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Município de Itaipulândia

Secretaria de Educação


ANO ENSINO FUNDAMENTAL

HISTÓRIA
EDUCAR E SABER
Município de Itaipulândia
Secretaria de Educação

5°ANO ENSINO FUNDAMENTAL

HISTÓRIA
EDUCAR E SABER

É PERMITIDA A REPRODUÇÃO TOTAL


OU PARCIAL DESTA OBRA,
DESDE QUE CITADA A FONTE.

IMPRESSO NO BRASIL
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Material produzido em 1ª versão, Material reorganizado em 2020, para
digitalizado e repassado aos professores distribuição em 2021, por Eliane Viana,
para trabalho com alunos, em 2011, pela com participação dos professores:
Equipe Pedagógica: Adriana Centenaro
Anderson Sautier Adriane Trentin da Costa
Celso Sidinei Balzan Anderson Rodrigo Da Silva Sauthier
Eunice Maria Boneuer Celso Klehm
Fabiane Moser Janete Soares Gomes Wolmuth
Iria Bohm Bruch Lisete Finken Zacomelli
Juliana Molgaro Marli Esser
Lisete Zacomelli Michele de Jesus Passing
Marli Esser Rosimeri Olekssin Scherback
Marineide Inês Mielke Lunkes Trojack 6

Marlise Marlene Andrieghetti Bialeski


Sandra Bombardelli Marcon
6

Material reorganizado em 2019, para Material reorganizado em 2021, para


distribuição em 2020, por Eliane Viana, distribuição em 2022, por Eliane Viana,
com participação dos professores: com participação dos professores:
Adriana Centenaro Ângela Maria Andreski
Cíntia Inácio Dulce Fátima Nascimento
Diefferson Rafaello João Meyer Eunice Maria Boueuer
Janete Soares Gomes Wolmuth Janete Soares Gomes Wolmuth
Jaqueline Eduarda Tozo Royer Lisete Finken Zacomelli
Lisete Finken Zacomelli Marli Esser
Rosimeri Olekssin Scherback Marlise Marlene Andrighetti Bialeski
Silvia Claudete Valk Soares Odete Marisa Kluge
Rosimeri Olekssin Scherbak

Prefeita
Cleide Inês Griebeler Prates
6
6

Secretária de Educação
Veronica Szerwiski Rui
6
66

Revisão Ortográca
Maria Lourdes Hilgert Kräulich
6
6

Professor Orientador
Amilton Benedito Peletti
6
6

Capa, Diagramação e Sumarização


Aline Wendling

SGRAFICA LTDA| Itaipulândia 2022


SUMÁRIO
UNIDADE 1 A HISTÓRIA COMO CONHECIMENTO 5

UNIDADE 2 A FORMAÇÃO DOS PRIMEIROS POVOADOS 31

UNIDADE 3 OS POVOS ORIGINÁRIOS DA AMÉRICA

CAPÍTULO 1 67

CAPÍTULO 2 - A ORGANIZAÇÃO SOCIAL DOS POVOS 87


INDÍGENAS DO BRASIL E DO PARANÁ

UNIDADE 4 O MERCANTILISMO E A EXPANSÃO MARÍTIMA 103

UNIDADE 5 OCUPAÇÃO PORTUGUESA 121

UNIDADE 6 OCUPAÇÃO ESPANHOLA 145

UNIDADE 7 A ESCRAVIDÃO DO AFRICANO NO BRASIL E NO 165


PARANÁ

UNIDADE 8 BRASIL: DO IMPÉRIO À REPÚBLICA

CAPÍTULO 1 183

CAPÍTULO 2 199

UNIDADE 9 A IMIGRAÇÃO EUROPEIA E AS MIGRAÇÕES INTERNAS 221

UNIDADE 10 CONFLITOS INTERNOS NO PARANÁ 255


UNIDADE 1
A HISTÓRIA COMO CONHECIMENTO

Epígrafe
"A História procura especificamente ver as transformações pelas quais
passaram as sociedades humanas. As transformações são a essência da
História; quem olhar para trás, na história de sua própria vida,
compreenderá isso facilmente. Nós mudamos constantemente; isso é
válido para o indivíduo e também é válido para a sociedade. Nada
permanece igual e é através do tempo que se percebem as mudanças".
BORGES, Vavy Pacheco Broges. O que é história. 14ª ed. São Paulo: editora Brasiliense, 1989. p.47.

Ao longo do tempo, muitas civilizações surgiram e outras


desapareceram. Isso ocorreu também com grupos humanos, costumes,
tradições, com a forma de trabalhar e produzir. Muitas transformações
ocorreram na forma de pensar e agir dos seres humanos ao longo do
tempo. Por que as sociedades mudam? O que faz as sociedades se
transformarem? O que permite aos seres humanos evoluir e se
desenvolver? Como a História é feita? Como os seres humanos
participam das mudanças e transformações sociais?

O que é História?
Os conhecimentos que temos sobre nossos antepassados, sobre as
comunidades e sociedades, sobre coisas que já aconteceram ao longo do
tempo, são transmitidos e ensinados no percurso histórico e no estudo da
História. Há muitos fatos que são transmitidos através de histórias
contadas pelas pessoas mais velhas e outros aprendemos lendo e
estudando na escola, em livros ou revistas, em bibliotecas, na internet.

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História é, portanto, o resultado da relação dos seres humanos entre
si e destes com a natureza, em determinada época, em determinadas
condições, em determinada sociedade. Isto significa que as pessoas
fazem história ao buscar a sobrevivência. Nesse processo, transformam a
natureza e a si mesmos.
O objetivo do historiador é registar, descrever e revelar a vida da
sociedade humana, as mudanças que ocorreram no modo de viver,
produzir, as diferentes atividades e ocupações humanas, para que, por
meio do estudo da história, possamos compreender as transformações,
permanências, rupturas que ocorreram ao longo do tempo, ou seja,
entendermos como o mundo passou a ser como é atualmente e por que a
sociedade está organizada dessa forma e não de outra.
O mais importante sobre o passado é aprender e descobrir o que
aconteceu realmente. No entanto, existem algumas dificuldades para
conhecermos as sociedades antigas, por vários motivos, pois, não há
registros e nem fontes suficientes para pesquisar sobre muitas coisas que
aconteceram nessas sociedades, seus costumes, o modo como se
organizavam para trabalhar e viver.
No decorrer do ano, na disciplina de História, estudaremos aspectos
da sociedade humana presentes nos diferentes povos e grupos sociais,
compreender o processo histórico que culminou em fatos/acontecimentos
que marcaram a história do nosso País e do nosso Estado, assim como as
consequências desses fatos/acontecimentos e representações simbólicas
(festividades, ideias, valores, folclore, conhecimentos, monumentos, ...) de
diferentes povos e grupos sociais.
A disciplina de História tem como finalidade explicar por que e como
as sociedades mudam e se transformam, a partir da organização do
trabalho e da produção, além de possibilitar a reflexão sobre as coisas que
precisam mudar na sociedade para que todas as pessoas tenham acesso

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àquilo que de melhor se conseguiu produzir até o momento, em todas as
áreas e dimensões que compõem a vida. Também contribui para a
compreensão dos processos de mudanças e resistência, explicando os
fatos e acontecimentos como resultados da luta pela sobrevivência, seja
para atender e satisfazer às necessidades vitais ou a outras
necessidades, criadas ao longo do tempo.

Caderno de atividades – Unidade 1: História como conhecimento

Transformações sociais
Cada geração reproduz e “copia” de suas antecessoras os costumes,
tradições, valores, no trabalho e nas relações sociais. Mas, às vezes, o
modo como os antepassados viviam não corresponde mais às
necessidades do momento presente. Por isso, os seres humanos
produzem mudanças, transformações, inovações, novidades,
desenvolvimento, progresso, evolução, modernização, avanços, com o
objetivo de aperfeiçoar e melhorar a vida em sociedade.
O exemplo a seguir ilustra as transformações que ocorreram nos
instrumentos de comunicação:

https://medium.com/@gustavosales086/evolu%C3%A7%C3%A3o-dos-meios-de-
comunica%C3%A7%C3%A3o-79564a2d3f52. Acesso dia 26/03/2020.

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Através dos novos instrumentos, tecnologias, máquinas e atividades
que são desenvolvidas, os seres humanos procuram organizar o trabalho
e a sociedade de forma que consigam melhor satisfazer suas
necessidades. Assim, o progresso depende do acesso a esses materiais,
conhecimentos, ciência e tecnologias.
No entanto, nem sempre a modernização traz avanços e melhora a
vida de todos. Por isso, muitas inovações e mudanças não são aceitas e
ocorrem movimentos de resistência, conflitos, lutas, rebeliões,
principalmente, quando há mudanças políticas e sociais, porque os grupos
privilegiados perdem espaço e poder e não aceitam derrotas. Às vezes,
ocorrem também conflitos para exigir direitos que alguns grupos sociais
(mulheres, negros, agricultores, etc.) julgam que estão lhes sendo
negados. Isso pode ocasionar transformações sociais.
A organização social atual é resultado de um processo intenso de
transformações e mudanças que aconteceram ao longo da História. Em
muitos aspectos, a sociedade se transforma, e, em outros, permanece
igual por um longo período.
Veja algumas imagens de acontecimentos que fazem parte da
História do nosso município.

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Fonte: Casa da Memória –Itaipulandia – PR

Água do reservatório de
Itaipu encobrindo uma
estrada e a vegetação.

Pedro Carvalho com sua família. Uma das


primeiras famílias a fixar residência em
Aparecidinha do Oeste, atual Itaipulândia.

Fonte: Casa da Memória –Itaipulandia – PR

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Lembre-se: Transformação é uma alteração/mudança do estado ou da
forma de algo. Tudo que existe está em constante movimento, ou seja,
em constante mudança/transformação. Há transformações geradas pela
natureza e outras produzidas pelos seres humanos. Umas são mais
perceptíveis, instantâneas, visíveis, e outras dependem de uma análise
mais detalhada. Outras, ainda, serão perceptíveis, visíveis, observáveis
somente com o passar do tempo.

Caderno de atividades – Unidade 1: História como conhecimento.

O perigo da naturalização daquilo que é histórico

Muitas vezes, a História é apresentada somente como uma sucessão


de fatos e acontecimentos, dando uma ideia de que tudo que aconteceu,
ao longo do tempo, é natural. Que as guerras, a fome, a miséria, a
exploração são também naturais. O objetivo é fazer com que as pessoas
se acostumem com tudo o que acontece, com as condições desumanas
em que muita gente vive. Acostumamo-nos e não nos chocamos mais.
A naturalização daquilo que é histórico é um recurso utilizado para
evitar a ideia de transformação, legitimando a atual organização da
sociedade e justificando as desigualdades sociais. Assim, o pensamento
humano é formado por esse tipo de história para não agir e participar da
luta por uma vida melhor, mais digna e uma sociedade mais justa e menos
desigual.
A sociedade e tudo o que nela existe são resultado de um processo
histórico, produzido pelos próprios seres humanos na sua luta diária pela
sobrevivência. Por isso, quem promove as mudanças e transformações

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sociais ou impede que isso aconteça são os próprios seres humanos. Se
na sociedade existem riquezas, desenvolvimento, progresso, tecnologias,
conhecimentos, foi porque os seres humanos atingiram esse patamar,
influenciados por diversos fatores (econômicos, ideológicos, sociais,
ambientais, políticos...). Do mesmo modo, se há pobreza, miséria, fome,
violência, isso não é natural, foram os seres humanos que criaram uma
organização social que exclui a maioria da população daquilo que de
melhor foi produzido até o momento atual.
Por isso, é perigoso entender e achar que tudo é natural. Que a
sociedade foi e é produzida naturalmente. Que não pode ser diferente.
Que sempre foi assim. Que não é possível mudar. Porque essa visão da
História gera comodismo, aceitação, passividade e não apresenta
possibilidades de transformações.

Caderno de atividades – Unidade 1: História como conhecimento.

O sentido do passado
O estudo do passado é importante porque o conhecimento das
realizações de nossos antepassados, suas conquistas, avanços,
retrocessos ou problemas podem ajudar a entender melhor nossa
existência e a atual organização social. Esses conhecimentos podem
contribuir também para evitar os erros do passado e lutar por mudanças
nos costumes, na organização do trabalho e na política.
Para entender a sucessão de processos históricos, os historiadores
usam várias fontes de informação como: documentos escritos, gravações,
entrevistas, pesquisas e descobertas arqueológicas. Portanto, é
necessário muito estudo para conhecer a verdade dos acontecimentos,
suas causas e consequências.

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Fontes históricas é tudo aquilo que, produzido pelo ser humano
ou trazendo vestígios de sua interferência, pode nos proporcionar
acesso à compreensão dos acontecimentos históricos. São, portanto,
instrumentos que possibilitam investigar, comprovar e compreender o
passado.

As fontes são classificadas em:

Fontes materiais (utensílios, mobiliários, roupas, ornamentos (pessoais


e coletivos), armas, símbolos, instrumentos de trabalho, construções
(templos, casas, sepulturas), esculturas, moedas, restos (de pessoas ou
animais mortos), ruínas e nomes de lugares, entre outros.

Fontes escritas: Documentos jurídicos (constituições, códigos de leis,


decretos), sentenças, testamentos, inventários, discursos escritos,
cartas, livros de contabilidade, livros de história, autobiografias, diários,
biografias, crônicas, poemas, novelas, romances, lendas, mitos, textos
de imprensa, censos, estatísticas, mapas, gráficos e registros
paroquiais, por exemplo.

Fontes visuais: Pinturas, caricaturas, fotografias, gravuras, filmes,


vídeos e programas de televisão, entre outros.

Fontes orais: Entrevistas, gravações (de entrevistas, por exemplo),


lendas contadas ou registradas de relato de viva-voz, programas de
rádio, por exemplo”.
(SCHMIDT; CAINELLI, 2004, p. 96, 97)

A vida em sociedade é muito complexa. Por isso, entender a


organização social é uma tarefa que exige muito empenho, dedicação,
estudos, pesquisas e análises criteriosas de fontes históricas. A história,
como realmente ocorreu, é marcada por processos de conquistas,
ocupações, lutas e resistência entre os povos. Progresso e
desenvolvimento contrastam com pobreza, opressão, miséria, alienação,
fome, injustiças e morte. Esse é o cenário no qual a vida humana é
construída e as sociedades são formadas. Desvendar as relações que

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ocorreram entre as várias dimensões da vida em sociedade é a função do
estudo do passado.
O estudo do passado adquire um sentido importante para nós
quando possibilita entender a vida das sociedades que nos precederam,
ajudando a explicar a atual organização social como resultado de um
longo processo de mudanças, avanços, conflitos, desenvolvimento,
acertos, erros e retrocessos.

Caderno de atividades – Unidade 1: História como conhecimento.

Preservação de fontes históricas


Preservar fontes históricas é um dos grandes desafios que a
humanidade tem atualmente. Elas são as referências principais para
estudos e pesquisas de História. Por isso, a importância da construção e
manutenção de museus e arquivos.
Os arquivos públicos e os museus históricos são espaços públicos
destinados à preservação da memória dos nossos antepassados. Nesses
locais, se restauram e se conservam fontes históricas de diferentes tipos
para que as pessoas possam visitar e pesquisar, e assim, conhecer o
passado de uma determinada cidade, grupo social ou de uma pessoa.
As fontes materiais e imagéticas são preservadas em museus,
ficando expostas para a visitação. Já nos arquivos, são preservadas,
principalmente, fontes escritas, imagéticas e orais que ficam guardadas em
estantes para a consulta de pesquisadores.
Muitas coisas que poderiam ser fontes de pesquisa se perdem por
descuido ou são destruídas porque algumas pessoas não percebem seu
valor e sua importância.

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Então, esses espaços públicos são construídos para preservar a
memória do povo e servir como fonte de estudos e pesquisas.
Ainda há muito que resgatar e preservar sobre a História. A visitação
a um museu, por exemplo, pode sugerir ideias sobre algumas coisas que
podem não ter valor para as famílias ou que não estão bem cuidadas e
que poderiam ser doadas para serem preservadas em museus ou arquivos
públicos.
Muitos livros, documentos, instrumentos de trabalho e outras fontes
históricas importantes já se perderam ou foram destruídos por catástrofes
naturais, guerras, conflitos ou simplesmente falta de cuidados. Que tal
visitar o museu do município e fazer uma campanha para identificar
objetos que poderiam ser conservados neste local para preservar nossa
História? PROJETO MEMÓRIA

O livro, “Itaipulândia: Seu Povo, Sua Origem,


Sua História”, escrito por Iria Bruch Böhm e
Rodison Scarpato, busca resgatar a História do
nosso município, retratando fatos e
acontecimentos que antecederam a formação
do Lago de Itaipu e a emancipação.

O Projeto Memória nasceu da necessidade de registrar, divulgar e


socializar a História do município, desde a época anterior à colonização do
Brasil, a ocupação do espaço pelos colonizadores, a desapropriação das
terras para a construção da hidrelétrica de Itaipu, a formação do lago, a
luta pela emancipação e o desmembramento de São Miguel do Iguaçu.
Para chegar ao produto final: “O Livro”, foram feitas muitas pesquisas
bibliográficas, análises de documentos e mapas de diferentes épocas;
mas, principalmente, foram ouvidas pessoas envolvidas na construção
dessa História.

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Quando pensamos em História do município, geralmente
imaginamos que ela acontece a partir da emancipação política, mas a
História escrita no livro começa muito tempo antes disso. Estabelece-se
como marco temporal o Tratado de Tordesilhas, assinado no ano de 1494;
conta-se sobre a movimentação indígena no oeste do Paraná, a
exploração estrangeira e o sistema de obrages, a colonização com o
povoamento do território, a partir da metade do século XX, a formação dos
núcleos urbanos e a emancipação do município de Itaipulândia, conteúdos
que estudamos nos anos anteriores.
“O livro é, acima de tudo, uma homenagem a todos os homens,
mulheres e crianças que viveram e ainda vivem em nosso município; que,
com suas trajetórias, ajudaram a escrever a História de Itaipulândia, esta
terra jovem, que ainda escreve sua História, e que, lentamente, cumpre
seu papel na construção de um país feito de gente que acredita num futuro
melhor por vir.”
(Itaipulândia: seu povo, sua origem, sua história, de Rodison Scarpato e Iria Bruch Böhm)

A atividade humana e o Patrimônio Cultural

Estudamos, em anos anteriores, que trabalho é uma atividade


desenvolvida somente pelos seres humanos (por isso somente o ser
humano faz história), pois, diferente dos outros animais, ele realiza uma
atividade criativa/transformadora, intencional, planejada, consciente e
mediada (realizada com uso de meios de produção — instrumentos,
máquinas, ...). Assim, transforma a sua própria vida e a natureza.
Ao longo da história, tivemos várias formas de trabalho, dentre elas a
escravidão (trabalho escravo), a servidão (trabalho servil), trabalho
assalariado, trabalho voluntário, trabalho cooperativo, entre outras formas.

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Isso ocorre porque a vida humana resulta e depende também da
relação com outros seres humanos e apresenta características próprias
em cada momento da história. Por isso, as pessoas são caracterizadas
como seres sociais e históricos, pois, em cada época e espaço, supriram
suas necessidades e se relacionavam de forma diferente, conforme os
recursos, os interesses e o nível de conhecimento que possuíam. Ao
trabalhar, as pessoas não produzem apenas bens materiais, garantindo a
existência, mas também desenvolvem a si mesmas, produzem
representações, ideias e conhecimentos e, assim, fazem história.
O conjunto de todas as criações humanas, sejam elas materiais ou
imateriais, fazem parte da cultura. Alguns produtos da cultura, pelo seu
valor histórico e social, são caracterizados como um Patrimônio
Cultural.

Veja alguns exemplos de Patrimônios Culturais do Paraná:


ANTIGO PAÇO MUNICIPAL DE CURITIBA

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pa%C3%A7o_da_Liber
dade. Acesso 27/03/2020.

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ANTIGO COLÉGIO DOS JESUÍTAS – PARANAGUÁ

http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=35&evento
=2. Acesso 27/03/2020.

CASA DO BARÃO DE SERRO AZUL – CURITIBA

http://www.ipatrimonio.org/cu
ritiba-casa-barao-do-serro-
azul/. Acesso em 27/03/2020.

ESTAÇÃO UNIÃO – UNIÃO DA VITÓRIA

http://wikimapia.org/8082053/pt
/Esta%C3%A7%C3%A3o-Porto-
Uni%C3%A3o-da-Vit%C3%B3ria.
Acesso 27/03/2020.

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Além dos patrimônios históricos, temos...

Patrimônio Natural

O patrimônio natural compreende áreas de importância


preservacionista e histórica, beleza cênica, enfim, áreas que transmitem à
população a importância do ambiente natural para que nos lembremos
quem somos, o que fazemos, de onde viemos e, por consequência, como
seremos.
Veja algumas referências no Estado do Paraná:
♦ Sete Quedas — patrimônio submerso pela represa de Itaipu

http://www.cafeterrara.com.br/noticias/ver/?n=200. Acesso 27/03/2020.

♦ Cataratas do Iguaçu — Patrimônio Mundial

https://www.comboiguassu.com.br/passeios-em-foz-do-
iguacu/cataratas-do-iguacu-brasil. Acesso 27/03/2020.

18
♦ Vila Velha — Parque estadual em Ponta Grossa (tombado)

https://www.tribunapr.com.br/dicas-de-turismo/parque-vila-velha-
parana-voo-balao/. Acesso dia 27/03/2020.

♦ Baía de Paranaguá — a segunda maior baía do Brasil

https://www.gestour.com.br/paranagua/atrativos/detalhes/4
975. Acesso dia 26/03/2020.

♦ Parque Estadual do Guartelá – Tibagi (o terceiro maior cânion do Brasil)

https://clube.gazetadopovo.com.br/noticias/passeios/parque-estadual-
guartela-como-visitar. Acesso dia 27/03/2020.

19
♦ Mata de Araucárias, árvore símbolo do Paraná, e Parque Nacional

http://www.justicaeco.com.br/o-que-sao-a-floresta-com-araucaria-e-os-campos-
de-altitude/. Acesso dia 27/03/2020.

♦ Mata Atlântica, Patrimônio Mundial com grande área preservada, no


Paraná.

http://www.dioceseprocopense.org.br/posts/detalhe/306. Acesso 27/03/2020.

Texto disponível em:


http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=21. Acesso dia
24/03/2020.

Patrimônios Arqueológicos
Em 1961, todos os sítios arqueológicos foram transformados, por lei,
em patrimônio da União, a fim de evitar sua destruição pela exploração
econômica. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN) tem registrado aproximadamente 8.562 sítios arqueológicos. Os
sítios arqueológicos incluem:

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♦ Sambaquis: palavra de origem indígena que deriva de tambá (concha) e
ki (depósito). Possuem formações de pequena elevação, formadas por
restos de alimentos de origem animal, esqueletos humanos, artefatos de
pedra, conchas e cerâmica, vestígios de fogueira e outras evidências
primitivas.
♦ Estearias: jazidas de qualquer natureza que representam testemunhos
da cultura dos povos primitivos brasileiros.
♦ Mounds: monumentos em forma de colinas, que serviam de túmulos,
templos e locais para moradia.
♦ Hipogeus: ambientes subterrâneos, às vezes com pequenas galerias,
nas quais eram sepultados os mortos.
Um dos Centros Arqueológicos do Brasil está na Zona Costeira do
Sul que parte de Santos e São Vicente e chega aos Sambaquis nas
proximidades de Torres, passando por Guaraqueçaba e Paranaguá, no
Paraná. Nos sambaquis do Paraná, Santa Catarina e litoral de São Paulo
são encontrados machados polidos, mãos de pilão, poucos utilitários de
cerâmicas, morteiros zoomorfos etc.
Algumas referências no Paraná:
Pinturas rupestres
- Sítio Arqueológico Morro das Tocas em União da Vitória
- Gravuras pré-históricas em São Mateus do Sul.

Sambaquis
- Ilha do Mel
- Ilha do Superagui
- Rio Guaraguaçu (tombado pelo Estado do Paraná)
- Ruínas de reduções Jesuíticas
- Ciudad del Guairá
- Santo Ignácio

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SAMBAQUIS

http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?con
teudo=58. Acesso 27/03/2020.

Disponível em:
http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=26. Acesso dia
27/03/2020.

Patrimônio Documental
Para quem trabalha com história (patrimônio histórico, cultural), o
conceito de documento/fonte é mais abrangente que os populares
documentos pessoais. Para profissionais de outras áreas que trabalham
com patrimônio histórico/cultural, tudo o que uma população humana
registra e testemunha é fonte para a história desta população.
Para os historiadores existe a exigência de que um documento, uma
fonte de pesquisa, seja comparada e confrontada com outras fontes
documentais para que o historiador entenda a verdade dos fatos que os
documentos afirmam como algo acontecido.

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Quanto mais documentos, indícios, testemunhos e registros
afirmarem que o fato ocorreu, maior a certeza científica da verdade dos
fatos que eles revelam.
Isto significa que, na preservação do patrimônio, é necessário
conservar vários registros da vida de uma população para entender seu
modo de viver, pensar, crer e produzir numa determinada época e lugar.
A vida em sociedade deixa marcas, registros, documentos, fontes de
pesquisa que compõem um leque imenso que vai de desde os hábitos de
consumo à forma de se organizar no trabalho e na política.
Na listagem de fontes e registros realiza-se o trabalho de
conservação e divulgação do patrimônio histórico, cultural, arquitetônico,
religioso.
Algumas referências no Paraná: Museu Paranaense, Museu do
Expedicionário, Museu da Imagem e do Som, Biblioteca Pública do
Paraná, Arquivo Público do Paraná, Casa da Memória, Arquivos de
Instituições Públicas, Arquivo de, Antonina (tombado pelo Estado),
Arquivos de Igrejas, Acervos Fotográficos.

Tombamento histórico

O tombamento é o ato de reconhecimento do valor histórico, artístico


ou cultural de um bem, transformando-o em patrimônio oficial público e
instituindo um regime jurídico especial de propriedade, levando em conta
sua função social e preservando a cédula de identidade de uma
comunidade, e assim, garantir o respeito à memória do local e a
manutenção da qualidade de vida.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tombamento. Acesso 23/03/2020.

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Os primeiros bens tombados a partir da vigência da lei estadual
N.º1.211 de 16 de setembro de 1953, basicamente acolheram os
tombamentos já realizados pelo Governo Federal através do Instituto
Histórico e Artístico Nacional — IPHAN. A partir de meados dos anos
1960, houve o desenvolvimento de um reconhecimento próprio sobre a
importância do patrimônio cultural existente no Paraná.
Para um primeiro reconhecimento dos bens tombados, está
organizada uma tabela, reunindo-os em grupos assemelhados de usos ou
características. Dentre os tipos de bens tombados estão: Centro histórico,
residências, edificações religiosas, palácios e palacetes, estações de
passageiros, monumentos, edifícios públicos de uso coletivo, paisagens
urbanas, edifícios escolares, árvores urbanas, parques, pontes, fazendas,
esculturas, pinturas, documentos e objetos, dentre outros.
Disponível em:http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=249. Acesso
23/03/2020.

Veja alguns exemplos de bens tombados no Paraná:


OBRA DE POTY LAZAROTTO –PAINÉIS EM ITAIPU, FOZ DO IGUAÇU,
PARANÁ, BRASIL

Dimensões desta antevisão: 800 ×


533 píxeis. Outras
resoluções: 320 × 213 píxeis | 640
× 427 píxeis | 1 024 × 683
píxeis | 1 280 × 853 píxeis | 5 184
× 3 456 píxeis.
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Obra_
de_Poty_Lazarotto_-
_Pain%C3%A9is_em_ITAIPU,_Foz_do_Ig
ua%C3%A7u,_Paran%C3%A1,_Brasil.jpg.

Acesso 24/03/2020

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Inscrição Tombo 11-III
Processo Número 04/2011
Data da Inscrição: 25 de março 2015
Localização: Municípios: Curitiba, Foz do Iguaçu, Maringá, Palmas, Paranaguá e Tibagi
Localização: Foz do Iguaçu
Proprietários: Governo Federal, Estado do Paraná, Município de Curitiba e
Município de Maringá

TOLEDO – ANTIGO FÓRUM WILSON BALÃO


O Fórum Wilson Balão, de
Toledo – PR foi instalado
em 1954, em terreno
cedido pela Industrial
Madeireira Colonizadora
Rio Paraná – MARIPÁ, de
Willy Barth.

http://www.ipatrimonio.org/toledo-forum-wilsonbalao/#!/map=38329&loc=-24.732877999999996,-
53.74057499999999,17. Acesso 27/03/2020.

ÁRVORE CEBOLEIRA

CPC – Coordenação do Patrimônio Cultural


Nome Atribuído: Árvore Ceboleira
Localização: R. Professor Assis Gonçalves, nº 644 –
Água Verde – Curitiba –PR
Número do Processo: 002/88
Inscrição Tombo 20-I
Processo Número 002/88
Data da Inscrição: 24 de janeiro de 1990
Descrição: A Phytolacca dioica é representante da
família Phylolaccaceae, árvore alta, de madeira mole,
carnosa e encharcada. Possui um crescimento particular
em espessura, por renovação anual do cilindro cambial.
Com raízes tuberosas, folhas simples, de disposição
alternada. Há representantes das Phytolacca em quase
toda a zona tórrida e subtórrida, especialmente nas
Américas.
Fonte: CPC

http://www.ipatrimonio.org/curitiba-arvore-
ceboleira/.Acesso 27/03/20202

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EDIFÍCIO DO HOTEL BANDEIRANTES – MARINGÁ

Inscrição
Tombo 156 II
Processo
Número 02/2004
Data da
Inscrição: 30 de
maio de 2005
Localização:Município: MARINGÁ
Proprietário: Renato Zwecker

http://www.jornal.uem.br/2011/index.php/edicoes-2006/36-
jornal-32-maio-de-2006/192-maringob-o-prisma-da-arquitetura.
Acesso dia 27/03/2020.

Patrimônio Imaterial
Os aspectos imateriais da cultura são decisivos para a manutenção
da identidade dos povos frente às rápidas mudanças impostas pelo
mundo.
As manifestações que possuem relevância para a memória,
a identidade e a formação da sociedade podem ser registradas como
Patrimônio Cultural Imaterial.
São quatro grandes áreas de registro: em Saberes, os
conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das
comunidades. As Celebrações, que trazem os rituais e festas que marcam
a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de
outras práticas da vida social. Em Formas de Expressão, estão inclusas
as manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas. E por
fim, Lugares, que contemplam mercados, feiras, santuários, praças e
demais espaços onde se concentram e reproduzem práticas culturais
coletivas.

26
Veja alguns exemplos do Paraná:
CONGADA DA LAPA, DE ORIGEM AFRICANA
(EM HOMENAGEM A SÃO BENEDITO)

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZoV2Hod9LU0. Acesso


27/03/2020.

FESTA DE NOSSA SENHORA DO ROCIO EM PARANAGUÁ

https://www.gazetadopovo.com.br/curitiba/festividades-de-nossa-senhora-do-
rocio-ocorrem-ate-19-de-novembro-no-litoral-7bo5cr042bngzc4a7x4jqdh2g/.
Acesso em 27/03/2020.

FANDANGO PARANAENSE

http://cenanasencruzilhadas.blogspot.com/2014/08/fandango.html. Acesso 27/03/2020.

Texto disponível em: http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=259.


Acesso em 27/03/2020 (Com adaptações).

27
Caderno de atividades – Unidade 1: História como conhecimento.

Você sabia?
Que a Casa da Memória, localizada à Rua Sete de Setembro, 2059,
Centro, Itaipulândia, é o Museu do município, que tem como função
resgatar, preservar e valorizar a História do povo e do município de
Itaipulândia (sua origem e memória) e destina-se à população local,
regional, estudiosos, pesquisadores e turistas, através do acervo em
exposição?
Que o acervo foi formado somente por doações dos primeiros
colonizadores do município, composto por 100 peças restauradas, prontas
para exposição?
Que o museu tem como meta ser referência cultural para a
população local, recebendo visitas de todo o Estado do Paraná, outros
estados da federação e países vizinhos, principalmente do MERCOSUL?
Que o museu foi criado com o objetivo de formar um banco de dados
históricos do município de Itaipulândia?
Que este projeto é de grande valia para todos aqueles que
necessitam de informações históricas, como: estudiosos, pesquisadores e
turistas, como também estudantes de escolas do município e da região?
Que a Casa da Memória pretende enriquecer o conhecimento sobre
a História regional no extremo oeste do Paraná?
Que a Casa da Memória é aberta para visitação pública todos os
dias da semana, com exceção aos sábados e domingos, em horário
comercial?
Informações disponíveis no site:
http://www.museus.gov.br/SBM/cnm_conhecaosmuseus.htm. Acesso em 15/02/2010.

28
Caderno de atividades – Unidade 1: História como conhecimento.

ANEXO 1

O papel dos indivíduos na História

Estudamos que a história é o resultado das relações dos seres


humanos entre si e destes com a natureza, a partir do modo como
trabalham e produzem o que necessitam para viver. Por isso, são os seres
humanos que fazem sua própria história e, por consequência, a das
comunidades e das sociedades.
No entanto, a história nem sempre é feita conforme as escolhas e
interesses dos indivíduos ou grupos sociais. As condições nas quais as
pessoas vivem interferem na ação e possibilidades de mudança e
transformação social.
Existem também outros fatores que determinam a organização da
sociedade. O modo como o trabalho e a produção são organizados
interfere na vida social. Por isso, a economia e a política influenciam em
tudo o que acontece. Os grupos sociais que possuem o poder econômico
e político e são donos dos principais meios de comunicação, geralmente,
“dirigem” a história a seu favor, para atender a seus interesses e manter
seus privilégios.
A sociedade muda a partir das condições de produção, que é o
estágio de desenvolvimento a que nossos antepassados chegaram, e a
partir disso podemos criar um mundo diferente. Dar um sentido e uma
direção nova para a vida, à sociedade e à história. Podemos transformar

29
aquilo que impede ou dificulta o desenvolvimento do ser humano e a
satisfação de suas necessidades básicas.
Uma das possibilidades concretas que temos para interferirmos mais
na história são as organizações sociais que visam a transformar a
sociedade e melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Por isso, é importante, desde criança, entender a necessidade de
participar dos movimentos sociais que existem na comunidade em que
vivemos, porque, para fazer a história, temos que lutar para que as
grandes necessidades sociais da época em que vivemos estejam no
centro dos debates, discussões, leis e políticas públicas.
O papel dos indivíduos na história consiste em saber se organizar
para defender e conquistar os direitos fundamentais que atendam às
necessidades básicas humanas e socias. Isso faz de nós grandes homens
e grandes mulheres, não porque temos capacidades extraordinárias, mas
porque entendemos a importância e o sentido de servir às grandes
necessidades sociais de nossa época.

30
UNIDADE 2
A FORMAÇÃO DOS PRIMEIROS POVOADOS

Observe as imagens e discuta sobre as questões a seguir:


O que elas representam?
Quais atividades os seres humanos estão realizando?
Qual período da história está sendo representado nessas imagens. Todas se referem
ao mesmo período?

https://sites.google.com/site/lehist09/home/pre-
historia/paleolitico/diferencassociais-paleolitico

https://brainly.com.br/tarefa/21151216 https://pt.thpanorama.com/blog/historia/5-inventos-
de-los-hombres-en-la-edad-de-los-metales.html

 Você sabe o que significam os termos: nomadismo e sedentarismo?


 Em que momento os seres humanos fixaram moradia, tornando-se
sedentários?

31
 O que possibilitou a fixação dos grupos humanos em um determinado
local?
 Como eram os locais onde os primeiros grupos humanos se fixaram?
 Como ocorreu o processo de desenvolvimento da sociedade humana?
 O que você sabe sobre os períodos conhecidos como: Paleolítico ou
idade da Pedra Lascada; Neolítico ou idade da Pedra Polida e Idade
dos Metais?

Origem da humanidade
Com base nos estudos e análise de vários vestígios da atividade
humana (fósseis, fragmentos de armas, utensílios, pinturas rupestres, etc.,
encontrados em cavernas ou soterrados), os historiadores concluíram que
os primeiros grupos humanos viveram na África, e que passaram por um
longo processo de transformação.
O fóssil mais “famoso” é conhecido como Lucy, descoberto em Afar,
na Etiópia, nordeste da África, em 1974, com mais de 3 milhões de anos,
pertencente ao grupo dos Australopithecus afarensis.

Disponível em:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-
saude/2016/08/30/interna_ciencia_saude,546494/famosa-
australopiteco-lucy-morreu-apos-cair-de-uma-altura-de-
12m.shtml. Acesso em 16/03/2020.

32
https://escola.britannica.com.br/artigo/Eti%C3%B3pia/481246

O primeiro hominídeo de que se tem conhecimento é o homo Habilis


(aproximadamente 3 milhões de anos). Outra espécie do gênero homo
que se desenvolveu foi o Homo Erectus (aproximadamente 2 milhões de
anos). Essa espécie tinha o cérebro maior do que a do Homo Habilis.
Esse hominídeo aprendeu a dominar o fogo, atingiu a posição ereta
perfeita, desenvolveu uma linguagem rudimentar e migrou para fora da
África, habitando a Europa e a Ásia. A partir dele, há cerca de 200 mil
anos, surgiu o Homo Sapiens, o qual deu origem ao homo de Neandertal
(Neanderthalensis) e ao Homo Sapiens Sapiens (espécie da qual fizemos
parte). O Homo Sapiens Sapiens aperfeiçoou as tecnologias utilizadas por
seus ancestrais e criou outras, expandindo-se para todas as partes do
Planeta.

33
Os primeiros grupos humanos

Disponível em:
http://profrodrigomateus.blogspot.com/2011/07/pre-historia-os-
primeiros-trabalhos.html. Acesso em 10/03/2020

Após um longo processo de transformação da espécie humana, foram


se formando as primeiras aldeias. Anterior a isso, nossos ancestrais eram
nômades e dependiam da caça, da pesca, da coleta de frutos, folhas e
raízes.
Nomadismo foi um modo de vida no qual um grupo de pessoas se
deslocava de um lugar para o outro, sem ter uma moradia fixa. Quando os
recursos de um lugar se esgotavam, eles se mudavam para outro local em
busca de novas fontes de alimentos.

Isso significa que, na época do homem primitivo, as pessoas viviam


de forma diferente de como vivemos agora. Eram nômades e retiravam da
natureza todo o alimento de que necessitavam para sobreviver. Algumas
dessas atividades eram registradas nas paredes das cavernas. Esses
registros recebem o nome de pinturas rupestres.

