os órgãos
estaduais e municipais, com a função de implementar o SNUC, subsidiar
as propostas de criação e administrar as unidades de conservação fede-
rais, estaduais e municipais, nas respectivas esferas de atuação.

Você sabe o que é o CONAMA?

O Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA é o órgão


consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SIS-
NAMA, foi instituído pela Lei Federal nº 6.938/81, que dispõe sobre a
Política Nacional do Meio Ambiente, regulamentada pelo Decreto Fe-
deral nº 99.274/90 (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2021).

Conheça o CONAMA em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/

Em seu artigo 4º a lei traz os objetivos do SNUC, os quais são (BRASIL,


2000):

I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos re-


cursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais;
II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito
regional e nacional;
III - contribuir para a preservação e a restauração da diversida-
de de ecossistemas naturais;
IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos re-
cursos naturais;
V - promover a utilização dos princípios e práticas de conserva-
ção da natureza no processo de desenvolvimento;
VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável
beleza cênica;
VII - proteger as características relevantes de natureza geoló-
gica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontoló-
gica e cultural;

17
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;


IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesqui-
sa científica, estudos e monitoramento ambiental;
XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
XII - favorecer condições e promover a educação e interpre-
tação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o
turismo ecológico;
XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistên-
cia de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu
conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e econo-
micamente.

O SNUC também define as categorias de unidades de conversação (UC)


existentes e as classifica em dois grupos principais: Unidades de Proteção Inte-
gral e Unidades de Uso Sustentável. Esses grupos também são subdivididos em
outras categorias. Existem diferenças entre esses grupos e a principal é o tipo de
utilização do espaço que é permitido. Na sequência será apresentado cada um
desses grupos e subgrupos.

Os objetivos básicos dos dois grupos principais das UCs são:

• Unidades de Proteção Integral: preservar a natureza, sendo admitido


apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos ca-
sos previstos nesta Lei.
• Unidades de Uso Sustentável: compatibilizar a conservação da natureza
com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.

O grupo das Unidades de Proteção Integral é composto pelas seguintes ca-


tegorias de unidade de conservação e seus objetivos são:

I - Estação Ecológica: é de posse e domínio públicos e tem como objetivo a


preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas;

II - Reserva Biológica: é de posse e domínio públicos e tem como objetivo


a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus
limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuan-
do-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de
manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade
biológica e os processos ecológicos naturais;

III - Parque Nacional: é de posse e domínio públicos e tem como objetivo


básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e
beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvol-
vimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em
contato com a natureza e de turismo ecológico;

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Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

IV - Monumento Natural: pode ser constituído por áreas particulares e tem


como objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande be-
leza cênica;

V - Refúgio de Vida Silvestre: pode ser constituído por áreas particulares e


tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se asseguram condições
para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da
fauna residente ou migratória.

Com relação ao Grupo das Unidades de Uso Sustentável as seguintes cate-


gorias compreendem estas unidades de conservação, bem como suas peculiari-
dades e objetivos são:

I - Área de Proteção Ambiental (APA): podem ser constituídas por terras públi-
cas ou privadas e é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação
humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmen-
te importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e
tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo
de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais;

II - Área de Relevante Interesse Ecológico: pode ser constituída por terras


públicas ou privadas e é uma área em geral de pequena extensão, com pouca ou
nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que
abriga exemplares raros da biota regional, e tem como objetivo manter os ecossis-
temas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas
áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos de conservação da natureza;

III - Floresta Nacional: é de posse e domínio públicos e é uma área com


cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo
básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica,
com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas;

IV - Reserva Extrativista: é de domínio público, com uso concedido às popu-


lações extrativistas tradicionais, e é uma área utilizada por populações extrativis-
tas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmen-
te, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem
como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações,
e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade;

V - Reserva de Fauna: é de posse e domínios públicos e é uma área natural


com populações animais de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes
ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos sobre o manejo eco-
nômico sustentável de recursos faunísticos;

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Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

VI - Reserva de Desenvolvimento Sustentável: é de domínio público e é uma


área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sis-
temas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo
de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham
um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade
biológica A Reserva de Desenvolvimento Sustentável tem como objetivo básico
preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios ne-
cessários para a reprodução e a melhoria dos modos e da qualidade de vida e ex-
ploração dos recursos naturais das populações tradicionais, bem como valorizar,
conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente,
desenvolvido por estas populações; e

VII - Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN): é uma área privada e


tem como objetivo conservar a diversidade biológica.

Todas as unidades de conservação possuem peculiaridades que as distin-


guem, com relação ao seu domínio, seus objetivos, e os seus tipos de usos per-
mitidos e proibidos. Levando em conta essas características quanto aos usos, o
Quadro 1 abaixo, reúne estas informações.

QUADRO 1 – USOS PERMITIDOS E PROIBIDOS NAS UCS

Tipo de UC Usos Permitidos e Proibidos


Unidades de Proteção Integral
Pesquisa científica: dependendo de autorização prévia do órgão responsá-
vel pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições
por este estabelecidas.
Alterações dos ecossistemas no caso de: medidas que visem a restauração
de ecossistemas modificados; manejo de espécies com o fim de preservar
a diversidade biológica; coleta de componentes dos ecossistemas com fi-
Estação Ecológica
nalidades científicas; e pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente
seja maior do que aquele causado pela simples observação ou pela coleta
controlada de componentes dos ecossistemas, em uma área correspon-
dente a no máximo três por cento da extensão total da unidade e até o limite
de um mil e quinhentos hectares.
Visitação pública: proibida, exceto quando possuir objetivo educacional.
Pesquisa científica: dependendo de autorização prévia do órgão responsá-
vel pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições
Reserva Biológica
por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.
Visitação pública: proibida, exceto quando possuir objetivo educacional.
Visitação pública: está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Pla-
Parque Nacional no de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável
por sua administração, e àquelas previstas em regulamento.

20
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

Pesquisa científica: dependendo de autorização prévia do órgão responsá-


vel pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições
por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.
Visitação pública: sujeita às condições e restrições estabelecidas no Plano
Monumento Natural de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável
por sua administração e àquelas previstas em regulamento.
Visitação pública: sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de
Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por
Refúgio de Vida sua administração, e àquelas previstas em regulamento.
Silvestre Pesquisa científica: dependendo de autorização prévia do órgão responsá-
vel pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições
por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento.
Unidades de Uso Sustentável
Pesquisa científica e visitação pública: nas áreas sob domínio público serão
Área de Proteção estabelecidas pelo órgão gestor da unidade e nas áreas sob propriedade
Ambiental privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e
visitação pelo público, observadas as exigências e restrições legais.
Área de Relevante Podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma pro-
Interesse Ecológico priedade privada localizada em uma Área de Relevante Interesse Ecológico.
Permanência de populações tradicionais: É admitida para as que a habitam
quando de sua criação, em conformidade com o disposto em regulamento
e no Plano de Manejo da unidade.
Visitação pública: é permitida, condicionada às normas estabelecidas para
Floresta Nacional
o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua administração.
Pesquisa científica: é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia auto-
rização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições
e restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em regulamento.
Visitação pública: é permitida, desde que compatível com os interesses lo-
cais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área.
Pesquisa científica: é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia auto-
rização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições
e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento.
Reserva Extrativista
Proibido: a exploração de recursos minerais e a caça amadorística ou pro-
fissional.
Exploração comercial de recursos madeireiros: só será admitida em bases
sustentáveis e em situações especiais e complementares às demais ativi-
dades desenvolvidas na Reserva Extrativista.
Visitação pública: pode ser permitida, desde que compatível com o manejo
da unidade e de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão respon-
sável por sua administração.
Reserva de Fauna
Proibido: o exercício da caça amadorística ou profissional.
Comercialização dos produtos e subprodutos resultantes das pesquisas:
obedecerá ao disposto nas leis sobre fauna e regulamentos.

21
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Visitação pública: é permitida e incentivada, desde que compatível com os


interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área.
Pesquisa científica: é permitida desde que seja voltada à conservação da
natureza, à melhor relação das populações residentes com seu meio e à
Reserva de Desen- educação ambiental, sujeitando-se à prévia autorização do órgão respon-
volvimento Susten- sável pela administração da unidade, às condições e restrições por este
tável estabelecidas e às normas previstas em regulamento.
Exploração de componentes dos ecossistemas naturais em regime de ma-
nejo sustentável e a substituição da cobertura vegetal por espécies cultivá-
veis: é admitida a desde que sujeitas ao zoneamento, às limitações legais
e ao Plano de Manejo da área.
Reserva Particular do Permitidas: pesquisa científica e a visitação com objetivos turísticos, recre-
Patrimônio Natural ativos e educacionais.
FONTE: Adaptado de Lei Federal nº 9985/2000 (2021)

Um dos principais objetivos do SNUC é favorecer condições e promover a


educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o
turismo ecológico, e, através do quadro 1 apresentado acima, é possível perce-
ber que diversos tipos de unidades de conservação permitem que essa prática
ocorra de maneira sustentável e em consonância com os objetivos de cada uma
dessas unidades.

2 O SNUC divide as unidades de conservação em dois grandes


grupos. Relembre quais são eles e quais são os objetivos básicos
dos dois grupos principais das UCs. Além disso, descreva quais
são as unidades de conservação que permitem visitação para
ecoturismo, ainda que por meio de autorização prévia.

Prezado acadêmico, conheça um pouco sobre a RPPN Estadual


MO’Ã, localizada no Rio Grande do Sul e as estratégia para a conserva-
ção, através do artigo: “Divulgação da RPPN Estadual MO ́Ã como es-
tratégia para a conservação” (CORRÊA, L.R.; RODRIGUES, T.T, 2021).
Disponível em : <https://uniasselvi.me/3kTExs6>

22
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

3 ECOTURISMO: CONCEITO,
HISTÓRIA E LEGISLAÇÃO NO BRASIL
Como pudemos ver nos tópicos anteriores, o Brasil possui uma história
muito ligada ao meio ambiente, incluindo a preservação de áreas naturais e com
isso, aumentam as chances e as possibilidades de promover e desenvolver o
turismo e o ecoturismo. Neste tópico, aprenderemos um pouco mais sobre o
ecoturismo, estudando como ele se desenvolveu, sua história e a legislação bra-
sileira que o permeia.

A questão ambiental que nos primórdios era debatida na visão da ecologia ge-
ral, após algum tempo ampliou as discussões para os sistemas ambientais, nascen-
do processos em que os sistemas humanos (as economias, populações, culturas,
governos e organizações) podem fazer escolhas visando à conservação ambiental
e à sustentabilidade. Os temas ambientais ganham espaço nas discussões científi-
cas e nas esferas políticas e sociais, surgindo uma nova ética do desenvolvimento
que incorpora a qualidade ambiental e a inclusão social. É fundamentado nessa
premissa que se compreende o ecoturismo, como uma atividade que se materializa
pela interação com o ambiente de uma forma sustentável (BRASIL, 2008).

Na opinião de Damas (2020), o vínculo entre turismo e natureza se comple-


menta, ou pelo menos deveria também complementar-se em um sentido mais in-
tenso, seja pelo fato da riqueza da biodiversidade existente em todo o mundo,
como também pelo fato do turismo ganhar maior abrangência e atratividade
quando aliado aos encantos e cenários que a natureza proporciona, no qual
devem vir aliado tanto pela Educação Ambiental, conscientização e preserva-
ção dos recursos naturais existentes.

Embora o termo “ecoturismo” seja recente, a natureza já atrai viajantes há mui-


to tempo. Datam do século XV as primeiras investidas aos picos da região dos Al-
pes, na fronteira entre a França, Itália e Suíça. Nos Estados Unidos, desde a segun-
da metade do século XIX, milhares de turistas já visitavam os Parques Nacionais de
Yellowstone (criado em 1872) e Yosemite (criado em 1890). No Brasil, existem re-
gistros de expedições à região de Itatiaia (RJ), realizadas no fim do século XIX, sen-
do que, em 1919, foi fundado, na cidade do Rio de Janeiro, o Centro Excursionista
Brasileiro (CEB), primeiro grupo de montanhismo do país (SÃO PAULO, 2014).

Foi apenas no início da década de 1980 que o termo “ecoturismo” começou a


ser utilizado. Ele surgiu como um conceito de atividade diferente, em que o turista
também é responsável pelo ambiente e a sociedade que visita, em oposição ao
modelo de turismo de massa desenvolvido desde o pós-guerra até os dias atuais.

23
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

A nível de Brasil, existe um instrumento chamado Plano Nacional de Turismo


(PNT) (sendo o mais recente abrangendo os anos 2018 a 2022), e se trata de
um instrumento que estabelece diretrizes e estratégias para a implementação da
Política Nacional de Turismo. O objetivo principal desse documento é ordenar as
ações do setor público, orientando o esforço do Estado e a utilização dos recursos
públicos para o desenvolvimento do turismo. Segundo esse plano, o turismo será
cada vez mais importante no contexto da economia nacional, à medida em que
conseguir avançar nos objetivos da Política Nacional de Turismo, os quais são:
contribuir para a redução das desigualdades sociais e econômicas regionais, pro-
mover a inclusão pelo crescimento da oferta de trabalho e melhorar a distribuição
de renda (BRASIL, 2018).

Desta maneira, o PNT propõe modernizar e desburocratizar o setor; ampliar


investimentos e o acesso a crédito; estimular a competividade e a inovação; in-
vestir na promoção do destino Brasil, interna e internacionalmente; na qualifica-
ção profissional e de serviços e fortalecer a gestão descentralizada e a regionali-
zação do turismo (BRASIL, 2018).

Conheça o Plano Nacional do Turismo em: https://www.gov.br/


turismo/pt-br/centrais-de-conteudo/pnt-2018-2022-pdf

Segundo o PNT (2018), para tornar os destinos, produtos e serviços turísticos


cada vez mais competitivos e sustentáveis, em um mercado que se transforma a
uma velocidade nunca vista, é imprescindível que se compreenda o processo de
desenvolvimento territorial regionalizado e cooperado, assim como se observe e
invista em inovações contínuas no setor, respeitando os princípios da sustentabi-
lidade no turismo.

Nesse sentido, o Plano Nacional de Turismo estabeleceu, para o desenvolvi-


mento do turismo nacional no período de 2018-2022, as seguintes diretrizes: for-
talecimento da regionalização; melhoria da qualidade e competitividade; incentivo
à inovação; e promoção da sustentabilidade.

Com relação à promoção da sustentabilidade, o PNT informou que:

A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o ano de 2017 como o “Ano
Internacional do Turismo Sustentável”. Atividades foram realizadas em todo o mun-

24
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

do para discutir a importância da promoção da sustentabilidade no turismo e se efe-


tivar uma transformação no setor que contribua para o alcance de um futuro melhor.

A iniciativa somou-se ao esforço das Nações Unidas em promover o desen-


volvimento sustentável do planeta, por meio da consecução da Agenda 2030, um
conjunto de 17 objetivos e 169 metas a serem perseguidas por todos os atores
desde o nível local, regional, nacional até o supranacional. Tais objetivos são inte-
grados e indivisíveis e equilibram as três dimensões do desenvolvimento susten-
tável: a econômica, a social e a ambiental.

Essa importante celebração ocorreu 50 anos após o Ano Internacional do


Turismo - Passaporte para a Paz (1967) e quinze anos após o Ano Internacional
do Ecoturismo (2002). Veio em um momento crítico para todos, uma vez que a
comunidade global trabalha a nível regional, nacional e local para contribuir com o
cumprimento da Agenda para o Desenvolvimento Sustentável de 2030.

No ano de 2002 ocorreu a chamada “Cúpula Mundial de Ecoturismo”, em


Quebec-Canadá, por meio da recomendação da OMT – Organização Mundial do
Turismo e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), e
nesta reunião os representantes internacionais da iniciativa pública, empreende-
dores do turismo, do meio acadêmico, do terceiro setor e representantes das co-
munidades “tradicionais” discutiram diversos assuntos ligados ao tema.

O evento se deu juntamente com as comemorações pelo Ano Internacional


do Ecoturismo e possibilitou que diversos participantes, de aproximadamente 130
países, através da troca de experiências, aprendessem uns com os outros e iden-
tificando os princípios e prioridades que foram acordadas para o desenvolvimento
e gestão do ecoturismo, sempre levando em conta os pilares da sustentabilidade.

Como resultado desta conferência, foi elaborado um documento final chama-


do de “A Declaração de Quebec sobre Ecoturismo” e essa declaração reconheceu
que o ecoturismo envolve os princípios do turismo sustentável, no que diz respeito
aos impactos econômicos, sociais e ambientais do turismo, abrangendo também
alguns princípios específicos que o distinguem do conceito mais amplo de turis-
mo. Estes princípios do ecoturismo, que se deram a partir de várias ideias e refle-
xões dos participantes, são:

• contribui ativamente para a conservação do meio natural e cultural her-


dados;
• inclui comunidades locais tradicionais em seu planejamento, desenvolvi-
mento e operação, e contribuindo para o seu bem-estar;
• interpreta o patrimônio natural e cultural do destino para os visitantes;
• se adequa melhor para viajantes independentes, bem como para pesso-
as organizadas em grupos de pequeno porte.

25
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

A Declaração de Ecoturismo de Quebec, apresentou 41 recomendações aos


governos, setor privado, organizações não governamentais, associações de base
comunitária, instituições de ensino e pesquisa, instituições internacionais de finan-
ciamento, agências de assistência ao desenvolvimento, comunidades e organiza-
ções locais. Dentre as recomendações destacam-se: o incentivo ao planejamento
participativo, o processo de certificação voluntária, o desenvolvimento de práticas
de mínimo impacto e a implantação de estratégias que aumentem os benefícios
nas localidades receptoras (SÃO PAULO, 2014).

Já, no ano de 2007, foi realizada, na Noruega, a Global Ecotourism Confe-


rence (GEC07), com o objetivo de discutir os resultados e os novos desafios no
campo do Ecoturismo. Nessa conferência também foi produzido um documento
- Oslo Statement on Ecotourism. Esse documento apresenta quatro recomenda-
ções: reconhecer o papel do ecoturismo no desenvolvimento sustentável local;
maximizar o potencial do ecoturismo bem gerido como um meio de conservação
dos recursos naturais e culturais, tangíveis e intangíveis; apoiar a viabilidade e o
desenvolvimento de empresas e atividades de ecoturismo, por meio de ações de
marketing, educação e capacitação; e, finalmente, tratar as questões críticas do
ecoturismo para o fortalecimento de sua sustentabilidade (SÃO PAULO, 2014).

A OMT ou também chamada de UNWTO (The World Tourism Organization)


informa que o turismo sustentável é o “turismo que leva em consideração os im-
pactos econômicos, sociais e ambientais atuais e futuros para atender às necessi-
dades dos visitantes, da indústria, do meio ambiente e das comunidades anfitriãs”
(UNWTO, 2021).

Vale ressaltar que a sustentabilidade no turismo é entendida de forma ampla,


de maneira a garantir a preservação não apenas dos recursos naturais, mas da
cultura e da integridade das comunidades visitadas. Esses princípios permeiam
os planos nacionais de turismo e o Programa de Regionalização do Turismo.

Derivado da palavra turismo sustentável surgiu o termo ecoturismo. Ao pen-


sar na origem da palavra ecoturismo, pode-se descobrir que “a mesma é originá-
ria de um neologismo entre o prefixo “eco” derivado da palavra grega “oikos” que
significa “casa”, e a palavra de origem francesa “turismo”, que se relaciona com
sentimento de prazer, usada pela primeira vez por Hector Ceballos na década de
80” (MEDEIROS, 2006, p. 91).

Para Mohr (2011), a compreensão do conceito de Ecoturismo é fundamental


para aprofundar o tema. Seguindo a tendência mundial de valorização do meio
ambiente, no final dos anos 1980, o termo Ecoturismo foi introduzido no Brasil. Na
mesma década, a EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo iniciou o “Projeto
Turismo Ecológico” e criou a Comissão Técnica Nacional, esta, constituída em

26
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

conjunto com o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos


Naturais Renováveis. Historicamente, esta foi a primeira iniciativa voltada a orga-
nizar o segmento.

Segundo os Cadernos de Educação Ambiental – Ecoturismo, do Governo de


São Paulo (SÃO PAULO, 2014, p. 11):

“Ecoturismo” ou “Turismo Ecológico” é um tipo de turismo, que


promove um maior contato do homem com a natureza e com os
seus habitantes, para sensibilizá-lo e conscientizá-lo quanto à
importância da preservação e da conservação do meio ambiente
e das tradições culturais, por meio de práticas e atitudes susten-
táveis. O ecoturismo representa uma nova forma de usufruir os
locais visitados, sejam eles florestas, áreas costeiras, unidades
de conservação e outros ecossistemas. Ele é, também, o res-
peito e a responsabilidade com a biodiversidade encontrada na
região visitada e com o patrimônio natural e cultural existentes.

E em 1994, através da publicação das Diretrizes para uma Política Nacional


de Ecoturismo pela EMBRATUR e Ministério do Meio Ambiente, o então “turismo
ecológico” passou a se denominar e foi conceituado da seguinte maneira:

Para a EMBRATUR (1994) “ecoturismo é um segmento da ativi-


dade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural
e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma
consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente,
promovendo o bem-estar das populações”

Já para a OMT (2002) ecoturismo são “todas as formas de turis-


mo em que a motivação principal do turista é a observação e apre-
ciação da natureza, de forma a contribuir para a sua preservação e
minimizar os impactos negativos no meio ambiente natural e socio-
cultural onde se desenvolve”.

27
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

FIGURA 3 – ECOTURISMO

FONTE: <http://www.turismo.pr.gov.br/Pagina/ECOTURISMO>. Acesso em: 25 mar. 2021.


Descrição da imagem: exemplo de atividade voltada ao ecoturismo.

Para a Organização Mundial do Turismo (UNTWO, 2021):

As diretrizes para o desenvolvimento do turismo sustentável e


práticas de gestão sustentável se aplicam a todas as formas
de turismo em todos os tipos de destinos, incluindo o turismo
de massa e vários segmentos de turismo. Os princípios da sus-
tentabilidade referem-se aos aspectos ambientais, económicos
e socioculturais do desenvolvimento do turismo, devendo es-
tabelecer um equilíbrio adequado entre estas três dimensões
para garantir a sua sustentabilidade a longo prazo. Portanto, o
turismo sustentável deve:
- Aproveitar ao máximo os recursos ambientais, que constituem
um elemento fundamental do desenvolvimento do turismo, man-
tendo os processos ecológicos essenciais e contribuindo para a
conservação dos recursos naturais e da diversidade biológica.
- Respeitar a autenticidade sociocultural das comunidades an-
fitriãs, preservar seus ativos culturais e arquitetônicos e valores
tradicionais, e contribuir para a compreensão intercultural e a
tolerância.
- Assegurar as atividades económicas viáveis a longo prazo,
que reportem a todos os agentes benefícios socioeconómicos
bem distribuídos, entre os que procuram oportunidades de
emprego estável, geração de renda e que os serviços sociais
sejam fornecidos às comunidades anfitriãs, contribuindo para
a redução da pobreza.

Para a EMBRATUR, o Ecoturismo caracteriza-se pelo contato com ambien-


tes naturais, pela realização de atividades que possam proporcionar a vivência e o
conhecimento da natureza e pela proteção das áreas onde ocorre. Ou seja, assen-

28
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

ta-se sobre o tripé interpretação, conservação e sustentabilidade. Assim, o Ecoturis-


mo pode ser entendido como as atividades turísticas baseadas na relação susten-
tável com a natureza, comprometidas com a conservação e a educação ambiental.

A EMBRATUR afirma que: “o Ecoturismo assenta-se no tripé (pilares): inter-


pretação, conservação e sustentabilidade”.

A EMBRATUR é a Agência Brasileira de Promação Internacional do


Turismo. Conheça mais sobre a EMBRATUR em: https://embratur.com.br/

A atividade de Ecoturismo aparece, também, como uma alternativa de apoio


ao desenvolvimento sustentável, frente às outras atividades potencialmente mais
impactantes, principalmente para aquelas comunidades inseridas em ambientes
naturais conservados ou que apresentam fragilidades. Porém, apenas por meio
de um processo de planejamento, o ecoturismo pode funcionar efetivamente
como uma ferramenta para o alcance da sustentabilidade. Esse planejamento,
associado à conscientização ambiental, fará com que as pessoas tenham atitudes
que assegurem as condições necessárias para que esta e as próximas gerações
usufruam dos recursos naturais de modo pleno, saudável, equilibrado e harmôni-
co (SÃO PAULO, 2014).

Damas (2020, p. 312) descreve que:

Ao pensar em alternativas práticas para o turismo sobre o viés


da sustentabilidade, tem-se primeiramente um questionamento
sobre a dependência massiva do turismo pela questão econô-
mica, porém com a evolução das preocupações voltadas aos
impactos negativos ao meio ambiente, o turismo merece total
atenção, principalmente pelas novas formas de práticas sus-
tentáveis que surgiram.

Assista o vídeo abaixo para entender melhor sobre os Impactos


ambientais negativos causados pelo homem.

O vídeo ilustra, através de um desenho animado, os impactos


ambientais que são causados pelo homem a partir do consumo de-
senfreado.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zkQu0QNcWjA

29
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Para a OMT (2002) são objetivos do Ecoturismo:

• a preservação da biodiversidade e dos habitats naturais;


• a conservação do contexto natural, cultural e construído;
• o esclarecimento sobre o uso ilegal dos recursos naturais, bem como
sobre o abuso na sua exploração; e
• a integração das áreas naturais protegidas, com os objetivos de conser-
vação nos planos e programas de desenvolvimento locais e regionais.

Ao analisar os conceitos acima e o estudo abordado até o presente momento,


pode-se perceber como o papel humano torna-se parte fundamental no processo
de mudança, seja na cooperação, no respeito e ética da vida humana, buscando
o equilíbrio na relação a natureza, da importância tanto de questões econômicas
e ambientais praticadas em consonância e com o mesmo grau de importância
(DAMAS, 2020).

Antes de aprofundar as questões que norteiam o ecoturismo, é interessante


conhecer um pouco mais da sua história.

A história do turismo remonta a história da própria humanidade. Os povos


gregos e romanos já realizavam viagens para desfrutar de atividades culturais e
artísticas, encontros, solenidades e festividades. Um dos maiores exemplos foram
os Jogos Olímpicos, realizados na Grécia Antiga, no século VIII a.C. Já, nos sécu-
los XVI e XVII, no período do Renascimento, houve registros de viagens turísticas
na Europa, feitas por jovens, artistas, intelectuais e cientistas, que buscavam am-
pliar seus conhecimentos acerca de outras culturas (SÃO PAULO, 2014).

Com a Revolução industrial e o surgimento da classe média, na segunda


metade do século XVIII, houve um grande estímulo ao turismo. Ainda nesse sé-
culo se apontam ocorrências de viagens relacionadas à natureza, e os ambientes
naturais passaram a ser o foco central das viagens. Por outro lado, a Revolução
industrial marcou, na Europa, o aumento da degradação ambiental. A classe que
emergiu dessa transformação econômica aumentou o consumo e passou a fazer,
também, mais deslocamentos. Consequentemente, causou mais danos ao meio
natural (SÃO PAULO, 2014).

Bezerra (s.d.) afirma que:

na década de 1980, põe-se em evidência a expressão Eco-


turismo utilizado em termos práticos, como atividade turística
realizada em ambientes naturais cujo diferencial era a valori-
zação das comunidades locais. Com o aumento das práticas
intituladas de Ecoturismo registra-se nas décadas seguintes
uma discussão que ganha importância nos debates da comu-

30
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

nidade acadêmica, governo e ONGs. Tais debates ocorreram


na perspectiva da elaboração de uma definição concreta para
o termo Ecoturismo com seus princípios e características. Mas,
entretanto, mesmo com a prática do Ecoturismo em ambientes
naturais e em comunidades percebe-se ainda a inexistência de
clareza quanto a definição cientifica deste termo.

Desde 1985, no Brasil, o ecoturismo vem tomando espaço e vem sendo dis-
cutido no âmbito governamental. A primeira iniciativa formal ocorreu em 1987,
através da criação da Comissão Técnica Nacional, a qual era constituída por téc-
nicos no IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis) e do EMBRATUR (na época, Instituto Brasileiro de Turismo). Esta
iniciativa promovia o monitoramento do Projeto Turismo Ecológico, o qual estava
iniciando e não possuía organização adequada e práticas sustentáveis.

A EMBRATUR em 1994 (p. 9) descreve que existiam diversas barreiras entre


a teoria e a prática do ecoturismo como: ausência de consenso sobre a conceitu-
ação do segmento, falta de critérios, regulamentações e incentivos que orientem
os empresários, investidores e o próprio Governo, a fim de estimular a exploração
do potencial das belezas naturais e os valores culturais disponíveis no País, ao
mesmo tempo em que promove a sua conservação.

Estes motivos foram suficientes para que o Ministério da Indústria, do Co-


mércio e do Turismo e o Ministério do Meio Ambiente a criassem a Portaria Inter-
ministerial nº 0001 de 1994 e também um Grupo de Trabalho, que era integrado
por representantes dos Ministérios anteriormente citados, IBAMA e EMBRATUR,
o qual instituiu e desenvolveu uma Política e um Programa Nacional de Ecoturis-
mo (EMBRATUR, 1994).

