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Introdução
Este ensaio tem por objetivo refletir sobre algumas particularidades sobre a
arte de tecer, dialogar e contar histórias através da Metodologia da História Oral,
entendida, aqui, como um processo que busca registrar fatos, acontecimentos e
processos históricos vividos pelos sujeitos sociais através da oralidade em sua
interface com a memória.
Esta metodologia tem sido muito utilizada por acadêmicos das mais diferentes
áreas do saber para a realização de pesquisas e produção de textos. A História Oral
é uma forma específica de discurso, onde a história registra uma narrativa do
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Assistente Social, Especialista em Educação, Metodologia e Didática do Ensino Superior,
Especialista em Filosofia Contemporânea, Mestre e Doutor em Serviço Social pela PUC-SP, sob
orientação da Profª Dr.ª Maria Lúcia Martinelli. Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre
Identidade (NEPI), coordenado pela Profª. Drª. Maria Lucia Martinelli. Membro do Comitê Científico de
Serviço Social do Centro de Investigações e Desenvolvimento do Equador (CIDE), coordenado pelo
Centro de Estudos Transdiciplinares da Bolívia (CET).
E-mail: rtveroneze@hotmail.com
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passado; e o oral indica um meio de expressão (PORTELLI, 2011). É, portanto, um
procedimento metodológico que busca registrar fatos, acontecimentos e pessoas ou
mesmo “[...] ouvir a voz dos excluídos e dos esquecidos”, no sentido de “[...] trazer à
luz as realidades ‘indescritíveis’” (JOUTARD, 2000, p. 33).
A arte de narrar constrói e reconstrói histórias e registra memórias a partir do
discurso humano. Valoriza a memória e a oralidade como instrumentos de
recuperação da história e das lutas sociais. A memória não é somente um lugar para
recordar ou preservar o passado, mas, sim, é um espaço vivo de lembranças,
repleto de significados, sendo um importante campo do conhecimento.
A Metodologia da História Oral contribui, assim, na análise das memórias por
intermédio de entrevistas realizadas com pessoas ou grupos determinados,
envolvidos com temas históricos e sociais de interesse para pesquisas acadêmicas,
de modo a buscar “[...] dar voz àqueles que normalmente não a têm: os esquecidos,
os excluídos, [...] mostrando que cada indivíduo é ator da história” (idem, ibidem).
Ainda, esta metodologia caracteriza-se pela coleta de depoimentos com
pessoas que testemunharam acontecimentos significativos, fatos relevantes,
processos históricos e sociais, lutas sociais, batalhas, modos de ser e estar de
pessoas, grupos, comunidades e sociedades. Tem como técnica básica a gravação
de depoimentos e a transcrição das falas dos sujeitos sociais envolvidos.
Por tratar de problemas ou questões do cotidiano, histórias de vida, registros
de memórias, rica em repertório entrelaçados pelas dimensões políticas da vida
pública e privada, principalmente das classes subalternizadas e populares, a está
metodologia pode, também, ser aplicada na produção de textos jornalísticos,
narrativos e romanceados que buscam registrar a memória e a história.
Sua importância está em registrar cada acontecimento individual em sua
multiplicidade e fazer uma relação com os acontecimentos mais gerais e universais.
De outro modo, cabe sintetizar a essência humano-genérica dos fatos e
acontecimentos sociais.
Para tanto, apropriamo-nos dos fundamentos metodológicos da Teoria Social
Crítica, que busca estudar os fatos históricos em sua totalidade e em seus
elementos contraditórios, de modo a encontrar o fator responsável pela sua
transformação num novo fato, num contínuo processo de investigação e
aprendizagem, de modo a pensar as contradições internas da realidade social e que,
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para compreendê-las, é necessário e essencial verificar as situações contraditórias
permanentes para a transformação social.
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partes, compõe um universo de descobertas, revelações, percepções, pensamentos
e criatividade, de modo a trabalhar com significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, que correspondem a um espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de
variáveis (MINAYO, 2004, p.21-22).
A ciência hoje é concebida como um processo altamente criativo e crítico. O
conhecimento é visto como algo que está sempre em movimento e pode ser revisto,
rediscutido, reconstruído ou refutado. Assim, a produção do conhecimento implica
num projetar humano (numa teleologia), que exige, de certo modo, a superação de
limites, dogmatismo, ideias prontas, sistemas consuetudinários e ultragenerizadores,
verdades incontestáveis e explicações rasas ou baseadas no senso comum.
Conforme aponta Joutard (2000, p. 31), “[...] as certezas não nascem de posições
individuais, mas do diálogo e do trabalho conjunto”.
De acordo com Köche (2015, p. 16), a investigação científica requer uma “[...]
atividade imaginativa para repensar o já pensado, uso da intuição e revisão teórica
crítica do já produzido através do diálogo com as teorias e investigadores e do
diálogo com a natureza, no sentido galileano”. Desse modo, é um continuo processo
de avaliação e reavaliação, ou seja, de criatividade.
Hoje, nas Ciências Sociais, busca-se desconstruir o cientificismo e o
tecnicismo decorrente do positivismo e do empirismo, para dar lugar ao
conhecimento qualitativo, inovador e que busca conhecer os significados atribuídos
pelos sujeitos sociais às suas experiências históricas e sociais. Procura, ainda,
destacar a dimensão política na construção do pensamento coletivo de forma crítica,
propositiva e criativa. Além do mais, não se coloca como algo excludente e
hermético, mas sim enfatiza a complementariedade, de modo que “[...] a relação
entre pesquisa quantitativa e qualitativa não é de oposição, mas de
complementariedade e de articulação” (MARTINELLI, 1999, p. 27).