34
Pinturas rupestres na caverna da Serra da Capivara (Foto: Pedro
Santiago/G1).
Disponível em: http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2016/06/situacao-do-
parque-serra-da-capivara-e-estavel-diz-coordenadora.html. Acesso dia
04/03/2020.

Os seres humanos perceberam que a vivência em grupos facilitava a


caça, a obtenção dos alimentos e, também, garantia maior proteção contra
os animais ferozes. Também aprenderam a cultivar a terra e domesticar
alguns animais e, assim, produzir seus alimentos, construir suas casas e
utensílios. Com o desenvolvimento da agricultura e da pecuária, passaram
a não depender somente da oferta natural dos recursos para a
sobrevivência. Isso deu início ao processo de sedentarização.

Sedentarização é quando um povo deixa de ser nômade para fixar


moradia.

Com a sedentarização, os seres humanos aprenderam a controlar o


espaço, intervindo e transformando-o. Escolhiam o local, geralmente,
próximo das fontes naturais de água, como rios e lagos. A água era utilizada
na produção de alimentos, na criação de animais, para o consumo próprio
e outras necessidades.

35
Surgiram as primeiras aldeias. Cada povoado desenvolveu seu
próprio modo de vida, criando diferentes formas de cultivo, produção de
seus instrumentos, organização social, língua, comunicação, transporte,
manifestações artísticas, crenças, religiosidade, hábitos e costumes
próprios.
Com o passar do tempo e o desenvolvimento dos instrumentos de
trabalho, a produção foi aumentando, os grupos humanos foram crescendo
e ocupando diferentes lugares do mundo. As aldeias e vilas foram se
transformando em cidades.

Aspecto aproximado da cidade de Ur, na Mesopotâmia, considerada a primeira


urbe da História.
Disponível em> https://www.todamateria.com.br/mesopotamia/.> Acesso em 21/02/2020.
Acesso dia 04/03/2020.

Com o aumento da produção de alimentos, surgiu a necessidade de


realizar trocas e o transporte dos produtos. A cerâmica (barro modelado e
cozido) foi também necessária para armazenagem (vasos, jarros). Com o
aperfeiçoamento dos instrumentos, a divisão do trabalho passou a ser
maior, bem como a diversidade de atividades realizadas. Uns construíam
casas, outros produziam tecidos, cerâmicas, alguns caçavam, outros
comercializavam, transportavam os produtos e/ou administravam a
produção e a cobrança de impostos.
A convivência em grupos também exigiu o estabelecimento de
regras/normas para a organização do grupo e, assim, foram surgindo as
primeiras formas de governo.

36
Com a formação das cidades, antigos líderes tornaram-se reis e, para
garantir o controle da população e organizar a produção, formavam uma
estrutura político-administrativa, dando origem ao Estado. Geralmente, a
forma de governo estava muito relacionada à religiosidade. Cada
governante era responsável por manter a ordem, garantir a segurança de
seu povo e criar regras que pudessem regular a vida em sociedade.
O código de Hamurabi foi um dos primeiros conjuntos de leis da
história. Ele foi organizado por Hamurabi, rei da Babilônia, há cerca de 4
mil anos. Foi escrito em uma estela (coluna ou placa) de rocha, que possui
2,25 metros de altura. Ao todo, são 282 leis.

Representação do rei
Hamurabi recebendo as
leis do deus Shamash, o
deus Sol e o deus da
justiça.

Escultura do código de Hamurabi. (Foto: Wikipédia)

37
Caderno de atividades – Unidade 2: Formação dos primeiros povoados

Marcas dos primeiros povoados

O modo de vida dos primeiros povoados está expresso nas marcas ou


vestígios do passado como construções, manuscritos, objetos,
instrumentos, pinturas e artefatos, entre outros. Uma das mais importantes
marcas é a invenção da escrita, desenvolvida pelas primeiras civilizações,
a exemplo dos sumérios com a escrita cuneiforme.
A escrita foi muito importante para registrar os produtos cultivados na
agricultura, controlar as vendas ou trocas comerciais, escrever e preservar
as leis, dentre outras necessidades cotidianas. Com o passar do tempo,
passou a ser utilizada para registrar ideias, fatos, histórias, textos sagrados,
etc. O comércio, realizado por diversos povos, estimulou e intensificou ainda
mais o uso e o desenvolvimento da escrita.
Elementos fundamentais para o desenvolvimento das primeiras
civilizações foram alguns rios e mares. A maioria dos povos desenvolveu
práticas agrícolas, atividades comerciais, criação de animais, produção de
objetos e construção de importantes templos e monumentos relacionados,
geralmente, às formas de governo e à religiosidade.
As principais formas de religiosidade estão expressas nas pinturas
rupestres, nos vestígios de cultos funerários e sepulturas que indicam o
cuidado com os mortos e o respeito a eles.
Na antiguidade, a produção agrícola dependia unicamente dos
recursos e fenômenos naturais (como a água, a luz do Sol e a fertilidade do

38
solo). Por isso, as pessoas procuravam agradar aos deuses por acreditarem
que eles eram os responsáveis pelas boas colheitas. Cultuar elementos da
natureza e acreditar na força e proteção deles eram e ainda são
características da religiosidade de muitos povos indígenas até hoje.

Caderno de atividades – Unidade 2: Formação dos primeiros povoados

Segundo os registros históricos, qual foi a primeira civilização que se


desenvolveu? Onde isso ocorreu?

As primeiras civilizações
Com o desenvolvimento da agricultura, pecuária e, mais tarde, do
comércio, começaram a se formar sociedades em diversas regiões do
Planeta.
Pesquisadores encontraram vestígios dos primórdios da agricultura no
Oriente Médio e às margens do Mediterrâneo, no chamado “Crescente
Fértil”.
Veja na imagem a seguir:

39
CRESCENTE FÉRTIL

https://www.historiadetudo.com/crescente-fertil

Estudaremos aspectos de alguns desses povos, dentre eles: os


mesopotâmicos, os persas, os hebreus, os cretenses, os fenícios, os
egípcios, os gregos e os romanos. Destacamos que, além dessas
civilizações que estudaremos, outras se desenvolveram no mesmo período
no vale do rio Hindu e às margens do rio Amarelo (atual território da China).

Os mesopotâmicos
Situada entre os rios Tigres e Eufrates, a Mesopotâmia (do grego
meso (entre) e potamus (rios) – “Terra entre rios”) foi uma região muito
disputada por diversos povos, devido à fertilidade do solo. Esse território foi
ocupado pelos grupos humanos conhecidos como sumérios, acádios,
assírios, babilônicos, caldeus, entre outros.
Veja a região ocupada por esses povos.

40
Disponível em: https://www.coladaweb.com/historia/mesopotamia. Com adaptação.

A sociedade mesopotâmica era rigidamente hierarquizada, formada


por diversos povos. Os impérios eram divididos em províncias,
administradas por chefes locais ou por funcionários nomeados pelo
soberano. No topo da hierarquia social estava o rei, considerado
representante dos deuses. Logo abaixo estavam os sacerdotes, nobres e
chefes militares e exerciam grande influência política. Havia uma camada
intermediária formada por fiscais, escribas e comerciantes. A camada social
mais numerosa era composta por trabalhadores livres (camponeses e
artesãos), que viviam em duras condições e tinham que pagar impostos ao
governo. Havia também os escravos, geralmente prisioneiros de guerra ou
pessoas que haviam perdido a liberdade por não conseguirem pagar as
suas dívidas. Realizavam atividades mais pesadas (a exemplo do trabalho
nas minas).
A agricultura e a pecuária eram a base da economia, complementada
pela atividade comercial. O cultivo da terra era comunitário. Uma parte da
colheita era entregue aos chefes ou funcionários, como forma de
pagamento pela exploração das terras. Os mesopotâmicos mantinham

41
relações comerciais com vários povos, pois estavam localizados em uma
região das rotas comerciais entre Oriente e Ocidente. Também exportavam
tecidos e cereais. O Estado controlava o uso das águas do rio, com
construção de diques, canais de irrigação e reservatórios para os períodos
de seca.
Foram os sumérios que criaram a primeira forma de escrita, conhecida
como escrita cuneiforme.

EXEMPLO DE SELO SUMÉRIO COM A ESCRITA


TABULETA DE ARGILA COM CUNEIFORME. Disponível em:
ESCRITA CUNEIFORME https://www.todamateria.com.br/povos-da-
mesopotamia/
A religião dos povos da Mesopotâmia era Politeísta (adoravam vários
deuses). Os elementos da natureza eram considerados divinos (terra, rios,
Sol e a Lua) e temiam forças sobrenaturais (gênios protetores, os heróis e
os demônios). Os mais importantes formavam um quarteto que controlava
os principais elementos da natureza: o céu, o ar, a terra e a água. Os reis e
sacerdotes sempre consultavam os deuses antes de tomar qualquer
decisão.
Construíam grandes templos em homenagem aos deuses, os quais
serviam também de armazém, arquivo, biblioteca, etc. Por isso valorizavam
muito a vida. Os palácios eram grandiosos. A construção mais famosa era
o Zigurati, ilustrada na imagem a seguir:

42
https://www.apaixonadosporhistoria.com.br/artigo/44/con
heca-os-principais-zigurates-da-antiga-mesopotamia

Desenvolveram muitos conhecimentos na área da Astronomia, pois


realizaram estudos sobre as diferenças entre estrelas e planetas,
elaboração das cartas astronômicas, fixação dos doze signos do zodíaco,
organizaram um calendário lunar, dividindo o ano em doze meses, a
semana em sete dias e os dias em doze partes. Ainda desenvolveram
conhecimentos na área da Matemática e na Medicina.

Caderno de atividades – Unidade 2: Formação dos primeiros povoados

Os Persas

Localizada entre o mar Cáspio e o Golfo Pérsico, a região do atual Irã


foi povoada por volta de 2000 a.C. Dentre as tribos que ocuparam o local,
estavam os persas. Os persas eram grandes conquistadores que
dominaram a Babilônia, Palestina, Fenícia e o Egito. Unificaram vários
povos do Crescente Fértil e construíram o maior Império da época — do
Mediterrâneo Oriental à Índia.
Realizaram a construção de longas estradas para dar maior agilidade
às atividades comerciais e facilitar a comunicação. Dedicavam-se também

43
à pecuária. Assimilaram grande parte da escrita, do conhecimento e da arte
dos povos conquistados, principalmente a cultura dos mesopotâmicos e dos
egípcios. Destacaram-se na arquitetura e desenvolveram alguns
conhecimentos nas áreas da Astronomia, Medicina e Matemática.
No princípio, os persas eram politeístas, mas a partir das pregações
de um profeta conhecido como Zoroastro, por volta de 1200 a.C., passaram
a crer na doutrina baseada no bem (Aura-Mazda) e no mal (Ahrimam),
tornando-se monoteístas. Realizavam cultos religiosos sem templos ou
estátuas, somente com altares em lugares elevados. Aura-Mazda era
homenageado com o fogo perpétuo, aceso em torres colocadas no topo de
montes e colinas. O Zoroastrismo influenciou várias religiões.

Relevo persa esculpido em parede. O tamanho das figuras era


proporcional à sua importância social.
Disponível em:
https://ancientamerindia.wordpress.com/category/mesoamerica/page/3/.
Acesso em 10/03/2020.

O domínio persa expandiu-se. Observe o mapa que representa o


território que estava sob domínio dos persas.

44
Essa expansão foi interrompida pelos gregos apenas em 490 a.C.

Os hebreus
Os hebreus (israelitas ou judeus) eram um povo de cultura nômade e
dedicavam-se ao pastoreio. Criavam animais como carneiros e cabritos,
deslocando-se com frequência à procura de pastagens. Com o passar do
tempo, fixaram-se em áreas férteis às margens do rio Jordão, no Crescente
Fértil e passaram a praticar a agricultura. Grande parte da história desse
povo está registrada no antigo Testamento, conjunto de livros que compõem
a Bíblia.
Por volta de 1800 a.C., eles ocupavam a Palestina, vindos da região
da Caldeia, liderados por Abraão. Essa região passou a ser conhecida
desde a antiguidade como “Terra de Canaã”. As terras da Palestina
começaram a sofrer com a seca. Assim, os hebreus, governados por Jacó,

45
foram obrigados a abandoná-las, migrando para o Egito, que estava sob
domínio dos hicsos.
Quando os egípcios conseguiram expulsar os hicsos de suas terras,
passaram a submeter os hebreus a trabalhos forçados (escravidão).
Liderados por Moisés, conseguiram voltar à Terra Prometida. Ali passaram
a criar gado e a desenvolver a agricultura. Nesse período, a terra era
propriedade coletiva. Com essa fixação houve grande desenvolvimento do
comércio devido à localização geográfica da região.
A religião dos hebreus era monoteísta (um só deus: Javé) e ficou
conhecida como Judaísmo. Do Judaísmo originaram-se o Cristianismo e o
Islamismo.

Os cretenses
A sociedade cretense localizava-se na ilha de Creta, situada no
Mediterrâneo Oriental, região da atual Grécia. Essa sociedade influenciou
significativamente a cultura grega posteriormente.
LOCALIZAÇÃO DA ILHA DE CRETA

Disponível em: https://umabrasileiranagrecia.com/2017/04/mar-egeu-na-grecia-o-belo-azul-da-


europa.html. Acesso 10/03/2020. Com adaptação.

46
Essa sociedade começou a se formar por volta de 3000 a 2000 a.C.
Seus habitantes cultivavam cereais, vinhas e oliveiras, fabricavam
embarcações de madeira, desenvolveram habilidades com metais e
cerâmica, e comercializavam com o Egito e outras cidades do Mediterrâneo
Oriental. O comércio era feito à base de troca. Vendiam azeite, vinho e
artigos de bronze e compravam minérios, marfim e perfume.
Em 1400 a.C., a cidade de Cnossos (principal cidade cretense) foi
destruída devido às invasões, causando o declínio dessa civilização.

Sítio arqueológico de Cnossos


https://pt.wikipedia.org/wiki/Creta

Os fenícios
Os fenícios (por volta de 3000 a.C.) habitavam uma área entre o
Mediterrâneo e as montanhas do atual Líbano. Assim como os cretenses,
desenvolveram atividades predominantemente marítimas, devido às
condições do local onde viviam, que dificultava o desenvolvimento da
agricultura e a criação de animais. Entretanto, outras condições naturais
favoreceram o desenvolvimento do comércio (próximo ao mar Mediterrâneo,
retiravam cedro da floresta e construíam suas embarcações). O comércio
possibilitou o contato com várias civilizações e as trocas culturais.
Não havia um governo centralizado, pois várias cidades-Estados
foram se formando no litoral da Fenícia, cada uma com um governo

47
independente, geralmente exercido por um rei, auxiliado por grandes
proprietários de terras e grandes comerciantes. Eram bons comerciantes,
navegadores e artesãos. Produziam armas de ferro e bronze. Superaram os
egípcios na técnica da vidraria. Fabricavam também tecidos de lã, de cor
púrpura.
O grande legado do povo fenício foi a criação de símbolos — o alfabeto
(1500 a.C.) — 22 letras que correspondiam aos sons da voz humana. O
alfabeto foi aperfeiçoado pelos gregos (transformaram em vogais algumas
consoantes fenícias). Mais tarde, foi adotado pelos romanos, passando por
outras transformações até assumir a forma atual.
Assim como os cretenses, os fenícios cultuavam a Grande Mãe, além
de deuses específicos relacionados a elementos da natureza.
A antiga Fenícia foi ocupada sucessivamente por diversos povos. Esse
território tornou-se independente em 1941 e passou a ser conhecido como
Líbano.

ANTIGO TERRITÓRIO DOS FENÍCIOS

https://www.coladaweb.com/historia/fenicios. Com adaptações.

48
Caderno de atividades – Unidade 2: Formação dos primeiros povoados

O antigo Egito

Observe as imagens a seguir:

https://istoe.com.br/123555_PIRAMIDES+DO+EGI https://br.pinterest.com/pin/541417186422
TO+SAO+REABERTAS+PARA+VISITACAO/ 714992/

 O que essas imagens representam?


 Onde estão localizadas?
 Quem as construiu?
 Em que época foram construídas?
 Por que e para quem foram construídas?

O Egito está localizado no continente Africano, em região desértica,


às margens do Rio Nilo. É cortado verticalmente pelo rio Nilo, o qual tem
suma importância para a vida local. É formado, em sua maior parte, pelo
deserto do Saara. Observe os mapas a seguir:

49
LOCALIZAÇÃO DO DESERTO DO SAARA

Disponível em
https://www.guiageo.com/africa.h
tm

IMPÉRIO EGÍPCIO

https://www.coladaweb.com/historia/civilizacao-egipcia

O Egito começou a ser ocupado por volta de 5000 a.C. Com o


desenvolvimento da agricultura, grupos humanos foram formando aldeias.
Por volta de 3200 a.C., essas aldeias foram unificadas dando origem ao
poder centralizado e dirigido por um único governante que comandava toda
a população: o faraó.

50
O faraó era tratado como uma divindade e governava com poder
absoluto. Era considerado o filho de Amon-Rá, o deus Sol e encarnação de
Hórus, o deus Falcão.

Representação de Rá — deus
Sol. Era representado com um
sol na cabeça.

Abaixo do faraó estavam os sacerdotes, os membros da nobreza, os


escribas, os soldados, os camponeses, os artesãos e, por último, os
escravos. A terra pertencia ao Estado e os trabalhadores eram considerados
servos.
Veja a imagem que representa a organização social da sociedade
egípcia.

51
A economia do Antigo Egito girava em torno do Rio Nilo, cujas águas
eram utilizadas para a irrigação. Cultivavam trigo, cevada, legumes, papiro
e uvas. Complementavam a produção com a pesca, a caça e a criação de
animais.

A religiosidade egípcia
Os Egípcios eram politeístas, ou seja, acreditavam na existência de
vários deuses, que apresentavam formas de seres humanos e de animais.
Para homenagear os deuses, os egípcios construíam templos de pedras.
Veja alguns exemplos:

52
https://www.egypttoursportal.com/abu-simbel-sun-festival-
event-october-2020/

Templo localizado no complexo arqueológico de Abu-Simbel, no


Egito, construído em homenagem a Rá, o deus Sol. Começou a ser
construído em 1284 a. C. e foi concluído vinte anos mais tarde.

Templo de Karnac

https://br.memphistours.com/Egito/Guia-de- https://www.infoescola.com/civilizacao-
Viagem/tudo-sobre-luxor/wiki/Templo-de-karnak egipcia/templo-de-karnak/

Figuras do faraó Ramsés II e obelisco na entrada do


Templo de Luxor
https://maironpelomundo.com/2016/11/18/o-templo-de-
luxor-e-o-templo-de-karnak-visitando-a-antiga-cidade-de-
tebas-no-egito/

53
A entrada do Templo de Luxor
https://maironpelomundo.com/2016/11/18/o-
templo-de-luxor-e-o-templo-de-karnak-visitando-a-
antiga-cidade-de-tebas-no-egito/

O rio Nilo também estava relacionado à religiosidade. Os egípcios


acreditavam que o curso das águas do rio, na época das cheias, renovava
tudo, representava a vida. A morte também fazia parte dessa renovação. O
texto a seguir representa a relação do Nilo com a religiosidade.

Os egípcios acreditavam na imortalidade da alma. Por isso,


empenhavam-se na construção de imensos túmulos — as pirâmides, que
representavam a casa da eternidade, lugar onde esperavam continuar
desfrutando dos prazeres terrenos. Desenvolveram as técnicas de

54
mumificação dos mortos. Este rito foi a forma encontrada por eles de garantir
que a alma renascesse em um outro mundo.
Mumificação: é o tratamento por meio do qual se evitava a decomposição
do cadáver transformando-o em múmia.
A pintura foi a expressão artística mais importante no Egito Antigo.
Representavam a vida dos deuses, o cotidiano do faraó e cenas da
agricultura. Essas pinturas estavam muito presentes nos sarcófagos.

SARCÓFAGO EGÍPCIO
https://www.pinterest.it/pin/443956
475752289169/

Obra: O tribunal de Osíris. Museu britânico, Londres.


https://frontispicio.wordpress.com/2016/04/16/o-livro-egipcio-dos-mortos/

55
A múmia era colocada em um sarcófago e conduzida ao túmulo.
Costumavam deixar vários objetos como joias, armas, alimentos, por
acreditarem que o morto faria uso. A quantidade de objetos dependia da
condição social do morto.

Conhecimentos desenvolvidos pelos antigos egípcios


Os egípcios desenvolveram conhecimentos na Medicina (curavam
feridas com ervas e minerais, tratavam infecções nos olhos e dentes, bem
como faziam intervenções cirúrgicas, até mesmo no crânio). Além disso,
através dos procedimentos de mumificação, demonstraram conhecimentos
sobre a anatomia humana.
A observação das cheias do Nilo e a observação dos astros
possibilitaram o desenvolvimento de conhecimentos na área da Astronomia,
dentre eles: identificação de alguns planetas e constelações, uso de relógio
de água para medir a passagem do tempo e calendário solar; divisão do dia
em 24 horas e a hora em minutos, segundos e terços de segundos; divisão
da semana em dez dias e o mês em três semanas; o ano tinha 365 dias e
era dividido em estações: inundação, germinação e ceifa.
Desenvolveram um complexo sistema de escrita, dividida em três
modalidades: a hieroglífica (textos sagrados utilizados pelos sacerdotes,
presente nos túmulos e nos templos); a hierática (uma simplificação da
anterior e utilizada pelos escribas); e a demótica (escrita popular usada nos
contratos redigidos pelos escribas).

56
HIERÓGLIFOS EM PAREDE DE TEMPLO EGÍPCIO.

Foto: Fedor Selivanov / Shutterstock.com

Os egípcios também ficaram conhecidos por desenvolverem


cosméticos, técnicas e práticas de maquiagens.

Caderno de atividades – Unidade 2: Formação dos primeiros povoados

A Grécia antiga
LOCALIZAÇÃO

http://sohumanas.blogspot.com/2011/02/modo-de-producao-escravista-grecia.html

Os historiadores costumam dividir a história da Grécia antiga em


quatro períodos: Pré-homérico: fase de formação do povo grego;

57
Homérico: predomínio da vida rural; Arcaico: consolidação da polis,
cidade-Estado grega; e o período Clássico. Durante o período arcaico, as
cidades-Estados gregas tornaram-se a organização política característica
da Grécia antiga, com destaque para Esparta e Atenas. Cada cidade-Estado
possuía características próprias, leis, seu governo, sua economia.
Esparta foi uma das primeiras a ser fundada. Era governada por dois
reis, o Conselho de Anciãos (formado pelos dois reis e por 28 cidadãos com
mandatos vitalícios) e pela Assembleia (formada por cidadãos).
Em Esparta, a propriedade coletiva, aos poucos, deu lugar à
propriedade estatal. Havia um grande controle sobre as atividades culturais.
Os homens passavam por uma rígida educação militar, que durava dos 12
aos 30 anos. Ao atingir essa idade, o soldado se tornava cidadão, podendo
participar da Assembleia e constituir família.

RUÍNAS DA CIDADE DE ESPARTA

https://www.viajejet.com/civilizaciones-antiguas-del-mundo/ruinas-de-
esparta-antigua-ciudad-griega/

Atenas foi a mais importante das cidades-Estados gregas.


Inicialmente, a economia ateniense era essencialmente rural,
complementada pelo artesanato e pelo comércio. Atenas ficou conhecida

58
como sendo o berço da democracia, que chegou ao auge no século V a.C.,
marcando o início do período clássico.
O termo “Democracia” é formado pelo radical grego “demo” (povo) e de
“kratia” (poder), que significa “poder do povo”. Na Democracia grega, a
participação era direta e restrita aos cidadãos (mulheres e escravos não
tinham o direito à participação), enquanto na democracia atual
(representativa) os cidadãos elegem seus representantes.
A cultura grega resultou da influência de vários povos, dentre eles os
cretenses. Eram politeístas e acreditavam que os deuses habitavam o
Monte Olimpo, exceto Poseidon — deus dos mares, Hades — deus do
mundo dos mortos, e Hefestos — deus do fogo. Seus deuses tinham
aparência, sentimentos e desejos humanos, mas possuíam poderes
extraordinários, além de serem imortais. Sobre eles reinava Zeus — deus
do tempo, casado com Hera, com a qual teve vários filhos (Ares — deus da
guerra; Afrodite — deusa do amor; entre outros). Os deuses também tinham
filhos mortais como Perseu e Hércules, por exemplo. Em sua homenagem
construíam templos, a exemplo de Parthenon, na Acrópole de Atenas,
edificado em homenagem à deusa Atena, considerado um Patrimônio
Mundial da Unesco.
ACRÓPOLE DE ATENAS

https://pt.wikipedia.org/wiki/Acr%C3%B3pole_de_Atenas

59
TEMPLO DE PARTHENON

https://www.oversodoinverso.com.br/o-partenon-de-atenas-um-
monumento-epico-e-o-misterio-das-medidas/

Os gregos cultuavam seus deuses nos lares e em cerimônias públicas.


Para homenageá-los realizavam, também, os Jogos Olímpicos, na cidade
de Olímpia. A partir de 776 a.C., esses jogos passaram a ocorrer de quatro
em quatro anos. Atualmente, o local preserva um importantíssimo sítio
arqueológico tombado pela UNESCO.

RUÍNAS DA CIDADE DE OLÍMPIA ONDE ERAM REALIZADOS OS


JOGOS

http://clacri.com.br/2016/05/03/da-grecia-para-o-brasil-tocha-olimpica-chega-a-brasilia/

Por muito tempo, a mitologia era a única forma de explicar a origem


do mundo e de muitos fenômenos. No entanto, com o desenvolvimento da
pólis, pessoas, com tempo disponível para observar e refletir sobre as

60
coisas, começaram a buscar explicações mais racionais. Nasceu assim a
filosofia (do grego philo ou philia = amor, amizade; sophia = sabedoria).
Dentre os filósofos, os que mais se destacaram foram: Sócrates, Platão e
Aristóteles.
Além de conhecimentos na área da Filosofia, na língua, na política,
nos costumes, deixaram importantes contribuições nas áreas da
Matemática, Geografia, História e na Medicina. Destacaram-se também na
arquitetura, com as construções de templos. Reproduziam com fidelidade o
corpo humano em suas esculturas e desenvolveram a arte da encenação
através do teatro.

Caderno de atividades – Unidade 2: Formação dos primeiros povoados

A sociedade Romana
Roma está localizada na Península Itálica. Os primeiros habitantes
eram originários da região do Mediterrâneo. No início, a economia romana
era à base da agricultura e da pecuária, dominada por grandes proprietários
de terra, conhecidos como patrícios. A maioria da população era composta
pela plebe — formada pelas pessoas livres e sem posses, conhecidas como
plebeus. Havia também um terceiro grupo formado pelos clientes, composto
por ex-escravos ou filhos de escravos nascidos livres, os quais tinham
obrigações para com os patrícios e, em troca, recebiam proteção e terra
para trabalhar. Na base da organização social estavam os escravos.

61
Grandes monumentos foram construídos no período do Império
Romano, a exemplo do Coliseu, em 79 d. C., atual ponto turístico da Itália,
onde eram realizados vários espetáculos, como a luta de gladiadores.

Coliseu (Roma, Itália). Foto: Viacheslav Lopatin / Shutterstock.com


https://www.infoescola.com/civilizacao-romana/coliseu/

Aos poucos, o Império Romano começou a se desintegrar devido às


crises políticas, colapso do sistema escravista, problemas econômicos,
dificuldades em proteger as fronteiras devido ao grande território, dentre
outros. Esses acontecimentos levaram ao enfraquecimento do comércio e
da produção em todo o Império. A população, aos poucos, abandonou a
cidade e se abrigou no campo, onde tinha maior proteção contra a invasão
de povos inimigos (bárbaros).
Buscando superar essa crise, foram adotadas várias medidas por
alguns imperadores. O Oriente e Ocidente tiveram destinos diferentes. No
lado do Ocidente (capital em Roma): o poder central tornou-se impotente
para controlar as invasões das fronteiras, facilitando a invasão estrangeira.
Por sua vez, o lado Oriental (Império Bizantino) conseguiu manter-se por
quase mil anos até ser conquistado pelos turcos.

62
Religiosidade Romana
Grande parte da história dos romanos foi marcada pela mitologia, ou
seja, pela crença em vários deuses, com fortes influências da cultura grega.
Acreditavam que, ao fazerem oferendas aos deuses, estes retribuíam com
proteção. Assim como os gregos, os deuses romanos tinham também
características humanas. Veja alguns exemplos:
O deus supremo (Zeus para os gregos) chamava-se Júpiter; o protetor
do comércio (Hermes na Grécia) chamava-se Mercúrio; Ares, o deus
grego da guerra (Ares na Grécia), chamava-se Marte; Afrodite (deusa do
amor na Grécia) em Roma era Vênus. O conjunto de deuses formava o
Panteão Romano – Templo das divindades.

Durante o período do Império Romano, originou-se o Cristianismo,


religião monoteísta que derivou do Judaísmo (religião dos hebreus), há
cerca de dois mil anos, na região do Oriente Médio. Tem como elemento
central a figura de Jesus Cristo, considerado o “Filho de Deus”.
Aos poucos, o Cristianismo foi sendo difundido por todo o Império
Romano, até se transformar na religião dominante. Em 391, tornou-se a
religião oficial do Império. Assim, instituiu-se também a igreja Católica, que
tem sua sede (ainda hoje) na cidade-Estado do Vaticano, em
Roma, capital da Itália.

As contribuições dos romanos


Por dominarem muitos povos, dentre eles os gregos, a sociedade
romana herdou e difundiu uma grande diversidade cultural, em diversas

63
áreas, influenciado a formação da cultura ocidental. Dentre elas destacam-
se:

 O Direito Romano: criação de códigos jurídicos que servem de base


na organização jurídica atual.
 A língua falada e escrita em Roma Antiga era o latim que deu origem
a várias línguas, sendo as principais: Português, Francês, Italiano,
Espanhol e Romeno.
 Uso do alfabeto e dos algarismos romanos.
 Conhecimentos na área da engenharia e arquitetura com a construção
de templos, palácios, anfiteatros, prédios públicos, estradas, igrejas,
aquedutos, etc. Na arquitetura, a colunata e o frontão do templo grego
foram mantidos, mas ganharam proporções grandiosas, refletindo o
imperialismo. Inseriram o arco redondo e a cúpula.
 Desenvolvimento do Cristianismo.
 Nas artes plásticas, devido às influências da cultura grega, buscavam
reproduzir o corpo humano o mais próximo do real.
 Grande produção na arte literária, na oratória, na historiografia e na
filosofia.
 Realizavam o circo romano e espetáculos de lutas na arena
(gladiadores).

Caderno de atividades – Unidade 2: Formação dos primeiros


povoados

64
O fim da Antiguidade

A Antiguidade é compreendida como sendo o período, desde a


invenção da escrita (de 4000 a.C. a 3500 a.C.) até a queda do Império
Romano do Ocidente (476 d.C.). É possível percebermos elementos em
comum entre os povos de se desenvolveram nesse período, dentre eles
destacam-se as atividades econômicas desenvolvidas, aspectos da
religiosidade, influência da religião na organização político-administrativa,
construções de templos, monumentos, dentre outros aspectos.
É fundamental conhecermos alguns aspectos sobre esses povos,
como viviam, como produziam, como se relacionavam e, especialmente,
quais foram as contribuições desses povos para o desenvolvimento da
sociedade humana.
Conflitos internos e invasões estrangeiras contribuíram para o fim do
Império Romano e dos modos de produção escravista e asiático que
sustentavam a organização social naquela época. Foi a desintegração do
Império Romano Ocidental que marcou a passagem da Antiguidade para a
Idade Média.

65
66
UNIDADE 3
OS POVOS ORIGINÁRIOS DA AMÉRICA

CAPÍTULO 1

Os primeiros habitantes da América

Ainda não há consenso de quando isso aconteceu, mas alguns


arqueólogos afirmam que a ocupação da América ocorreu há 30 ou até 60
mil anos. Dos primeiros habitantes dessa região do planeta restaram
fósseis, pinturas nas cavernas, objetos de pedras. Dos povos mais recentes
restaram pirâmides, templos, monumentos, e até registros escritos como
dos maias e dos astecas.
Aproximadamente seis mil anos atrás, grupos de caçadores-coletores
da região central do atual continente americano deixaram de ser nômades
e tornaram-se sedentários, passando a cultivar milho e outras culturas. Com
o passar do tempo, formaram-se os primeiros centros urbanos.
Alguns vestígios indicam que essa região era composta por uma
grande variedade de povos. As maiores sociedades se localizavam na
chamada Mesoamérica (entre a América do Norte e Central) e na América
Andina (região da Cordilheira dos Andes — América do Sul). O continente
Americano era habitado por diversos povos, dentre eles estão:
O povo Olmeca (1400 a.C. e 100 a.C.), provavelmente criou a mais
antiga das civilizações da Mesoamérica, além de ter sido o primeiro a
construir edifícios com fins religiosos. Os olmecas viviam em aldeias e
cidades, como, por exemplo, a La Venta, espécie de centro religioso, com
grandes pirâmides de barro dedicadas aos deuses e praças onde
realizavam cerimônias religiosas. A organização social estava diretamente

67
relacionada à religiosidade. Viviam da agricultura a partir do cultivo de milho,
feijão, abóbora e mandioca. Em 2006, foram encontrados vestígios desse
povo que podem representar um sistema de escrita.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Museo_La_Venta

As Cabeças colossais referem-se a enormes representações


de cabeças humanas de Ziten, esculpidas em monumentais
pedras de basalto. Essas esculturas, datadas por volta de 900
a.C., são uma distinta característica da antiga civilização
olmeca. A gigantesca cabeça da foto, esculpida em pedra,
encontra-se no sítio arqueológico de La Venta, México.

https://universes.art/es/art-destinations/mexico/tour/teotihuacan

Os Teotihuacanos construíram a cidade de Teotihuacán (metrópole


dos deuses) e nela constituíram um reino com templos e pirâmides
dedicados aos deuses. Realizavam cerimônias religiosas e contavam com
sacrifícios humanos para agradar aos deuses e obter boa colheita e vitória
nas guerras. Esse povo influenciou significativamente os maias.

Ruínas da cidade de Teotihuacán, no México.


Disponível em: https://universes.art/es/art-
destinations/mexico/tour/teotihuacan

68
Os Toltecas, povo originário da América, ocuparam vastas regiões
Mesoamericanas, onde se fixaram e construíram sua capital, a cidade de
Tula. Sua cultura exerceu forte influência sobre outros povos, sobretudo os
astecas.
Os Sioux: Estavam entre as várias tribos indígenas seminômades
norte-americanas. Dedicavam-se à agricultura e especializaram-se na caça
de grandes animais, búfalos e bisões.
Os Esquimós: também conhecidos como inuits, habitavam as regiões
árticas do continente americano. Apresentavam características culturais
bem distintas dos demais grupos indígenas americanos, e adaptaram-se, de
modo eficiente, ao ambiente hostil em que viviam.

Caderno de atividades – Unidade 3 – Capítulo 1: Os povos


originários da América

Vestígios arqueológicos no Brasil


No Brasil, há vestígios da presença humana na Serra da Capivara, em
São Raimundo Nonato, no Piauí (isso pode indicar que os vestígios mais
antigos estejam no território do nosso país).

SERRA DA CAPIVARA, EM SÃO RAIMUNDO FORMAÇÃO CONHECIDA


NONATO, NO PIAUÍ COMO PEDRA FURADA – PARQUE
NACIONAL SERRA DA CAPIVARA

69
Outro sítio arqueológico importante no Brasil é o da Lagoa Santa em
Minas Gerais, onde foi encontrado o fóssil denominado de Luzia (crânio de
uma mulher com cerca de 11500 anos. Ela tinha características negroides
(nariz achatado, queixo saliente, lábios grossos). Outros crânios
encontrados nessa região também possuem traços africanos.
Veja na imagem a seguir:

Disponível em: https://www.vix.com/pt/ciencia/544108/povo-de-luzia-o-que-se-sabe-sobre-


primeiros-brasileiros-que-viveram-ha-11-mil-anos

Além dos mencionados anteriormente, outros sítios arqueológicos do


Brasil se destacam, dentre eles: o da Pedra Pintada e Santarém — Pará; o
de Marcelândia e Santa Elina — Mato Grosso; de Palmito — Rio Grande do
Sul; e do Rio Parati — Santa Catarina.
Outro importante vestígio de nossos ancestrais são os sambaquis.
Os sambaquis são elevações de conchas que alcançam até 30 metros de
altura, encontradas no litoral do Brasil e às margens de alguns rios (a maior
parte dos sambaquis se encontra no litoral do nordeste e dos atuais estados
do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Nesses
locais foram encontrados restos de alimentos, como ossos de peixes e
cascas de moluscos.
O mais antigo sambaqui encontrado até o momento está localizado no
Vale do Ribeira (São Paulo). Foi encontrado no local um esqueleto humano
com características negroides, semelhantes às do fóssil de Luzia.

70
Caderno de atividades – Unidade 3 – Capítulo 1: Os povos
originários da América

Os maias
O povo maia habitava o sul do México, mais especificamente a
península de Yucatán. Constituiu-se de uma diversidade de povos, cada
qual com suas características. Os maias habitaram a região das florestas
tropicais das atuais Guatemala, Honduras e Península de Yucatán (sul do
atual México). Essa cultura teve muita influência dos povos que viviam
anteriormente na região, dentre eles os olmecas. Desenvolveram-se
através de cidades-Estados, governadas por um rei, que exercia poder em
nome de um deus.
LOCALIZAÇÃO DO POVO MAIA

https://www.coladaweb.com/historia/astecas-incas-e-maias

Veja alguns vestígios dessa civilização, que são considerados como


Patrimônios Culturais da Humanidade, localizados no atual México.