Como resultado deste envolvimento e participação multidisciplinar surgiu a


ideia da criação de uma Política Nacional de Ecoturismo, a qual deveria assegurar:

• À comunidade: melhores condições de vida e reais benefícios;


• Ao meio ambiente: uma poderosa ferramenta que valorize os recursos
naturais;
• À nação: uma fonte de riqueza, divisas e geração de empregos; e
• Ao mundo: a oportunidade de conhecer e utilizar o patrimônio natural dos
ecossistemas onde convergem a economia e a ecologia, para o conheci-
mento e uso das gerações futuras.

Cabe ressaltar, que o Projeto Iniciado em 1994, citado acima e denominado


“Projeto Turismo Ecológico” o qual motivou uma possível criação de uma Política
Nacional de Ecoturismo não prosperou, portanto, não é possível encontrar, até o
presente momento, legislações específicas sobre este tema em âmbito Nacional.

31
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

O Ministério de Turismo, através do PNT, destaca que, além da sustenta-


bilidade ambiental, que assegura a compatibilidade do desenvolvimento com a
manutenção de processos ecológicos essenciais à diversidade dos recursos na-
turais, há outros aspectos da sustentabilidade a considerar. Cite-se a sustenta-
bilidade sociocultural, que assegura que o desenvolvimento preserve a cultura
local e os valores morais da população, fortalece a identidade da comunidade e
contribui para o seu desenvolvimento. Há também a sustentabilidade econômica,
que assegura o desenvolvimento economicamente eficaz, garante a equidade na
distribuição dos benefícios advindos desse desenvolvimento e gera recursos de
modo que possam suportar as necessidades das gerações futuras. Por fim, tem-
-se a sustentabilidade político-institucional, que assegura a solidez e a continuida-
de das parcerias e dos compromissos estabelecidos entre os diversos agentes e
agências governamentais dos três níveis de governo e nas três esferas de poder,
além dos atores situados no âmbito da sociedade civil (BRASIL, 2018).

Mas você, acadêmico, pode estar se perguntando: por que o


Ecoturismo se destaca no Brasil?

Inicialmente, devemos fazer uma abordagem sobre um dos principais fatores


do desenvolvimento da atividade do Ecoturismo no Brasil, que se refere a biodi-
versidade encontrada em território brasileiro, fator que contribui para o país figurar
como o maior possuidor de riquezas e diversidades naturais do mundo.

Destaca-se ainda, como outro fator preponderante para o desenvolvimento


da atividade do Ecoturismo no Brasil, a extensão territorial, tendo em vista a sua
dimensão, o país atinge várias regiões equatoriais, caracterizando-se por diversos
climas e geomorfologias.

Segundo a publicação do Ministério do Turismo (BRASIL, 2018), o Brasil


exibe uma impressionante diversidade biológica, paisagística, histórica e cultural
que, frequentemente, é utilizada como atrativo pelos turistas nacionais e inter-
nacionais interessados em conhecer os destinos brasileiros. A valorização desse
patrimônio, bem como seu aproveitamento como atrativo turístico, perpassa pela
capacitação dos membros da comunidade, onde os bens culturais e naturais es-
tão assentados, para capacitá-los a perceber o ambiente que os cerca e criar uma
relação de pertencimento. Dessa forma, educação patrimonial e ambiental são te-
mas que podem contribuir não só para a assimilação da importância desses bens,

32
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

como também para a criação de novos produtos turísticos, tornando-os mais atra-
tivos ao público e gerar mais fluxo e renda na cadeia turística.

A atuação conjunta com órgãos responsáveis pelo meio ambiente e pela cul-
tura se torna imprescindível para implementar uma política de gestão das áreas
de uso público das Unidades de Conservação Federais, em parceria com o setor
privado e o terceiro setor, e promover a inovação, a criatividade, o aprimoramento
e a qualificação de produtos e serviços turísticos culturais e criativos.

Sob a ótica da inserção social, Layrargues (2004 p. 3-4) informa que sob a
perspectiva que envolve uma dinâmica de correlação de forças entre capital e tra-
balho, existem dois modelos de ecoturismo, que devem ser aqui entendidos como
duas categorias possíveis apenas como tipo-ideal, ou seja, que representam pa-
res binários que no real podem conter elementos comuns imbricados entre si: o
ecoturismo empreendedor e o ecoturismo de base comunitária, cujas característi-
cas básicas estão descritas na Figura 4.

FIGURA 4 – TIPOS DE ECOTURISMO

FONTE: Layrargues (2004, p. 4)


Descrição da imagem: a imagem representa as diferenças entre o eco-
turismo de base comunitária e o ecoturismo empreendedor.

33
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Diante desse quadro, o qual expõe os dois modelos de ecoturismo, é ne-


cessário reconhecer que enquanto o ecoturismo de base comunitária possibilita
converter os fatores socioeconômicos em favor da mudança social, o ecoturismo
empreendedor age em função da manutenção das condições sociais historica-
mente inalteradas. Sendo, portanto, a forma com que a parte social é inserida no
ecoturismo, a diferença principal entre eles.

Nesse sentido, é interessante ainda tecer considerações a respeito da for-


mação profissional de recursos humanos para atuar no ecoturismo. Dependen-
do do enfoque que se implemente, é possível identificar duas possibilidades, de
acordo com os dois modelos: uma que prepara recursos humanos para geração
de empregos (considerados como trabalhadores subordinados ao capital) para o
ecoturismo empreendedor, outra que prepara recursos humanos para ascensão
social (considerados como trabalhadores em busca da emancipação política e au-
tonomia econômica), para o ecoturismo de base comunitária. Para uns, cursos
de culinária, recepção, hospedagem, guia, entre outros, que mantêm inalterada
a relação capital e trabalho; para outros, cursos de associativismo, empreende-
dorismo e gestão de negócios, além, evidentemente de linhas de crédito popular,
subsidiando a mudança social (LAYRARGUES, 2004).

Prezado acadêmico, acesse o artigo: “Turismo Sustentável: Refle-


xões, avanços e perspectivas.” (Damas, M.T., 2020), para obter informa-
ções sobre o ponto de vista do autor, em relação ao turismo sustentável.

Disponível em : <https://uniasselvi.me/38Iu11e>

3 Tanto o desenvolvimento sustentável quanto o ecoturismo pos-


suem pilares que sustentam o seu conceito e sua aplicação.
Quais são esses pilares e como eles se relacionam?

4 Como resultado da Conferência de Quebec, foi elaborado um do-


cumento final chamado de “A Declaração de Quebec sobre Ecotu-
rismo” e essa declaração reconheceu que o ecoturismo envolve os
princípios do turismo sustentável, no que diz respeito aos impactos
econômicos, sociais e ambientais do turismo, abrangendo também

34
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

alguns princípios específicos que o distinguem do conceito mais


amplo de turismo. Cite quais são estes princípios do ecoturismo.

4 TURISMO EM ÁREAS NATURAIS


PROTEGIDAS
Estudos mostram que o turismo pode proporcionar uma contribuição para a
proteção continuada do meio ambiente, criando valor econômico para as espécies
endêmicas ou em risco de extinção e, também, para os habitats naturais. Alguns
casos atestam a efetividade do ecoturismo como um instrumento de persuasão
para a conservação da natureza, substituindo atividades agrícolas e extrativistas
não sustentáveis, por atividades que levem em conta a preservação e a conser-
vação dos recursos naturais, como é o caso do projeto “Turismo no Rio e na Vila
Cambuhat”, nas Filipinas, e o “Desenvolvimento e Conservação do Ecoturismo
Comunitário”, nas ilhas Togean, na indonésia (SÃO PAULO, 2014).

Como um estudo de caso, vamos utilizar o caso da Pousada


Uacari, a qual está localizada na Reserva de Desenvolvimento Sus-
tentável (RDS) Mamirauá, que é uma unidade de conservação esta-
dual, com uma área de 1.124.000 hectares, na várzea do Médio Rio
Solimões, limitada pelos rios Solimões, Japurá e Auati-paraná.

Juntamente com outras duas unidades de conservação, a RDS


Amanã e o Parque Nacional do Jaú, formam uma das maiores áreas
contínuas de floresta tropical protegidas do mundo. A RDS Mamirauá
está inserida no Corredor Central da Amazônia, é um dos Sítios do
Patrimônio Natural da UNESCO e faz parte da Reserva da Biosfera
da Amazônia.

Na região é desenvolvido o Turismo de Base Comunitária (TBC),


o qual é construído através de um longo processo, com o objetivo de
consolidar uma atividade sustentável, tendo o protagonismo comu-
nitário como condição, e trabalhando para que maior parte da renda
gerada pela atividade permaneça na comunidade.

35
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Pode-se entender “ecoturismo de base comunitária” como sen-


do: “Uma forma de ecoturismo em que a comunidade local tem um
substancial controle sobre ele e envolvimento na gestão e no desen-
volvimento e a maior proporção dos benefícios permanecem na co-
munidade” (BRASIL, 2017).

O turismo da Pousada Uacari pode ser realizado em uma área


de 3.500 hectares e os objetivos são conservar os recursos naturais e
gerar renda para a população local. O projeto de turismo de base co-
munitária vem sendo implementado desde 1998 e a atividade turística
desenvolvida se baseia em três principais elementos: a vida selvagem,
os modos de vida da população local e a pesquisa científica.

A Pousada Uacari é um dos projetos de TBC pioneiros no Brasil


e tem a preocupação central de trabalhar a autonomia das comunida-
des na gestão da atividade, gerando emprego e renda, fortalecendo a
governança local e contribuindo para a conservação dos recursos natu-
rais. Os moradores locais envolvidos na atividade de TBC são afiliados
a uma associação local, a Associação de Auxiliares e Guias de Ecotu-
rismo do Mamirauá (AAGEMAM) que é a principal parceira da iniciativa.

FIGURA 5 – POUSADA UACARI

FONTE: <https://www.uakarilodge.com.br/blog/>. Acesso em: 25 mar. 2021.

Segundo o site da Pousada Uacari (2021), iniciado em 1998, o


Uacari é administrado de forma compartilhada entre o Instituto Ma-
mirauá e as comunidades da Reserva Mamirauá. O objetivo do em-
preendimento é gerar renda para a população local e contribuir para

36
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

a preservação dos recursos naturais. Dez comunidades da reserva


atuam na gestão do Lodge, dos funcionários, das empreiteiras e dos
vendedores. Na pousada, as instalações são sustentáveis. A energia
vem do sol. A chuva é coletada e mantida. Os efluentes são tratados
antes de voltar ao rio. As telhas são ecológicas, feitas de PET recicla-
do de garrafas plásticas.

Desta maneira, ao analisar o caso citado, pudemos conhecer


um projeto de turismo sustentável que é realizado tendo como base o
tripé do desenvolvimento sustentável.

Conheça mais sobre o TBC em: https://mamiraua.org/documen-


tos/2e5638f2d0397658ec029464703c2abd.pdf

No âmbito mundial, as ações voltadas para a conservação das áreas natu-


rais tiveram seu marco com a criação, nos Estados Unidos da América, do Parque
Nacional de Yellowstone, em 1872, uma área de grande beleza cênica e com o
objetivo principal de ser uma área para a população desfrutar da paisagem e da na-
tureza. Esta atitude foi seguida, também, pelo Canadá, Austrália e Nova Zelândia.

Caro Acadêmico, pesquise um pouco mais sobre a história e o


funcionamento dos Parques Nacionais de Yellowstone e Yosemite.

Conheça os parques em:


Yosemite - https://www.nps.gov/yose/index.htm
Yellowstone - https://www.nps.gov/yell/index.htm

Já, no Brasil, seguindo a tendência mundial de cuidados com o meio ambien-


te e, principalmente, com a proteção dos recursos naturais, ocorreu, em 1937, a
criação do primeiro parque nacional brasileiro, o Parque de Itatiaia, seguido pela
criação dos Parques da Serra dos Órgãos e do Iguaçu, ambos em 1939.

Os objetivos de criação das áreas protegidas vêm evoluindo e incorporando


conceitos de proteção da biodiversidade e dos diferentes ecossistemas. Assim,

37
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

essa evolução se expandiu dos chamados atrativos icônicos, como o vale de Yo-
semite ou as Cataratas de Iguaçu, com o único objetivo de recreação, para a ma-
nutenção da biodiversidade, a pesquisa científica, a reprodução da fauna e flora,
a manutenção de valores culturais, a utilização sustentável dos recursos, entre
outros objetivos (MATHEUS; RAIMUNDO, 2017).

Historicamente, o Parque Nacional (também chamado de PARNAS) é a pri-


meira categoria de área natural protegida com objetivos de conservação da natu-
reza, criada em grandes extensões territoriais, a partir do que se definiram as ba-
ses legais e conceituais para a criação de outras categorias (SÃO PAULO, 1999).

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade é


uma autarquia em regime especial. Criado dia 28 de agosto de 2007,
pela Lei 11.516, o ICMBio é vinculado ao Ministério do Meio Ambien-
te e integra o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). Cabe
ao Instituto executar as ações do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação, podendo propor, implantar, gerir, proteger, fiscalizar e
monitorar as UCs instituídas pela União. Cabe a ele fomentar e exe-
cutar programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação
da biodiversidade e exercer o poder de polícia ambiental para a pro-
teção das Unidades de Conservação federais.

Saiba o que o Instituto Chico Mendes tem feito para preservar


nosso patrimônio natural, assista o vídeo do ICMBIO em https://www.
youtube.com/watch?v=SEFwGcJYbbg.

As Unidades de Conservação paulistas, principalmente os Par-


ques Estaduais, já são destinos ecoturísticos conhecidos no país e
recebem um número de visitantes expressivo. De acordo com dados
da Fundação Florestal, em 2012, as UCs estaduais receberam mais
de 1,7 milhões de visitantes (SÃO PAULO, 2014, p. 57).

38
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

Segundo a legislação brasileira para as unidades de conservação, os locais


que permitem a visitação de público devem possuir um Plano de Manejo ou um
Programa de Uso Público, de modo a gerir a visitação, visando o mínimo impacto
e a conservação dos recursos naturais. Pelo SNUC (2000), “o plano de manejo
é um documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais
de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas
que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a
implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade.”

Segundo Castro (2015) o Plano de Manejo é um instrumento de planejamento


e gestão indispensável, em termos técnicos e legais, para que uma Unidade de
Conservação possa cumprir seus objetivos. Através de estudos de diagnósticos,
o Plano de Manejo deverá ser elaborado visando propor medidas de uso ou restri-
ções nas UCs e, de acordo com o SNUC (2000), o Plano de Manejo deve ser elabo-
rado no prazo máximo de 5 anos após a criação da UC. Ainda, o Plano de Manejo
é tomado como o principal ponto de partida para o planejamento nas UCs, pois ele
requer um estudo preliminar da área, determinando como esta deve ser administra-
da e os locais de visitação, visando sempre à proteção do ecossistema. O plano de
Manejo deverá sempre comtemplar o planejamento, o zoneamento e gestão da UC.

Nas palavras da mesma autora, o Plano deve ser contínuo e participativo e


contar com representantes da comunidade do entorno dos parques (sociedade ci-
vil), poder público e organização não governamental. Ainda é necessário estabe-
lecer mecanismos de planejamento e gestão ambiental dinâmicos, flexíveis e in-
tegrados. O planejamento deve garantir a conservação dos recursos naturais e o
uso turístico em harmonia com os interesses e necessidades dos diversos atores
sociais envolvidos. A falta de planejamento adequado das atividades de visitação
pode gerar degradação de áreas prioritárias para a conservação e os objetivos da
unidade podem não ser alcançados.

Com relação à criação e aplicação do Plano de Manejo, algumas ferramen-


tas de gestão são indispensáveis para cumprimento dos objetivos do Plano de
Manejo. O zoneamento da área é primordial para uma boa gestão, indicando os
lugares propensos para o desenvolvimento do turismo de forma a não prejudicar o
ambiente local. Também no Plano deve constar como a visitação turística deverá
ser desenvolvida e quais as infraestruturas mínimas necessárias, como trilhas,
centro de visitantes, estudo de capacidade de carga e o que mais seja indispensá-
vel para desenvolvimento do ecoturismo.

39
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Zoneamento: definição de setores ou zonas em uma unidade de


conservação com objetivos de manejo e normas específicos, com o
propósito de proporcionar os meios e as condições para que todos os
objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e
eficaz (SNUC, 2000).

Conheça alguns planos de manejo das unidades de conserva-


ção federais em: https://www.icmbio.gov.br/portal/planosmanejo

De acordo com o diretor de Criação e Manejo de Unidades de Conservação


do Instituto Chico Mendes (ICMBio), na época, Sérgio Brant, durante uma en-
trevista concedida em fevereiro de 2015 para o WWF, na época dos 71 parques
nacionais criados no Brasil, somente 46 possuíam Plano de Manejo e apenas
34 estavam abertos à visitação. Desta maneira, percebe-se que muitos Parques
foram criados, porém, grande parte não possui Plano de Manejo implementado, o
principal instrumento de planejamento destas áreas protegidas (CASTRO, 2015).
Na sequência serão apresentados os números atuais das UCs Brasileiras.

O planejamento, através da criação de planos de manejo e zoneamentos es-
pecíficos, é uma forma de minimizar os impactos negativos que possam vir a sur-
gir com o desenvolvimento do ecoturismo, visando a preocupação com a comuni-
dade, já que a falta deste planejamento no turismo, pode acarretar o crescimento
descontrolado da atividade levando à descaracterização e perda da originalidade
das destinações, além da degradação ambiental. Para essa evolução harmoniosa
do turismo, a atividade exige cooperação dos setores público e privado, onde o
objetivo do setor privado normalmente é o lucro e do setor público é ditar políticas
que zelam pelo planejamento e legislação, para o melhor desenvolvimento do tu-
rismo. O poder público tem a função de definir, prover e planejar o turismo garan-
tindo os interesses das comunidades receptoras e dos turistas (CASTRO, 2015).

Segundo o Plano Nacional de Turismo, para fins de aplicação do ecoturis-


mo, o que o Governo propõe é o estreitamento das parcerias entre os órgãos
ambientais e culturais com os órgãos oficiais de turismo, para que juntos possam
convergir ações que beneficiem a atividade turística e a consequente geração de
40 emprego e renda, respeitando os princípios da preservação ambiental e valoriza-
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

ção cultural. As parcerias devem prever o envolvimento da iniciativa privada e das


comunidades locais. Ressalta-se que as parcerias público-privadas podem se ca-
racterizar como grandes indutores da preservação e boa utilização do patrimônio
cultural e natural como espaços turísticos (BRASIL, 2018)

Segundo o ICMBIO (2021), a visitação às unidades de conservação é uma


das principais estratégias de sensibilização da sociedade para a importância da
conservação da natureza. Quem conhece as belezas naturais protegidas nas uni-
dades de conservação federais é mais um aliado potencial do ICMBio na proteção
deste patrimônio natural que é de todos os brasileiros. Segundo o site do Instituto
Chico Mendes, o mesmo está trabalhando para diversificar as atividades de eco-
turismo e recreação oferecidas nos Parques Nacionais e em outras unidades de
conservação. O objetivo final é oferecer em cada um dos Parques estrutura ade-
quada ao número e ao perfil de visitantes que procura a unidade de conservação.

FIGURA 6 – CAMPANHA DE VISITAÇÃO DO ICMBIO

FONTE: <https://www.gov.br/icmbio/pt-br>. Acesso em: 25 mar. 2021.

Para oferecer uma experiência que deixe no visitante uma impressão posi-
tiva, o ICMBio busca garantir aos visitantes/turistas condições e estrutura cada
vez melhores nas unidades de conservação federais abertas à visitação. Entre
as ações em andamento estão melhorias e abertura de novas trilhas, reforma
ou construção de centros de visitantes, áreas de camping e outras estruturas de
apoio, instalação de sinalização e promoção de atividades como mergulho, cano-
agem, caminhadas, rafting, entre outras (ICMBIO, 2021).

41
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

A Figura 7 ilustra os números atuais do ICMBio, o qual relata a existência


de 334 Unidades de Conservação Federais, 14 Centros Nacionais de Pesquisa e
Conservação, 12.262 espécies da fauna avaliadas pelo ICMBio e 15,3 milhões de
visitas em 2019.

FIGURA 7 – NÚMEROS DO ICMBIO

FONTE: <https://www.gov.br/icmbio/pt-br>. Acesso em: 25 mar. 2021.

Para Costa (2015), considerando o número de Parques Nacionais existentes


no Brasil, comparado com os que possuem um movimento significativo, perce-
be-se que o grande movimento turístico está concentrado em Parques Nacionais
como o de Foz do Iguaçu e o da Tijuca, provavelmente por estes possuírem me-
lhores estruturas, acesso e também estarem entre os parques mais divulgados.
A Figura 8 ilustra o Ranking de visitação dos 10 parques mais visitados em 2014.

FIGURA 8 – RANKING DE VISITANTES EM PARQUES NACIONAIS – 2014

FONTE: Adaptado de Castro (2015)

Utilizando os dados mais recentes divulgados, ano de 2019, pode-se perce-


ber que ocorreu uma pequena alteração no ranking dos Parques Nacionais mais
visitados, porém, os primeiro, segundo e terceiro lugares continuaram os mesmos,
sendo em primeiro lugar o Parque Nacional da Tijuca, em segundo lugar o Parque
Nacional do Iguaçu e em terceiro lugar o Parque Nacional de Jericoacoara.

42
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

FIGURA 9 – RANKING DE VISITANTES EM PARQUES NACIONAIS – 2019

FONTE: Adaptado de ICMBIO (2021)


Porém, se utilizarmos como base todas as unidades de conservação visita-


das no ano de 2019, o ranking sofre alterações, pois são incluídas algumas ativi-
dades além dos PARNAs, como é o caso da APA de Petrópolis, a RESEX Marinha
do Arraial do Cabo, o MONA do Rio São Francisco, entre outros.

43
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

FIGURA 10 – RANKING DE VISITANTES EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO – 2019

FONTE: Adaptado de ICMBIO (2021)

5 Prezado aluno, agora que você estudou sobre o ecoturismo e as


unidades de conservação, assista o vídeo indicado abaixo, co-
nheça 5 lugares, no Brasil, onde é possível praticar o ecoturismo
e busque identificar, buscando utilizar os conceitos estudados e
buscas na internet para complementar o conhecimento de local, e
repense que tipo de área de preservação cada lugar se encaixa.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FJiLeHPgydE>.

44
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

5 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA
ATIVIDADE TURÍSTICA
Ao aliar educação ambiental com a atividade turística, Freire e Almeida
(2019) informam que a “questão ambiental” tem se tornado muito recorrente nos
debates e nas discussões de diferentes campos do meio acadêmico e também
da cena pública. Não poderia ser diferente nos estudos sobre o turismo, onde se
viu crescer tais discussões a partir do aumento da procura do público por viagens
para os ambientes ditos naturais. Dessa forma, dentre as modalidades do turismo
que abrangem práticas nesses ambientes, o ecoturismo se destaca por sua pro-
posta de aliar as viagens à ação educativa. Nesse sentido, ele buscaria superar a
apreciação meramente contemplativa do meio e contribuir para uma sensibiliza-
ção mais aprofundada do sujeito turista.

Ainda, os mesmos autores declaram que o ecoturismo se constitui a partir


de premissas que buscam possibilitar uma (re)conexão com o meio onde há um
predomínio de elementos físicos naturais, tais como vegetação nativa, ambientes
serranos, dentre outros. Por conseguinte, é muito recorrente a afirmação de que
a prática do ecoturismo tem como ideal a promoção de uma “consciência eco-
lógica”. Como a mudança de consciência está atrelada à formação dos sujeitos
discutiremos aqui as possíveis relações entre o ecoturismo e a formação de um
sujeito ecológico.

No Brasil, é a Lei Federal nº 9.795, de 27 de abril de 1999 que dispõe sobre


a educação ambiental e segundo o artigo 1º da referida Lei: “entendem-se por
educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade
constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, es-
sencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (BRASIL, 1999).

Através desta lei, ficou instituído que a educação ambiental é um compo-


nente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de
forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em
caráter formal e não-formal. E assim, são considerados princípios básicos da edu-
cação ambiental:

I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;


II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, conside-
rando a interdependência entre o meio natural, o socioeconô-
mico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;
III - o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na pers-
pectiva da inter, multi e transdisciplinaridade;
IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as
práticas sociais;

45
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

V - a garantia de continuidade e permanência do processo edu-


cativo;
VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo;
VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais,
regionais, nacionais e globais;
VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversida-
de individual e cultural.

Por meio destes princípios, se faz necessário que alguns objetivos sejam al-
cançados, sendo considerados os objetivos fundamentais da educação ambien-
tal, entre eles estão:

I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio


ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolven-
do aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais,
econômicos, científicos, culturais e éticos;
II - a garantia de democratização das informações ambientais;
III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica
sobre a problemática ambiental e social;
IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanente
e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente,
entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um va-
lor inseparável do exercício da cidadania;
V - o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País,
em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção
de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos
princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia,
justiça social, responsabilidade e sustentabilidade;
VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência
e a tecnologia;
VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos
e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade.

Ainda segundo a mesma Lei, a educação ambiental pode ser dividida em


dois princípios de aplicação, sendo o primeiro através da Educação Ambiental no
Ensino Formal e o segundo da Educação Ambiental Não-formal.

O primeiro é entendido como educação escolar, ou seja, aquela que é desen-


volvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas e
que deve estar presente em todos os anos de formação dos alunos, compreen-
dendo a educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio),
educação superior, educação especial, educação profissional e educação de jovens
e adultos. Cabe ressaltar que o tema educação ambiental deve estar presente de
forma contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal,
bem como a dimensão ambiental deve constar nos currículos de formação dos pro-
fessores, em todos os níveis e em todas as disciplinas (BRASIL, 1999).

Já com relação a segunda forma de aplicação, a Educação Ambiental não-


-formal, a mesma pode ser entendida como “as ações e práticas educativas volta-

46
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

das à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organi-


zação e participação na defesa da qualidade do meio ambiente”.

Cabe ressaltar que tanto a Educação Ambiental formal quanto a não-formal


se utilizam de uma metodologia de concepção já pré-definida, portanto ambas se
diferenciam de uma educação ambiental considerada informal.

Para tanto, o Poder Público, em todas as esferas – Federal, Estadual e Mu-


nicipal – deverá incentivar algumas medidas para que este tipo de educação am-
biental seja incrementado na vida da população. Estes incentivos se darão pode
meio dos seguintes modelos:

I - a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa,


em espaços nobres, de programas e campanhas educativas, e
de informações acerca de temas relacionados ao meio ambiente;
II - a ampla participação da escola, da universidade e de or-
ganizações não-governamentais na formulação e execução
de programas e atividades vinculadas à educação ambiental
não-formal;
III - a participação de empresas públicas e privadas no desen-
volvimento de programas de educação ambiental em parceria
com a escola, a universidade e as organizações não-governa-
mentais;
IV - a sensibilização da sociedade para a importância das uni-
dades de conservação;
V - a sensibilização ambiental das populações tradicionais liga-
das às unidades de conservação;
VI - a sensibilização ambiental dos agricultores;
VII - o ecoturismo.

Dos itens chamam atenção quanto ao assunto que se aborda no presente


livro: a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de conserva-
ção e o ecoturismo.

Para Camargo e Coelho (2021, p. 75 e 76) quando se fala em Educação


Ambiental, destaca-se que não é apenas uma maneira de resolver certos proble-
mas ambientais, mas também que se deve criar nos educandos a percepção que
pertencem ao meio natural para que se sintam parte de todo o processo. Des-
ta forma, constrói-se um sentimento de pertencimento ao meio natural, cria-se a
identidade cultural, e isso faz com que as pessoas mudem as formas de se inserir
no meio natural e passem a trabalhar esses locais com o sentido de um desenvol-
vimento sustentável.

Os mesmos autores ainda enfatizam que embora o turismo venha ganhando


destaque em todo território nacional e tenha o potencial de ser fonte de geração
de grande parte de nossa riqueza, o tema ecoturismo ainda é pouco difundido
nos livros pedagógicos e nas salas de aulas. A educação para o ecoturismo não é

47
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

ministrada regularmente em salas de aulas da Educação Básica brasileira, pois o


tema ecoturismo vem ganhando mais destaque apenas nos últimos quinze anos.

O Ecoturismo deve ser, também, uma ferramenta da Educação Ambiental


empregada no trabalho contínuo de sensibilização e conscientização das pesso-
as, a fim de que elas se sintam parte da natureza e se sintam responsáveis pela
preservação do meio ambiente, à medida que elas percebem que o mundo é sua
casa e precisa ser protegido, para esta e para as próximas gerações (SÃO PAU-
LO, 2014).

A interpretação ambiental é uma atividade educativa, que se propõe a reve-


lar significados e inter-relações, por meio do uso de objetos originais, do contato
direto com o recurso e de meios ilustrativos, em vez de simplesmente comunicar
a informação literal. Sua importância é reconhecida em vários estudos de caso,
como um valor agregado ao ecoturismo, que pode contribuir significativamente
para a satisfação do consumidor.

A preocupação educacional também tem grande relevância, especialmente


para as novas gerações. São exemplos de ideias relacionadas a esses elementos:

• Centros de informações e de visitantes nas áreas protegi-


das ou em outras áreas naturais que abrigam exposições e
oferecem programas audiovisuais, bem como informações
úteis aos visitantes;
• Placas interpretativas e normativas;
• Passeios guiados e passeios de interesse especial;
• Formação de guias e intérpretes;
• Trilhas autoexplicativas;
• instalações para a observação de animais;
• Guias contendo as características locais, perspectivas so-
bre a gestão dos recursos naturais e listas de identificação
de animais e plantas dos polos ecoturísticos;
• Atividades de conservação envolvendo turistas, membros
da comunidade local e estudantes;
• Programas de conscientização e de educação ambiental; e
serviços de extensão para os moradores locais;
• Educação ambiental em programas escolares (como ativi-
dades extracurriculares); e
• Documentação de atividades de conservação para difusão
e publicação em mídias locais e nacionais.

