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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE)

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS (CFCH)


PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA (PPGH)
DISCIPLINA: HISTÓRIA ORAL E MEMÓRIA
DOCENTE: ANTONIO TORRES MONTENEGRO

LUIZ HENRIQUE SANTOS FERREIRA DA COSTA

A MEMÓRIA COLETIVA – MAURICE HALBWACHS

Recife
2019
Cap I: Da possibilidade de uma memória estritamente individual

Neste capítulo, o autor aborda a tese de que a memória individual existe sempre
e a partir de uma memória coletiva, posto que todas as lembranças são constituídas no
interior de um grupo específico. A origem de várias ideias, reflexões, sentimentos,
paixões que atribuímos a nós mesmos, são, na verdade, inspiradas pelo grupo.

É nessa perspectiva que Halbwachs afirma que um homem quando entra em sua
casa sozinho, na verdade não esteve só uma vez que seus gestos e seus pensamentos se
explicam enquanto um ser social.

Halbwachs no que diz respeito à memória individual refere-se à existência de


uma “intuição sensível”; haveria então na base de toda lembrança, o chamado a um
estado de consciência puramente individual que para distingui-lo das percepções onde
entram elementos do pensamento social – aceitaremos que se chame intuição sensível.
Tal sentimento é o que garante, de certa forma, a coesão no grupo, esta unidade
coletiva, concebida por ele como o espaço de conflitos e influencias entre uns e outros.
O autor defende que as noções e imagens formadas no meio social cubram como
uma tela a lembrança individual. Afinal, é difícil recordarmos de algo que nossas
sensações fossem apenas o reflexo das coisas exteriores. Não nos lembramos da nossa
primeira infância porque nossas impressões não eram relacionadas com nada enquanto
não éramos ainda um ente social.

Nessa parte do texto, o autor levanta questionamentos e faz o leitor percorrer o


caminho da dúvida da possibilidade de uma memória estritamente individual. O
Sociólogo francês entra na senda de histórias de crianças e adultos que supostamente
tiveram impressões individuais. Halbwachs esmiúça as histórias e argumenta que a
corrente de pensamento que liga as pessoas a um grupo está sempre presente, bem como
as correntes sociais invisíveis que fazem a criança ter uma atitude de adulto. O
julgamento que a criança faz do mundo está habituado a noções que vieram de seus
pais. A respeito dos adultos, o autor fala que nossas impressões se explicam por aquilo
que está no centro da nossa vida afetiva e intelectual se desenrolando em um tempo x
espaço específico influenciadas pelos acontecimentos do presente.

Assim, o conteúdo original de lembranças que as histórias que evocamos,


podem estar ligados ao ponto de cruzamento entre duas ou várias séries de pensamentos
que se relacionam com outros tantos grupos diferentes. A memória individual
construída a partir das referências e lembranças próprias do grupo refere-se, portanto, a
um ponto de vista sobre a memória coletiva. Olhar este, que deve ser sempre analisado
considerando-se o lugar ocupado pelo sujeito no interior do grupo e das relações
mantidas com outros meios.
As memórias subsistem porque fazem parte de um conjunto de valorações e
significados que são comuns a todos os membros do grupo, na medida em que as
imagens privadas que cada um tem do passado são submetidas a padrões adequados
mantidos coletivamente. Para Halbwachs, a memória é um movimento contínuo e retém
aquilo que ainda está vivo na consciência do grupo, a história é uma ponte entre o
passado e o presente, que tenta restabelecer a continuidade interrompida em algum
ponto. Logo não há história no presente, pois só é possível recriar correntes de
pensamento coletivo que tomam impulso no passado.

Cap I: A lembrança individual como limite das interferências coletivas

O autor inicia argumentando que é comum atribuirmos a nós mesmos ideias, reflexões,
sentimentos e paixões que nos foram inspirados pelo grupo. Ele afirma que a
complexidade de nossos sentimentos e nossas preferências são a expressão do acaso que
nos colocaram em grupos diversos ou opostos. Assim, o nosso modo de ver o mundo
está determinado pela influência desigual que esses grupos exercem em nós.