71
CHICHÉN ITZÁ – EM YUCATÁN, PIRÂMIDE DO ADIVINHO NA CIDADE
MÉXICO. DE UXMAL, NA PENÍNSULA DE
https://mochilerostv.com/chichen-itza-yucatan- IUCATÃ – MÉXICO ATUAL.
mexico-km-19330/
https://giraomundo.wordpress.com/2014/05/20/p
iramide-do-feiticeiro-yucatan-mexico/

RUÍNAS DE PALENQUE, EM TULUN, LITORAL DO MÉXICO


CHIAPAS (MÉXICO) http://caminhosdasilvia.blogspot.com/20
https://pt.dreamstime.com/foto-de-stock- 17/04/tulum-e-destino-descolado-da-
ru%C3%ADnas-maias-em-palenque-chiapas- riviera.html
m%C3%A9xico-image80041205

RESERVA BIOLÓGICA DE
CALAKMUL
https://www.cuartopoder.mx/nacional/protegera
nreservadelabiosferadecalakmul/198985

72
A sociedade maia era muito rígida e hierárquica, sendo que não havia
a mobilidade social. Era composta pela camada dos nobres: governantes,
sacerdotes, cobradores de impostos e chefes militares. Havia também uma
camada intermediária, composta por escribas, pintores, escultores. A
camada mais baixa era formada por camponeses (atividades agrícolas) e
artesãos (produziam peças de vestuário, utensílios domésticos, armas e
joias).

REENS – BUDET, VASO DE CERÂMICA – PAGAMENTO DE


TRIBUTO PARA O GOVERNANTE MAIA

Disponível em: http://users.misericordia.edu/davies/maya/audienc2.htm . Acesso 10/03/2020.

A base econômica era a agricultura. Cultivavam feijão, tomate, batata,


mandioca, algodão, milho, etc. e utilizavam técnicas de irrigação. O milho
era considerado sagrado. Além da agricultura, praticavam o comércio de
mercadorias com povos vizinhos e no interior do império. Tinham muitos
conhecimentos na área da Arquitetura, possíveis de serem observados em
suas pirâmides, templos e palácios. Desenvolviam o artesanato através da
fiação de tecidos, uso de tintas em tecidos e roupas.
A religião maia era politeísta. Os deuses estavam ligados à natureza.
Os maias desenvolveram muitos conhecimentos na área da Matemática.
Elaboraram um sistema numérico com base 20 e criaram o valor do zero
(concha=0, o ponto = unidade e o traço representava 5 unidades), que
possibilitou a realização de operações matemáticas mais complexas.

73
SISTEMA DE NUMERAÇÃO MAIA

Desenvolveram um complexo sistema de escrita (combinação de


desenhos que formavam símbolos). Registravam em placas de pedra,
artefatos de cerâmica, em paredes de templos e palácios e nos códices
(livros). A escrita Maia era composta por símbolos (hieróglifos). Registravam
acontecimentos, datas, contagem de impostos e colheitas, entre outras
coisas do cotidiano.
ESCRITA HIEROGLÍFICA MAIA

Disponível em:
https://www.google.com/search?q=escrita+maia&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwi4h6n2hafoAhXFDrk
GHSNYDV4Q_AUoAXoECA8QAw&biw=1366&bih=625

Destacaram-se na área da engenharia e nas manifestações artísticas


(cerâmica, pinturas e esculturas) e na área da Astronomia. Criaram
calendários precisos por meio da observação dos astros, que possibilitavam
regular a vida cotidiana, a produção agrícola e aspectos da religiosidade.

74
Desenvolveram conhecimentos na área da arquitetura com suas pirâmides,
geralmente, edificadas em homenagem aos deuses.
Os maias não acumulavam capital, nem pedras preciosas. Essa
civilização entrou em declínio por razões desconhecidas. Os historiadores
não sabem ainda por que a cidade sede deixou de ser habitada. Quando os
espanhóis chegaram ao local, ela já estava abandonada. Há descendentes
maias até os tempos atuais, entretanto, sua cultura sofreu influência devido
à colonização espanhola.

Caderno de atividades – Unidade 3 – Capítulo 1: Os povos


originários da América

Os Astecas
O povo asteca foi uma civilização mesoamericana, pré-colombiana, que
se desenvolveu, principalmente, entre os séculos XIV e XVI. Tenochtitlán
(atual Cidade do México), era a cidade asteca mais importante, localizada
na região de pântanos, próxima do lago Texcoco. Em 1450, contavam com
uma população de cerca de 300 mil habitantes.

75
https://www.coladaweb.com/historia/astecas-incas-e-maias

A sociedade asteca era dividida em camadas, rigidamente


hierarquizada. O governo da cidade era exercido por um
soberano/monarca, com poder político, militar e religioso, que tinha a
responsabilidade de criar leis, cobrar impostos, coordenar as construções
e distribuir os alimentos. Atribuía-se a ele origem divina e, em troca, haveria
de proteger a população.
Os astecas ficaram conhecidos como um povo guerreiro. Os nobres,
os militares e os sacerdotes compunham a camada mais alta e privilegiada.
Os sacerdotes eram consultados sobre os mais diversos assuntos. Depois
da nobreza vinham os comerciantes e, por fim, os camponeses e
trabalhadores urbanos, compondo a maioria da população. Esses recebiam
roupas e alimentos do Estado. A camada mais baixa da sociedade era
formada por escravos, prisioneiros de guerra e criminosos.

76
A cidade de Teotihuacán era o centro do império. Veja na imagem a
seguir o que restou desse local.
CIDADE DE TEOTIHUACÁN (CENTRO DO IMPÉRIO ASTECA)
ATUAL CIDADE DO MÉXICO

https://www.viagensecaminhos.com/2019/03/piramides-de-teotihuacan.html

Os Astecas desenvolveram muito as técnicas agrícolas, construindo


obras de drenagem e as chinampas (ilhas de cultivo), onde plantavam e
colhiam milho, abóbora, algodão, pimenta, tomate, feijão, cacau etc. As
sementes de cacau, por exemplo, eram usadas como moeda por este povo.
Destacaram-se na confecção de tecidos, objetos de ouro e prata e artigos
com pinturas. O comércio desempenhou um papel importante baseado em
trocas de produtos. A economia também se estruturava com base nos
tributos que os povos dominados eram obrigados a pagar. Construíam ilhas
artificiais feitas com uma estrutura de junco e preenchidas com terra, onde
plantavam produtos.
Os astecas desenvolveram muitos conhecimentos em diversas áreas.
Na Matemática, criaram o sistema de numeração e calendários semelhantes

77
aos dos maias. Criaram a escrita figurativa. Tinham bibliotecas e
desenvolveram jogos, cantos, danças, poesias e jogos dramáticos.
A imagem a seguir ilustra a Pedra do Sol – um tipo de calendário solar
com 18 meses, com 20 dias cada.

Pedra do Sol dos astecas.

O povo asteca era politeísta e acreditava que se o sangue humano não


fosse oferecido ao Sol, a engrenagem do mundo deixaria de funcionar.
Veja alguns exemplos de algumas divindades astecas:

Quetzalcoatl deus da sabedoria Tlaloc Deus da chuva

Quando os espanhóis chegaram ao local, saquearam todo o ouro e


prata ali existentes e destruíram toda a cidade de Tenochtitlán, local em que,
mais tarde, seria fundada a atual Cidade do México. Após uma guerra
sangrenta contra os espanhóis, chegou ao fim o império asteca.

78
TENOCHTITLÁN - A CAPITAL ASTECA

http://astecasgeo.blogspot.com/2013/08/blog-post_4741.html

RUÍNAS ASTECAS DO TEMPLO MAYOR DE TENOCHTITLÁN,


LOCALIZADAS NA CIDADE DO MÉXICO.

Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historia-da-america/astecas.htm

79
Caderno de atividades – Unidade 3 – Capítulo 1: Os povos
originários da América

Os incas

A sociedade Inca era composta por diversas nações. Localizava-se


na região dos Andes, na atual América do Sul (região desértica,
montanhosa, difícil para a produção da vida humana) que atualmente
compreende o Peru, Colômbia, Equador, o oeste da Bolívia e o norte do
Chile e da Argentina.
LOCALIZAÇÃO DO IMPÉRIO INCA

https://dougnahistoria.blogspot.com/2015/09/

Os incas habitaram a América do Sul até a invasão dos conquistadores


espanhóis e a execução do Imperador Inca Atahualpa, em 1533.
Inicialmente, o termo inca era um título reservado ao imperador,
considerado o guardião dos bens do Estado, especialmente da terra.

80
A terra era dividida em três partes: terra do deus Sol, reservada aos
sacerdotes; terra do Inca (imperador), destinada à família imperial e a terra
para a população, para garantia do próprio sustento.
O estado inca constituía uma teocracia (forma de governo escolhida
pelos deuses e exercida por um representante na Terra, ou seja, o estado
sofria fortes influências da religiosidade). O Inca e sua família estavam no
topo da sociedade, depois vinham os nobres, os parentes do imperador, os
governadores das províncias, chefes militares, juízes e sacerdotes. Em
seguida, estavam os funcionários públicos. E por fim os agricultores,
marceneiros, artesãos e pedreiros em regime de servidão.
A capital do império era a atual cidade de Cusco (em quíchua, "Umbigo
do Mundo").

Ilustração de chasqui

Os incas tinham um exército muito bem treinado e organizado e


desenvolveram um sistema de comunicação conhecido como Chasqui (as
notícias eram veiculadas pelo sistema na velocidade de 125 milhas por
dia).

Criaram a "Rodovia Inca", usada nas guerras para o transporte de


bens e outros propósitos. Todo o Império Inca foi unido por excelentes

81
estradas e pontes. O caminho inca Qhapag Ñan foi declarado, em 2014,
Patrimônio Mundial da Humanidade.

https://whc.unesco.org/es/actividades/65/

Assista ao vídeo disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=rFLcvbpN5is para visualizar outras partes do
caminho de Qhapag Ñan.

Adoravam diversos deuses, geralmente relacionados a elementos da


natureza. As divindades recebiam oferendas, inclusive sacrifícios humanos.
O deus mais importante era Viracocha, criador dos cinco ciclos da
humanidade.

82
https://pt.wikipedia.org/wiki/Viracocha

Outro deus era o Huari, responsável pela colheita e pela água.


Os povos dominados podiam manter seus costumes (língua, religião
e seus chefes locais), mas deveriam incluir a língua, religião e prestar
fidelidade ao governo Inca, pagando tributos.
Tinham como base econômica a agricultura. Toda a população tinha
acesso à terra e era obrigada a cultivar as terras do deus Sol e do Imperador,
exceto aquelas pessoas que pertenciam às altas camadas sociais.
Construíam terraços, que consistiam em degraus que permitiam a produção
agrícola, que eram interligados por canais de irrigação e evitavam a erosão.
Cultivavam mais de 40 espécies vegetais, entre elas, batata, milho, algodão,
vagem, mandioca, amendoim e abacate. Suas terras eram cultivadas
coletivamente.

83
Fazendas com terraços no Peru: os terraços permitiram que os agricultores incas
utilizassem o terreno montanhoso e cultivassem cerca de setenta culturas
diferentes.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Terraceamento.

A Ihama era o único animal domesticado pelos incas e era utilizada


como meio de transporte, fornecia couro, lã, carne e esterco.

Os incas desenvolveram conhecimentos importantes no campo da


Medicina. Tinham um artesanato diversificado e conhecimentos na área da
arquitetura. Não utilizavam a escrita, mas criaram um sistema de numeração

84
decimal conhecido como quipo, que permitia controlar estoques de
alimentos e pagamentos de tributos.

A gravura representa um funcionário inca manipulando um


quipo. O quipo era formado por vários cordões presos a um
cordão principal. Cada um dos cordões tinha nós separados
uns dos outros por diferentes distâncias.
https://ciencianarua.net/cientistas-comecam-a-decifrar-o-codigo-inca-dos-
quipos/

Construíram cidades planejadas, aquedutos, que garantiam o


abastecimento de água, palácios, templos, armazéns, casas, praça central,
ruas largas e pavimentadas e estradas que interligavam as regiões do
império. Dominavam o bronze, a platina, o ouro e a prata. Um lugar que
simboliza o império inca é Machu Picchu (velha montanha) — Peru,
considerada uma das Sete Maravilhas do Mundo.

Ruínas da cidade inca de Machu Picchu. Encontram-se no Peru, próxima a Cuzco,


antiga cidade do Império Inca.
Disponível em> https://www.historiadomundo.com.br/inca/machu-picchu.htm.

85
Durante o processo de colonização europeia, o território Inca foi
totalmente dominado pelos espanhóis.
A ocupação dos territórios incas pelos espanhóis levou à colonização
daquela região, correspondente ao atual Peru, e ao surgimento do Vice-
Reino do Peru. Os espanhóis dominaram e destruíram as cidades incas e
astecas, pois dispunham de cavalos, armas de fogo e outros instrumentos,
além de doenças que essas civilizações não conheciam. As diferenças
culturais eram enormes, dentre elas, a religiosidade e a relação com o ouro
e a prata.

Caderno de atividades – Unidade 3 – Capítulo 1: Os povos


originários da América

86
UNIDADE 3
OS POVOS ORIGINÁRIOS DA AMÉRICA

CAPÍTULO 2 – A ORGANIZAÇÃO SOCIAL DOS POVOS


INDÍGENAS DO BRASIL E DO PARANÁ

Os povos nativos do Brasil antes da colonização europeia

Anterior ao processo de colonização europeia, muitos povos


ameríndios (indígenas, originários ou nativos da América, dentre outras
designações) de diferentes etnias, habitavam o território que veio a ser
denominado de Brasil. A maioria dos povos eram nômades ou
seminômades.
Embora houvesse diversidade cultural, algumas características eram
semelhantes entre esses povos, dentre elas, a forma de organização
social. Praticavam a coleta de frutas e raízes, a caça, a pesca e, alguns
povos, a agricultura. A roça pertencia à tribo, e a coivara (quantidade de
ramagens a que se põe fogo nas roçadas para desembaraçar o terreno e
adubá-lo com as cinzas, facilitando a cultura) era a forma característica de
preparação da terra para o plantio.
Havia divisão do trabalho baseada no gênero e na idade. As
mulheres cuidavam da roça, coletavam frutas e raízes, cuidavam das
crianças, fiavam e teciam, entre outros afazeres. Os homens eram
responsáveis pela derrubada das árvores, preparação da terra, caça e
pesca, fabricação de canoas e instrumentos de trabalho, construção das
casas, proteção da tribo, entre outras responsabilidades. No entanto, havia
muitas diferenças quanto à língua, rituais, crenças, formas de construção
das casas, fabricação de instrumentos, pinturas corporais.

87
Os povos indígenas utilizavam conhecimentos e técnicas que
desenvolveram ao longo de milhares de anos e eram transmitidos de
geração em geração. Conheciam e respeitavam a natureza, porque dela
dependiam o sustento e a vida da comunidade. Por isso, conseguiram
sobreviver nas florestas e delas retirar os alimentos e materiais de que
precisavam.
Os indígenas se relacionavam com a natureza de forma diferente.
Muitos grupos classificavam as estrelas em constelações, como, por
exemplo: a do homem velho, da ema, da anta do norte e do veado.

CONSTELAÇÕES INDÍGENAS

https://www.google.com/search?q=constela%C3%A7~es+indigenas&oq=constela%
C3%A7~es+indigenas&aqs=chrome..69i57j0l7.7696j0j8&sourceid=chrome&ie=UTF-
8. Acesso em 27/03/2020.

Alguns povos entendiam a relação entre as fases da Lua e as marés.


Conheciam também grande variedade de plantas medicinais e venenosas,
utilizadas na pesca e na caça. Fabricavam objetos como potes, urnas,
cestos, redes, esteiras, entre outros, conforme as variações de cada tribo.

88
Muitas tribos utilizavam enfeites plumários e faziam pinturas corporais
geométricas com uso de urucum, jenipapo, carvão e calcário.
Os conhecimentos indígenas foram fundamentais para a
sobrevivência dos colonizadores naquela época. O trabalho, geralmente,
era coletivo, e o que obtinham através da agricultura, caça, pesca e coleta
era dividido entre as pessoas da comunidade.

Caderno de atividades – Unidade 3 – Capítulo 2: A organização


social dos povos indígenas do Brasil e do Paraná

Organização social das comunidades indígenas nativas


Cada comunidade indígena nativa possuía modos próprios de
organização social, política e religiosa. Porém, havia algumas
características comuns entre os povos.
Uma das características comuns era a organização das atividades,
priorizando a sobrevivência do grupo. Por isso, todos os membros da
comunidade tinham sua importância e exerciam funções, tarefas,
responsabilidades e atividades específicas na comunidade.
Nas aldeias indígenas, havia uma preocupação com a organização
diária dos trabalhos coletivos, das festas e das cerimônias religiosas,
dirigidas pelos líderes, que orientavam e organizavam a vida social nessas
comunidades, com base nas tradições dos antepassados.
Outra característica geralmente comum aos povos indígenas era a
família extensa como base da organização social. Em razão disso, as
relações sociais mais fortes entre os povos indígenas são as de

89
parentesco e de alianças. Além de a grande família ser a base da
estrutura social, os povos indígenas nativos também estabeleciam
alianças entre si. O objetivo era compartilhar interesses, espaços
territoriais, recursos naturais ou lutar contra inimigos comuns.
A realização de festas, cerimônias e rituais religiosos também era
característica comum entre os povos indígenas.

Caderno de atividades – Unidade 3 – Capítulo 2: A organização


social dos povos indígenas do Brasil e do Paraná

A diversidade de povos indígenas


Havia uma diversidade de povos que habitavam o território brasileiro
no momento da chegada dos primeiros europeus. Esses povos se
estabeleceram e viveram nestas terras milhares de anos antes da
colonização europeia, formando várias civilizações.
O que aprendemos sobre esses povos, geralmente, resulta de
estudos em documentos escritos a partir da época da chegada dos
europeus ou de pesquisas realizadas em tribos indígenas, pois muito se
perdeu de toda a riqueza histórica e cultural dos primeiros habitantes do
nosso território.
Muitas vezes, quando se fala ou escreve sobre os indígenas, temos
a impressão de que todos os habitantes tinham os mesmos costumes,
tradições, que havia uma só língua falada entre as tribos, pois todos eram
indígenas. Porém, não existia povo, tribo ou clã com o nome de índio. Na
verdade, havia o povo Guarani, Yanomami, Tupi, Jê...

90
Mesmo que haja características comuns ou semelhanças entre
alguns aspectos da organização social e do modo de vida dos povos
indígenas (do Paraná, do Brasil e da América como um todo), havia uma
diversidade de etnias, línguas, culturas, conhecimentos, civilizações,
religiões e organizações sociais diversas.

Caderno de atividades – Unidade 3 – Capítulo 2: A organização


social dos povos indígenas do Brasil e do Paraná

Os primeiros habitantes do Paraná


Quando os primeiros colonizadores chegaram ao território que
atualmente é denominado de Estado do Paraná, viviam aqui
aproximadamente 200 mil indígenas, os quais pertenciam a três grandes
nações: Os Xetá e os Guarani, pertencentes ao grupo linguístico Tupi, e os
Kaingang, que pertenciam ao grupo linguístico Jê.

O povo Xetá
O povo Xetá pertencia ao tronco Guarani e foi o único povo
encontrado somente no Paraná. Habitava a região da Serra dos Dourados,
entre os rios Paraná e Ivaí, no Noroeste do Estado. Não permanecia no
mesmo lugar por muito tempo.

91
Fonte: http://www.arara.fr/Indios%20Xetas%20no%20Parana.pdf

Sua alimentação era à base de coleta de tubérculos, raízes, mel,


larvas de besouros e de abelhas e caça. Os homens utilizavam arco,
flecha, bastões e outras armadilhas para caçar répteis, aves e mamíferos.
Acreditava-se, até pouco tempo, que os Xetá não trabalhavam na
agricultura, mas estudos recentes indicam que essa atividade foi
interrompida em função da colonização europeia, que os obrigava a mudar
frequentemente. Há evidências de que, no passado, praticavam essa
atividade. Nos primeiros contatos com o homem branco, na década de
1950, apresentavam organização semelhante à da idade da pedra polida.
Tinham uma população estimada entre 250 a 450 pessoas. A língua Xetá
tem semelhança com a Tupi-Guarani, mas apresenta características
próprias, segundo os linguistas. Esse povo acreditava na existência de
espíritos do bem e do mal, que habitavam as matas.
A aldeia Xetá era denominada Okawauatchu (aldeia grande),
composta pelas tapuy-apoeng (casas grandes), as quais eram construídas
de forma que podiam ser transportadas. Organizavam a aldeia no meio da

92
floresta, em lugares elevados, para se protegerem do frio e do vento. Nas
aldeias eram formados agrupamentos de 3 a 5 tapuy.

Fonte: http://www.arara.fr/Indios%20Xetas%20no%20Parana.pdf.
Acesso 22/11/2019.

Uma característica marcante desse povo era o uso do tembetá


(adorno labial inserido nos meninos, para marcar a passagem da infância
para a vida adulta), feito com resina de jatobá, nas orelhas, utilizavam
brincos de penas de pássaros. As meninas, após a primeira menstruação,
tinham a barriga pintada de vermelho e marcada por um dente de paca,
marcação essa feita por um homem da tribo. Utilizavam cintas produzidas
com fio de caraguatá nas pernas e braços, e colares de dentes de animais.
As crianças usavam colares feitos de sementes, dentes de pequenos
animais e crânio de aves.

93
http://www.arara.fr/Indios%20Xetas%20no%20Parana.pdf

Devido aos enfrentamentos com colonizadores, doenças e


envenenamentos, o povo Xetá foi praticamente extinto, restando
pouquíssimos sobreviventes, que residem no Estado do Paraná, Santa
Catarina e São Paulo, vivendo em cidades ou reservas indígenas. Alguns
se casaram com pessoas de outras etnias, portanto seus descendentes
não podem ser considerados genuinamente Xetá.

Caderno de atividades – Unidade 3 – Capítulo 2: A organização


social dos povos indígenas do Brasil e do Paraná

94
O povo Guarani
O povo Guarani compõe a maior etnia em número de população
indígena do Brasil. Anterior à colonização, habitava a região litorânea no
sul do nosso país, o que compreendia a região entre Cananeia, no litoral
sul de São Paulo, e o Rio Grande do Sul, o Estuário do Prata, às margens
do Rio Paraná, parte do Território do Paraguai, Argentina, Uruguai e
Bolívia. A língua falada por essa nação indígena é a Tupi.

Disponível em: https://mirim.org/terras-indigenas. Acesso em: 22/11/2019.

Apresentava preferência por regiões às margens dos rios e o do mar,


onde havia áreas de Mata Atlântica e floresta pluvial tropical. Desde muito
cedo, os Guarani aprendiam a nadar, construir canoas e conduzi-las com
muita habilidade. Também eram conhecidos como carijós. Abriram vários
caminhos entre o planalto curitibano e o litoral.
A alimentação desse grupo indígena era oriunda da pesca, da caça e
da agricultura. Os Guarani eram habilidosos pescadores, atividade
realizada por meio de arco e flecha. Caçavam macacos, pacas e

95
capivaras, com o uso de lâminas de machado polidas e lascadas.
Plantavam e consumiam milho, mandioca, batata-doce, feijão, banana,
melancia, amendoim, ervas, que utilizavam como medicamentos, e erva-
mate. Por isso eram considerados agricultores. Praticavam a agricultura de
coivara (queima de restos de vegetação em que as cinzas servem de
adubação para o posterior cultivo). Abandonavam, por um determinado
tempo, a área que cultivavam, mudando-se em busca de terra fértil.
Somente depois de um tempo, voltavam a plantar a área anteriormente
abandonada. Dessa forma, eram considerados seminômades.
Suas cabanas eram retangulares e de chão batido, construídas com
folhas de palmeiras e com um tipo de capim na cobertura. Havia, no centro
da aldeia, a casa de rezas, conhecida como Opy. Sepultavam seus mortos
às margens dos rios.
A criança Guarani não recebia nome antes de aprender a engatinhar,
ou até um pouco mais de um ano, sendo todos denominados de
“curumim”.
Utilizavam vários adornos na cabeça e dorso, feitos de sementes,
dentes de animais, penas de aves e pedras polidas. Inseriam, no queixo,
adornos feitos de madeira ou resina.

96
Disponível em: http://ubafibras.blogspot.com/2010/02/indios-
guaranis-comecamos-2010-com-uma.html. Acesso em
22/11/2019.

Fabricavam cestos de palha e de taquara, peças de cerâmica


decoradas com pinturas geométricas, vermelhas e pretas sobre engodo
branco, utilizavam fios de algodão para a produção de redes e tecidos.

Disponível em:
http://amora2009portuguesescultura.pbworks.com/w
/page/12648010/guarani. Acesso em 22/11/2019.

Dos povos indígenas que habitavam o Paraná, os Guarani foram os


primeiros e mais acessíveis, alvo fácil tanto para os colonizadores, para os
jesuítas espanhóis, como para os bandeirantes portugueses.

97
Caderno de atividades – Unidade 3 – Capítulo 2: A organização
social dos povos indígenas do Brasil e do Paraná

O povo Kaingang
Os Kaingang habitavam vários pontos do Estado do Paraná e foram
perdendo território com o processo de colonização. Eles foram
encontrados no centro sul do Brasil, onde, atualmente, localizam-se os
Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná (região de
Guarapuava, Palmas, sertões do Tibagi e Ivaí) e São Paulo.

Disponível em:
http://culturasindigenas.org/peoplegroups/load_data/101?wh
at=initiatives. Acesso em 22/11/2019.

Falavam a língua Jê e representavam a terceira etnia em população


do país. Eram considerados guerreiros, o que dificultou o contato com o
homem branco e a escravidão desse povo.

98
Considerados agricultores, tinham como base alimentar o milho, a
partir do qual era produzida uma bebida fermentada conhecida como kiwi.
Cultivavam também abóbora, feijão e mandioca. O pinhão consistia em
uma importante alimentação, consumido após assado em brasas, ou em
forma de pão e sopa. Tinham preferência por carne de anta, queixada e
aves, ovos, estipe de jerivá ou de palmeira juçara, raiz de bromélia,
gravatá. Consumiam ainda larvas de insetos e mel de abelha.
A moradia Kaingang era conhecida como choça. As choças eram
retangulares ou redondas, construídas com varas fincadas no chão e
cobertas com folhas de taquara e de palmeira. Construíam suas
habitações tanto fixas, como possíveis de serem transportadas nos
períodos de caça e coleta.

Disponível em:
http://1.bp.blogspot.com/_q_ivp6S3sGM/Saiu3OK2s5I/AAAAAAAACfU/
oebNw9Prh10/s1600-h/indio_o1.jpg. Acesso 22/11/2019.

Esses índios fabricavam artefatos para a guerra, agricultura, caça e


coleta. Produziam cestos, que eram impermeabilizados com cera de
abelha para armazenar líquidos. Não tinham tanta afinidade com a água
quanto os Guarani, utilizavam as pirogas, barcos primitivos feitos de
troncos de árvores, os quais eram usados em casos de emergências.

99
Enfeitavam-se com colares feitos de sementes pretas e garras de
animais. Os habitantes da região de Santa Catarina e Rio Grande do Sul
usavam uma espécie de prego de madeira nos lábios. O cacique usava,
na altura da testa, uma plumagem em forma de leque.

APRESENTAÇÃO DO GRUPO INDÍGENA KAINGANG NEN – GÁ – Sesc


Paraná – entre os municípios de Londrina e Tamarana.

Disponível em: https://www.sescpr.com.br/evento/apresentacao-do-


grupo-indigena-kaingang-nen-ga/ Acesso 22/11/2019.

Os que habitavam a região do Paraná se enfeitavam com uma


espécie de coroa na cabeça. Por isso, também eram conhecidos pelos
colonizadores como “Coroados”. Pintavam-se com carvão vegetal, pois
acreditavam adquirir proteção contra maus espíritos. As mulheres faziam
bolsas e redes de fibra em que carregavam os filhos.
A argila era utilizada, dentre outras coisas, na produção de
cerâmica, para a fabricação de utensílios domésticos e urnas para
sepultamento. A medicina Kaingang era praticada através de um ritual
que ocorria à noite, no qual o Kuiã (espécie de pajé) consultava os
espíritos, esborrifando seu cachimbo até ficar envolto pela fumaça.
Utilizavam, na medicina, tratamentos à base de ervas curativas. O uso da

100
erva-mate se originou de hábitos indígenas, era usada como estimulante
para amenizar o cansaço após longas caminhadas pela floresta em busca
de comida durante a caça e a pesca.

Caderno de atividades – Unidade 3 – Capítulo 2: A organização


social dos povos indígenas do Brasil e do Paraná

Leitura complementar:

O Índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos


indígenas no Brasil de hoje
Há uma grande diferença entre os milhões de nativos que habitavam
as terras que hoje chamamos de Brasil, desde milhares de anos antes da
chegada dos portugueses, e as poucas centenas de povos denominados
indígenas que atualmente compõem os 0,4% da população brasileira,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2001). Estimativas apontam que, no atual território brasileiro, habitavam
pelo menos 5 milhões de pessoas na época da chegada de Pedro Álvares
Cabral, no ano de 1500.
A História é testemunha de fatos que aconteceram na vida dos povos
originários destas terras: escravidão, guerras, doenças, massacres,
genocídios e outros males que, por pouco, não eliminaram por completo
os seus habitantes.
Não que esses povos não conhecessem guerra, doença e outros
males. A diferença é que, nos anos da colonização portuguesa, esses
povos sofreram interferências devido a um projeto ambicioso de
dominação cultural, econômica, política e militar do mundo, ou seja, um

101
projeto político dos europeus, que os povos indígenas não conheciam e
não podiam adivinhar qual fosse.
A partir do contato, a cultura dos povos indígenas sofreu profundas
modificações, uma vez que, dentro das etnias ocorreram importantes
processos de mudanças socioculturais.
Viver a memória dos ancestrais significa projetar o futuro, a partir das
riquezas, dos valores, dos conhecimentos e das experiências do passado
e do presente, para garantir uma vida melhor e mais abundante para todos
os povos. Mas essa abundância de vida, buscada por todos os povos do
mundo, para os povos indígenas passa necessariamente pela manutenção
dos seus modos próprios de viver. O que significa formas de organizar
trabalhos, de dividir bens, de educar filhos, de contar histórias de vida, de
praticar rituais e de tomar decisões sobre a vida coletiva.
Dessa maneira, os povos indígenas não são seres ou sociedades do
passado. São povos de hoje, que representam uma parcela significativa da
população brasileira e que, por sua diversidade cultural, territórios,
conhecimentos e valores ajudaram a construir o Brasil.
Texto (com adaptações) extraído da apresentação da obra: O Índio Brasileiro: o que você precisa
saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje de Gersem dos Santos Luciano. Brasília: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu
Nacional, 2006, p. 17-18.

102
UNIDADE 4
O MERCANTILISMO E A EXPANSÃO MARÍTIMA
...Um país rico, tal como um homem rico, deve ser um país com muito dinheiro e juntar
ouro e prata num país deve ser a forma mais fácil de enriquecer...
(História da riqueza do Homem. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1972, p. 130)

QUADRO DE CLAUDE LORRAIN QUE REPRESENTA UM PORTO DE


MAR FRANCÊS DE 1638, NO MOMENTO FUNDAMENTAL DO
MERCANTILISMO

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mercantilismo

Por que as sociedades se transformam, se modificam?


O que provoca mudanças sociais?
Qual a importância do comércio entre os povos?
Há respeito e reciprocidade nas relações comerciais entre os povos?
O comércio entre os povos ajuda um povo a dominar o outro?
O Brasil já foi dominado e explorado por outros povos?

103
O Mercantilismo
Do século XV ao XVIII, ocorreram grandes transformações na
organização do trabalho, da produção, do comércio, da política, da
sociedade e da vida na Europa. Esse conjunto de transformações é
conhecido como Mercantilismo.
O Mercantilismo foi caracterizado como um conjunto de práticas
econômicas desenvolvidas com o objetivo principal de organizar o
comércio a fim de acumular riquezas para as nações. Foi o que possibilitou
a consolidação da sociedade europeia em Estados Nacionais (ou países).
Isso se deu principalmente pela ocupação de novos territórios por
povos europeus, que se apossaram das matérias-primas mais valiosas e
pela prática do domínio comercial dos países colonizadores sobre suas
colônias. Essas práticas permitiram melhorar a infraestrutura de alguns
países europeus, gerando prosperidade e acúmulo de riquezas,
principalmente de metais preciosos, como o ouro e a prata, retirados das
colônias.
O acúmulo de riquezas possibilitou a esses países desenvolver o
comércio com outros povos e aperfeiçoar os meios de transporte, de modo
especial, o marítimo.
As ideias econômicas mais aceitas, naquela época, ensinavam que o
enriquecimento das nações e o seu desenvolvimento econômico eram
gerados pelo acúmulo de riquezas. Quanto mais ouro e prata uma nação
possuía, maior era a capacidade de comprar e consumir os bens de que
necessitava ou almejava.
Essas ideias motivaram os países a se desenvolver através do
comércio exterior, vendendo os excedentes da produção e comprando
aquilo de que precisavam e, geralmente, não produziam.

104
Portugal e Espanha foram os países europeus que se destacaram nas
práticas mercantilistas, conquistando vários povos, entre eles,
praticamente todo o território atualmente ocupado pela América do Sul,
onde está localizado nosso país. Esses dois países conseguiram acumular
muitas riquezas e se tornaram influentes e desenvolvidos na época.
As práticas mercantilistas foram primordiais para o desenvolvimento
dos Estados Nacionais. No entanto, quem mais se beneficiava diretamente
da riqueza acumulada eram os reis, sua família e a corte.
Foi a necessidade de expandir o comércio mercantil que motivou
alguns países europeus a estabelecer negócios com nações distantes.
Passaram a realizar atividades comerciais com alguns países da Ásia,
como a Índia, por exemplo. Para tanto, precisaram aperfeiçoar e
desenvolver embarcações resistentes a longas viagens, uma vez que o
transporte marítimo foi uma das saídas encontradas para levar e trazer as
mercadorias.

Caderno de atividades – Unidade 4: O Mercantilismo e a Expansão


Marítica

Práticas econômicas mercantilistas


O crescimento e o desenvolvimento do comércio, durante o período
mercantilista, permitiram prosperidade a vários países. O aperfeiçoamento
das práticas comerciais, principalmente, financiadas pela riqueza
acumulada em ouro e prata, permitiu desenvolver a produção
manufatureira e a colonização de imensas áreas em outros continentes.

105
Os governos (reis) controlavam todas as práticas comerciais para
proteger e beneficiar a produção interna e evitar a concorrência com
produtos de outros países. Essa prática favoreceu o crescimento da
atividade comercial. A Coroa mantinha com a colônia práticas de
monopólio econômico, não permitindo que a colônia comprasse ou
vendesse produtos de outros países.
Monopólio: 1. Comércio abusivo que consiste em um indivíduo ou grupo
tornar-se único possuidor de determinado produto para, na falta de
competidores, poder vendê-lo por preço exorbitante. 2. Posse exclusiva,
propriedade de um só.

Além do monopólio comercial, as metrópoles também tinham a


prática de se apropriar de todas as riquezas que encontravam nas regiões
que colonizavam. Isso possibilitou o acúmulo de riquezas aos governos e
setores ligados diretamente a eles.
O desenvolvimento das manufaturas foi provocado pela crescente
procura de mercadorias pelos países, proporcionada pelo acúmulo de
riquezas ou pessoas enriquecidas pelo comércio. O período mercantilista
estimulou a produção de mercadorias e produtos em oficinas de
manufaturas.
As práticas comerciais mercantis possibilitaram também o acúmulo
de riquezas aos comerciantes. Muitos deles se tornaram empresários
burgueses. De posse do capital, criaram oficinas em que forneciam aos
artesãos a matéria-prima, as ferramentas, pagavam salário em troca do
trabalho deles, se encarregavam da venda do produto onde houvesse
procura e ficavam com o lucro dessa atividade. O aperfeiçoamento e a
evolução da organização do trabalho nas manufaturas permitiram a
criação das indústrias, posteriormente.

106
Caderno de atividades – Unidade 4: O Mercantilismo e a Expansão
Marítica

A expansão marítima

Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/curso-enem-


play/expansao-maritima-e-colonizacao-da-america-as-grandes-navegacoes-e-
as-mudancas-decorrentes-da-chegada-de-colombo-ao-novo-continente/

Durante o período do Mercantilismo, algumas nações europeias


preocuparam-se em aperfeiçoar o sistema de navegação para expandir o
comércio com nações distantes e ocupar novas terras com o objetivo de
acumular riqueza. Além disso, outros fatores produziram a necessidade de
desenvolvimento da expansão marítima, tais como:
 diminuição da produção agrícola com a crise do Feudalismo,
provocando a escassez de alimentos e o aumento dos preços dos
produtos;
 esgotamento das minas europeias de metais preciosos pelo uso
mais frequente de moedas como instrumento de troca. Isso ocorreu
devido ao crescimento do trabalho assalariado e ao aumento da

107
circulação de mercadorias. Era preciso, portanto, procurar novas
fontes de ouro e de prata para a produção de moedas;
 domínio das rotas nas cidades italianas no Mediterrâneo, que
contribuía para o encarecimento das mercadorias vindas do Oriente;
 os mulçumanos passaram a controlar o comércio no Mediterrâneo.
Todos esses fatores impulsionaram a busca de novas rotas para os
mercados tradicionais do Oriente.

Veja no mapa a seguir:


O COMÉRCIO EUROPEU NO SÉCULO XV

Fonte: ARRUDA, J.J. Toda a história- História Geral e história do Brasil. Editora Ática 13ª edição. São
Paulo, 2012.

108
Os principais agentes do desenvolvimento da expansão marítima
nesse processo foram os novos Estados Nacionais e a burguesia
mercantil, apoiados pela igreja Católica. A burguesia mercantil visava a
ampliar seus lucros; a nobreza desejava conquistar novas terras e a igreja
queria expandir o cristianismo. Além dos fatores econômicos, havia
também o desejo de conhecer, o sentimento aventureiro e o empenho
religioso era propagar a fé cristã, convertendo o maior número de pessoas.
No final do século XVI, já havia muitos avanços relacionados às
navegações, como, por exemplo, o aprimoramento dos conhecimentos
geográficos, graças ao desenvolvimento da Cartografia; o
desenvolvimento de instrumentos náuticos (bússola, astrolábio, sextante) e
a construção de embarcações capazes de realizar viagens de longa
distância, como as naus e as caravelas. Isso possibilitou aos portugueses
e espanhóis o pionerismo em viagens marítimas longas.

Caravela

Sextame

Nau é uma denominação genérica dada a navios, de grande


porte, até o século XV, usados em viagens de grande percurso.
Em vários documentos históricos, a nau surge com a
denominação de nave (do latim navis), termo utilizado quase
sempre entre 1211 e 1428.