48
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

FIGURA 11 – MUSEU PE. CARLOS BOTELHO, COM


AÇÕES VOLTADAS AO ECOTURISMO

FONTE: Adaptado de São Paulo (2014)

Layrargues (2004, p. 3) informa que:

o ecoturismo é tradicionalmente considerado um veículo da


educação ambiental, encarregado sobretudo da sensibilização
e aquisição de conhecimentos ecológicos. Por outro lado, con-
siderando os riscos do ecoturismo que podem comprometer
sua própria sustentabilidade, a educação ambiental se trans-
forma em veículo do ecoturismo. Assim, a educação ambiental
no contexto do ecoturismo, assume novos contornos no que
diz respeito às suas metas, pois agora, a importância de uma
eficaz sensibilização do turista com relação à proteção ambien-
tal e cultural do espaço visitado, necessária para a natureza e
a comunidade local, também se refere à sustentabilidade do
próprio negócio ecoturístico.

A despeito dos benefícios que o ecoturismo apresenta, há que se considerar


o que se convenciona chamar de “efeito colateral”, mas que na verdade é a pró-
pria característica da mercantilização da natureza: o duplo risco da atividade (ul-
trapassar a capacidade suporte do ambiente e provocar a desestruturação cultural
da comunidade local). Tais riscos são sublimados pela expectativa de que o papel
da educação ambiental seja justamente o controle desses “efeitos colaterais”. Por
isso enfatizamos que o mercado ecoturístico apresenta um potencial para prote-
ger o patrimônio natural e cultural. A proteção desses patrimônios não é inerente
ao ecoturismo, mas dependente da educação ambiental (LAYRARGUES, 2004).

Nas palavras de Freire e Almeida (2019, p. 582)

49
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

ao tratarmos do papel do sujeito ecológico e da importância da


atitude ecológica, estamos enfatizando sua relevância para a
ação coletiva. Sua razão de existir é primeira e antes de tudo,
sua capacidade de situar o sujeito criticamente perante as pro-
blemáticas e conflitos socioambientais existentes.

Assim, a educação ambiental assume um papel de maior importância tanto


para refrear uma sobrecarga de visitantes que poderia afetar a capacidade supor-
te do ambiente, como para minimizar a possível desestruturação da cultura local.
Nesse sentido, a educação ambiental aplicada ao ecoturismo caracteriza-se por
ser um mecanismo de compensação do risco da atividade econômica, provendo
a segurança necessária para que o sucesso do negócio ecoturístico de hoje não
signifique o seu fracasso amanhã (LAYRARGUES, 2004).

Para complementar e aperfeiçoar os seus estudos com relação


à educação ambiental, acesso o artigo: “Aspectos da educação e da
interpretação ambiental no Ecoturismo no Brasil.” (Camargo, F.C.;
Coelho. S.C.A., 2021).

Disponível em : <https://uniasselvi.me/2YunpSc>

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Recapitulando os conhecimentos obtidos durante o estudo deste primeiro ca-
pítulo do livro, vimos no primeiro tópico como se deu o surgimento do desenvol-
vimento sustentável, relembramos algumas conferências internacionais que pos-
suíam o intuito de proteção do meio ambiente, bem como analisamos os 17 ODS.

Na sequência, vimos sobre as unidades de conservação, e algumas leis rela-


cionadas à elas, como o SNUC e a Política Nacional do Meio Ambiente.

Continuando os estudos, pudemos conhecer o histórico do Ecoturismo, como


a atividade vem se desenvolvendo e os conceitos do mesmo, sendo eles distintos,
porém semelhantes, para alguns órgãos competentes:

• Para a EMBRATUR (1994) “ecoturismo é um segmento da atividade tu-


rística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural,
incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência am-

50
Capítulo 1 Ecoturismo e Unidades de Conservação

bientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-


-estar das populações”

• Já para a OMT (2002) ecoturismo são “todas as formas de turismo em


que a motivação principal do turista é a observação e apreciação da na-
tureza, de forma a contribuir para a sua preservação e minimizar os im-
pactos negativos no meio ambiente natural e sociocultural onde se de-
senvolve”.

Para finalizar observamos como é realizado o turismo nas unidades de con-


servação, sendo o ICMBio o órgão regulador, analisamos os números de visi-
tantes dessas áreas e aprendemos também sobre a educação ambiental, a qual
consta a atividade de ecoturismo como um dos seus objetivos.

Nos próximos capítulos entraremos mais a fundo na questão das bases para
desenvolver o ecoturismo, conhecendo as leis aplicadas ao ecoturismo, as Políti-
cas Públicas voltadas a valorização do ecoturismo e trazendo boas práticas am-
bientais para aprimoramento do conhecimento.

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data. Disponível em: http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal12/
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Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

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53
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

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https://www.unwto.org/. Acesso em: 1 abr. 2021.

54
C APÍTULO 2
Bases Para Desenvolver
o Ecoturismo

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Identificar as principais bases para desenvolver o ecoturismo.


� Criticar e examinar as bases de desenvolvimento do ecoturismo.
� Conhecer as legislações brasileiras aplicadas ao ecoturismo.
� Examinar a legislação brasileira criada para as atividades de ecoturismo.
� Conhecer as principais políticas públicas criadas para a valorização do ecotu-
rismo.
� Interpretar as políticas públicas que foram criadas para valorizar o ecoturismo.
� Apresentar as boas práticas ambientais aplicadas à área do ecoturismo.
� Debater as boas práticas ambientais que devem ser levadas em conta na práti-
ca do ecoturismo.
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

56
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Você já parou para pensar em quais os principais destinos de ecoturismo de
sua região? Será que estes destinos se enquadram nos princípios do ecoturismo
que aprendemos até o presente momento?

A fim de entendermos um pouco mais sobre os princípios norteadores do


ecoturismo e como a participação política e também pública é importante no pro-
cesso de conhecimento e divulgação de informações o nosso estudo abordará
temas relacionados com legislações, políticas públicas e participação social, le-
vando em conta também a utilização de boas práticas ambientais na hora de visi-
tarmos os destinos que mais nos chamam atenção.

Sendo assim, no segundo capítulo do presente livro, aprenderemos, juntos,


sobre as bases para o desenvolvimento do ecoturismo – serão descritas as leis
aplicadas ao ecoturismo e as leis ambientais de mais importância para este tema,
bem como as Políticas Públicas voltadas a valorização do ecoturismo e também
algumas boas práticas ambientais para o desenvolvimento e o aproveitamento da
atividade de ecoturismo da melhor maneira.

2 LEIS APLICADAS AO ECOTURISMO


Pudemos ver ao longo do primeiro capítulo deste livro algumas questões re-
lativas à legislação aplicada as áreas protegidas, porém, não estudamos a fundo
a questão relativa ao turismo e a sua classificação aqui estudada – ecoturismo.
Vamos juntos aprender um pouco mais sobre as leis e decretos que embasam
essa nossa área de estudo?

Sabemos que o Turismo é uma atividade socioeconômica, que engloba a


área social e a área econômica, sendo sua expansão uma tendência contemporâ-
nea, que sempre esteve ligada ao modo de produção e ao desenvolvimento tec-
nológico, contribuindo com o fenômeno social, a inserção nas práticas cotidianas
das pessoas, as iniciativas de reivindicação e exigências na melhoria da qualida-
de dos serviços. Nesse sentido, destacam-se as duas últimas décadas do século
XX, cujas discussões foram marcadas em defesa e proteção do meio ambiente,
na busca da mudança de paradigmas em nível global, onde gerou discussões
permanentes na procura de alternativas de desenvolvimento sustentável, visando
crescimento econômico compatível com a conservação da natureza (SPAOLON-
SE; MARTINS, 2017).

57
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

No atual contexto da globalização, o turismo surge como atividade que vem


demonstrando grande crescimento nas últimas décadas em todo o mundo. No
Brasil, esta atividade está em ascensão, graças as nossas riquezas naturais, am-
pla extensão territorial e rico patrimônio histórico-cultural, permitindo ainda a prá-
tica da maioria das modalidades de turismo ecológico e também de esportes de
aventura, caracterizando o chamado turismo ecológico, ambiental ou ecoturismo
(SPAOLONSE; MARTINS, 2017).

Partindo dessa premissa surgiram várias segmentações de turismo, visando


o contato direto do visitante com a natureza e também a comunidade residente
do local de visitação. Dentre eles, destacam-se: o turismo de natureza, o turismo
ecológico, o ecoturismo, o turismo sustentável e o mais recente, denominado de
turismo de base comunitária ou turismo de base local.

Cabe um destaque que, apesar destas modalidades chegarem ao mesmo


denominador comum, ou seja, a oferta e o aproveitamento da “natureza e da co-
munidade local”, todas as modalidades possuem objetivos e formas distintas de
se comportarem.

Spaolonse e Martins (2017) informam que dentro do Turismo, o segmento


Ecoturismo se diferencia dos demais apoiando em princípios que reforçam o com-
promisso com a conservação ambiental e o benefício comunitário. Essas atrati-
vidades naturais e culturais fazem com que o Brasil seja uma atração para esta
modalidade turística, onde tanto os próprios brasileiros como os visitantes estran-
geiros tenham a possibilidade de conhecer tais patrimônios, levando em conside-
ração a preservação do ambiente.

O Ecoturismo é o segmento da atividade turística que utiliza, de forma sus-


tentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a for-
mação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente,
promovendo o bem-estar das populações envolvidas e dos atores sociais. O pa-
pel da sustentabilidade ou “ecodesenvolvimento”, é uma atividade que tem direta
relação com o desenvolvimento sustentável, haja vista que tem interdependência
com os setores econômicos, sociais, ambientais e culturais, objetivando a preser-
vação dos recursos naturais e culturais, com vista a garantir a sustentabilidade da
comunidade local onde é desenvolvido (SPAOLONSE; MARTINS, 2017).

Historicamente o Ecoturismo surge no Brasil pautado sob uma proposta de


contemplar e conservar a natureza, onde a necessidade de manutenção dos re-
cursos naturais surge reforçada pelos impactos que a atividade do turismo vem
causando. Nota-se que o Ecoturismo transcende a formatação de um segmento
de mercado que busca por um público especializado. Ele caracteriza-se como
uma forma de integrar a motivação turística com a consciência cidadã e a ética de

58
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

preservar os recursos, causando o mínimo de impacto possível, aproximando o


homem da natureza e não somente distanciando-o da cidade e do trabalho (MA-
RANHÃO; AZEVEDO, 2019).

O Brasil, sendo um dos países com maior biodiversidade, qualificado por


seus biomas (Amazônia, Mata Atlântica, Campos Sulinos, Caatinga, Cerrado,
Pantanal e Zona Costeira e Marítima) e seus diversos ecossistemas, apresenta
um cenário rico para esse segmento. Tal cenário aporta recursos que possibilitam
o desenvolvimento de várias práticas turísticas, explicitando aptidão especial para
o Ecoturismo (BRASIL, 2008b).

Esse segmento pode proporcionar experiências enriquecedoras e contribui


para a conservação dos ecossistemas, ao mesmo tempo em que estabelece uma
situação de ganhos para todos os interessados: se a base de recursos é protegi-
da, os benefícios econômicos associados ao seu uso serão sustentáveis. Incor-
pora os recursos naturais ao mercado turístico, ampliando as oportunidades de
gerar postos de trabalho, receitas, impostos e inclusão social e, acima de tudo,
promover a proteção desse imensurável patrimônio natural (BRASIL, 2008b).

Em razão das características do Ecoturismo, especialmente na conservação


e na atratividade da natureza, o segmento exige atitudes e comportamentos que
remetem à necessidade de mudanças dos padrões de produção e consumo e
uma postura ambientalmente responsável no manejo dos recursos naturais. Por-
tanto, orienta-se por marcos legais que, além dos aspectos turísticos, contem-
plam, de modo especial, as questões ambientais. (BRASIL, 2008b).

Agora que vimos quais as principais características do ecoturismo, vamos


embarcar em uma linha do tempo, a qual nos remete à história brasileira ligada ao
desenvolvimento do turismo e, junto a isso, como surgiu o ecoturismo.

Segundo Galdino e Costa (2011) é importante ressaltar que, no Brasil, a dé-


cada que marca boa parte do desenvolvimento, é a dos anos 1930, em que, no
governo do então presidente Getúlio Vargas, foram obtidas inúmeras conquistas
importantes, especialmente a dos direitos trabalhistas, com a obtenção da carteira
profissional, a redução da carga horária de trabalho, as férias anuais remunera-
das, o descanso semanal, a aposentadoria, o salário mínimo, a lei que visava à
proteção contra acidentes no trabalho e também a regulamentação das profis-
sões. Tais fatores beneficiaram bastante o povo brasileiro e, ainda mais, o setor
turístico, pois, após eles, criaram-se ações voltadas ao desenvolvimento das polí-
ticas públicas de turismo no País, em prol da regulamentação da atividade.

Galdino e Costa (2011) informam que nesta mesma década, com o interes-
se por parte do Estado em intermediar ações públicas de turismo, foi elaborado

59
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

o Decreto-Lei nº 406, de 1938, que previa a “autorização governamental para a


atividade de venda de passagens para viagens aéreas, marítimas ou rodoviárias”.
Originou-se, em um segundo momento, a Divisão do Turismo (por meio do Decre-
to-Lei nº 1.915, de 1939), como primeiro organismo oficial de turismo no Brasil,
com a responsabilidade de “superintender, organizar e fiscalizar os serviços de
turismo interno e externo”.

Os mesmos autores enfatizam que apesar desses fatores, muitos autores


consideram que a real construção histórica do planejamento e, consequentemen-
te, das políticas públicas de turismo se consolidou somente na década de 1950
com a explosão do turismo de massa e o crescimento da rede rodoviária. Com a
extinção da Divisão do Turismo, em 1946, surgiu um novo modelo de organização
para o setor turístico: a Comissão Brasileira de Turismo (COMBRATUR), consoli-
dada pelo Decreto nº 44.863, de 21 de novembro de 1958.

Mundialmente a década de 1960 foi marcada pela eclosão do turismo de


massa, momento em que os impactos negativos da atividade turística foram re-
velados, desmistificando a falácia sobre a ideia da “indústria sem chaminés” (MA-
RANHÃO E AZEVEDO, 2019). Porém, assim como a Divisão do Turismo, a Com-
bratur extinguiu-se em 1962 sem ter conseguido concretizar seus objetivos. Com
isso, somente em 1966 se criaram órgãos direcionados para a elaboração real de
uma política nacional do setor turístico: o Conselho Nacional de Turismo (CNTur)
e a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), sob jurisdição do Decreto-Lei nº
55, cabendo ao CNTur a formulação da política nacional de turismo e à Embratur
a execução da política formulada pelo Conselho. A parceria formava o chamado
Sistema Nacional de Turismo, definido como órgão componente da primeira estru-
turação pública para o setor turístico. Com o Conselho, surgiram orientações apli-
cadas à elaboração do Plano Nacional de Turismo (Plantur), reconhecido como
ferramenta básica da Política Nacional de Turismo, segundo Resolução nº 71, de
10 de abril de 1969 (GALDINO; COSTA, 2011).

Ao iniciar os anos de 1970, a gestão tornou-se pauta representativa nos


principais fóruns de deliberação do turismo, reconhecendo-o como uma ativida-
de econômica potencialmente poluidora, a depender da forma como é planejada
(MARANHÃO E AZEVEDO, 2019). A partir da década de 1970, as preocupações
com o desenvolvimento econômico, a degradação do meio ambiente e as ques-
tões sociais alcançaram a atividade turística, tanto na esfera acadêmica, quanto
na das organizações civis, evidenciando a necessidade de conservação do meio
ambiente por meio de técnicas sustentáveis (BRASIL, 2010).

Já em 1971, foi criado o Fundo Geral de Turismo (Fungetur), considerado o


primeiro plano governamental de caráter econômico do turismo, que tinha como
objetivo “financiar o desenvolvimento da atividade turística no País, sendo admi-

60
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

nistrado pela Embratur”. A criação do Fundo impulsionou significativamente a con-


cretização de novos decretos-leis e planos destinados ao crescimento do turismo
no País (GALDINO; COSTA, 2011).

Nos anos subsequentes à criação do Fungetur, ações que o complementavam


surgiram, como o Fundo de Investimento do Nordeste (Finor), o Fundo de Investi-
mento da Amazônia (Finam) e o Fundo Setorial (Fiset), todos sob a jurisdição do
Decreto-Lei nº 1.376, de 1976, além do estabelecimento das zonas prioritárias para
o desenvolvimento do turismo, respaldadas pelo Decreto nº 71.791, de 1973, a defi-
nição da prestação de serviços específicos do setor turístico das agências de trans-
porte, sob a Resolução nº 641 do CNTur, e a Portaria lançada pelo Departamento
de Aviação Civil (DAC), autorizando os Voos de Turismo Doméstico (VTD), poste-
riormente substituídas pelos planos Brasil Turístico Individual (BTI) e Brasil Turístico
em Grupo (BTG), com redução das tarifas (GALDINO; COSTA, 2011).

Em 1976, sob a jurisdição do Decreto-Lei nº 4.485, o turismo recebeu es-


tímulos referentes ao setor estrangeiro e, em 1977, regulamentaram-se as ex-
cursões intrínsecas ao Programa Turismo Doméstico Rodoviário (TDR), além de
publicar-se o conteúdo da Política Nacional de Turismo, elaborado em 1967 e
apresentado na II Reunião do Sistema Nacional de Turismo em que constam as
políticas de proteção ao patrimônio natural, divulgação e promoção cultural, in-
centivo ao turismo interno, estímulo ao turismo internacional, recursos humanos,
apoio às agências de viagem, à hotelaria e, por fim, apoio à entrada de divisas
(GALDINO; COSTA, 2011).

No início da década de 1980, formulou-se a Política Nacional do Meio Am-


biente, através da Lei Federal nº 6.938/81, e o Sistema Nacional do Meio Ambien-
te (Sisnama), fixado no artigo 25 da Constituição.

Vale a pena nós lembrarmos do que se trata o Artigo 25 da


Constituição Federal de 1988, sendo este artigo um dos mais impor-
tantes para os estudos relacionados à área ambiental:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia quali-
dade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
(BRASIL, 1988).”

61
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Após esse momento, já em 1986, criou-se o Passaporte Brasil, objetivando


a promoção do turismo interno ao mesmo tempo em que se estimulava a cons-
trução de albergues da juventude; além disso, instituiu-se, em 1989, o chama-
do “dólar turismo”, oficializando a balança comercial do setor turístico. Ambos os
acontecimentos contribuíram de maneira significativa para a atividade turística no
País (GALDINO; COSTA, 2011).

No Brasil, o Ecoturismo é discutido desde 1985, mas em âmbito governa-


mental, a primeira iniciativa de ordenamento da atividade ocorreu em 1987 diante
da criação da Comissão Técnica Nacional, formada por técnicos do Instituto Bra-
sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos naturais renováveis (IBAMA) e do Insti-
tuto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) a fim de monitorar o Projeto de Turismo
Ecológico, diante de práticas pouco organizadas e sustentáveis da época. Neste
mesmo período os primeiros cursos de guias especializados foram autorizados
(MARANHÃO; AZEVEDO, 2019).

Corroborando com o exposto acima, Brasil (2010) reforça que no país, os


primeiros estudos sobre Ecoturismo remetem à década de 1980. Em 1985 a EM-
BRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo) deu início ao “Projeto Turismo Ecológi-
co”, criando dois anos depois a Comissão Técnica Nacional constituída conjunta-
mente com o IBAMA, primeira iniciativa direcionada a ordenar o segmento.

No início da década de 1990, a Embratur passou a ter uma nova denomina-


ção – Instituto Brasileiro de Turismo –, sendo considerada como uma autarquia e
tendo como finalidade “formular, coordenar, executar e fazer executar a Política
Nacional de Turismo”. Na nova fase da política de turismo e com a nova classifica-
ção da Embratur, tentou-se implantar o Plano Nacional de Turismo, a fim de traba-
lhar o desenvolvimento regional, que, infelizmente, não chegou a sair do papel na
época, mas que se realizaria por meio de sete programas, divididos em subpro-
gramas: Programa Ecoturismo, Programa Turismo Interno, Programa Polos Turís-
ticos, Programa de Formação dos Recursos Humanos para o Turismo, Programa
Qualidade e Produtividade do Setor Turístico, Programa Marketing Internacional e
Programa Mercosul (GALDINO; COSTA, 2011).

Ainda na mesma década, foram autorizados os primeiros cursos de guia de


turismo especializados, porém, foi na década seguinte, com a Conferência das Na-
ções Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhe-
cida como ECO-92 ou RIO-92, realizada em 1992 no Rio de Janeiro/RJ, que esse
tipo de turismo ganhou visibilidade e impulsionou um mercado com tendência de
franco crescimento, propondo diretrizes e tratados com aplicação de âmbito mun-
dial, a partir da aceitação ou consignação de cada nação (BRASIL, 2010).

Maranhão e Azevedo (2019) reforçam a informação supracitada informando


que em face da RIO-92, o Ecoturismo ganhou mais visibilidade e as temáticas de

62
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

ecotecnologias, requalificação do trabalho humano, desenvolvimento técnico cien-


tífico e sustentabilidade passaram a ser discutidas com maior expressão. Estimu-
lava-se uma nova maneira de vivenciar e usufruir das paisagens rurais e naturais,
das florestas, das regiões costeiras entre outros ecossistemas, proporcionando a
discussão de uma nova forma de uso e fruição dos espaços pelos turistas.

Em 1994, foi instituída uma nova ação dedicada à política de turismo no


País, criando o Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT) o qual
foi consolidado entre dezembro de 1994 e abril de 1998. Após esse período, mar-
cou-se o turismo por meio de uma perspectiva neoliberal (com a redução de im-
postos e a minimização da participação do estado, abrindo assim caminhos para
a consolidação do mercado), estabeleceram-se parcerias entre o setor público e o
privado, com estados e municípios, tendo como principal ação de política pública
o programa Avança Brasil (GALDINO; COSTA, 2011).

Já em 1996, surge uma nova ferramenta da política de turismo: o documento


da Política Nacional de Turismo referente a diretrizes e programas objetivados de
1996 a 1999, buscando, o aumento do ingresso de turistas estrangeiros; o acrés-
cimo da entrada de divisas estrangeiras; e o alcance do patamar mundial da popu-
lação economicamente ativa empregada no setor turístico nacional. Além de envol-
ver programas importantes, como o Programa de Ação para o Desenvolvimento do
Turismo no Nordeste (Prodetur-NE), o PNMT, o Programa Nacional de Ecoturismo,
incluindo o Programa de Formação Profissional no Setor Turístico (Proecotur) e o
Plano Anual de Publicidade e Promoção (GALDINO; COSTA, 2011).

Já no ano de 2002, a Organização Mundial de Turismo (OMT) e o Programa


de Meio Ambiente das Nações Unidas (PNUMA) organizaram a Cúpula Mundial
de Ecoturismo em Quebec, no Canadá. O evento demarcou que o Ecoturismo
tem um papel relevante nas estratégias de desenvolvimento sustentável, elen-
cando os papéis e as responsabilidades para cada setor, público ou privado. Por
sinal este ano foi intitulado como o ano internacional do Ecoturismo (MARANHÃO;
AZEVEDO, 2019).

Sabendo disso, e diante das inúmeras intervenções políticas propostas em


função da atividade do turismo, pontua-se que somente após a criação do Minis-
tério do Turismo (MTur) no ano de 2003, durante o mandado presidencial de Luiz
Inácio Lula da Silva, é que o turismo se tornou pauta efetiva de debates e ações
governamentais, inaugurando uma nova fase no que tange o planejamento e a
gestão do turismo brasileiro. Destaca-se a elaboração do primeiro Plano Nacional
de Turismo (PNT), em 29 de abril de 2003, visto como o principal instrumento
orientador do planejamento turístico no Brasil, a nível ministerial (MARANHÃO E
AZEVEDO, 2019). Ainda em 2003, no Ministério do Turismo, iniciou-se a elabora-
ção do Plano Aquarela — Marketing Turístico Internacional do Brasil — visando

63
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

ao crescimento do turismo brasileiro mundialmente, no período de 2003 a 2006


(GALDINO; COSTA, 2011).

Também se destaca o lançamento do Programa de Regionalização do Tu-


rismo (PRT) – Roteiros do Brasil, onde suas diretrizes já estavam pautadas no
conteúdo apresentado pelo PNT 2003-2007, já demonstrando certo grau de ar-
ticulação entre os instrumentos políticos do turismo brasileiro. Foi nesta ocasião
que a perspectiva da regionalização se inseriu nos principais fóruns do turismo do
país, e a premissa de regionalizar ganhou representatividade gestora, e que ainda
norteia a gestão pública do turismo no Brasil (MARANHÃO; AZEVEDO, 2019).

Posteriormente, foi lançado uma segunda edição do PNT que englobou os


anos de 2007 a 2010, tendo como tema: uma viagem de inclusão. Em meados
desse período, lançou-se um plano relativo à promoção nacional: o Plano Cores
do Brasil. É importante lembrar que a segunda edição do Plano Aquarela foi lan-
çada para o período de 2007 a 2010, e a terceira, com projeções para 2020. Se-
gundo Galdino e Costa (2011, p. 9) “tais políticas foram e, com certeza, ainda são
extremamente relevantes ao bom desenvolvimento da atividade turística no Brasil
e devem ser apresentadas com suas devidas particularidades para melhor com-
preensão da essência das políticas públicas no setor”. Ainda, as mesmas autoras
reforçam que “O PNMT, PNT, Plano Cores do Brasil e o Plano Aquarela marcaram
significativamente as políticas de turismo e são, sem dúvida, as principais ações
públicas para o segmento”.

Atualmente a Lei Federal nº 11.771, de 17 de setembro de 2008, dispõe so-


bre a Política Nacional de Turismo, define as atribuições do Governo Federal no
planejamento, desenvolvimento e estímulo ao setor turístico. Além de ter revoga-
do a Lei nº 6.505, de 13 de dezembro de 1977, o Decreto-Lei nº 2.294, de 21 de
novembro de 1986, e dispositivos da Lei nº 8.181, de 28 de março de 1991 (BRA-
SIL, 2008a).

As legislações revogadas, citadas no caput da lei supracitada são: Lei nº


6.505, de 13 de dezembro de 1977: Dispõe sobre as atividades e serviços turísti-
cos, estabelece condições para o seu funcionamento e fiscalização; altera a reda-
ção do artigo 18, do Decreto-lei nº 1.439, de 30 de dezembro de1975 e dá outras
providências; Decreto-lei nº 2.294, de 21 de novembro de 1986: dispõe sobre o
exercício e a exploração de atividades e serviços turísticos e dá outras providên-
cias; e Lei nº 8.181, de 28 de março de 1991: Dá nova denominação à Empresa
Brasileira de Turismo (Embratur), e dá outras providências.

Segundo o artigo 1º da Política Nacional do Turismo, a mesma estabelece


normas sobre a Política Nacional de Turismo, define as atribuições do Governo
Federal no planejamento, desenvolvimento e estímulo ao setor turístico e discipli-

64
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

na a prestação de serviços turísticos, o cadastro, a classificação e a fiscalização


dos prestadores de serviços turísticos (BRASIL, 2008a).

Acadêmico, vamos conhecer a fundo a Política Nacional do Tu-


rismo? Ela possui 49 artigos e pode ser acessada através do link:
https://uniasselvi.me/3yFCrRz

Conforme descrito no artigo 2º desta Lei, considera-se turismo: as atividades


realizadas por pessoas físicas durante viagens e estadas em lugares diferentes
do seu entorno habitual, por um período inferior a 1 (um) ano, com finalidade de
lazer, negócios ou outras. Já em seu artigo 3º, a Lei define que “caberá ao Minis-
tério do Turismo estabelecer a Política Nacional de Turismo, planejar, fomentar,
regulamentar, coordenar e fiscalizar a atividade turística, bem como promover e
divulgar institucionalmente o turismo em âmbito nacional e internacional”.

Desde a sua criação, o MTur já apresentou quatro planos nacionais de tu-


rismo, respectivamente: (a) Plano Nacional de Turismo (2003-2007): diretrizes,
metas e programas; (b) Plano Nacional de Turismo (2007-2010): uma viagem de
Inclusão; (c) Plano Nacional de Turismo: o turismo fazendo muito mais pelo Brasil
(2013-2016), e o mais recente, (d) Plano Nacional de Turismo: mais emprego e
renda para o Brasil (MARANHÃO; AZEVEDO, 2019).

A mesma Lei possui uma seção específica para a Política Nacional de Turis-
mo (seção II), na qual enfatiza-se que, novamente, a legislação faz jus ao desen-
volvimento sustentável, informando que:

Art. 4º A Política Nacional de Turismo é regida por um conjunto


de leis e normas, voltadas ao planejamento e ordenamento do
setor, e por diretrizes, metas e programas definidos no Plano
Nacional do Turismo - PNT estabelecido pelo Governo Federal.
Parágrafo único. A Política Nacional de Turismo obedecerá
aos princípios constitucionais da livre iniciativa, da descentrali-
zação, da regionalização e do desenvolvimento econômico-
-social justo e sustentável.