A linha de pesquisa sobre Identidades, Cultura e Sociabilidade se ocupa,
sobremaneira, de apreender a realidade, o vivido, o historicamente experimentado,
de modo que, este processo é indissociável da memória e do real. O real se
concretiza e se institui nas e por intermédio das formas com que é apreendido e de
acordo com as intervenções e contradições na vida cotidiana.
Segundo Thomson (2000, p. 47), “[...] os acadêmicos reconhecem hoje que o
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processo de entrevistas opera dentro de sistemas de comunicação culturalmente
específicos, de modo que não há, necessariamente, uma única, ou universal
‘maneira certa’, de se fazer história oral”.
O testemunho oral, o ato de recordar e as novas tecnologias permitem, hoje,
multiplicar os modos de registros e apresentar a História Oral enquanto metodologia
de pesquisa. Esta prática tem gerado pesquisas em três gêneros distintos: a
Tradição Oral, a História de Vida e a História Temática.
Na Tradição Oral a característica principal é o testemunho transmitido
oralmente de uma geração para a outra. Isto não quer dizer que o relato se baseia
num conhecimento do senso comum, que tem como consequência “[...] resolver
problemas imediatos” da vida prática (KÖCHE, 2015, p. 24). A Tradição Oral é um
discurso dinâmico, que está constantemente em contato com a atualidade mais
contemporânea e integralmente originário da história (JOUTARD, 2000).
A oralidade se baseia em resgatar tradições rurais e urbanas, experiências de
luta e resistência, histórias de vida e pessoais, memórias vividas, enfim,
experiências, fatos e ações vivenciados pelos narradores através do testemunho
vivo, coletado através de entrevistas.
Contudo, a História de Vida, na tradição da oralidade, não pode ser
confundida com a história de vida autobibliográfica. A autobiografia resulta num
relato onde a escrita é realizada pela própria pessoa ou por análise documental. A
história de vida concentra-se na história pessoal de um indivíduo contada por ele
próprio. É, portanto, um relato pessoal. Na oralidade, o relato é narrado por aqueles
que vivenciaram ou presenciaram fatos ou acontecimentos através de depoimentos
de pessoas que testemunharam e viveram a história com a pessoa ou grupo
registrados.
Um exemplo bem original desse gênero é a tese de doutorado de Elizabete
Terezinha Silva Rosa (2016), vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço
Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que resgatou a
trajetória profissional de Nobuco Kameyama. Esta pesquisa permitiu conhecer o
legado desta assistente social e sua contribuição ao Serviço Social brasileiro em sua
maturação profissional, no período histórico compreendido entre os anos de 1959 a
2009.
Além de fazer uso da Metodologia da História Oral, a pesquisadora se
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apropriou da concepção de história de Walter Benjamin, considerando a intrínseca
relação entre memória e identidade do Serviço Social, contribuindo, assim, para que
as novas gerações possam conhecer o legado de Nobuco Kameyama.
Outro gênero de Metodologia da História Oral é a História Temática. Um belo
exemplo desse tipo de narrativa é o livro de Maria Esperança Fernades Carneiro
(2014) que recupera a história d’A revolta camponesa de Formoso e Trombas. Este
livro é resultante da sua dissertação de mestrado, defendida em 1982, na
Universidade Federal de Goiás (UFG), no Departamento de Ciências Humanas do
Curso de História.
Neste livro, a autora, primeiramente, contextualiza a expansão capitalista do
agronegócio e a luta pela terra, os conflitos sociais no campo, envolvendo grileiros,
camponeses, fazendeiros, posseiros, políticos, polícia e aproveitadores, faz um
breve histórico do processo de acumulação de capital no Brasil e no Estado de
Goiás, demarcando suas análises no início do século XVIII à década de 1960 e faz
um breve relato sobre o município de Formoso e Trombas e o processo de
migração.
Na terceira parte, a autora expõe com maestria e com base na Metodologia
da História Oral, a Revolta Camponesa de Formoso e Trombas, um conflito armado
que se sucedeu naquela região, no Estado de Goiás, entre os anos de 1950 a 1964.
Um movimento de luta e resistência pela posse da terra que é reconstruído
fundamentalmente a partir das histórias de vida colhidas oralmente por parte
significativa dos camponeses participantes do episódio, enriquecida com pesquisa
documental e bibliográfica. A reconstrução histórica partiu da visão da classe dos
camponeses participantes desse episódio e da visão que estes tinham a respeito de
sua posição no processo de produção e das contradições de sua classe com as
demais.
Assim, de modo a instrumentalizar a pesquisa e compreender os principais
elementos para a arte de narrar, passamos a expor algumas orientações básicas e
didáticas para uma boa narração.
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A narração é a modalidade de redação na qual contamos um ou mais fatos
que ocorreram em determinado tempo e lugar, envolvendo, de certa forma, certos
personagens. Narrar é contar ocorrências que aconteceram em algum lugar e num
tempo definido. Em outras palavras, é contar uma história, que pode ser real ou
imaginária.