109
Com essas viagens, espanhóis e portugueses chegaram à América,
alteraram o modo de vida dos nativos, colonizaram a terra e se
apropriaram de muitas riquezas que havia nesse continente, através da
implantação do sistema colonial e do trabalho escravo.

Caderno de atividades – Unidade 4: O Mercantilismo e a Expansão


Marítica

O pioneirismo de Portugal e Espanha


Portugal e Espanha foram os países que se destacaram nas grandes
navegações. Aos poucos, foram se aventurando em alto-mar.
Primeiramente, contornando a costa da África. Mas o objetivo principal,
inicialmente, era buscar novos caminhos para chegar às Índias, na Ásia,
com quem tinham um comércio já estabelecido, pois negociavam produtos,
como: seda, perfumes, porcelana, marfim, pedras precisosas,
especiarias/condimentos, açúcar, algodão, corantes, entre outros.
O fato de Portugal ter se tornado um Estado Nacional em 1143, deu-
lhe condições para ser o primeiro a se aventurar em viagens de longa
distância. Dentre os fatores que possibilitaram essa iniciativa destacam-se:
o estabelecimento de aliança com a burguesia mercantil, localização
privilegiada, sendo ponto de encontro de marinheiros; população
experiente em pesca e em outras atividades marítimas; grande
investimento em estudo científico através da criação de um centro de
estudos sobre navegação, composto por astronômos, cartógrafos e
pilotos.

110
Por sua vez, o território que futuramente se constituiria como
Espanha abrangia os reinos de Castela e Aragão. Os dois reinos ainda
estavam sob domínio muçulmano. Em 1469, os reinos se uniram através
do casamento de Isabel de Castela e Fernando de Aragão, formando a
Espanha Moderna. Com a união dos reinos, a Espanha conseguiu
retomar, em 1492, o território de Granada que estava sob domínio
muçulmano.
Veja no mapa a seguir o reino de Granada.

Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_nasrida_de_Granada

O governo espanhol também passou a investir na expansão de suas


rotas marítimas. O navegador e explorador italiano Cristóvão Colombo,
nascido em Gênova, acreditava que a Terra era redonda e, por isso
defendia que uma das maneiras de chegar às Índias era navegar pelo
Atlântico rumo ao Oeste. Em 1492, a serviço do governo espanhol, chegou
à ilha de Guanaani, na região do Caribe e na região das atuais Bahamas e
Cuba. Posteriormente, chegou à ilha que nominou de Hispaniola (mais
tarde, São Domingos). Pensando que havia chegado às Índias, chamou os
habitantes das novas terras de índios.

111
Disponível em: http://www.invinoviajas.com/2015/05/os-vikings-
cristovao-colombo-e-o/

Alguns anos depois, Américo Vespúcio confirmou que as terras


descobertas eram de um novo continente, que levou o nome de América
em homenagem a Américo.
No ano de 1513, Vasco de Balboa cruzou a América Central,
chegando ao oceano Pacífico. Em 1519, Fernão de Magalhães deu início
à primeira viagem em torno da Terra (circum-navegação). Não chegou a
concluí-la, pois morreu no caminho. No entanto, sua tripulação concluiu a
viagem.
Observe no mapa a seguir:

112
Disponível em: http://invinoviajas.blogspot.com/2015/06/conheca-o-
vinho-que-estava-na-frota-de.html

Veja no mapa as principais conquistas dos portugueses e espanhóis


nesse período:

Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/5652141/

113
Principais conquistas da expansão Principais conquistas da expansão
marítima portuguesa: marítima espanhola:
1415: Tomada de Ceuta, importante 1492: Chegada de Colombo a um
entreposto comercial no norte da África; novo continente, a América;
1418 – 1419: Ocupação das ilhas do 1513: Vasco de Balboa cruza a
arquipélago da Madeira; América Central, chegando ao oceano
1427 – 1428: Chegada à ilha de Pacífico;
Açores no Atlântico; 1504: Américo Vespúcio afirma que a
1434: Chegada ao Cabo Bojador; terra descoberta por Colombo era um
1445: Chegada a Cabo Verde; novo continente;
1487 – 1488: Bartolomeu Dias e a 1519 – 1522: Fernão de Magalhães
transposição do Cabo das Tormentas iniciou a primeira viagem de circum-
ou Cabo da Boa Esperança; navegação da Terra, sendo concluída
1498: Vasco da Gama chega às Índias; por sua tripulação, após a sua morte.
1500: Viagem de Pedro Álvares Cabral
ao atual território do Brasil.

Caderno de atividades – Unidade 4: O Mercantilismo e a Expansão


Marítica

114
O Tratado de Tordesilhas

Como havia grande expectativa sobre a possibilidade de encontrar


novas terras para serem colonizadas, os reis de Portugal e Espanha
demonstraram interesse em se apropriar dos novos territórios, antes
mesmo de encontrá-los.
Essa possibilidade gerou alguns conflitos de interesses. Então, para
evitar o confronto armado, negociaram um acordo para demarcar o espaço
a ser dominado por cada nação. Com isso, o rei da Espanha pediu ao
Papa Alexandre VI que atuasse como mediador.
A primeira decisão foi em 1493, e estabelecia uma linha divisória
passando a 100 léguas (cerca de 660 quilômetros) a oeste do arquipélogo
dos Açores. As terras a Oeste da linha pertenceriam à Espanha e as a
leste seriam de Portugal. No entanto, essa proposta foi rejeitada pelo rei
de Portugal.
Como esse acordo não foi aceito pelo governo português, no ano de
1494, foi assinado o Tratado de Tordesilhas: esse tratado definia como
linha de demarcação o meridiano situado a 370 léguas (cerca de 2500
quilômetros) a oeste de Cabo Verde. Os territórios a leste desse meridiano
pertenceriam a Portugal e os territórios a oeste, à Espanha. Por isso, as
terras encontradas em 1500, por Pedro Álvares Cabral, passaram a
pertencer a Portugal.

115
Disponível em:
https://querobolsa.com.br/enem/historia-
brasil/tratado-de-tordesilhas

Veja no mapa a seguir como ficou a divisão territorial após o Tratado


de Tordesilhas:

116
TRATADO DE TORDESILHAS

Disponível em:
http://penta2.ufrgs.br/rgs/historia/tordesilhas.html

Caderno de atividades – Unidade 4: O Mercantilismo e a Expansão


Marítica

A relação entre a Metrópole e as colônias

A função da colônia era complementar a economia de sua metrópole


europeia, fornecendo metais preciosos (ouro e prata) e matérias-primas,
como madeira, por exemplo, e, com o passar do tempo, gêneros agrícolas
de alto valor no mercado, como o açúcar.
O trabalho nas colônias era realizado, inicialmente, pelos nativos,
chamados de índios pelos colonizadores. Geralmente, os trabalhadores

117
recebiam pouco pela atividade que exerciam e, em muitos casos, não
recebiam nada. A prática da escravidão era comum. Além de escravizar os
nativos, milhares de pessoas foram trazidas do continente africano para
trabalhar como escravos nas colônias europeias.
As colônias eram proibidas, pelos monarcas, de comercializar seus
produtos diretamente com outras nações. Também não podiam se dedicar
à indústria e à navegação. Isso as deixava em condição de dependência
de sua Coroa. O comércio com as colônias era exclusividade da burguesia
mercantil, que vendia produtos manufaturados e escravos a preços
elevados e adquiriam as mercadorias coloniais a preço reduzido.
O objetivo de manter grandes regiões sob domínio foi enriquecer as
metrópoles, através da exploração dos produtos coloniais e do trabalho
humano. Isso permitiu sustentar a nobreza, o clero, os soldados e
comerciantes e manter a subsistência do povo.
O Brasil foi colônia de Portugal durante muito tempo, de 1500 a
1822. Foram 322 anos de domínio e submissão. Nesse período, madeiras,
ouro, prata e açúcar foram levados daqui para Portugal. Nossas riquezas
foram apropriadas pela família real, a nobreza e a burguesia portuguesa.
Já grande parte do território ocupado pelo Paraná pertencia à Espanha,
inicialmente. Mas, com o passar do tempo, foi ocupado e colonizado pelos
portugueses.
A expansão marítima portuguesa e o monopólio comercial que
exercia sobre a exploração dos produtos coloniais permitiram à monarquia
de Portugal sustentar o luxo da nobreza, do clero e garantir certo conforto
a uma parte da população ocupada, através do comércio que Portugal
estabelecia com outros países.
No entanto, como este país não desenvolveu manufaturas para
produzir artigos de consumo interno ou para exportação, enfrentou graves
problemas econômicos com o declínio do Mercantilismo, porque grande

118
parte das riquezas que havia apropriado de suas colônias foi utilizada
para a importação de produtos manufaturados de outros países europeus,
para atender às necessidades de consumo da Corte, do exército e da
população das cidades ou das colônias que tinha sob controle e domínio.

Caderno de atividades – Unidade 4: O Mercantilismo e a Expansão


Marítica

LEITURA COMPLEMENTAR
O desafio de se aventurar em alto-mar
O ato de navegar pelos oceanos, atualmente, é algo muito
corriqueiro, no entanto, nos séculos XV e XVI, era uma tarefa muito
incerta, principalmente, quando se tratava de mares desconhecidos. Os
europeus tinham a experiência de navegar pelo Mediterrâneo, utilizando
embarcações mais rudimentares.
O conhecimento mitológico e a teoria Geocêntrica era o que
predominava naquela época. Por isso era muito comum a crença na
existência de monstros marinhos. Além disso, tinham o entendimento de
que a Terra era algo plano e, portanto, ao navegar para o "fim", a
embarcação poderia cair num abismo. A teoria do Geocentrismo era
defendida pela Igreja e os que tinham posições diferentes sofriam sérias
perseguições.

119
Disponível em:
http://outlander-viajandonahistoria.blogspot.com/2013/11/expansao-
maritima-europeia.html

Muitas pesquisas foram realizadas na escola portuguesa de Sagres,


com isso, houve o aperfeiçoamento da bússola, do astrolábio (ferramentas
de orientação geográfica), a produção de mapas das rotas pelos oceanos
e a criação de novos tipos de embarcação. Todos esses conhecimentos
deram condições para o desenvolvimento das grandes navegações e
possibilitaram a ampliação da visão e da compreensão de mundo do ser
humano.

Caderno de atividades – Unidade 4: O Mercantilismo e a Expansão


Marítica

120
UNIDADE 5
OCUPAÇÃO PORTUGUESA

Trechos da carta do Chefe/Cacique Seatle ao Presidente dos EUA.

“Como é que se pode comprar ou vender o céu, o


calor da terra? Essa ideia nos parece estranha (...)
Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o
homem pertence à terra (...) Sabemos que o
homem branco não compreende nossos costumes
(...) Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu,
como coisas que possam ser compradas,
saqueadas, vendidas (...) O que ocorre com a terra
recairá sobre os filhos da terra. O homem não
tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que
fizer ao tecido, fará a si mesmo”.

Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de


Washington, enviou a carta que contém o fragmento citado anteriormente
ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo
haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por
aqueles indígenas. O envio dessa carta foi há mais de um século e meio,
porém o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade.
Disponível em: http://www.culturabrasil.org/seattle1.htm

Assista ao vídeo que ilustra a música de Erasmo Carlos: A Carta Do


Índio.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=u4gV8SSsjW8

Com a chegada dos portugueses em território do atual Brasil, a


vida dos povos nativos sofreu profundas mudanças. Como era a vida
nesse território no século XVI, antes da chegada dos europeus? Como

121
as comunidades indígenas estavam organizadas? Como trabalhavam?
Por que os portugueses conseguiram conquistar/ocupar essas terras?
Como se deu o processo de conquista desse espaço? Quais foram os
principais interesses que motivaram a ocupação e colonização desse
espaço pelos europeus? Quais foram as mudanças que ocorreram a
partir da ocupação portuguesa nessa região?

A ocupação do novo território

Como já vimos na unidade anterior, Portugal e Espanha foram os


países que se destacaram nas grandes navegações porque
desenvolveram, durante o período da expansão marítima, vários
conhecimentos, dentre eles, o aperfeiçoamento dos instrumentos de
navegação, conseguindo, inicialmente, contornar a costa da África.
Como havia grande expectativa sobre a possibilidade de encontrar
novas terras para serem colonizadas, os reis de Portugal e Espanha
demonstraram interesse em se apropriar de novos territórios, antes mesmo
de encontrá-los.
Portugal e Espanha tinham os mesmos objetivos, o que gerou
conflitos entre as duas nações. Então, para evitar o confronto armado, em
1494, assinaram o Tratado de Tordesilhas, um acordo negociado, para
demarcar o espaço a ser dominado por cada nação.
Dessa forma, a conquista do território atualmente ocupado pelo
Brasil e do nosso Estado ocorreu através de um processo de acordos,
conflitos, resistências e lutas.
A partir de 1500, expedições portuguesas e espanholas,
frequentemente, ocorriam na região de Guairá, atual Paraná.

122
Disponível em: http://operariodasletras.blogspot.com/2013/11/a-
historia-de-jataizinho-e-antiquissima.html. Acesso em 21-11-2019

Os espanhóis vinham de Assunção e os portugueses, de São Paulo,


com o objetivo de implantar o sistema colonial nessa região e explorar
suas riquezas.
O longo processo de conquista e ocupação do Estado ocasionou a
destruição das sociedades nativas. A história, a cultura, os conhecimentos,
a organização do trabalho e da vida dessas sociedades sofreram imensas
transformações.
Observe no mapa a divisão das terras (do atual território do Brasil)
entre Portugal e Espanha pelo Tratado de Tordesilhas.

123
TRATADO DE TORDESILHAS

Fonte: BARROS. Darci Alda. Paraná: povo e chão em tranformação: geografia regional, 4. Ou 5. Ano –
3° edição – Curitiba, PR: Base Editorial, 2011. Adaptado do Atlas geográfico escolar, IBGE, 2002. p. 97.

O território que constituía a colônia Portuguesa na América tinha


dimensões muito diferentes das do território que o Brasil constitui hoje.

124
Observe a imagem a seguir e discuta com seus colegas sobre as
seguintes questões:
a) O que esse quadro retrata?
b) Em que época isso aconteceu? Onde isso ocorreu? Que elementos
compõem este lugar?
c) Como são as pessoas retratadas na imagem?
d) Como você imagina que foi esse encontro?
e) Se um indígena fizesse um quadro sobre esse acontecimento, como
você acha que seria esse quadro?
f) Como é possível alguém retratar algo que aconteceu antes mesmo
de ter nascido? Em que o artista pode ter se baseado?

Desembaque de Cabral em Porto Seguro – Oscar Pereira da Silva – 1902 (Acervo - Museu Paulista).

Chegada à Nova Terra

As viagens de Vasco da Gama, em 1498, concretizaram o objetivo


português de conquistar novas rotas marítimas para chegar às Índias. E
assim, os portugueses organizaram uma nova expedição, comandada por

125
Pedro Álvares Cabral, composta por cerca de 1500 homens, entre
soldados, tripulantes e religiosos.
Ao chegar em território do atual Brasil, os portugueses, inicialmente,
o chamaram de Ilha de Vera Cruz. Além dessa nomenclatura, a nova terra
foi denominada de Terra de Santa Cruz, Terra dos papagaios, e,
finalmente em 1503, Terra do Brasil.
O primeiro documento que registra a chegada à nova terra é a carta
escrita por Pero Vaz de Caminha (escrivão da armada de Pedro Álvares
Cabral), destinada a El Rei D. Manuel I. Nessa carta, datada de 1º de maio
de 1500, Caminha comunica ao rei de Portugal o encontro da nova terra e
faz uma descrição do povo que a habita, o povo indígena.

Leia a seguir, fragmentos desse documento.


A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons
rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma.
Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas
do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos
traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro.
Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o
beiço. E trazem-no ali encaixado, de sorte que não os magoa, nem lhes
põe estorvo no falar, nem no comer e beber.
Os cabelos deles são corredios. E andavam tosquiados, rapados
todavia por cima das orelhas (...).
Não houve mais fala ou entendimento com eles, por a barbaria
deles ser tamanha que se não entendia nem ouvia ninguém.
(...) fatos de que deduzo que é gente bestial e de pouco saber, e por
isso tão esquiva. Ninguém não lhes ousa falar de rijo para não se
esquivarem mais. E tudo se passa como eles querem — para o bem
amansarmos! Mas apesar de tudo isso andam bem curados, e muito
limpos. E naquilo ainda mais me convenço que são como aves, ou
alimárias, às quais o ar faz melhores penas e melhor cabelo que às
mansas, porque os seus corpos são tão limpos e tão gordos e tão
formosos que não pode ser mais! E isto me faz presumir que não tem
casas nem moradias em que se recolham; e o ar em que se criam os faz
tais. Nós pelo menos não vimos até agora nenhumas casas, nem coisa
que se pareça com elas.
Eles não lavram nem criam. Nem há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha

126
ou galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao viver do
homem. E não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e
dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E com
isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com
quanto trigo e legumes comemos.
E além do rio andavam muitos deles dançando e folgando, uns
diante os outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-
se então para a outra banda do rio Diogo Dias, o qual é homem gracioso
e de prazer. E levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se
a dançar com eles, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam e
andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem fez ali
muitas voltas ligeiras, andando no chão, e salto real, de que se eles
espantavam e riam e folgavam muito.
E estiveram um pouco afastados de nós; mas depois pouco a pouco
misturaram-se conosco; e abraçavam-nos e folgavam; mas alguns deles
se esquivavam logo. Ali davam alguns arcos por folhas de papel e por
alguma carapucinha velha e por qualquer coisa.

Pelo fato de os portugueses considerarem o povo indígena


desprovido de civilização e religiosidade, surgem as primeiras iniciativas
de introduzir a religião católica. Dias após a descoberta da nova terra, foi
celebrada a primeira missa no Brasil pelo frade e bispo português
Henrique de Coimbra, no litoral sul da Bahia.

A obra: A primeira missa no Brasil, de 1861, de Victor Meireles, mostra uma imagem
idealizada da conquista portuguesa: índios assistem à missa junto com os
portugueses (Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro).

127
A Carta de Caminha retrata o momento em que ocorreu a 2ª missa.
Na sexta-feira, primeiro dia de maio, pela manhã, saiu em terra
com nossa bandeira; e fomos desembarcar acima do rio, contra o sul
onde nos pareceu que seria melhor arvorar a cruz, para melhor ser vista.
E ali marcou o Capitão o sítio onde haviam de fazer a cova para a fincar.
E enquanto a iam abrindo, ele com todos nós outros fomos pela cruz, rio
abaixo onde ela estava. E com os religiosos e sacerdotes que cantavam,
à frente, fomos trazendo-a dali, a modo de procissão. Eram já aí
quantidade deles, uns setenta ou oitenta; e quando nos assim viram
chegar, alguns se foram meter debaixo dela, ajudar-nos. Passamos o rio,
ao longo da praia; e fomos colocá-la onde havia de ficar. Andando-se ali
nisto, viriam bem cento cinquenta, ou mais. Plantada a cruz, armaram
altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada
e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco, a ela, perto de
cinquenta ou sessenta deles, assentados todos de joelho assim como
nós. E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes
falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque
assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde
pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio
que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande,
que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E
por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar.
Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher,
moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se
cobrisse; e puseram-lho em volta dela. Todavia, ao sentar-se, não se
lembrava de o estender muito para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência
desta gente é tal que a de Adão não seria maior — com respeito ao
pudor.
Ora veja Vossa Alteza quem em tal inocência vive se converterá,
ou não, se lhe ensinarem o que pertence à sua salvação.
Acabado isto, fomos perante eles beijar a cruz. E despedimo-nos e
fomos comer.

Caderno de atividades – Unidade 5: Ocupação Portuguesa

128
A exploração do pau-brasil
Nos primeiros tempos após a chegada dos portugueses ao atual
território brasileiro, a Coroa preocupava-se em explorar o litoral, coletar
especiarias e combater traficantes de outros países. Naquele período, o
produto mais valioso era o pau-brasil, madeira da qual se extraía uma tinta
vermelha, muito utilizada na Europa no tingimento de tecidos.

Mapa do italiano Giovanni Battista Ramusio, com ilustração do escambo de pau-brasil,


publicado em 1556 no Delle Navigationi et Viaggi, um dos mais importantes relatos sobre as
descobertas marítimas. Domínio público, Biblioteca Digital de Cartografia Histórica – USP.
Disponível em: http://multirio.rio.rj.gov.br/index.php/estude/historia-do-brasil/america-portuguesa/79-as-feitorias-e-a-
coloniza%C3%A7%C3%A3o-acidental/8717-a-costa-do-pau-brasil-e-a-costa-do-ouro-e-da-prata. Acesso em 21-11-2019.

129
O pau-brasil é uma árvore típica do território brasileiro (nome científico
-Caesalpinia Echinata). Sua madeira é considerada nobre. Podendo atingir
30 metros de altura e 1,5 metros de tronco, essa árvore possui um interior
de forte coloração vermelha, num tom que se assemelha a brasas de fogo,
daí o nome dado em Língua Portuguesa.
A madeira do pau-brasil produz uma tinta rubra usada para tingir
tecidos e móveis e chamava muita atenção na Europa, pois os produtos
feitos com essa madeira ou coloridos por sua tintura tinham um alto valor.

Os portugueses não foram os únicos a extrair essa matéria-prima,


pois espanhóis e franceses também “contrabandeavam-na”, com ajuda de
nativos, em troca de peças de tecido, roupas, canivetes, facas, etc.. O
trabalho escravo indígena também foi utilizado para a extração do pau-
brasil.
Aos poucos, o pau-brasil foi se esgotando e outras atividades foram
se fortalecendo e se tornando mais rentáveis.
Os indígenas não compreendiam as razões que levavam os
colonizadores virem de tão longe para buscar essa madeira. Isso porque
havia uma diferença muito grande entre a cultura europeia e as nativas
quanto ao modo de produzir a vida, de se relacionar com os semelhantes
e com a natureza.

130
Caderno de atividades – Unidade 5: Ocupação Portuguesa

As expedições portuguesas em terras do atual território


brasileiro

No início da expansão marítima, os portugueses faziam expedições


com o objetivo de encontrar novas terras, para delas extrair riquezas.
Numa dessas expedições chegou ao Brasil, em 1500, Pedro Álvares
Cabral.
Veja o Planisfério de Cantino (1502), a mais antiga carta náutica
portuguesa conhecida — com o meridiano de Tordesillas — mostrando o
resultado das viagens de Vasco da Gama à Índia, de Colombo à América
Central, de Gaspar Corte Real à Terra Nova (Groelândia) e de Pedro
Álvares Cabral ao Brasil.

PLANISFÉRIO DE CANTINO (1502)

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Descobrimentos_portugueses. Acesso 22/10/2019.

Observe que a ilustração da costa brasileira, ocupada em abril de


1500 pela armada de Pedro Álvares Cabral está representada por grandes
árvores verdes e douradas, por arbustos azuis e por papagaios.

131
Quando os portugueses chegaram ao atual território brasileiro, este
já era ocupado há milhares de anos. Os europeus entendiam que os
habitantes daqui tinham uma cultura inferior a sua e, por isso, precisavam
ter os mesmos costumes que eles, ser convertidos ao cristianismo e
respeitar o rei português.
O litoral paranaense foi a primeira região do nosso Estado a ser
ocupada pelos portugueses, porque somente uma pequena parte das
terras próximas ao Oceano Atlântico pertencia a Portugal pelo Tratado de
Tordesilhas e o acesso pela água era o principal meio de transporte nesta
época.

Caderno de atividades – Unidade 5: Ocupação Portuguesa

A ocupação do novo território

Nos primeiros anos, o governo português tinha como preocupação


apenas extrair produtos de sua colônia e comercializá-los na Europa.
Entretanto, outros países começaram a concorrer, gerando queda dos
preços desses produtos. Outro problema a ser enfrentado era a presença
de franceses que não respeitavam o Tratado de Tordesilhas. Isso fez com
que a Coroa Portuguesa tivesse que modificar a forma de domínio das
novas terras.
Diferente das outras colônias localizadas na África e na Ásia, os
povos que ocupavam a América, geralmente, eram nômades e
seminômades. Não praticavam o comércio por produzir somente para a
subsistência. Por isso, o modo mais eficaz encontrado para garantir a

132
posse das novas terras era a colonização, tendo que transferir recursos
econômicos, enviar mão de obra e equipamentos.
Assim, em 1530, uma grande expedição comandada por Martins
Afonso de Souza chegou às novas terras com objetivo de: buscar ouro e
prata, expulsar os franceses, organizar núcleos de colonização e defesa e
expandir o domínio português até o curso do rio da Prata (devido ao fato
de esse local ser o acesso para as minas de prata do Império Inca),
desrespeitando o Tratado de Tordesilhas.
A forma encontrada para garantir a posse das terras foi dividi-las em
capitanias hereditárias.

Caderno de atividades – Unidade 5: Ocupação Portuguesa

As Capitanias hereditárias

Em 1534, o rei Dom João III dividiu a colônia em 15 faixas de terra


que iam do litoral à linha do Tratado de Tordesilhas.

133
Disponível em: https://escola.britannica.com.br/artigo/capitania/483156. Acesso 05/10/2019.

Essas áreas de terras eram as capitanias hereditárias, que foram


entregues a senhores chamados de donatários.
A Coroa delegou a tarefa de colonização e exploração das capitanias
aos donatários que podiam distribuir terras a colonos (as sesmarias),
cobrar tributos, escravizar ou vender índios, fundar vilas, etc.. Tinham o
compromisso de desenvolver a capitania com recursos próprios.
A administração, dentro desse sistema, era constituída pelo
donatário, sendo ele autoridade máxima, podendo até decretar a pena de
morte para escravos, índios e homens livres. O donatário possuía alguns
direitos, dentre eles o recebimento de parte das rendas da Colônia de
propriedade da Coroa.
O vínculo jurídico entre o rei de Portugal e cada donatário era
estabelecido em dois documentos: a Carta de Doação, que conferia a
posse, e a Carta Foral que tratava, principalmente, dos tributos a serem

134
pagos pelos colonos. Definia, ainda, o que pertencia à Coroa e ao
donatário.
Através da Carta de Doação, o donatário recebia a posse da terra,
podendo transmiti-la aos filhos, mas não podia vendê-la. Dividia sua
capitania em sesmarias de dez léguas de costa. Devia fundar vilas,
distribuir terras a quem desejasse cultivá-las, construir engenhos, entre
outras atividades.
O donatário podia doar sesmarias aos cristãos que pudessem
colonizá-las e defendê-las, tornando-se, assim, colonos. A sesmaria
baseava-se na distribuição, pelos donatários, de terras destinadas à
produção.
Havia muitas dificuldades em colonizar essas terras devido à
distância em relação à Coroa e por ser um território desconhecido. Por
isso, muitos donatários fracassaram nesse processo, prosperando
somente Martim Afonso de Souza, em São Vicente, e Duarte Coelho, em
Pernambuco. Apesar de não se desenvolver conforme as expectativas,
esse sistema vigorou até 1759.
O produto escolhido para fixar os colonizadores nas capitanias que
prosperaram foi a cana-de-açúcar, pela sua adaptação ao clima e ao solo
da região tropical e ao valor comercial do açúcar naquela época. A escolha
se deu também pela experiência que os portugueses tiveram com os
produtores de açúcar nas ilhas do Atlântico (Madeira e Cabo Verde).
A produção de açúcar nas referidas capitanias tinha três
características principais: grande propriedade rural, monocultura e
trabalho escravo, inicialmente, dos indígenas, entretanto, os nativos não
se submeteram facilmente às exigências das atividades.

135
O Governo-Geral

As dificuldades nas capitanias eram tantas que muitos donatários


nem chegaram a tomar posse das suas terras, o que gerou o insucesso
desse sistema. Entre as dificuldades encontradas destacam-se:
 a dificuldade em se adaptarem às condições climáticas;
 a falta de recursos humanos para desenvolver os lotes;
 os ataques das tribos indígenas e as disputas internas;
 a falta de comunicação entre as capitanias em função da distância
entre elas e delas com a metrópole (Portugal);
 a ausência de uma autoridade central (governo) que amparasse
localmente as Capitanias, no que se referia à economia, justiça e
segurança.
Mesmo com todas essas dificuldades, o sistema de capitanias
auxiliou na preservação da posse da terra para Portugal.
A Coroa portuguesa, ao perceber que esse sistema poderia estar
ameaçado, decidiu enviar ao Brasil, em 1548, um Governador-Geral, que
tinha como tarefa ajudar os donatários. Com a vinda deste, a capitania da
Baía de Todos-os-Santos, transformou-se na primeira capitania real ou da
Coroa, sede do Governo-Geral.
Para instituir o Governo-Geral, havia um Regimento que detalhava
as funções do novo representante do governo português na Colônia. O
Governo-Geral permaneceu até a vinda da família real para o Brasil, em
1808.
Tomé de Sousa foi o primeiro Governador-Geral do Brasil. Ele
chegou em 1549 e fundou a cidade de Salvador, a primeira da Colônia.
Trouxe três ajudantes para auxiliá-lo nas finanças, na justiça e na defesa
do litoral. Vieram também padres jesuítas chefiados por Manuel da

136
Nóbrega, encarregados da catequese dos indígenas e de consolidar,
através da fé, o domínio do território pela Coroa portuguesa.
Outros governadores, na sequência, entre eles: Duarte da Costa
(1553 - 1557) e Mem de Sá (1557 - 1572), reforçaram a defesa das
capitanias, fizeram explorações de reconhecimento da terra e tomaram
outras medidas no sentido de reafirmar e garantir a colonização.
A administração das primeiras vilas e cidades passou a ser feita por
Câmaras Municipais, compostas por três ou quatro vereadores, eleitos
pelos homens bons (proprietários de terras — elite local), presididas por
um juiz, o qual era escolhido da mesma maneira. As Câmaras Municipais e
os governos das capitanias não se submetiam facilmente ao Governador-
Geral, o que gerava conflitos, pois os donatários já estavam habituados
com uma forma mais autônoma de administração.
Com o passar dos anos, a maioria das capitanias tornaram-se
províncias.
Província é uma divisão territorial, política e administrativa usada em
certos países. Essa organização foi utilizada no período do Brasil
Imperial.

Caderno de atividades – Unidade 5: Ocupação Portuguesa

Os jesuítas

Juntamente com Tomé de Souza, em 1549, chegaram os padres da


Companhia de Jesus (os jesuítas). A Companhia de Jesus tinha dois
objetivos: um missionário e outro educacional. Para concretizá-los,

137
fundaram aldeamentos, conhecidos como reduções, para reunir e
catequizar os nativos, e construíram colégios que se tornaram centros de
referências da cultura colonial.
Em 1552, instalaram o primeiro bispado em Salvador, tendo como
seu titular o bispo Pero Fernandes Sardinha, que logo teve divergências
com os jesuítas a respeito dos povos nativos. O bispo defendia que os
indígenas só poderiam ser batizados quando falassem português, se
vestissem e se comportassem como europeus.
Devido aos inúmeros conflitos, inclusive com o Governador-Geral
Duarte da Costa, o referido bispo foi chamado de volta a Portugal. No
entanto, o navio que o levava naufragou e os que sobreviveram foram
devorados pelos índios Caeté. Esse episódio fez com que toda a
população Caeté e seus descendentes fossem condenados à escravidão.

A relação entre padres jesuítas e indígenas

Disponível em:
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiado
brasil/jesuitas.htm. Acesso em: 10/10/2019.

Os padres organizavam a educação para os índios buscando ajustar


e adequar à forma de ser dos nativos, mas mantendo a religião como
base.

138
A catequese, na qual era pregado que a verdade ou autoridade era
proveniente de Deus, buscava a interação dos padres com os nativos.
Essa prática ensinava-os a não ser negligentes, imorais e vagabundos
frente aos representantes do Senhor (sacerdotes, rei), ou seja, respeitar o
homem branco, os bons costumes e valorizar as trocas.
Os padres jesuítas utilizaram diversas estratégias sacras ou
sagradas e profanas para atingirem os objetivos almejados. Iniciaram
utilizando-se das expressões artísticas mais simples para os índios, como
a dança, o canto e o uso de instrumentos musicais, pois eram emotivos e
sensíveis, e os consideravam como atos sagrados. Aos poucos, os
jesuítas foram transformando o que era um ato comum em ofício, em
função honrosa.
Dentre as estratégias sagradas, temos as missas, os sermões e as
procissões.
As missas: Eram preparadas minuciosamente e compostas de coro,
procissão, ação/espetáculo e seguiam o calendário do Ano Litúrgico
Romano. Havia toda uma organização, inclusive na ocupação de lugares
na igreja, onde as pessoas eram classificadas quanto ao sexo e idade.
As procissões: Eram consideradas um grande espetáculo festivo
para impressionar e cativar o índio. Todos os acontecimentos do dia a dia
eram motivos para a sua realização.
Os sermões: Em seus sermões, os padres utilizavam-se da
expressão corporal, gestos e ação dramática, proporcionando momentos
mágicos, de glória e êxtase (Exemplos de Sermões: Inferno, Juízo Final,
Velho Testamento...).
Outras estratégias consideradas profanas eram utilizadas pelos
padres, tais como: a poesia e o teatro.
A poesia entrou no mundo dos nativos, trazendo significados
coloniais. Os primeiros registros poéticos são do padre Anchieta, escritos

139
em tupi, mas com ritmo e significados coloniais. Uma característica dessas
poesias é a despreocupação com o rigor dos acontecimentos dos fatos
históricos, mesclando assim o cristianismo com mitologia, alegorias,
fábulas, mistérios. O mundo mágico exige apenas a emoção do aprendiz.
O teatro, por sua vez, utilizou-se também da emoção e,
principalmente, do humor e da alegria. O conteúdo do enredo era de
formação religiosa e moral, como: Fé, Prudência, Pobreza, Amor, Temor a
Deus, etc. Os atores, para finalizar a apresentação, atraíam o auditório a
participar de desfiles, procissões, finalizando com a bênção do padre. Os
Autos eram escritos em 4 línguas: latim, português, espanhol e tupi.
No teatro, os personagens do “Bem” eram representados por anjos,
santos e virgens. Os personagens do “Mal” tinham característica e
costumes indígenas. Também apresentavam uma aparência assustadora,
pois tinham chifres, garras e eram fedorentos e todos recebiam nomes
indígenas. O teatro apresentava um conteúdo mágico, religioso, lúdico,
oferecendo à plateia sempre um final feliz, facilitando o convencimento dos
índios a absorverem conteúdos sociais que não são seus.
Os indígenas, muitas vezes, rebelavam-se com violência, mas com o
tempo, muitos passaram a temer a morte, o inferno, doenças, armas de
fogo e os castigos, principalmente, por adultério e antropofagia
(canibalismo).
A educação para a obediência era utilizada como alicerce para a
formação do hábito de trabalho e a definitiva eliminação dos antigos
costumes. Ela facilitaria e garantiria a terra para os colonizadores.
Texto elaborado com base na dissertação de Mestrado: Educação Jesuítica no Brasil - Colônia:
a coerência da forma e do conteúdo - NEVES, Fátima Maria.

Caderno de atividades – Unidade 5: Ocupação Portuguesa

140
O sistema de capitanias hereditárias e sesmarias como
estratégia de ocupação portuguesa do espaço paranaense

No espaço paranaense ficavam as capitanias de São Vicente, sob a


responsabilidade de Martim Afonso de Souza e a de Santana, sob os
cuidados de Pero Lopes de Souza. Veja a imagem a seguir:

http://conteudosdehistoriadopr.blogspot.com/p/pas.html

Os herdeiros da capitania de São Vicente a dividiram e foi criada


Paranaguá, mais ao Sul, onde os imigrantes organizaram a primeira
cidade paranaense, motivados pela notícia de que nesta região havia ouro.
O sistema de doações de terras possibilitou o surgimento de grandes
fazendas no primeiro planalto, na região conhecida como Campos Gerais,
destinadas, principalmente, à criação de gado com o uso de mão de obra
escrava.
Cada proprietário recebia extensas propriedades, com áreas entre
quatro e oito mil alqueires paulistas. Oficialmente, havia cerca de 90
pessoas que receberam estas áreas. Alguns possuíam mais de uma
sesmaria. O sistema de sesmarias deu origem ao grande latifúndio
(grandes propriedades de terra) no Paraná.

141
Nesta região havia também posseiros que ocupavam pequenas
propriedades, localizadas próximas a povoados ou estradas, destinadas
basicamente à subsistência.
A ocupação do litoral paranaense se deu, primeiramente, por
iniciativa oficial. Mas foram os aventureiros, bandeirantes e colonos que
ampliaram o domínio português para além do Tratado de Tordesilhas, se
apropriando de grandes ou pequenas áreas da região de Curitiba e dos
Campos Gerais.

Caderno de atividades – Unidade 5: Ocupação Portuguesa

Extração do ouro e a escravidão indígena

Os portugueses buscavam ouro e outros metais preciosos que


pudessem ser comercializados na Europa. Na busca dessas riquezas,
prenderam muitos índios e os forçaram ao trabalho escravo, o que gerou
muitos conflitos com as tribos.
Por isso, a pedido das autoridades, foram organizadas muitas
expedições em direção à região do Paraná para capturar índios e recrutá-
los para o trabalho escravo. Os bandeirantes paulistas se destacaram
nesta tarefa.

142
Os Bandeirantes - Foto: Domínio Público

Essa aventura foi efetuada também por muitas pessoas que tinham a
ambição de encontrar pedras e metais preciosos no sul do Brasil.
A ocupação do litoral paranaense pelos portugueses foi motivada,
inicialmente, pelo garimpo do ouro. Em 1578, já existiam garimpos
instalados e funcionando na região.
O garimpo no litoral paranaense se deu basicamente através da
exploração do leito dos rios da região, para explorar o chamado ouro de
aluvião, que recebeu esse nome por ser encontrado misturado ao barro e
outros sedimentos depositados no canal dos rios.
Esse tipo de garimpo se estendeu ao longo de vários anos para a
região da Serra do Mar, Curitiba e outros rios localizados no primeiro
planalto paranaense. Por isso, a região litorânea e a do primeiro planalto
foram ocupadas pelos mineradores, que organizaram alguns povoados,
como Paranaguá, Iguape e Curitiba.
Como os garimpeiros precisavam se locomover muito atrás de novas
áreas para serem exploradas, uma vez que o ouro do leito dos rios era
pouco, o transporte dos equipamentos e do ouro encontrado pelos
mineradores, geralmente, era feito pelos índios que viviam na região.

