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História, História

da Educação e
Historiografia da
Educação
Aniele Fernandes de Sousa Leão
História, História da
Educação e Historiografia
da Educação

Introdução
Neste conteúdo, compreenderemos o conceito de História e os aspectos que
perpassam a História da Educação. O conhecimento de uma disciplina ou campo
de conhecimento nos permite identificar as permanências e marcas que ainda hoje
definem o conteúdo História da Educação (DUCECK; MOREIRA; MELO, 2017).

Dessa maneira, desenvolveremos o pensamento crítico a partir da retrospectiva


histórica, a fim de apontar fundamentos de ensino para uma educação moderna
e dinâmica. Na oportunidade, perceberemos aspectos da Historiografia e sua
importância para os estudos da educação. Além disso, entenderemos como surgiram
as instituições escolares.

Objetivos da Aprendizagem
• compreender os conceitos de história, história da educação e historiografia
da educação;
• compreender o surgimento da instituição escolar.

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O conceito de História
O mérito refletir sobre questões e temas da História e do seu ensino-aprendizagem tem
como ponto de partida o conhecimento historiográfico e a compreensão de conceitos
essenciais. Nessas reflexões, adquirem-se perspectivas interpretativas, despertam-se
interesses e desenvolvem-se habilidades para a construção de saberes e modos de agir.

Para tanto, considerar a pesquisa, a descoberta e a reflexão crítica de alguns conceitos


é indispensável ao conhecimento da História, bem como da História da Educação.

Conceito de
História

Reflexão Conhecer a
crítica historiografia

Figura 1: Diagrama dos processos de compreensão da História


Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Uma primeira definição de História refere-se à experiência dos homens ao longo do


tempo. Ao viverem em sociedade, os homens buscam interações entre si e com o
ambiente que os cerca, criando modos de viver.

Figura 2: O homem ao longo do tempo


Fonte: Plataforma Deduca (2019).

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Outro conceito de História que pode ser trabalhado, segundo Malatian (2013), tem
como ponto de partida a nomeação dos períodos históricos:

A interação entre homem e natureza

A interação entre homem e natureza é produto da História Natural. A natureza


é condição concreta da existência humana. A sociedade atual vivencia uma
série de problemas que envolvem o seu modo de interagir com a natureza,
no processo de produção e reprodução do espaço geográfico, evidenciando a
questão do conceito de natureza em vigor.
Pensar a natureza no cotidiano e a forma como o homem se relaciona com
ela nos remete ao passado, na tentativa de compreender as mudanças que se
processaram no modo da sociedade pensar, interagir e produzir suas tecnologias
e bens de consumo. Sendo assim, a natureza não pode ser concebida como algo
exterior à sociedade, visto que esta relação é um produto histórico.

Ainda segundo Malatian (2013), outra conceituação de história se refere ao campo


do conhecimento, resultado do trabalho de pesquisa, investigação e interpretação
desenvolvido pelo historiador.

Desse modo, de acordo com Lombardi (2003), observamos que o conceito de História
apresenta uma ambiguidade: de um lado, “significa o conhecimento dos fatos ou a
ciência que estuda os acontecimentos no tempo”; e de outro lado, o termo “significa
os próprios fatos ou a totalidade deles”. “Ambiguidade que, ainda, sobrevive em todas
as línguas cultas modernas, inclusive aqui no Brasil” (LOMBARDI, 2003).

No que diz respeito à História, é importante observar que o seu conhecimento “significa
fazer referência às múltiplas experiências dos seres humanos no tempo, que são,
antes de tudo, permeadas por um conjunto de conhecimentos” e características que
não se reduzem a um recorte disciplinar (RIBEIRO, 2013).

Para Ribeiro (2013), estudar a experiência humana não se limita à história político-
administrativa, ou ainda, a história das guerras ou as mudanças ocorridas no
contexto econômico. É necessário considerar o pensamento simbólico, assim como
os aspectos culturais.

Além disso, refletir sobre os mais variados fatos do cotidiano nos permite identificar as
igualdades e as diferenças, o que permanece e o que se transforma ao longo do tempo.

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Figura 3: A arte rupestre como forma de registro histórico
Fonte: Plataforma Deduca (2019).

Diversas maneiras de compreender o conceito de História surgiram e se modificaram


desde a Antiguidade. Para Dosse (2003), a História pode ser entendida como o modo
de discurso específico em busca da verdade, que surge de uma lenta necessidade,
após sucessivas rupturas com o gênero literário.