Na subseção II, remetendo aos objetivos do sistema nacional de turismo, a


Lei nº 11.771 remete especificamente ao turismo sustentável e a conservação do
meio ambiente, informando que “o Sistema Nacional de Turismo tem por objetivo
promover o desenvolvimento das atividades turísticas, de forma sustentável, pela

65
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

coordenação e integração das iniciativas oficiais com as do setor produtivo, de


modo a [...] propiciar a prática de turismo sustentável nas áreas naturais, promo-
vendo a atividade como veículo de educação e interpretação ambiental e incen-
tivando a adoção de condutas e práticas de mínimo impacto compatíveis com a
conservação do meio ambiente natural”.

Cabe ressaltar ainda que no Capítulo 1 da Lei Federal nº 11.771, em seu


parágrafo único, a mesma da ênfase ao desenvolvimento sustentável, citando que
“o poder público atuará, mediante apoio técnico, logístico e financeiro, na conso-
lidação do turismo como importante fator de desenvolvimento sustentável, de
distribuição de renda, de geração de emprego e da conservação do patrimônio
natural, cultural e turístico brasileiro.” (BRASIL, 2008a).

Caro aluno, existe um variado e extenso conjunto de dispositivos legais que


possuem algum tipo de relação com a atividade do ecoturismo, desta maneira,
através do Quadro 1, estão elencadas as legislações mais importantes e que me-
recem destaque nessa área em que estamos estudando. Sempre lembrando que
uma das características principais do ecoturismo é a conservação ambiental.

QUADRO 1 – LEGISLAÇÕES VOLTADAS AO TURISMO E A ÁREA AMBIENTAL

Principais
Legislação Escopo
Instrumentos
A Lei do Turismo é regulamentada pelo Decreto nº 7.381, de
2 de dezembro de 2010, que estabelece, entre outros, nor-
mas, mecanismos e critérios para o bom funcionamento do
Sistema Nacional de Cadastramento, Classificação e Fis-
Lei nº 11.771,
calização dos Prestadores de Serviços Turísticos (SINAS-
de 17 de
Legislação Turística TUR). Define as infrações e as penalidades administrativas
setembro de
para os meios de hospedagem, agências de turismo, trans-
2008
portadoras, organizadoras de eventos, parques temáticos e
acampamentos turísticos, além de definir as normas sobre
a Política Nacional de Turismo e sobre o Plano Nacional de
Turismo (PNT), dentre outros.
Define como incumbência do poder público garantir a todos
o “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
Constituição
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
da República
impondo-se também a coletividade o dever de defendê-lo e
Legislação Ambiental Federativa
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
do Brasil de
Assim, deve assegurar a preservação e restauração dos
1988
processos ecológicos essenciais e do manejo ecológico das
espécies e ecossistemas; a exigência de estudo ambiental

66
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

prévio à instalação de obra ou atividade de significativa


degradação do meio ambiente; a promoção da educação
ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização
pública para a preservação do meio ambiente; a proteção
da fauna e da flora; entre outras (Capítulo VI - Do Meio Am-
biente, Art. 225).
Legislação atual que revoga a Lei nº 4.771, de 15 de se-
tembro de 1965.
“Novo Código Florestal” - Dispõe sobre a proteção da ve-
getação nativa. Trata das florestas existentes no território
nacional e as demais formas de vegetação reconhecidas
Lei nº 12.651,
de utilidade às terras que revestem. Em suas disposições
Legislação Ambiental de 25 de
apresenta os critérios para definição de áreas de preserva-
maio de 2012
ção permanente, como a obrigatoriedade de preservação
das áreas especificadas onde se desenvolve ou pretende
desenvolver atividades turísticas.
O ecoturismo é citado como atividade passível de ocorrem
em determinadas áreas preservadas.
Gestão de Florestas Públicas - dispõe sobre a gestão de
floretas públicas para a produção sustentável, institui o Ser-
viço Florestal Brasileiro e cria o Fundo Nacional de Desen-
volvimento Florestal voltado para o desenvolvimento tecno-
lógico, promoção e assistência técnica de incentivos para o
desenvolvimento florestal brasileiro. Define três formas de
gestão das florestas públicas para produção sustentável: a
Lei nº 11.284, criação de unidades de conservação que permitam a produ-
Legislação Ambiental de 2 de mar- ção florestal sustentável; destinação para uso comunitário,
ço de 2006 como assentamentos florestais, reservas extrativistas, áre-
as quilombolas e Projetos de Desenvolvimento Sustentável
(PDS); e concessões florestais pagas, baseadas em uma
determinada região após a definição das unidades de con-
servação e áreas destinadas ao uso comunitário.
O turismo é citado como uma possibilidade em serviço de
manejo florestal possibilitando benefícios decorrentes do
manejo e da conservação de florestas.
Lei nº 5.197, Lei de Proteção à Fauna e Lei de Crimes Ambientais - es-
de 03 de janei- tabelece que todos os animais que vivem naturalmente
ro de 1967 fora de cativeiro são propriedades do Estado, entre outras
Legislação Ambiental disposições. Determina os animais que constituem a fauna
Lei nº 9.605, de silvestre e inclui à proteção ninhos, abrigos e criadouros na-
12 de fevereiro turais. Proíbe à utilização, perseguição, destruição, caça ou
de 1998 apanha dos elementos da fauna silvestre.

67
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Assim, ao agregar atividades de observação de animais em


seu produto turístico, deve-se atentar para a proibição, a qual-
quer tempo, da utilização, perseguição, caça e apanha de es-
pécies da fauna silvestre, bem como da comercialização de
espécimes e de produtos e objetos que impliquem a sua caça,
cabendo ao proprietário fiscalizar o cumprimento da Lei.
Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e Decreto de
Regulamentação da PNMA - apresenta sua finalidade e me-
Lei nº 6.938,
canismos de formulação e aplicação; constitui o Sistema Na-
de 31 de
cional de Meio Ambiente; institui o Cadastro de Defesa Am-
agosto de
biental; e ainda define conceitos pertinentes. Determina que
1981
as atividades empresariais, inclusive as atividades turísticas,
Legislação Ambiental
devem estar em consonância com as diretrizes dessa políti-
Decreto nº
ca. A PNMA Institui o Cadastro Técnico Federal de Atividades
99.274, de 6
Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais, classifi-
de junho de
cando o turismo como de baixo potencial de poluição (PP)
1990
e grau de utilização (GU) de recursos naturais e apresenta
a lista das atividades sujeitas a taxas, incluindo o Turismo.
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natu-
Lei nº 9.985,
reza (SNUC) e Decreto de regulamentação - estabelecem
de 18 de
critérios e normas para a criação, implantação e gestão das
julho de 2000
Unidades de Conservação.
Legislação Ambiental Cabe ressaltar que a visitação ao SNUC é um dos principais
Decreto nº
recursos e atrativos para o desenvolvi- mento de inúmeras
4.340, de 22
atividades turísticas no País, ocupando lugar de destaque
de agosto de
na política ambiental, a partir de atividades compatíveis
2002
com a conservação da biodiversidade.
Decreto nº Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) e Decre-
1.922, de 05 to de regulamentação - estabelecem meios para que as
de junho de propriedades particulares possam conservar ou preservar
1996 locais de relevante beleza cênica ou representações de
Legislação Ambiental condições naturais primitivas ou recuperadas. Define RPPN
Decreto nº e estabelece que o objetivo da RPPN é a proteção dos re-
5.746, de 5 cursos ambientais da região. Sabe-se que, conforme des-
de abril de crito na Lei do SNUC, a visitação com objetivos turísticos,
2006. recreativos e educacionais é passível de permissão.
Política Nacional da Biodiversidade – considerando os com-
promissos assumidos pelo Brasil na Convenção da Diversi-
Decreto nº
dade Biológica, dispõe sobre sete eixos temáticos, sendo
4.339, de 22
Legislação Ambiental eles: 1 - Conhecimento da Biodiversidade; 2 - Conservação
de agosto de
da Biodiversidade; 3 - Utilização Sustentável dos Compo-
2002.
nentes da Biodiversidade; 4 - Monitoramento, Avaliação,
Prevenção e Mitigação de Impactos sobre a Biodiversidade;

68
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

5 - Acesso aos Recursos Genéticos e aos Conhecimen-


tos Tradicionais Associados e Repartição de Benefícios;
6 - Educação, Sensibilização Pública, Informação e Divul-
gação sobre Biodiversidade; 7 - Fortalecimento Jurídico e
Institucional para a Gestão da Biodiversidade.
Tem como um dos seus objetivos específicos, dentro do
eixo 3: “promover instrumentos para assegurar que ativi-
dades turísticas sejam compatíveis com a conservação e a
utilização sustentável da biodiversidade”.
Política Nacional de Educação Ambiental - apresenta seus
Lei nº 9.795, objetivos, diretrizes e uma proposta programática de pro-
Legislação Ambiental de 27 de abril moção da educação ambiental em todos os setores da so-
de 1999. ciedade. O ecoturismo aparece como educação ambiental
não-formal que deve ser incentivado pelo Poder Público.
Proteção das cavidades naturais subterrâneas – apresenta
o conceito de cavidade natural subterrânea (grutas, caver-
Decreto nº nas, abismos e outras), estabelecendo medidas de proteção
99.556, de 01 e fiscalização. Além de informar que “as cavidades naturais
Legislação Ambiental
de outubro de subterrâneas existentes no território nacional deverão ser
1990. protegidas, de modo a permitir estudos e pesquisas de or-
dem técnico-científica, bem como atividades de cunho espe-
leológico, étnico-cultural, turístico, recreativo e educativo”.
Lei nº 9.605, de Lei de Crimes Ambientais e Decreto de regulamentação –
12 de fevereiro dispõe sobre crimes e infrações administrativas contra o
de 1998. meio ambiente, incluindo crimes contra o ordenamento ur-
Legislação Ambiental bano e o patrimônio cultural, incluindo os cometidos durante
Decreto nº atividades turísticas.
6.514, de 22 de
julho de 2008.
FONTE: Adaptado de Brasil (2010)

No ano de 1994 foi elaborado pelo Governo Federal, por meio da EMBRA-
TUR, um livro denominado “Diretrizes para uma política nacional de ecoturismo”.
Segundo a apresentação do livro (BRASIL, 1994, p. 7 e 8):

[...] para que o ecoturismo possa efetivamente constituir uma


estrutura sólida, acessível e permanente, é preciso que esteja
alicerçado em diretrizes coerentes com o mercado, tecnologi-
camente ajustadas e democraticamente discutidas, de forma a
acomodar adequadamente as peculiaridades de cada ecossis-
tema e de cada traço da cultura popular brasileira.
Assumir este nível de responsabilidade com o Brasil e com o
mundo, estabelecer este tipo de alicerce e dar a esta atividade,
frequentemente relegada a segundo plano, a visão de priorida-

69
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

de estratégica do ponto de vista social, econômico e ambiental,


foi a postura do Governo Itamar Franco e é do Governo Fer-
nando Henrique.
O compromisso maior é construir a plataforma de lançamento
da qual nosso país será alçado à posição de destaque que com
justiça lhe pertence no contexto internacional.

Porém, por mais que no ano de 1994 já estavam sendo tomadas atitudes
para pensar no ecoturismo brasileiro com um nível maior de atenção, até o pre-
sente momento não foi possível encontrar nenhuma legislação que trate especifi-
camente sobre o ecoturismo no Brasil.

Olá aluno, para complementar os seus estudos na área de legis-


lação e conceituação da área do Ecoturismo, você pode ter acesso
ao livro chamado “Diretrizes para uma política nacional de ecoturis-
mo”, através do link abaixo.

Disponível em: <https://uniasselvi.me/2WNaiuZ>

1 Desde o final do século passado o Brasil tem vivido grande ex-


pansão no setor turístico. Pode-se afirmar que as políticas insti-
tuídas nesse período contribuíram para o cenário atual. Levando
em conta a trajetória do processo de desenvolvimento turístico no
Brasil, analise as afirmativas a seguir e assinale V para as verda-
deiras e F para as falsas.

( ) No século passado, por volta de 1938, as questões turísticas fo-


ram tratadas por diversas pastas e também foi elaborado o De-
creto-Lei nº 406, de 1938, que previa a “autorização governamen-
tal para a atividade de venda de passagens para viagens aéreas,
marítimas ou rodoviárias”.
( ) O início do desenvolvimento do turismo no Brasil pode ser loca-
lizado no sec. XXI, após a criação do Ministério do Turismo e da
formulação da Política Nacional de Turismo, no governo do Presi-
dente Luiz Inácio da Silva.
( ) Atualmente a Lei Federal nº 11.771, de 17 de setembro de 2008,

70
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

dispõe sobre a Política Nacional de Turismo, define as atribuições


do Governo Federal no planejamento, desenvolvimento e estímu-
lo ao setor turístico.
( ) No período do Governo Militar, o Decreto Lei 55, de 1966, definiu
a primeira Política Nacional de Turismo e criou o Conselho Nacio-
nal de Turismo.

Assinale a sequência correta:

a) V - V - F - F
b) V - F - V - F
c) F - V - F - V
d) V - F - V - V

2 Sabe-se que qualquer atividade lesiva ao meio ambiente é pas-


sível de punição, que pode gerar pena de multa e/ou reclusão.
Desta forma, faça uma pesquisa nas legislações tratam sobre a
punição que pode acometer os indivíduos que promovem impac-
tos ambientais negativos, incluindo os cometidos durante ativida-
des turísticas, e busque identificar qual a punição e qual o valor
da multa para estes tipos de crime.

3 POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS A


VALORIZAÇÃO DO ECOTURISMO
Você sabe o que é Política Pública? Sabe como ela é formada e posterior-
mente, utilizada? Vamos juntos, através deste tópico, entender um pouco mais
sobre essa questão que é amplamente discutida na área de turismo e também
verificar como o ecoturismo se comporta dentro deste mundo de legislações.

Galdino e Costa (2011) informam que a atividade turística pode disponibilizar a


comunidade que o cerca, recursos positivos para seu desenvolvimento, como a ge-
ração de divisas que possam contribuir com a cobertura do déficit dos pagamentos,
a criação de empregos, permitindo a incorporação das classes desfavorecidas na
vida econômica, a contribuição com o desenvolvimento da região, o aproveitamento
dos recursos renováveis e o estímulo para o resgate, a valorização e a conservação
dos costumes locais, da história, do patrimônio, dos valores, entre outros.

71
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Porém, os autores ressaltam que tantos benefícios somente podem ser al-
cançados se a prática da atividade for realizada de maneira organizada, coorde-
nada e planejada, pois, assim como propicia inúmeros impactos positivos, se mal
planejada, pode gerar diversos impactos negativos, causando danos, até mesmo
irreversíveis, como a sazonalidade, inflação, degradação e poluição do meio am-
biente e do ambiente cultural, desvalorização e mercantilização patrimonial.

Spaolonse e Martins (2017, p. 686) relembram que os grandes princípios do


ecoturismo se resumem na célebre frase: “Da natureza nada se tira a não ser
fotos, nada se deixa a não ser pegadas, nada se leva a não ser recordações”. A
ideia é justamente alertar a todos que o ecoturismo segue regras básicas viva-
mente preocupadas com os problemas ambientais, com a biodiversidade e com a
natureza, de uma forma geral.

Tendo em vista todos os impactos que podem ser gerados com a falta de
organização, há uma necessidade de melhor organização do setor turístico, o que
levou ao planejamento prévio, que, por sua vez, fez que se criassem órgãos e leis
que atualmente regem a política pública de turismo e que são extremamente im-
portantes a todo o contexto turístico.

Com relação ao que se referem os impactos promovidos pela atividade do


Ecoturismo, Maranhão e Azevedo (2019) reforçam que o impacto negativo mais
representativo são os danos ao meio ambiente e à comunidade, fazendo com que
as populações locais migrem e deixem os espaços com os operadores turísticos
que não apresentam nenhuma relação orgânica com a região, podendo gerar no-
vos valores incompatíveis com os comportamentos locais.

Sabendo disso, Maranhão e Azevedo (2019) reconhecem que o Ecoturismo,


por apresentar uma base de desenvolvimento na sustentabilidade, tratam como
relevante o processo de planejamento multisetorial participativo, visando contem-
plar as necessidades de infraestrutura e qualificação profissional para uma gestão
sustentável, onde todos os agentes desempenham seu papel por todas as fases
do processo de desenvolvimento e implantação da atividade. Estes são aspec-
tos essenciais para o desenvolvimento do Ecoturismo, podendo ainda agregar a
abordagem do turismo de base comunitária.

Reconhecendo a importância deste assunto e adiantando que falaremos um


pouco sobre o assunto do Turismo de Base Comunitário no próximo capítulo, se-
gue como indicação, alguns livros, elaborados pela equipe do Governo Federal,
que tratam sobre este tema.

72
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

Caro aluno, conheça um pouco sobre o Turismo de Base Comu-


nitária através da leitura complementar dos seguintes Livros:

1) Turismo de Base Comunitária: diversidade de olhares e experiên-


cias brasileiras: https://uniasselvi.me/2VhFkKH

2) Turismo De Base Comunitária em Unidades de Conservação Fe-


derais Princípios e Diretrizes, 2018. https://uniasselvi.me/3yOGVFk

Já falamos sobre os impactos negativos, porém, não podemos esquecer que


existem, por outro lado, os impactos positivos, os quais podem citar: a diversifi-
cação da economia regional; geração de empregos locais; fixação da população
no interior; melhoramento da infraestrutura de transporte; comunicações e sanea-
mento; criação de alternativas de arrecadação para as unidades de conservação;
diminuição do impacto sobre o patrimônio natural e cultural, redução do impacto
no plano estético-paisagístico, melhoramento de equipamentos das áreas protegi-
das, entre outros.

O Plano Nacional de Turismo dos anos 2018 a 2022 (BRASIL, 2018, p. 55)
informa que:

para alcançar um patamar mais elevado em competitividade


no setor de turismo, é necessária a implementação de políticas
públicas voltadas à melhoria do desempenho do Brasil nas di-
mensões apontadas pelo Relatório sobre Competitividade em
Turismo 2017, no que se refere, especialmente, à abertura ao
mercado internacional, ao ambiente de negócios, ao desen-
volvimento sustentável, à segurança pública e à infraestrutura
aérea, terrestre e portuária. Assim, espera-se que o setor de tu-
rismo se torne um dos principais impulsionadores do progresso
socioeconômico e que o País ocupe posição de destaque entre
os principais destinos turísticos mundiais até 2022.

Mas afinal, estimado aluno, o que são Políticas Públicas?

73
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Galdino e Costa (2011) informam que muitas são as conceituações e defi-


nições lançadas ao termo “política” que, pode compreender e abranger apenas
comportamentos, entendimentos e desentendimentos dos políticos que objetivam
o poder ou parte dele; pode considerar-se como uma arte à conquista do poder,
bem como mantimento e execução realizadas pelo governo; pode denominar-se
orientação ou atitude do governo referente ao seu interesse, como assuntos de
política internacional ou até mesmo econômica; pode ser também a ciência moral.
No entanto, a política divide-se entre ser ciência do estado e ciência do poder.

Porém cabe ressaltar que mesmo a política geral necessita de complementa-


ção de políticas específicas, que visem a ações cabíveis a determinados aspectos
e setores relacionados com a sociedade, tendo cada setor uma organização públi-
ca e, para ele, uma política exclusiva. Assim, ao tratar-se das formas legislativas,
encontra-se o direcionamento da política pública, que é “como um conjunto de
ações executadas pelo estado como sujeito, dirigidas a atender às necessidades
de toda a sociedade” (GALDINO; COSTA, 2011, p. 5).

Ferreira e Nobrega (2018) resumem a política pública como o campo do co-


nhecimento que tem como intuito, ao mesmo tempo em que “coloca o governo em
ação” e/ou também se dispõe a analisar essa ação e quando necessário, propõe
mudanças no rumo ou curso dessas ações. A política pública quando formula-
da constitui-se como forma que os governos de caráter democrático manifestam
seus interesses e propósitos em plataformas eleitorais em programas e ações que
provocam resultados perante a sociedade e realizam mudanças no mundo real.

Nas palavras de Ferreira e Nobrega (2018), a influência da política pública


no contexto da sociedade está diretamente relacionada com a necessidade de
resolução de problemas e desafios de caráter público e que possui abrangência
coletiva. Dessa forma, a área da ciência política tem um papel relevante para a
compreensão de fenômenos de natureza político-administrativa e como instru-
mento de organização dos recursos, processos deliberativos na manutenção dos
interesses presentes na sociedade.

As políticas públicas podem interferir e intervir em diversos âmbitos, tais como,


no campo da saúde, educação, segurança, gestão, planejamento urbano, turismo
e meio ambiente, uma vez que, esses setores necessitam de atenção e dependem
da capacidade do sistema político para o planejamento de ações e deliberações na
resolução dos problemas públicos, além disso, destaca-se que a política pública
possui caráter dinâmico e transversal aos setores de atuação, ou seja, o estabele-
cimento de uma política pode afetar diretamente ou indiretamente outros setores.

Já a política pública de turismo, segundo a definição apresentada por Go-


eldner, Ritchie e MCIntosh (apud GALDINO; COSTA, 2011, p. 5), refere-se a: “um

74
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

conjunto de regulamentações, regras, diretrizes, diretivas, objetivos e estratégias


de desenvolvimento e promoção que fornece uma estrutura na qual são tomadas
as decisões coletivas e individuais que afetam diretamente o desenvolvimento tu-
rístico e as atividades diárias em uma destinação”.

As políticas públicas de turismo no Brasil norteiam-se pelos princípios da sus-


tentabilidade, fundamentadas na Constituição Brasileira, que reserva a todos o
direito ao meio ambiente, impondo ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo às futuras gerações e incumbe ao poder público a respon-
sabilidade de estabelecer instrumentos legais para a proteção e conservação dos
recursos naturais e o seu uso racional. Fundamenta-se, também, em outros marcos
e ações desencadeadas pela preocupação com o meio ambiente, com destaque
para a Agenda 21 e sua aplicação para o turismo. O recorte dado ao Ecoturismo,
por sua vez, assimila tais princípios, entendendo-se como uma atividade econômica
e que tem a sua essência na conservação do meio ambiente (BRASIL, 2008b).

Você sabe o que é a Agenda 21?

Segundo Brasil (2008b), a Agenda 21 é um documento aprova-


do durante a Rio 92 que contém compromissos para mudança do pa-
drão de desenvolvimento no século XXI em um processo de planeja-
mento participativo que analisa a situação atual de um país, Estado,
município e/ou região e propõe o futuro de forma sustentável.

O setor turístico, incorporando explicitamente as premissas da


sustentabilidade, elaborou a Agenda 21 para o Turismo em 1998,
com o objetivo principal de proteger os recursos naturais, culturais e
sociais que o constituem.

Conheça a Agenda 21 para o turismo, traduzida para o portu-


guês em: <https://uniasselvi.me/3n50mI0>.

Maranhão e Azevedo (2019, p. 18) relatam que:

no Brasil, a proposta do Ecoturismo também encontrou respal-


do nas políticas públicas de turismo nacionais que se direcio-
nam pelos princípios da sustentabilidade, fundamentados na
Constituição Brasileira, e que impõe ao Estado e à coletividade

75
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

o dever de defender e preservar o meio natural para as futuras


gerações. É missão do poder público estabelecer instrumentos
legais para a proteção e conservação dos recursos naturais e
para seu uso racional.

O Ecoturismo busca sua identidade de acordo com as seguintes orientações:


(a) minimização dos impactos ecológicos e culturais negativos nos destinos; (b)
adoção da Educação Ambiental com ênfase na conservação da natureza e nos
valores culturais; (c) contribuição para a conservação da biodiversidade; (d) ge-
ração de benefícios socioeconômicos para as localidades, regiões e países anfi-
triões e seus habitantes; e (e) participação ativa de todos os agentes envolvidos
(MARANHÃO; AZEVEDO, 2019).

Levando em conta que o sujeito do turismo é o homem, a autora afirma que


se “entendido como processo, o turismo tem no ser humano o objeto central de
sua ação, e na satisfação psicossomática deste ser, os objetivos norteadores desta
ação”. O turismo [...] é, antes de mais nada, uma prática social, que envolve o des-
locamento de pessoas pelo território e que tem no espaço geográfico seu principal
objeto de consumo (OLIVEIRA, 2008, p. 23). Desta forma, o ser humano precisa
encontrar equilíbrio entre suas necessidades vitais, de modo que os fatores condi-
cionantes possam manter sinergia com todas as atividades por ele praticadas.

A mesma autora informa ainda que, por sua natureza, o turismo apresenta-se
como uma atividade que assume características sociais, econômicas e culturais
face aos benefícios e consequências que podem ser causados em determinada
localidade, ao passo que se apropria de um território para sua idealização. A rela-
ção do turismo com a comunidade local fundamenta-se na representação social
que os membros desta comunidade construíram em virtude de valores, ideias e
conceitos articulados pelo processo de turistificação no próprio espaço em decor-
rência da perspectiva de mudanças nos níveis de qualidade de vida.

Cabe ressaltar que as transformações advindas da atividade devem consi-


derar as necessidades da comunidade receptiva ao levar em conta os benefícios
sociais que podem ser gerados e não somente o fator econômico como mola pro-
pulsora para o desenvolvimento social e espacial, retrocedendo à velha e contra-
ditória fórmula baseada no “ter mais importante que o ser” (OLIVEIRA, 2008).

Oliveira (2008, p. 23) ainda reforça que:

Neste sentido, considera-se que tal expectativa para com o


desenvolvimento do turismo deve estar voltada à escala huma-
na – discurso emprestado da professora Luzia Neide Menêzes
Teixeira Coriolano – ou seja, deve privilegiar o ser humano,
possibilitando o “desabrochar” de suas competências, habilida-
des e potencialidades endógenas, assegurando, consequente-
mente, condições mais justas e equitativas. Acrescenta-se que

76
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

o entendimento deste princípio valorativo que está baseado


na escala humana, oportuniza simultaneamente o desenvol-
vimento local e do turismo porque ambos têm o homem e seu
bem-estar como objetivo final.

Segundo Silva, Costa e Carvalho (2013), o turismo é hoje uma das ativida-
des mercadológicas com maior índice de crescimento. Devido a este processo de
crescimento, houve uma maior preocupação com o setor por parte do poder pú-
blico que passou a fomentar políticas de regulamentação e incentivos à atividade
turística. Passou-se a inserir o turismo nas políticas públicas, trabalhando-o de
maneira planejada com metas e ações pré-estabelecidas. Desta forma, podemos
retomar algumas questões levantadas no atual Plano Nacional de Turismo, elabo-
rado pelo Governo Federal, por meio do Ministério do Turismo.

Segundo o Plano Nacional de Turismo (BRASIL, 2018), para implementar


políticas públicas de forma eficiente, é preciso respeitar as peculiaridades e es-
pecificidades de cada região e entender o papel de cada município no processo
de desenvolvimento regional do turismo. Diante disso, o Ministério do Turismo
desenvolveu uma metodologia que identifica e categoriza o desempenho da eco-
nomia do turismo dos municípios inseridos nas regiões turísticas do Mapa do Tu-
rismo Brasileiro.

Acadêmico, conheça o Mapa do Turismo Brasileiro através do


site: <http://www.mapa.turismo.gov.br/mapa/init.html#/home>

Dentre esta metodologia, a categorização é um instrumento previsto como


uma estratégia de implementação do Programa de Regionalização do Turismo e
permite tomar decisões mais acertadas e implementar políticas que respeitem as
peculiaridades dos municípios brasileiros (BRASIL, 2018).

É importante destacar que a categorização não é um diagnóstico turístico de


um determinado destino e também não é um catálogo de informações turísticas.
É um recurso matemático no qual não se avalia o potencial turístico, atratividade,
potencialidade, qualidade, nem os demais aspectos de caráter subjetivo. O pro-
cesso de categorização agrupa municípios de acordo com o desempenho de suas
economias do turismo. Esse agrupamento permite enxergar cada município cons-
tante no Mapa do Turismo Brasileiro de forma diferenciada e possibilita o monito-
ramento da evolução da economia do turismo em cada um deles (BRASIL, 2018).

77
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

FIGURA 1 – CATEGORIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS DAS REGIÕES


TURÍSTICAS DO MAPA DO TURISMO BRASILEIRO DE 2018

FONTE: Brasil (2018, s.p.)

Para elaboração da metodologia de categorização, foram utilizados dados já


existentes, disponíveis para todo o Brasil, que pudessem ser atualizados perio-
dicamente e que traduzissem a economia do turismo. A seleção das variáveis foi
orientada pelas seguintes características: (i) disponibilidade – dados acessíveis
ao Ministério do Turismo (MTur); (ii) comparabilidade – existência de dados que
possibilitassem a comparação objetiva entre os municípios inseridos no univer-
so a ser estudado; (iii) abrangência – dados disponíveis para todo o universo de
estudo; (iv) atualização – os dados são atualizados periodicamente; e (v) relação
com o fenômeno de interesse.

Diante disso, a metodologia adotou as seguintes variáveis para composição


das categorias: (i) quantidade de estabelecimentos de hospedagem nos destinos;
(ii) quantidade de empregos em estabelecimentos de hospedagem; (iii) quantida-
de estimada de visitantes domésticos; e (iv) quantidade estimada de visitantes
internacionais. Os municípios com os resultados semelhantes foram agrupados
em categorias A, B, C, D e E. É importante destacar que, no processo de cons-
trução da metodologia de categorização, o MTur aproveitou as experiências de
várias Unidades da Federação que já haviam desenvolvido instrumentos similares
e possibilitou a discussão e a contribuição de órgãos estaduais e municipais de
turismo e seus colegiados de assessoramento.