143
Em torno da atividade mineradora, gradativamente, comunidades
iam se formando. Várias atividades foram organizadas com a preocupação
principal de manter a subsistência destes povoados, como o cultivo de
lavouras para a produção dos alimentos e criação de animais. Também
foram iniciadas atividades comerciais.

Caderno de atividades – Unidade 5: Ocupação Portuguesa

144
UNIDADE 6
OCUPAÇÃO ESPANHOLA
Quadro de 1892 retrata a chegada dos espanhóis na

A m
Quadro de 1892 retrata a chegada dos espanhóis na
América, em 1492.
Disponível em: https://www.historiadomundo.com.br/idade-
moderna/conquista-da-america-espanhola.htm. Acesso em 22/11/2019.

Estudamos, no capítulo anterior, como foi o processo de ocupação


do território paranaense pelos portugueses. Paralelo a esse processo,
ocorreu também a ocupação espanhola.
Como se deu esse processo de conquista do espaço pela Coroa
Espanhola? Como foi a relação entre os espanhóis e os indígenas? Quais
foram os principais interesses que motivaram a ocupação e colonização do
espaço paranaense pelos espanhóis? Quais foram as mudanças que
ocorreram a partir da ocupação espanhola em nossa região?

Chegada dos espanhóis à América


A chegada dos espanhóis à América insere-se no contexto da
expansão marítima europeia. A colonização espanhola desse continente

145
começou com a chegada de Cristóvão Colombo, em 1492, a serviço da
Espanha, quando procurava um novo caminho para as Índias.
Nesse período, essas terras, mesmo sendo desconhecidas pelos
europeus, foram disputadas entre Portugal e Espanha. Para controlar a
disputa entre esses países, houve a intervenção da igreja Católica, que
sugeriu a divisão das terras descobertas e as que seriam ainda
encontradas. Por isso, Portugal e Espanha firmaram alguns acordos,
dentre eles, o Tratado de Tordesilhas.
A conquista da América pela Espanha aconteceu de forma
exploratória, isto é, os espanhóis não vinham para a América em busca de
terras para povoar, mas ocupavam o espaço, apropriando-se de suas
riquezas. Eles também dizimaram as populações indígenas, impondo sua
cultura, língua e religião.
Os espanhóis, da mesma forma que os portugueses, realizaram
várias expedições para descobrir novas terras que pudessem ser
exploradas. Os textos, na sequência, abordam de que forma ocorreu o
processo de ocupação desse território pelos espanhóis.

As expedições espanholas em território latino-americano

Através do Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, coube à


Espanha o domínio de praticamente toda a região que compreende o atual
território paranaense, incluindo, naturalmente, todo o oeste do Paraná e o
atual município de Itaipulândia.
Assim como os portugueses, os espanhóis também fizeram várias
expedições a este território com as mesmas intenções: capturar índios e
encontrar riquezas. Porém, iniciaram essa empreitada pela região oposta
ao litoral, pelo oeste, através do Rio do Prata e seus afluentes, de onde

146
seguiram para o interior, percorrendo os caminhos utilizados pelas
comunidades nativas para seu deslocamento, como o Peabiru.
Como detentora de toda essa área, a Coroa Espanhola empreendeu
suas primeiras expedições exploratórias, já nos primeiros anos de sua
posse.
Entre elas destacamos:
A expedição do Navegador Juan Dias de Solis, em janeiro de 1516,
aportou na foz de um imenso rio, que, mais tarde, ficaria conhecido como o
rio do Prata. Essa expedição foi atacada e grande parte dos integrantes foi
morta pelos índios. Os que sobreviveram retornaram à Espanha, porém,
enfrentaram uma tempestade, que ocasionou o naufrágio de uma das
caravelas, levando os sobreviventes a viverem por muitos anos entre os
índios, o que desempenhou um importante papel na exploração do rio do
Prata e na colonização do sul do Brasil.
Em 1524, Aleixo Garcia, com mais alguns náufragos da expedição
de Solis e aproximadamente dois mil índios, partiu do litoral de Santa
Catarina rumo ao Peru, e às fabulosas riquezas do Império Inca. A
expedição de Aleixo Garcia, conduzida pelos nativos, venceu a Serra do
Mar e chegou a uma trilha indígena. Esse caminho era chamado de
Peabiru pelos índios, e não era apenas uma picada em meio à mata, era
praticamente uma estrada que cortava todo o território paranaense de
leste a oeste.
Depois dessa imensa jornada, que levou cerca de quatro meses para
ser concluída, Aleixo Garcia chegou ao seu objetivo, e, com um exército
formado por dois mil flecheiros, comandou o ataque a alguns vilarejos do
Império Inca.

147
Disponível em: http://claudiohistoria.blogspot.com/2012/01/o-
caminho-de-peabiru.html. Acesso em 22/11/2019.

MAPA DEMONSTRANDO O CAMINHO DO PEABIRU NA AMÉRICA DO


SUL

Disponível em: https://www.xapuri.info/arqueologia/caminho-


peabiru-estrada-inca/. Acesso 22/11/2019.

148
MAPA DO PARANÁ MOSTRANDO O CAMINHO DO PEABIRU

Disponível em:
http://www.giamendesgoncalves.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?co
nteudo=9. Acesso em:22/11/2019.

Peabiru é uma palavra da língua tupi-guarani, “pe” significa


caminho e “abiru”, gramado amassado. A rota ilustrava perfeitamente a
descrição do nome, pois foi aberta, no meio da mata virgem e, segundo
alguns historiadores, tinha um metro e quarenta de largura. O tronco
principal do caminho de Peabiru cruzava o Estado do Paraná de Leste a
Oeste, penetrava no Chaco paraguaio, atravessava a Bolívia, a
Cordilheira dos Andes e terminava no sul do Peru, na costa do Pacífico.
Após o saque ao império Inca, que lhe rendeu inúmeras peças em
ouro e prata, o grupo bateu em retirada rumo ao litoral Catarinense. Mas,
ao chegar às margens do rio Paraguai, a tropa foi atacada por índios
extremamente agressivos, e, entre os inúmeros mortos no combate estava
o próprio Aleixo Garcia. Alguns poucos sobreviventes trouxeram consigo
objetos de ouro e prata que haviam saqueado dos Incas, e também
relataram com detalhes a expedição. Todas essas notícias, juntamente
com as histórias referentes à façanha de Aleixo Garcia e de sua
expedição, logo chegaram aos ouvidos dos reis de Portugal e da Espanha,
e se tornaram um grande atrativo para a exploração do rio do Prata e do
sul do Brasil.

149
Outra expedição, realizada por volta dos anos de 1543-1544, foi a do
Adelantado Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, que, após a fundação de
Buenos Aires e de outros núcleos urbanos, foi designado para comandar o
governo de Assuncion. Iniciou o movimento da fundação de povoados,
pois a Coroa Espanhola acreditava ser mais uma forma de garantir a
posse desses territórios.
Os adelantados, geralmente, eram pessoas influentes, que possuíam
muitos bens e capacidade suficiente para conquistarem terras ocupadas
pelos índios. Eram escolhidos pelas autoridades espanholas para governar
e administrar as terras da Coroa aqui na América.

ADELANTADO ALVAR NUÑEZ CABEZA DE VACA

Disponível em: https://www.geni.com/people/Alvar-


N%C3%BA%C3%B1ez-Cabeza-de-Vaca-5-Gobernador-del-
R%C3%ADo-de-la-Plata-y-del-
Paraguay/6000000007619041664. Acesso em 22/11/2019.

O espanhol Alvar Nuñez Cabeza de Vaca atravessou o Paraná de


leste a oeste: partiu da ilha de Santa Catarina, passou pelos Campos de
Curitiba e Campos Gerais até chegar a Assunção, no Paraguai. Nessa
viagem, informado pelos indígenas, encontrou as Cataratas do Iguaçu
(1542), ainda não descobertas pelos espanhóis, nem pelos portugueses.
Texto adaptado do Livro Itaipulândia: Seu povo, sua origem, sua história, p. 16-20. Autores: Rodison
Scarpato e Iria Bruch Böhm

150
Caderno de atividades – Unidade 6: Ocupação Espanhola

A fundação dos primeiros povoados

A Espanha, com o objetivo de garantir a posse de seus territórios,


adquiridos após o Tratado de Tordesilhas, juntamente com todas as
possíveis riquezas em ouro e prata que poderiam ser encontradas em
suas terras, percebeu que a única forma de manter os seus domínios era
através da fundação de povoados. Esses núcleos populacionais tinham
como objetivo principal a formação de novos núcleos urbanos na região,
além de provar aos portugueses que toda aquela vasta região pertencia
unicamente à Coroa Espanhola.
O objetivo dos espanhóis era povoar gradualmente toda a margem
esquerda do rio Paraná, e tentar alcançar uma saída, via terrestre até o
Oceano Atlântico, ampliando, ainda mais, os domínios da Coroa
Espanhola.
Domingos Martinez de Irala, na condição de adelantado
(governador), de Assuncion, e tendo em vista os interesses espanhóis,
determinou, em 1554, que cerca de 80 homens iniciassem a fundação da
vila de Ontiveros, na margem esquerda do Rio Paraná. A vila foi a primeira
povoação europeia fundada em território paranaense.
Ontiveros chegou a possuir um grande número de índios
encomendados (escravizados); no entanto, teve curta duração e, por
motivos ainda desconhecidos, a comunidade foi completamente
abandonada.

151
Dois anos depois, o capitão Ruy Dias Melgarejo, por determinação
do próprio Irala, fundou outra vila espanhola na região, nas proximidades
da foz do rio Piquiri. Esse novo local passou a ser chamado de Ciudad
Real Del Guairá e sua população era composta por dezenas de espanhóis
que haviam sido deslocados de Assuncion até a nova localidade.
Visto que o interesse da maioria dos espanhóis em explorar a região
era puramente econômico, e seus principais objetivos eram o
enriquecimento rápido e fácil, a Coroa Espanhola continuou suas
investidas em busca de metais preciosos pelo atual território paranaense.
Foi na procura por esses metais preciosos que, por volta de 1579,
estruturou-se um novo povoado, que foi denominado pelos espanhóis de
Vila Rica do Espírito Santo (atual município de Fênix), localizado às
margens do Rio Ivaí.
Essa denominação de Vila Rica deve-se ao fato de que foi
encontrado, na localidade, um grande número de cristais de rochas,
cristais estes que os espanhóis julgavam serem pedras preciosas de alto
valor. Após esse período, Vila Rica tornou-se um importante centro de
escravização de índios.
Texto adaptado do Livro Itaipulândia: Seu povo, sua origem, sua história, p. 16-20. Autores:
Rodison Scarpato e Iria Bruch Böhm .

Caderno de atividades – Unidade 6: Ocupação Espanhola

Encomiendas

Conforme determinação da Coroa Espanhola, toda a população


existente na região deveria ser catequizada, iniciando pelos Adelantados.
Em troca, os índios deveriam prestar serviços aos espanhóis. Esse

152
sistema, que ficou conhecido como encomiendas, originou uma condição
de escravidão dos indígenas.
Os primeiros povoados fundados pelos espanhóis eram organizados
em forma de encomiendas.
Encomienda era um sistema de trabalho obrigatório, realizado pelos
índios, sob a guarda de um fazendeiro, que era encarregado de protegê-
los e os usava como mão de obra. Era também o encarregado de pagar
os impostos à Coroa.

Esse sistema permitia aos espanhóis escravizarem os nativos,


principalmente, para a exploração das minas. Serviu também para
aculturar e evangelizar os indígenas.
Frequentemente, ocorriam conflitos, pois os índios não aceitavam
essa condição pacificamente. Por isso, foram enviados os padres da
Companhia de Jesus, no intuito de pacificá-los e convertê-los à Fé Cristã.
Para isso fundaram as reduções e passaram a ser defensores dos índios.
Os padres jesuítas não concordavam com os maus tratos que os
indígenas sofriam por parte dos encomiendeiros, o que provocou a crise
da encomienda. Os padres, não concordando com esse regime de
escravidão imposto, começaram a reuniar os indígenas em pequenas
vilas, que chamavam de reduções.

As reduções/missões jesuíticas

No processo de colonização europeia, os padres jesuítas exerceram


papel importante na relação com os indígenas. O conjunto de
reduções/missões, chamada de República Guarani, ocupava áreas do
Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil.

153
Observe no mapa a seguir:

Em nosso país, nos atuais Estados do Paraná e Rio Grande do Sul,


havia várias reduções jesuíticas, que eram um dos modelos de ocupação
espanhola na época, sob o comando e organização dos padres jesuítas da
Companhia de Jesus, como ilustra o mapa:

154
MISSÕES/REDUÇÕES JESUÍTICAS EM TERRAS DO ATUAL
TERRITÓRIO BRASILEIRO

Disponível em: https://blogdoenem.com.br/povoamento-do-interior-sec-xvii-historia-


enem/. Acesso em: 18/10/2019.

Na região do atual estado do Paraná, existiam somente duas vilas:


Ciudad Real Del Guairá, onde atualmente se situa Guaíra e Vila Rica do
Espírito Santo, no norte do Estado. Como grande parte do atual território
paranaense pertencia à Espanha pelo Tratado de Tordesilhas, foram
criadas 13 reduções jesuíticas. Essas reduções, geralmente, se situavam à
margem dos principais rios dessa grande região, em pontos estratégicos.
Isso facilitava o deslocamento e a comunicação entre elas.

155
Veja a seguir o mapa da Província Espanhola Del Guairá (atual
Paraná) – séculos XVI e XVII e o nome das reduções:

Nossa Senhora
do Loreto;
Santo Inácio
Mini;
São Francisco
Xavier;
Anunciación;
São José;
São Miguel;
Santo Antônio;
São Pedro;
São Tomé;
Los Angeles; http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/ca
Concepción ou Santa Maria; dernospde/pdebusca/producoes_pde/2009_unioe
ste_gestao_escolar_md_nestor_luiz_morgan.pdf
São Pedro e
Jesus Maria.

O que podemos observar no mapa a seguir? Discuta com seus


colegas.

Disponível em: https://blog.maxieduca.com.br/expansao-das-fronteiras-


brasileiras/. Acesso 220/11/2019.

156
Os índios que se estabeleciam nessas reduções tinham direito a
habitações para as suas famílias. Os missionários também fixavam
residência no local.
No início das reduções, as casas e as demais construções não eram
de pedra, mas, no decorrer do tempo, passou-se a utilizar esse tipo de
material, e por isso as ruínas permanecem até os dias atuais. Nessas
comunidades, a infraestrutura era bem diferente das aldeias indígenas. Ao
redor da igreja, havia uma cidade bem organizada, com ruas, casas,
escolas, hospitais, asilos para os velhos, casas para as viúvas, alojamento
para os padres, oficinas e pequenas indústrias.
Veja na imagem a seguir como era a estrutura de uma redução
jesuítica:

Disponível em: http://crv.educacao.mg.gov.br/. Acesso em


22/11/2019.

A principal atividade econômica realizada nessas comunidades era a


colheita de erva-mate, mas produziam também os alimentos de que
necessitavam para sua subsistência. Plantavam milho e mandioca e
praticavam a criação de gado. Os homens cuidavam da agricultura em
lavouras coletivas, da caça, da pesca e das construções. As mulheres
cuidavam do preparo dos alimentos e confecções de roupas.

157
Além da produção de alimentos, os indígenas tinham várias
ocupações, como a construção das casas, da igreja e das cidades.

Mapa Esquemático de Uma Missão Jesuítica. Disponível em:


http://www.pom.org.br/as-reducoes-jesuiticas-unem-mais-uma-vez-
argentina-brasil-e-paraguai/. Acesso em 24/11/2019.

Muitos trabalhavam com a produção de tecidos, outros, em estaleiros


para a construção dos barcos, em moinhos e serrarias.
Outros eram padeiros, açougueiros, alfaiates, sapateiros, pintores,
escultores, carpinteiros, marceneiros, fundidores ou fabricantes de
implementos agrícolas e instrumentos musicais.
Muitos se destacaram na área da arte, como os escultores e
músicos. Além de fabricar seus instrumentos, em algumas reduções, havia
índios que utilizavam órgão, violino, violoncelo, clarinete, flauta, harpa,
violão, trombeta e tambor.
No entanto, há poucos vestígios sobre a vida nas reduções jesuíticas
paranaenses, porque essas comunidades foram totalmente destruídas
pelos bandeirantes. Também não há indícios de construções em alvenaria
no Estado, como ocorreu nas reduções localizadas no Rio Grande do Sul,
Argentina e Paraguai.

158
Pode ser que as reduções localizadas no território paranaense não
fossem tão desenvolvidas como as de outras localidades que tiveram
maior tempo de existência. No entanto, essas comunidades possibilitavam
a satisfação das necessidades biológicas e culturais humanas. O trabalho
e a produção eram realizados coletivamente e distribuídos com o objetivo
de prover as necessidades de todos.

Caderno de atividades – Unidade 6: Ocupação Espanhola

Reduções jesuíticas no Oeste do Paraná

Com o desenvolvimento das reduções, estas passaram a


representar grande ameaça à população espanhola que habitava Vila
Rica e Guairá devido às fugas de índios das encomiendas para se
instalarem nesses locais.
Cada uma das reduções era administrada por um missionário,
auxiliado por um assistente. Os jesuítas não quebravam a hierarquia
existente nas tribos, mesmo porque os índios estavam acostumados a
seguir seus próprios chefes. Os religiosos simplesmente adaptavam os
cargos administrativos das vilas espanholas aos dos chefes indígenas
aldeados. Esse foi um dos principais motivos pelos quais as reduções
deram certo. A excelente administração e a organização praticada pelos
padres jesuítas nas reduções fizeram com que os núcleos indígenas
fundados na região Oeste paranaense prosperassem rapidamente.
O trabalho de catequização e disciplina exercido pelos padres
jesuítas sobre os índios não teve qualquer outro comparativo no mundo,

159
pois foi “original” em todos os seus aspectos, e único na dimensão que
atingiu. Em poucos anos, os missionários conseguiram aldear mais de cem
mil índios nas reduções, além de despertar nos “nativos” a disciplina e o
trabalho organizado.
O vasto território das reduções no Paraná abrigou grande quantidade
de aldeamentos, que chegou ao número de treze às margens dos rios.
No Oeste do Paraná, todos os anos, os índios desciam o Rio Paraná
em direção a Santa Fé ou Buenos Aires em suas canoas abarrotadas de
mercadorias para serem trocadas e comercializadas. Isso fazia do território
que hoje é conhecido como Itaipulândia um local de forte movimentação
indígena.
O grande sucesso e o rápido crescimento das reduções jesuíticas
fizeram com que aumentassem as preocupações por parte dos espanhóis
que moravam na região, e dos bandeirantes que estavam do lado
português.

Caderno de atividades – Unidade 6: Ocupação Espanhola

A destruição das reduções

Os bandeirantes, a serviço da Coroa portuguesa, organizavam


expedições, ou bandeiras como também eram conhecidas, para
percorrerem o interior do país à procura de indígenas e pedras preciosas.
Os índios, depois de aprisionados, eram levados a São Paulo e vendidos a
proprietários de terras e comerciantes.

160
Esses bandeirantes tinham o firme propósito de impedir, de uma vez
por todas, a expansão espanhola, que vinha aumentando dia após dia,
através do grande número de reduções que surgiam. Foi então que, em
1628, organizaram uma Bandeira, chefiada por Antônio Raposo Tavares e
Paulo do Amaral.
Para atingir o objetivo, os bandeirantes, depois de longa jornada,
acamparam próximo a algumas reduções jesuíticas e deram início à
captura dos índios e destruíram grande parte das aldeias e reduções
existentes na região.
Onze das treze reduções do Paraná foram destruídas, restando
somente duas: Santo Inácio Mini e Nossa Senhora de Loreto, isso porque
quando lá chegaram, encontraram-nas desertas. Os jesuítas que
sobreviveram abandonaram as reduções após os ataques e dirigiram-se
com os índios que lhes restaram para o atual Estado do Rio Grande do
Sul, através do Rio Paraná. Para isso, enfrentaram todos os tipos de
problemas, como a forte descida da correnteza, a fome, as doenças e todo
o tipo de imprevistos que foram surgindo durante a fuga.
Alguns padres, numa atitude de desespero, abandonaram inúmeras
reduções e dispersaram os índios, para que estes também não fossem
aprisionados ou mortos pelos bandeirantes.
Tudo indica que os espanhóis foram favoráveis aos ataques das
bandeiras paulistas, pois nada fizeram para socorrer ou ajudar os jesuítas
das Reduções. O motivo pelo qual isso provavelmente tenha ocorrido foi a
grandiosidade e a rapidez com que estavam se desenvolvendo as
reduções.
Além do mais, a situação nos centros espanhóis de Vila Rica e
Guairá tornou-se tão grave pela falta de mão de obra, e pela concorrência
comercial praticada pelos jesuítas, que as duas povoações entraram numa
fase de nítida decadência.

161
BANDEIRANTES E PADRES JESUÍTAS

Disponível em: paraeleseelaseducacao.blogspot.com

As reduções jesuíticas da região do Guairá jamais puderam se


reestruturar, desaparecendo definitivamente do território paranaense.
Toda essa região, que antes se encontrava num adiantado processo
de crescimento e desenvolvimento, conseguido com as reduções, viu-se
esquecida e quase abandonada por um longo período. Não atraiu mais a
atenção de portugueses e espanhóis.
Outro importante motivo que desestimulou o interesse de espanhóis
e portugueses sobre estas terras foi a dificuldade de acesso existente para
se chegar até a região, visto que esta era toda coberta por densas e
exuberantes matas.

Texto adaptado do Livro Itaipulândia: seu povo, sua origem, sua história, p. 21-27. Autores: Rodison
Scarpato e Iria Bruch Böhm.

Caderno de atividades – Unidade 6: Ocupação Espanhola

162
Leitura Complementar
O índio e o europeu

Um velho Tupinambá conversa com um colono francês. Os


Tupinambá muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se
darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan (madeira pau-brasil). O
velho perguntou-lhe:
— Por que vindes vós, outros, maíres e pêros (franceses e
portugueses), buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes
madeira em vossa terra?
Respondeu que tinham muita, mas não daquela qualidade, e que
não a queimavam, como ele supunha, mas dela extraíam tinta para tingir,
tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente:
— E porventura precisais de muita?
— Sim — respondeu-lhe — pois em nossas terras existem
negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras
mercadorias do que podeis imaginar. E um só deles compra todo o pau-
brasil com que muitos navios voltam carregados.
— Ah! — retrucou o selvagem — tu me contas maravilhas, mas
esse homem tão rico de que me falas não morre?
— Sim — disse o colono — morre como os outros.
Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em
qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-lhe de novo:
— E quando morrem, para quem fica o que deixam?
— Para seus filhos, se os têm, disse o francês; na falta destes, para
os irmãos ou parentes próximos.

163
— Na verdade — continuou o velho, que como vereis não era
nenhum tolo — agora vejo que vós outros maíres sois grandes loucos,
pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando
aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos
ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu
suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem
amamos; mas estamos certos de que, depois de nossa morte, a terra que
nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores
cuidados.
Jean de Léry. Viagem à terra do Brasil. Disponhttp://blogs.abril.com.br/trblog/2010/10/indio-
europeu.html

Caderno de atividades – Unidade 6: Ocupação Espanhola

164
UNIDADE 7
A ESCRAVIDÃO DO AFRICANO NO BRASIL E NO PARANÁ

A Canção do Africano "Lá todos vivem felizes,


Castro Alves Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Lá na úmida senzala, Como aqui, só por dinheiro".
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão, O escravo calou a fala,
Entoa o escravo o seu canto, Porque na úmida sala
E ao cantar correm-lhe em pranto O fogo estava a apagar;
Saudades do seu torrão... E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
De um lado, uma negra escrava O seu filhinho a sonhar!
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar... O escravo então foi deitar-se,
E à meia voz lá responde Pois tinha de levantar-se
Ao canto, e o filhinho esconde, Bem antes do sol nascer,
Talvez, pra não o escutar! E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
"Minha terra é lá bem longe, Pois bastava escravo ser.
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita, E a cativa desgraçada
Mas à outra eu quero bem! Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
"O sol faz lá tudo em fogo, Talvez temendo que o dono
Faz em brasa toda a areia; Não viesse, em meio do sono,
Ninguém sabe como é belo De seus braços arrancá-lo!
Ver de tarde a papa-ceia! http://www.ruadapoesia.com/content/view/219/44/

"Aquelas terras tão grandes,


Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar...

165
Os poemas de Castro Alves são marcados pelo combate à
escravidão, motivo pelo qual é conhecido como “poeta dos escravos”. A
Canção do Africano, um dos poemas por ele produzidos, retrata um pouco
sobre a vida do escravo negro no Brasil e suas dores por ter deixado a
terra de origem – a África, bem como a forma como passou a ser tratado.
Após a leitura do poema, discuta com seus colegas sobre o que fala cada
uma das estrofes.

Apresentação

Sabemos que a população brasileira é composta por inúmeras


origens, ou seja, é resultado de uma mistura de índios, europeus e
africanos, entre outras, que, por vários motivos, e em diferentes épocas,
migraram para o território brasileiro.
No entanto, o caso dos afrodescendentes (como são chamados os
descendentes dos africanos) é peculiar, pois seus ancestrais foram
trazidos à força de seu continente de origem, a África, e submetidos ao
trabalho escravo por quase quatro séculos. Portanto, muitas das riquezas
da América portuguesa foram produzidas através do trabalho escravo
negro.
A escravidão negra no Paraná, por sua vez, se fez presente desde o
século XVII, nas primeiras vilas paranaenses como Paranaguá e Curitiba,
contudo, na medida em que a economia se desenvolvia, os negros eram
introduzidos nas atividades agropastoris do primeiro e segundo planaltos.
Houve a participação paranaense no comércio negreiro,
especialmente a do Porto de Paranaguá, que serviu como um dos

166
principais embarcadouros do país no contrabando de escravos no período
em que ocorreu a proibição do seu tráfico.
A escravidão dos africanos no Brasil estendeu-se até o ano de 1888,
portanto, os africanos foram escravizados por mais de 300 anos.

O que motivou o tráfico de escravos para o Brasil? De que maneira


os escravos africanos contribuíram para a ocupação do espaço brasileiro
e paranaense? Que marcas a escravidão deixou na sociedade brasileira e
paranaense? Como eram as condições de vida e de trabalho dos
escravos negros no Brasil?

O negro africano em substituição à mão de obra indígena

O índio, da condição de trabalhador livre, foi submetido, pela força


das armas, a um sistema até então desconhecido por ele: o trabalho
escravo. Em algumas capitanias, como a de São Vicente, o índio foi
escravizado até fins do século XVII, e no Pará e Maranhão, até fins do
XVIII.
No início da colonização, o homem branco utilizou a mão de obra
indígena. No entanto, a dificuldade de controlar essas populações que
resistiam ao processo de dominação e escravização e o interesse da Igreja
em utilizá-los como novos convertidos ao cristianismo católico fez com que
a exploração da mão de obra indígena não tivesse muito êxito.
Como havia a necessidade de força de trabalho, Portugal passou a
investir no tráfico de escravos vindos da Costa Africana. A maioria dos
escravos africanos provinha de lugares como Angola, Guiné, Benin,

167
Nigéria e Moçambique. Os traficantes trocavam seres humanos por
produtos como fumo, armas e aguardente. Após serem comprados, eram
transportados nos chamados navios negreiros e desembarcavam,
principalmente, nas cidades do Rio de Janeiro, Salvador, Recife e São Luís
para trabalhar na produção de açúcar.
Veja na imagem a seguir as principais rotas de tráfico de escravos
(das etnias dos sudaneses e bantos) da África para o Brasil:

Disponível em: http://www.memoriaitaperiuense.com.br/2010/02/os-negros-no-


itaperiu.html. Acesso em: 18/10/2019.

A partir de meados do século XVII, o número de trabalhadores


escravos africanos superou o de indígenas nas áreas produtoras de
açúcar no Brasil. A substituição da mão de obra indígena por escravos
negros se deu devido a alguns fatores, tais como: as dificuldades para
abastecer regularmente as zonas canavieiras de mão de obra indígena,
dada a dispersão do índio pelo território; a defesa do índio pelos padres
jesuítas; as guerras indígenas em reação à escravidão, entre outras.

168
Nas fazendas açucareiras com maior poder aquisitivo, passaram a
dar preferência à mão de obra africana.
A partir do trabalho educativo realizado pelos padres jesuítas da
Companhia de Jesus, estes passaram a ser defensores dos povos
indígenas. Isso porque entendiam que os nativos deveriam ser iniciados
na fé cristã. Porém, concebiam os africanos como “infiéis” por eles
associarem-se ao Islamismo.
Pressionada pela Igreja, a coroa Portuguesa chegou a proibir o
trabalho escravo indígena, mas este continuou em regiões mais pobres,
pois o preço do nativo era menor que o do escravo africano.
A partir de meados do século XV, o comércio de escravos africanos
foi uma das atividades econômicas mais lucrativas para os europeus.
Juntamente com a compra e venda de homens e mulheres, houve o
avanço da indústria naval e o cultivo de fumo.
Estima-se que, cerca de 4 milhões de escravos, entre os séculos XVI
e XIX, foram trazidos à América portuguesa.

Caderno de atividades – Unidade 7: A escravidão do africano no


Brasil e no Parana

As condições de vida, de trabalho e a resistência dos negros


no Brasil

Por muito tempo, os negros africanos foram considerados e tratados


como mercadorias. Ao serem capturados, eram transportados nos porões
de navios. Ao chegarem em terras americanas, eram exibidos nos
entrepostos comerciais a compradores.

169
Nas fazendas, os escravos negros ficavam confinados em lugares
conhecidos como senzalas. Trabalhavam nos canaviais, nas moendas,
caldeiras, etc. e tinham poucas horas de descanso. Aos domingos, ainda
cultivavam a roça para seu próprio sustento, tendo a mandioca como base
alimentar. A expectativa de vida de um escravo era baixíssima, tendo em
vista as condições de trabalho e de alimentação a que eram submetidos.
Inúmeras técnicas e instrumentos de tortura foram criados e
utilizados para castigar os escravos, tais como: o chicote, o tronco, a
máscara de ferro, o pelourinho, entre outros, que eram usados pelos
senhores para a manutenção da disciplina e da obediência de seus
escravos.

Feitores castigando negros (Debret, séc. XIX).

"Aplicação do Castigo do Açoite", do francês Jean-Baptiste Debret – Reprodução

170
O bolo era um castigo que consistia em bater na mão do escravo com uma espécie de palmatória de
madeira.

Os proprietários ordenavam a execução de severos castigos por


infrações cometidas, tais como: o tronco, onde o escravo era preso e
açoitado; o varamundo, instrumento de ferro, onde as mãos e os pés
ficavam presos; a gargalheira, consistia em um colar de ferro com vários
braços em forma de gancho. Havia punições mais severas para as
infrações mais graves, como a quebra de dentes a martelada, entre outras.
As punições eram permitidas por lei.
As condições sub-humanas não foram aceitas pacificamente, pois os
registros históricos evidenciam a luta e resistência dos escravos negros.
Alguns se suicidavam ou matavam seus feitores e, muitos, que
conseguiam escapar, embrenhavam-se nas matas, onde constituíam
povoados chamados de quilombos.
Os quilombos possibilitaram a resistência e a produção da vida
coletiva. Os habitantes produziam seus alimentos e desenvolviam
pequenas oficinas de roupas, móveis e instrumentos de trabalho. Nesses

171
locais cultivavam as crenças, tradições e costumes africanos. Seus
habitantes preferiam morrer a voltar à condição de escravos.
Palmares é o quilombo mais conhecido e teve origem na virada do
século XVI, no atual estado de Alagoas. Tinha como líder mais famoso —
Zumbi dos Palmares. Esse quilombo é símbolo da resistência
afrodescendente, pois derrotou mais de trinta expedições, comandadas
por chefes militares de renome, vindo a ser destruído somente em 1695.
Zumbi tornou-se símbolo da luta dos africanos e de seus descendentes.
Ele foi morto em 20 de novembro de 1695. Esse dia, atualmente, é
considerado o Dia Nacional da Consciência Negra, escolhido em sua
homenagem.
Apesar da resistência dos escravos, a escravidão no Brasil foi
abolida somente em 13 de maio de 1888, com a assinatura da Lei Áurea,
pela princesa Isabel, filha do imperador Dom Pedro II. Desde então, os
negros e seus descendentes vêm lutando para garantir a sobrevivência e
contra as diversas formas de preconceito e discriminação.

Caderno de atividades – Unidade 7: A escravidão do africano no


Brasil e no Parana

Discuta com seus colegas:


Por que a escravidão foi extinta no Brasil nesse período?
Que fatores contribuíram nesse processo?
O fim da escravidão resolveu todos os problemas do afro-brasileiros?

172
A abolição da escravatura no Brasil

Por mais de 300 anos, a economia brasileira foi movida pelo trabalho
escravo, enquanto na Europa, com o desenvolvimento do capitalismo,
predominava o trabalho assalariado.
O processo de lutas que conduziu à abolição da escravatura durou
um longo período até consolidar-se em 1888.
Dentre os fatores que resultaram na abolição, destacaram-se:
 luta dos próprios escravizados por liberdade;
 a pressão da Inglaterra pelo fim do comércio de escravos;
 o movimento abolicionista.
A luta dos escravizados
Os escravos resistiam à escravidão das mais variadas formas.
Dentre elas destacavam-se: a desobediência a seus senhores, jogar
capoeira, promover revoltas, fugir e formar quilombos. Duas revoltas que
se destacaram foram a Revolta Escrava de 1835, em Salvador, na Bahia e
a Revolta de Manuel Congo, em Pati de Alferes, no Rio de Janeiro, em
1838. Em ambas, os rebeldes foram vencidos. Apesar disso, essas
revoltas contribuíram para o enfraquecimento da escravidão.
A Inglaterra contra o comércio de escravos
Durante muito tempo, a Inglaterra lucrou com a venda de escravos.
Mas, no início do século XIX, esse país passou a combater o comércio de
escravos para o Brasil, pois queria ampliar a venda de suas mercadorias e,
para isso, precisava de trabalhadores assalariados, uma vez que os
escravizados não possuíam dinheiro; além disso, parte dos políticos da
Inglaterra era contrária à prática da escravidão por considerá-la
desumana.

173
Em 1845, a Inglaterra declarou guerra ao tráfico negreiro, dando a
sua Marinha o direito de perseguir, prender e bombardear os navios que
transportassem africanos escravizados. Por isso, em 1850, o Imperador do
Brasil, Dom Pedro II, aprovou a Lei Eusébio de Queirós, proibindo a
entrada de escravos no Brasil.
O Movimento abolicionista
O movimento abolicionista era liderado por pessoas livres que não se
conformavam com a existência da escravidão. Era formado por jornalistas,
engenheiros, advogados, escritores e políticos. Vários deles haviam sido
vítimas de preconceito racial por serem de origem negra ou por terem
amigos negros. Pediam o fim da escravidão através de panfletos, jornais,
comícios, passeatas.
Esse conjunto de fatores possibilitou a assinatura da Lei Áurea. O
projeto avançou e, no dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel, enquanto
princesa regente do Brasil, assinou o documento que garantiu a abolição
da escravatura. Cerca de 700 mil escravos ganharam a sua liberdade, mas
sem haver nenhuma medida de integração social e econômica. O governo
não criou leis nem ofereceu condições para os libertos terem chances de
se integrarem à sociedade. Isso fez com que o negro continuasse
extremamente marginalizado na sociedade brasileira.

Criação da Lei Áurea


Antes da Lei Áurea, outras leis foram criadas: O tráfico negreiro, por
exemplo, que se manteve bastante ativo em nosso país até 1850. Seu fim
só aconteceu de fato, por meio da Lei Eusébio de Queirós, em razão das
pressões e do risco de guerra com a Inglaterra. Outra lei criada foi a Lei
do Ventre Livre, aprovada em setembro de 1871 e que tinha como
objetivo principal controlar a causa abolicionista. A lei funcionava da
seguinte maneira: a partir daquela data, todos os filhos de escravos seriam

174
considerados livres, mas seriam obrigados a trabalhar por um tempo como
compensação. Estipulava que o filho até os 8 anos ficava sob a autoridade
do senhor de sua mãe. Aí o fazendeiro escolhia: ou recebia do governo
uma indenização de 600 mil-réis e entregava a criança ao governo ou
continuava usando os seus serviços até os 21 anos.
Outra lei criada foi a Lei do Sexagenário de 1885, que declarava
livres as pessoas com 60 anos ou mais. Mas, como indenização, deveriam
trabalhar gratuitamente mais três meses. Ou então só seriam livres aos 65
anos.
Texto, com adaptações, extraído do livro: Júnior, Alfredo Boulos. Conectados História – 4º ano
São Paulo, 2018.

Caderno de atividades – Unidade 7: A escravidão do africano no


Brasil e no Parana

Período escravista paranaense

No período em que ocorreu a ocupação portuguesa no território


paranaense, desde quando foram encontrados os primeiros vestígios de
ouro no Litoral (1570), o trabalho escravo foi largamente utilizado. A
colonização se deu, inicialmente, com a escravidão dos índios,
principalmente,, no Litoral e Primeiro Planalto. Mais tarde, no período da
ocupação dos Campos Gerais, houve também escravidão de africanos.
Durante cerca de três séculos, era muito comum a prática de
capturar índios e transformá-los em escravos. Nas atividades de
mineração, a utilização de escravos indígenas era corriqueira. No trabalho
com a erva-mate também.

175
No entanto, por volta de 1750, o número de escravos africanos no
Paraná superou o dos indígenas. Os africanos eram trazidos ao Estado,
geralmente, pelo Porto de Paranaguá. Contudo, havia a aquisição de
escravos negros nos principais centros de comércio de gado, por onde
passavam os tropeiros dos Campos Gerais e dos Campos de Curitiba.
Era muito comum a existência de escravos índios e africanos
convivendo e dividindo as tarefas nas propriedades, apesar das diferenças
linguísticas, culturais, sociais e religiosas, que existiam entre eles.
Foi durante o ciclo do gado ou tropeirismo que a mão de obra
escrava africana foi mais utilizada. Porém, não havia muitos escravos nas
propriedades, porque poucos trabalhadores cuidavam de muitos animais.
Havia alguns fazendeiros que possuíam até 30 escravos, mas, na maioria
das propriedades, o trabalho era realizado por um número menor.
Durante o final do século XVIII e ao longo do século XIX, a
população escrava negra no Paraná era pequena, se comparada a alguns
estados brasileiros. Em 1772 havia aproximadamente 1.700 escravos no
Estado. Cerca de cem anos mais tarde, o número de escravos africanos
era de aproximadamente 11.000 pessoas. Mesmo assim, esse número
expressa que o trabalho escravo ocupava cerca de 9% da população da
época.
A ocupação do território paranaense e a escravidão indígena
acabaram por destruir as sociedades nativas desta região.
A substituição do trabalho escravo pelo assalariado só foi possível
com a chegada dos imigrantes europeus, possibilitando a expansão da
colonização e ocupação do território paranaense.
O trabalho escravo permaneceu oficialmente ainda em algumas
propriedades até 1888, ano em que foi publicada a lei Áurea, que abolia
este tipo de trabalho no Brasil.

