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ÁREA DO CONHECIMENTO: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS CAMPO DO SABER: HISTÓRIA

PROF. ANDERSON RABELO SÉRIE: 1º ANO ENSINO MÉDIO


OBJETO DO CONHECIMETO: A produção do conhecimento histórico
COMPETÊNCIA 1: Analisar processos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais nos âmbitos
local, regional, nacional e mundial em diferentes tempos, a partir de procedimentos epistemológicos e
científicos, de modo a compreender e posicionar-se criticamente com relação a esses processos e às
possíveis relações entre eles.
HABILIDADES:
(EM13CHS101) Analisar e comparar diferentes fontes e narrativas expressas em diversas linguagens, com
vistas à compreensão e à crítica de ideias filosóficas e processos e eventos históricos, geográficos,
políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais;
(EM13CHS104) Analisar objetos da cultura material e imaterial como suporte de conhecimentos, valores,
crenças e práticas que singularizam diferentes sociedades inseridas no tempo e no espaço.
REFLETINDO SOBRE A HISTÓRIA da política, da cultura material, das mentalidades.
Nesse processo, ele pode compreender relações entre
passado e presente.
As vivências humanas expressam a história de
cada época. Neste sentido, o estudo do passado e a
HISTÓRIA E MEMÓRIA
compreensão do presente não se relacionam de forma
O conjunto dos acontecimentos e das
determinista. Para que as experiências do passado experiências que ocorrem no dia a dia, tanto de uma
sirvam ao presente, é necessário refletir sobre as pessoa como de um grupo, pode ser chamado de
mudanças e as permanências históricas. Como história vivida. Essa história pode integrar as
entender as relações entre passado e presente? lembranças das pessoas e dos grupos que a viveram.
Mas existem outras vivências que podem ser
esquecidas. A memória constitui, então, um “campo de
disputa histórico” entre lembranças e esquecimentos.
Muitas vezes essas disputas são marcadas
pelos interesses sociais que estão em jogo em uma
época ou sociedade. Dessas disputas, resultam
frequentemente a predominância dos marcos
históricos ligados à memória dos grupos sociais
dominantes. Lutar pela ampliação da memória social,
abrangendo eventos relevantes para diversos grupos, é
um exercício de cidadania e de consciência histórica.

Tempo, obra de Pieter Cornelis Wonder, datada de 1810.