Desse modo, se reconhece em Heródoto, viajante grego do século V antes de Cristo


(a.C.), o projeto de ruptura com o gênero literário e o nascimento de um novo gênero,
a História (DOSSE, 2003).

Para Malatian (2013), o próprio Heródoto “lançou as bases desse conhecimento, ao


procurar separar” os mitos dos “fatos reais, nas narrativas sobre o passado”. Embora,
ainda, influenciado pela ideia de interferência dos deuses e do destino como atuantes
na vida dos homens.

Com Heródoto, surge também o conceito de historiador, que estabelece uma distância
objetiva em relação aos fatos narrados. Diferentemente da epopeia, que é um gênero
literário em forma de extenso poema épico, baseado em elementos entrelaçados
com o fantástico e a mitologia, Heródoto conta o passado a partir do relato de suas
investigações e não mais se refere aos deuses e às musas (DOSSE, 2003).

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Figura 4: Na mitologia, Posseidon, o rei dos mares, e o símbolo do seu poder, o tridente
Fonte: Plataforma Deduca (2019).

Saiba mais
Você sabia que a epopeia de Ulisses intitulada Odisseia é um
dos livros que mais influenciou o imaginário dos ocidentais, só
perdendo para a Bíblia? Essa narrativa conta as aventuras do rei
de Ítaca, ao retornar para casa após a guerra de Troia.

Nesse contexto, a História que se escreve está relacionada “com o contexto social
em que foi produzida”. O historiador, ao perceber “o mundo em que vive, com seus
problemas, desafios, lutas e utopias, traça um diálogo que influencia o modo como
ele reconstrói e interpreta o passado” (RIBEIRO, 2013).

Dessa maneira, não mais contemplam-se as lembranças das grandes façanhas


realizadas por heróis, mas a preservação da memória do que os homens realizaram
em conjunto, destacando os valores do coletivo (DOSSE, 2003).

Sendo assim, a grande transformação que norteia e afirma o surgimento da História


está presente na consolidação da comunidade cidadã da polis.

Curiosidade
Polis: cidade-estado que definia um modo de vida urbano.

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Dessa maneira, a consciência política permitiu a transição entre a essência épica do
discurso para uma existência política, a manifestação de um início de secularização
possibilitada pela posição ocupada pelo historiador (DOSSE, 2003).

Iniciou-se, assim, uma grande busca pela cientificidade e a História passou por
diversas transformações, resultantes da intenção de seus escritores de elevá-la ao
status de ciência. Assim, como acontecia com as ciências naturais, apoiando-se
a métodos empíricos para a obtenção do conhecimento científico. Dessa maneira,
o que é produzido está livre do pensamento mítico, religioso ou filosófico, pois se
baseia na observação sistemática e controlada (MALATIAN, 2012).

A profissão do historiador

O Historiador é o profissional que estuda o passado em seus vários aspectos:


economia, sociedade, cultura, ideias e cotidiano. Dessa maneira, investiga e
interpreta criticamente os acontecimentos, buscando resgatar a memória da
humanidade e ampliar a compreensão da condição humana.
Seu trabalho tem como base pesquisas de documentos como: manuscritos,
impressos, gravações, filmes, objetos, fotos etc. Depois de selecionar,
classificar e relacionar os dados levantados em bibliotecas, arquivos,
entrevistas ou estudos arqueológicos, ele data o fato ou o objeto, confere
autenticidade e analisa sua importância e seu significado para a compreensão
dos acontecimentos.

Segundo Malatian (2012), com base na pesquisa histórica documental, firmou-se a


abordagem metodológica que considerava os documentos escritos oficiais, sobre
a experiência humana. Assim, após atestar a confiabilidade, as chamadas fontes
históricas eram estudadas pelo historiador a fim de resgatar as informações sobre o
passado como realmente aconteceu.

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Definição de documento

Definir documento significa um grande desafio, vejamos alguns conceitos:


declaração escrita, oficialmente reconhecida, que serve de prova de um
acontecimento, fato ou estado; qualquer objeto que comprove, esclareça, prove
ou registre um fato e/ou acontecimento; quaisquer materiais escritos que
possam ser usados como fonte de informação sobre o comportamento humano.

