Você está na página 1de 2

FICHAMENTO: MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de.

A história, cativa da
memória? Para um mapeamento da memória no campo das ciências sociais.  Rev. Inst.
Est. Bras, SP, 34:9-24, 1992.

- O texto discute como o aumento das discussões sobre memória, seja no campo
acadêmico ou pelos usos políticos do termo, tem obscurecido sua existência como
fenômeno social. Ele busca reconstituí-la enquanto sua “natureza original” (Foucault
pira rsrsrsr) a partir da reificação da memória, suas raízes no presente e aspectos da sua
fisiologia. Ele chama atenção para tópicos que considera esquecidos: a amnésia social
e a gestão social da memória. Aponta para como conceitos da psicologia social, como
o das representações coisas, contribui para a memória como estudo da história.
- Explosão da memória ------ fenômeno positivo: consciência política e fornecimento de
vestígios preciosos para análise e apreensão histórica. Mas se faz necessário conhecer o
seu campo, seus traços para abrir caminho ao crivo da história.
- Conceito recorrente de memória como registro, retenção de informações,
conhecimentos e experiências (ideia de algo concreto). É abrasiva, por isso precisa ser
restaurada em sua integridade original. Envolve o esquecimento, a ocultação, ou
lembranças traumáticas que podem ser neutralizadas na cura psicanalista.
- “No entanto, nem a memória pode ser confundida com seus vetores e referências
objetivas, nem há como considerar que a sua substância é redutível a um pacote de
recordações, já previsto e acabado” p.10 Ela é construção e reconstrução, um trabalho.
Por isso as sociedades se esforçam em fixá-la. Desde as sociedades orais até as
burocráticas.
- “ a memória de grupos e coletividades se organiza, reorganiza, adquire estrutura e se
refaz, num processo constante, de feição adaptativa. A tradição (memória exteriorizada
como modelo) nunca se refere a nenhum corpo consolidado de crenças, normas, valores,
referências definidas na sua origem passada, mas está sujeita permanentemente à
dinâmica social” p.30 heterogeneidade na memória individual e da coletividade.
- A memória também não está enraizada no passado. Se dá no presente para responder
solicitações do presente. O incentivo de rememoração e as condições para isso é do
presente. O objeto-função-prática substituído pelo objeto-portador-de-sentido. A
memória não dá conta do passado. Só a história da conta das descontinuidades entre
passado e presente. Capaz de captar a sustância passada do presente, para além da
oposição de um “agora” contra um “antigamente”. Assim o autor estabelece uma
diferenciação entre a história, que é um fazer científico e a memória.
- a ânsia da expansão da memória no campo da cultura material ---- tudo salvaguardar.
“Falta de orientação crítica, o predomínio do descritivo, o descompromisso com
qualquer problemática previamente delineada fazem com que essa massa enorme de
documentos corra o risco de transformar-se num duplo fragmentado e parcelar do
presente empírico”
- “ A memória é filha do presente. Mas, como seu objeto é a mudança, se lhe faltar o
referencial do passado, o presente permanece incompreensível e o futuro escapa a
qualquer projeto” p.14
- O autor se debruça a explorar categorias de memória diversas, mesmo que os usos
sejam eventuais, mas que os traços de diferenças são importantes observar
Memória individual: interessa as ciências sociais no campo da interação
social. Ao menos duas pessoas para que a rememoração se produza de forma
socialmente apreensível. Histórias de vida, análise das mentalidades. Carlo Ginsburg e
Natalie Davis.
Memória social: Sistema organizado de lembranças cujo suporte são grupos
sociais espacial e temporalmente situados. Redes de interrelações estruturadas,
imbricadas em circuitos de comunicação. Dá coesão, solidariedade – relevância em
crises e pressões. Necessita de ser reavivada, por não ser espontânea. Vivência, do mito
– podendo existir várias memorias coletivas de diversas formas.
Memória nacional: é da ordem ideológica. Estado e as camadas
dominantes, interessados na reprodução da ordem social – a que ela induz e que
simbolicamente realiza – constitui e faz circular essa memória. Ela formula a identidade
nacional, das ideologias e da cultura nacional. ---- conhecimento histórico desses
fenômenos.
- Contudo, são raros os estudos que propõe refletir sobre como essas categorias
funcionam, como elas se relacionam, se adaptam, passam de uma categoria para a outra,
- amnésia social: esquecimento programado, que faz parte dos processos de seleção e
descarte da memória.

Você também pode gostar