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Doutoramento em História

Problemáticas Históricas I
2023/24

O debate sobre a Memória: coletividades, instituições, identidades,


cosmopolitismos e agonismos.

Docentes: Inês Amorim e Hugo Ribeiro da Silva


Discente: João Paulo Silva Gonçalves
Nº estudante: 201800415

Nº de palavras: 3100
A memória, enquanto objeto de estudo das ciências sociais e humanas, tem sido
investigada ao menos desde as análises promovidas por Maurice Halbwachs a respeito do
que denominou “Memória Coletiva”, a partir das obras Le Cadres Sociaux de la Memóire,
publicada em 1925, e La Memóire Collective, de 1950. Desde então a investigação a
respeito da memória recebeu inúmeras contribuições de diferentes ciências. O objetivo
deste trabalho é promover uma síntese bibliográfica e analítica do que se compreende
tratar a memória no campo das ciências humanas, promover uma reflexão sobre a
memória das coletividades, das relações entre memória e identidade e pontuar as questões
que permeiam o seu atual debate, além de relacionar estes pontos à investigação que está
por mim a ser desenvolvida, a respeito da Memória Institucional das Forças Armadas
Portuguesas sobre a Guerra Colonial e a Descolonização, entre fins do século XX e início
do XXI.
Em sentido simples, por memória entende-se a representação individual ou coletiva
do passado a partir do presente, condensando estes dois tempos históricos e ainda os
associando ao futuro, ao “horizonte de expectativas”. Diferentemente a história, apesar
de ter também por objeto o passado, trata-o de forma científica, e, portanto, analítica e
crítica, a partir de diversificados recursos metodológicos, ainda que o historiador esteja
submetido aos fatores condicionantes de suas próprias subjetividades e dos contextos
sócio-históricos em que está inserido. A memória, em contrapartida, não depende de
análise, crítica ou metodologia para interpretar o passado a partir do presente. Conforme
apontou Pierre Nora (1993), um dos principais autores a tratar esta relação ainda como
antinomia nos anos 1980, “a memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos” e,
portanto, “em permanente evolução, aberta à dialética da lembrança e do esquecimento,
vulnerável a todos os usos e manipulações” (p. 9). Neste sentido, Enzo Traverso (2012)
também afirmou ser a memória uma construção, “sempre filtrada por conhecimentos
adquiridos posteriormente, pela reflexão que se segue ao acontecimento, por experiências
que se sobrepõem à primeira e modificam a recordação” (p. 23). A representação do
passado que faz emergir ou ativar a memória, portanto, associa-se mais às demandas do
próprio presente, do contexto em que ocorre esta emergência e das expectativas criadas
quanto ao futuro, e que, de alguma forma, fomentam o pensar e o agir do indivíduo
perante a realidade concreta em que está inserido. Tanto para a história enquanto ciência,
quanto para a memória, portanto, a reconstituição total, neutra, objetiva e fiel do passado
é uma impossibilidade.
Maurice Halbwachs entendeu ser a memória uma faculdade eminentemente
coletiva. Segundo afirmou (1990), “não é suficiente reconstituir peça por peça a imagem
de um acontecimento do passado para se obter a lembrança” (p. 34), sendo necessário que
“esta reconstrução se opere a partir de dados e noções comuns que se encontram tanto no
nosso espírito como no dos outros” (p. 34), e, portanto, “só temos a capacidade de nos
lembrar quando nos colocamos no ponto de vista de um ou mais grupos e de nos situar
novamente em um ou mais correntes de pensamento coletivo” (p. 36). Esta reflexão
evoluiu ao longo do último século. Ainda que coletiva, deve-se ter em conta que
“consciousness and memory can only be realized by an individual who acts, is aware, and
remembers” (Funkenstein, 1989, p. 6). “Em si e por si”, afirmaram James Fentress e Chris
Wickham (1994), “a memória é simplesmente subjetiva”, ainda que, ao mesmo tempo, “é
estruturada pela linguagem, pelo ensino e observação, pelas ideias colectivamente
assumidas e por experiências partilhadas com os outros”, tornando-se, além de subjetiva,
social (p. 20). Afirmar, portanto, que os membros de um determinado grupo “lembram-
se colectivamente”, ou “partilham” uma “visão comum” sobre o passado, pode significar
a generalização de assunções específicas com o objetivo de torná-las totalizantes, incutir
nestes grupos determinadas perspectivas sem ter em conta o carácter individual do próprio
indivíduo e de sua memória.