176
Caderno de atividades – Unidade 7: A escravidão do africano no
Brasil e no Parana

Comunidades quilombolas como forma de resistência

Inicialmente, o trabalho dos escravos africanos foi utilizado em


Paranaguá e Curitiba, nos serviços domésticos, nas atividades
mineradoras ou na colheita e transporte da erva-mate. Porém, o trabalho
agropecuário, em fazendas e invernadas, ocupou os negros em maior
quantidade no Primeiro e Segundo Planaltos do Estado.
Uma das formas de resistir à escravidão era fugir das propriedades
para locais de difícil acesso, onde formavam comunidades (quilombos) e
ali viviam. Muitas dessas comunidades remanescentes de quilombos
paranaenses são pouco conhecidas.
Há cerca de 90 comunidades de remanescentes de quilombos no
Estado, das quais 36 já reconhecidas pela Fundação Palmares. As demais
reivindicam a regularização da posse da terra em que habitam e lutam
para manter suas tradições, sua origem, sua cultura, seus valores e o
modo de trabalhar.
As pessoas que vivem nessas comunidades foram esquecidas pelas
autoridades políticas municipais e estaduais por muito tempo e por isso
não possuem os benefícios e as condições de vida que a maioria dos
cidadãos paranaenses tem, como luz elétrica, água tratada, escolas,
postos de saúde e moradias confortáveis.

Caderno de atividades – Unidade 7: A escravidão do africano no


Brasil e no Parana

177
Com a finalidade de conhecer, respeitar e valorizar a cultura,
costumes, tradições, valores e o modo como as pessoas vivem,
trabalham e produzem nas comunidades quilombolas, leia os textos a
seguir, que descrevem a organização de algumas que ainda existem no
Paraná, pois a imigração africana também foi uma forma de ocupação
desse território.

Comunidades remanescentes de quilombos no Paraná

A economia paranaense cresceu utilizando-se de mão de obra


escrava. O trabalho escravo foi amplamente utilizado no corte, transporte
e beneficiamento da erva-mate e no tropeirismo.
Na atividade com o gado, além de conviverem e trabalharem com
índios escravizados, os negros também trabalhavam ao lado de pessoas
livres assalariadas.
No entanto, pouco se sabe sobre como era a vida dos escravos no
Paraná. Como eram as relações entre senhores e escravos, ocupações e
processos de resistência desenvolvidos por eles para se libertar de seus
donos.
Como existem comunidades quilombolas no Estado, é possível que o
conhecimento sobre a vida das pessoas que aí residem, sua história, seus
costumes e tradições, possa indicar algumas características de como
viviam no período da escravidão. A presença africana deixou marcas
profundas na organização social e produtiva dessas comunidades.
Atualmente, há dezenas de comunidades remanescentes de
quilombos localizadas em vários municípios do Estado. A Federação das
Comunidades Quilombolas do Paraná apresenta alguns aspectos sobre a
história e a vida dessas comunidades que ajudam a entender como o

178
passado escravo interferiu na organização social, nos costumes e
tradições destes locais.

Comunidade Quilombola Apepu – São Miguel do Iguaçu

Situada no município de São Miguel do Iguaçu, tem como cidade


mais próxima, distante 20 quilômetros, Santa Terezinha de Itaipu. A
comunidade escolheu o nome de Apepu em referência a um tipo de
laranja, abundante na região.
Dona Aurora Correia, filha de Djanira Rafaela e de Florentino
Correia, conta que a história da comunidade está no livro da História de
Foz do Iguaçu. Seu pai, Florentino Correia, nascido em 1901, veio ainda
criança, antes de 1905, para Apepu com seus pais.
O avô de Dona Aurora iria trabalhar na instalação da linha telegráfica
que ia até Foz do Iguaçu. Quando terminaram de instalar a linha, ele
ganhou oitenta alqueires de terras no atual município de São Miguel do
Iguaçu. Dessas terras restaram apenas vinte alqueires, pois no decorrer do
avanço da fronteira agrícola no Sudoeste, foram-lhe tomando/“comprando”
pedaço por pedaço.
Outros percalços aconteceram durante a revolução de 1924, quando
tanto os revolucionários quanto tropas do Governo tomavam o que
queriam dos moradores, e mesmo as forças do Governo dando recibo do
que levavam para pagar depois da revolução, nunca pagaram. A
locomoção até a cidade mais próxima é a cavalo ou a pé. O cultivo mais
importante para a alimentação é o milho. Para venda, o cultivo é de soja,
cujo produto é vendido para uma cooperativa. A principal dança da
comunidade é o fandango.

179
Comunidade Quilombola Manoel Ciríaco dos Santos – Guaíra

A comunidade, localizada no município de Guaíra, tem como cidade


mais próxima Terra Roxa, a 20 quilômetros de distância. Seus membros
fixaram-se no Paraná após fugas sucessivas de condições idênticas às de
escravidão e tem seu nome em homenagem ao patriarca que os guiou até
esse local.
José Maria Gonçalves, filho de Manoel Ciríaco dos Santos, conta
que a história da comunidade começa com José João Paulo e sua esposa,
Maria Joana, escravizados no estado de Minas Gerais. Trabalhavam no
garimpo e tiveram vários filhos, entre eles Joaquim Paulo dos Santos, que
casou com Maria Izidora dos Santos, ambos alforriados e que também,
como seus pais, trabalharam para os senhores do garimpo e nas lavouras
de cana e de café, sem reconhecimento dos trabalhos. Desse casamento
nasceu Manoel Ciríaco dos Santos, que depois de muito trabalhar para
fazendeiros em Minas Gerais, foi para São Paulo em busca de real
liberdade e finalmente para o estado do Paraná, fixando-se, já em meados
do século XX, com os seus, no Patrimônio do Maracaju dos Gaúchos, no
município de Guaíra. A referência geográfica da comunidade é o rio
Barigui e os meios de transporte mais utilizados na atualidade são o
cavalo e a carroça.
O cultivo maior na lavoura é o de mandioca, que é vendida para um
comerciante da cidade. O trabalho é feito por homens e por mulheres. Nos
quintais são plantadas as verduras. Os quilombolas também criam
animais. As práticas religiosas na comunidade são variadas: há adeptos e
seguidores do candomblé e da umbanda, católicos e evangélicos. O santo
padroeiro é São João. Outros santos venerados são Nossa Senhora

180
Aparecida, Santo Antônio, São Pedro e São Benedito. Uma das tradições
mais antigas cultivadas por eles é a Folia de Reis e o batuque.
Além dessas duas comunidades quilombolas, temos ainda, em
nosso Estado outras, conforme apresenta o mapa:
COMUNIDADES REMANESCENTES DE QUILOMBOS NO
ESTADO DO PARANÁ

Disponível em:
http://www.gtclovismoura.pr.gov.br/modules/conte
udo/conteudo.php?conteudo=62. Acesso em
25/11/2019.

181
Caderno de atividades – Unidade 7: A escravidão do africano no
Brasil e no Parana

Você sabia?
 Que o negro deixou marcas profundas na própria composição física
do povo brasileiro?
 Que o negro trouxe importantes contribuições para a cultura e para a
formação do povo brasileiro, podendo citar:
– diversos vocábulos falados no idioma, como: angu, batuque,
banguela, cachaça, cachimbo, camundongo, chuchu, dengo,
fubá, moleque, muamba, entre tantos outros?
– hábitos alimentares, principalmente da culinária baiana?
– instrumentos musicais, como tambores, atabaques, flautas,
marimbas, cuícas e berimbaus;
– ritmo musical das canções populares brasileiras, como o
samba;
– danças, como o cateretê, o jongo, etc.?

182
UNIDADE 8

BRASIL: DO IMPÉRIO À REPÚBLICA

CAPÍTULO 1

Um país chamado Brasil

Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mapa_do_Brasil_com_a_Bandeira_Nacional.png. Acesso
em 27/11/2019.

A condição atual do Brasil como um país “independente” foi resultado


de muitas transformações, ou seja, de um longo processo histórico.
Estudamos até o momento como se deu o processo de ocupação europeia
a partir de 1500, como foi a relação entre colonizadores e nativos e de que
forma os portugueses e espanhóis fizeram para garantir a posse do “Novo
Mundo”.
Após inúmeros acordos, conflitos e tratados, a área do atual Brasil
passou a pertencer unicamente a Portugal.

183
Converse com seus colegas e professor(a) sobre o que você ouviu
falar a respeito dos fatos históricos que marcaram esse período: a
Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração Baiana (1798) e a vinda da
Família Real para o Rio de Janeiro (1808). Sobre esses acontecimentos
estudaremos nessa unidade. Além disso, estudaremos sobre questões da
economia nacional e estadual que se configuraram nesse período.

A insatisfação na Colônia Portuguesa

No final do século XVII, o ciclo da cana-de-açúcar no Brasil Colônia


entrou em crise, pois, na Europa, havia oferta de açúcar mais barato e de
melhor qualidade. Vale ressaltar que sua produção ocorria, principalmente
na região Nordeste, com destaque para as capitanias da Bahia e de
Pernambuco, utilizando mão de obra escrava. A crise econômica fez com
a Colônia tivesse que buscar outras alternativas. Nesse período, foram
encontradas as primeiras jazidas de pedras preciosas na região do atual
estado de Minas Gerais, atraindo muitas pessoas, mudando o eixo
econômico e marcando o início ao Ciclo do Ouro.
De acordo com o Pacto Colonial que regulava a administração das
capitanias, todas as colônias deviam fornecer à Metrópole metais
preciosos ou produtos tropicais de grande aceitação na Europa, além de
serem impedidas de desenvolver certas atividades econômicas.
Em meio às mudanças que estavam ocorrendo na Europa no século
XVIII e em outros lugares da América (a exemplo da Independência dos
Estados Unidos em 1776), a partir do desenvolvimento do Capitalismo,
estava a Colônia portuguesa, ainda sob o domínio de Portugal, sofrendo

184
com as altas taxas de impostos que deveria pagar à Coroa. Havia a prática
da cobrança do “Quinto” que consistia no pagamento à Coroa de 20% do
ouro extraído, principalmente da Capitania de Minas Gerais.
No final do século XVIII, houve o esgotamento das minas e os
proprietários não tinham mais como pagar os tributos exigidos pela Coroa,
acumulando dívidas.

Caderno de atividades – Unidade 8: Do Império à República

O que estava acontecendo no território do atual estado do Paraná no


período do ciclo do ouro? A exploração de minérios em Minas Gerais
trazia interferências na região do nosso Estado?

A relação entre o ciclo do ouro no Brasil e o ciclo da pecuária


no território do atual estado do Paraná

Os portugueses ocuparam, inicialmente, a região do litoral


paranaense onde houve a extração de ouro, dando origem às primeiras
cidades: Paranaguá, Antonina, Morretes e Curitiba (atual capital do
Estado).
No entanto, em grande parte do território paranaense, os
portugueses não conseguiram estabelecer comunidades, vilas e nem
mesmo ocupar e cultivar a terra, porque, durante o período colonial, o
Nordeste (com a cana-de-açúcar) e o Sudeste (com a extração do ouro)
apresentavam um interesse econômico maior.
O desenvolvimento do comércio estabelecido com a região de Minas
Gerais, local onde foram descobertas jazidas de ouro, impulsionou a

185
criação de gado em terras do atual Paraná, devido à necessidade de
alimento. A criação, transporte e comercialização do gado originou o ciclo
econômico do Tropeirismo, que possibilitou o surgimento de muitas
cidades em torno dos caminhos das tropas que saíam do Rio Grande do
Sul, Uruguai e Argentina com destino a Sorocaba–SP, depois seguiam
para Minas Gerais.

Disponível em: https://estanciavirtual.com.br/inicial/2017-04-17-crist-c3-93v-c3-83o-pereira-o-


pioneiro-do-tropeirismo-brasileiro/. Acesso em 27/11/2019.

Disponível em>https://www.portaldorancho.com.br/portal/tropeirismo-patrimonio-da-
humanidade. Acesso 27/11/2019.

186
Caderno de atividades – Unidade 8: Do Império à República
Como nada dura para sempre, as minas de ouro estavam se esgotando.
No entanto, as pressões e cobranças de impostos pela Coroa Portuguesa
só se intensificavam. Alimentados por ideias que afloravam na Europa,
emergiram importantes revoltas locais contra a Coroa Portuguesa, que
ficaram conhecidas como “Inconfidência Mineira”, “Conjuração Baiana” e
“Revolução Pernambucana”. Todas essas revoluções tiveram inspiração
nos acontecimentos ocorridos, principalmente na França, que se tornou
República, com as ideias de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, as
então chamadas ideias iluministas, base da Revolução Francesa. Essas
revoluções ocorridas no Brasil também foram influenciadas pela
independência dos Estados Unidos em 1776.

A Inconfidência Mineira

Você sabe qual é o nome da principal avenida de nosso Município? Qual


é o significado desse nome dado à avenida?
Quem foi Tiradentes? Por que no dia 21 de abril é considerado feriado
nacional? Qual é a importância de Tiradentes para a história do Brasil?

A Inconfidência Mineira foi um movimento que ocorreu em Minas


Gerais em 1789. Esse movimento teve relação com o esgotamento das
minas de ouro na capitania de Minas Gerais e com as notícias sobre a
continuidade das cobranças dos tributos pela Coroa, pois o rei português
acreditava que o ouro estava sendo contrabandeado.
Por isso, um grupo composto por fazendeiros, militares, donos de
minas e intelectuais resolveu se mobilizar e buscar estratégias para tornar

187
a capitania de Minas Gerais um estado independente. Também tinham
como objetivos implantar um sistema de governo republicano, fundar
fábricas e criar uma universidade em Vila Rica (atual município de Ouro
Preto), mas não pensavam no fim da escravidão. Chegaram a criar,
inclusive, uma nova bandeira, que mais tarde foi adotada pelo estado de
Minas Gerais.
Veja a imagem a seguir:

Disponível em: http://conjuracaomineira.blogspot.com/2010/09/o-que-foi-


inconfidencia-mineira_27.html. Acesso 27/11/2019.

Um dos membros desse grupo era o alferes (militar de baixa


patente) Joaquim José da Silva Xavier, que ficou conhecido como
Tiradentes, pois nas horas vagas trabalhava como dentista.
Os inconfidentes planejavam um movimento armado para o dia em
que o governo iniciasse a cobrança da Derrama. No entanto, Joaquim
Silvério dos Reis delatou o movimento em troca de alguns benefícios e
perdão de suas dívidas. Isso fez com que o governo suspendesse a
implantação da Derrama e mandasse prender os envolvidos na revolta.
A tela A leitura da sentença, de Eduardo de Sá, representa o
momento em que Tiradentes recebeu a notícia de sua condenação à
morte.

188
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/06/a-
republica-constitucional-imaginada-e-perdida-pelos-insurgentes-
mineiros.shtml. Acesso em 27/11/2019.

Tiradentes foi julgado no Rio de Janeiro e morto por enforcamento,


pois foi o único que assumiu a participação no movimento. O fato ocorreu
no dia 21 de abril de 1792. Teve seu corpo esquartejado e sua cabeça
exposta em Vila Rica, para servir de exemplo, medida do governo para
evitar futuras revoltas. As demais partes de seu corpo foram penduradas
em postes na estrada que ligava Minas ao Rio de Janeiro. Os outros
membros do movimento foram presos e exilados.
Tiradentes e seus companheiros ficaram esquecidos durante todo o
período Imperial. Com a Proclamação da República, em 1889, Tiradentes
foi declarado herói nacional. No governo do presidente Castelo Branco, o
dia 21 de abril passou a ser considerado feriado nacional a partir da Lei Nº
4.897/1965.

Caderno de atividades – Unidade 8: Do Império à República

189
Conjuração Baiana

A Conjuração Baiana, também conhecida como Revolta dos Alfaiates


(liderança de quem exercia esse ofício), foi outro movimento que ocorreu
no final do século XVIII, na capitania da Bahia, devido à grande
insatisfação em relação à opressão colonial, influenciado pelas mudanças
que estavam ocorrendo em outros lugares do mundo.
Anterior à revolta, houve a transferência da capital da Colônia, que
era em Salvador, para a cidade do Rio de Janeiro, em 1763, diminuindo os
recursos financeiros destinados à antiga Capital. Isso fez com que
aumentasse a cobrança de impostos e, consequentemente, piorassem as
condições de vida da população local, pois a fome assombrava o povo
devido aos valores abusivos cobrados pelos gêneros alimentícios.
Nesse movimento, além de alguns membros da elite, houve
envolvimento popular, pois participaram escravos, mulheres, padres,
alfaiates, artesãos, entre outros. Os rebeldes defendiam a libertação dos
escravos, o fim do preconceito, a proclamação da república, a diminuição
dos impostos, a abertura dos portos para a implantação do livre comércio e
aumento do salário dos soldados. Pretendiam, sobretudo, libertar o Brasil
de Portugal e garantir uma vida mais digna para a população.
As cores da bandeira que representava o movimento foram
inspiradas na bandeira da França, sendo que as estrelas representavam
os principais pontos defendidos pelos opositores, como mostra a imagem a
seguir:

190
BANDEIRA QUE SIMBOLIZA A CONJURAÇÃO BAIANA

Disponível em: http://blogs.ibahia.com/a/blogs/estrelas/2015/11/08/bandeira-


da-conjurac%CC%A7a%CC%83o-baiana-revolta-dos-alfaiates/. Acesso em
27/11/2019.

Em 1798, alguns manifestantes distribuíram panfletos instigando a


população a se posicionar contra o governo colonial, lutar pelo fim da
escravidão, pela proclamação da República, pela liberdade do comércio. A
divulgação de panfletos pela cidade de Salvador instigou o governo local a
investigar, identificar, com ajuda de um delator, e prender mais de 40
pessoas. Algumas pessoas foram mortas e decapitadas e tiveram seus
corpos esquartejados e expostos em diferentes pontos de Salvador. Os
demais foram condenados ao exílio, sendo enviados para as colônias
portuguesas da África.

191
Veja na imagem alguns líderes que foram mortos:

Disponível em: https://www.esquerdadiario.com.br/Conjuracao-Baiana-


4-negros-esquecidos-na-Historia. Acesso em 03/10/2019.

Apesar de sua importância no processo de luta pela Independência


do Brasil, o movimento não teve a mesma valorização dada à
Inconfidência Mineira.

Caderno de atividades – Unidade 8: Do Império à República

Situação da Europa

A partir da metade do século XVII, século XVIII e início do século


XIX, a Europa passava por inúmeras transformações em todas as esferas
sociais, dentre elas o desenvolvimento da indústria, a perda da
importância do monopólio comercial e a valorização do livre-comércio.
Com o livre-comércio, cada nação poderia comprar matérias-primas de
quem oferecesse o melhor preço e vender seus produtos onde obteria
maiores lucros.

192
A economia de Portugal e Espanha estava sob a base do monopólio
comercial, ou seja, das práticas mercantilistas através da exploração das
colônias. Cada colônia complementava a economia da Coroa e não
competia com ela. Deveria cultivar produtos tropicais exportáveis ou
explorar minerais preciosos como ouro e prata. No entanto, a
industrialização estava se tornando a base econômica de outros países,
principalmente da Inglaterra.
Uma situação que causava instabilidade na Europa eram os conflitos
entre Inglaterra e França. A Inglaterra investia fortemente no
desenvolvimento industrial e a França ficava conhecida pelas conquistas
territoriais. Durante o governo de Napoleão Bonaparte, a França
conquistou vasto território, pois seu objetivo principal era tornar a França
uma grande potência mundial. Para isso pretendia conquistar o território
da Inglaterra, que estava em pleno desenvolvimento industrial e possuía a
maior e mais desenvolvida frota marítima da Europa.

A imagem representa Napoleão


Bonaparte como primeiro-cônsul da
França, tela do pintor Robert Léfévre
(1755-1830).
Técnica: Óleo sobre tela
Dimensões:
Altura: 226 cm; Largura: 144 cm.

Na maioria das batalhas entre essas duas nações, a França


triunfava, expandindo o domínio francês. Para enfraquecer a Inglaterra,
Napoleão decretou o Bloqueio Comercial, forçando os países europeus a
fechar seus portos para o comércio inglês, garantindo a exclusividade dos
mercados da Europa para a indústria francesa.

193
BLOQUEIO CONTINENTAL

Disponível em: http://nossomundo1801a1900.blogspot.com/2015/11/ano-de-


1806_0.html. Acesso em 27/11/2019.

Entre 1807 e 1808, Bonaparte invadiu Espanha e Portugal devido ao


não cumprimento do Bloqueio Continental contra a Inglaterra. Portugal
estava em uma situação delicada, pois se obedecesse a Napoleão
romperia com a Inglaterra e se rejeitasse as exigências, seu território seria
ocupado pelos franceses. Assim, a invasão francesa e os interesses
ingleses levaram a Corte Portuguesa a fugir para o Brasil.
De que forma os conflitos entre Inglaterra e França interferiram no Brasil
Colônia? Que influência esses dois países tinham sobre a Colônia
portuguesa na América?

Caderno de atividades – Unidade 8: Do Império à República

194
Vinda da família real para o Brasil

A chegada da família real em 1808. Rio de Janeiro, 8 de março de 1808: depois


Disponível em: de passar pela Bahia, a família real
https://www.todamateria.com.br/a-vinda- portuguesa é recebida na capital da Colônia.
da-familia-real-para-o-brasil/. Acesso em Disponível em:
27/11/2019. http://pensarreflectiresentir.blogspot.com/2017/
01/chegada-da-familia-real-ao-brasil.html. Acesso
em 27/11/2019.

A chegada de Dom João VI à Bahia, de Cândido


Portinari (1952). Disponível em:
http://www.gplsalvador.org/site/22-de-janeiro-de-1808-a-
chegada-da-familia-real-portuguesa-a-salvador/. Acesso
27/11/2019.

Diante da notícia sobre a invasão de Portugal por Napoleão


Bonaparte, o Governo Inglês propôs a transferência da Corte Real
Portuguesa para a Colônia Americana, comprometendo-se a protegê-la
durante a longa travessia do Atlântico.

195
A fuga da Família Real de Lisboa para o Brasil alterou
significativamente a situação da Colônia. O tempo de permanência da
família real ficou conhecido como Período Joanino. A Corte real se instalou
no Rio de Janeiro, na Quinta da Boa Vista, local onde atualmente é o
Museu Nacional (Museu que pegou fogo no dia 02/08/2018).

QUINTA DA BOA VISTA – ATUAL MUSEU NACIONAL

Disponível em: https://vejario.abril.com.br/cultura-


lazer/quinta-da-boa-vista-promove-o-evento-domingo-com-
ciencia/. Acesso em 27/11/2019.

Durante a travessia, a frota da Corte Real, que contava com


aproximadamente 15 mil pessoas, enfrentou tempestades, falta de comida,
epidemia de piolhos, entre outros problemas.
Dentre as mudanças ocorridas na Colônia com a chegada da família
real, destacam-se:
- Crescimento do Rio de Janeiro, fazendo com que a cidade
passasse por inúmeras reformas e infraestrutura;
- Criação de universidade, o que anteriormente não era permitido;
- Criação da Biblioteca Nacional, da imprensa e do Banco do Brasil;
- Abertura dos portos às nações amigas, principalmente a Inglaterra.
É preciso lembrar que a Inglaterra estava em pleno desenvolvimento
industrial e precisava de mercado consumidor para seus produtos.

196
Em 1815, a Colônia foi elevada à categoria de Reino Unido de
Portugal, Brasil e Algarves.
Houve mudança da bandeira, como mostra a imagem a seguir:

Em 1821, as capitanias passaram a se chamar províncias. Veja nos


mapas a seguir a configuração do Brasil.
MAPA DO BRASIL EM 1821

Disponível em:
https://www.zazzle.com.br/poster_mapa_antigo_de_brasil_em_18
21-228141923566068628. Acesso em 27/11/2019.
MAPA DO BRASIL EM 1822

197
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_do_Brasil#/medi
a/Ficheiro:Brazil_(1822).svg. Acesso 27/11/2019.

A chegada da Família Real também agravou o clima de


descontentamento da população, pois a Coroa passou a favorecer os
comerciantes ligados a ela.
Nas províncias cresciam a agitação, a hostilidade e os conflitos entre
brasileiros e portugueses. Uma das rebeliões que marcou o período de
estada da Família Real na Colônia foi a Revolução Pernambucana.

Para saber mais sobre o assunto, assista ao vídeo: A Família real vem
morar no Brasil – Histórias do Brasil. Disponível no site:
https://www.youtube.com/watch?v=ptUthglDhbM

Caderno de atividades – Unidade 8: Do Império à República

198
UNIDADE 8

BRASIL: DO IMPÉRIO À REPÚBLICA

CAPÍTULO 2

FRANÇOIS-RENÉ MOREAUX – Proclamação da Independência do Brasil


Disponível em>https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Independencia_brasil_001.jpg.
Acesso 27/11/2019.

A partir de que momento o Brasil tornou-se independente de


Portugal? Como se deu esse processo? Que fatores externos e internos
influenciaram nessa decisão? Quais as mudanças que ocorreram a partir
da Independência do Brasil? O Brasil se tornou uma nação realmente
soberana? Há monumentos históricos e/ou símbolos que representam a
história do Brasil?

199
Os acontecimentos na Europa e outras regiões da América
influenciaram significativamente no processo da proclamação da
independência do Brasil, com destaque para a emancipação das Treze
colônias inglesas em 1776, formando os Estados Unidos da América e,
posteriormente, a emancipação das Colônias espanholas, a exemplo do
Haiti (1804), Paraguai (1811), Chile (1818) Argentina (1816), Colômbia e
Venezuela (1819) e México (1821). Esses fatos, associados ao
descontentamento da elite local resultaram nos acontecimentos que
estudaremos neste capítulo.

Independência do Brasil

As primeiras manifestações a favor da Independência revelavam o


descontentamento dos colonos em relação aos abusos da Metrópole. Esses
atos também tiveram significativas influências das ideias iluministas (ideias
de Liberdade, Igualdade e Fraternidade) presentes na Europa.
Em 1821, devido às pressões da Metrópole e o medo de perder o trono
em Portugal, Dom João VI voltou a Lisboa, deixando seu filho Pedro como
príncipe regente. A Família Real levou consigo todo o ouro do Banco do
Brasil.

200
O Dia do Fico

Algumas medidas foram tomadas pelo então


príncipe regente Dom Pedro I, dentre elas:
diminuição das despesas, dos impostos e
equiparação dos militares brasileiros com os
portugueses, o que não agradou à Coroa.
Em 1821, aumentaram as pressões para que
Dom Pedro I
Dom Pedro voltasse a Portugal, o que fez com que
os defensores da Independência reagissem, organizando um abaixo-
assinado a favor de sua permanência no Brasil. No dia 09 de janeiro de
1822, Dom Pedro decidiu ficar e não acatar as ordens de Lisboa. Esse
evento foi significativo para o processo de Independência e ficou conhecido
como o Dia do Fico.
Em setembro de 1822, a Coroa ameaçou enviar tropas para o Brasil
na tentativa de obrigar Dom Pedro a voltar para Portugal. O príncipe estava
em São Paulo e recebeu cartas de sua esposa Dona Leopoldina e do
ministro José Bonifácio, comunicando-lhe sobre as ameaças da Corte
Portuguesa. Ao receber as cartas, no dia 07 de setembro do referido ano,
Dom Pedro I proclamou a independência do Brasil. Dias depois, o príncipe
foi recebido no Rio de Janeiro com festividades e proclamado Imperador do
Brasil.
A independência do Brasil, apoiada pela elite local, a partir de seus
interesses, deu origem ao período Imperial. Em 1824, Estados Unidos
reconheceu a Independência do Brasil, seguido pelo México, em 1825.
No entanto, isso não significou a independência do povo brasileiro,
pois a elite brasileira que apoiou a independência garantiu que seus
interesses fossem mantidos, a exemplo da escravidão, da concentração de
propriedades de terra, entre outros privilégios.

201
A Coroa não viu com bons olhos a desobediência de Dom Pedro I, e
isso gerou muitos conflitos entre Brasil e Portugal. A Inglaterra interferiu,
mediando um acordo entre ambos. Nesse acordo, Portugal reconheceria a
Independência, mediante o pagamento de 2 milhões de libras pela Colônia.
O empréstimo para o pagamento seria fornecido pela Inglaterra. Esse fato
marcou a independência político-administrativa do Brasil, mas a total
dependência econômica da Inglaterra.
O dia simbólico que faz referência à Proclamação da Independência
do Brasil é o dia 07 de setembro de 1822, em que, supostamente, o então
príncipe regente, à beira do Rio Ipiranga — São Paulo, local hoje conhecido
como Praça da Independência, proclamou a Independência do Brasil.
As imagens a seguir retratam a Praça da Independência, com
monumento histórico referente ao ato de Dom Pedro I.
MONUMENTO À INDEPENDÊNCIA

Monumento à independência, situado no local onde foi proclamada a Independência


do Brasil.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Monumento_%C3%A0_Independ%C3%AAncia_do_Brasil. Acesso 29/11/2019.

202
O Parque da Independência, inaugurado em 1989, nas margens do
córrego do bairro do Ipiranga, na cidade de São Paulo, faz parte do
patrimônio histórico cultural brasileiro devido ao Grito da
Independência do país, ali proclamada por D. Pedro I. Surgiu da
preocupação em unir a região do Ipiranga enquanto um espaço de
memória nacional e patriotismo, além de ser uma forma de preservação e
demarcação do espaço e uma forma também de tornar comum uma
memória coletiva. A área de 161.300 metros quadrados, abriga o Museu
do Ipiranga, o Monumento à Independência e a Casa do Grito, além de um
denso bosque e um grande trabalho de paisagismo no caminho entre o
Monumento e o Museu. Também há os jardins franceses que foram
recentemente criados.
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_da_Independ%C3%AAncia

Caderno de atividades – Unidade 8 – Capítulo 2: Brasil: do Império


à República

203
Brasil Império – Primeiro Reinado

DOM PEDRO I
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_I_do_Brasi
l. Acesso 28/11/2019.

Após o Brasil tornar-se um Império, muitas foram as dificuldades,


principalmente para manter a unidade territorial e diminuir a insatisfação da
população, haja vista que a sua independência foi conduzida por um
herdeiro do trono português.
Havia também um grupo que ainda defendia a Coroa. Isso gerou
inúmeros conflitos internos com as províncias, cujas lideranças eram fiéis à
Metrópole e, por isso, não se submetiam à autoridade de Dom Pedro I,
dentre elas as províncias da Bahia, Maranhão, Piauí e do Pará.
Após muitas revoltas e tentativas separatistas, o Império foi se
consolidando, no entanto, além dos conflitos internos, o Brasil herdou de
Portugal, uma grande dívida com a Inglaterra.
Em 1831, com a intensificação das ideias e interesses divergentes,
estourou uma revolta no Rio de Janeiro, que ficou conhecida como “Noite

204
das Garrafadas”, complicando mais a situação de Dom Pedro I. Com isso,
o Imperador resolveu voltar a Portugal, deixando como sucessor seu filho
Pedro de Alcântara, de apenas 5 anos de idade, marcando o fim do Primeiro
Reinado.
O período entre 1831 e 1840 ficou conhecido como “Período
Regencial”, pois um grupo de políticos assumiu o poder. Até que, em 1840,
devido às disputas entre grupos, ocorreu o “Golpe da Maioridade”. A
constituição previa que Pedro de Alcântara assumisse o poder aos 21 anos,
mas ele acabou se tornando Imperador com apenas 14 anos de idade.
Nesse período, também ocorreram inúmeras rebeliões, nas diversas
regiões que visavam à separação do império, gerando muita instabilidade.
Em sua maioria, as revoltas originavam-se dos conflitos entre liberais
(queriam maior participação política das províncias na tomada de decisões)
e conservadores (defendiam maior centralidade do poder). Esses conflitos
pelo poder também serviam de estímulos para os movimentos populares.
Destacam-se as seguintes rebeliões/revoltas: A Cabanagem — Pará (1835-
1840); Guerra dos Farrapos — Rio Grande do Sul (1835-1845); A Sabinada
— Bahia (1837-1838); A Balaiada —Maranhão (1838).

Caderno de atividades – Unidade 8 – Capítulo 2: Brasil: do Império


à República

205
Bandeira Imperial do Brasil

A bandeira do Brasil Imperial foi criada em 1822 pelo desenhista,


pintor e professor francês Jean-Baptiste Debret. Segundo algumas fontes,
José Bonifácio de Andrade e Silva, também conhecido como “o Patriarca
da Independência”, ajudou Debret na elaboração do projeto da bandeira
do Brasil Império.
A bandeira Imperial possui formato retangular, com fundo verde e,
no centro, um losango amarelo-ouro. No centro do losango, o brasão
nacional (imperial).
Este brasão consistia num escudo verde, tendo ao centro a esfera
armilar e a Cruz da Ordem de Cristo (em vermelho). Havia também um aro
de fundo azul com 19 estrelas brancas (representando as províncias
brasileiras). Sobre o escudo estava disposta a coroa imperial. Do lado
esquerdo, havia um ramo de café e do lado direito, um de tabaco.
Disponível em:
https://www.historiadobrasil.net/brasil_monarquia/bandeira_imperial.htm. Acesso em 28/11/2019.

206
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=__AFcjNMdbE

Segundo Reinado

Dom Pedro II
Disponível em:
https://www.infoescola.com/biografias/dom-
pedro-ii/ . Acesso em 28/11/2019.

Após Dom Pedro II assumir o poder, iniciou-se no Brasil o Segundo


Reinado, correspondente ao período de 1840 a 1889. Foi um período de

207
grande desenvolvimento do país e que também ficou marcado por inúmeros
conflitos, principalmente a Guerra do Paraguai. Dom Pedro II tinha como
objetivo a formação de uma cultura brasileira. Nesse sentido, o índio foi
transformado em símbolo do Império, mas o negro ainda era mantido como
escravo.
Nesse período, outro produto ganhou espaço na economia do país: o
café — transferindo o polo econômico para o Centro-Sul (Vale do
Paraíba (RJ/SP), Oeste Paulista (SP) e Zona da Mata (MG) estendendo-
se para o Norte do Paraná na metade do século XX.
O café impulsionou a economia, possibilitou a construção de ferrovias
e indústrias, aparelhamento dos portos e aperfeiçoamento dos meios de
transporte. Houve também aplicações de capitais ingleses na economia
brasileira, aumentando a dependência externa, que se intensificou com a
Guerra do Paraguai.

Guerra do Paraguai e as suas consequências para o Império


brasileiro

A bacia do Prata foi sempre objeto de disputas desde o período da


colonização. Com a formação dos países independentes, essas disputas
assumiram outras dimensões.
No período do Segundo Reinado, um importante marco foi a Guerra do
Paraguai, que ocorreu entre 1864/65 e 1870. Nessa guerra, Brasil,
Argentina e Uruguai (Tríplice Aliança), estimulados pela Inglaterra, uniram-
se contra o Paraguai, governado nessa época por Francisco Solano López.
A Tríplice Aliança venceu a batalha, mas uma das consequências foi
o extermínio da população paraguaia e fim do período Imperial no Brasil,
pois, cresceram as manifestações e os movimentos abolicionistas e
republicanos.

208
Após o fim da Guerra do Paraguai, Dom Pedro II viajou para o exterior,
deixando o comando do Império para a sua filha Princesa Isabel. Em meio
ao movimento abolicionista, a falta de apoio dos militares devido às
questões da guerra, o movimento republicano e a pressão da Inglaterra, a
princesa Isabel assinou a Lei Áurea em 1888, marcando o fim da escravidão
no Brasil.
Com o fim da escravidão, em 1888, os cafeicultores reorganizaram a
atividade produtiva através do trabalho assalariado, realizado pelos
imigrantes europeus, principalmente italianos e alemães.

Caderno de atividades – Unidade 8 – Capítulo 2: Brasil: do Império


à República

Ciclo da erva-mate no Paraná


A economia brasileira modificava a sua base para a produção de café,
fortalecendo a região Centro-Sul. Na região do atual estado do Paraná, que
pertencia à província de São Paulo, outro produto possibilitava o
desenvolvimento econômico da região, a erva-mate.
O desenvolvimento econômico proporcionado pela erva-mate criou a
classe dos barões, sendo o mais famoso o Barão do Cerro Azul, formando
uma elite local. Assim, o Paraná começou a ter representatividade e pleitear
a sua emancipação político-administrativa.
A exportação da erva-mate em território paranaense possibilitou o
desenvolvimento e trouxe riquezas para muitos produtores, comerciantes e
industriais. Esses produtores queriam investimentos do governo para
melhorar a infraestrutura das cidades e os meios de transporte, entre outras
reivindicações. O resultado final dessas transformações foi a Emancipação

209
Política da Província do Paraná em 1853, desmembrando-se da Província
de São Paulo.
A emancipação política do Paraná foi oficializada em 19 de dezembro
de 1853. Através do Decreto nº 704, de 29 de agosto de 1853, a área de
terras da então chamada Comarca de Curitiba foi desmembrada da
província de São Paulo. O nome, Paraná, veio do maior rio que banha o
seu território.

PROVÍNCIA DO PARANÁ

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Prov%C3%ADncia_do_Paran%C3%A1. Acesso em


28/11/2019.

Concomitante à exploração da erva-mate, houve a extração da


madeira, principalmente do pinho para a construção de estradas de ferro
pelos ingleses. A madeira era escoada pela estrada que ligava Curitiba a
Paranaguá, trazendo grande desenvolvimento local, mas gerou problemas
sérios em relação ao desmatamento na região.