Funções dos documentos

Em Desse modo, observamos que a inserção da História no campo da ciência


era desejada por historiadores ligados ao cientificismo. Esse processo foi
amparado pela participação do Estado, com a construção de instituições,
como bibliotecas, arquivos e museus. Instituições que favoreceram o
desenvolvimento do ofício do historiador, que se profissionalizava e recebia
recursos para a publicação de grandes coleções (MALATIAN, 2012).

Pesquisa Documental

A pesquisa documental tem o documento como objeto de investigação.


Entretanto, o conceito de documento vai além de textos escritos e/ou impressos.
O documento como fonte de pesquisa pode ser escrito e não escrito, tais como
filmes, vídeos, slides, fotografias ou pôsteres.
Nas pesquisas documentais, os documentos são utilizados como fontes de
informações, indicações e esclarecimentos que trazem seu conteúdo para
esclarecer determinadas questões e servir de prova para outras, de acordo
com os objetivos do estudo. Além disso, são indicativos das estratégias de
coleta de dados.

O que é História da Educação


A descrição e a contextualização de fatos e marcos históricos significativos para a
construção da Educação como é entendida atualmente tem como ponto de partida
a reflexão sobre a História da Educação com suas singularidades e complexidades
sociais e históricas. A esse respeito, Cambi (1999) busca a retomada da história
da pedagogia. Então, passa a desenvolver reflexões sobre o pensar, o fazer e os
caminhos da História da Educação como conteúdo que recompõe o passado para
entender melhor o presente.

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Origem da palavra Pedagogia

A palavra Pedagogia surge na Grécia antiga e significa a união/junção de:


paidós – criança e agogé – condução. Ao longo da história do Ocidente, a
Pedagogia estabeleceu-se como correlata da educação e muitos a definem
como a ciência do ensino. Assim, a prática educativa é um fato social, cuja
origem está ligada à da própria humanidade.

Teoria e prática educativa

Há grande socialização entre a teoria e a prática educativa, o que elevou o saber


pedagógico ao nível científico. Nesse contexto, o educador passa a investir na
função reflexiva, investigativa e, portanto, científica do processo educativo.

Na antiga Grécia, a educação acontecia, de modo geral, pela formação integral do


indivíduo (2.000 a.C.). Após a derrota da Grécia pelo Império Romano (763 a.C.), novos
princípios educacionais e culturais foram criados. Assim, nesse momento histórico,
passou a vigorar uma cultura mais humanística e universal, com uma educação
pragmática, voltada ao cotidiano (BUENO; PEREIRA, 2013).

No entanto, na Idade Média (séculos V a XV), ocorre a queda do Império Romano e tem
início o domínio da Igreja Católica. Nessa fase da História da Educação, as crianças
eram consideradas adultos em miniatura e não existia a concepção de infância. O
espaço escolar ficava nas instituições religiosas e a educação era acessível somente
para o clero, o povo deveria guardar-se para defender o cristianismo e ter uma vida
santa (BUENO; PEREIRA, 2013).

Figura 5: Centro educacional dedicado à arte e cultura da antiga Roma, Grécia e Etrúria
Fonte: Plataforma Deduca (2019)

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No Renascimento, o teocentrismo – Deus como o centro do universo – com a fé que
precede a razão, dá lugar ao antropocentrismo. A partir do antropocentrismo, ocorre
o despertar das artes e das literaturas. Assim, entram nos currículos os estudos
literários, científicos e filosóficos. Porém, a educação era somente para a elite (LOPES;
GALVÃO, 2001).

Na Idade Moderna, com a Reforma e a Contrarreforma, segundo Lopes e Galvão


(2001), a leitura e a escrita iniciaram sua expansão, mas o ensino ainda era pensado
só para a elite.

Em contexto educativo nacional, a colonização brasileira foi consequência de uma


organização econômica complementar à da Metrópole. A Companhia de Jesus passa
a ser “o principal agente educador, a instrução dos jesuítas prevalece e, assim, tem-
se a aculturação dos povos que aqui viviam” (CUNHA, 1980).

Após a Independência do Brasil (1822), o ensino nos tempos de Império insere-se no


quadro mais amplo da História da Educação Pública com caráter nacional. Surgem
os espaços escolares e o ensino secundário busca cobrir as falhas deixadas pela
educação jesuítica (LOPES; GALVÃO, 2001).