Partimos dos esclarecimentos de GRANATIC (1995) para trazer algumas
contribuições importantes no desenvolvimento da arte de narrar. A primeira decisão
a ser tomada numa narração é se o narrador irá ou não fazer parte da narrativa.
Tanto é possível contar uma história que ocorreu com outras pessoas, quanto narrar
fatos e acontecimentos. Esta decisão determina o tipo de narrador, que pode ser em
1ª pessoa (sendo aquele que participa da ação, que se inclui na narrativa enquanto
narrador-personagem), ou em 3ª pessoa (o que implica aquele que não participa da
ação, ou seja, não está incluído na narrativa é o narrador-observador).
De modo geral, nos textos narrados em 1ª pessoa, o narrador não precisa ser
necessariamente a personagem principal, pode somente ser alguém que, estando
no local dos acontecimentos, os presenciou.
Tomada estas decisões, o narrador necessita ainda conhecer alguns
elementos básicos de qualquer narração. O texto narrado conta, de certo modo, um
FATO que se passa num determinado TEMPO e LUGAR. A narração só existe na
medida em que há uma determinada ação, e esta ação implica necessariamente em
PERSONAGENS ou, de outro modo, sujeitos da ação.
Um fato, uma história, geralmente acontece por uma determinada CAUSA e
desenrola-se envolvendo certas circunstâncias que a caracterizam. É necessário,
portanto, mencionar o MODO como aconteceu detalhadamente, ou seja,
contextualizar o ocorrido de maneira que o leitor possa compreender ONDE, COMO,
POR QUE, COM QUEM e EM QUE CIRCUNSTÂNCIAS tal ocorrência ou
ocorrências aconteceram de forma detalhada. De outro modo, a maneira com que a
história ou os acontecimentos se desenrolaram.
Um acontecimento pode, muitas vezes, provocar determinadas
CONSEQUÊNCIAS, as quais devem ser observadas, na maioria das vezes, mas
não necessariamente, nas entrelinhas daquilo que não foi dito ou observado.
Assim, temos os elementos básicos de qualquer narração: o FATO (o que se
pretende narrar); o TEMPO (quando o fato acorreu); o LUGAR (onde o fato se deu);
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o(s) PERSONAGEM(NS) ou SUJEITO(S) DA AÇÃO (quem participou do ocorrido ou
o observou); a(s) CAUSA(S) o(s) motivo(s) que determinaram a ocorrência); o
MODO (como se deu o fato); e a(s) CONSEQUÊNCIA(S).
Uma vez conhecidos estes elementos básicos de qualquer narração, resta
saber como organizá-los. Geralmente, isto muitas vezes vai depender do estilo do
narrador, mas, sugerimos um esquema básico que pode auxiliar para contar
qualquer fato, de modo a orientar sobre como organizar adequadamente a
composição do texto.
Primeiramente é sempre importante fazer uma introdução. Quando narramos,
narramos para alguém, um leitor, portanto, devemos situar o texto de forma que
quem o está lendo possa ter noção do que se trata. Assim, é necessário explicar o
FATO a ser narrado, determinar o TEMPO, CIRCUNSTÂNCIA(S) e o LUGAR. A
introdução é uma síntese, um breve relato daquilo que se quer narrar. Não deve
alongar muito, apenas situar as ideias chaves, de modo que o leitor possa entender
do que se pretende o texto.
Feito isso, passa-se ao desenvolvimento do texto propriamente dito. Aponta-
se a(s) CAUSA(S) do fato, a apresentação do(s) PERSONAGEM(NS), os principais
ACONTECIMENTOS e o MODO como a história se desenvolveu, de forma clara e
detalhada. Por último, deve-se expor a(s) CONSEQUÊNCIA(S), caso haja, ou uma
breve conclusão de tudo que se tenha apurado no percurso da narração.
É bom lembrar que ao descrever ou transcrever os relatos, seja sempre
mantido a forma com que estes foram colhidos e de como apareceram no decorrer
de toda a narração, uma vez que são os desencadeadores da sequência narrativa.
A narrativa é um movimento dialético, uma relação entre sujeito e objeto, um
processo histórico. A questão mais importante numa narrativa é conhecer as formas
do existir e conhecer o movimento no qual se constroem os significados (LUKÁCS,
2010).
Outra questão importante a destacar é que o elemento CAUSA pode ou não
existir numa narração. Há fatos que decorrem de causas específicas, outros, por sua
vez, podem ter causa desconhecida ou indeterminada.
Os elementos aqui destacados, não precisam necessariamente aparecerem
na mesma ordem que apontamos. O importante é que o narrador se identifique com
o texto narrado. O fundamental é conseguir contar uma história de modo satisfatório,
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que desperte o interesse no leitor em continuar lendo e que os fatos estejam
detalhadamente enlaçados entre si.
Ainda temos outro elemento importante a destacar: o tipo de narração. Há
dois tipos de narração, a narração objetiva e a narração subjetiva. No primeiro caso
o narrador se limita a contar os fatos, sem deixar que os seus sentimentos, suas
emoções transpareçam no decorrer da narrativa. Este tipo de narração é o que
costuma a aparecer nas “ocorrências policiais” nos jornais e revistas, nos quais o
redator apenas informa os fatos, sem se envolver com a(s) ocorrência(s). Este tipo
de narração apresenta um cunho impessoal e direto.
