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Introdução
O livro tem como objetivo então analisar como passamos de formas individuais a
formas coletivas da memória e identidade. O autor argumenta “em um contexto de
esgotamento de grandes memórias organizadoras do laço social, em uma época
marcada pelo retrocesso de memórias fortes em proveito de memórias múltiplas,
confusas e oportunistas, o recurso à retóricas holistas (memória coletiva,
identidade coletiva etc.) para definir e descrever as relações entre memória e
identidade à escala de grupos torna-se cada vez menos pertinente” (p.12).
Preâmbulo
“Como se livrar da ruína universal com a qual ameaça toda a vida? A memória nos dará
esta ilusão: o que passou não está definitivamente inacessível, pois é preciso fazê-lo
reviver graças à lembrança. Pela retrospecção o homem aprende a suportar a duração:
juntando os pedaços do que foi numa nova imagem que poderá talvez ajuda-lo a encarar
sua vida presente” (p.15). Com isso, a memória nos modela e por nós é modelada
(dialética). “Sem lembranças, o sujeito é aniquilado”. A memória é a identidade em
ação, pois pode tanto estabelecer quanto desestruturar o sentimento de identidade,
tornando a identidade composta tanto de lembranças quanto de esquecimentos. “Não há
busca identitária sem memória e, inversamente, a busca memorial é sempre
acompanhada de um sentimento de identidade, pelo menos individualmente”
(p.19).
Já em nível grupal, não existe protomemória, mas apenas uma memória evocativa
ou metamemória. Portanto, a memória grupal não é uma faculdade, pois somente a
memória individual é. “Assim, um grupo não recorda de acordo com uma
modalidade culturalmente determinada e socialmente organizada, apenas uma
proporção maior ou menor de membros desse grupo é capaz disso. [...] A expressão
memória coletiva é uma representação, uma forma de metamemória, quer dizer, um
enunciado que membros de um grupo vão produzir a respeito de uma memória
supostamente comum a todos os membros desse grupo” (p.24). Quando o conceito
memória coletiva é evocado, a pergunta que se deve fazer é: qual pode ser a
realidade desse compartilhamento de lembranças ou representações do passado?
As retóricas holísticas
O autor também argumenta que grupos pequenos são mais propensos a ter uma
memória coletiva organizadora forte, do que as grandes megalópoles anônimas
(p.45). Essa memória coletiva organizadora é também um enquadramento, uma
orientação, constituída de escolhas e tornada operatória. Assim, não pode haver
construção de uma memória coletiva se as memórias individuais não se abrem umas
às outras visando objetivos comuns, tendo um mesmo horizonte de ação (p.48).