Ainda no mesmo Plano informa que (BRASIL, 2018):

a orientação do Governo Federal é que estados e municípios


também possam adotar a categorização como instrumento de
orientação para fins de implementação e gestão de políticas pú-
blicas de turismo, considerando as suas várias possibilidades
de uso, como o monitoramento do seu desempenho econômico.

78
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

Cabe ressaltar que os autores Silva, Costa e Carvalho (2013) informam que
deve ser realizado um levantamento das potencialidades e prioridades de cada
localidade, para só então estabelecer metas e objetivos alinhados à política nacio-
nal de turismo, pois a política pública é de fundamental importância para a deci-
são do futuro do setor turístico no país. Dessa forma, a política pública nada mais
é que o vetor de direcionamento do processo de planejamento, sendo um instru-
mento e resposta do poder público aos efeitos negativos do desenvolvimento.

Para os mesmos autores as políticas públicas são instrumentos que, se bem


elaborados, implementados, monitorados e avaliados corretamente são capazes
de promover o desenvolvimento social e econômico, não somente das popula-
ções, mas também dos setores da economia ao qual se destinam. São ações que
visam à melhoria do bem estar social e, portanto, devem ser elaboradas levando
em consideração a participação da sociedade.

Segundo os mesmos autores, o Brasil tem despertado para essa realidade e


tem investido na criação de políticas públicas para os mais diversos setores eco-
nômicos, inclusive para o turismo. A criação do Ministério do Turismo (MTur), no
ano de 2003, pode ser citada como um marco dos investimentos na organização e
administração da atividade turística no país. O MTur tem a missão de desenvolver
o turismo, como atividade econômica com papel relevante na geração emprego e
renda, de forma sustentável, proporcionando inclusão social.

Portanto, o turismo representa uma oportunidade de aumento das receitas,


não somente para o país, mas também para a população. Por isso, os esforços
desempenhados no sentido de estruturar e promover essa atividade constituem-
-se em perspectivas de desenvolvimento socioeconômico para todos (SILVA;
COSTA; CARVALHO, 2013).

Levando em conta o desenvolvimento oportunizado pelo turismo e sob a tôni-


ca do desenvolvimento local, chega-se no conceito de comunidade, a qual é uma
organização de seres interdependentes, mas que se articulam e interagem em
relacionamentos existencialmente primários (quando as pessoas mantêm vínculo
direto, espontâneo e informal, avaliando e controlando o ambiente comum de sua
existência) e secundários (decorrem normas e decisões coletivas, nos quais há
um controle externo à pessoalidade de cada indivíduo).

Dentro dessa premissa, cita-se que a comunidade ideal é aquela na qual


ocorra uma certa superioridade dos laços primários aos secundários, momento
em que os objetivos e interesses são compartilhados pelo todo (OLIVEIRA, 2008).
Portanto, é preciso notar que as interligações sociológicas e humanas permitem
uma nova forma de ver essas definições e, mormente, dar voz aos atores locais.

Seguindo o mesmo princípio, Silva, Costa e Carvalho (2013, p. 4) defendem


que “compete às políticas públicas estabelecer diretrizes orientadoras através do

79
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

planejamento de estratégias, identificando necessidades e problemas nos mais


variados segmentos. Para tanto, deve haver a participação dos diversos atores
envolvidos com a atividade turística”.

Partindo-se desta prerrogativa, Oliveira (2008) ressalta que nas últimas dé-
cadas as decisões comunitárias vêm se constituindo em um novo modelo para o
desenvolvimento responsável do turismo. Já em relação à atividade, nota-se que
os esforços são somados de forma a permitir tanto os investimentos nos equipa-
mentos e serviços que compõe um determinado núcleo receptivo, como também
e principalmente na qualificação de mão-de-obra local. A este respeito, pensando
em desenvolvimento local e comunitário, é apresentado abaixo um exemplo que
se enquadra na contextualização teórica e no discurso prático.

Uma experiência sul-americana bem sucedida corresponde ao


Yachana Lodge no Equador. Yachana, que na linguagem indígena
quíchua (falada pelos descendentes diretos dos incas), significa “um
local para aprendizagem” é uma fundação sem fins lucrativos locali-
zada na região da Amazônia que oferta um número considerável de
alojamentos aos visitantes para que possam apreciar o exotismo da
fauna e flora local (OLIVEIRA, 2008).

Conheça mais sobre o Yachana Lodge em: <https://uniasselvi.


me/3DNipbt>

FIGURA 2 – YACHANA LODHE, EQUADOR

FONTE: <https://www.instagram.com/p/B7bTnE0Bg4E/>. 13 mar. 2021.

80
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

Oliveira (2008) ainda desta que o objetivo principal do planejamento participa-


tivo se relaciona à sensibilização e treinamento da comunidade no tocante à natu-
reza de forma que estes possam reutilizar os recursos em benefício próprio. Além
disso, a corporação também trabalha com educação ambiental, ecoturismo, desen-
volvimento sustentável e principalmente com a inserção da comunidade de entorno
em atividades econômicas como o turismo, agricultura e pecuária. Em conjunto com
a comunidade, projetos para o desenvolvimento local integrado são planejados de
maneira a possibilitar práticas econômica e socialmente sustentáveis.

O planejamento do turismo, segundo Silva, Costa e Carvalho (2013) e com-


partilhando da ideia da autora acima, precisa ter como base a comunidade, envol-
vendo-a na escolha de caminhos, na tomada de decisões e, posteriormente, na
gestão compartilhada do turismo. São essas estratégias de inclusão, integração e
compartilhamento que o Brasil tem procurado implantar para desenvolvimento da
atividade turística em todo país.

Ainda, para que haja o desenvolvimento satisfatório das políticas públicas de


turismo é preciso avaliar e monitorar as ações, no setor de turismo. Avaliação e
monitoramento são fundamentais na medida em que:

• Avaliam o grau de necessidades políticas e intervenções do governo;


• possibilitam o teste de hipóteses referentes ao funcionamento do proces-
so, a natureza dos resultados e a eficiência dos programas;
• especificam sobre resultados e impactos da política;
• medem a eficiência e relação custo-benefício das políticas e planos de
turismo em termos dos recursos financeiros, humanos e de capital.

Maranhão e Azevedo (2019, p. 34) informam que o Ecoturismo apresenta


como principais agentes e/ou atores:

a) O trade turístico que não se atenta muito para o aspecto


conceitual, e sim com a forma de “vender” o Ecoturismo,
lançando mão inclusive do marketing ecológico;
b) O poder público que se encarrega por elaborar políticas e
ações, associando o Ecoturismo às estratégias nacionais
de planejamento;
c) As organizações não governamentais que veem o Ecotu-
rismo como um meio para se lograr o desenvolvimento de
regiões economicamente marginalizadas do país, inserindo
princípios éticos relacionados à autodeterminação das po-
pulações anfitriãs, à geração de benefícios locais, ao ma-
nejo sustentado do patrimônio natural, à conscientização
ambiental através da educação e a capacitação de todos
os envolvidos ao seu conceito;
d) As populações locais, as quais reconhecem o Ecoturismo
como uma nova postura de (re) valorização dos recursos
naturais e culturais cotidianos, como fonte de sua própria
sobrevivência e, quem sabe, de seu progresso material;

81
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

e) Os turistas, onde prevalecem subjetividades condicionadas


pelas motivações e expectativas pessoais; e
f) O meio acadêmico que se debruça nas pesquisas e a refle-
xões do tema.

Conforme visto anteriormente, o governo federal ao criar o Ministério do Tu-


rismo, buscou uma nova forma de fortalecer a política pública direcionada para o
setor turístico, criando assim, novas diretrizes políticas para a atividade no país.
A partir desta política de turismo foi criado o Programa de Regionalização, o qual
serve como mecanismo de fortalecimento da descentralização das políticas, vi-
sando o desenvolvimento dos municípios agrupados em regiões turísticas de for-
ma sustentável (SILVA; COSTA; CARVALHO, 2013).

Ao descentralizar o controle sobre as políticas públicas o governo federal es-


timulou a inserção e participação de outros atores tais como: ONGs, sindicatos e
a sociedade civil organizada, esse processo estimulou a participação da comuni-
dade na tomada de decisões. Desse modo esses públicos-alvo das políticas públi-
cas podem fazer um levantamento de suas necessidades e prioridades exercendo
seu papel de cidadão na elaboração dessas políticas (SILVA; COSTA; CARVA-
LHO, 2013). Dentre os desafios encontrados para o desenvolvimento do turismo
no Brasil, deve-se priorizar a melhoria dos produtos e serviços turísticos baseado
na qualificação de equipe para elaboração e execução de bons projetos, além de
investimentos financeiros em obras de recuperação de equipamentos turísticos e
no fortalecimento de parcerias público-privadas.

O poder público desempenha papel fundamental na condução das políticas


de turismo a serem implementadas nos territórios, sem alimentar a ilusão de uma
atividade livre dos interesses do capital, mas também sem ser negligente a ponto
de se deixar escravizar por ele. O planejamento turístico necessita estar ampa-
rado por instrumentos legais que garantam a proteção dos recursos ambientais.
Esse desenvolvimento necessita ser articulado entre governos federal, estadual
e municipal, trabalhando em conjunto para que os benefícios do turismo possam
ser aproveitados de forma equitativa, promovendo roteiros integrados que desen-
volvam as potencialidades turísticas dos municípios; isso se torna inviável sem o
devido planejamento e gestão das políticas públicas (HONORIO; ROCHA, 2020).

Retomando a questão específica do Ecoturismo, Oliveira (2008) informa que


como cultura e natureza são consideradas fontes de atratividade para a atividade
turística, pode-se avaliar que múltiplas são as opções para o desenvolvimento e
fortalecimento do turismo em face da qualidade e oportunidade dos territórios e
suas respectivas vocações. Todavia, para que haja equilíbrio entre demanda (re-
presentada pelo indivíduo e sua motivação) e oferta (caracterizada pela atrativida-
de em determinado receptivo), os atrativos devem apresentar qualidade no que é
ofertado ao visitante, isto é, o destino turístico deve manter o alinhamento entre
equipamentos e objetos que demandam à oferta.

82
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

Outro exemplo que pode ser citado, que relaciona natureza e


cultura é o roteiro divulgado pela Ecotrips Brasil. Trata-se, portanto,
de um pacote de viagem para conhecer o Amazonas. Segundo a di-
vulgação do pacote de viagens, disponível no site da agência (ECO-
TRIPS, 2021):

“[...] partiremos para a Floresta Amazônica. Nossa base será


Manaus, próximo ao Teatro Amazonas. Teremos a oportunidade de
nadar com os botos, presenciar o encontro do Rio Negro com o Rio
Solimões, visitar e conhecer um pouco dos índios da região, conhe-
cer praias de Rio Doce, desbravar um dos paraísos das cachoeiras
amazônicas (Presidente Figueiredo). Além disso, experimentaremos
um pouco da cultura da região, com suas culinárias e artesanatos”.

Disponível em: <https://www.ecotripsbrasil.com.br/pacote-deta-


lhe.php?idpacote=108>

Trata-se, portanto, de um exemplo claro de ecoturismo aliado a natu-


reza e a cultura da região Amazônica, passando por diversos pontos
característicos da região. A Figura 3 ilustra uma das imagens de di-
vulgação do pacote de viagem.

FIGURA 3 – PACOTE DE VIAGEM AO AMAZONAS

FONTE: <https://uniasselvi.me/3zLJhX5>. Acesso em: 13 mar. 2021.

83
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Maranhão e Azevedo (2019) ao tratar sobre o ecoturismo e a relação posta


entre o turismo e o meio ambiente bem como relembrando a participação dos
sujeitos que o habilitam enquanto mercadoria, destacam que a questão mercado-
lógica não deve se pautar unicamente por critérios econômicos. Antes disso, ela
precisa vincular-se com uma base sustentável para lograr êxito. Por essa razão,
busca-se um ponto de equilíbrio entre a prática do turismo e o meio ambiente,
fazendo com que a presença de fluxos turísticos não são seja a causa da de-
gradação dos espaços naturais. É neste momento que se destaca a função dos
instrumentos políticos e de planejamento, que estabelecem diretrizes que orien-
tam o uso consciente dos espaços de natureza preservada seja pela atividade do
turismo ou qualquer outra atividade.

Spaolonse e Martins (2017) reforçam que devem ser buscadas interações


sustentáveis e ouvir a comunidade que será impactada pelas mudanças do Eco-
turismo, a inclusão social deve ser estabelecida com práticas e estratégias bem
estudadas e planejadas para que os benefícios venham a ser atrativos para todos
os atores sociais envolvidos.

Desta forma, Oliveira (2008) relembra que o receptivo necessita de um mí-


nimo de instalações que oportunizem o desenvolvimento de unidades turísticas,
como por exemplo, sistemas de deslocamento, hospedagem, infraestrutura bá-
sica, serviços de apoio e restauração em consonância com as necessidades da
comunidade em que o turismo se desenvolve.

Honório e Rocha (2020, p. 361) informam que:

a qualificação dos serviços públicos e privados do turismo para


a questão ambiental é fundamental para a promoção da sus-
tentabilidade; não se pode mais conceber que essa atividade
seja promovida de forma amadora, centrada apenas na acu-
mulação capitalista. É preciso pensar na ideia de desenvolvi-
mento que envolva toda a cadeia produtiva do turismo, desde o
artesão que comercializa sua arte na praia até o gestor de um
hotel cinco estrelas.

Portanto, o planejamento exige uma forte responsabilidade de setores públi-


cos e privados ao projetar uma ação em que se conceba a maximização de bene-
fícios econômicos e sociais para a população residente, ao mesmo tempo em que
mitiga ou elimina efeitos adversos. Seguindo a mesma ideia, a OMT (2003, p.17)
defende que:

Ao elaborar o planejamento turístico, as autoridades devem


estar cientes da existência de uma série de tendências a exer-
cerem influência sobre esse setor. Uma tendência básica é a
de que é maior o número de turistas a se interessarem por
recreação, esportes e aventuras e a procurarem informações a

84
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

respeito da história, da cultura e do ambiente natural das áre-


as que visitam. [...] É maior o número de turistas sensíveis às
questões do meio ambiente que procuram visitar lugares bem
planejados, que não criem problemas ambientais e sociais.

É necessário complementar que, para real consolidação das políticas de tu-


rismo, torna-se necessário que o setor público considere aspectos relevantes à
diversificação brasileira, para, assim, lançar ações que visem ao crescimento e
ao desenvolvimento local e, concomitantemente, nacional, por meio de ações es-
pecíficas a cada destinação, propiciando, assim, sua implementação de maneira
mais eficaz e qualificando o País como uma destinação turística diversificada e de
qualidade (GALDINO; COSTA, 2011).

Por fim, para fins de fixação, podemos citar algumas políticas públicas de
turismo que são implementadas e renovadas em certos períodos de tempo, no
Brasil. Sendo eles:

• Programa nacional de municipalização do turismo (PNMT): trata-se


do resgate do processo de municipalização do turismo no Brasil. Esse
processo caracteriza-se por um movimento gerado a partir do preceito
constitucional da descentralização e da participação, o qual determi-
nou a construção do Programa Nacional da Municipalização do Turismo
(PNMT). Ao ser formulado e implementado, o PNMT enfatizou a impor-
tância do papel das organizações parceiras – governamentais e do ter-
ceiro setor – para atingir seus objetivos.

• Planos Nacionais de Turismo (PNT): elaborados por períodos, já foram


formulados 4 PNT, sendo eles englobando os anos de 2003-2007; 2007-
2010; 2013-2016; e o atual 2018-2022, nos PNT são definidas as diretri-
zes, as metas e os programas, que se constituíram e se constituem como
política pública indutora do desenvolvimento socioeconômico do País.

• Planos Aquarela: estudo que define estratégias, metas e objetivos de marke-


ting internacional do turismo brasileiro e as ações a serem implementadas
nos anos posteriores ao seu lançamento. Foram lançados os planos aqua-
rela 2003 a 2006, 2007 a 2010, e plano 2020, lançado em 2009.

• Plano Cores do Brasil: divulgado em 2005, realizou a análise dos produ-


tos turísticos brasileiros, estudando um conjunto dos 111 roteiros turísti-
cos, conforme os dados disponíveis em janeiro de 2005, e que, naquele
momento, se encontravam em fase de estruturação para serem oferta-
dos em junho de 2005.

85
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Você pode conhecer as ações e os programas promovidos pelo


MTur através do site: <https://uniasselvi.me/3tegGap>.

3 Com a finalidade de implementar políticas públicas de forma efi-


ciente, é preciso respeitar as peculiaridades e especificidades de
cada região e entender o papel de cada município no processo de
desenvolvimento regional do turismo. Com base nessa informa-
ção, qual foi a estratégia do Governo Federal para acompanhar
os resultados dos municípios?

4 BOAS PRÁTICAS AMBIENTAIS


Para que atividades e ações práticas sejam realizadas de forma eficaz e com
qualidade, é necessário que se tenha planejamento. E, nas palavras de Oliveira
(2008, p. 27) “planejar significa ser e agir de forma responsável, orientando ações
que contemplem o bem-estar coletivo”. Sabe-se que tanto o turismo comum quan-
to o ecoturismo necessitam de regras para que não causem impactos ao ambien-
te em que a atividade está inserida.

Corroborando com o exposto acima e considerando os aspectos peculiares que


o caracterizam e lhe conferem identidade – os recursos naturais –, o Ecoturismo exi-
ge referenciais teóricos e práticos e suporte legal que orientem processos e ações
para seu desenvolvimento, sob os princípios da sustentabilidade (BRASIL, 2008b).

Maranhão e Azevedo (2019) informam que analisando os dados do Anuário


Estatístico do Turismo do ano de 2018, é permitido identificar o Ecoturismo ocu-
pando a segunda posição, no que tange a motivação de viagem de turistas es-
trangeiros para o Brasil, ficando atrás do segmento de sol e praia, carro chefe do
turismo nacional. Nota-se o Ecoturismo despontando como uma opção legítima
para diversificar a oferta turística do Brasil, diante da necessidade por inovação,
diferenciais competitivos e preservação dos recursos naturais.

86
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

Você sabe o que é turismo de sol e praia? Essa modalidade


é considerada o carro chefe das modalidades do turismo do Brasil,
pois é a modalidade de turismo mais praticada no país.

Segundo o Ministério do Turismo, “Turismo de sol e praia cons-


titui-se das atividades turísticas relacionadas à recreação, entreteni-
mento ou descanso em praias, em função da presença conjunta de
água, sol e calor.” (BRASIL, 2008c, p. 16)

Atualizando a informação citada anteriormente a edição atual do Anuário tra-


ta-se da 2ª edição, do 47º volume, do Anuário Estatístico de Turismo 2020 (ano
base 2019). O mesmo traz dados e informações sobre a dinâmica do turismo no
Brasil e no mundo. São 14 capítulos que foram organizados em três seções, de
forma a facilitar o entendimento do conteúdo (BRASIL, 2021).

Através da análise de dados do anuário, levando em conta o estudo da de-


manda turística internacional, o qual retrata os dados consolidados sobre o perfil
do turista internacional que visitou o Brasil de 2015 a 2019, desagregados por
motivo da viagem, é possível compreender os principais motivos de visita aos
destinos brasileiros (BRASIL, 2021).

Desta maneira, a Figura 4 abaixo, ilustra a síntese Brasileira da demanda tu-


rística internacional, a qual demonstra que, pelas características de viagem, o la-
zer é a principal motivação da vinda dos turistas para o Brasil. Ao estudar a fundo
a questão do lazer, é possível perceber, através da figura abaixo, que a natureza,
ecoturismo e aventura ocupa o segundo lugar no quadro, ficando atrás somente
de sol e praia, seguindo a mesma tendência dos dados de 2018.

87
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

FIGURA 4 – ESTUDO DA DEMANDA TURÍSTICA


INTERNACIONAL - SÍNTESE BRASIL - 2015-2019

FONTE: Brasil (2021, p. 330)

Estes dados demonstram que o ecoturismo no Brasil está se tornando cada


vez mais um atrativo para os visitantes estrangeiros, pois, a mesma Figura ilustra
o compilado entre os anos de 2015 a 2019, mostrando também o aumento grada-
tivo desta modalidade, onde em 2015 apresentada 15,7% e em 2019 subiu para
18,6% das motivações da viagem a lazer.

Com relação aos locais para se desenvolver a prática do ecoturismo no Bra-


sil, os mesmos serão explanados e retratados no próximo capítulo de estudo. Po-
rém, para contextualizar, segundo o ICMBio (BRASIL, 2020), alguns dos destinos
mais visitados no ano de 2019, são os contidos na Figura 5, sendo o PARNA mais
visitado o da Tijuca (RJ), seguido do Iguaçu (PR).

FIGURA 5 – UNIDADES DE CONSERVAÇÃO MAIS VISITADAS NO BRASIL

FONTE: Brasil (2020, s.p.)

88
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

Você pode acessar a série de anuários estatísticos de turismo e


as planilhas estatísticas através do site: http://www.dadosefatos.turis-
mo.gov.br/2016-02-04-11-53-05.html

Os mesmos autores (MARANHÃO; AZEVEDO, 2019, p. 15) relatam ainda que:

se entende que o cenário que destaca a atividade do


Ecoturismo no Brasil é reflexo direto do debate ambiental
que vem repercutindo mundialmente, desde o reconhe-
cimento dos expressivos impactos do turismo de massa,
aonde a busca por soluções para os enclaves que com-
prometem a preservação dos recursos naturais, parte
do entendimento que o “tão sonhado” desenvolvimento
econômico precisa está concatenado com a qualidade
ambiental e com a inclusão social.

O Ecoturismo desponta como uma atividade que facilita a interação e experi-


ência do visitante com o ambiente natural de forma sustentável, diferenciando-se
do turismo massivo comumente praticado. Segundo Brasil (2010) como principais
produtos e atividades, o Ecoturismo revela peculiaridades que vão desde a esco-
lha da área natural, passando pela identificação da legislação ambiental, seleção
de atrativos naturais, até a aplicação de um marketing responsável que promova
e comercialize os produtos.

Desta forma, as principais atividades de Ecoturismo destacadas pelos docu-


mentos nacionais são (BRASIL, 2010):

• Trilhas Interpretativas e Caminhadas.


• Montanhismo.
• Mergulho livre.
• Rafting.
• Observação astronômica.
• Visitas a cavernas (Espeleoturismo).
• Observação de formações geológicas.
• Observação de Flora e Observação de Fauna.
• Safáris fotográficos.

Ademais, existe uma diversificada e significativa gama de outras atividades


que, embora possam caracterizar outros tipos de turismo, podem também ser

89
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

ofertadas em produtos e roteiros do segmento aqui estudado, como atividades


turísticas de aventura, de pesca, náuticas, culturais e outras, desde que cumpram
as premissas, comportamentos e atitudes estabelecidas no Ecoturismo (BRASIL,
2010). São exemplos dessas atividades (BRASIL, 2008; 2010):

• Visita a comunidades anfitriãs, possibilitando a interação com atividades


cotidianas ou eventos tradicionais de comunidades locais, valorizando o
ambiente natural e cultural dessas comunidades e oportunizando a gera-
ção de renda extra às iniciativas sociais comunitárias;
• Acampamentos realizados em áreas naturais (públicas ou privadas);
• Visita de instituições de ensino em ambientes naturais para atividades
educativas; e
• Atividades esportivas em ambientes naturais, como corridas de orienta-
ção, dentre outras.

Desta forma, os princípios e os critérios para o desenvolvimento do segmen-


to devem considerar a gestão socioambiental dos recursos naturais, para que os
impactos positivos do Ecoturismo sejam maximizados, e os negativos sejam mini-
mizados na esfera ambiental, social e econômica, remetendo ao desenvolvimento
sustentável, em especial aos que estão relacionados a áreas naturais protegidas.

Para que os impactos ambientais e sociais sejam minimizados há que se fa-


zer o planejamento adequado das atividades bem como utilizar e aplicadas boas
práticas ambientais.

Adotar comportamentos menos agressivos ao meio natural


envolve conhecimento de como os diversos processos de um
ecossistema ocorrem e suas inter-relações, consequentemen-
te quais ações são potencialmente geradoras de impactos e
como evitá-los. Tal conhecimento está distante da maioria da
população. Para incentivar a mudança de atitude este conhe-
cimento foi sintetizado em poucos itens de fácil assimilação. A
experiência logo contou com o apoio dos órgãos públicos que
administram as Unidades de Conservação, como um valioso
instrumento de Educação Ambiental para a conservação. [...]
Reduzindo os impactos do uso público, será possível compa-
tibilizar as atividades de conservação e ecoturismo; respeitan-
do-se tanto os ecossistemas, como a diversidade de expecta-
tivas das pessoas, a qualidade da experiência dos visitantes
e as populações do entorno das Unidades de Conservação. A
mudança de atitudes em relação ao meio ambiente torna mais
próxima a visita do ideal de sustentabilidade ambiental e social
(SÃO PAULO, 2014, p. 71-72).

São Paulo (2014), utilizando informações sobre o movimento que aborda as


práticas de mínimo impacto, chamado de Programa “Pega leve!”, o qual foi de-
senvolvido pelo Centro Excursionista Universitário (CEU) com o apoio da WWF,
elencou oito princípios de mínimo impacto para o turista.

90
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

Para elaborar estes princípios, foi utilizada a experiência da equipe, desen-


volvida no exterior e no Brasil, e, desta maneira, o programa “Pega Leve!” detalha
as práticas de mínimo impacto para biomas e atividades diversas mais praticadas.
Segundo São Paulo (2014, p. 73), “seguindo e ajudando a divulgar o conteúdo des-
sa publicação, ajuda-se a preservar os lugares desfrutados hoje, sempre na melhor
condição, para todos os visitantes”. Ainda informa que “o mais importante é lembrar
que praticar o mínimo impacto é uma questão que exige mudança de atitudes”.

A Figura 6 ilustra esses oito passos, sendo eles:

FIGURA 6 – 8 PRINCÍPIOS DE MÍNIMO IMPACTO

FONTE: <https://www.pegaleve.org/pega-leve-brasil>. Acesso em: 13 mar. 2021.

Segundo o ICMBio (2021), através da Secretaria de Biodiversidade e Flores-


tas, milhares de pessoas procuram ambientes naturais, como os encontrados em
parques e outras áreas naturais protegidas, para atividades de lazer, que vão des-
de um simples passeio até a prática de esportes de natureza, como a caminhada,
o montanhismo, a canoagem, a exploração de cavernas, o mergulho e muitas
outras. Na maioria destes locais a natureza é frágil e precisa ser tratada com todo
cuidado. Nestas áreas é impossível realizar trabalhos de limpeza e conservação
da forma como acontece nas cidades, portanto, a proteção destes locais depende
muito do comportamento dos visitantes.

91
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Como exemplo prático e estudo de caso, pode-se citar o infor-


mativo disponível no site do ICMBio, na divulgação do Parque Na-
cional Serra dos Órgãos (PARNASO). O informativo traz a seguinte
informação: “você pode evitar o impacto da poluição e da destruição
das áreas que frequenta. É só seguir algumas regras simples, que
ajudam a proteger o meio ambiente, dão maior prazer à sua visita e
previnem acidentes, que nesses lugares afastados podem ter graves
consequências” (ICMBIO, 2021).

Você pode acessar o informativo através do site:


https://uniasselvi.me/3tkhwSP

Além disso, a Câmara Técnica de Montanhismo do PARNASO


preparou uma cartilha específica para as caminhadas no Parque com
dicas para a travessia e outras trilhas.

Você pode acessar as dicas em: https://uniasselvi.me/3te3guZ

FIGURA 7 – INFORMATIVO PARNAS SERRA DOS ÓRGÃOS

FONTE: <https://www.icmbio.gov.br/parnaserradosorgaos/guia-dovisi-
tante/36-conduta-consciente.html>. Acesso em: 13 mar. 2021.

92
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

Segundo o ICMBio, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos é


uma Unidade de Conservação Federal de Proteção Integral, subordi-
nada ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade,
cujo objetivo maior é o de preservar amostras representativas dos
ecossistemas nacionais. A entrada principal do Parque Nacional da
Serra dos Órgãos fica na área urbana de Teresópolis - RJ.

Segundo o ICMBio, o PARNAS Serra dos Órgãos é um dos me-


lhores locais do país para a prática de esportes de montanha, como
escalada, caminhada, rapel e outros; além de ter fantásticas cacho-
eiras. O Parque tem a maior rede de trilhas do Brasil. São mais de
200 Km de trilhas em todos os níveis de dificuldade: desde a trilha
suspensa, acessível até a cadeirantes, até a pesada Travessia Petró-
polis-Teresópolis, com 30 Km de subidas e descidas pela parte alta
das montanhas.

Segundo o site, utilizando as regras de conduta consciente (mínimo impacto), as


mesmas regras descritas anteriormente pelo programa “Pegada Leve!”, são elenca-
dos 8 princípios de mínimo impacto, os quais se encontram descritos a seguir.