Dando sequência a esses fatos, segundo Cambi (1999), após a Segunda Guerra
Mundial, difundiram-se novas orientações historiográficas. Isso porque entrou em
crise o modo tradicional de ensino e deu-se inicio ao processo que levou à substituição
da História da Pedagogia pela História da Educação, definida hoje como modelo de
pesquisa na área.

A partir desse período, a pesquisa em educação se orientou por diversas ciências


que sintetizavam um saber interdisciplinar, na busca pela formação de indivíduos
socializados. Sendo assim, diversas histórias se entrelaçavam com outros saberes e
com as ciências humanas. Desse modo, a História da Educação se orientava por uma
construção da totalidade, das instituições, da didática, da infância, das mulheres,
entre outros, ao ultrapassar a história das ideias (CAMBI, 1999).

Nas décadas de 1950 a 1970, o modo fechado de fazer história rompeu com o
modelo ideológico que se caracterizava pelo seu fazer teórico, unitário e continuísta,
ao estabelecer um modelo aberto de pesquisa articulada. Surge assim a História da
Educação no Brasil (GONÇALVES; DONATONI, 2007).

Ainda segundo Gonçalves e Donatoni (2007), a História da Educação, instituída em


1939, constituía-se em um novo modelo que viria a ter influências somente a partir da
metade dos anos de 1970 como uma revolução historiográfica e uma nova imagem
do fazer histórico.

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Cambi (1999) refere-se a três revoluções desencadeadoras de ações historiográficas
que transformaram o entendimento de como se desenvolver pesquisas conduzidas
por princípios metodológicos renovados. São elas:

Revoluções historiográficas
Revolução dos métodos

Revolução do tempo

Revolução dos documentos

Tabela 1: Revoluções historiográficas


Fonte: Autora (2019).

A partir desse estudo, obtivemos uma compreensão mais crítica da História da


Educação, pois abordamos algumas obras sobre as relações entre educação e
sociedade através dos períodos históricos, delimitando os fatos e os marcos mais
significativos (GONÇALVES; DONATONI, 2007).

Historiografia e sua importância para os estudos da


educação
Uma leitura historiográfica revela um novo cenário e conduz a iniciativas de maturidade
contrárias ao arcaísmo leigo e religiosas, além de fortalecer perspectivas para novas
investigações (CAMBI, 1999).

A Historiografia da Educação é uma área que tem por objeto de estudo investigações
das produções históricas dos diversos ambientes educacionais. Apesar de ser
considerado um campo recente, a Historiografia da Educação praticamente reproduziu
as características do modus operandi historiográfico, com estudos nos quais a escrita
no campo da história educacional é de caráter descritivo, com ênfase nos aspectos
formais da produção (LOMBARDI, 2003).

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Figura 6: Historiografia da Educação
Fonte: Plataforma Deduca (2019).

O termo Historiografia pode ser usado para designar o conhecimento histórico ou,
ainda, pode significar a arte de escrever a história ou o estudo histórico e crítico
acerca da história ou dos historiadores (LOMBARDI, 2003).

Figura 7: Conhecimento histórico como processo de construção historiográfico


Fonte: Plataforma Deduca (2019).

Assim, a historiografia introduz o uso de métodos e teorias que fundamentam o


processo e o resultado da construção do conhecimento historiográfico. Desta maneira,
parecem existir, no âmbito da pesquisa historiográfica, as mesmas concepções e
tendências que incidem no fazer científico do historiador (FERNANDES, 2003).

De acordo com Fernandes (2003), no campo da Historiografia, para os estudos da


educação foram fundamentais o marxismo, a escola dos Annales, a psicanálise, o
estruturalismo e as pesquisas qualitativas. Isso porque a renovação da historiografia
a partir de esforços da instituição educativa corresponde a um desafio interdisciplinar.

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Figura 8: O teórico alemão Karl Marx (1818-1883) em gravura antiga
Fonte: Plataforma Deduca (2019).

Marxismo

Marxismo foi um conjunto de ideias desenvolvidas a partir das obras


revolucionárias de Karl Marx (1818 -1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895).
Com grande impacto no mundo todo, constitui um método específico para
a análise social de alguns aspectos da sociedade moderna, especialmente
aqueles ligados aos conflitos de classe e à organização produtiva.