210
Zacarias Goes de Vasconcellos foi nomeado primeiro presidente da
província. Em nome do progresso e do bem-estar de todos, as elites
paranaenses reivindicaram do governo atenção especial em atender a suas
necessidades, entre elas, a emancipação financeira, a criação de um
sistema de estradas, instrução (escola) pública e a transferência da feira de
Sorocaba — São Paulo, para a cidade de Castro. Essas reivindicações
visavam, principalmente, a ampliar o mercado da erva-mate e da madeira.

1853 - Chegada do Conselheiro Zacarias, a Curitiba, para a instalação


da Província do Paraná. Arthur Nísio. Acervo Palácio Iguaçu.
Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Chegada_do_Conselheiro_Zaca
rias_em_Curitiba_1853.jpg. Acesso em 28/11/2019.

O governo da província do Paraná tinha como metas principais o


fortalecimento da economia do Estado e a instrução pública, que objetivava
“abrasileirar” os filhos dos imigrantes estrangeiros que mantinham sua
língua de origem, costumes e tradições. Outras mudanças político-
administrativas no Estado ocorreram com a Proclamação da República em
1889.

Caderno de atividades – Unidade 8 – Capítulo 2: Brasil: do Império


à República

211
Proclamação da República

A base econômica que sustentava o império era formada por


fazendeiros escravistas, os grandes comerciantes e os traficantes de
escravos. Com a Lei Eusébio de Queiros (1850), a Lei do Ventre Livre (1871)
e a Lei Áurea (1888), os senhores do café estavam insatisfeitos, pois se
sentiam prejudicados com essas medidas do Império. Parte significativa dos
padres começou a apoiar a República, além de cafeicultores do Oeste
Paulista, que passaram a reivindicar maior autonomia provincial e
entendiam que, somente com a República isso seria possível.
A falta de apoio da elite, juntamente com a pressão do movimento
abolicionista e do movimento republicano foram fragilizando cada vez mais
o Império. Os militares brasileiros também se sentiam desvalorizados.
Em 1873, políticos e fazendeiros de São Paulo fundaram o Partido
Republicano Paulista (PRP), proporcionando uma grande força ao
movimento Republicano.
Em 11 de novembro de 1889, ativistas reuniram-se com o então
Marechal Deodoro da Fonseca para convencê-lo a liderar o golpe final
contra o Império, mas ele não concordou, por ser amigo de Dom Pedro II.
Foi então que alguns oficiais espalharam a falsa informação de que havia
uma ordem de prisão do Imperador para Deodoro e outros líderes
republicanos. Isso levou Deodoro a assumir o comando das tropas do Rio
de Janeiro, no dia 15 de novembro de 1889, na ocupação do Ministério da
Guerra, dando o fim definitivo no Regime Imperial.
Em 15 de novembro de 1889, foi instaurado o Regime Republicano no
Brasil. Com isso, nosso país deixou de ser o Império do Brasil e passou a
ser chamado de República Federativa do Brasil e as províncias tornaram-se
Estados.

212
Disponível em: http://www.editoradobrasil.com.br/jimboe/galeria/imagens/index.aspx?d=geografia&a=5&u=2&t=mapa

Caderno de atividades – Unidade 8 – Capítulo 2: Brasil: do Império


à República

213
Bandeira do Brasil República

A partir da Proclamação da República, o novo governo brasileiro


precisava criar uma simbologia que representava a nova configuração
político-administrativa. Após várias sugestões apresentadas, a bandeira
brasileira foi definida e sua simbologia perdura até os tempos atuais.
Observe as duas bandeiras e identifique as mudanças e
permanências dos elementos representados.

BANDEIRA DO BRASIL IMPÉRIO

BANDEIRA DO BRASIL REPÚBLICA

214
Além da bandeira, o Brasil possui outros símbolos como:
As Armas Nacionais ou Brasão:

Selo Nacional:

215
O Hino Nacional:

A organização política do Estado do Paraná após a


Proclamação da República

Após a implantação do regime republicano no Brasil, a Província do


Paraná tornou-se um Estado, organizado em três poderes: o Executivo,
representado pelo governador; o Legislativo, representado pela Assembleia
Legislativa do Paraná e o Judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça
do Estado do Paraná e outros tribunais e juízes.

216
A escolha dos representantes do poder executivo e legislativo passou
a ser realizada através do voto. A partir dessa forma de organização político-
administrativa, os governadores e deputados são eleitos pela população
para um mandato de quatro anos.
Atualmente, o Paraná está dividido em 399 municípios e tem como
capital, Curitiba.

Símbolos paranaenses

Os símbolos que representam o Paraná são a bandeira, o brasão de


armas e o hino estadual.

A bandeira
A bandeira é um dos principais símbolos do Estado do Paraná. Ela foi
instituída pelo decreto nº8, de 09 de janeiro de 1892. Criada, originalmente,
pelo artista Paulo Assunção, passou por modificações em março de 1905,
março de 1923, março de 1947, e novamente em setembro de 1990.
A atual bandeira compõe-se de um quadrilátero verde que representa
a mata do Estado, atravessado no ângulo superior direito para o inferior
esquerdo por uma larga faixa branca, que simboliza a paz, contendo a
representação da esfera celeste em azul, simbolizando o céu, e as cinco
estrelas da Constelação do Cruzeiro do Sul em branco. A esfera é
atravessada, abaixo da estrela superior do Cruzeiro, por uma faixa branca
com a inscrição Paraná, em verde. Circunda a esfera um ramo de pinheiro
à direita e outro de erva-mate à esquerda.

217
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_do_Paran%C3%A1

A esfera azul traz representada a Constelação do Cruzeiro do Sul


correspondente ao dia 29 de agosto de 1853, data em que o Imperador D.
Pedro II assinou a lei nº 704, que criou a província do Paraná. As estrelas
simbolizam: Alfa (Magalhães), Beta (Mimosa), Gama (Rubídea), Delta
(Pálida) e Épsilon (Intrometida). Os ramos representam as plantas
características do Estado: erva-mate (Ilex paraguariensis) e o pinheiro do
Paraná (araucária angustifolia).
Em 2005, foi instituída a data de 16 de março com o dia da bandeira
do Paraná.
A bandeira do Estado deve ser hasteada obrigatoriamente todos os
dias ao lado da Bandeira Nacional no Palácio do Governador, na residência
do governador, nas Secretarias do Governo, na Assembleia Legislativa, no
Tribunal Eleitoral, nas Prefeituras Municipais e nos Quartéis da Polícia
Militar.

218
Brasão das armas

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasão_do_Paraná.


Acesso 28/11/2019

O brasão de armas foi instituído pela lei nº 904 de 21 de março de


1910 e, ao longo da história, sofreu modificações.
Os elementos que formam o brasão são o campo vermelho da cor das
terras férteis do Estado, onde a figura de um lavrador cultiva o solo. Acima
deste há um sol nascente que simboliza a liberdade, e três picos
simbolizando a grandeza, a sabedoria e a nobreza do povo, bem como os
três planaltos paranaenses: o Oriental ou de Curitiba, o Central ou dos
Campos Gerais, o Ocidental ou de Guarapuava. Servindo como suporte
para o brasão, estão os dois ramos verdes, à direita o pinheiro-do-paraná e
à esquerda a erva-mate. No brasão aparece a figura de um falcão (Harpia
harpyja) que encontrou no Estado condições para se reproduzir
naturalmente, estando hoje em vias de extinção.
É obrigatório o uso do Brasão de Armas no Palácio do Governador, na
residência do Governador, na Assembleia Legislativa, no Tribunal de
Justiça, nos Quartéis da Polícia Militar, na portaria dos edifícios públicos do
Estado e nos papéis de expediente das repartições públicas do Estado e
nas publicações oficiais.

219
O hino do Estado do Paraná

O hino do Estado do Paraná foi instituído pelo decreto de lei de 31 de


março de 1947, tendo por autores Domingos Nascimento, compositor da
letra, e Bento Mossurunga, compositor da música.

Estribilho Vibra agora a tua fama


Pelos clarins das grandes festas!
Entre os astros do Cruzeiro,
És o mais belo a fulgir
III
Paraná! Serás luzeiro!
A glória... A glória... Santuário!
Avante! Para o porvir!
Que o povo aspire e que idolatre-a
I E brilharás com brilho vário,
O teu fulgor de mocidade, Estrela rútila da Pátria!
Terra! Tens brilhos de alvorada
Rumores de felicidade! IV
Canções e flores pela estrada. Pela vitória do mais forte,
Lutar! Lutar! Chegada é a hora.
II Para o zênite! Eis o teu norte!
Outrora apenas panorama Terra! Já vem rompendo a aurora
De campos ermos e florestas

220
UNIDADE 9

A IMIGRAÇÃO EUROPEIA E AS MIGRAÇÕES INTERNAS

1. Leia o poema “Sonho Imigrante”, escrito por Fernando Brant e Milton


Nascimento. Localize no mapa-múndi os locais citados no poema.

Sonho imigrante

A terra do sonho é distante O mar de lá é tão lindo


E seu nome é Brasil Natureza generosa
Plantarei a minha vida Que faz nascer sem espinhos
Debaixo do céu anil O milagre da rosa

Minha Itália, Alemanha O frio não é muito frio


Minha Espanha, Portugal Nem o calor muito quente
Talvez nunca mais eu veja E falam que quem vive lá
Minha terrinha natal É maravilha de gente.

Aqui sou povo sofrido Sonho imigrante, de Fernando Brant e


Milton Nascimento
Lá eu serei fazendeiro
Terei gado, terei sol

Caderno de atividades – Unidade 9: A imigração europeia e as


migrações internas

Você e seus colegas, provavelmente, perceberam, a partir da


atividade anterior, a presença de várias etnias que compõem sua sala de
aula. São famílias formadas por descendentes das mais diversas etnias
que representam o povo brasileiro.

221
Ouça a música: Inclassificáveis – de Arnaldo Antunes, disponível
em:
https://www.youtube.com/watch?v=rFA0egUuMjw.
Em seguida, discuta com seus colegas sobre suas conclusões referente ao
conteúdo da música.
a) Qual é o tema da música?
b) Há termos desconhecidos na letra da música? Quais? Qual é o
significado desses termos?
c) Quem são os inclassificáveis? Por que o autor utilizou esse termo?
d) O que significa afirmar que:
não tem um, tem dois,
não tem dois, tem três,
não tem lei, tem leis,
não tem vez, tem vezes,
não tem deus, tem deuses,
não há sol a sós

Por que há essa diversidade cultural na formação da população


brasileira, paranaense e, consequentemente, Itaipulandiense? Você já
ouviu falar sobre migração ou imigração? Você conhece alguém que veio
ou foi morar em outro país? Por que as pessoas migram? Quais foram os
fatores que estimularam ou possibilitaram a vinda de imigrantes
europeus para o Brasil? Mas como isso ocorreu? A partir de que
momento isso aconteceu? A imigração ocorreu em um único período no
Brasil ou teve um período em que esse processo foi mais intenso? Qual
a relação da diversidade étnica presente no Brasil e a imigração? Qual é
a influência da cultura dos imigrantes na formação do povo brasileiro?

222
Como foi o processo de organização e ocupação do espaço pelos
imigrantes? Que medidas o Governo Brasileiro utilizou para fomentar a
imigração e as migrações internas?

Para respondermos a essas questões precisamos fazer uma viagem


através do tempo.

A imigração europeia no Brasil

A transferência da Corte Portuguesa para o Brasil em 1808


transformou a Colônia brasileira em nação (Reino Unido a Portugal e
Algarves). Uma das preocupações do governo naquele período foi a
ocupação e o povoamento do território brasileiro, uma vez que em grandes
áreas não havia presença do “homem branco”.
Na primeira fase da imigração no Brasil (1800-1850), a quantidade
de imigrantes europeus era muito pequena se comparada com a do
período seguinte, pois a mão de obra escrava era gratuita e, assim, muito
mais vantajosa e lucrativa.
O processo de ocupação do Brasil, através da imigração europeia,
se intensificou no final do século XIX. A industrialização da Europa, o
aumento da população e a crise após as guerras, dentre outros fatores,
estimularam muitos europeus a atravessar o Oceano Atlântico e vir para a
América. O objetivo desse deslocamento era a possibilidade de ter uma
vida nova e prosperar através do trabalho.
Vale ressaltar que, anterior à imigração europeia do século XIX, já
havia um grande número de africanos, que vieram de maneira forçada,
habitando o Brasil. Com o processo de decadência da escravidão no Brasil

223
e as mudanças que vinham ocorrendo, fez-se necessário encontrar novas
alternativas econômicas.
Por isso, a imigração também veio para substituir a mão de obra
escrava pelo trabalho livre e assalariado nas lavouras de café. Havia
também certo preconceito em relação aos escravos e nativos. Os
imigrantes europeus de origem camponesa eram bem-vindos no Brasil,
porque se estabeleciam em pequenas propriedades e viviam do trabalho
familiar.
Além disso, a vinda de europeus também foi estimulada para ocupar
e povoar o Sul do Brasil porque havia o medo de perder a região de
fronteira do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul para a Argentina.
A imigração europeia foi estimulada por um projeto financiado pelo
Governo Brasileiro com o objetivo de implantação de povoados (colônias)
em várias regiões. Essa iniciativa do Governo Brasileiro marcou a segunda
fase da imigração europeia (1850-1930). Nesse período, a imigração para
o território brasileiro recebeu impulso. A proibição do tráfico de escravos
com a Lei Eusébio de Queirós, em 1850, a iniciativa do Governo Imperial
de prover as despesas de transporte do imigrante, o crescimento da
cafeicultura e a abolição da escravatura, através da Lei Áurea, em 1888,
foram os principais fatores que impulsionaram a imigração nesse período.
A terceira fase, que compreende a partir de 1930 até o presente —
foi um período em que houve uma significativa diminuição da imigração
para o Brasil. Nos anos 1980, muitas pessoas deixaram o país em direção
aos Estados Unidos, à Europa e a outros países da América Latina.

Caderno de atividades – Unidade 9: A imigração europeia e as


migrações internas

224
Processo de imigração: Fatores internos e externos

A industrialização de alguns países europeus, o aumento da


população vivendo nas cidades e as crises que se estabeleceram por
causa do desemprego e das guerras estimularam grandes quantidades de
pessoas a procurar uma vida melhor, através do deslocamento para outros
países.
Havia expectativas positivas na Europa em relação ao Brasil,
principalmente devido às grandes áreas de terra disponíveis e pouco
povoadas. Por isso, muitos imigrantes vieram para cá, motivados a ocupar
esses espaços para viver da agricultura, prosperar e fazer fortuna.
Em 1850, foi promulgada a Lei Euzébio de Queiros, que proibia o
tráfico de escravos da África para o Brasil, e, em 1888, a Lei Áurea aboliu
legalmente o trabalho escravo no país. As leis que contribuíram
gradativamente para a abolição da escravidão trouxeram grandes
modificações na organização do trabalho em nosso país.
O cultivo do café passou a enfrentar grandes problemas por falta de
mão de obra. Por isso, a vinda de milhares de imigrantes europeus,
substituindo a mão de obra escrava foi a solução encontrada para o
trabalho nos latifúndios cafeeiros e na produção de gêneros alimentícios.
A questão agrária no Brasil também teve que ser alterada com o fim
do sistema de sesmarias. Foi criada nesse período a Lei de Terras Nº
601, de 18 de setembro de 1850, considerada a primeira tentativa de
organizar a propriedade privada no Brasil, aprovada no mesmo ano da Lei
Eusébio de Queirós. A criação dessa lei foi motivada por grandes
fazendeiros e políticos latifundiários na tentativa de impedir que negros
pudessem se tornar donos de terras, uma vez que já anteviam a abolição
da escravidão.

225
A chegada de estrangeiros ao Brasil também forçou o Governo a
buscar formas de regulamentar e fiscalizar a posse da terra, pois estes se
tornariam proprietários, concorrendo com os grandes latifundiários. Ficou
estabelecido, a partir da criação da Lei de Terras, que só poderiam adquirir
terras por compra e venda ou por doação do Estado. Assim, as maiores e
melhores terras continuaram pertencendo aos fazendeiros e latifundiários.
Todas as terras que não tinham escrituras eram chamadas de
“Terras Devolutas” e a Lei de Terras determinava que fossem vendidas
para imigrantes a um preço elevado. Além disso, obrigava-os a trabalhar
ao menos três anos para poderem adquirir sua própria terra.

O que aconteceu com os escravos após o fim da escravidão legal no


Brasil? Por que, mesmo com mão de obra disponível de escravos
libertados, incentivou-se a imigração para suprir a “falta” de mão de obra?
Que relação podemos estabelecer entre a Lei de Terras de 1850 e o fim
da escravidão legal?

Caderno de atividades – Unidade 9: A imigração europeia e as


migrações internas

Observe a imagem a seguir e discuta com seus colegas sobre as


seguintes questões:
a) O que a imagem retrata?
b) Qual é o tema central ilustrado na imagem?
c) Quais são as características das pessoas retratadas na imagem?
d) Qual é a origem das pessoas retratadas?
e) O que estão fazendo?
f) Qual época e lugar estão sendo retratados?

226
A premiada tela "Café" (1935)
(Foto: Projeto Portinari/Divulgação)

O ciclo do café e a imigração europeia


Inicialmente, o café era cultivado no Brasil somente para uso
doméstico. Foi plantado em pequenas proporções no Norte e Nordeste do
país e sua produção se expandiu para a região Sudeste, mais
especificamente no Vale do Paraíba, cultivado por meio de mão de obra
escrava. Posteriormente, a produção se expandiu para o interior de São
Paulo e do Paraná, nas zonas de “terra roxa”, através de mão de obra
imigrante, dando início a um novo ciclo econômico no país.
O café foi o principal produto da economia brasileira a partir da
segunda metade do século XIX e início do século XX. As elites de São
Paulo e Minas Gerais eram as maiores produtoras, e, com isso,
controlavam o poder político no Brasil.

227
A mudança do ciclo econômico do Brasil gerou impactos em vários
aspectos, pois boa parte do lucro do café foi investido na indústria. No final
do século XIX e início do século XX, o número de fábricas cresceu muito.
Um terço delas ficava no Rio de Janeiro, outro terço se dividia entre São
Paulo e Rio Grande do Sul. O setor têxtil ocupava o primeiro lugar,
seguido pelo setor alimentício. Na década de 1920, impulsionado pela
riqueza da cafeicultura, São Paulo se tornaria o maior centro industrial do
país, colocando também mão de obra de imigrante, principalmente de
italianos. Nesse período, também houve investimentos na construção de
ferrovias, até o litoral, para escoamento da produção.
A produção cafeeira no Brasil foi estimulada por fatores externos
como o crescimento do comércio e da população mundial, principalmente
norte americana, grande consumidora de café. Isso contribuiu
significativamente para o desenvolvimento dos meios de transporte e das
vias de acesso. Alguns fatores internos como o fim da escravidão e a vinda
de imigrantes foram fundamentais para o desenvolvimento do ciclo do
café, que passou a ser o principal produto de exportação e a base da
economia brasileira. Entretanto, a economia cafeeira ficou dependente da
exportação. Quando o preço do produto caía, o Governo Brasileiro
comprava estoques e os queimava para aumentar o preço. O café deixou
de ser a base da economia brasileira após 1930.

Caderno de atividades – Unidade 9: A imigração europeia e as


migrações internas

228
Situação do imigrante no Brasil

Na primeira fase da imigração no Brasil, muitos imigrantes passaram


a ter um regime de trabalho considerado como “escravidão branca”,
através do sistema de parcerias.
Com o desenvolvimento da industrialização e urbanização no Brasil,
devido às riquezas vindas da produção de café, muitos imigrantes
italianos, portugueses e espanhóis passaram a trabalhar nas indústrias
instaladas, principalmente em São Paulo. Com isso, havia muitos
operários nas cidades submetidos às condições de trabalho e de vida
extremamente precárias.
Nas cidades, o descontentamento assumia formas de greves ou de
rebelião. Os líderes operários exigiam justiça social, melhores salários,
redução de jornada trabalho de oito horas, direito a férias, aposentadoria,
etc.

Operários do Cotonifício
Crespi, maior tecelagem
da cidade de São Paulo,
na Mooca, durante a
greve geral de 1917. O
movimento grevista
obrigou os patrões a
negociar com seus
operários.

http://www.stavale.com/acervo/tecelagem.htm. Acesso
03/06/2020.

As relações sociais no campo também eram marcadas pela


violência, pelos conflitos em torno da posse de terra e pelas disputas entre
famílias. Surgem nesse contexto movimentos de cunho religioso, que
foram massacrados pelas oligarquias e forças do Governo.

229
No campo, o domínio dos coronéis era quase absoluto, mas não o
suficiente para impedir que muitos trabalhadores rurais seguissem líderes
que acenavam com a promessa de uma vida mais justa e fraterna. No
Nordeste do país a situação era mais grave, pois calamidades naturais, a
exemplo da seca, agravavam a miséria decorrente da excessiva
concentração de terras. Nessa região uma das formas de expressão das
insatisfações foi o cangaço.
Os cangaceiros eram encarados como criminosos pelo Estado e,
geralmente, como justiceiros pela população local. O mais famoso foi
Virgulino Ferreira da Silva (Lampião). As ações de Lampião e seu bando
duraram até seu assassinato em 1938.
Além de todas as dificuldades anteriormente mencionadas, os
imigrantes (principalmente de algumas regiões e/ou países) também
sofreram e ainda sofrem preconceitos devido à crença de que trazem
doenças, pegam as vagas de empregos, entre outros.

Caderno de atividades – Unidade 9: A imigração europeia e as


migrações internas

Conheça um pouco mais sobre exemplos de imigrantes que vieram para


o Brasil em diferentes épocas e regiões.

Imigrantes europeus

Suíços (entre 1818 a 1819): foram os primeiros após os portugueses.


Vieram devido à falta de terras na Suíça. Instalaram-se no Rio de Janeiro,
formando a localidade de “Nova Friburgo”. Além do Rio de Janeiro, se
instalaram em São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo e Bahia.

230
Disponível em: https://www.todamateria.com.br/imigracao-no-brasil/ Acesso em
04/11/2020.

Alemães (1824): 1824 é considerado o marco da imigração alemã com a


chegada de trinta e nove imigrantes, apoiados pelo Governo Brasileiro, à
cidade de São Leopoldo/RS e região serrana do Rio de Janeiro em busca
de terras para o cultivo. Um dos objetivos era a proteção da fronteira. Os
alemães estão presentes em quase todas as cidades do Rio Grande do
Sul e Santa Catarina, com destaque em Joinville, Blumenau e Pomerode.

231
PORTAL DA CIDADE DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON – PARANÁ

Disponível em: http://www.viajeparana.com/Marechal-Candido-


Rondon Acesso em 04/11/2020.

BLUMENAU – SANTA CATARIANA

Disponível em: https://www.submarinoviagens.com.br/passagens-aereas/blumenau-sc


Acesso em 04/11/2020.

Italianos: a partir de 1870, vieram para substituir a mão de obra escrava.


O governo brasileiro pagava a passagem dos imigrantes em navios a
vapor, lhes prometia salários e casas. Eles recebiam incentivos à
cidadania brasileira. Surgiram cidades como Caxias do Sul, Garibaldi e
Bento Gonçalves. Foram os imigrantes italianos que se tornaram os
primeiros operários das fábricas em São Paulo.

232
MUSEU AMBIÊNCIA CASA DE PEDRA – CAXIAS DO SUL – RIO
GRANDE DO SUL

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Ambi%C3%AAncia_Casa_de_Pedra


Acesso em 04/11/2020.

Japoneses: chegaram a partir de 1908 para trabalhar nas lavouras de


café no Paraná, Minas Gerais e São Paulo.

233
MUNICÍPIO DE ASSAÍ – PARANÁ

Disponível em: http://www.viajeparana.com/Assai. Acesso em 04/11/2020.

Imigrantes do Oriente Médio: devido às guerras e perseguições


religiosas, houve a entrada de muitos imigrantes oriundos da Síria, Líbano,
Armênia e Turquia. Instalaram-se em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e
Minas Gerais. Dedicaram-se ao comércio como ambulantes. Por serem
oriundos do Antigo Império Turco Otomano, até hoje esses imigrantes são
chamados de “turcos” no Brasil.

234
MESQUITA OMAR IBN AL-KHATTAB, EM FOZ DO IGUAÇU, PARANÁ

Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Isl%C3%A3_no_Brasil#/media/Ficheiro:MesquitaFozD
oIgua%C3%A7uParanaBrasil.JPG. Acesso em 04/11/2020.

A cidade abriga a maior comunidade muçulmana do Brasil.

CENTRO ISLÂMICO DE CAMPINAS, SÃO PAULO

Disponível em:
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Centro_Isl%C3%A2mico_de_C
ampinas.JPG . Acesso em 04/11/2020.

235
Leia a letra da música a seguir:
Da Itália nós partimos
Partimos levando apenas a nossa honra
Trinta e seis dias de máquina a vapor
E na América iremos desembarcar
América, América, América!
Como será essa América?
América, América, América!
Ela é um buquê de flores.

E na América nós chegamos


Não encontramos nem palha e nem feno
Dormimos sobre o chão duro
Como os animais, iremos descansar
América, América, América!
Como será essa América?
América, América, América!
Ela é um lindo buquê de flores.

E a América é tão grande e extensa


É rodeada por montes e planícies
E com o esforço dos nossos italianos
Construímos vilas e cidades
América, América, América!
Como será essa América?
América, América, América!
Ela é um lindo buquê de flores. (bis)

Italianos no porto à espera da chance de entrar no navio.

Tradução livre da música Merica Merica Merica: Rodolfo


Fiocco, disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=HPAEJHW3phs

236
Após a leitura da música anterior, discuta com seus colegas sobre as
questões a seguir:
a) A que se refere a letra da música?
b) De onde as pessoas retratadas na música estão saíndo? Para onde
irão?
c) Quanto tempo demorarão para chegar?
d) Elas conhecem o lugar para onde vão?
e) Como essas pessoas descrevem o local onde chegaram?
f) O que pretendiam fazer nesse local?

Caderno de atividades – Unidade 9: A imigração europeia e as


migrações internas

O ciclo do café no Paraná e a imigração

No final do século XIX e início do século XX, os fazendeiros paulistas


procuraram terras do norte do Paraná. As “terras roxas” do Estado já eram
conhecidas pela alta fertilidade. Além disso, o clima era propício, havia
escoamento da produção através de ferrovias que ligavam o Estado ao
Porto de Santos, incentivos do Governo na aquisição de terras e para o
plantio.
Os fazendeiros paulistas e mineiros ocuparam, inicialmente, a região
conhecida como Norte Pioneiro, região que abrange os municípios de
Jacarezinho, Santo Antônio da Platina, Siqueira Campos, Cambará,
Tomazina, Venceslau Braz, dentre outros. Posteriormente, atingiram o

237
Norte Novo, região de Londrina, Cambé, Apucarana, Rolândia, Ivaiporã,
Primeiro de Maio, Sertanópolis, Maringá, dentre outras, e, por final, o Norte
Novíssimo, formando os municípios de Paranavaí, Cianorte e Umuarama.
Este processo ocorreu através de algumas companhias
colonizadoras, tendo como destaque a Companhia de Terras Norte do
Paraná (CTNP). Essas companhias faziam loteamentos e vendiam para
paulistas, mineiros e estrangeiros.
Nesse período, milhares de imigrantes europeus chegaram ao
Estado. A população aumentou significativamente. O café passou a ser o
principal produto de exportação paranaense durante várias décadas.
Muitos municípios foram fundados por causa das atividades relacionadas
ao cultivo, colheita, beneficiamento e transporte do café.
O trabalho nas propriedades pequenas, geralmente, era realizado
pelas famílias. Nas propriedades maiores e fazendas, a mão de obra era
realizada por imigrantes europeus, principalmente italianos.

FAMÍLIAS DE COLONOS NA LAVOURA (1920)

Disponível em: http://books.scielo.org/id/k4vrh/pdf/priori-9788576285878-08.pdf. Acesso em


14/10/2020.

238
Em 1920, o Paraná se tornava o sétimo maior produtor de café no
país, atraindo cada vez mais pessoas, tornando-se uma riqueza estadual,
trazendo desenvolvimento e crescimento para o Estado.
O Estado passou por três fases de produção do café: a primeira
ocorreu no “Norte Velho”, a partir do século XIX e início do século XX,
terminando com a crise de 1929. No início da segunda metade do século
XX, o café presenciou a estabilidade, por isso, novos plantios foram
incentivados. A segunda fase ocorreu no Norte Novo a partir de 1930, e,
por fim, a terceira fase que ocorreu entre as décadas de 1940 e 1960,
quando se encerrou a expansão cafeeira paranaense.
Observe o mapa a seguir:

Fonte: IPARDES. Disponível em:


https://portaldosmunicipios.pr.gov.br/download/public/arquivos/documentos/160/2
018/12/12/KG7NoB8ETuacgOo1Q9MDFV06DJzmRaGEQErCblrm.pdf. Acesso
em 09-11-2020.

Na década de 1950, a expansão cafeeira já atingia o Noroeste


Paranaense. Apesar da grande geada em 1955, foi uma década muito
lucrativa para os produtores paranaenses.
Entre 1961 e 1962, o Paraná produziu 21,3 milhões de sacas de
café. O centro produtor estava localizado na região Norte do Estado,

239
principalmente pela qualidade do solo e clima propício para o
desenvolvimento da lavoura cafeeira. Atraiu pessoas de dentro e fora do
país, fosse para investir em terras no Estado ou à procura de trabalho e
melhores condições de vida. O café trouxe povoamento, modernização e
melhores condições de vida, modernização e dinamização dos meios de
transporte e comunicação. Era conhecido como o “Ouro Negro”.
A partir de 1960, iniciaram-se políticas governamentais para a
racionalização do plantio do café e estímulos à diversificação do uso da
terra, incentivando o plantio de novas culturas, como a soja, o milho e o
trigo. Com a geada negra de 1975, que atingiu o Estado, houve um
declínio de grandes proporções na produção cafeeira. Os cafeicultores
optaram em utilizar incentivos do Governo para a diversificação da
produção, substituindo o café por soja e milho. Mas o café não sumiu
definitivamente.
Atualmente o Brasil é o maior produtor e responde por 30% do
mercado internacional do produto. É também o segundo consumidor,
ficando somente atrás dos Estados Unidos, por isso, o café continua
sendo uma das riquezas do Brasil. As áreas produtoras se concentram no
Centro-Sul, destacando-se os estados de Minas Gerais, São Paulo,
Espírito Santo e Paraná.
Para onde foram as pessoas que trabalhavam nas lavouras de café com a
mecanização agrícola para o cultivo de outros produtos?
Quais as causas do fim do ciclo do café no Paraná, embora o cultivo não
tenha desaparecido?
Por que o café era conhecido como “Ouro negro”?

240
Caderno de atividades – Unidade 9: A imigração europeia e as
migrações internas

Política imigratória para substituir o trabalho escravo no


Paraná

A imigração no Paraná foi, inicialmente, financiada e organizada pelo


Governo Português no início do século XIX. A colonização oficial foi
estimulada com o objetivo de substituir o trabalho escravo, indígena e
africano, pela mão de obra dos imigrantes.
Havia também imigração organizada sob a iniciativa de particulares,
que resultou na instalação de colônias no Estado. Grupos de alemães,
suíços, franceses, italianos, ucranianos, holandeses, poloneses, ingleses,
escandinavos, dentre outros, se instalaram em várias regiões do Estado,
formando comunidades. Muitas dessas colônias prosperaram e deram
origem a vários municípios paranaenses.
Com a emancipação política do Paraná, em 1853, novamente o
Estado assumiu oficialmente uma política imigratória, com o objetivo de
ocupar o território para garantir o espaço político, evitando disputas e
conflitos sobre fronteiras.
O governo da província se preocupava com a produção de gêneros
alimentícios, uma vez que a economia do Estado esteve por muito tempo
concentrada na exportação de erva-mate, gado e madeira. Por isso
precisava de gente para trabalhar na agricultura, em pequenas
propriedades, para a produção de alimentos, visando a superar a crise de
abastecimento pela qual o Estado passava, principalmente, na área
urbana.

241
Também havia no Paraná uma mentalidade de povoar o território
com imigrantes brancos porque os governantes entendiam que os
indígenas e os escravos negros não eram laboriosos, esforçados ou
capazes de realizar trabalhos mais dignos ou conquistar o espaço
paranaense. Os imigrantes europeus contribuíram com a gradativa
substituição do sistema escravista colonial pelo trabalho livre em
propriedades.
A maioria das colônias de imigrantes se instalou na região de
Curitiba e no Litoral. Muitas colônias prosperaram e deram origem a alguns
municípios do Estado, tais como: Cerro Azul, Teófilo Otoni, Araucária,
Piraquara, Lapa, Palmeira, Ponta Grossa, São José dos Pinhais, Rio
Negro, Prudentópolis, Ipiranga, Irati, Castro, Rolândia, Cambé, Missal e
Marechal Cândido Rondon.
No entanto, o projeto de ocupação e colonização do interior do
território paranaense, motivado pela imigração oficial, não alcançou o êxito
pretendido nesse período. Por isso, grandes áreas do Estado, localizadas
no Sudoeste e Oeste, principalmente, só foram ocupadas e povoadas mais
tarde, a partir da migração interna, principalmente, dos Estados de Santa
Catarina e Rio Grande do Sul.

CASA LOCALIZADA NA COLÔNIA ALEMÃ WITMARSUM, MUNICÍPIO DE


PALMEIRA – PARANÁ

Disponível em:
http://wikipedia.mobi/thumb/
7ef4502/pt/fixed/470/313/M
useuWitmarsumPR2.JPG?f
ormat=jpg. Acesso em
04/11/2020.

242
COLÔNIA CECÍLIA EM PALMEIRA

A Colônia Cecília foi uma experiência prática do Anarquismo, que


durou de 1890 a 1894, em terras do perímetro da cidade de
Palmeira, Paraná. Fundada por Giovanni Rossi e outras cinco
pessoas, a colônia, já em 1890, ganhou seu primeiro descendente.
Disponível em: http://www.gazetadepalmeira.com.br/destaques/iv-simposio-sobre-a-colonia-
cecilia-em-palmeira-teve-palestras-e-visitas-ao-memorial/ . Acesso em 04/11/2020.

COLÔNIA ÁRABE EM FOZ DO IGUAÇU

Disponível em: https://www.comboiguassu.com.br/blog-em-foz-do-


iguacu/itinerario-arabe-em-foz-do-iguacu-venha-realizar-esse-passeio.
Acesso em 04/11/2020.

243
COLÔNIA JAPONESA CACATU, CRIADA EM 1917, ENTRE
MORRETES E ANTONINA

Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/103-anos-da-


presenca-japonesa-no-parana-eqewcdr7d1936of4gqb648vlg/. Acesso em
04/11/2020.

COLÔNIA UCRANIANA EM PRUDENTÓPOLIS – PARANÁ

Catedral Nossa Senhora da Imaculada Conceição

244
Disponivel em: https://www.melevaviajar.com.br/prudentopolis-pequena-ucrania/ Acesso em
04/11/2020.

Caderno de atividades – Unidade 9: A imigração europeia e as


migrações internas

Migrações internas: colonização do Sudoeste e Oeste do


Paraná

As migrações internas contribuíram com a ocupação, colonização e


povoamento das regiões Sudoeste e Oeste do Estado. Descendentes de
imigrantes europeus, filhos de colonos instalados em Santa Catarina e no
Rio Grande do Sul migraram para essas regiões.
Esses migrantes procuravam se estabelecer em pequenas
propriedades com o objetivo de trabalhar e produzir os alimentos de que
necessitavam para manter sua família e comercializar o excedente da
produção com os centros urbanos próximos às propriedades.
Por isso, a ocupação dessas regiões tinha como característica
principal a policultura, diferente dos demais momentos da economia
paranaense, baseados em ciclos econômicos com uma atividade principal.
A partir de 1920, descendentes de imigrantes europeus iniciaram o
povoamento e a ocupação do Sudoeste e Oeste do Paraná. Como havia

245
uma cultura camponesa entre os imigrantes alemães e italianos instalados,
originalmente, no Rio Grande do Sul, principalmente, sobre o cultivo
agrícola em pequenas propriedades, os filhos precisavam migrar e
conquistar espaço para sustentar as novas famílias que formavam.
Os pais tinham a prática de comprar lotes para manter seus filhos na
agricultura. Geralmente, procuravam terras mais baratas, localizadas
distantes de sua propriedade. Isso os levou a ultrapassar os limites do
Estado gaúcho, passando por Santa Catarina e chegando ao Sudoeste e
Oeste paranaense. Assim, de geração em geração, expandia-se a
colonização.
Um fato que atraiu migrantes do Sul para essas regiões do Paraná
foi a comercialização de grandes quantidades de terras por companhias
particulares que receberam do Governo o direito de vendê-las, para que
essa área fosse colonizada. Essas companhias colonizadoras retiravam
madeira e comercializavam pequenos lotes de terra, que seriam
explorados pela mão de obra familiar.
Como não havia muitas estradas, meios de comunicação e centros
urbanos na região, os povos que chegaram ao Sudoeste e Oeste do
Estado conseguiram manter os costumes, tradições e técnicas de trabalho
de seus ancestrais.
Inúmeros povoados foram formados pelos colonos. Várias
comunidades prosperaram e originaram os municípios que compõem
essas regiões.

246
Travessia do rio Iguaçu, em 1940, para
Migrantes gaúchos trabalhando nas matas do chegar ao Oeste do Estado.
Sudoeste paranaense.

a) Qual é o local retratado nas imagens?


b) Como são as vestimentas das pessoas nas imagens?
c) Que objetos as pessoas estão segurando na segunda imagem?
d) Por que há somente homens?
e) Localize no mapa do Paraná as regiões Oeste e Sudoeste.