É por esse complexo entrecruzamento de várias correntes de pensamento que podemos


ter a sensação diante de algum lugar ou situação, sentir algo que atribuímos como único
ou que só nós podemos sentir naquele momento.

Halbwachs explica que as lembranças pessoais, que dizem respeito a nós mesmos são
mais difíceis de serem rememoradas pois não estão ligadas a um grupo. As lembranças
que temos mais facilidade de acessar são as que estão dentro do domínio comum que
também estão mais gravados na memória dos grupos mais chegados a nós. Assim,
existe uma complexidade de grau para evocarmos estes diferentes tipos de lembrança.
As que estão mais próximas dos grupos demandam uma complexidade menor.

Outro ponto abordado pelo autor é que a memória individual é um ponto de vista sobre
a memória coletiva e que esse ponto de vista muda conforme o lugar ocupado e as
relações que se mantém nesse lugar. A lembrança aparece pelo efeito de várias séries de
pensamentos coletivos emaranhados e não podemos atribuir exclusivamente a nenhuma
dessas correntes.

Cap II: Oposição final entre a memória coletiva e a História

Nessa parte do capítulo, o autor elucida a diferença entre memória coletiva e História.
Para o autor, a história é a compilação dos fatos que ocuparam maior espaço na
memória dos homens. Entretanto, são lidos em livros, ensinados nas escolas. Os
acontecimentos são selecionados segundo necessidades ou regras que não valiam para
as pessoas que guardavam essa lembrança viva. O autor afirma que a história começa no
ponto em que acaba a tradição, momento em que se apaga ou decompõe a memória
social, quando a memória de acontecimentos não tem mais suportes no grupo, quando
se dispersa ou não interessam mais devido as mudanças sociais, o jeito então é salvar
essas lembranças em uma narrativa escrita.

A memória coletiva se desenvolve na continuidade. Não há linhas de separação


nitidamente traçadas como na história. A memória coletiva se estende até a memória
dos grupos que a compõe. O autor explica que não é por má vontade ou antipatia que há
o esquecimento de acontecimentos passados, mas sim porque os grupos que guardavam
essa lembrança desapareceram.

Cap II: A históra, quadro de acontecimentos. As memórias coletivas, centro das


tradições

Outro aspecto distintivo, segundo Halbwachs, é que pode haver várias memórias
coletivas, pertencentes a grupos distintos, mas só uma história da nação, da mesma
forma que pode haver uma história universal, mas não uma memória universal. Segundo
Halbwachs, grande parte de nossas lembranças repousam no social e no histórico: “ a
lembrança é em larga medida uma reconstrução do passado com a ajuda de dados
emprestados do presente e, além disso, preparada por outras reconstruções feitas em
épocas anteriores e de onde a imagem de outrora manifestou-se já bem alterada.” .
Para Halbwachs as lembranças seriam incorporadas pela história à medida em que
fossem deixando de existir ou à medida em que os grupos que as sustentavam
deixassem de existir.
O autor faz uma crítica à história que tem a perspectiva da totalidade. A memória
coletiva é o grupo visto de dentro durante um período que não ultrapassa a média de
vida humana. Como a memória coletiva é um quadro de analogias, é natural que o
grupo se convença que permanece o mesmo porque ela fixa sua atenção no grupo.

Cap III: A divisão social do tempo

Halbwachs argumenta que a divisão do tempo resultam de convenções e costumes que,


inicialmente teve origem nas observações da natureza, porém o aspecto social
predominou com o passar do tempo. Assim, a humanidade é obrigada a regular suas
atividades de acordo com convenções adotadas pelos outros que não consideram as
características individuais de cada um.

Cap III: A duração pura (individual) e “O Tempo Comum” Segundo Bergson.

O sociólogo inicia essa parte do texto discorrendo sobre o conceito de duração. Para ele,
todo ser dotado de consciência teria a capacidade de perceber a duração e mensuração
do tempo mesmo estando em isolamento, uma vez que a natureza oferece meios para
que isso seja notado. Um dos pontos principais é que não podemos definir pontos de
referencia individuais para tratar da duração do tempo na consciência, pois existem
horas mortas e dias vazios enquanto outros momentos nossa reflexão se acelera e temos
a impressão de termos vivido muito em pouco tempo cronológico.