Sociedade e Capitalismo

O marxismo explica a evolução da sociedade por meio do capitalismo. Com vista


política, a teoria é voltada à transformação radical da ordem socioeconômica.
Assim, as contínuas mudanças na sociedade só poderiam ser explicadas
quando fossem compreendidas as formas como os seres humanos, em um
determinado tempo histórico, produzem o necessário para viver.

Modos de produção capitalista

A maneira como a sociedade se organiza coletivamente para suprir suas


necessidades (alimentação, educação, vestuário, infraestrutura, por exemplo)
é essencial para compreendermos outros aspectos de sua evolução. Por isso,
o Marxismo sustenta que as sociedades humanas progridem através da luta
de classes, por meio dos modos de produção capitalista.

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O Estado

O Estado foi criado para proteger os interesses da classe dominante, embora


seja apresentado como um instrumento que representa o interesse comum de
todos. Assim, o capitalismo produziria tensões internas que conduziriam à sua
autodestruição e substituição por um novo sistema.

Novo sistema: o socialismo

O socialismo seria a consequência de uma guerra perpétua entre a primeira e


as demais classes ao longo da história. Isto, associado à sociedade industrial e
ao acúmulo de capital, geraria a sua classe antagônica, que resultaria, portanto,
na conquista do poder político pela classe operária. Estabelecendo-se, assim,
uma sociedade sem classes e apátrida.

Com isso, a educação passa a se desenvolver de modo contextualizado, referindo-se


a públicos mais específicos, conteúdos e agentes definidos. Uma vez que segue uma
corrente historiográfica evoluída dos Annales, pela Nova História.

Desse modo, verificamos que a historiografia passou da incerteza para assumir a reflexão
metodológica rumo à autonomia. Isso com uma variedade de intervenções que sugerem
a história estruturada, a história da economia social, a história das mentalidades, a
história do cotidiano e outras histórias. (GONÇALVES; DONATONI, 2007).

Para Cambi (1999), foram necessárias tipologias de abertura de documentos que,


antes tidos como marginalizados, hoje são utilizados, com profunda renovação
interpretativa, por valorizarem a memória coletiva e organizarem o patrimônio cultural,
redesenhando a consciência historiográfica.

Desde a Clássica Antiguidade, a educação é pensada por e para a humanidade,


dentre outros fatores. Nessa perspectiva, a educação pode ser uma forma de garantir
a sobrevivência histórico-cultural da espécie humana, desde as sociedades mais
pitorescas até as formas mais inovadoras de educar crianças e jovens (GONÇALVES;
DONATONI, 2007).

Segundo Gonçalves e Donatoni (2007), se há possibilidade de falarmos também de


uma filosofia da educação, esta se relaciona a Platão (428/27–347 a.C.), a Aristóteles
(384/3–322 a. C.) e a Sócrates (470/69– 399 a. C.).

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Curiosidade
Uma vez que seus legados ainda orientam educadores nas ações
pedagógicas, nos conteúdos que aplicam, na prática pedagógica,
na organização escolar, na didática e nos currículos.

Com isso, percebemos que o caminhar da humanidade conduz a momentos de


maior ou menor maturação nos processos de ensino, norteados pelo pensamento
desses filósofos e por suas concepções pioneiras relativas à educação (GONÇALVES;
DONATONI, 2007).

Figura 9: Uma sala de aulas nos moldes tradicionais de ensino


Fonte: Plataforma Deduca (2019).

Outra ordem, a nova revolução, nasce com São Tomás de Aquino, nos anos de 1214
a 1274 (estimativa). Essa época inaugura o pensamento racionalista cristão, cuja fé
se respalda no raciocínio e na lógica da crença como condição para o entendimento
humano. Esse período foi importante para a educação, pois tem início a intelectualidade
embasada na razão e a possibilidade de educar os leigos e os pobres. Além disso,
essa corrente criou as universidades (GONÇALVES; DONATONI, 2007).

Ademais, também tiveram importância fundamental para a Historiografia da


Educação, segundo (CAMBI, 1999), movimentos como:

• Protestantismo de Lutero (1483–1546): influencia a educação ao valorizar a


alfabetização e o aprendizado de línguas como conhecimento que deve ser
acessível a todos. Assim, a educação passa a ser vista como utilidade social;
• Comênio (1592–1670): revoluciona os métodos de ensino ao recusar a seve-
ridade e os castigos corporais contra a criança;

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• Locke (1632–1704): defende a educação como formação de caráter e do in-
telecto ao preconizar o liberalismo na economia, iniciando a modernidade;
• Rousseau (1712–1778): com novas perspectivas e transformações na edu-
cação, considerado o pai da pedagogia contemporânea.