1. PLANEJAMENTO É FUNDAMENTAL
ENTRE em contato prévio com a administração da área que você vai vi-
sitar para tomar conhecimento dos regulamentos e restrições existentes.
INFORME-SE sobre as condições climáticas do local e consulte a previ-
são do tempo antes de qualquer atividade em ambientes naturais.
VIAJE em grupos pequenos de até 10 pessoas. Grupos menores se har-
monizam melhor com a natureza e causam menos impacto.
EVITE viajar para as áreas mais populares durante feriados prolongados
e férias.
CERTIFIQUE-SE de que você possui uma forma de acondicionar seu
lixo (sacos plásticos), para trazê-lo de volta.
ESCOLHA as atividades que você vai realizar na sua visita, conforme o
condicionamento físico e seu nível de experiência.

2. VOCÊ É RESPONSÁVEL POR SUA SEGURANÇA


O SALVAMENTO em ambientes naturais é caro e complexo, podendo
levar dias e causar grandes danos ao meio ambiente. Portanto, em pri-
meiro lugar, não se arrisque sem necessidade.

93
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

CALCULE o tempo total que passará viajando e deixe um roteiro da via-


gem com alguém de confiança, com instruções para acionar o resgate,
caso necessário.
AVISE à administração da área que você está viajando sobre: sua expe-
riência, o tamanho do grupo, o equipamento que vocês estão levando,
o roteiro e a data esperada de retorno. Estas informações facilitarão o
resgate em caso de acidente.
APRENDA as técnicas básicas de segurança, como navegação (como
usar um mapa e a bússola) e primeiros socorros. Para tanto, procure os
clubes excursionistas, escolas de escalada etc.
TENHA certeza de que você dispõe do equipamento apropriado para
cada situação. Acidentes e agressões à natureza em grande parte são
causados por improvisações e uso inadequado de equipamentos. Leve
sempre: lanterna, agasalho, capa de chuva e um estojo de primeiros so-
corros, alimento e água, mesmo em atividades com apenas um dia ou
poucas horas de duração.
CASO você não tenha experiência em atividades recreativas em ambien-
tes naturais, entre em contato com centros excursionistas, empresas de
ecoturismo ou condutores de visitantes. Visitantes inexperientes podem
causar grandes impactos sem perceber e correr riscos desnecessários.

3. CUIDE DAS TRILHAS E DOS LOCAIS DE ACAMPAMENTO


MANTENHA-SE nas trilhas pré-determinadas. Não use atalhos que cor-
tam caminhos. Os atalhos favorecem a erosão e a destruição das raízes
e plantas inteiras.
MANTENHA-SE na trilha mesmo se ela estiver molhada. lamacenta ou
escorregadia. A dificuldade das trilhas faz parte do desafio de vivenciar a
natureza. Se você contorna a parte danificada de uma trilha, o estrago se
tornará maior no futuro.
ACAMPADO, evite áreas frágeis que levarão um longo tempo para se recu-
perar após o impacto. Acampe somente em locais pré-estabelecidos, quan-
do existirem. Acampe a, pelo menos, 60 metros de qualquer fonte de água.
NÃO cave valetas ao redor das barracas, escolha melhor o local e use
um plástico sob a barraca.
BONS locais de acampamento são encontrados, não construídos. Não
corte nem arranque a vegetação, nem remova pedras ao acampar.

4. TRAGA SEU LIXO DE VOLTA


SE VOCÊ pode levar uma embalagem cheia para um ambiente natural,
pode trazê-la vazia na volta.
AO PERCORRER uma trilha, ou sair de uma área de acampamento, cer-
tifique-se de que elas permanecem como se ninguém houvesse passado
por ali. Remova todas as evidências de sua passagem. Não deixe rastros!

94
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

NÃO QUEIME nem enterre o lixo. As embalagens podem não queimar


completamente, e animais podem cavar até o lixo e espalhá-lo. Traga
todo o seu lixo de volta com você.
UTILIZE as instalações sanitárias que existirem. Caso não haja instalações
sanitárias (banheiros) na área, cave um buraco com 15 centímetros de pro-
fundidade a pelo menos 60m de qualquer fonte de água, trilhas ou locais de
acampamento, em local onde não seja necessário remover a vegetação.

5. DEIXE CADA COISA EM SEU LUGAR


NÃO CONSTRUA qualquer tipo de estrutura, como bancos, mesas, pon-
tes etc. Não quebre ou corte galhos de árvores, mesmo que estejam
mortas e tombadas, pois podem estar servindo de abrigo para aves ou
outros animais.
RESISTA à tentação de levar “lembranças” para casa. Deixe pedras, ar-
tefatos, flores, conchas etc., onde você os encontrou, para que outros
também possam apreciá-los.
TIRE apenas fotografias, deixe apenas leves pegadas, e leve para casa
apenas suas memórias.

6. NÃO FAÇA FOGUEIRAS


FOGUEIRAS matam o solo, enfeiam os locais de acampamento e repre-
sentam uma grande causa de incêndios florestais.
PARA COZINHAR, utilize um fogareiro próprio para acampamento. Os
fogareiros modernos são leves e fáceis de usar. Cozinhar com um foga-
reiro é muito mais rápido e prático que acender uma fogueira.
PARA ILUMINAR o acampamento, utilize um lampião ou uma lanterna
em vez de uma fogueira.
SE VOCÊ realmente precisa acender uma fogueira, utilize locais previa-
mente estabelecidos e somente se as normas da área permitirem.
MANTENHA fogo pequeno, utilizando apenas madeira morta, encontra-
da no chão.
TENHA absoluta certeza de que sua fogueira está completamente apa-
gada, antes de abandonar a área.

7. RESPEITE OS ANIMAIS E AS PLANTAS


OBSERVE os animais à distância. A proximidade pode ser interpretada
como uma ameaça e provocar um ataque, mesmo de pequenos animais.
Além disso, animais silvestres podem transmitir doenças graves.
NÃO ALIMENTE os animais. Os animais podem acabar se acostumando
com comida humana e passar a invadir os acampamentos em busca de
alimento, danificando barracas, mochilas e outros equipamentos.
NÃO RETIRE flores e plantas silvestres. Aprecie sua beleza no local, sem
agredir a natureza e dando a mesma oportunidade a outros visitantes.

95
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

8. SEJA CORTÊS COM OUTROS VISITANTES


ANDE e acampe em silêncio, preservando a tranquilidade e a sensação
de harmonia que a natureza favorece. Deixe rádios e instrumentos sono-
ros em casa.
DEIXE os animais domésticos em casa. Caso traga o seu animal com
você, mantenha-o controlado todo o tempo, incluindo evitar latidos ou ou-
tros ruídos. As fezes dos animais devem ser tratadas da mesma maneira
que as humanas. Elas estão sob sua responsabilidade. Muitas áreas não
permitem a entrada de animais domésticos, verifique com antecedência.
CORES fortes, como branco, azul, vermelho ou amarelo devem ser evi-
tadas, pois podem ser vistas a quilômetros de distância e quebram a
harmonia dos ambientes naturais. Use roupas e equipamentos de cores
neutras, para evitar a poluição visual em locais muito frequentados.
COLABORE com a educação de outros visitantes, transmitindo os princí-
pios de mínimo impacto sempre que houver oportunidade.

Desta forma, utilizando os 8 princípios de mínimo impacto, além dos crité-


rios da educação ambiental, que vimos no capítulo anterior, é possível realizar e
aproveitar das atividades de ecoturismo buscando não impactar ou, pelo menos,
minimizar o impacto ambiental, sem trazer prejuízos para aqueles que também
irão desfrutar dos mesmos atrativos naturais.

4 As atividades de turismo podem gerar impactos negativos ao


mesmo ambiente. Para que os impactos ambientais e também
sociais sejam minimizados há que se fazer o planejamento ade-
quado das atividades bem como utilizar e aplicadas boas práticas
ambientais. Considerando as medidas para diminuir os impactos
ambientais do turismo recomendadas, recomendadas pelo ICM-
Bio e o programa “Pegue Leve!”, classifique as seguintes senten-
ças em V verdadeiras ou F falsas:

(  ) Cuidar com a preservação ambiental de áreas protegidas ou


ameaçadas e de espécies da fauna e flora.
(  ) Praticar a economia no consumo de energia.
(  ) Recolher todo o lixo gerado. 

( ) Respeitar a população local, incluindo suas tradições, sua cultura
e seu desenvolvimento futuro.

( ) Utilizar roupas com cores fortes, como branco, azul, vermelho ou
amarelo.

96
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

Assinale a alternativa e corresponde a sequência escolhida:

a) V - F - V - V - F
b) F - V - V - V - F
c) V - F - F - V - V
d) Todas as alternativas estão corretas.

5 O Ecoturismo desponta como uma atividade que facilita a inte-


ração e experiência do visitante com o ambiente natural de for-
ma sustentável, diferenciando-se do turismo massivo comumente
praticado. Assinale a alternativa que pode ser considerada ativi-
dade turística em ambientes naturais: 


a) Rafting: descida de rios com corredeiras e pequenas cachoeiras


com botes infláveis de estrutura reforçada.
b)  Observação de aves: observar, identificar e estudar aves em seu
ambiente natural. 

c)  Montanhismo: caminhada em ambiente serranos e montanhosos,
que podem ou não incluir atividades de escalada simples ou vertical.
d)  Todas as alternativas anteriores.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Retomando os conhecimentos fixados durante o estudo do segundo capítulo
do presente livro, pudemos ver no primeiro tópico, como o desenvolvimento do
turismo se deu no Brasil, bem como a aparição do ecoturismo e como ele vem se
tornando um dos principais motivadores dos destinos dos estrangeiros ao procu-
rar o Brasil.

Pudemos reconhecer também que, atualmente é a Lei Federal nº 11.771,


de 17 de setembro de 2008, que dispõe sobre a Política Nacional de Turismo, e
define as atribuições do Governo Federal no planejamento, desenvolvimento e
estímulo ao setor turístico.

Na sequência, vimos sobre as políticas públicas, a qual, segundo Goeldner,


Ritchie e MCIntosh (apud GALDINO; COSTA, 2011, p. 5), refere-se a: “um con-
junto de regulamentações, regras, diretrizes, diretivas, objetivos e estratégias de
desenvolvimento e promoção que fornece uma estrutura na qual são tomadas as

97
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

decisões coletivas e individuais que afetam diretamente o desenvolvimento turísti-


co e as atividades diárias em uma destinação”.

Algumas políticas públicas de turismo que são implementadas e renovadas


em certos períodos de tempo, no Brasil, são: o programa nacional de municipali-
zação do turismo (PNMT), planos aquarela e plano cores, os planos nacionais de
turismo, desenvolvidos nos períodos dos anos 2003 a 2007, 2007 a 2010, 2013 a
2016, e o atual de 2018 a 2022.

Por fim, adentramos na questão das boas práticas ambientais, as quais tem
a finalidade de minimizar os impactos ambientais e sociais, por meio do planeja-
mento adequado das atividades. Conhecemos também a utilização dos 8 princí-
pios de mínimo impacto, os quais são:

1. Planejamento é fundamental;
2. Você é responsável por sua segurança;
3. Cuide das trilhas e dos locais de acampamento;
4. Traga seu lixo de volta;
5. Deixe cada coisa em seu lugar;
6. Não faça fogueiras;
7. Respeite os animais e as plantas; e
8. Seja cortês com outros visitantes.

No próximo capítulo entraremos a fundo nas questões do planejamento e


gestão do ecoturismo, da gestão do ecoturismo em unidades de conservação, do
planejamento do ecoturismo para proteção de culturas tradicionais e dos cases e
modelos de turismo sustentável.

REFERÊNCIAS
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1994. Disponível em: http://www.ecobrasil.provisorio.ws/images/BOCAINA/
documentos/ecobrasil_diretrizespoliticanacionalecoturismo1994.pdf. Acesso em:
28 abr. 2021.

BRASIL. ICMBio. Guia do visitante. 2021. Disponível em: https://www.icmbio.


gov.br/parnaserradosorgaos/guia-dovisitante/36-conduta-consciente.html. Acesso
em: 5 mai. 2021.

BRASIL. ICMBio. Monitoramento da Visitação em Unidades de Conservação


Federais: Resultados de 2019 e Breve Panorama Histórico. 2020. Disponível

98
Capítulo 2 Bases Para Desenvolver o Ecoturismo

em: https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/comunicacao/publicacoes/
monitoramento_visitacao_em_ucs_federais_resultados_2019_breve_panorama_
historico.pdf. Acesso em: 11 mai. 2021.

BRASIL. Lei nº 8771, de 17 de setembro de 2008. Política Nacional de


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2010/2008/lei/l11771.htm. Acesso em: 25 de abr. 2021.

BRASIL. Ministério do Turismo. Anuário estatístico de turismo 2020 - Ano


base 2019. 2 ed., v. 47, 2021. Disponível em: http://www.dadosefatos.turismo.
gov.br/2016-02-04-11-53-05.html. Acesso em: 5 mai. 2021.

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do Turismo, Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de
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BRASIL. Ministério do Turismo. Ecoturismo: orientações básicas. / Ministério


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Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico, Coordenação Geral de
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Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

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100
C APÍTULO 3
Planejamento e Gestão
do Ecoturismo
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes
objetivos de aprendizagem:

� Definir o planejamento e a gestão do ecoturismo.


� Discutir as etapas de planejamento e gestão para definição e criação do ecotu-
rismo.
� Apresentar a gestão do ecoturismo voltando às unidades de conservação.
� Analisar como é realizada a gestão do ecoturismo aplicado para as unidades
de conservação.
� Explicar o planejamento do ecoturismo voltado à proteção de culturas tradicio-
nais.
� Valorizar o ecoturismo que é aplicado para proteção das culturas tradicionais.
� Conhecer cases e modelos de sucesso de turismo sustentável.
� Analisar e comparar os modelos de turismo sustentável que se tornaram casos
de sucesso.
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

102
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Durante o estudo deste livro, deparamo-nos com algumas situações que o
ecoturismo, a conservação e a sustentabilidade nos apresentam e ficamos com
uma vontade ainda mais de colocá-las em prática, não?!

Pois bem, através da leitura deste capítulo, conheceremos um pouco mais


sobre como poderemos colocar a “mão na massa” tanto para trabalhar a gestão
eficiente do ecoturismo, como conhecendo um pouquinho de belíssimos lugares
para programar as nossas próximas férias e para podermos colocar em práticas
os conhecimentos adquiridos durante os estudos.

Desta forma, durante o estudo desta última etapa da disciplina e Ecoturismo,


Conservação e Sustentabilidade, aprenderemos sobre como é feito o planejamen-
to e a gestão do ecoturismo, como é realizada a gestão do ecoturismo em uni-
dades de conservação, por meio dos órgãos competentes, conheceremos sobre
o planejamento do ecoturismo para proteção de culturas tradicionais e, por fim,
exploraremos alguns cases e modelos de turismo sustentável.

Vamos nessa?!

2 PLANEJAMENTO E GESTÃO DO
ECOTURISMO
Você se recorda que no último tópico do capítulo anterior nós falamos sobre
planejamento? Vimos que para que atividades e ações práticas sejam realizadas
de forma eficaz e com qualidade, é necessário que se tenha planejamento.

Pudemos ver também que, nas palavras de Oliveira (2008, p. 27), “planejar
significa ser e agir de forma responsável, orientando ações que contemplem o
bem-estar coletivo”.

Ao tratar do turismo de uma forma geral e também, mais especificamente, do


ecoturismo, é necessário que regras sejam seguidas, tanto na preparação quando
no decorrer da atividade, para que não causem impactos ao ambiente em que a
atividade está inserida, tendo em vista que esta modalidade interfere diretamente
no meio ambiente, habitat natural de diversas espécies e local onde são encontra-
dos os recursos naturais.

Neste planejamento, não podemos deixar de lado os princípios da susten-

103
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

tabilidade, os quais vimos na primeira unidade no nosso livro: desenvolvimento


social, econômico e ambiental e esse desenvolvimento pode ser influenciado pelo
crescimento da população e pelo consumismo desenfreado.

Uma questão importante para abordarmos no início deste ca-


pítulo é a diferença entre ecoturismo e turismo ecológico. Giancarlo
Philippi Zacchi, no ano de 2004, escreveu o artigo intitulado: “Turis-
mo Ecológico e Ecoturismo: Diferenças e Princípios Éticos”.

Com base nesse artigo, o qual pode ser acessado no link abaixo
para uma leitura mais completa, abordaremos as principais diferen-
ças entre essas modalidades.

Disponível em: https://uniasselvi.me/3jHHufQ

Conceitos segundo Giancarlo Philippi Zacchi (2004):


Ecoturismo: diz respeito a um tipo de turismo cuja estrutura con-
centra-se na manutenção do desenvolvimento sustentável, traduzido
como a preocupação com as gerações futuras, com a preservação
dos biomas e com a justiça social. Os princípios do ecoturismo gi-
ram em torno da possibilidade de se promover suporte à conserva-
ção e proteção ambiental; potencializar a responsabilidade do ope-
rador com a utilização sustentada dos recursos; gerar parcerias com
agentes locais e ONGs; desenvolver atividades de baixo impacto am-
biental; manter constante monitoramento das atividades realizadas;
proporcionar educação ambiental, e produzir benefícios econômicos
às comunidades envolvidas visando o desenvolvimento do meio rural
através da participação das comunidades no desenvolvimento da ati-
vidade; entre outros.

Turismo ecológico: o entendimento é traduzido como sendo “desen-


volvido em áreas naturais, onde os seus consumidores procuram usufruir
ao máximo a natureza, minimizando os impactos que possam causar,
além de desenvolver uma consciência ou compreensão ecológica”.

Diferenciação entre as expressões turismo

Turismo ecológico é a forma que diz respeito à preocupação


com a dignidade alheia, ou seja, turismo ecológico diz respeito à
conduta, comportamento, princípio norteador, ao passo que o ecotu-
rismo, necessita de ambiente preservado, criado por legislação quer
seja federal, estadual e ou municipal, que dependa de procedimentos
de manejo, segundo a fragilidade da terra, e que deve ser feito em

104
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

áreas de preservação ambiental integral, a fim de garantir a conser-


vação do meio ambiente para as gerações futuras.

Devemos também ficarmos atentos porque além da diferença apresentada


acima, ainda temos a diferenciação do ecoturismo ao turismo sustentável. Esta
diferença é retratada claramente no Manual de Melhores Práticas para o Ecotu-
rismo – Turismo Sustentável, elaborado pelo FUNBIO e Instituto ECOBRASIL, no
ano de 2004.

No ano de 2000, em um evento internacional realizado no mês de novem-


bro, em New Paltz, Estados Unidos, convocado pelo Institute for Policy Studies
e promovido pela Fundação Ford, reuniram-se participantes de 20 países, dentre
eles o Brasil, representando a maioria dos principais programas de certificação
em turismo sustentável e ecoturismo global, regional e nacional. No evento citado,
foram discutidos e nivelados os princípios e componentes que devem fazer parte
de todo programa sólido de certificação (FUNBIO; Instituto ECOBRASIL, 2004).
Deste evento, resultou o chamado Acordo de Mohonk.

Caro aluno, o Acordo de Mohonk levou este nome pois o evento


supracitado ocorreu na Mohonk Mountain House, um resort locali-
zado em um castelo vitoriano, que está situado no Vale do Hudson,
cercado por 40.000 acres de floresta intocada. Na Mohonk Mountain
House é possível realizar diversas atividades ligadas ao ecoturismo,
aproveitando as florestas e as montanhas.

FIGURA 1 – MOHONK MOUNTAIN HOUSE

FONTE: <https://www.mohonk.com/>. Acesso em: 13 mar. 2021.

105
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Segundo o Acordo de Mohonk, o turismo sustentável, em sua definição, bus-


ca minimizar os impactos ambientais e socioculturais, ao mesmo tempo que pro-
move benefícios econômicos para as comunidades locais e destinos (regiões e
países). Ainda, segundo o mesmo acordo, o ecoturismo, em sua definição, é o
turismo sustentável em áreas naturais, que beneficia o meio ambiente e as comu-
nidades visitadas e que promove o aprendizado, o respeito e a consciência sobre
aspectos ambientais e culturais (INSTITUTO ECOBRASIL, 2021).

Sendo assim, com base nas definições citadas, e analisando a Figura 2, po-
de-se entender que o ecoturismo está englobado ou faz parte do turismo susten-
tável, devendo obedecer às regras e os princípios do turismo sustentável, além
das suas próprias regras e princípios estabelecidos pelo próprio ecoturismo, os
quais estudamos até o presente capítulo.

FIGURA 2 – DESENHO ESQUEMÁTICO DO TURISMO SUSTENTÁVEL

FONTE: FUNBIO e Instituto ECOBRASIL (2004, p. 27)

Ainda, com base no mesmo manual, podemos identificar os princípios do tu-


rismo sustentável e os princípios do ecoturismo, sem deixar de levar em conta
que o ecoturismo deve respeitar e seguir também os princípios do turismo susten-
tável. Tais princípios também servem como estratégias que devem ser adotadas
pelas empresas turísticas, a fim de determinar o correto planejamento e a gestão
de suas atividades, a fim de oferecer ao consumir, a melhor experiência na área
do ecoturismo.

106
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

Os Princípios Turismo Sustentável, segundo o INSTITUTO ECOBRASIL


(2021) são:

Aspectos gerais (operacionais)

A empresa turística deverá:

• estar comprometida com o manejo ambiental;


• promover e vender produtos responsáveis e autênticos que atendam a
expectativas realistas;
• promover a retroalimentação de sua clientela;
• saber avaliar eventuais impactos negativos sociais, culturais, ambientais e
econômicos, estabelecendo, ainda, estratégias para manejo e mitigação;
• ter funcionários capacitados, educados, responsáveis e com conheci-
mento e consciência sobre manejos ambiental, social e cultural; e
• ter mecanismos para monitorar e relatar seu desempenho ambiental;

Aspectos ambientais

A empresa turística deverá:

• controlar a emissão de ruídos e gases;


• estar adequadamente implantada com relação ao ambiente natural;
• evitar danos ao local, paisagismo e recuperação do ambiente natural re-
lativamente à situação original;
• evitar impactos visuais e luminosos;
• fazer uso sustentável de materiais e insumos – recicláveis e reciclados –
produzidos localmente;
• minimizar a produção de dejetos e assegurar sua adequada disposição;
• minimizar os impactos ambientais de sua operação;
• promover a conservação da biodiversidade e a integridade dos ecossistemas;
• promover a redução e o uso sustentável de água;
• promover a redução e o uso sustentável de energia;
• promover o adequado tratamento e disposição de águas residuais;
• promover o manejo adequado da drenagem, solo e águas pluviais.

Aspectos socioculturais

A empresa turística deverá:

• adquirir, utilizar e manter a posse de terras de forma apropriada;


• possuir mecanismos para assegurar o reconhecimento dos direitos e as-
pirações de comunidades indígenas e locais;

107
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

• possuir medidas para proteger a integridade da estrutura social das co-


munidades locais;
• promover impactos positivos (benefícios) na estrutura social, cultural e
econômica (local e nacional).

Aspectos econômicos

A empresa turística deverá:

• estabelecer mecanismos de forma a assegurar que as relações traba-


lhistas e as práticas industriais sejam justas e estejam em conformidade
com a legislação;
• estabelecer mecanismos para minimizar impactos econômicos negativos
e maximizar benefícios econômicos para a comunidade;
• fomentar contribuições para a manutenção do desenvolvimento da infra-
estrutura comunitária;
• utilizar-se de práticas éticas comerciais.

Agora que conhecemos os princípios do turismo sustentável, vamos verificar


os princípios do ecoturismo, sem deixar de levar em conta que os princípios apre-
sentados acima, também fazer parte e também devem ser englobados no ecotu-
rismo, segundo o INSTITUTO ECOBRASIL (2021).

Princípios Ecoturismo

Além dos critérios e princípios do turismo sustentável, o ecoturismo deverá:

• promover as experiências pessoais com a natureza para um melhor


aprendizado e respeito;
• interpretar e conscientizar sobre os aspectos naturais e socioculturais locais
• contribuir ativamente para a conservação de áreas naturais e da biodi-
versidade;
• promover benefícios econômicos, sociais e culturais para as comunida-
des locais;
• promover a participação das comunidades no turismo onde for apropria-
do (por exemplo,
• criando postos de trabalho e oportunidade de negócios);
• tornar a infraestrutura, os atrativos e os programas harmônicos e compa-
tíveis com o entorno local;
• valorizar as culturas locais e tradicionais, minimizando eventuais impac-
tos negativos.

108
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

Você pode complementar os seus estudos acessando o manual


completo em: http://www.ecobrasil.eco.br/images/BOCAINA/docu-
mentos/didaticos/manualmpe_funbioecobrasil_modulo1_ecoturis-
motsustentavel.pdf

Outro assunto que podemos destacar brevemente, se trata da diferença de


ecoturismo e turismo rural. Apesar das duas atividades poderem serem praticadas
no mesmo espaço, existe uma grande diferença entre as duas modalidades turís-
ticas, diferença esta centrada no tipo atrativo oferecido, ao passo que no ecoturis-
mo, a natureza é seu principal atrativo, no turismo rural o atrativo central é o modo
de vida do homem do campo (BOVO, 2004).

O turismo no meio rural se mostra como uma alternativa de


moradores da zona urbana, além de descansar da rotina dos
grandes centros, desfrutar da hospitalidade e do aconchego
nas propriedades, perceber o modo de vida na zona rural e
seus costumes e produtos artesanais, interagindo com a po-
pulação local, conhecer o seu patrimônio histórico e natural no
meio rural ou até mesmo a busca por memórias e reencontrar
raízes (PORTO DE SOUZA et al., 2020, p. 64).

Cabe ressaltar que ambas as atividades, podem utilizar os mesmos elemen-


tos em sua composição, porém, de maneira a não descaracterizar seu atrativo
central. Em relação ao espaço rural, o mesmo é composto por três elementos
básicos: a natureza, a identidade local e o modo de vida. Estes elementos justifi-
cam a existência da multiplicidade de atividade turísticas neste espaço, visto que,
possui na composição deste conceito, atrativos centrais de diferentes modalida-
des turísticas, tendo destaque duas modalidades de turismo – o turismo rural e
turismo ecológico.

Um exemplo de ótimo local para praticar o turismo rural aliado ao


ecoturismo é a Serra Catarinense, bem como os municípios que a com-
põe, os quais pode-se citar: Cerro Negro, Otacílio Costa, Capão Alto,
Urubici, Ponte Alta, Palmeira, Bocaina do Sul, Anita Garibaldi, Bom Reti-
ro, Lages, São José do Cerrito, Rio Rufino, Painel, Campo Belo do Sul,
Correia Pinto, Urupema, Bom Jardim da Serra e São Joaquim.

109
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

FIGURA 3 – TURISMO RURAL EM LAGES

FONTE: <http://rotasantacatarina.com.br/>. Acesso em: 13 mar. 2021.

Retomando a questão do planejamento, foi possível perceber que quando


falamos em turismo, seja ele sustentável ou ecoturismo, é indispensável que haja
planejamento, gestão e definição de metas e objetivos, pois sem esses instru-
mentos, existe a possibilidade de se perder a sustentabilidade econômica, social
e ambiental ao longo do tempo, quebrando assim o link com a sustentabilidade,
fator primordial para o desenvolvimento das atividades.

Podemos lembrar também que o equilíbrio entre a atividade de prática do


turismo e sua relação com o meio ambiente, sendo que o primeiro depende do se-
gundo para existir, precisa ser regulado e disciplinado para que haja entre ambos
um relacionamento respeitoso e harmonioso.

Com a finalidade de compreender o planejamento e a sua formação, Oliveira


(2008) explica que a formatação do planejamento se dá através de: atrativos e
atividades turísticas, hospedagem, variedade de instalações e serviços turísticos,
transportes, infraestrutura e elementos institucionais. A mesma autora ainda infor-
ma que:

para que o turismo seja um fator valorativo, que auxilie na pre-


servação e manutenção do ambiente físico, social, natural e,
não menos importante, o aspecto cultural de uma localidade, há
de se pensar em um planejamento e gerenciamento de qualida-
de para a atividade, além de uma educação que proponha ao vi-
sitante a apreciação destes ambientes (OLIVEIRA, 2008, p. 26).

110
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

Portanto, pode-se compreender que o planejamento do turismo precisa ade-


quar às motivações do fluxo turístico e do núcleo receptor, levando em conta a
comodidade que o turista irá receber no local, pois não é pelo fato de se tratar de
atividades ligadas à natureza que o turista não precisará de todo o conforto pos-
sível que puder ser oferecido, mas sem desmerecer os direitos do meio ambiente,
no que concerne ao equilíbrio ecológico, social e cultural, considerando que a
atividade excede a esfera econômica.

Assim, Oliveira (2001) informa que antes de se iniciar qualquer projeto turístico em
uma localidade, o planejador deve responder às seguintes questões, tendo em vista
atingir o melhor patamar de planejamento para a atividade (MOHR, 2011, p. 137):

1. O turismo é importante para impulsionar a economia da re-


gião?
2. Quais são as tendências do mercado, os estilos de vida, as
necessidades e as preferências dos turistas?
3. Quais estratégias e investimentos devem ser feitos para que
a localidade seja competitiva na indústria turística?
4. O que é preciso fazer para que um local estabeleça um ni-
cho no setor de turismo?
5. Quais são os riscos que o turismo produz?
6. Quais as formas de comunicação mais eficientes na tarefa
de atrair e de manter os turistas?

Assim, após a obtenção e análise das respostas aos quesitos apontados


acima, já levando em conta que o local possui atrativos e potenciais para que o
ecoturismo seja bem desenvolvido e também que o local escolhido atende aos
critérios básicos, se faz necessário que o planejamento seja realizado conforme o
esquema metodológico apresentado no Quadro 1, a seguir.