No segundo caso, a narração subjetiva, os fatos são apresentados levando
em conta as emoções, os sentimentos envolvidos na história. O fato não é narrado
de modo frio e impessoal, pelo contrário, são ressaltados os efeitos psicológicos que
os acontecimentos se desencadeiam, muito comum no “romance-narrativo” ou nas
“narrações romanceadas”.
A narrativa pode, ainda, apresentar ou não o discurso do(s) sujeito(s). Para
aqueles que se apropriam da Metodologia da História Oral, é imprescindível a
utilização dos relatos do(s) sujeito(s) da ação, o que utilizamos na forma de citação
direita, no corpo do texto ou em destaque, seguindo as normas da ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas). Desse modo, a forma do discurso pode
ser indireta ou direta (quando registramos a fala do(s) sujeito(s) da ação).
Lembrando que é indispensável manter a forma com que estes depoimentos foram
colhidos, respeitando a linguagem coloquial, os tradicionalismos, gírias,
regionalismo, as pausas, emoções, entre outras expressões, sem correção.
Também é importante ter em mente a forma verbal do discurso: no discurso
direto utiliza-se com frequência os verbos no presente do indicativo (fica, há etc.),
com a pontuação característica (travessão, dois pontos). Já nos discursos indiretos,
preferencialmente utiliza-se dos verbos no pretérito imperfeito do indicativo (ficava,
havia etc.), e há a ausência de pontuação característica.
Cabe ainda falar nos tipos de linguagem. Basicamente há dois tipos de
linguagem: a linguagem coloquial e a linguagem formal. Entendemos como
linguagem formal ou científica a língua culta, que se caracteriza pela correção
gramatical, ausência de gírias ou termos regionais, riqueza de vocabulário e frases
bem elaboradas.
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A linguagem coloquial é aquela que as pessoas utilizam no dia a dia, em suas
conversações informais. Pode ser uma linguagem descontraída, que dispensa
formalidades e aceita gírias, diminutivos afetivos e palavras de cunho regional.
Portanto, segundo Granatic (1995, p. 35),
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veracidade dos fatos e informações. O mesmo autor assim esclarece: “[...] estamos
todos convencidos de que o documento original é a gravação e que a transcrição
não passa de acessório, não podendo substituir a audição de fitas gravadas ou,
ainda melhor, a visão dos videoteipes” (idem, p. 35).
As variações são introduzidas pelo leitor e não pelo texto em si. As fontes
históricas originais são as narrativas, de modo que um informante pode relatar em
poucas palavras experiências que se desenvolveram e duraram longo tempo ou
mesmo discorrer sobre breves episódios. Há uma relação entre a velocidade da
narração e a intenção do narrador. Fontes orais de classes não hegemônicas são
ligadas à tradição da narrativa popular.
Entrevistas sempre revelam eventos desconhecidos ou aspectos
desconhecidos, elas sempre lançam nova luz sobre áreas inexploradas da vida
diária das classes não hegemônicas. A subjetividade do entrevistado permite
construir uma narrativa que revela um grande empenho na relação do relator com a
sua história. De modo que, os documentos de história oral são sempre o resultado
de um relacionamento, de um projeto compartilhado nos quais, ambos, o
entrevistador e o entrevistado, são envolvidos, mesmo sendo esta relação não
harmoniosa.
De certa forma nas fontes escritas, o texto se encontra pronto, estável. Já na
oralidade, aquilo que é transmitido se torna algo a ser construído, que está em
movimento e que se exprime através do diálogo e de relações pessoais.
Estabelece-se uma relação entre o pesquisador, que deve aceitar o
informante e dar preferência ao que ele ou ela quer falar. A oralidade nos permite
resolver questões que não foram resolvidas e que podem ser retomadas mais tarde.
Assim, o resultado final da entrevista é o produto de ambos – narrador e
pesquisador.
O testemunho oral nunca se repete. É impossível exaurir a memória completa
de um único informante. As pesquisas históricas com a utilização das fontes orais
sempre tem uma natureza inconclusa, de um trabalho em andamento, e as
representações sociais são carregadas de significados socialmente situados,
preservados e reatualizados, de modo que possibilitam estudos sobre a cultura dos
sujeitos que experimentam e registram de diversas formas relações, eventos e
situações históricas.
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As percepções que os sujeitos elaboram em suas tensões cotidianas, contêm
evidências das realidades historicamente situadas para além do mundo das
representações, do universo de suas simbologias e significados, podendo interpretar
indícios de realidades históricas em suas contradições. Cabe ao historiador
(pesquisador) surpreender como o real está presente nas representações e como
estas estão mediadas pelas heranças culturais marcadas no vivido.
A memória não é apenas um lugar para recordar ou preservar o passado.
Muito mais do que isto, é um espaço vivo de lembranças, um processo de atribuição
de significados, um rico potencial para conhecermos a história (MARTINELLI, 2014,
p. 04).
Cada acontecimento individual tem múltiplas relações com os acontecimentos
mais gerais. Ao pesquisador cabe conhecer a interação entre os fatos narrados,
entre o antes e o depois, incluindo os “[...] acontecimentos imaginários e falsas
recordações” (PORTELLI, 2002, p.10). Cabe ainda organizar todo o material colhido,
definir quais relatos vão compor o texto, em que ordem, a contextualização histórica
e quais serão os referenciais teórico-metodológicos a serem utilizados.