A diversidade étnica no estado do Paraná

Filhos da miscigenação – Rubens Belém.


http://rbartescomestilo.blogspot.com/2010/01/obra
s-ineditas.html

O Paraná é um dos estados com a maior diversidade étnica do


Brasil. São indígenas, africanos, alemães, poloneses, ucranianos,

247
italianos, japoneses, povos que ajudaram a construir o Paraná de hoje. As
28 etnias que colonizaram o Estado trouxeram na bagagem sua cultura,
costumes e tradições. Os imigrantes chegaram com a promessa de
encontrar a paz numa terra desconhecida, mas que prometia trabalho,
terra, produção e tranquilidade. Entre 1853 e 1886, o Estado recebeu
cerca de 20 mil imigrantes. Cada um dos povos que colonizaram o Paraná
formaram colônias nas regiões do Estado.
Alemães — chegaram ao Paraná, em 1829, fixando-se em Rio
Negro. Mas o maior número de imigrantes vindos da Alemanha chegou
ao Estado no período entre guerras mundiais, fugindo dos horrores dos
conflitos. Esse povo trouxe ao Paraná todas as atividades a que se
dedicava, entre elas a olaria, agricultura, marcenaria, carpintaria, etc.. E,
à medida que as cidades prosperavam, os imigrantes passaram a exercer
também atividades comerciais e industriais. Hoje, a maior colônia de
alemães do Paraná está no município de Marechal Cândido Rondon, que
guarda na fachada das casas, na culinária e no rosto de seus habitantes
a marca da colonização. Os alemães estão concentrados também em
Rolândia, Cambé e Rio Negro. A maioria deles chegou ao Paraná vindo
de Santa Catarina.
Árabes — O primeiro lugar onde os árabes se instalaram no
Paraná foi Paranaguá. Mais tarde, eles foram para Curitiba, Araucária,
Lapa, Ponta Grossa, Guarapuava, Cerro Azul, Londrina, Maringá e Foz
do Iguaçu, que hoje tem a maior colônia árabe do Estado. Em Curitiba,
apareceram em maior número após a Segunda Guerra Mundial, quando
chegaram a constituir cerca de 10% da população. Uma das maiores
influências dos árabes no Estado está na gastronomia, passando os
temperos e condimentos a ser incorporados à culinária de modo geral,
além dos kibes e sfihas, que até hoje estão presentes na mesa dos

248
paranaenses. Os imigrantes árabes se dedicaram, principalmente, à
produção literária, arquitetura, música e dança.
Espanhóis — Os primeiros imigrantes espanhóis que chegaram
ao Paraná formaram colônias nos municípios de Jacarezinho, Santo
Antônio da Platina e Wenceslau Brás. Entre 1942 e 1952, a imigração
espanhola se tornou mais intensa. Novos municípios, principalmente na
região de Londrina, foram formados por esses imigrantes. Eles
desenvolveram atividades comerciais, artesanais e relacionadas à
indústria moveleira.
Holandeses — Os primeiros holandeses chegaram ao Paraná em
1909, instalaram-se em uma comunidade próxima a Irati. Algumas
famílias acabaram voltando para a Holanda, outras foram para a região
dos Campos Gerais, onde fundaram a Cooperativa Holandesa de
Laticínios, em 1925. A Cooperativa trouxe a consolidação da colônia de
Carambeí. Castrolanda é a povoação mais recente de holandeses na
região.
Indígenas — No início da colonização, em 1500, o Brasil era
habitado por tribos indígenas, que viviam por todo o território nacional. No
Paraná, os habitantes nativos também eram os indígenas que formavam
grandes grupos ou tribos, os Jê ou Tapuia e a grande família dos Tupi-
Guarani. Os Carijó e Tupiniquim habitavam o Litoral; os Tingui, a região
onde hoje é Curitiba; os Camé, a região onde hoje é o município de
Palmas; os Caingangue e Botocudo habitavam o interior do Paraná. Os
primeiros caminhos do Paraná foram feitos pelos indígenas e usados
pelos bandeirantes para penetrar no território: Caminho de Peabiru,
Caminho da Graciosa, Caminho de Itupava e Estrada da Mata.
Italianos — Sem dúvida, os italianos foram os que ocuparam o
primeiro lugar nas imigrações brasileiras. No Paraná, eles contribuíram
muito trabalhando nas lavouras de café e, mais tarde, em outras culturas.

249
A principal concentração desses imigrantes no Estado está na capital,
Curitiba, em Morretes, no Litoral, e nas cidades de Palmeira e Lapa, onde
existiu a colônia de Santa Cecília. Os italianos contribuíram também na
indústria e na formação de associações trabalhistas e culturais.
Japoneses — Os imigrantes japoneses se fixaram no Norte
Pioneiro, trazendo a tradição da lavoura. Como, porém, desconheciam
técnicas agrícolas relativas às culturas tropicais, se dedicaram à
piscicultura, horticultura e fruticultura na economia regional. Alguns dos
produtos introduzidos no Estado pelos japoneses foram o caqui e o bicho-
da-seda. Maringá e Londrina são as cidades paranaenses que concentram
o maior número de japoneses. Os municípios de Uraí e Assaí se
originaram a partir de colônias japonesas.
Afrodescendentes — A população do Paraná tradicional, isto é, do
Paraná da mineração, da pecuária, das indústrias extrativas do mate e da
madeira, e da lavoura de subsistência, era heterogênea e nela estavam
presentes os mesmos elementos que compunham a população das outras
regiões brasileiras: o indígena, o europeu, o negro e seus mestiços.
Portanto, uma sociedade também marcada pela escravidão e na qual foi
significativa a participação econômica e social dos escravos negros. Na
primeira metade do século XIX, o número relativo de representantes dessa
etnia chegou a 40% do total da população da Província. Em Curitiba, o
escravo estava presente no trabalho doméstico, mas também tinha lugar
importante no cenário cultural da cidade. Eles mostravam seu talento
musical participando de "cantos" no largo do mercado municipal.
Poloneses — Os poloneses chegaram ao Paraná por volta de 1871
e se fixaram em São Mateus do Sul, Rio Claro, Mallet, Cruz Machado, Ivaí,
Reserva e Irati. Em Curitiba, fundaram várias colônias, que hoje são os
bairros de Santa Cândida e Abranches. Esse povo ajudou a difundir o uso

250
do arado e da carroça de cabeçalho móvel, puxada a cavalo. Dedicados à
agricultura, ajudaram a aumentar a produção do Estado.
Portugueses — No Paraná, a partir de meados do século XIX,
destacam-se as grandes levas de portugueses atraídos pela explosão
cafeeira do Norte Novo do Paraná, no eixo compreendido entre Londrina,
Maringá, Campo Mourão até Umuarama. A grande maioria veio das Beiras
(Alta e Baixa), Minho, Trás-os-Montes. A cidade de Paranaguá foi, e
continua sendo até hoje, a cidade do Paraná que tem mais traços da
cultura e herança lusitana. Foi a porta de entrada dos portugueses e
manteve alguns traços característicos desse legado.
Ucranianos — Os ucranianos chegaram ao Paraná entre 1895 a
1897. Mais de 20 mil imigrantes chegaram ao Estado e formaram suas
principais colônias em Prudentópolis e Mallet. Estão presentes também
nos municípios de União da Vitória, Roncador e Pato Branco. Hoje, o
Paraná abriga a grande maioria de ucranianos que vivem no Brasil: 350
mil dos 400 mil imigrantes e descendentes.
Texto, com adaptações. Disponível em: http://turismoinformativo.blogspot.com/2008/02/etnias-no-
paran.html

Caderno de atividades – Unidade 9: A imigração europeia e as


migrações internas

Leitura complementar

A conquista das terras de Jardinópolis

Vamos lembrar como viviam as pessoas no campo. Uma família


entra na mata carregando mochilas, carente de provisões básicas, lavoura
feita à foice, machado e serrote. Terra lavrada a boi, limpa à enxada,
plantio e colheita feitos manualmente, produtos debulhados a casco de

251
cavalo, manguá, até que veio a trilhadeira, uma inovação tecnológica para
aquela época. A carne vinha da caça e da pesca, a luz era à base de
lampião de querosene, a casa de chão batido, a madeira era serrada no
estaleiro e, às vezes, os trabalhos eram executados em forma de mutirão
entre vizinhos. Também existiam os bailes que eram feitos em algum
galpão. O enfermo sem médico. A professora que somente tinha o terceiro
ano primário. Canjica feita no pilão. Transporte feito por carros de boi.
Viagem a cavalo ou a pé. Fazer e conservar estradas e construir bueiros.
(...)
Ao entrevistar antigos pioneiros de Jardinópolis, eles narraram o que
lembravam. Por volta de 1957, agricultores que não tinham como comprar
uma área de terra, recorreram a algumas autoridades da região Oeste do
Paraná, para se inteirar da situação da Gleba Silva Jardim. Foram
informados de que eram terras à disposição de agricultores pobres. Com
esta informação, alguns trabalhadores penetraram na área, abrindo
picadas. A notícia se espalhou na região Oeste e Sudoeste e logo chegou
a Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A Gleba Silva Jardim, em pouco
tempo, um ano e meio aproximadamente, já possuía em torno de 20
famílias. Sempre que possível, cada morador mandava notícias a
parentes do Sul, contando sua vida e como iam as coisas nas novas
terras. As notícias eram enviadas por carta, nas mãos de pessoas que,
por ventura, vinham ou iam para o Sul. O assunto era quase repetitivo,
mais ou menos assim: “Nós vamos bem de saúde, graças a Deus, a terra
é boa. A caça e alguns peixes ajudam a gente a viver, além dos palmitos,
o miolo de uma palmeira que é muito bom pra gente comer”.
As perguntas se repetiam, e, uma das principais era:
- Por que vieram pra cá?
A resposta entoava:
- Em busca de terra, pois a gente não tinha como comprar.

252
- Do que viviam?
- De alguma provisão que a gente trouxe. Melado, banha, arroz,
linguiça, às vezes, e do que tinha por aqui. Alguns trocados, até que logo
mais a gente começou a colher milho, arroz, feijão, criava galinhas,
porcos, etc.
- Quais as maiores dificuldades?
- A gente não podia vender o produto, pois não tinha comprador.
Muita saudade dos parentes e amigos, e um lugar onde tudo estava por
fazer.
- Qual esperança que tinham?
- A terra era boa, fértil, que gera um futuro.
- O que alegrava vocês?
- A gente começou a sair mais. Nos fins de semana, quando o padre
chegava para rezar a missa, a gente soltava foguetes.
- Como resolviam os problemas?
- Um ajudava o outro. O Senhor Zaguerski tinha uma carroça de
cavalo. Ele reunia o milho e levava no moinho em Medianeira, trazia
farinha, além de outras mercadorias que por lá tinha. Fora disto, a gente
deveria ir a pé a Medianeira, em alguns casos até São Miguel do Iguaçu,
que naquele tempo era conhecido por Gaúcha.
Segundo os pioneiros, devido à fertilidade da terra, os Sem-Terra de
diversos municípios do Rio Grande do Sul e do Sudoeste paranaense
começaram a habitar a Gleba Silva Jardim. Entre os posseiros, também
existiam os especuladores. Alguns posseiros tomavam posse de muita
terra para depois vender a outros que aqui vinham. O negócio era feito na
base de troca. Na maioria dos casos, por exemplo, alguém que no Sul
vivia em cinco hectares vendia a propriedade e, com o dinheiro, pagava o
transporte da mudança, além dos utensílios domésticos, ferramentas, junta
de boi, vaca de leite, novilha, cavalo, etc. Ora! Uma novilha podia ser

253
trocada por vinte ou trinta hectares de terra. É bom lembrar que muitos
posseiros negociantes de terras acabaram sem terras e desapareceram.
Em 1960, a Gleba tinha uma porção de habitantes, tudo corria bem.
Em 1961, a Gleba estava, em sua maior parte, habitada, o povo era
animado, trabalhava cortando a mata, fazendo lavoura, construindo
estradas e bueiros. Já havia uma escolinha e já se pensava em construir
uma igreja. As dificuldades, sempre ao lado dos trabalhadores, porém as
plantações reanimavam a vinda de outros migrantes.
Em maio de 1961, uma notícia preocupou os posseiros: foram
avisados de que a terra tinha dono. Os habitantes da Gleba deveriam
pagar a terra à vista ou seriam despejados.
Texto, com adaptações, extraído da obra Memória: documentos sobre a revolta de, 61 de Leonir
Olderico Colombo, (2001) p. 23-26.

Curiosidade
Qual é a diferença entre refugiados e imigrantes?
Refugiados têm temor de perseguição por várias razões. Buscam
proteção, integridade, liberdade em outro país.
Imigrantes querem ir para outro lugar em busca de uma vida melhor.

254
UNIDADE 10

CONFLITOS INTERNOS NO PARANÁ

Apresentação

A questão da posse e do direito pela terra foi um longo processo de


conquista no território paranaense, que motivou agitações, lutas, inclusive
revoltas armadas, e movimentos organizados que contribuíram com a
ocupação do espaço e a organização social. Por que a terra foi (e ainda é)
a razão principal das revoltas? Como os grandes proprietários se
organizaram para tomar posse de extensas propriedades? Como as
pessoas que perderam seu espaço ou foram ameaçadas se organizaram
para defender suas propriedades? De que forma o governo se
manifestou/manifesta em relação a essas questões?

A luta pela terra

A questão da luta pela terra motivou muitas revoltas no território


paranaense ao longo dos mais de 500 anos de presença europeia nessa
região.
Inicialmente, os índios foram expulsos de suas comunidades. Os
europeus destruíram a civilização humana que havia aqui antes da
ocupação dos portugueses, espanhóis e demais imigrantes.
Durante muitos anos, espanhóis e portugueses também lutaram para
conquistar, povoar e demarcar o espaço que julgavam lhes pertencer, a
partir de acordos e tratados estabelecidos na Europa.
Em seguida, houve vários processos de lutas e resistências. Os
principais conflitos se deram para demarcar a divisa entre o Brasil e a

255
Argentina e os estados do Paraná e Santa Catarina. No entanto, os
confrontos mais sangrentos ocorreram entre os camponeses posseiros que
conquistaram suas propriedades em várias regiões do Estado e as
empresas colonizadoras oficias.
Nos últimos tempos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-
Terra (MST), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e as
Comunidades Quilombolas são grupos que lutam para conquistar seus
objetivos relacionados a questões agrárias.
A questão da posse da terra esteve sempre presente nos principais
conflitos, lutas e processos de resistência que ocorreram durante a
ocupação do território paranaense, o que significa que para superar esse
problema foi necessário organização e enfrentamento, seja para defender
direitos ou conquistar áreas de terras, ações essenciais para melhorar as
condições de vida dos trabalhadores.
Índios, escravos, negros, camponeses, sem-terra, pessoas que
perderam suas terras para empresas colonizadoras ou barragens, tiveram
a consciência de que, caso não se rebelassem e lutassem por seus
objetivos, a situação de injustiça, pobreza, miséria e fome aumentariam,
devido à concentração de grandes áreas de terra nas mãos de poucas
pessoas.

256
Converse com seu (sua) professor (a):
 O que uma cerca representa?
 Qual o significado do uso dessa cerca, no contexto desse conteúdo?
 Que relação essa imagem tem com o assunto: questão da luta pela
terra?

Caderno de atividades – Unidade 10: Conflitos internos no Paraná

A resistência indígena

A ocupação europeia, no território paranaense, enfrentou muitos


conflitos, lutas e resistências da parte dos índios, na defesa de seu espaço.
A conquista do território indígena foi feita por meio de alguns acordos,
mas, principalmente, com o uso da espada, da cruz e das doenças. Durante
vários séculos, os índios foram perseguidos. Não só no Litoral e Oeste do
Estado, mas em todo o território paranaense.

257
As poucas aldeias que estão instaladas atualmente no Estado são
exemplos de resistência, diante de tudo o que os índios passaram desde a
chegada dos portugueses em território paranaense. Para muitos, até hoje,
as áreas indígenas representam um obstáculo ao desenvolvimento e ao
progresso do Estado.
No entanto, embora lutassem para defender o solo onde viviam, na
maioria dos casos, os índios foram vencidos, escravizados, mortos ou
expulsos. A conquista dos europeus exterminou grande parte da civilização
indígena.
Uma das lutas aconteceu entre os anos de 1578 e 1579. O movimento
foi liderado pelo cacique Oberá e envolveu indígenas que viviam em
praticamente toda a área ocupada atualmente pelo Oeste do Paraná. Essa
revolta iniciou em solo paraguaio e se estendeu até aqui.
O objetivo era libertar o povo Guarani da opressão espanhola. Como
Oberá tinha conhecimento sobre a dificuldade de vencer os europeus que
possuíam armas de fogo, foi deflagrada uma “greve” geral entre os índios,
que se recusaram a continuar trabalhando para os espanhóis, dedicando-
se exclusivamente a dançar e cantar durante muito tempo.
As autoridades espanholas, sediadas em Assunção, no Paraguai,
procuraram acabar com a rebelião. As tropas iam às aldeias para trazer os
índios de volta ao trabalho. Mas o cacique Oberá nunca foi encontrado.

Resistência
indígena. Tela
de Jean
Baptiste
Debret, 1834.

Disponível em: http://historiografiamatogrossense.blogspot.com

258
Comunidades Remanescentes de Quilombos e Comunidades
Tradicionais Negras

As várias comunidades quilombolas ou tradicionais negras existentes


no Paraná são os resquícios vivos de um povo que luta bravamente para
manter seus costumes, sua tradição e sua história.
Com muito esforço, essas comunidades formadas por descendentes
de escravos que trabalhavam nas fazendas paranaenses, localizadas, em
sua maioria, no interior, se estruturam para viver com dignidade e superar
as marcas e os preconceitos que os anos de escravidão imprimiram em suas
vidas e sociedades.
Há aproximadamente 100 comunidades descendentes de escravos
que sobrevivem da agricultura de subsistência, caça, pesca e extrativismo.
Essas comunidades foram formadas por pessoas que fugiram do regime de
trabalho escravo ou logo após a abolição da escravatura em 1888, se
organizaram em quilombos no interior das florestas paranaenses,
geralmente em locais de difícil acesso, para se defender.
Os fugitivos andavam errantes pelas florestas, abrindo picadas,
sobrevivendo da caça, pesca, raízes e frutas, até se estabelecer em áreas
consideradas seguras. Com o tempo, muitos ex-escravos se encontravam
iniciando uma comunidade. Muitos descendentes são filhos também da
união de negros e índios.
Além da luta para receberem o reconhecimento do governo, as
comunidades negras também combatem o racismo, buscam a promoção da
igualdade, a valorização, a difusão e preservação de sua cultura, o
reconhecimento, a liberdade e o respeito da sociedade e dos indivíduos.

259
Por isso, há uma grande preocupação nas comunidades em relatar
aos mais jovens e crianças as histórias dos antepassados. Assim, os
valores, a cultura, os conhecimentos, a religiosidade, o trabalho, a
organização da sociedade, o passado de sofrimento, resistência, luta e
afirmação, podem garantir a continuidade dessas comunidades no território
paranaense.

Comunidade Cerro
Azul

http://quilombospr.blogspot.com/

Assim como negros e indígenas, também outros grupos precisaram


lutar para demarcar territórios. Os textos a seguir apresentarão
informações sobre esse importante momento histórico referente ao
atual território paranaense.

Caderno de atividades – Unidade 10: Conflitos internos no Paraná

Questão de Palmas

As fronteiras do nosso país nem sempre foram como são atualmente.


Ao longo da História, ocorreram vários conflitos na disputa do território
brasileiro.
Um dos conflitos foi a Questão de Palmas, que ocorreu entre o Brasil
e a Argentina.

260
A Argentina reivindicava a atual região do Oeste de Santa Catarina e
Sudoeste do Paraná, sendo que as fronteiras entre esses dois países foram
definidas em 1777, no Tratado de Santo Ildefonso, entre Portugal e
Espanha, que seria entre os rios Peperi-Guaçu e Santo Antônio.
Em 1881, a Argentina começou a questionar esse Tratado dizendo
que sua fronteira a leste iria até os rios Chapecó e Chopim, denominando-
os de Peperi-Guaçu e Santo Antônio; ao norte, a fronteira seria o rio Iguaçu
e ao sul o rio Uruguai, compreendendo aproximadamente 30.000 km² de
área.

Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/12009503/

O Brasil, percebendo as intenções da Argentina, tomou algumas


medidas preventivas em defesa ao seu espaço territorial. Em 1882, iniciou
a navegação fluvial do rio Iguaçu até União da Vitória (Porto Vitória) e
instalou definitivamente as colônias de Chopim e Chapecó.
Em 1889, a Argentina apresentou um acordo propondo dividir o
território em conflito. Acordo este aceito pelo então presidente do Brasil,
Deodoro da Fonseca, mas recusado pelo Congresso Nacional Brasileiro.

261
Porém, nenhum dos dois países via no conflito armado a solução para o
impasse. Foi então que adotaram a solução do arbitramento. Como árbitro,
foi escolhido o presidente dos Estados Unidos Grover Cleveland. A questão
em julgamento deveria ser favorável a um dos países, sem, no entanto,
dividir o território.
Para defender o Brasil, foi escolhido o Barão do Rio Branco. Para a
defesa brasileira, ele utilizou:
_ a alegação de que dos 5.673 habitantes dessa região em conflitos,
30 eram estrangeiros e os demais eram brasileiros;
_ que dos 30 estrangeiros, não havia um único argentino;
_ uma cópia do mapa do Tratado de Madrid de 1750, que os
portugueses e espanhóis haviam utilizado para traçar suas fronteiras. Nesse
mapa, os rios Peperi-Guaçu e Santo Antônio reforçavam os interesses
brasileiros.
O árbitro norte-americano Grover Cleveland deu a sentença, em
1895, favorável ao Brasil, mantendo os limites estabelecidos no Tratado de
Santo Ildefonso.
Por isso, a comunidade de Boa Vista de Palmas, próxima a Palmas,
localizada na área em disputa pela Argentina e Brasil, passou a denominar-
se Clevelândia, em homenagem ao presidente norte-americano Grover
Cleveland, árbitro do conflito que decidiu o impasse a favor do Brasil.
Autoras: Lisete Zacomelli, Sandra Marcon e Iria Bruch Böhm

A Guerra do Contestado

Em 15 de novembro de 1889, houve a proclamação da República no


Brasil. Com o fim do Império, as províncias passaram a ser chamadas de
Estados.

262
Os primeiros anos da República foram conturbados no Paraná. Em um
ano houve sete governadores. Os atritos, desavenças, conflitos e lutas pelo
poder político mostravam que a elite paranaense estava dividida em torno
de interesses particulares que poderiam ser alcançados pelo acesso ao
poder. Geralmente, os representantes políticos estavam ligados aos grupos
poderosos da erva-mate e do gado.
Nesse período, ocorreram também lutas, revoltas e revoluções com o
objetivo de questionar o poder político, reivindicar o acesso às terras ou
demarcar as divisas entre Paraná e Santa Catarina.

http://www.viageiro.com/guerra-do-contestado/mapa.jpg

As batalhas violentas que ocorreram durante a Guerra do Contestado


(1912-1916) tinham como objetivo reprimir os camponeses que lutavam por
uma área de terra. A luta dos colonos se justificava porque centenas deles
foram expulsos de suas terras quando foram construídas estradas de ferro
na região, exemplo disso foi a companhia colonizadora americana Brazil
Railway Company, que, ao se instalar, se apropriou dessas terras.

263
Empresa ferroviária que
concluiu o trecho catarinense da
Estrada de Ferro São Paulo- Rio
Grande.

http://2.bp.blogspot.com/_kdeDKUQPDl0/TNkjcNohTMI/AAAAAAAAbvA/7Iv.OQbK2TjA/s1600/Brazil_RW100a.jpg .

Inicialmente, os camponeses eram comandados por líderes religiosos.


Os principais líderes desse movimento foram os monges José Maria de
Santo Agostinho e João Maria.
Em Palmas, num confronto entre os sertanejos e a polícia paranaense,
as tropas oficiais foram derrotadas. Porém, o líder do movimento, José
Maria, foi assassinado. Foram necessárias cinco expedições militares
oficiais para expulsar os rebeldes da região de Irani, em Palmas, que se
mudaram para o interior de Curitibanos, em Santa Catarina.
Nesse Estado, sofreram um violento ataque e a comunidade foi
destruída pelos soldados do governo. Além das pessoas, os animais foram

264
mortos e as casas queimadas. Isso provocou uma grande revolta entre os
camponeses, que se organizaram e formaram inúmeros redutos em Santa
Catarina e no Paraná, conquistando o território localizado entre os rios
Uruguai e Iguaçu. Essa região era habitada por cerca de 20.000
camponeses e foi chamada de Ibituruna ou Bituruna. Em algumas
comunidades viviam até 5.000 pessoas.

Caboclos preparados
para a Guerra do
Contestado.

http://static.panoramio.com/photos/original/644526.jpg

Em 1914, uma tropa com 7.000 soldados foi designada para acabar
com as comunidades que se organizaram na região do Contestado. A
Guerra durou 4 anos. Houve muitos confrontos e os colonos foram vencidos
pelas tropas oficiais.

A revolta de Porecatu

Na área localizada entre os rios Pirapó, Tibagi e Paranapanema, na


região de Porecatu, no Norte do Paraná, de 1947 a 1952, ocorreu uma
importante luta pela terra, conhecida como Revolta de Porecatu.

265
http://www.territorioscuola.com/wikipedia/pt.wikipedia.php?title=Porecatu.

Essa revolta foi motivada pelo acesso à terra, porque várias pessoas
e empresas receberam concessões para vendê-las aos colonos. No
entanto, muitos posseiros já haviam se instalado em propriedades
localizadas nessa região, porque consideravam essas terras devolutas, ou
seja, terras que eram públicas e nunca haviam tido proprietário.
Esses camponeses tentavam legalizar suas propriedades, mas não
conseguiam. Fundaram então uma Liga Camponesa para organizar uma
luta pela legalização de suas terras.
Quando os colonos fizeram um protesto na estrada que liga
Presidente Prudente a Londrina, em 1947, para chamar a atenção do
governo sobre o problema da legalização das terras, grileiros e jagunços,
com o apoio da polícia, os enfrentaram, com o objetivo de acabar com a
manifestação. E, além de expulsá-los, cometeram algumas atrocidades
contra os camponeses, incendiando algumas casas, matando animais,
roubando algumas propriedades, prendendo, torturando e matando um dos
líderes da Liga Camponesa, o senhor Francisco Bernardo.
Essa atitude gerou muita revolta entre os agricultores, que decidiram
organizar uma resistência armada, enquanto negociavam com o governo a
legalização das propriedades.

266
Os jagunços e a polícia voltaram para tentar desocupar as
propriedades. Mas houve troca de tiros e mortes. Então, o governo mandou
reforço e, em 17 de junho de 1951, foram presos vários líderes políticos do
movimento. Em seguida, centenas de soldados ocuparam a região. Alguns
moradores se entregaram, outros fugiram e muitos desistiram da luta
armada. Poucos foram presos.
Com o fim da revolta, a maioria dos agricultores recebeu do governo
o título de propriedade da terra e legalizaram sua situação nos municípios
de Centenário, Campo Mourão e Paranavaí. Já em Porecatu, Jaguapitã e
Arapongas, as propriedades foram desapropriadas e as terras foram
declaradas de utilidade pública, sendo vendidas posteriormente.

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/galerias/imagem/0000001753/0000020758.jpg

As empresas estrangeiras e alguns fazendeiros utilizavam grileiros,


jagunços e pistoleiros para expulsar os milhares de habitantes que
desbravaram e povoaram o território paranaense. Muitos moradores
morreram defendendo suas propriedades. Milhares foram expulsos de
suas terras. Em alguns locais, os colonos se organizavam e lutavam para
defender suas propriedades.

267
Revolta dos posseiros no Sudoeste do Paraná

Ocorreram também outros confrontos entre grileiros e posseiros no


interior do Paraná, porque o governo do Estado concedeu grandes áreas de
terra a companhias estrangeiras (inglesas, argentinas e americanas, por
exemplo) para explorar erva-mate e madeira. No entanto, em vários lugares,
havia moradores, conhecidos como posseiros, trabalhando em suas
propriedades.
No Sudoeste do Estado, milhares de posseiros que estavam
instalados em suas propriedades foram ameaçados por grileiros, jagunços
e pistoleiros. Nessa área, havia várias polêmicas sobre a quem (Estado,
nação ou empresa) pertencia um imenso território, com cerca de meio
milhão de hectares de terra.

Localização da área em litígio no sudoeste do paraná que resultou na


revolta dos posseiros em 1957

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/300-2.pdf.

Esse território foi disputado pelo Brasil e Argentina, pelos estados do


Paraná e Santa Catarina, por empresas colonizadoras, pelo Governo do
Paraná e pelo Governo Federal, mas, de modo especial, pelos posseiros.
Mais de 50.000 colonos que desbravaram a região e se instalaram nas
propriedades corriam o risco de perder suas terras para empresas grileiras

268
que atuavam na região, com o apoio do então governador do Estado,
Moisés Lupion.
As empresas grileiras queriam forçar os camponeses a comprar as
propriedades nas quais já viviam. Pagavam jagunços e pistoleiros para
amedrontar e intimidar os colonos, matando e espancando alguns líderes
do movimento e seus familiares, inclusive, mulheres e crianças. Também
saqueavam muitas propriedades, levando os mantimentos e utensílios de
valor e, em seguida, queimavam as casas.
Então, a partir de 1957, os posseiros se organizaram e decidiram lutar
por seus interesses, principalmente porque estavam horrorizados com a
crueldade dos jagunços. Atacaram alguns escritórios das companhias
colonizadoras e se armaram para enfrentar os jagunços e pistoleiros,
principalmente em Capanema e Santo Antônio do Sudoeste.

Os colonos rebelados ocuparam Francisco Beltrão e


expulsaram as empresas exploradoras.
http://www.guata.com.br/uns_toques/082007UTrevoltacolonos1.htm

Os posseiros também ocuparam e tomaram as cidades principais da


região: Francisco Beltrão e Pato Branco. Cerca de 6.000 pessoas
participaram desse ato. Os colonos chegaram a Beltrão em caminhões,
carroças, a cavalo ou a pé. Todos armados. Com foices, velhos revólveres,
espingardas de caça, enxadas e pedaços de pau. Tomaram a delegacia e a

269
prefeitura e fecharam os escritórios das companhias. O prefeito, o delegado,
funcionários das empresas e os jagunços fugiram da cidade.
Então, o governo enviou representantes para a região com o objetivo
de negociar com os trabalhadores e garantir-lhes a permanência nas
propriedades.
Um fator importante que ajudou os camponeses do Sudoeste do
Paraná na defesa de seus direitos foi a chegada de soldados do Exército
para essa região de fronteira. Os militares apoiaram os colonos e suas
reivindicações, forçando o governador do Estado a retirar seu apoio às
empresas colonizadoras, acabando finalmente com o conflito armado.
Dessa forma, o movimento dos posseiros atingiu seus objetivos: a
expulsão das companhias colonizadoras e a legalização das propriedades.

http://www.arquivopublico.pr.gov.br/arquivos/Image/fotlupion/IC054A.jpg

Conflitos pela posse da terra no Oeste do Paraná: a Revolta de


Jardinópolis

As disputas pela posse da terra nas regiões Oeste e Sudoeste do


Paraná resultaram em conflitos armados que custaram centenas de vidas
humanas, entre jagunços e posseiros, nas décadas de 50 e 60. Um destes

270
conflitos de grandes proporções aconteceu em Jardinópolis, interior do
município de Medianeira, às 13 horas do dia 2 de junho de 1961.
O dia 2 de junho de 1961 é, ao mesmo tempo, uma das principais
datas históricas e um dos temas proibidos dos atuais doze mil habitantes
dos distritos de Jardinópolis e Flor da Serra, pertencentes ao município de
Medianeira, no Oeste paranaense. Foi ali que 150 posseiros enfrentaram
cerca de 200 jagunços e homens fardados como policiais militares numa
batalha campal que resultou em mais de 100 mortes e tem como único
registro os inacessíveis arquivos históricos oficiais e a lembrança de alguns
poucos e arredios sobreviventes do combate. Eles simplesmente se negam
a falar sobre o assunto, temendo até hoje, uma eventual represália policial.
[...]
Os pioneiros eram famílias de agricultores oriundas do Oeste
catarinense, do Rio Grande do Sul e até mesmo de outras regiões do
Paraná, que chegavam à chamada Gleba Jardinópolis, localizada nas
divisas do Parque Nacional do Iguaçu, formada por milhares de alqueires
de mata virgem e tida como terra devoluta. No ano de 1960, já eram dezenas
os agricultores instalados na área em que chegavam com algumas
ferramentas na mochila, mais algumas provisões de melado de cana, banha
de porco, linguiça, arroz e muita esperança no futuro. A maioria dessas
pessoas eram trabalhadores rurais e agricultores pobres, que buscavam um
pedaço de terra para cultivar e, assim, oferecer uma vida melhor para sua
família. Entre os pioneiros que tomaram posse das terras, estavam
agricultores mais espertos que, prevendo lucros futuros, ocuparam grandes
extensões da mata e depois passaram a vender lotes menores aos colonos
que continuavam a chegar à região.
[...]
No início de 1961, a comunidade cresceu com a chegada de posseiros
que haviam sido expulsos por jagunços e policiais de uma Gleba localizada

271
no interior de Matelândia, sob a ameaça de incêndio das moradias e até de
morte aos que resistissem. [...] Então correu a notícia de que a terra ocupada
pelos posseiros tinha dono e eles iam exigir ou o pagamento à vista ou a
desocupação da área. A posição dos pretensos proprietários chegou
oficialmente: pagamento à vista ou o despejo imediato. Os posseiros
reuniram-se para debater o que fazer, porque reunir o dinheiro para pagar a
terra era uma tarefa literalmente impossível e ninguém estava disposto a
deixar suas propriedades construídas com tanto sacrifício, até porque não
havia para onde ir. Todos estavam amedrontados, lembrando o que
ocorrera a poucos anos no Sudoeste paranaense, onde mulheres de
posseiros haviam sido estupradas por jagunços na presença dos maridos,
e a pressão exercida sobre os agricultores acabou originando um conflito
armado de grandes proporções.

A batalha

Os combatentes passariam então a cavar trincheiras em pontos


estratégicos da Gleba, procurando proteger as moradias localizadas no seu
interior. As estradas foram interditadas com troncos de árvores e buracos
abertos na pista. As atenções, no entanto, foram concentradas próximas ao
acampamento dos jagunços em Jardinópolis e na estrada que ligava a
localidade à sede do município. Uma grande barricada foi armada em Flor
da Serra, na rodovia PRT-163, para impedir o acesso de reforços aos
jagunços de Capanema. Chegou a notícia de que 150 agricultores daquele
município estavam dispostos a ajudar os posseiros, caso eles se decidissem
a resistir.
No dia 1º de junho de 1961, aconteceu o primeiro confronto de fato:
Três jagunços que estavam em um jipe foram mortos a tiros de espingarda
de caça. No dia seguinte, antes do meio dia, as mulheres e crianças

272
reuniram-se na moradia de um posseiro, a dois quilômetros de Jardinópolis,
para rezar e esperar. Às 13 horas, chegaram a Flor da Serra ônibus e
caminhões carregados de jagunços e policiais fardados. Quando se
aproximaram da barricada armada pelos posseiros foram surpreendidos por
um tiroteio cerrado de fogo e chumbo. A batalha começou com a
participação de todos os 150 posseiros, que se concentraram para deter os
invasores. Quatro horas depois, o silêncio voltou a reinar em Flor da Serra.
Quando a fumaça se dissipou na mata, havia mais de uma centena de
mortos espalhados pelo chão e dezenas de feridos. Entre as vítimas fatais,
apenas um posseiro. Entre os jagunços e policiais fardados, os que não
estavam mortos ou gravemente feridos haviam desaparecido na floresta.
Pouco depois das 17 horas, chegou ao local um destacamento do batalhão
do exército sediado em Foz do Iguaçu, comandado por um coronel que se
apressou em defender a paz dos posseiros que permaneciam no local. Os
mortos foram recolhidos pelos militares e três posseiros, todos feridos,
foram levados presos. Com os mortos, foi sepultada a lembrança do conflito,
pois seus participantes não admitem comentá-lo em público até os dias de
hoje.
Para pagar a hospitalidade e os advogados para defender os colegas
detidos e responsabilizados pela batalha campal, os posseiros trabalharam
como peões durante muitos meses. No ano seguinte, Jardinópolis já dava
mostras de retomar o progresso, com a instalação de pequenas indústrias
como moinhos e serrarias. Em 1963, toda a Gleba estava ocupada e em
1967, o então Instituto Brasileiro de Reforma Agrária- IBRA realizou
medições de lotes, a partir das divisas acertadas pelos próprios agricultores,
e regularizou toda a área, entregando títulos definitivos aos antigos
posseiros. Hoje, todos são proprietários regulares. Poucos se lembram do
dia 2 de junho de 1961 e quem recorda, não fala.
Texto extraído da obra Memória: documentos sobre a revolta de, 61 de Leonir Olderico Colombo, (2001)
p. 32-37.

273
Caderno de atividades – Unidade 10: Conflitos internos no Paraná

Você sabia?

Que em 1920, o Paraná ocupava o 13º lugar em população no Brasil,


com cerca de 700 mil habitantes, e que em 1960 o Estado havia passado
para o quinto lugar, com mais de 4,2 milhões de habitantes?
Que esse aumento não se deveu apenas ao crescimento natural, mas
a intensas correntes migratórias internas, pelas quais se deslocaram
habitantes de outros estados para áreas até então incultas do Paraná?
Que as disputas pela posse da terra na região Sudoeste do Paraná
são do tempo de Dom Pedro II? Governos e colonizadoras particulares se
alternaram pelo direito de ocupação da área?
Que a região Sudoeste do Paraná passou a ser ocupada
“oficialmente” a partir do ano de 1943, com a criação da CANGO (Colônia
Agrícola Nacional General Osório), na vila de Marrecas, atual cidade de
Francisco Beltrão?
Que o presidente da República Getúlio Vargas instituiu o projeto de
colonização federal conhecido como “Marcha para o Oeste”, com o
propósito de fixar nessa região agricultores do Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina, com uma economia baseada na agricultura familiar de pequena
propriedade?
Que a maior parte desses gaúchos e catarinenses era oriunda de
colônias agrícolas formadas por descendentes de alemães e italianos?

Caderno de atividades – Unidade 10: Conflitos internos no Paraná

274
Hino de Itaipulândia - PR
Aparecidinha D'Oeste
Embalada num sonho abstrato
De Itaipu herdeira do lago
Novo sonho, novo retrato.

Estrela D'Oeste, Itaipulândia.


Destaque entre as cidades lindeiras
Seja sempre um hino ao progresso
Ao povo que aqui planta a esperança
E sempre a vê altaneira

Nossas águas misturam-se ao verde


Ao azul e ao branco da paz
Que destacam em nossa bandeira
A história de um povo capaz
Lavouras salpicam os campos
Onde Deus presente se faz
Tendo no lema união e trabalho
Força que progresso nos traz

A gratidão dos velhos pioneiros


A educação, a fé, a bonança.
Sejam aval de dias fecundos
Ao velho, ao jovem, à criança.

Município de Itaipulândia
Secretaria de Educação

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