Por tratar-se de uma faculdade individual e também coletiva, “um estudo da
maneira como nos lembramos”, a forma como “nos apresentamos nas nossas memórias,
a maneira como definimos as nossas identidades pessoais e colectivas através das nossas
memórias”, é o “estudo da maneira como somos” (Fentress & Wickham, 1994, p. 20).
Há, assim, uma relação destacada entre memória e identidade. Como seres sociais, o que
nos lembramos, os destaques que damos aos acontecimentos na análise cronológica das
nossas próprias existências, a maneira como racionalizamos o passado de forma a torná-
lo inteligível, reflete o que somos, os contextos e grupos sociais em que estamos inseridos.
A memória, afirmou Jacques Le Goff (1990), é “um elemento essencial do que se costuma
chamar identidade, individual e coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais
dos indivíduos e das sociedades de hoje” (p. 476). Vários autores dedicaram-se ao estudo
desta relação. Michael Pollak, por exemplo, afirmou integrar a memória, enquanto
“operação coletiva dos acontecimentos e das interpretações do passado que se quer
salvaguardar”, em “tentativas mais ou menos conscientes de definir e de reforçar
sentimentos de pertencimento e fronteiras sociais entre coletividades de tamanhos
diferentes” (p. 9). Joël Candau (2011) sublinhou que a memória, “ao mesmo tempo que
nos molda, é também por nós modelada”: “isso resume perfeitamente a dialética da
memória e da identidade que se conjugam, se nutrem mutuamente, se apoiam uma na
outra para produzir uma trajetória de vida, uma história, um mito, uma narrativa” (p. 16).
Se me proponho, portanto, a investigar a memória construída pelas Forças Armadas
Portuguesas sobre o que foram e o que significaram a Guerra Colonial e os processos de
descolonização das ex-colónias portuguesas em África, uma questão fundamental a se ter
em conta é, justamente, o que são as Forças Armadas Portuguesas, como se fundamentam,
como se estabelecem na realidade histórica e social em que estão inseridas. No entanto,
como afirmar que um grupo, uma coletividade, constrói uma memória, sendo a memória
uma faculdade também individual, sem cair em generalizações, sem produzir uma
reflexão superficial ou que vá se valer de essencialismos? Uma solução, ainda inicial,
parece estar contida nas reflexões acerca da “consciência histórica”, nos termos que
propõem autores como Amos Funkenstein e Jörn Rüsen; na ideia de “Memória
Institucional”, desenvolvida por Charlotte Linde e Siobhan Brownlie; e no estudo da
instrumentalização da memória. Conforme afirmou Paul Connerton (1993), “o grupo
dirigente utilizará o conhecimento que tem do passado de forma directa e activa”, e “os
seus comportamentos e decisões políticas basear-se-ão numa investigação do passado”
(p. 20). Ao refletir sobre o carácter seletivo da memória coletiva, Michael Pollak (1989)
também destaca que a sua abordagem deverá se interessar pelos “processos e atores que
intervêm no trabalho de constituição e de formalização das memórias” (p. 4), o que
denomina “enquadramento da memória”, em que a análise deste “trabalho de
enquadramento de seus agentes e seus traços materiais é uma chave para estudar, de cima
para baixo, como as memórias coletivas são construídas, desconstruídas e reconstruídas”
(p. 12). Johann Michel (2010), ao abordar as “políticas da memória”, também afirmou se
tratarem de um “conjunto de intervenções de atores públicos que objetivam produzir e
impor lembranças comuns a uma dada sociedade, em favor do monopólio de instrumentos
de ações públicas” (pp. 14-15). A fim de legitimar a ordem estabelecida no tempo
presente, portanto, um determinado grupo irá fazer-se valer de uma determinada
interpretação do passado, a ser celebrada a partir de “comemorações oficiais, programas
escolares de história, leis memoriais, panteões, etc.” (Michel, 2010, p. 15). Sendo também
a história uma construção, não é por acaso que uma ou outra personagem do passado
assuma funções e significações específicas no presente, não resultando, portanto, de um
“movimento espontâneo” ou de um “consenso” adotado por membros de uma
coletividade. Conforme Connerton (1993), se a “nossa experiência do presente depende
em grande medida do nosso conhecimento do passado” (p. 2), e as “imagens do passado
legitimam geralmente uma ordem social presente” (p. 3), é possível afirmarmos que “o
controlo da memória de uma sociedade condiciona largamente a hierarquia do poder” (p.