HISTÓRIA E CIDADANIA
PARA QUE SERVE ESTUDAR HISTÓRIA?
São muitos os motivos pelos quais podemos
estudar História. Vejamos alguns deles. FONTES HISTÓRICAS
Os historiadores interpretam as experiências Os historiadores trabalham com diversas
humanas ao longo do tempo. Conhecendo essas fontes em suas pesquisas. No entanto, essas fontes não
interpretações e refletindo sobre elas, podemos são “documentos” ou “objetos” de onde a história
adquirir consciência do que fomos (passado) para possa surgir, nascer ou jorrar de forma única e
transformar o que somos (presente). cristalina. As fontes sugerem indícios, pistas, indicações
Quando “pensamos historicamente”, sobre o tema pesquisado. Por isso, devem ser
percebemos que a realidade social é construída pelos interpretadas pelo historiador.
seres humanos. Não se trata de uma fatalidade, de um As fontes históricas podem ser classificadas de
dado natural e imutável, mas de uma construção várias maneiras: recentes ou antigas, privadas ou
cultural dinâmica, aberta a novas possibilidades. públicas, representativas da cultura material ou
Nesse sentido, estudar História pode despertar imaterial etc. Também já foi muito valorizado o critério
a consciência de cada um de nós para a tarefa de de classificar as fontes em escritas e não escritas:
construir uma sociedade mais justa, com menos • fontes escritas – cartas, letras de canções, livros,
desigualdade entre as pessoas, independentemente de jornais, revistas, documentos públicos ou particulares
idade, sexo, origem, cor da pele e religião. etc.;
• fontes não escritas – registros da cultura material,
HISTÓRIA E HISTORIADORES como vestimentas, armas, utensílios, pinturas,
Ao interpretar as vivências humanas, os esculturas, construções, músicas, filmes, fotografias,
historiadores investigam o que mulheres e homens depoimentos orais etc.
fizeram, pensaram e sentiram no decorrer de suas
vidas, no cenário de suas culturas. Assim, o historiador Durante muito tempo, os historiadores
pode pesquisar, por exemplo, aspectos da economia, utilizaram principalmente as fontes escritas para
fundamentar as pesquisas históricas. Atualmente,
devido ao desenvolvimento de novas tecnologias projeto da pesquisa) até a seleção das fontes históricas
(como televisão, rádio, cinema, DVD, computador), os a serem utilizadas. Além disso, o trabalho do
historiadores estão cada vez mais consultando e historiador não deve ter a pretensão de fixar verdades
interpretando uma grande variedade de fontes não absolutas e definitivas: “o historiador sabe que trabalha
escritas (imagens, sons) e outros elementos da cultura para seu tempo, e não para a eternidade”.
material. Neste sentido, podemos dizer que a História,
Entre as fontes não escritas, destacam-se as
como forma de conhecimento, é uma atividade
fontes orais, como depoimentos e entrevistas. A coleta
contínua de pesquisa. Em sua etimologia, história
de depoimentos tem contribuído para conservar a
memória (pessoal e coletiva) e ampliar a compreensão deriva de historein que, em grego antigo, significa
de um passado recente ou da história que está sendo “procurar saber, informar-se”. História significa, pois,
construída no presente. Assim, a hegemonia das fontes “procurar”.
escritas foi relativizada.
CULTURA
MODOS DE SER E DE VIVER
Empregado por antropólogos, historiadores e
sociólogos, o termo cultura refere-se aos modos de
vida criados e transmitidos de uma geração para outra
entre os membros de uma sociedade. Abrange
conhecimentos, crenças, artes, costumes, normas,
padrões de controle e muitos outros elementos
adquiridos socialmente pelos seres humanos.
O termo cultura costuma aparecer em
diferentes situações ou contextos. Podemos falar, por
exemplo, em cultura ocidental ou oriental (própria de
um conjunto de povos ou sociedades com certas
LIMITES E POSSIBILIDADES DO SABER HISTÓRICO características históricas comuns), cultura italiana ou
Vimos que, com base em pesquisas, os brasileira (própria de certas “lealdades comuns”
historiadores procuram reconstituir as formas de viver conhecidas como nacionalidade), cultura tupi ou
em determinada sociedade. Podem, também, propor sudanesa (própria de um grupo étnico), cultura cristã
interpretações sobre como as ações humanas ou muçulmana (própria de um grupo religioso), cultura
desencadearam mudanças ou preservaram situações familiar ou empresarial (própria do conjunto de
ao longo do tempo. pessoas que constituem uma instituição) etc.
Em suas análises, os historiadores podem
investigar a vida pública ou privada em seus múltiplos
aspectos: econômicos, artísticos, políticos,
tecnológicos, filosóficos etc.
Estudar História é, portanto, uma maneira de
adquirir consciência sobre a trajetória humana. No
entanto, devemos ficar atentos aos limites ou
problemas da interpretação histórica.
As historiografias — resultados do trabalho dos
historiadores — não podem ser isoladas da época em
que foram produzidas. Acreditamos que, ao interpretar
e escrever sua obra, o historiador vive seu tempo
histórico. O que ele produz está ligado à história que
vivencia, incluindo, por exemplo, lutas, utopias,
valores, visões e expectativas. Desse modo, a obra de A CONSTRUÇÃO CULTURAL
um historiador pode ser uma expressão de sua época A cultura pode ser considerada um amplo
e também uma reação a seu tempo. conjunto de conceitos e preceitos, símbolos e
O trabalho do historiador depende de uma significados que modelam uma sociedade e organizam
série de concepções que impactam suas escolhas, o comportamento humano. Na interpretação do
desde a definição do objeto enfocado (tema, método e antropólogo Clifford Geertz, nascemos com a
possibilidade de viver milhares de vidas, mas acabamos BRAIDWOOD, Robert. Homens pré-históricos. Brasília: Editora UnB,
por viver somente uma delas em função da 1985. p. 41-42

contribuição decisiva da cultura.


