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Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Fundação Centro de Ciências e Educação Superior à Distância do RJ


Centro de Educação Superior à Distância do Estado do RJ
Curso de Graduação em Licenciatura em TURISMO EaD
AD1 - 2023-2º
Disciplina: Fundamentos do Turismo – EAD 10001
Coordenadora: Teresa Cristina De Miranda Mendonça

Aluno: Jean Jackson Oliveira Cabral Matrícula: 23215100022

Tema: O fenômeno da “turismofobia”

A aversão ao turismo de massa é um sentimento bastante conhecido na história


recente da humanidade. De modo determinante, após a culminância de fatos que
aconteceram na Espanha, em 17 de agosto de 2017, o tema ganhou grande visibilidade
inicialmente através dos meios midiáticos e, consequentemente, tornou-se um debate
público que levanta sérias questões sociais com desdobramentos políticos.

No dia acima mencionado, na La Rambla, uma famosa via turística na região da


Catalunha, onde o tráfego é exclusivo para pedestres, uma pessoa dirigindo uma van
atropelou dezenas de pessoas, o que resultou em pelo menos uma centena de feridos e
mais de dez mortos. Este ato terrorista deu origem ao termo “turismofobia”, que menos de
um mês depois torna-se reconhecido pela Fundación del Español Urgente como um
neologismo válido (DOMÍNGUEZ, 2018).
Sentimentos como revolta, incômodo e descontentamento já haviam sido
evidenciados por meio de manifestações de moradores meses antes da oficialização do
termo “turismofobia”. Os questionamentos trazidos se destacam como sendo os
causadores de tais sentimentos por parte das populações residentes. Estes, por sua vez,
são oriundos da massificação da atividade turística, tais como a superlotação de
determinadas áreas, a alteração severa na vida cotidiana, o aumento dos preços dos
bens de consumo, a gentrificação, ou, em resumo, impactos majoritariamente negativos
do turismo em excesso.

É evidente que o problema em questão toma proporções que se conectam


diretamente aos debates social, econômico e político. Em relação ao aspecto social, é
interessante lembrar que, desde que se estabelece, a atividade turística é historicamente
associada ao direito ao lazer, ao descanso, ao aproveitamento de períodos de férias, de
trabalho ou de estudos. Associa-se ainda ao direito básico de ir e vir de cada indivíduo.
Existe um prazer genuíno em poder viajar, conhecer novos lugares, de ser e estar livre
para vivenciar, experimentar e aproveitar os bens culturais e naturais da humanidade.
Esse usufruto é, certamente, um sonho para a maioria das pessoas no mundo todo.

É incontestável que localidades com forte potencial turístico tendem a obter


impactos econômicos positivos se tiver uma boa gestão das políticas públicas para o
setor, que é extremamente estratégico para a preservação ambiental, geração de
emprego e renda, melhoria das infraestruturas locais.

Usar o fenômeno turístico como uma plataforma para conhecimento e conservação


de patrimônios naturais pode ser uma combinação conveniente que pode beneficiar
ambos os lados. Para citar um bom exemplo, existe a ideia divulgada por ambientalistas e
pesquisadores no campo da educação patrimonial, que consideram o ato de conhecer
determinado bem cultural como um fator importante para sua preservação. Através da
possibilidade de contato com o lugar/coisa, a experiência e a vivência é que resultarão na
criação de vínculos (RODRIGUES, 2019).

Tomando como referência Vicente Ferreyra Acosta (2017), em um artigo em seu


blog Sustentur, onde propõe a substituição do termo “culpados” pelo termo “responsáveis”
para defender o turismo como uma atividade com potencial de causar bons impactos
sociais, econômicos e ecológicos. Traz assim, para o indivíduo “comum”, o cidadão, a
responsabilidade de agir para a mudança. O que de fato faz muito sentido quando se
entende que o mundo só deverá mudar se cada um mudar a si próprio de forma individual
para, por conseguinte, ser possível uma mudança coletiva.