Além desses, contribuíram, também com marcos expressivos para inovar a


educação, Vico (1668–1744), Kant (1724–1804) e Dewey (1859– 1952), dentre
outros pensadores (CAMBI, 1999).

Ainda segundo Cambi (1999), no século XVIII, a Revolução Industrial e seus produtos,
tais como o desenvolvimento agrícola, a acumulação de capital, a invenção das
máquinas, a força de trabalho dos campos, o crescimento do mercado mundial e
os processos de urbanização contribuíram para modificar os modos de trabalho da
sociedade moderna.

Figura 10: Locomotivas e a Revolução Industrial

Fonte: Plataforma Deduca (2019).

Nesse contexto, surge o proletariado, o operário e a consciência da questão social


em torno das condições de vida. Então, o papel da sociedade é estabelecido pelo
coletivo (sociedade civil e Estado), nascem a sociedade contemporânea e os múltiplos
processos educativos (GONÇALVES; DONATONI, 2007). Tal período constituiu um
marco para a educação e se traduz, na contemporaneidade, na dimensão pedagógica
que promove difusão da ideologia.

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Figura 11: Importância de renovar e propor novos modelos de ensino
Fonte: Plataforma DEDUCA (2019)

Sendo a educação marcada pela ideologia marxista, que se impõe como centro de
reflexão teórica e histórica (CAMBI, 1999).

Saiba mais
“O Sorriso de Mona Lisa”, um filme americano (2003), cria a
atmosfera e os costumes da educação tradicional das mulheres
no início da década de 1950. O filme conta a história de uma
professora de História da Arte, Kath Watson, que enfrenta uma
escola tradicionalista, onde as mais brilhantes jovens mulheres
dos Estados Unidos recebem uma dispendiosa educação para
depois se casarem. Com grandes reflexões, a professora está à
frente de sua época, sempre questionadora e inteligente.

A educação marcada pela ideologia marxista se impõe como centro de reflexão teórica
e histórica (CAMBI, 1999). Desse modo, segundo Brandão (2002), o que aconteceu
em tempos anteriores se repete noutros tempos e espaços sociais. Sendo assim, nas
várias manifestações em que existe educação, mesmo nas formas mais simples e
comuns, ela poderá ser imposta pelo sistema de ensino, que dela mantém controle e
potencializa as desigualdades sociais e econômicas.

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Desigualdades sociais

A desigualdade social é a diferença econômica que existe entre determinados


grupos de pessoas dentro de uma mesma sociedade. Esse processo está
presente em todos os países do mundo.
Essa forma de desigualdade prejudica e limita o status social de pessoas por
muitos motivos, além de seu acesso a direitos básicos, como alimentação,
educação, saúde de qualidade, trabalho, habitação, acesso à cultura, boas
condições de transporte e locomoção, entre outros).

Como surgiu a escola


Segundo Brandão (2002, p. X), a educação existe até mesmo onde não há escola e
por toda parte podem ser percebidas redes e estruturas sociais de transferência de
saber, que acontecem de uma geração a outra.

Figura 12: Estruturas sociais de transferência de saberes


Fonte: Plataforma Deduca (2019)

A escola é um espaço de educação formal e intencional, que ocorre de maneira


sistemática e planejada. Mesmo que na família ocorra a educação intencional, ela
não tem o mesmo caráter planificado que ocorre na escola (BUENO; PEREIRA, 2013).

Para tanto, são constituídos diferentes espaços educacionais que levam em


consideração as características e definições de cada modalidade educacional.
A utilização desses espaços no processo de ensino e aprendizagem apresenta a
intenção de preparar o sujeito para enfrentar os desafios dos tempos modernos,
enquanto exerce seu papel para a prática da cidadania.

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Desse modo, diferentes são os formatos educacionais em que ocorre o processo de
ensino. Por isso, é importante definir alguns conceitos relacionados aos espaços e
suas modalidades de ensino.

Educação não formal

A educação não formal ocorre fora dos espaços escolares, ou seja, nos locais
de interações do indivíduo. Sofrem as influências do mundo contemporâneo,
como as outras formas de educação, porém, a assistência pedagógica é bem
menor. Em tais espaços, é desenvolvida uma ampla variedade de atividades
para atender os interesses específicos de determinados grupos.