A cultura envolve os padrões através dos quais Vejamos, em síntese, algumas características
pensamos e agimos como membros de um grupo da cultura:
social. Nesse sentido, todas as sociedades humanas, • adquirida pela aprendizagem em convívio social, e
das mais antigas às da atualidade, possuem e não herdada em termos genéticos;
produzem cultura. E cada cultura tem seus valores e •transmitida de geração a geração, por meio da
suas verdades. Em uma abordagem mais ampla, cultura linguagem verbal e não verbal, nas diferentes
é a resposta oferecida pelos grupos humanos ao sociedades;
desafio da existência. Essa resposta se manifesta por •inclui toda a produção material e não material dos
meio de conhecimento (logos), paixão (pathos) e seres humanos;
comportamento (ethos), ou seja, em termos de razão, • múltipla e variável, no tempo e no espaço, de
sentimento e ação. sociedade para sociedade.

TEMPO
DIFERENTES PERCEPÇÕES E MEDIÇÕES
Se a História estuda os grupos humanos através
do tempo, exploremos, agora, o tema tempo. A
experiência do tempo faz parte do nosso cotidiano
quando, por exemplo, olhamos as horas do relógio,
ouvimos relatos de pessoas mais velhas, percebemos o
que mudou ou permaneceu de uma época para outra.
A noção de tempo é ampla, pois abrange
aspectos cronológicos, psicológicos e históricos. O
chamado tempo histórico se relaciona com as ações e
UMA INTERPRETAÇÃO DA CULTURA
reflexões dos seres humanos. É o tempo das criações
O arqueólogo estadunidense Robert
culturais. Da mesma maneira que os povos têm
Braidwood procurou indicar os principais elementos
diferentes culturas, eles também possuem diversas
que, em sua interpretação, caracterizam a cultura:
formas de viver o seu tempo, de senti-lo, de contá-lo,
A cultura permanece, embora os indivíduos que
de responder aos seus desafios.
compõem um determinado grupo desapareçam. Por
outro lado, no entanto, a cultura muda conforme
mudam as normas e entendimentos.
Quase se pode dizer que a cultura vive na mente das
pessoas que a possuem. Mas as pessoas não nascem
com ela; adquirem-na à medida que crescem. Suponha
que um bebê húngaro recém-nascido seja adotado por
uma família residente em Oshkosh, Winconsin, nos
Estados Unidos, e que nunca digam a essa criança que
ela é húngara. Ela crescerá tão alheia à cultura húngara
quanto qualquer outro americano.
Assim, quando eu falo da antiga cultura egípcia,
refiro-me a todo o conjunto de entendimentos, crenças RITMOS DO TEMPO
e conhecimentos pertencentes aos antigos egípcios. Em muitas sociedades rurais, os trabalhadores
Significa tanto suas crenças sobre o que faz o trigo vivenciavam um “tempo da natureza”, relacionado ao
crescer quanto sua habilidade para fazer os dia e à noite, às variações do clima, às épocas de plantio
implementos necessários à colheita. Ou seja, suas e de colheita etc. Isso pode persistir em vários lugares.
crenças a respeito da vida e da morte. De acordo com o historiador francês Lucien
Quando falo de cultura, estou pensando em algo que Febvre, a população do campo na França do século XVI
perdurou através do tempo. Se qualquer egípcio referia-se ao tempo desta maneira: “por volta do sol
morresse, mesmo que fosse o faraó, isso não afetaria a levante ou por volta do sol poente”.
cultura egípcia daquele momento determinado.
Já em sociedades industriais contemporâneas, para acordar, comer, trabalhar, tomar banho, dormir.
os trabalhadores de uma fábrica, por exemplo, Há, inclusive, hora para lazer e para happy hour
vivenciam um ritmo de tempo marcado pelo relógio, (expressão inglesa que pode ser traduzida por “hora da
mesmo porque as horas de trabalho, em geral, são comemoração”, geralmente após o expediente).
vendidas por determinado preço — o salário. Assim,
nesse “tempo da indústria” — também encontrado, é
claro, em outras atividades profissionais —, a jornada
de trabalho “não obedece mais ao nascer e ao pôr do EXERCÍCIOS
sol nem às variações do clima, mas às exigências da
empresa”. OBSERVAÇÃO: TRANSCREVA E RESOLVA AS QUESTÕES
Podemos falar também no tempo das ABAIXO NO SEU CADERNO
sociedades pós-industriais marcadas pela
conectividade das comunicações, dos transportes e QUESTÃO 1 - Estudar história é uma maneira de
dos serviços no mundo globalizado. Um mundo ligado adquirir consciência sobre a trajetória humana.”
Reflitam sobre o significado dessa frase. Depois,
aos avanços da microeletrônica, internet e tecnologia
apresentem exemplos atuais que possam ser
da informática.
relacionados com esse assunto