1). Ainda assim, é necessário voltarmos a reflexão à memória individual. Como, portanto,
analisar a importância dos discursos memoriais, instrumentalizados na medida que
legitimam uma hierarquia de poder, na percepção que os indivíduos têm da realidade
social e histórica, e também coletiva, em que estão inseridos?
Uma concepção válida que interessa a esta reflexão é a de “consciência histórica”,
e sua relação com a memória coletiva. Partindo da percepção de que o indivíduo “só
consegue relacionar-se com a natureza, com os demais homens e consigo mesmo se não
tomar o mundo e a si mesmos como dados puros”, mas sim “interpretá-los em função das
intenções de sua ação e paixão” (p. 57), o historiador Jörn Rüsen (2001) afirmou ser a
“consciência histórica” justamente o “trabalho intelectual realizado pelo homem para
tornar suas intenções de agir conformes com a experiência do tempo” (p. 59). Num
confluir de dimensões temporais, nós, enquanto indivíduos, só conseguimos “ser” o que
propriamente “somos”, e “agir” na realidade concreta e prática que vivenciamos, na
medida em que compreendemos a nossa experiência no tempo, percecionando o passado
e inclusive o futuro a partir do presente. Portanto, a teoria de Rüsen (2001) é a de que o
indivíduo estabelece um “quadro interpretativo do que experimenta como mudança de si
mesmo e de seu mundo, ao longo do tempo”, para, enfim, “poder agir nesse decurso
temporal”, “assenhorar-se dele de forma tal que possa realizar as intenções do seu agir”
(p. 58). Acontece que, como se pode supor, as categorias interpretativas que utilizamos
para racionalizar a nossa própria experiência no tempo são mais sociais que propriamente
individuais. As simples definições de “bom” e “mal”, ou “melhor” e “pior”, que
assumimos no decorrer do nosso percurso sócio-histórico, vão ter mais relação com os
contextos e com os grupos em que estamos inseridos, repercutindo na forma como
interpretamos o passado a partir do presente e projetamos um futuro. Nesse sentido, Amos
Funkenstein (1989) propõe a reformulação do conceito de “memória coletiva”, que
segundo apontou, vai relacionar-se com um “system of clear signs, symbols, and
practices” (p. 7), do qual resulta a memória individual. “The individual’s memory”,
afirmou, “is the realization os these symbols” (p. 7). A consciência histórica, segundo
Funkenstein, é o “degree of creative freedom in the use and interpretation of the contents
of collective memory”, e este “degree” altera-se mediante “different times in the same
culture or at different social levels of the same culture in a given time” (p. 11). Desta
forma, a “constituição de sentido sobre a experiência do tempo”, vai relacionar-se à
“identidade daqueles que têm que produzir esse sentido da narrativa (histórica)”: “toda
narrativa (histórica) está marcada pela intenção básica do narrador e de seu público de
não se perderem nas mudanças de si mesmos e de seu mundo, mas de manterem-se
seguros e firmes no fluxo do tempo” (Rüsen, 2001, pp. 65-66). Assim, quando me
proponho a analisar a interpretação de uma determinada coletividade a respeito de um
processo histórico, o que pretendo investigar é o sistema de “signos, símbolos e práticas”,
de alguma forma adotado por essa coletividade sob o objetivo de reforçar e manter o que
imagina ser a sua própria identidade, coletiva e também individual, e do qual resultam as
memórias individuais de seus membros, repercutindo na forma como estes irão
racionalizar a sua experiência na dinâmica dos tempos históricos. Se considerarmos a
memória como “geradora de identidade, no sentido que participa da sua construção”, essa
“identidade”, nos termos do que sublinhou Joël Candal (2011), “molda predisposições
que vão levar os indivíduos a ‘incorporar’ certos aspectos particulares do passado” (p.