De fato, essa linha de pensamento é confirmada quando se percebe que a


manifestação dos incômodos por parte dos moradores de cidades turísticas precisam ser
ouvidas e entendidas para se estabelecer um balanceamento com objetivo de evitar a
insatisfação e revolta para com seus visitantes. Por outro lado, é necessário a imposição
de regras de convivência, respeito ao local visitado, seu meio ambiente e seus residentes.

Neste sentido, instituições dos setores público e privado anunciam possíveis


soluções para diminuir impactos, como desincentivo à visitação em destinos já
sobrecarregados e passar a incentivo às visitas fora da alta temporada, sugerir destinos
alternativos (MAIA, 2023), comunicação e engajamento com os visitantes para
conscientização das questões locais, extensão os horários de funcionamento dos locais
de atração turística, desenvolvimento de aplicativos de realidade virtual para locais e
atrações famosas para complementar as visitas aos locais, oferta descontos para novos
itinerários e atrações, estímulo ao desenvolvimento de passeios guiados por lugares
menos visitados outras localidades, produção de eventos fora dos meses de alta
temporada, realização de mais eventos em áreas menos visitadas das cidades e nos
arredores (UNWTO, 2018). Além disso, se faz necessária uma gestão turística orientada
por valores éticos que objetive a educação para a preservação.

Em conclusão, visando a inibição do avanço do turismo excessivo, e não ao


fenômeno do turismo propriamente dito, é necessário buscar equilíbrio através da
confluência de diálogos na busca de reunir reflexões para um entendimento macro das
micro-questões. Atentando-se simultaneamente, tanto aos pontos de vista dos moradores
dos destinos turísticos em questão, quanto aos visitantes que realizam suas viagens à
esses destinos.

REFERÊNCIAS:

DOMÍNGUEZ, Alan Quaglieri. Turismofobia, ou o turismo como fetiche. In: VARGAS,


Fernanda Alves, ANDRADE, Carolina Paes de e HIRAO, Silvia Eri (Orgs.). Revista do
Centro de Pesquisa e Formação: Edição Especial - Ética No Turismo, São Paulo: SESC,
maio 2018. p. 22-30.

SOARES OLIVEIRA, J. L.; DA SILVA NEVES, C. C.; PANOSSO NETTO, A. ; FERRAZ


SEVERINI, V. Turismofobia em Barcelona: um tema (que era?) emergente: Tourismphobia
in Barcelona: a theme (that was?) emerging . Revista de Turismo Contemporâneo, [S. l.],
v. 9, n. 3, p. 325–342, 2021.

Rodrigues, A. R. (2019). As Antichità Romane de Piranesi: um projeto para catalogação e


conservação das ruínas da Antiguidade no século XVIII. Revista CPC, 14(27), 8-33.
Acesso em: 24 ago. 2023. https://doi.org/10.11606/issn.1980-4466.v14i27p8-33

World Tourism Organization (UNWTO); Centre of Expertise Leisure, Tourism & Hospitality;
NHTV Breda University of Applied Sciences; and NHL Stenden University of Applied
Sciences (2018), ‘Overtourism’? – Understanding and Managing Urban Tourism Growth
beyond Perceptions, Executive Summary, UNWTO, Madrid, DOI:
https://doi.org/10.18111/9789284420070.

“Turismofobia” virou questão ainda mais urgente após a pandemia. (2020, julho 26).
NOSSA UOL. Acesso em: 21 ago. 2023
<https://www.uol.com.br/nossa/noticias/rfi/2020/07/26/covid-19-aumenta-questionamentos
-que-o-setor-do-turismo-ja-conhecia.htm>

ACOSTA, V. F. ¿Odio hacia el turismo? SUSTENTUR. Disponível em:


<https://sustentur.com.mx/odio-hacia-el-turismo>. Acesso em: 21 ago. 2023.

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