Além do mais, cabe-lhe uma responsabilidade ética na utilização dos relatos,
no respeito à idoneidade e sigilo das fontes, ao trato com a verdade e a postura
crítica. De certo modo, também cabe uma postura ético-política, principalmente, na
defesa das classes subalternas e populares, dos excluídos, das minorias, das lutas
sociais, na defesa de direitos, entre outros fatores.
O indivíduo é o horizonte de muitos, é situado social e culturalmente. Suas
escolhas não são arbitrárias, expressam determinações, por isso é preciso conhecê-
las e historicizá-las. O dever do intelectual, entretanto, é garantir alguma espécie de
“profilaxia” colocando este processo em perspectiva histórica e providenciando a
necessária “piedade histórica” para culturas “arcaicas” serem entendidas e
protegidas da exploração pelas forças da reação.
O método de pesquisa é sempre uma opção política e, no caso da história
oral, um verdadeiro imperativo ético, pressupondo a construção de um terreno
comum de trocas entre os interlocutores, fundado na confiança mútua, num
verdadeiro interjogo de subjetividades (MARTINELLI, 2014, p. 05).
A explicitação das intencionalidades, a construção ética da pesquisa, o
respeito aos participantes e à sua livre expressão são fundamentais nesta
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metodologia que nos coloca em contato direto com os sujeitos sociais, permitindo-
nos conhecer sua vida cotidiana, seu modo de ser, de lutar, de resistir, de expressar-
se pela mediação da arte e da cultura e de reivindicar direitos (idem, ibidem).
A oralidade nos permite trabalhar com o horizonte de memórias possíveis,
entendendo-as como expressão dos enredos históricos pessoais, dotados de
dimensão política, como “[...] história viva, lembrança de lutas, processo em
andamento” (PORTELLI, 2002, p. 28).
A perspectiva política permite efetivar mudanças, e todas estas mudanças
são altamente políticas. Num tempo em que a política, nos termos tradicionais de
propaganda, organizações e instituições, se tornou insatisfatória e algumas vezes
mesmo sem sabor, o fato de que nossa presença possa facilitar mudanças
significativas na autoconsciência das pessoas que encontramos, ainda é,
provavelmente, uma forma útil da ação política.
Ao contar uma história o narrador preserva a oralidade do esquecimento; a
história constrói a identidade do narrador e o legado dos sujeitos que narram deixa
para o futuro o registro de suas memórias.
3. O narrador
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A narrativa envolve a experiências que passam de boca em boca, e, esta, é a
fonte a que recorrerem todos os narradores. Entre as narrativas escritas, as
melhores são as que menos se distinguem das histórias orais contadas pelos
inúmeros narradores anônimos (idem, p. 214).
Em seu texto O Narrador, Walter Benjamin (2012) considera o narrador como
uma pessoa que sabe dar conselhos ao ouvinte. Isto se deve ao fato de as
experiências estarem perdendo a sua comunicabilidade. O indivíduo social só é
receptivo a um conselho na medida em que verbaliza a sua situação. O conselho
tecido na substância do vivido aparece, desse modo, como sabedoria (a arte do
saber ou do sabor).
A narrativa é algo que saboreamos, damos asas a nossa imaginação através
do entrelaçamento de palavras e depoimentos que vão construindo na tessitura da
vida as tramas, os fatos, as lutas, as histórias, enfim, o vivido. Não há narrativa sem
a vivência cotidiana. Mesmo que esteja em sua forma romanceada, a narrativa
sempre desvela o cotidiano.
A vida cotidiana é o palco das relações sociais entre os indivíduos sociais e é
regida pelas escolhas e ações. A cada instante, homens e mulheres são forçados a
tomarem decisões que podem implicar em consequências individuais ou coletivas.
Desse modo, para que os indivíduos possam se relacionar harmônica e socialmente,
são estabelecidas normas e regras de conduta que pautam a vida em sociedade,
estabelecendo um senso moral e ético que norteia estas relações sociais
(VERONEZE, 2013).
Para Heller (2004), os indivíduos nascem e são inseridos numa dada
cotidianidade3. É na vida cotidiana que homens e mulheres “[...] fazem sua própria
história, mas em condições previamente dadas” (idem, p. 01), é nesse palco de
relações sociais que defrontamos diretamente com o legado anteriormente
construído e constituído e que é transmitido involuntário e incondicionalmente.
Ainda, é na vida cotidiana que o ser social - particular, singular e genérico -,
se coloca ou é colocado e é na cotidianidade que os sujeitos sociais exteriorizam
suas paixões, seus sentidos, suas capacidades intelectuais, suas habilidades
manuais, suas habilidades manipulativas, seus sentimentos, suas ideias, suas
3
Ou seja, num universo de determinações pré-concebidas anteriormente ao nascimento.
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ideologias, suas crenças, seus gostos e pendores, enfim, todas as suas
potencialidades e capacidades.
A existência humana implica necessariamente a existência da vida cotidiana.
Não há como desassociar existência e cotidianidade, assim como, não há como
viver totalmente imerso na não-cotidianidade. O cotidiano - ou mundo da vida - é o
conjunto de atividades que caracterizam a reprodução dos indivíduos sociais
particulares, dos quais, criam possibilidade para reprodução social (HELLER, 1977).
