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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ANANINDEUA


FACULDADE DE HISTÓRIA
HISTÓRIA, MEMÓRIA E CULTURA HISTÓRICA.

CARLOS ANGELO OLIVEIRA COELHO JUNIOR

ATIVIDADE AVALIATIVA -1 (AV1)

PROFESSORA: Sidiana Da Consolação Ferreira De Macêdo.

ANANINDEUA – PA
2023
1) A partir do texto de Michael Pollak, Memória e Identidade Social e das discussões
em sala de aula, discorra sobre a frase: “A Memória é um fenômeno construído
social e individualmente”. E ainda, “A memória é seletiva”.

A partir da construção argumentativa de Pollack, podemos ver, de forma nitida, o como


a memoria tende a ser construida, não somente individualmente, mas como também,
coletivamente. Como sabemos, e é exposto no texto, o autor argumenta que existem
elementos constitutivos da memoria que a tornam, individuais e coletivas, que são:
acontecimentos vividos e os acontecimentos vividos por tabela (p. 2), que nada mais são que
os presenciados pessoalmente e os que foram presenciados pelo grupo ou coletividade da
qual a pessoa se diz pertencer, podendo ser num recorte de espaço-tempo diferentes,
respectivamente.
A memória individual é algo a ser entendida com determinadas perspectivas do proprio
locutor, que expõe a sua ideia enquanto condicionante da memoria, como foi os casos,
explicitados pelo autor, dos “Trinta Gloriosos” e os “Anos Sombrios” na França. Estes casos
deixam claro o como a memória individual interfere e conduz uma perspectiva de
pensamento, dando continuidade no pensamento e ideia do periodo citado, mas também uma
forma estrutural do social e da memoria politica a ser preservada. Mas isso não é algo
exclusivo da memoria individual, porque se apresenta também no ambito coletivo de
memoria.
Acredito que falar sobre o como essa memoria individual foi, ou pode ter sido, construída
através da continuidade de memorias repassadas pelo coletivo, ou seja, acontecimentos
vividos por tabela, uma vez que essas interferem na forma de olhar para o passado e presente,
nos acontecimentos que se ligam diretamente e indiretamente nessa estrutura de
registros/lembranças do fato histórico, é algo interessante e chocante, por assim dizer. A
memoria coletiva tem um peso grande a ser cooptado pelo historiador e historia social, uma
vez que carrega consigo uma construção repassada pelos demais de um coletivo, que carrega
consigo ideias, percepções, noções, cultura etc. Seu peso é dito no caso dos Camisards (p. 2),
o como esse acontecimento ficou vivido no imaginário daquele povo e ainda é compartilhado
no hoje.
Temos casos como a invasão as terras, hoje chamadas de brasileiras, por portugueses que
queriam chegar as Indias; a ditadura de 1964 que o ‘desgoverno’ de 2018-2022 queria chamar
como “intervenção”; morte de César Moraes Leite dentro dos dominios da UFPa em 1980 no
dia 10 de março1, são tipos de memorias que ora se quer mudar, ora se quer apagar — há
pessoas que estudam na UFPa, não sabem da morte do jovem Cezar e apertaram 22, “com
força”. A construção de memória (p. 5), uma esquematização e enquadramento do relato,
favorecem percepções e narrativas politicas e historicas que podem conduzir grupos e
coletividades a acreditarem fielmente nesses relatos. Ou seja, o processo de construção da

1
Segundo Edilza Fontes (2007, p.89), estudante do curso de matemática, Cezar foi alvejado com um tiro
fatal por uma arma carregada de duplo calibre 38 dentro da sala de aula, ministrada pela professora
Maria Inês, “que estava em poder do agente da polícia federal identificado nos registros oficiais como
Dalvo Monteiro de Castro Junior que assistia às aulas como agente da repressão e tinha missão de vigiar
os estudantes em sala de aula. Na versão do policial, a capanga, bolsa da arma que o agente federal
portava havia caído e disparado contra o rapaz, o que chegou a ser contestado a época por peritos do
Renato Chaves.”
memoria individual gera também um processo, consciente ou não, de exclusão, repetição etc.,
que favorece percepções e nada mais é que o resultado de uma organização.
Esse processo de exclusão ou não, lembrar ou não, consciente ou não, nos mostra que a
memoria é seletiva em criar seus vinculos e laços, em casos, herdada também. A memoria é
algo que é escolhido, organizado e sistematizado para expressar a ideia de algo (p.5-6). Mas,
dentro desse campo de escolha, ocorre que também há uma disputa, não somente entre
memoria individual e coletiva, mas como a identidade com a memoria disputa com grupos e
coletividades que opõem e formam a diversidade no espaço. Um exemplo claro e objetivo é
a pesquisa feita pelo grupo chamado IFOP, grupo de pesquisa de mercado internacional, que
faz pesquisas de opinião desde 1938 na Europa, EUA e China, e fez pesquisas em 1945, 1994,
2004 e 2015 sobre “Qual país contribuiu pela libertação da Europa do avanço alemão”, e as
respostas mudam cronologicamente. Em 45, 57% votou na URSS, 20% nos EUA, 12% no
Reino Unido; em 1994, o resultado foi de 25%, 49% e 16%, seguindo a ordem anterior; em
2004, 20%, 58% e 16%, respectivamente; 2015, 23%, 54% e 18%2. Este enquadramento da
história (p. 6) em prol de uma narrativa enaltecedora favorece as concepções e ideias de um
grupo especifico e cai no imaginário como uma agulha, afinal, o ensino cada vez mais
sucateado permite isso.
A solidificação desse enquadramento da memória é o investimentos de quadros, uma vez
que influi na organização social da sociedade que detem tal memoria. Essa memória possui
“um trabalho de manutenção, de coerência, de unidade, de continuidade, da organização” (p.
7). Usando o exemplo utilizado pelo autor, dos quadros de renovação e tentativa de
solidificação de uma memoria organizada pelo Partido Comunista da URSS, podemos ver o
como a estratégia de estruturalização de memoria foi utilizada pelos sovieticos, com suas
propagandas e escritos, disputando assim uma recente, mas interrompida, memoria
imperialista do czar. Portanto, podemos entender o como a memoria é uma construção
imbuida de uma organização preconcebida anteriormente, que forma a memoria que é
gestada pelos acontecimentos vividos por tabela, sendo estes que disseminam e reproduzem
sentimentos de pertecimento, logo identidade. A memoria é seletiva sendo, tanto no ambito
individual, quando inconscientemente e conscientimente, escolhida por nosso cerebro para
ser lembrada, ou pelo coletivo, quando é construida e exposta para influir uma coesão,
manuntenção e sistematização, tornando assim, e dando, uma noção de identidade unitária.

2
Uma forte influência da mídia focada em filmes, documentários etc., que exaltam a suposta
importância dos EUA na guerra, os deixando como linha de frente de um conflito que as maiores percas
vieram da União Soviética.
REFERÊNCIAS:

FONTES, Edilza. Os anos oitenta e a redemocratização na UFPA (1977 – 1988). In:


Fontes, Edilza. UFPA - 50 anos, História e Memória. Belém, Editora UFPA, 2007.

METRONEWS, Ifop. La nation qui a le plus contribué à la défaite de


l’Allemagne. Maio de 2015. Disponível em: <https://www.ifop.com/wp-
content/uploads/2018/03/3025-1-study_file.pdf>. Acesso em: 21 de maio de 2023.

POLLACK, Michael. Memória e identidade social. In: Estudos Históricos. Rio de Janeiro,
vol. 5. N°10. 1992. p. 200-212.

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