Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
“Tal concepção, apesar de uma certa dose de positivismo, tem o mérito de enfocar o
conhecimento não como um ato cognitivo, mas como um processo prático, no qual o
sujeito desempenha um papel ativo. O termo infinito reveste-se aí de um caráter
fundamental porque o homem, sendo um ser histórico, não consegue jamais livrar-
se dos condicionamentos socioculturais. A superação da subjetividade, sob a
perspectiva do conhecimento como processo, não implica, de fato, na remoção das
‘mediações’ entre a realidade e a consciência dos indivíduos ou, em outras palavras,
entre a realidade dos fatos e o significado que esta assume nos discursos dos
agentes sociais. Aliás, não existe, na verdade, separação entre essas duas ordens
de coisas: o universo social e o discursivo não constituem duas realidades
estaques.” (p. 65)
“Toda ciência pressupõe uma ‘escritura’. A disciplina História sempre cria relatos
escritos (descritivos e/ou explicativos): são as obras históricas, que produzem
sentidos e instauram inteligibilidade sobre o passado. A sua prática científica é,
portanto, também uma prática discursiva, na qual o sujeito exerce um papel ativo.
[...] O historiador (como qualquer enunciador) é um homem de seu tempo e, por
isso, dialoga com certos "textos" e não com outros. No seu discurso estão presentes
algumas vozes, organizadas de determinada maneira, por meio da qual certos
efeitos de sentido são produzidos e ofertados.” (p. 65)
“O fazer histórico é também definido como uma prática. O historiador trabalha
sempre a partir de um objeto material (as fontes) para construir o seu objeto teórico:
os fatos históricos. Ele transforma as matérias-primas (já socialmente trabalhadas)
em produtos, obras da historiografia. Desloca, assim, as informações de uma região
da cultura (os arquivos, as coleções, as recordações pessoais, etc.) para uma outra
(a História). Esse deslocamento, entretanto, não é apenas efeito de um "olhar"; é
resultado também de uma operação técnica. O historiador manipula as matérias
significantes, transforma-as em fontes (ao mudá-las de lugar e de estatuto) e,
depois, em fatos históricos, mas não faz isso a seu bel prazer, e sim segundo certas
regras específicas, inerentes a sua profissão.” (p. 66)
“Mais do que a ciência que estuda os fatos do passado ou a ciência que estuda os
fatos históricos, a História deve ser definida como a ciência que estuda o processo
de transformação da realidade social. A partir da ideia de mudança, a História pode
mostrar as diferenças entre o que foi e o que é, simbolizando os limites e
demarcando as fronteiras entre o passado e o presente.” (p. 67)
“A História passou a ser aquilo que aparece nos meios de comunicação de massa,
que detêm o poder de elevar os acontecimentos à condição de históricos. O que
passa ao largo da mídia é considerado, pelo conjunto da sociedade, como sem
importância.” (p. 70)
“Acreditamos que isso se deve essencialmente ao mito da neutralidade e da
imparcialidade que surgiu, em meados do século XIX, com a ideia do jornalismo
informativo, e que se fortaleceu, no século XX, com o desenvolvimento nos Estados
Unidos, nas décadas de 20 e 30, do conceito de objetividade. No Brasil, o conceito
se consolidou com as reformas editoriais da década de 50, quando se introduziu no
País o modelo norte-americano de jornalismo.” (p.70)
“O mito da objetividade, por mais que já tenha sido exaustivamente criticado pelos
próprios jornalistas e pelos teóricos da comunicação, é um dos grandes
responsáveis pela acolhida que o jornalismo tem. Ainda hoje, o seu discurso se
reveste de uma aura de fidelidade aos fatos que nos leva a acreditar que o que "deu
no jornal" é a verdade.” (p. 71)