O cotidiano é a vida em sua justaposição, uma “sucessão aparentemente
caótica” dos fatos, acontecimentos, objetos, substâncias, fenômenos, rotina,
implementos, relações sociais, história dentre outros fatores. O cotidiano se
diferencia da rotina da vida (ou repetições miméticas), mas também incorpora estas
repetições (HELLER, 1977).
É nesse campo contraditória que a memória e a tradição oral, enquanto
patrimônio da poesia épica se mostra. Tem, assim, uma natureza fundamentalmente
distinta da que caracteriza o romance.
O que distingue o romance de todas as outras formas de prosa – contos de
fada, lendas e mesmo novelas – é que ele não procede da oralidade, nem a
alimenta. Na narrativa o narrador retira o que ele conta da experiência: de sua
própria experiência ou da relatada por outros e incorpora, por sua vez, as coisas
narradas à experiência dos seus ouvintes (LUKÀCS, 2010).
No romance, por sua vez, o que se apresenta é o indivíduo isolado. Escrever
um romance significa, na descrição da vida humana, levar o incomensurável a seus
últimos limites: ao humano-genérico (o vir-a-ser). O romance anuncia a profunda
perplexidade de quem vive. A narrativa, neste caso, não se esgota jamais. Ela
conserva suas forças e depois de muito tempo ainda é capaz de desdobramentos.
Contar histórias sempre foi a arte de contá-las de novo, e ela se perde
quando as histórias não são mais conservadas. Ela se perde porque ninguém mais
fia ou tece enquanto ouve a história. Quando mais o ouvinte se esquece de si
mesmo, mais profundamente se grava nele o que é ouvido.
O trabalho em grupo (o labor) sempre esteve ligado a narrativa. Enquanto o
ritmo do trabalho se apodera, os demais escutam as histórias de tal maneira que o
narrador adquire espontaneamente o “dom” de narrá-las. Assim, enquanto se teceu
a rede, vai se tecendo a narrativa, de modo que as histórias vão passando de
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geração em geração. O trabalho manual das rendeiras, tricoteiras, lavadeiras,
crocheteiras etc., em sua grande maioria, são ricos em oralidade e é entrelaçado
pelas cantigas populares, história e cultura.
A narrativa durante muito tempo floresceu no meio artesão – no campo, no
mar e na cidade -, é ela própria, num certo sentido, de uma forma artesanal de
comunicação. Ela não está interessada em transmitir o “puro em si” da coisa
narrada, como uma informação ou um relatório (BENJAMIN, 2012).
Ela mergulha na vida do narrador para em seguida retirar dele a sua
expressão. A relação ingênua entre o ouvinte e o narrador é dominada pelo
interesse em conservar o que foi narrado. Para o ouvinte imparcial, o importante é
assegurar a possibilidade da transmissão. A memória é a faculdade épica por
excelência nesse processo.
A rememoração funda a cadeia da tradição, que transmite os acontecimentos
de geração em geração. Quem escuta uma história está em companhia do narrador;
mesmo quem a lê, partilha dessa companhia.
Por sua vez, o leitor de um romance é solitário. Mais solitário que qualquer
outro leitor, pois mesmo quem lê um poema está disposto a declamá-lo em voz alta
para um ouvinte ocasional, comenta Walter Benjamin (2012), e é por isso que o
narrador figura entre os mestres e os sábios.
Outro aspecto é que o narrador desempenha um papel ético e político. A
narrativa, sendo ela extraída do cotidiano, revela as disputas de classe, as mazelas
humanas, os conflitos, as injustiças, as explorações, enfim, denuncia aquilo que a se
quer esconder da história. Ela dá voz aos feridos, aos excluídos, aos explorados e
injustiçados, aos vencidos, as perseguidos, as vítimas de preconceito, discriminação
e de violência.
Como exemplo desse gênero de narrativa, podemos citar o livro de Tom
Ambrose (2011), Heróis e exílios: ícones gays através dos tempos. Um livro que
narra o exílio gay a partir da experiência de alguns homossexuais mais famosos da
história, incluindo artistas, atores, cineastas, escritores, dentre outros que
vivenciaram experiências trágicas e outros que triunfaram no exílio. Neste livro, o
diferencial é que as narrativas não são daqueles pertencentes às classes
empobrecidas, mas sim àqueles que sofreram e sofrem preconceitos e
discriminações.
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Portanto, a tradição da História Oral “[...] pode ser uma alternativa crítica”
(PORTELLI, 2000, p. 67) de expor às contradições da vida social e de denunciar a
exploração, a miséria, a pobreza, a violência, a perseguição, as lutas, os combates,
as derrotas, as dores, as angústias, enfim, como já dissemos, aquilo que as pessoas
querem esconder da história, além de ser um importante instrumento do registro da
história e da memória.
Como diz Martinelli (2014, p. 04),
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Depois que Allan Nevins, historiador da Universidade de Colúmbia, em 1948,
começou a gravar as memórias de pessoas importantes da vida americana,
historiadores, oralistas, pesquisadores, acadêmicos, entre outros, começaram a
expandir esta técnica de pesquisa em várias partes do mundo, contando hoje com
uma Associação Internacional de História Oral (a North American Oral History).
No Brasil, a metodologia foi introduzida na década de 1970, quando foi criado
o Programa de História Oral do Centro de Pesquisa e Documentação de História
Contemporânea do Brasil (CPDOC), ligado a Fundação Getúlio Vargas. A partir dos
anos de 1990, o movimento se expandiu, e, em 1994, foi criada a Associação
Brasileira de História Oral.