111
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

QUADRO 1 – PLANEJAMENTO DE ATIVIDADES


TURÍSTICAS EM AMBIENTES NATURAIS

PLANEJAMENTO DE ATIVIDADES TURÍSTICAS EM AMBIENTES NATURAIS


Nº Etapa Atividade
Levantamento dos recursos turísticos naturais (análi-
se física do espaço territorial)
1 Análise do Território
Levantamento dos recursos turísticos humanos (análi-
se da atividade humana)
Análise da Demanda
2 Análise do Mercado Turístico
Análise da Oferta
Formulação da análise da oferta Análise da repercussão no território
3
turística Análise da repercussão na atividade turística
Formulação da política de desenvol- Determinação da Oferta
4
vimento Determinação da Demanda (nacional ou internacional)
Requisitos para a exploração da Básicos
5
atividade turística Complementares
6 Cronograma de realização Projetos

FONTE: Adaptado de Oliveira (2001)

Acadêmico, podemos perceber que o planejamento nos permite projetar


ações futuras com margem de tempo e segurança, conseguindo aliar a partici-
pação da comunidade residente local, a qual deverá ser inserida neste contexto,
tendo em vista que a mesma irá “ceder” parte de seu território para tal atividade.
Com um planejamento bem alinhado e definido, com prazos executáveis e dentro
de uma margem viável de recursos, fica mais fácil obter o desenvolvimento sus-
tentável para uma região e também para a atividade turística requisitada.

Castro, Galvão e Binfaté (2019, p. 635) informam que:

as práticas de ecoturismo apresentam-se como alternativa e


possibilidade de mitigação dos efeitos sociais, ambientais e
econômicos desfavoráveis causados pelo desenvolvimento do
turismo embasado na lógica de ganhos econômicos por qual-
quer via. Tais práticas atrelam-se à proposta de uma relação de
integração dos turistas com o ambiente visitado, tendo como
objetivo central a preservação dos elementos desse ambiente.

Cabe ressaltar que os efeitos danosos ou também impactos que podem ser
causados aos ambientes nas atividades turísticas, dependem do tamanho do em-
preendimento em questão e da demanda de visitantes, além da concentração
espacial e temporal, da natureza do ambiente e dos métodos de planejamento
adotados durante o processo de implantação do turismo. Sendo assim, para evitar
que estes impactos ocorram é necessária a adoção de práticas sustentáveis tanto

112
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

no planejamento, quando na execução da atividade, como as que vimos no capí-


tulo anterior do presente livro.

Outro ponto a ser levado em conta no planejamento do turismo, é com rela-


ção ao quesito geração de emprego e renda. Para Oliveira (2001) o turismo como
vetor de desenvolvimento, tem-se: alívio da pobreza no Brasil, inclusão social e
economia solidária, com projetos firmados entre setores públicos e privados que
possam fomentar ações de qualificação profissional, apoio a ações de desenvolvi-
mento local, visando a inclusão social, integral e sustentável.

Há que ser lembrado, na hora de planejar as atividades, sobre a necessidade


da qualidade na prestação de serviços. A mesma autora enfatiza que para que
haja equilíbrio entre demanda (representada pelo indivíduo e sua motivação) e
oferta (caracterizada pela atratividade em determinado receptivo), os atrativos de-
vem apresentar qualidade no que é ofertado ao visitante, isto é, o destino turístico
deve manter o alinhamento entre equipamentos e objetos que demandam à ofer-
ta, como por exemplo: instalações que oportunizem o desenvolvimento de uni-
dades turísticas, ou seja, sistemas de deslocamento, hospedagem, infraestrutura
básica, serviços de apoio e restauração em consonância com as necessidades da
comunidade em que o turismo se desenvolve.

Desenvolve-se uma rede de profissionais e serviços para me-


diar as práticas e as experiências de ecoturismo, no âmbito
mais amplo da mediação do turismo, de modo geral, o que
também causa a demanda por qualificação de profissionais
para atuarem a partir das especificidades técnicas que o de-
senvolvimento do ecoturismo exige e nas perspectivas da ofer-
ta de serviços com maior qualidade e de tornar o Brasil um
país com destinos de ecoturismo mais competitivos (CASTRO;
GALVÃO; BINFARÉ, 2019, p. 635).

O Ministério do Turismo tem o papel de elevar o turismo à condição de im-
portante vetor de desenvolvimento econômico e social do país. Por meio da qua-
lificação no turismo, a pasta busca a geração de empregos, a contribuição para a
redução das desigualdades sociais e econômicas regionais, a promoção da inclu-
são social pelo crescimento da oferta de trabalho e a melhor distribuição de renda
(BRASIL, 2021).

Em consonância com o Plano Nacional de Turismo e com a Política Nacio-


nal de Qualificação no Turismo (PNQT), o ministério oferta cursos de qualificação
no turismo proporcionando o aprimoramento profissional na área, destinados aos
profissionais da cadeia produtiva do turismo e demais pessoas que desejam inte-
grar o setor (BRASIL, 2021).

113
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Caro acadêmico, você pode encontrar os cursos disponíveis


para qualificação, ofertados pelo MTur, através do site: https://unias-
selvi.me/3n3qse9

Além disso, você pode acessar a Política Nacional de Qualifica-


ção no Turismo (PNQT) através do link: https://uniasselvi.me/3tdTmcO

1 A OMT define o turismo sustentável como: “O turismo que con-


sidera plenamente seus atuais e futuros impactos econômicos,
sociais e ambientais, abordando as necessidades dos visitantes,
da indústria, do meio ambiente e das comunidades locais”. Com
base nesse conceito, explique qual a diferença entre o turismo
sustentável e o ecoturismo.

2 Ao longo deste capítulo pudemos ver que o planejamento de ati-


vidades turísticas em ambientes naturais deve seguir uma sequ-
ência de 6 passos. Desta maneira, analise as alternativas a se-
guir e coloque as etapas na ordem em que as mesmas devem ser
realizadas.

( ) Análise do Mercado Turístico


( ) Cronograma de realização
( ) Análise do Território
( ) Requisitos para a exploração da atividade turística
( ) Formulação da análise da oferta turística
( ) Formulação da política de desenvolvimento

Selecione a alternativa correta:

a) 2 – 6 – 4 – 1 – 3 – 5
b) 2 – 6 – 1 – 5 – 3 – 4
c) 1 – 2 – 5 – 4 – 3 – 6
d) 5 – 6 – 4 – 1 – 2 – 3

114
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

3 GESTÃO DO ECOTURISMO EM
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Pudemos estudar nos capítulos anteriores sobre a criação, no ano 2000, da
Lei Federal nº 9.9885/2000, a qual instituiu no Brasil o Sistema Nacional de Uni-
dades de Conservação (SNUC). Esta lei ainda trouxe os tipos de unidades de
conversação existentes, os quais podem se dividir em unidades de proteção inte-
gral e unidades e uso sustentável.

A critério de lembrança, e retomada de conteúdo, a Lei do SNUC define, em


seu artigo 2º, unidade de conservação (UC) como:

espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as


águas jurisdicionais, com características naturais relevantes,
legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de con-
servação e limites definidos, sob regime especial de adminis-
tração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção
(BRASIL, 2000).

Pudemos ver também que um dos objetivos principais do SNUC é “favorecer


condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em con-
tato com a natureza e o turismo ecológico”. Portanto, para a área do ecoturismo,
o turismo em Unidades de Conservação é uma área excelente para a prática do
mesmo, pois pode, dependendo do tipo da UC, aliar o turismo e a proteção e
aproveitamento sustentável da natureza.

Ainda, vimos que o órgão que é responsável pela gestão das UCs Federais é
o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e, segundo
ele, a categoria mais popular e antiga das UCs é a categoria de Parque Nacional
(PARNA), onde há possibilidade de maior interação entre o visitante e a natureza,
pois permite o desenvolvimento de atividades recreativas, educativas e de inter-
pretação ambiental, além de permitir a realização de pesquisas científicas.

Ao longo dos anos as questões ambientais e o turismo intrínseco a ela toma-


ram força e foi a partir da década de 1970 que se deu início as primeiras concep-
ções sobre questões ambientais. Ao longo do tempo estas preocupações ganha-
ram espaço em discussões e encontros internacionais e a partir desse momento,
a atividade turística em ambientes naturais se expandiu no mercado, pois o via-
jante entende a natureza como algo a ser desvendado, assim, esta ideia provoca
no indivíduo o desejo de se expor a situações desconhecidas (PAIVA, 2019).

Paiva (2019) afirma que alguns ambientes naturais têm sido enormemente
valorizados pela atividade turística, e proporcionam, de alguma forma, um contato

115
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

mais direto com certos elementos naturais. É através desse contato mais direto
com a natureza que o turismo proporciona, que é desenvolvida uma relação de
troca, de aprendizado e de respeito entre visitante e natureza.

Uma forma de proporcionar este contato direto com o meio ambiente é a


visitação que ocorre nas UCs, e esse tipo de visitação compreende as atividades
recreativas e também educativas, as quais são realizadas em contato com os atri-
butos naturais e culturais, onde o objetivo principal é que o visitante desenvolva
respeito e dê a devida importância a esses recursos.

A Figura 4, abaixo, representa o mapa das UCs no Brasil, levando em conta


o tipo e a classificação de cada unidade, seguindo os critérios do SNUC. Pode-se
perceber que o Brasil é repleto de áreas dedicadas à conservação ambiental.

FIGURA 4 – MAPA DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, BRASIL, 2019

FONTE: Grandisoli et al. (2020, p. 45)

116
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

O Arquipélago de Anavilhanas, localizado no Estado do Amazo-


nas, nas proximidades do município de Novo Airão, desde o ano de
1981 já era uma área protegida em âmbito federal na categoria de
Estação Ecológica, no entanto, mudou de categoria de unidade de
conservação e passou a ser denominado Parque Nacional de Ana-
vilhanas. Algumas das espécies ameaçadas de extinção que são
protegidas nesta Unidade de Conservação são: Maracajá-peludo,
Tamanduá-bandeira, Onça-pintada, Tatu-canastra, Ariranha e Peixe-
-boi-da-Amazônia

FIGURA 5 – PARQUE NACIONAL DE ANAVILHANAS

FONTE: <https://www.icmbio.gov.br/portal/parna-de-a-
navilhanas>. Acesso em: 132 mar. 2021.

Segundo o ICMBio (2021a), o turismo de interação com botos-


-vermelhos é o principal atrativo do Parque Nacional de Anavilhanas
e de Novo Airão e existe há quase 20 anos. Pioneiro na atividade
e no ordenamento, o “Flutuante dos Botos” localiza-se na orla de
Novo Airão, onde é possível interagir com os carismáticos mamífe-
ros aquáticos. O Flutuante dos Botos localiza-se na Praia da Orla de
Novo Airão, dentro do Parque Nacional de Anavilhanas.

Conforme mencionado anteriormente, a gestão das UCs é realizada pelo


ICMBio, porém, além desta gestão, a qual veremos mais a frente, o mesmo órgão
é o responsável pela criação das UCs Federais. Vamos ver como esse processo
acontece.

117
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Segundo o ICMBio (2021b), criar novas Unidades de Conservação é outra


importante missão do Instituto Chico Mendes. Mas elas não são criadas ao acaso.
“Quando o Instituto Chico Mendes propõe a criação de uma nova unidade de con-
servação, uma longa trajetória já foi percorrida para se chegar à escolha desse
espaço a ser especialmente protegido”. Portanto, é importante mencionar que a
criação de Unidades de Conservação encontra respaldo em diversos instrumen-
tos legais relacionados às políticas públicas para a conservação da biodiversida-
de no Brasil. Com relação às leis que são seguidas no processo de criação das
UCs, pode-se citar as seguintes:

• Constituição Federal (1988) – Art. 225;


• Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvi-
mento (Rio 92);
• Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB);
• Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC):
Lei 9.985/2000;
• Regulamentação da Lei do SNUC: Decreto 4.340/2002;
• Política Nacional de Biodiversidade: Decreto 4.339/2002;
• Programa Nacional da Diversidade Biológica - Pronabio Decreto
4.703/2003;
• Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológi-
ca Brasileira – Probio: Decreto 5.092/2004;
• Plano Nacional de Áreas Protegidas – PNAP: Decreto 5758/2006;
• Conabio – Comissão Nacional de Biodiversidade: Resolução 03 de
21/12/2006 - Decisão VIII/15;
• Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comuni-
dades Tradicionais (PNPCT): Decreto 6.040/2007;
• Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição de
Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Portaria MMA 09/2007;
• Normas Gerais para o Planejamento e a implementação do uso público
nas unidades de conservação federais: Portaria nº 289/2021.

A despeito do marco legal que trata das macrodiretrizes para a criação de


Unidades de Conservação, sejam federais, estaduais ou municipais, na prática,
grande parte das atuais demandas de criação de áreas protegidas estão relacio-
nadas ao interesse e manifestação da sociedade civil, comunidade científica e/
ou órgãos públicos normalmente sensibilizados pela necessidade de estabelecer
mecanismos mais robustos para a proteção ao patrimônio natural brasileiro. Por-
tanto, quando algum setor da sociedade envia uma demanda deste tipo, cabe ao
Instituto Chico Mendes analisar tecnicamente a proposta e, se pertinente, proce-
der aos demais estudos e levantamentos com vistas à criação de uma nova Uni-
dade de Conservação federal.

118
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

Os estudos técnicos são de primordial importância para determinar a escolha


da categoria e dos limites adequados à UC a ser proposta. Via de regra, são rea-
lizados levantamentos e elaborados relatórios com foco no meio natural (físico e
biótico), socioeconômico, cultural e fundiário, cuja profundidade da análise pode
diferir em função das particularidades de cada proposta, sempre complementados
por levantamentos e vistorias em campo.

A conclusão da fase de estudos e levantamentos em campo se concretiza com


a elaboração de uma proposta preliminar de limites e de categoria da Unidade de
Conservação. Essa proposta preliminar é utilizada para apresentação e discussão
junto à sociedade. Conta ainda, como principal marco referencial, com a realiza-
ção de uma ou mais consultas públicas. As consultas públicas são reuniões abertas
à sociedade, precedidas de amplo processo de divulgação, nas quais a proposta
deve ser apresentada de forma clara e acessível, possibilitando aos cidadãos e ins-
tituições locais que manifestem sua posição e considerações sobre a proposta.

Vencidas todas estas etapas, a proposta é então encaminhada ao Chefe do


Poder Executivo, que no caso das Unidades de Conservação federais é o Presi-
dente da República, acompanhada de todos os documentos que integram o pro-
cesso de criação da UC. Sendo a criação de unidade de conservação um ato do
poder executivo, conforme Artigo 225 da Constituição Federal, a unidade só é
efetivamente criada após a assinatura e publicação no Diário Oficial da União do
respectivo Decreto que a cria, assinado pelo Presidente da República. Cabe re-
lembrar que o artigo 225 da constituição remete à (BRASIL, 1988):

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletivi-
dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao
Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e
prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio gené-
tico do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e
manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços terri-
toriais e seus componentes a serem especialmente protegidos,
sendo a alteração e a supressão permitidas somente através
de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integrida-
de dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de
técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a
vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

119
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino


e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as prá-
ticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem
a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

Desta forma, após a criação da unidade de conservação, passa ao ICMBio a


capacidade de realizar a gestão das UCs Federais. No caso das UCs Estaduais e
Municipais, a gestão compete a cada um dos órgãos, respectivamente.

Acadêmico, no ano de 2019, o Governo Federal, através do


Ministério do Meio Ambiente, lançou o livro intitulado “Roteiro para
Criação de Unidades de Conservação Municipais”. O livro oferece
informações capazes de orientar tecnicamente a condução do pro-
cesso de criação de unidades de conservação no âmbito dos muni-
cípios. Esse roteiro foi elaborado visando ser um instrumento prático,
de modo que os gestores ambientais e demais interessados tenham
clareza quanto a forma de criar uma unidade de conservação muni-
cipal, além de ser um ótimo complemento para os nossos estudos.

O livro pode ser acessado através do link: https://bit.ly/3jLPcWm

Tratando sobre a gestão que é realizada nas UCs, segundo o ICMBio, em


2004, a Convenção sobre a Diversidade Biológica - CDB (um tratado internacional
multilateral que, como seu nome sugere, trata da proteção e do uso da diversida-
de biológica em cada país signatário), adotou o Programa de Trabalho para as
Áreas Protegidas (VII/28), que determinava aos países signatários a realização de
avaliações de efetividade de gestão de seus sistemas de áreas protegidas até o
ano de 2010 (ICMBIO, 2021c).

Desta forma, a primeira avaliação de efetividade de gestão das Unidades de


Conservação federais brasileiras, realizada entre os anos 2005-2006, foi conduzi-
da seguindo o método de Avaliação Rápida e Priorização da Gestão de Unidades
de Conservação – RAPPAM. O estudo avaliou 245 unidades (aproximadamente
85% das UCs existentes no período). A partir de novembro de 2009 deu-se início
à realização do segundo ciclo de avaliação da efetividade de gestão das UCs fe-
derais seguindo o método RAPPAM (ICMBIO, 2021c).

120
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

Ao longo do ano de 2010 foram realizadas sete oficinas presenciais para apli-
cação dessa metodologia visando cobrir todo o conjunto das UCs federais, exceto
as situações excepcionais caracterizadas pelas Unidades recém-criadas, pelas
geridas sob parceria com institutos estaduais e por aquelas que se encontravam
sem gestor no momento da aplicação dos questionários. Seguindo esses critérios,
foram avaliadas 292 Unidades, abrangendo cerca de 94% das 310 UCs federais
existentes naquele ano. Complementando as informações levantadas nas 292
UCs, foi também aplicado um questionário específico junto à Direção Ampliada do
ICMBio, tendo por intuito avaliar a situação do Sistema Federal de Unidades de
Conservação (ICMBIO, 2021c).

Em 2015, dando continuidade ao processo sistemático de avaliação do méto-


do RAPPAM, a ferramenta foi aplicada nas UCs do bioma Amazônia e, em 2016,
nas unidades dos demais biomas. Nesse ciclo, 249 unidades de conservação fe-
derais responderam ao questionário, sendo que 110 pertencentes ao bioma Ama-
zônia (ICMBIO, 2021c).

Além deste método de gestão e controle, foi elaborado o Sistema de Análise


e Monitoramento de Gestão (SAMGe), o qual é uma ferramenta criada pela Divi-
são de Monitoramento e Avaliação de Gestão (DMAG), do ICMBio. A ferramenta
foi institucionalizada pela Portaria nº 306 de 31 de maio de 2016 e tem o intuito
de analisar e monitorar a efetividade de gestão das Unidades de Conservação. A
ferramenta passou por algumas alterações desde a sua criação e, no momento,
o seu preenchimento ocorre por meio de uma plataforma web, acessando do link:
http://samge.icmbio.gov.br (ICMBIO, 2020c).

Cabe ressaltar que a aplicação do SAMGe é anual, enquanto o RAPPAM,


mencionado anteriormente, é aplicado a cada 5 anos. São ferramentas distintas,
porém suas informações se complementam.

Segundo o Relatório do SAMGe, do ano de 2019, a visitação e turismo, foi o


segundo tipo de uso mais indicado pelas unidades de conservação, ficando atrás
somente do uso do solo, geralmente associado a moradia, agricultura e pecuá-
ria. A visitação e turismo aparece com 809 usos, com alta ocorrência em PAR-
NA, FLONA, RESEX e APA (663, 82% do total desse uso). Considerando que,
em 2018, foram identificados 740 usos e, em 2017, 558 usos, pode-se evidenciar
a crescente demanda da sociedade pela visitação às áreas naturais protegidas.
Destaca-se, porém, que foram indicados 171 usos específicos relacionados a vi-
sitação sem ordenamento, em 148 unidades de conservação (46,8% do total de
unidades avaliadas no SAMGe em 2019) (ICMBIO, 2020c). O resumo dos resulta-
dos encontra-se na Figura 6 abaixo.

121
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

FIGURA 6 – EVOLUÇÃO DA IDENTIFICAÇÃO DOS USOS NAS UCS FEDERAIS

FONTE: <https://www.gov.br/icmbio/pt-br/assuntos/criacao-de-unidades-de-conservacao/
efetividade-da-gestao-de-ucs/relatorio_SAMGe_2019.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2021.

Tratando especificamente sobre a visitação nas unidades de conservação,


em muitas delas, para se obter um controle efetivo e uma proteção mais regra-
da, se faz necessário o agendamento das visitas turísticas. Segundo o site do
ICMBio, o agendamento é o serviço que possibilita a turistas, visitantes locais,
estudantes, condutores de visitantes e agências de viagem agendarem visitas a
unidades de conservação federal (UCs) em que esse agendamento é obrigatório.
A visita é principalmente para ecoturismo, mas pode ter propósito recreativo, des-
portivo, educacional, cultural ou religioso.

Podem utilizar este serviço pessoas físicas (visitantes, condutores de visitan-


tes, professores) e jurídicas (agências de viagem, escolas), tendo como requisitos
necessários para o solicitante o acesso à internet e CPF ou CNPJ. Com relação
à custos os mesmos são variáveis, de acordo com o atrativo desejado, porém,
quando a visita for cobrada, o visitante deverá pagar uma GRU (guia de recolhi-
mento da União) e anexar o comprovante de pagamento no sistema, para ter a
confirmação de agendamento.

Como exemplo de um local onde é cobrada a visitação é o Parque Nacional


do Iguaçu, no agendamento é apenas para visitas com fins educacionais. Para as
demais visitas, a compra de ingressos é feita na entrada no Parque e outros servi-
ços pagos continuarão sendo ofertados pela concessionária que faz a administra-
ção das visitas. A Figura 7 mostra os valores para as visitações nas Cataratas do
Iguaçu, sendo que, para brasileiros, os valores são mais baixos.

122
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

FIGURA 7 – VALORES DE INGRESSOS PARA VISITAÇÃO DAS CATARATAS DO IGUAÇU

FONTE: <https://cataratasdoiguacu.com.br/>. Acesso em: 13 mar. 2021.

123
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Segundo o ICMBio (2021d), a concessão de serviços de uso


público nos parques nacionais é um instrumento previsto por lei. Di-
ferentemente da privatização, em que o concorrente adquire o bem,
a concessão permite à iniciativa privada apenas o repasse temporá-
rio dos serviços de apoio a visitantes nas unidades de conservação,
como cobrança de ingresso, estacionamento, cafés, bares, restau-
rantes, lojas de souvenir, atividades esportivas na natureza, entre ou-
tros. Ou seja, o território e a gestão das UCs continuam sob o contro-
le do governo, e o ICMBio continua sendo o responsável pela gestão
da unidade de conservação.

O objetivo da concessão de serviços é gerar mais recursos para


investimentos nas unidades de conservação, como uma forma de
proteger os recursos naturais e, ao mesmo tempo, proporcionar aos
turistas uma melhor experiência durante a visita às unidades de con-
servação, em especial os parques nacionais.

Com relação à visitação, existe a possibilidade de realizar o agendamento


prévio junto ao ICMBio, este é um serviço que possibilita agendar com antecedên-
cia e garantir vaga para atividades de ecoturismo, visita ecoturística, recreação na
natureza, e outras atividades em contato com a natureza feitas dentro de unida-
des de conservação que o ICMBio gerencia. Algumas das UCs em que este servi-
ço está disponível são: Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, Parque Na-
cional das Cavernas do Peruaçu, Parque Nacional do Caparaó, Refúgio de Vida
Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes, Parque Nacional da Serra da Canastra,
Parque Nacional das Emas, Parque Nacional do Iguaçu (para fins educacionais) e
Parque Nacional da Serra da Bodoquena.

Desta maneira, ainda é possível que seja realizado um controle maior sobre
as unidades de conservação conseguindo ter um limite de vagas, que o ambiente
natural consiga suportar, o cadastramento dos visitantes, além de ser possível
estabelecer um máximo tempo de permanência no local, a fim de minimizar os
impactos negativos.

O ICMBio (2011), determina algumas diretrizes consideradas como elemen-


tos norteadores das ações de planejamento e manejo de impactos da visitação
em Unidades de Conservação brasileiras. Dentre elas, tem-se:

124
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

a) Planejar o manejo de impactos da visitação como parte integrante do


planejamento do uso público da UC.
b) Adotar a referência numérica da capacidade de manejo da visitação
como um elemento balizador e de apoio à tomada de decisões. A pro-
teção dos recursos naturais e culturais e a melhoria da qualidade da ex-
periência dos visitantes dependem fundamentalmente do monitoramento
de indicadores e da implementação de ações de manejo.
c) Promover a participação de especialistas, pesquisadores, excursionistas,
praticantes de esportes de aventura, lideranças comunitárias envolvidas
com o ecoturismo, conhecedores das atividades de visitação, o Conselho
Gestor da UC, dentre outros atores no manejo dos impactos da visitação.
d) Considerar a educação e a interpretação ambiental, de forma interativa
e envolvente, como elementos fundamentais para diminuição dos impac-
tos à UC.

Ainda para o ICMBio, o manejo ou gestão de Unidades de Conservação


compreende o conjunto de ações e atividades necessárias ao alcance dos objeti-
vos de conservação das áreas protegidas. De forma mais específica, o Manejo de
Impactos da Visitação envolverá uma série de ações técnicas e de gestão para a
minimizar os impactos da visitação ao ambiente e maximizar a qualidade da ex-
periência dos visitantes. A atividade de monitoramento gera um processo cíclico
de aprimoramento e melhoria do trabalho. A Figura 8 ilustra, esquematicamente, o
ciclo de Manejo de Impactos da Visitação aplicado pelo ICMBio nas UCs.

FIGURA 8 – CICLO DE MANEJO DE IMPACTOS DA VISITAÇÃO

FONTE: ICMBio (2011)

125
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

O ICMBio (2011) também recomenda que sejam aplicadas algumas etapas


para desempenhar, da melhor forma possível, a gestão das UCs no que diz res-
peito à visitação de turistas. As etapas consistem em um conjunto de procedimen-
tos organizados de forma a facilitar o entendimento de como colocar em prática as
orientações. Os procedimentos foram sistematizados com o objetivo de servirem,
de forma geral, para as UC dos diferentes biomas brasileiros. Algumas etapas
de aplicação, como o estabelecimento do número balizador da visitação e a defi-
nição de indicadores e de padrões, necessitarão de estudos específicos e terão
variações caso a caso. A adequação de procedimentos para atender às especifi-
cidades de determinadas UC pode ser necessária e é recomendada. A Figura 9
ilustra, esquematicamente, o conjunto das cinco etapas.

FIGURA 9 – CICLO DE MANEJO DE IMPACTOS DA VISITAÇÃO

FONTE: ICMBio (2011)

Algumas alternativas de manejo, que podem ser utilizadas individualmente


ou associadas, podem contribuir para a gestão da UC, bem como podem contri-
buir para minimizar os impactos. São elas (ICMBIO, 2011):

Alterar o tempo e a frequência de uso:

• Estimule o uso fora dos horários e dias de pico;


• Desestimule ou proíba o uso quando o potencial de impacto se tornar
alto;
• Diferencie os valores cobrados por serviços durante os períodos de mui-
ta procura ou de alto potencial de impacto.

126
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

Adequar o tipo de uso ou o comportamento do visitante:

• Desestimule ou proíba práticas danosas ao ambiente e à experiência de


outros visitantes;
• Incentive ou exija certos comportamentos, aptidões ou equipamentos;
• Recomende e divulgue a ética e as práticas de mínimo impacto;
• Incentive grupos pequenos;
• Desestimule ou proíba a permanência em locais ou períodos de intensa
atividade de fauna.

Adequar as expectativas dos visitantes às condições existentes na UC:

• Divulgue os usos permitidos/apropriados;


• Informe os visitantes sobre as condições que deverão encontrar.

Modificar o uso de áreas problemáticas:

• Desestimule ou proíba o acampamento nos locais mais atingidos;


• Estimule ou apenas permita o acampamento em outras áreas existentes;
• Estimule a utilização de abrigos;
• Concentre o uso nos locais mais resistentes através de orientações cla-
ras, ou pela instalação de estruturas e/ou equipamentos que protejam os
recursos naturais e culturais;
• Recomende aos visitantes que sigam as normas estabelecidas para as
atividades de visitação;
• Mantenha diferentes tipos de visitantes em locais distintos.

Reduzir o uso apenas nos lugares onde há maior impacto dentro da área
estratégica:

• Desestimule o uso dessas áreas, informando aos potenciais visitantes


sobre as desvantagens de ir até lá e os problemas que o local apresenta;
• Proíba o uso dessas áreas;
• Diminua o número de visitantes em áreas com problema;
• Estabeleça prazos para a estadia de visitantes em áreas com problema;
• Faça o acesso às áreas com problema ser mais difícil, estabelecendo,
por exemplo, um sistema de agendamento prévio;
• Melhore o acesso e a divulgação de outras áreas;
• Estabeleça diferentes requisitos de habilidades ou de equipamentos para
cada área.

Desta forma, com aplicação de técnicas de manejo, ou seja, com a aplica-


ção de métodos, técnicas e habilidades, desde o planejamento inicial ao trabalho

127
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

cíclico de monitoramento e avaliação das condições da qualidade da visita e do


ambiente natural e cultural, é possível aliar a satisfação do turista e a preservação
do ambiente natural.