Educação informal

A educação informal é o resultado das ações que permeiam a vida do indivíduo.


Ocorre nas experiências do cotidiano, modifica-se em função adaptadora e os
conhecimentos adquiridos são propagados para as gerações vindouras.

Educação formal

A educação formal é uma educação institucionalizada. Ocorre em espaços


sistematizados, como as instituições escolares, e suas atividades são
assistidas por uma equipe pedagógica. Há uma preocupação com a aquisição
e construção do conhecimento.

Mesmo em sociedades remotas, quando o poder que reproduzia a ordem era separado,
começaram a surgir hierarquias sociais. Isso porque o saber comum se distribuía de
modo desigual, passando a servir ao uso político de reforçar as diferenças e exercer o
domínio, no lugar de um saber anterior, que afirmava a comunidade (BRANDÃO, 2006).

Para Bueno e Pereira (2013), chegar até a escola na atual História da Educação
implica percorrer os caminhos que ela perpassou, uma vez que nem sempre foi uma
instituição como nos dias atuais.

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Figura 13: A escola é um espaço de educação formal
Fonte: Plataforma Deduca (2019)

Então se inicia a era de quando a sociedade, entre outras especificidades sociais,


evidencia as de saber e de ensinar a saber. Com isso, surge o momento em que a
educação se traduz em formas de ensinar e ocorre a invenção da pedagogia. Desse
modo, a aldeia é reduzida à escola e transforma “todos” no educador (BRANDÃO, 2002).

Portanto, observamos que a escola atual vem da criação burguesa do século XVI, cujo
objetivo era instruir e educar. Mas, no século XVII, esse objetivo muda para disciplinar,
educar para a moral e trabalhar a vigilância constante, além de submeter a criança
aos castigos corporais. E, a partir da Revolução Francesa, o ideal de educação passa
a ter princípios liberais que pregavam uma educação: laica, pública, obrigatória,
gratuita e universal (BUENO; PEREIRA, 2013).

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Conclusão
Nesse conteúdo, compreendemos questões pertinentes à História. Além disso,
vimos uma retrospectiva da História da Educação, com ênfase no conhecimento
historiográfico e sua importância para o ambiente educacional.

Identificamos como as mudanças teórico-metodológicas relacionadas à Educação


nortearam escolhas curriculares. E vimos ser necessário abordar a concepção de
surgimento das instituições escolares no âmbito da História da Educação.

É bastante claro que a escola atual também se encontra frente a inúmeros desafios,
entretanto, não basta apenas a existência do saber sistematizado. É necessário
viabilizar as condições do seu papel de humanização, de aproximar o homem a sua
humanidade por meio do que foi produzido histórica e culturalmente.

Saiba mais
Varia Historia é uma revista com versões impressas e virtuais,
que divulga vários aspectos da historiografia contemporânea.
É publicada pelo Programa de Pós-Graduação em História da
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG). Com artigos originais e
inovadores sobre história, a revista promove diálogos entre os
membros da comunidade acadêmica internacional e contribui
para a renovação historiográfica. Vale muito a pena conferir! O
link da revista digital está disponível em: http://www.variahistoria.
org/about Acesso em: 30 jan. 2019.

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Referências
BRANDÃO, C. R. O que é educação. 41 ed. São Paulo: Brasiliense, 2002.

BUENO, A. M. de O.; PEREIRA, E. K. R. O. Educação, escola e didática: uma análise


dos conceitos das alunas do curso de pedagogia do terceiro ano – In: Docência
na educação superior: caminhos para uma práxis transformadora. Universidade
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CAMBI, F. História da Pedagogia. São Paulo: Ed. da UNESP, 1999.

CUNHA, L. A. A universidade temporã: o ensino superior da colônia à era de Vargas.


Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1980.

DEDUCK, T. S.; MOREIRA, E. C.; MELO, J. P. Reflexões sobre o lugar da escola na


formação de professores de educação física. Motrivivência, Florianópolis/SC, v. 29,
n. 51, p. 234-250, julho/2017. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/
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DOSSE, F. A história. Traduzido por Maria Elena Ortiz Assumpção. -Bauru, São Paulo:
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FERNANDES, M. D. S. As origens do curso de Pedagogia: um capítulo do ensino


superior em Uberlândia, Minas Gerais (1957–1963). Dissertação (Mestrado).
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