Desse modo, buscamos ao longo deste texto fazer algumas reflexões e
sugestões sobre a arte de narrar, nas suas interfaces com a história e a memória,
evidenciando, de certa forma, sua importância para a realização de pesquisas
qualitativas ou mesmo à produção de textos que visam registrar os processos
históricos vividos pelos sujeitos sociais, através da oralidade.
Lukács (2010, p. 267) aponta que a “[...] tarefa exclusiva da arte seria a de
tomar posição nas lutas de época, da sociedade, das classes sociais; de favorecer a
vitória social de uma determinada tendência, a solução de um problema social”.
A arte de tecer, de dialogar e de contar histórias se entrelaça com o labor de
tecer com o fio dos acontecimentos cotidianos a teia da história e da memória.
Assim, a arte é também uma magia. A magia é entendida como uma ciência ou
prática baseada na crença de ser possível influenciar o curso dos acontecimentos e
produzir efeitos não naturais, valendo-se da intervenção de seres fantásticos e da
manipulação de algum princípio oculto supostamente presente na natureza, seja por
meio de fórmulas, rituais ou de ações simbólicas.
Contudo, aqui a palavra magia assume outro significado. A magia é a arte de
revelar aquilo que está encoberto, oculto, desconhecido, em outras palavras,
podemos dizer que é a alquimia que provoca o encanto. A narrativa é esta magia
que desvenda a história e revela a memória através do registro da oralidade.
Foi pensando assim que embrenhamos pelo campo jornalístico. Enquanto
articulista, mantenho no Jornal da Região, uma coluna onde trato de assuntos
relacionados ao Serviço Social, a política de assistência social, cotidiano, análises
políticas e de conjuntura, entre outros. Além disso, buscamos também registrar
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esporadicamente fatos cotidianos, acontecimentos, notícias, eventos, crítica literária
e de cinema.
Os textos mantém um estilo próprio, muitas vezes, narrados e discutidos. Um
tipo de jornalismo que poderíamos chamar de “orgânico”, porque, nada obstante,
buscamos formar opiniões na defesa de direitos do proletariado e na perspectiva de
classes, conforme Gramsci (1982, p.162) nos aponta que o “[...] dever da atividade
jornalística (em suas várias manifestações) [é] seguir e controlar todos os
movimentos e centros intelectuais que existem e se formam num país”. Assim,
buscamos manter em foco estas premissas.
É ainda importante destacar que os textos e assuntos sobre História Oral,
discutidos no Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Identidade (NEPI), coordenado
pela Profª. Drª. Maria Lúcia Martinelli, da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP), muito contribuíram para a inspiração, edição e fundamentação
teórica desses artigos.
Contudo, uma experiência criou fama: a produção de textos de registro da
memória através de relatos colhidos na Rede Social Facebook. Com o avanço da
tecnologia, estas novas formas de coleta de informações e de entrevistas têm sido
utilizadas para esta finalidade. Estes textos foram publicados numa coluna especial
intitulada: “A história que os livros não contam”.
Assim, Guaxupé contém dois grupos de guaxupeanos e guaxupeanas 4
espalhados pelo mundo e que trocam informações, ficam sabendo dos
acontecimentos da cidade, nascimentos, casamentos e falecimentos, avisos
importantes, entre outras ações e informações.
Certo dia resolvemos solicitar aos integrantes dos grupos que publicassem
fotos históricas da cidade e de pessoas. Iniciamos com uma foto familiar que registra
a travessia de carros de boi de um ribeirão que demarcava a divisa do Estado de
Minas Gerais e de São Paulo, e que divide o perímetro urbano de Guaxupé com o
município paulista de Tapiratiba. A foto foi tirada em 1932, período que acontecia a
Revolução Constitucionalista de 1932. Esta foto gerou uma conversa muito
agradável entre alguns membros do Grupo Guaxupé (GG).
A História nos conta que no dia 23 de maio de 1932, grupos se confrontaram
nas ruas de São Paulo, o que resultou na morte de alguns estudantes em praça
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O grupo GG (Grupo Guaxupé - https://www.facebook.com/groups/gg.grupoguaxupe/?fref=ts) e o
grupo Guaxupé Destaca (https://www.facebook.com/groups/Guaxupedestaca/?fref=ts).
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pública, que ficaram famosos como MMDC (sigla das iniciais dos quatro jovens
mortos nesse confronto: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo). Mais tarde,
adicionou-se a letra A ao final da sigla, (A de Alvarenga), outro jovem que acabou
morto por causa do conflito.
Essas mortes foram o estopim que deu início no dia 09 de julho de 1932 à
Revolução Constitucionalista. Com a ajuda dos meios de comunicação em massa, o
movimento ganhou apoio popular e mobilizou cerca de 35 mil homens pelo lado dos
paulistas, contra 100 mil soldados do governo Getúlio Vargas.
Passamos a descrever parte do texto conforme foi publicado no Jornal da
Região de 04 de outubro de 2013. Manteremos os nomes originais por se tratar de
publicações públicas na Rede Social Facebook.
“Maura Rios, membro do Grupo, comentou que os “paulistas contavam com o
apoio de Minas e do Rio Grande do Sul, mas esta ajuda não veio e os paulistas
foram vencidos pelas tropas de Getúlio, uma luta que dourou de 09/07 a 03/10 de
1932.