Uma leitura complementar muito interessante pode ser feita


através do livro virtual: boas práticas na gestão de unidades de con-
servação: conheça as iniciativas que buscam soluções para gestão
de unidades de conservação no Brasil. Acesse o livro através do link:

https://www.icmbio.gov.br/parnaabrolhos/images/stories/desta-
ques/boas_praticas_na_gestao_de_ucs_edicao_3_2018.pdf

3 Atividades que envolvem turistas em áreas preservadas podem ge-


rar impactos ao meio ambiente. O ICMBio, a fim de minimizar estes
impactos, determina algumas diretrizes consideradas como elemen-
tos norteadores das ações de planejamento e manejo de impactos
da visitação em Unidades de Conservação brasileiras. Com base
nesses elementos, verifique as sentenças abaixo e assinale a alter-
nativa que apresenta corretamente o elemento em questão.

a) Desconsiderar a área relativa à educação e a interpretação am-


biental, de forma interativa e envolvente, como elementos funda-
mentais para diminuição dos impactos à UC.
b) Não levar em conta, ao realizar planejamento do uso público da
UC, o manejo de impactos da visitação.
c) Promover a participação de especialistas, pesquisadores, excur-
sionistas, praticantes de esportes de aventura, lideranças comu-
nitárias envolvidas com o ecoturismo, conhecedores das ativida-
des de visitação, o Conselho Gestor da UC, dentre outros atores
no manejo dos impactos da visitação.
d) Na etapa de tomada de decisões, não é necessário adotar a refe-
rência numérica da capacidade de manejo da visitação, podendo
deixar as áreas livres para a visitação.

128
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

4 PLANEJAMENTO DO ECOTURISMO
PARA PROTEÇÃO DE CULTURAS
TRADICIONAIS
Recentemente, uma nova modalidade de turismo surgiu, a qual mescla a
proteção das unidades de conservação com as comunidades tradicionais que re-
sidem nestas UCs. A esta modalidade dá-se o nome de Turismo de Base Comu-
nitária (TBC). Essas comunidades estão encontrando no TBC uma alternativa de
renda, uma oportunidade de valorizar a própria cultura e uma forma de integrar os
jovens ao modo de vida local.

Para o Ministério do Meio Ambiente (2020), esta área atua implementado a


missão institucional do ICMBio em unidades de conservação federais (UCs) de
uso sustentável com populações tradicionais. A atuação institucional neste tema é
a promoção do desenvolvimento sustentável através do uso dos recursos naturais
e da melhoria da qualidade de vida das comunidades extrativistas como estraté-
gia de conservação da biodiversidade.

Conforme vimos no decorrer do presente livro, existem diferentes tipos de


usos para as unidades de conversação, sendo que algumas delas permitem a
visitação, outras não, e algumas delas possuem o objetivo de compatibilizar a
conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos
naturais pelas populações extrativistas que tradicionalmente habitam estas áreas.

As categorias Reservas Extrativistas (RESEX) e Reservas de Desenvolvi-


mento Sustentável (RDS) são criadas partindo de demanda das populações tra-
dicionais, que buscam a garantia e reconhecimento do seu território já utilizado
para proteger os seus meios de vida e cultura, além de assegurar o uso sustentá-
vel dos recursos naturais da unidade. As Florestas Nacionais (FLONA) são áreas
com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como obje-
tivo o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com
ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas (BRASIL,
2000). Com relação as FLONAS, algumas delas podem possuem populações tra-
dicionais que são beneficiárias, porém outras não, não sendo uma regra.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2020), das 334 unidades de conser-


vação federais (UCs) geridas pelo ICMBio, existem 87 UCs de uso sustentável,
das categorias Reserva Extrativista (Resex), Floresta Nacional (Flona) e Reserva
de Desenvolvimento Sustentável (RDS), com população tradicional vivendo den-
tro de seus limites. Com base no cadastro do SISFAMILIAS estima-se mais de 60
mil famílias atuam como público beneficiário destas áreas protegidas.

129
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

Segundo o Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, o qual institui a Política


Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais,
povos e comunidades tradicionais são grupos culturalmente diferenciados e que se
reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que
ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução
cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inova-
ções e práticas gerados e transmitidos pela tradição (BRASIL, 2007).

Nos últimos anos cresceu significativamente a demanda dos


povos e comunidades residentes no interior ou entorno das
UCs federais por desenvolver atividades de turismo, ou inserir-
-se efetivamente nas ações de visitação realizadas ou previstas
para essas áreas protegidas. Paralelamente, muitos gestores
do ICMBio passaram a visualizar o envolvimento desses ato-
res como um importante caminho para fortalecer os programas
de visitação, diversificar as atividades desenvolvidas e agregar
valor à experiência dos visitantes, bem como incrementar a
renda desses moradores e aproximá-los positivamente da ges-
tão das UC, aumentando, assim, o apoio local a estas áreas
protegidas (ICMBIO, 2019, p. 8).

Foi durante o Seminário de Ecoturismo de Base Comunitária, que aconteceu


em dezembro de 2011, que os participantes refletiram que o termo “ecoturismo”
está associado a um dos diferentes segmentos da atividade turística. Já a expres-
são “de base comunitária” está mais associada à forma de organização e ao mo-
delo de gestão do turismo. Dessa forma, os participantes sugeriram que o ICMBio
adotasse a expressão “Turismo de Base Comunitária (TBC)”, ampliando assim as
possibilidades de arranjos institucionais e segmentos do turismo, desde que o mo-
delo de gestão tenha como base a efetiva participação comunitária (ICMBIO, 2019).

Para o ICMBio, Turismo de Base Comunitária é um modelo de


gestão da visitação protagonizado pela comunidade, gerando bene-
fícios coletivos, promovendo a vivência intercultural, a qualidade de
vida, a valorização da história e da cultura dessas populações, bem
como a utilização sustentável para fins recreativos e educativos, dos
recursos da Unidade de Conservação.

O TBC possui 11 principais princípios, os quais norteiam a atividade, sendo


eles: conservação da sociobiodiversidade; valorização da história e da cultura;
protagonismo comunitário; equidade social; bem comum; transparência; partilha
cultural; atividade complementar; educação; dinamismo cultural; e continuidade.
130
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

Com relação à gestão que é realizada nestas unidades de conservação, a


publicação do ICMBio denominada “Turismo de Base Comunitária em Unidades
de Conservação Federais - Princípios e Diretrizes 2018” reúne 7 passos que de-
vem ser seguidos para atingir um nível satisfatório de gestão nessas áreas. São
eles (ICMBIO, 2019):

1) Planejar e gerir o TBC em acordo com os objetivos de criação e os ins-


trumentos de gestão previstos para cada categoria de UC, bem como
com as demais normatizações vigentes e programas de manejo.
2) Respeitar o zoneamento da UC e considerar os diagnósticos, as pesqui-
sas científicas e os saberes locais para a identificação das potencialida-
des do TBC e para a definição de normas para a visitação.
3) Adotar mecanismos para o monitoramento de impactos da visitação,
incluindo ferramentas que permitam avaliar a gestão socioambiental, a
satisfação do visitante e das comunidades receptoras, buscando o com-
partilhamento dos resultados aos atores envolvidos.
4) Buscar metodologias que tenham por objetivo a diversificação de espa-
ços, paisagens e propostas interpretativas, no intuito de enriquecer a ex-
periência do visitante e das comunidades locais.
5) Os projetos de TBC nas áreas em sobreposição com territórios indíge-
nas, quilombolas e de outros povos e comunidades tradicionais deverão
reconhecer e considerar os instrumentos de gestão territorial próprios
dessas áreas protegidas, garantindo a consulta prévia, livre e informada
a esses povos.
6) Deve haver um compromisso com a conservação e proteção da Unidade
de Conservação como um todo e não apenas das áreas diretamente visi-
tadas.
7) Comunidades envolvidas com TBC devem, sempre que possível, colabo-
rar com a gestão da UC. Esse apoio pode ser feito diretamente, com mé-
todos de intervenção, recursos financeiros ou humanos e indiretamente
por meio da educação ambiental de visitantes e comunidades.

Acadêmico, vamos conhecer algumas UCs que são passíveis


de desenvolver o TBC?

A primeira delas é a Floresta Nacional de Carajás, a qual pos-


sui uma área total de aproximadamente 400 mil hectares abrangen-
do os municípios de Parauapebas, Canaã dos Carajás, Água Azul
do Norte, no Estado do Pará. Os principais atrativos para visitar a
FLONA de Carajás são: cachoeira de águas claras; cavernas ferrí-

131
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

feras; complexo industrial de mineração; observação de aves; trilhas


na floresta; canoagem nos rios do interior da FLONA; vegetação de
canga, única no planeta; parque zoobotânico; serra sul; lagoas plu-
viais; e camping. Todas as visitações são feitas a partir de programa-
ção junto à Cooperativa de Ecoturismo de Carajás - COOPERTURE,
entidade autorizada pelo ICMBio a conduzir visitantes no interior da
Floresta Nacional de Carajás.

FIGURA 10 – FLORESTA NACIONAL DE CARAJÁS

FONTE: ICMBio (2021)

Também podemos exemplificar com a Reserva Extrativista Lago do


Cedro, a qual foi criada em 11 de setembro de 2006 a partir da de-
manda dos pescadores tradicionais e vazanteiros de Aruanã-GO.
Possui uma área de 17.337,616 hectares ao longo de 30 km da mar-
gem direita do rio Araguaia, na divisa entre os Estados de Goiás e
Mato Grosso. É composta principalmente por uma porção do rio Ara-
guaia, lagos marginais, áreas de várzea, matas ripárias, cerrado e
campos. Seus principais recursos são o pescado, as frutas nativas
silvestres e o ecoturismo.

FIGURA 11 – RESEX LAGO DO CEDRO

FONTE: ICMBio (2021)

132
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

Outra UC é a Floresta Nacional (Flona) do Amapá, que está lo-


calizada na Amazônia oriental, em uma das regiões mais conserva-
das de floresta tropical do mundo. Ela protege seus rios e floresta
junto com a população ribeirinha local, que está interessada em rece-
ber visitantes para conhecerem suas belas paisagens e cultura. Todo
visitante deve informar à equipe de gestão da Flona do Amapá sua
visita e deve receber uma autorização escrita de entrada. Além da
conservação da floresta, dos animais, rios e igarapés, possui como
objetivo promover benefícios às pessoas que moram nela e no seu
entorno pelo uso sustentável dos recursos naturais. Assim, entre as
atividades possíveis, estão o manejo florestal sustentável, a pesca
e o turismo, além da pesquisa e educação ambiental. Na Flona do
Amapá existe uma população tradicional ribeirinha que vive principal-
mente da agricultura, do extrativismo e da pesca.

FIGURA 12 – FLONA DO AMAPÁ

FONTE: ICMBio (2021)

4 O Turismo de Base Comunitária é uma área nova, em desenvol-


vimento no país, que atua implementado a missão institucional
do ICMBio em unidades de conservação federais (UCs) de uso
sustentável com populações tradicionais. Com base nisso, quais
são os benefícios para a comunidade que está inserida no TBC?

133
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

5 CASES E MODELOS DE TURISMO


SUSTENTÁVEL
Diversas são as atividades que podemos desenvolver ao praticar o ecotu-
rismo, podemos citar: caminhadas, trilhas, observação da fauna e da flora, espe-
leoturismo (visitar cavernas), mergulho, escalada, dentro muitos outros, porém,
sempre aliando a conservação do meio ambiente e a sustentabilidade.

Para o ICMBio (2020b) o ecoturismo é um segmento expressivo e crescente


do turismo mundial. No Brasil, a categoria “natureza, ecoturismo ou aventura” é
a segunda com maior demanda turística internacional (16,3%), atrás somente da
categoria “sol e praia” (71,7%) que também acontece em muitos destinos que são
unidades de conservação (UC). Nesse sentido, as UC brasileiras são áreas estra-
tégicas ao abrigar inestimável patrimônio natural e alguns dos principais cartões
postais brasileiros como o Cristo Redentor e as Cataratas do Iguaçu.

A visitação em unidades de conservação federais superou o patamar de 15


milhões de visitas em 2019 (15.335.272), um recorde histórico. Houve um aumen-
to de 20,4% no número de visitas (2.945.879) em relação à 2018 (12.389.393),
sendo 6,4% (922.794) devido ao aumento real da visitação, tanto pela maior
quantidade de visitantes quanto por maior estadia nas UC, e 14% (2.023.085)
devido à melhora no esforço de monitoramento.

No ponto de vista do ICMBio, o aumento da visitação sinaliza que a socie-


dade valoriza o patrimônio natural e cultural brasileiro contemplado nas unidades
conservação. A expectativa é que a visitação cresça de forma ordenada e susten-
tável, melhorando a qualidade da experiência, a conservação da biodiversidade
e o bem-estar das comunidades que vivem dentro ou no entorno das UC. “Assim
estaremos contribuindo para a missão do ICMBio de proteger o patrimônio natural
e promover o desenvolvimento socioambiental” (ICMBIO, 2020a, p. 29).

A Figura 13 ilustra as 10 unidades de conservação e os 10 parques nacio-


nais mais visitados no ano de 2019. Cabe ressaltar que o PARNA mais visitado
é o Parque Nacional da Tijuca (PNT), localizado no Rio de Janeiro - RJ, o qual
protege a primeira floresta replantada do Mundo, uma infinidade de trilhas e ca-
choeiras, além de ruínas históricas do tempo das fazendas de café. Dentre os
atrativos que o local oferece, pode-se citar: corcovado e Cristo redentor; circuito
do vale histórico; circuito dos picos; estrada das paineiras; mirante dona Marta;
vista chinesa; mesa do imperador; cascatinha; lago das fadas; mirante do Excel-
sior; grutas; açude da solidão; bico do papagaio; pico da tijuca; pedra da gávea;
pedra bonita e agulhinha da gávea.

134
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

FIGURA 13 – DEZ UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E DEZ


PARQUE NACIONAIS MAIS VISITADOS EM 2019

FONTE: ICMBio (2020a)

FIGURA 14 – PARQUE NACIONAL DA TIJUCA

FONTE: ICMBio (2021)


135
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

O PNT possui inúmeras atrações de lazer, contemplação da natureza e práti-


ca de esportes para os mais variados gostos e faixas etárias. Como exemplo das
atrações, pode-se citar:

• Caminhada em trilhas: são cerca de 200 quilômetros de trilhas nos mais


diversos graus de dificuldade.
• Corrida e Caminhada: o Parque possui diversas vias adequadas para
corrida e caminhada em asfalto, com destaque para a área de lazer das
paineiras (fechada para carros nos finais de semana) e as vias internas
do Setor Floresta.
• Ciclismo: o ciclismo pode ser praticado em todas as estradas do PNT,
com destaque para a Vista Chinesa, que recebeu sinalização de compar-
tilhamento da via, proporcionando maior segurança aos ciclistas.
• Escalada: São mais de 300 vias de escalada nas montanhas do Parque.
Iniciantes podem praticar no Campo Escola das Paineiras ou no Cam-
po Escola 2000, próximo à gruta Paulo e Virgínia, no Setor Floresta. Os
mais experientes podem aproveitar vias na Pedra da Gávea, Pico da Ti-
juca ou mesmo um bigwall no Corcovado.
• Banho de cachoeiras: o banho nas cachoeiras do Parque é um tradicio-
nal programa pós-praia dos cariocas. As cachoeiras do Horto (Primatas,
Quebra, Chuveiro, entre outras), a Cachoeira das Almas e as duchas das
paineiras são as mais famosas.
• Contemplação: desfrutar das belas vistas do Parque sem grande esforço
é um dos programas preferidos no PNT. São inúmeros mirantes ao longo
das estradas e trilhas, que oferecem vistas do Parque e da belíssima
cidade do Rio de Janeiro. Começando pelo mais famoso de todos: o Cor-
covado. Para quem tem um pouco mais de disposição, o Mirante da Cas-
catinha, localizado no Setor Floresta, proporciona bela vista dos morros
do Conde, Andaraí Maior e Tijuca com todo conforto do deck de madeira,
recém-instalado no local.
• Voo Livre: a rampa de Voo livre da Pedra Bonita é uma das mais famo-
sas e movimentadas do mundo.

A revista Viagem da Editora Abril, em 2017, separou os 50 me-


lhores destinos de ecoturismo do Brasil. Dentre eles podemos citar:
Jalapão (TO), Alter do Chão (PA), Alto Caparaó (MG), Bonito (MS),
Brotas (SP), Cambará do Sul e Canela (RS), Caravelas (BA), Chapa-
da dos Veadeiros (GO), Fernando de Noronha (PE), Foz do Iguaçu
(PR), Gruta da Lagoa Azul, Nobres (MT), Itatiaia (RJ), Itaúnas (ES),
Jericoacoara (CE), Lençóis Maranhenses (MA), Manaus (AM), Par-

136
Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

que Nacional do Monte Roraima - Boa Vista (RR), Urubici (SC), den-
tro muitos outros.

A relação completa você pode acessar em: https://viagemetu-


rismo.abril.com.br/materias/os-50-melhores-destinos-de-ecoturismo-
-do-brasil/.

Quando tratamos de beleza natural, o Brasil está cheio de locais, em todos


os seus cantos, onde é possível contemplar a natureza e desfrutar de atividades.
Pode-se citar diversos locais com paisagens diversas e que são ótimos para pra-
ticar o ecoturismo, a conservação e a sustentabilidade. Alguns destes locais são:

• Aparados da Serra e Serra Geral – RS

Ao norte do Rio Grande do Sul, fronteira com Santa Catarina, os parques


de Aparados da Serra e Serra Geral hospedam os mais belos cânions do Brasil.
São cadeias montanhosas de 250 km, com fendas e despenhadeiros abissais que
chegam a 1.200 metros de altura. É o maior conjunto de formações do gênero
em toda América do Sul. Destaque para os cânions do Itaimbezinho (com boa
infraestrutura de apoio e fácil acesso), o Cânion Fortaleza (o maior, acessível por
uma pequena trilha) e o Cânion Malacara (que exige uma caminhada mais longa)
(SKYSCANNER BRASIL, 2018).

• Bom Jardim da Serra e Urubici – SC

Outros locais onde é possível conhecer e desfrutar de belíssimos Cânions


são em Bom Jardim da Serra e Urubici, Santa Catarina. Um dos principais é o
Cânion da Laranjeiras, acessado através da Fazenda Santa Cândida, chega-se
ao local através de trilhas, percorridas a pé ou a cavalo. Outro local é o Cânion da
Ronda, com acesso próximo ao mirante da Serra do Rio do Rastro, com altitude
de 1.485 metros o acesso se dá de carro até uma fazenda próxima e o trecho res-
tante somente a pé ou a cavalo. E, por fim, o Cânion do Funil situado à esquerda
da Serra do Rio do Rastro e altitude de 1.590 metros, não possui acesso de carro,
somente a pé ou a cavalo pelas trilhas das fazendas onde faz parte o referido câ-
nion (SERRACATARINENSE.COM, 2021).

137
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

FIGURA 15 – CÂNION DO FUNIL

FONTE: <https://uniasselvi.me/3yKTSA0>. Acesso em: 13 mar. 2021.

• Chapada Diamantina - BA

Administrado pelo ICMBio, o Parque Nacional da Chapada Diamantina, fun-


dado em 1985, abriga as nascentes do Rio Bacias Paraguaçu e do Rio de Contas
que, em meio a uma topografia singular, deram origem a cachoeiras, cânions, va-
les e grutas fantásticas, de formas e cores que você só encontra por lá. São inú-
meros os atrativos para quem procura aventuras enquadradas por belos visuais,
especialmente as do Vale do Pati (SKYSCANNER BRASIL, 2018).

• Chapada dos Guimarães – MT

Um dos Parques Nacionais do Brasil que comtempla 46 sítios arqueológicos,


2 sítios paleontológicos, 2 reservas estaduais e 2 parques municipais, recortados
por 157 km de paredões rochosos, 487 cachoeiras, 59 nascentes, sem mencionar
as cavernas de arenito e as misteriosas pinturas rupestres. O acesso à Chapa-
da dos Guimarães é fácil, a apenas 70 km da capital mato-grossense, Cuiabá.
Reaberto em 2010, após um tempo fechado devido a um acidente, restrições de
acesso foram implementadas e, desde então todas as atrações passaram a exigir
acompanhamento de guia (SKYSCANNER BRASIL, 2018).

• Chapada dos Veadeiros – GO

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Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

Trata-se de um local determinado como Patrimônio Mundial da UNESCO,


com paisagens selvagem, a Chapada dos Veadeiros une: cachoeiras escondidas,
trilhas entre a mata, rios cristalinos e cânions que foram paisagens arrebatadoras.
O Parque Nacional de 65 mil hectares de área preservada fica em Goiás, e a
cidade mais próxima é Alto do Paraíso. Partindo de lá você conhece a cachoeira
de Santa Bárbara, com queda tranquila e águas cristalinas, os cânions, que tem
acesso por trilhas de 3 horas de duração, e o Jardim Maytrea, cenário clássico do
cerrado brasileiro (SKYSCANNER BRASIL, 2018).

FIGURA 16 – CHAPADA DOS VEADEIROS

FONTE: <https://www.socicam.com.br/2019/06/04/visitante-pode-percorrer-quatro-tri-
lhas-no-parque-nacional-da-chapada-dos-veadeiros/>. Acesso em: 13 mar. 2021.

• Pantanal – MT/MS

O Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense foi criado em 1981 e aco-


lhe uma vegetação de transição entre a Amazônica, a do Cerrado e a do Charco,
no sudoeste do Mato Grosso. Com uma área total de 135 mil hectares, tem seu
portão de entrada a 102 km de Cuiabá, no município de Poconé. Dentre seus
principais atrativos está o turismo ecológico: trilhas e travessias em regiões ala-
gadas para observação de animais silvestres: jacarés, capivaras, cervos, tuiuiús
e onças pintadas, dentre muitas outras espécies. As travessias embarcadas são
realizadas, em geral, por meio de lanchas, em passeios de um dia, ou nos cha-
mados barcos-hotéis, que saem principalmente da cidade de Corumbá, uma das
três cidades imperdíveis no Pantanal do Mato Grosso do Sul. A época ideal para
a observação vai de abril a setembro, estação da seca, quando as planícies es-
tão pouco alagadas e os animais vão para as margens dos rios (SKYSCANNER
BRASIL, 2018).

• Amazônia – Região Norte

139
Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

A Floresta Amazônica, considerada uma 7 Maravilhas da Natureza, tem um


dos mais ricos ecossistemas do planeta e abriga, cerca de 50% de toda a biodi-
versidade mundial. É formada pela bacia do Rio Amazonas que, com mais de mil
afluentes, responde por 20% de todos os recursos hídricos disponíveis no Planeta
Terra. Campos rupestres, campinas, matas secas, igarapés, manguezais, ilhas,
cachoeiras e praias fluviais de areia branca também fazem parte deste ecossis-
tema que contempla ainda 30 mil espécies de plantas e 30 milhões de espécies
animais. É possível encontrar hospedagens em Manaus, além da região também
pode ser explorada (SKYSCANNER BRASIL, 2018). Ainda, na região Amazônica
é possível desfrutar do Turismo de Base Comunitária, como é o caso da Reser-
va de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uatumã, localizada nos municípios de
São Sebastião Uatumã e Itapiranga, a 330 quilômetros de Manaus, em plena flo-
resta amazônica.

• Bonito – MS

Bonito é um paraíso natural em Mato Grosso do Sul que ganhou fama pelas
atividades ligadas ao ecoturismo e também pela rigidez das regras de preserva-
ção da região. As atrações de Bonito em si não ficam na cidade, mas a referên-
cia vem da proximidade e também da estrutura turística bem desenvolvida. De lá
parte-se para lugares como o Abismo Anhumas, com 72 metros de profundidade,
para as belas piscinas naturais e rios perfeitos para flutuação, como o Rio da Pra-
ta e o Rio Sucuri, e para a Gruta Azul, com um lago escondido e tons vibrantes de
azul (SKYSCANNER BRASIL, 2018).

• Delta do Parnaíba – MA/PI

A formação geográfica do Delta do Parnaíba está localizada entre os Estados


do Maranhão e Piauí e tem como base a cidade de Parnaíba. Entre as ramificações
do rio estão mais de 70 ilhas, rodeadas de manguezal, espelhos d’água, lagoas e
pequenas praias isoladas. O arquipélago tem no total 2.700 km e as atividades vão
de passeio de barco pelos rios, o mais famoso é até a Ilha das Canárias, ida das
dunas até o mar e visitação de comunidades ribeirinhas. O porto das Barcas em
Parnaíba é a opção para aqueles que gostam de história, com armazéns antigos
que hoje abrigam lojas e restaurantes. (SKYSCANNER BRASIL, 2018).

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Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

FIGURA 17 – DELTA DO PARNAÍBA

FONTE: <https://jujunatrip.com/delta-do-parnaiba/>. Acesso em: 13 mar. 2021.

• Fernando de Noronha – PE

Fernando de Noronha está no topo da lista quando se trata de preservação


ambiental e destinos de ecoturismo no Brasil. A ilha tem regras rígidas de acesso
as áreas preservadas e só recebe um número limitado de turistas por temporada.
Além disso, os moradores incentivam o cuidado com a natureza e com os animais
que vivem nela. Algumas das atividades na ilha envolvem caminhadas em trilhas
de diferentes níveis, mergulho nas águas cristalinas das praias, observação de
animais marinho livres e imersão no projeto Tamar, que preserva as tartarugas e,
oferece palestras gratuitas diariamente sobre o meio ambiente (SKYSCANNER
BRASIL, 2018).

• Jalapão – TO

Entre chapadas intocadas e estradas de terra vermelha ficam as piscinas


naturais de águas cristalinas e cachoeiras do Jalapão, destino que vem ganhando
espaço como destino natural. O Parque Nacional ainda é pouco visitado devido à
dificuldade de acesso. As paisagens por lá variam de matas densas a áreas com
dunas douradas e vegetação árida. Dos pontos mais famosos e bonitos se desta-
cam a Pedra Furada, formação rochosa esculpida pelo vento que tem um dos po-
res do sol mais lindos da região, a Serra do Espírito Santo, com visual panorâmico
deslumbrante do parque, e o fervedouro Bela Vista, fenômeno único que forma
piscinas nas nascentes dos lençóis freáticos. Para chegar até o Parque Nacional
do Jalapão, é preciso comprar passagens aéreas para Palmas e de lá pegar a
estrada até Ponte Alta do Tocantins (SKYSCANNER BRASIL, 2018).

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Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

FIGURA 18 – JALAPÃO

FONTE: <https://casaldemochilao.com.br/12-atracoes-imper-
diveis-no-jalapao/>. Acesso em: 13 mar. 2021.

5 No Brasil, a categoria “natureza, ecoturismo ou aventura” é a se-


gunda com maior demanda turística internacional (16,3%), atrás
somente da categoria “sol e praia” (71,7%) que também acontece
em muitos destinos que são unidades de conservação (UC). Com
base nos seus estudos, cite por qual motivo o ICMBio afirma que
o ecoturismo é um segmento expressivo e crescente do turismo
mundial.

6 No decorrer dos estudos, pudemos conhecer diversos locais


brasileiros onde é possível desenvolver o ecoturismo, aliando a
conservação e a sustentabilidade. Sendo assim, pesquise quais
locais em seu Estado seriam interessantes para desenvolver esta
prática.

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Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Pudemos estudar no decorrer deste capítulo que existem várias formas de
realizar a gestão das áreas que podem ser aproveitadas para o ecoturismo, sem
deixar de lado a conservação e a sustentabilidade. Observamos também que mui-
tos povos tradicionais estão utilizando deste recurso para conseguir se desenvol-
ver mantendo sua originalidade e suas tradições.

Aplicar práticas e métodos de gestão e planejamento ajudam para que os im-


pactos ambientais, decorrentes de atividades turísticas, possam ser minimizados
ou mitigados, tornando assim as atividades mais atrativas e sustentáveis.

O Brasil é um país com uma enorme biodiversidade a qual pode ser aprovei-
tada, o tornando um dos destinos turísticos mais procurados no mundo, levando
em conta a nossa natureza exuberante e possibilidade de contato com a natureza.

Aliando a conservação, a sustentabilidade e o ecoturismo, podemos desen-


volver um ramo importante para o país, sem gerar impactos ambientais, além de
auxiliar, por meio da educação ambiental, na consolidação da consciência ecoló-
gica que existe dentro dos cidadãos.

REFERÊNCIAS
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sim como uma opção inteligente de turismo no meio rural. In: Portuguez, A. P. et
al. (org.). Turismo no Espaço Rural - Enfoques e Perspectivas. São Paulo:
Roca, 2005.

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Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.
2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/
decreto/d6040.htm. Acesso em: 1 jun. 2021.

BRASIL. Lei Federal Nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Sistema Nacional


Unidades de Conservação da Natureza. 2000. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm. Acesso em: 1 abr. 2021.

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Ecoturismo, Conservação e Sustentabilidade

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conservação municipais [recurso eletrônico] / Ministério do Meio Ambiente,
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qualificacao. Acesso em: 29 mai. 2021.

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demanda por qualificação profissional para o desenvolvimento do ecoturismo no
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futuros [Recurso eletrônico]. São Paulo: IEE-USP: Reconectta: Editora Na Raiz,
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nos parques. 2021d. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/portal/visitacao1/
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unidades de conservação. 2021b. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/
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Resultados de 2019 e Breve Panorama Histórico. Brasília-DF [S.l.], 2020a.

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Capítulo 3 Planejamento e Gestão do Ecoturismo

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de aplicação do sistema de análise e monitoramento de gestão SAMGe
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criacao-de-unidades-de-conservacao/efetividade-da-gestao-de-ucs/relatorio_
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