19). Assumir esta percepção a respeito da memória coletiva não significa, portanto,
excluir a existência de memórias individuais, mas, antes, fornece novas ferramentas
metodológicas para melhor analisá-las.
A partir destas concepções, podemos discutir a noção de “memória institucional”.
Partindo do questionamento “do institutions actually remember?”, uma vez que “is it the
people within them who do the remembering” (p. 8), Charlotte Linde (2009) utiliza-se do
conceito “memória institucional” para afirmar, por exemplo, que “institutions certainly
make efforts to preserve aspects of their past, and to use them in the present to influence
the future” (p. 11), uma vez que as instituições e seus membros “do not mechanically
record and reproduce the past”, “they work the past, re-presenting it each time in new but
related ways for a particular purpose, in a particular form that uses the past to create a
particular desired present and future” (p. 14). Assim, parece possível supor que a maneira
como os membros de uma determinada instituição preservam a memória desta instituição
terá relações com a forma com que estes membros se identificam, a partir de uma
identidade coletiva. Questionamentos acerca da identidade “are important for any group
that acts like a We, wheter, We are a family, an insurance company, or a nation”, e as
respostas a estas questões “shape how the members act; how they think they should act;
how they try to predict the results of their actions; how the others decide wheter someone
is or not really one of Us” (Linde, 2009, p. 221).
Se o modo como os indivíduos se identificam terá consequências na maneira como
agem, enquanto sujeitos históricos, dotados de consciência histórica, isto também
significa que existirão repercussões na forma como racionalizam o próprio passado.
Quando, por exemplo, em sua mensagem de tomada de posse como Chefe do Estado-
Maior General do Exército, em março de 2023, o general Eduardo Mendes Ferrão
declarou que “o Exército prima pela manutenção de sua memória institucional, individual
e coletiva, e nunca se esquece quem nele serviu”1, está ele a fazer várias delimitações. Ao
afirmar que o Exército “prima pela manutenção de sua memória institucional”, está a se
referir a uma interpretação específica do que compreende, individual e coletivamente, ser
a memória de sua instituição, indicando uma visão também específica sobre este passado
coletivo que deva ser mantida e preservada no presente e que, consequentemente,
fundamenta a expectativa de futuro desta instituição. Conforme afirmou Siobhan
Brownlie (2016), a memória institucional refere-se “to the notion that institutions have
founding aims, ideology, na official history and practices, which are remembered and
passed on whitin the institution” (p. 151), e que a “presentation of official institucional
memory is selective and tends to glorify the organization, while remaining silent on less
glorious episodes or details of the past” (p. 152). A reflexão que pretendo desenvolver a
respeito da memória institucional das Forças Armadas, portanto, busca justamente
analisar a forma com que esta memória é representada, legitimada e preservada, ao longo
de um percurso sócio-histórico coletivo e individual, a partir de categorias de
interpretação fundamentais para a compreensão das ciências humanas, como é o próprio
conceito de “memória”, além da “identidade” e da “consciência histórica”.