“Segundo os relatos de Sonia Elias, seu avô Dadico, “hospedou na Fazenda
do Bugio, pessoas que fugiam de Guaranésia e Guaxupé, com medo de uma guerra
civil, que de fato aconteceu em São Paulo e Minas Gerais, exigindo de Getúlio
Vargas, uma Constituição. Com medo, as pessoas fugiam para as fazendas do
interior”. Guaxupé e cidades vizinhas presenciaram estes acontecimentos.
“Crispina Miqueri relata que sua mãe contava que “os pais trancavam suas
filhas dentro de casa com muito medo da movimentação de gente estranha fardada
dentro da cidade de Arceburgo, assim, as famílias “fugiam” para as fazendas e sítios
da região em carros de bois mandados pelos parentes solidários”. E continua:
“Minha mãe viveu essa revolução já mocinha, morava em Arceburgo. Dizia ela que
na época famílias inteiras se deslocavam das cidades para os sítios e fazendas de
parentes próximos, e esses solidários tios e primos mandavam seus carros de bois
para buscá-los junto de seus pertences. Esta foto, por sinal linda, marca um tempo
que esse meio de transporte era o único na zona rural”.
“Havia muita dificuldade na época, mas também havia muita solidariedade por
parte dos entes queridos. O cuidado com os familiares era comum em épocas de
crise políticas, econômicas e sociais. Crispina comenta que seu tio, Dadico, como
era chamado pelos seus, hospedou em sua fazenda (Fazenda do Bugio) da família
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de sua prima composta por 14 irmãos e agregados que residiam em Arceburgo
(MG).
“Os guaxupeanos fugiram para a área rural com medo dos paulistas que
invadiram a cidade”, comenta Francisco Arcangelo Damito. “Contava-se aqui em
casa que minha avó colocava as crianças debaixo da mesa e que só se ouvia o
tilintar das balas por cima do telhado. As pessoas saiam correndo e se escondiam
quando ouviam algum som estranho ou alguém gritando: - Os paulistas estão
vindo!!!”, diz Renato Veroneze.
“Rosa Tereza Rodrigues comenta que seu avô, José Pilintra, “fabricou
matracas para que o adversário pensasse que eram tiros disparados”, assustando,
assim, os adversários. Diz ela que os carros de bois eram um transporte muito
utilizado naquela época por causa do terreno ser muito acidentado.
“Dalva Paz Lopes destacou que as novelas de época trazem importantes
registros de como era a vida em outros tempos. Fernando de Oliveira Corsi comenta
que eram “momentos mágicos da vida humana que não voltam mais. Com certeza
os personagens desta incrível aventura não estão entre nós, talvez, um ou outro,
pois não é muito antiga. Viver assim era viver com arte sem saber. Esta foto enche
nossos olhos de alegria e voltamos no tempo sem mesmo lá viver. Que a alma deste
povo simples seja a alma nossa em nosso viver.
“São histórias ouvidas e repassadas que o tempo muitas vezes apaga sem
serem registradas. Se houvesse mais diálogo e registros entre as gerações sobre os
acontecimentos históricos, sobretudo àqueles vividos pelos familiares, com certeza
teríamos momentos muito mais agradáveis e felizes em nosso dia-a-dia: “Quantas
histórias ouvimos durante toda a vida, e vez ou outra vamos ao fundo do baú buscá-
las para compartilhar com nossos filhos, sobrinhos, netos, e ainda registrar na
página do Grupo Guaxupé”, comenta Crispina.
Este foi um mergulho na história em razão de uma foto, são momento
incríveis que o mundo virtual pode nos proporcionar. O Grupo Guaxupé tem este
cuidado de registrar histórias que os livros não contam...”.
Este é um exemplo de como podemos escrever pequenos textos fazendo uso
da Tradição Oral e que busca registrar acontecimentos e a memória de um povo,
além do próprio registro da história. Outros textos foram publicados nesse formato
onde destacamos outros fatos e acontecimentos, todos eles registrando momentos e
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acontecimentos através de relatos despertados pela publicação de fotos antigas no
Facebook e instigando aos membros do grupo que realizarem comentários através
do diálogo.
Deste modo, encerro este ensaio com as palavras da Profª. Martinelli (2014,
p. 12): “[...] nossas principais ferramentas, a memória e a linguagem, são valiosas
para romper com o silêncio da história oficial, para desafiar as ideologias
dominantes, para alimentar as lutas por igualdade e para manter sempre vivo e
renovado o diálogo, através do exercício democrático da palavra!”.
A magia do narrar é, sem sombra de dúvidas, o “exercício democrático da
palavra”!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMBROSE, Tom. Heróis e exílios: ícones gays através dos tempos. Trad. Elisa
Nazarian. Belo Horizonte: Gutenberg, 2011.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12ª Ed. São Paulo: Ática, 1999.
MARX, Karl. Para a Crítica da Economia Política. Trad. Edgard Malagodi. São
Paulo: Nova Cultural, 2005. (Coleção: Os Pensadores).
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ALBERTI, Verena (orgs.). História Oral: desafios para o século XXI [online]. Rio
de Janeiro: Fiocruz, 2000, p. 67-71. Disponível em:
http://static.scielo.org/scielobooks/2k2mb/pdf/ferreira-9788575412879.pdf, acesso
em 25/06/2017.
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