RELÓGIO QUESTÃO 2 - A História não passa de uma área de


conhecimento preocupada em estudar o passado?
Justifique a sua resposta.

QUESTÃO 3 - Os fatos históricos só podem ser


reconhecidos nas ações dos grandes acontecimentos e
personagens? Justifique a sua resposta através de um
exemplo.

QUESTÃO 4 - Estabeleça a diferença existente entre o


tempo cronológico e o tempo histórico.

QUESTÃO 5 - Explique de que forma o historiador tem


condições de acessar o passado.
Em nossas sociedades, as pessoas vivem
consultando relógios. Mas esta forma de medir o QUESTÃO 6 – A partir do texto e da explicação do
tempo não foi praticada em todas as épocas e por todos professor, elabore um conceito de cultura.
os povos. Sobre isso, o estudioso Gerald Whitrow
observou: QUESTÃO 7 - Selecione uma fonte histórica que possa
O modo como o dia terrestre é dividido em ser compartilhada com os colegas em sala de aula.
horas, minutos e segundos é puramente convencional. Pode ser uma fotografia de família, da cidade, uma
Assim, também, a decisão de que um dado dia começa carta, uma vestimenta etc. Em seguida, elabore uma
interpretação dessa fonte histórica. Para isso, preste
na aurora, ao nascer do sol, ao meio-dia, ao pôr do sol
atenção em aspectos como:
ou à meia-noite é uma questão de escolha arbitrária ou
a) época em que foi produzida;
conveniência social. b) referências a pessoas ou culturas;
WHITROW, G. J. O tempo na história. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. p.
c) permanências e mudanças ocorridas no período;
16.
d) motivos que o levaram a escolher essa fonte
histórica.
Os primeiros relógios mecânicos foram
instalados nas torres das igrejas, nos monumentos de QUESTÃO 8 - [...] o tempo é a minha matéria, o tempo
praças, nos edifícios públicos. Atualmente, o relógio é presente, os homens presentes, a vida presente.
considerado um instrumento para a organização das ANDRADE, Carlos Drummond. Mãos dadas. 1940.
rotinas diárias. Por isso, encontramos o relógio no
pulso das pessoas, no telefone celular, no computador, Se o presente é o tempo do poeta, resta ao historiador
nos veículos etc. somente o tempo passado? Justifique sua resposta,
O tempo do relógio passou a governar, em procurando discutir as relações que a História ou o
grande parte, o cotidiano das pessoas. Assim, há hora historiador pode estabelecer entre presente e passado.

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