Rumando ao fim desta reflexão, pontuaremos algumas das questões que permeiam
o debate atual sobre a memória. Em artigo publicado em 2002, Daniel Levy e Natan
Sznaider apresentaram a tese de que um novo tipo de memória havia emergido no
contexto marcado pela globalização, a que chamaram “cosmopolitan memory”. Segundo
sugeriram, a “shared memory of the Holocaust”, um “formative event of the twentieh
century”, teria potencial para fornecer a “fundation for a new cosmopolitan memory, a
memory transcending ethnic and national boundaries” (p. 88). Considerando que a
memória do Holocausto “facilitate the formation of transnational memory cultures, which
in turn, have the potential to become the cultural foundation for global rights politics”,
defenderam que “these memories have become a measure for humanist and universalist

1
Disponível em: <https://www.exercito.pt/pt/quem-somos/comandante>. Acesso em: 04/01/2024.
identifications” (p. 88). Desta forma, num contexto em que os “human rights are the new
measure for a global politics, shaping the ways in which state authority is exercised”, os
autores apontam para o surgimento de “new transnational solidarities”, e que a memória
descontextualizada do Holocausto “facilitates this” (p. 102). O surgimento de um discurso
memorial descontextualizado, ou “global”, foi também apontado por outros autores.
Henry Rousso (2014), por exemplo, destacou que a partir das “importantes mudanças
estruturais no último terço do século XX e início do século XXI”, a relação com o
passado, “apesar dos diferentes contextos políticos ou culturais”, “tende a ‘globalizar-se’,
a suscitar formas de representações coletivas e de ações públicas […] cada vez mais
semelhantes” (p. 266). Nesse novo contexto, segundo apontou, destaca-se a “tendência,
um desejo geral, quaisquer que sejam os lugares e os episódios históricos envolvidos,
antigos ou recentes, desta lembrança de crimes do passado, de repará-los, de julgá-los, de
impedir toda forma de esquecimento” (p. 270). No entanto, Rousso também sublinhou
que “uma das consequências paradoxais disso foi a vigorosa escalada […] toda a sorte de
‘revisionismos’”, sejam “legítimos” ou “perversos”, como o “negacionismo antissemita
que tem por objetivo explícito levar a erros” (p. 272). Segue-se a esta reflexão as críticas
apresentadas por Anna Cento Bull e Hans Hansen (2015), segundo os quais a
“cosmopolitan memory” provou-se “unable to prevent the rise of, and is being
increasingly chalanged by, new antagonistic collective memories constructed by populist
neo-nationalist movements” (pp. 390-391), e defenderam, em contrapartida, que não se
deva negligenciar o “socio-political context in which human beings came to commit evil
acts” (p. 394), propondo que o que se deva promover seria “a kind of collective memory
that re-instates the social and political agency of those who become victims, on one hand,
and re-humanizes the heroes-now-turned-perpatrators, on the other” (p. 394). A este tipo
de memória também cabem questionamentos. Por exemplo, quando buscam
“reumanizar” os antigos “heróis nacionais” tornados “perpetradores” pelo “cosmopolitan
mode of remembering”, defendendo, em contrapartida, que “learning from the past means
listening to both victims and perpetrators, and not to judge any absolutely truth” (Bull et
al., 2021, p. 19), e, portanto, que o seu agir enquanto “perpetradores” deva ser associado
ao contexto sócio-histórico em que estão inseridos, tornando-os assim sujeitos
“ordinários” da história por também deixarem de ser considerados “heróis”, não seria
também essa percepção motivo potencial para a promoção de novos e contraditórios
discursos nacionalistas? É possível ao historiador, ainda que bem se utilize das teorias e
metodologias disponíveis para analisar o passado, não emitir juntamente um “juízo” sobre
este passado”? No caso específico de uma investigação que busca a análise da memória
sobre acontecimentos “sensíveis”, como é a leitura dos fenômenos que permeiam o
colonialismo histórico, como a desenvolver no âmbito da “agonistic memory”? São estas
importantes questões que pretendo melhor desenvolver na construção da tese. Nesse
sentido, vale a reflexão promovida por Enzo Traverso (2012), para quem a “imbricação
da história, da memória e da justiça está no centro da vida colectiva”, devendo o
historiador “operar as distinções necessárias, mas não pode negar essa imbricação; deve
assumi-la, com as contradições decorrentes” (p. 107).

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