O autor traz o exemplo da criança e do idoso para tratar da duração individual e da


percepção. No idoso o ritmo é lento pois poucas coisas durante o dia chamam a atenção
da sua percepção, ao contrário das crianças.

Cap IV: A inserção no espaço da memória coletiva

Neste capítulo, Halbwachs tratará sobre o espaço e a relação com a memória coletiva. O
espaço é uma realidade que dura. Todo grupo e atividade coletiva tem relação com o
lugar. O autor aponta que o espaço não corresponde necessariamente à suas
características físicas. O espaço está atravessado pelas impressões dos variados grupos
que fazemos parte.

Cap IV: O espaço Jurídico e a memória dos direitos.

Nesse tópico, o sociólogo francês tratará sobre o espaço jurídico com ênfase no direito à
propriedade. Ele argumenta que um homem só adquire o estatuto jurídico de direito à
uma propriedade a partir do momento que a sociedade reconhece uma relação
permanente entre ele e essa terra/coisa. A memória coletiva, nesse caso, apoia a
permanência do espaço, pois é através dela que se pode evocar a lembrança do grupo
que aponta para um direito. O espaço jurídico é um espaço que permite à memória
coletiva localizar a lembrança dos direitos. Seja por meio de uma escritura, demarcação
de terras ou o hábito de morar. Para exemplificar o espaço jurídico que evoca
lembranças de direitos ou deveres o autor fala sobre a questão dos escravizados ou
devedores. Existiam espaços em que remetiam a lembrança da condição de cativo da
mesma forma que existem espaços que remetem a lembrança da condição de devedor.

Cap IV: O espaço econômico

Halbwachs argumenta que a vida econômica se baseia sobre a tabela dos preços
anteriores e, pelo menos, sobre o ultimo preço. O autor questiona de que modo a
imagem do objeto evocaria a lembrança do preço. Ele explica que os preços decorrem
de opiniões sociais em suspensão no pensamento do grupo e não da qualidade física dos
objetos. Não é o espaço ocupado pelos objetos, mas os lugares onde se formam essas
opiniões sobre o valor das coisas e onde se transmite a lembrança dos preços que podem
servir de suporte à memória econômica.

Para ele, o comprador vive de antigas lembranças, enquanto comerciante tem


lembranças mais recentes por conta do contato direto com a dinâmica das vendas. Os
compradores então só participam na memória do grupo econômico quando penetram
nos círculos sociais ou quando se lembram de neles ter penetrado.

Cap IV: O espaço religioso

O autor afirma que a separação fundamental entre o mundo sagrado e o mundo profano
se localiza no espaço. Uma igreja, um cemitério ou qualquer outro lugar que evoque o
sagrado religioso, fará com que o “cristão” encontre lá um estado de espírito que já teve
experiência e com outros fiéis, irá reconstruir pensamentos e lembranças comuns que
também foram formados por pessoas antigas nesse mesmo lugar.

Halbwachs também aponta a necessidade do grupo religioso de se apoiar em um objeto


que dure, porque o grupo pretende não mudar, mesmo que as instituições e os costumes
se renovem. A sociedade religiosa não pode admitir que não é igual ao que era na
origem, nem que deva se transformar. A igreja é um espaço onde supostamente o
profano não penetra e um lugar onde inspira as tradições e pensamentos do grupo
religioso.

Outro aspecto trabalhado pelo autor é o espaço geográfico/topográfico religioso.


Halbwachs explica que quando as cruzadas chegaram a Jerusalém localizaram, por
vezes imprecisamente, alguns lugares santos para a tradição cristã na época. Mesmo
com essa imprecisão, muitos peregrinos passaram a rezar nesses lugares, formando
então novas tradições, dificultando assim distinguir as lembranças que remontam aos
primeiros séculos da era cristã e tudo o que a imaginação religiosa lhe acrescentou.

Halbwachs afirma que os lugares participam da estabilidade das coisas materiais e


baseando-se evocação simbólica dos lugares que esses grupos religiosos conseguem
durar.

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