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Ficha de Leitura nº 1
Unidade I- Textos Jornalísticos
I. Introdução
Caro estudantes!
Esta Unidade reserva-se ao estudo dos textos jornalísticos, também designado por
discurso de imprensa. Embora se reconheça a existência de vários tipos ou géneros de
textos jornalístico, aqui, dar-se-á maior relevo ao género informativo: noticia,
reportagem, entrevista e a crónica.
O estudo dos textos jornalísticos torna-se relevante, na medida em que permite, em
comparação com outros tipos ou géneros perceber as diferenças e semelhanças neles
existentes, quer em textos do mesmo tipo (informativos) quanto os de vários tipo
(informativo, interpretativo e ameno-literário).
II. Objectivos
No final desta unidade, o aluno deve ser capaz de:
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Conhecer a intenção comunicativa dos textos jornalísticos.
III. Natureza
Para LUÍSA SANTAMARIA (1990) citado por REIS (1994:120), a breve história do
jornalismo, particularmente o escrito, conhece três etapas: o ideológico, ao serviço das
ideias politicas ou religiosos, que vai até à primeira guerra mundial; O informativo que
narra factos ou historias através de noticias, por vezes sensacionalistas, da crónica e
da reportagem, impondo-se em toda a Europa, desde os anos vinte; e o explicativo
que, apondo-se ao popular, tenta realizar o chamado jornalismo de explicação,
interpretativo ou em oportunidade.
Como fizemos menção na nota introdutória incorporaram para esta unidade os textos
jornalísticos do género i formativo: noticia, reportagem, entrevista e a crónica que são
constituídas por três qualidades que basicamente os caracterizam: concisão, clareza e
conquista do leitor.
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III.1 NOTÍCIA
Na visão de REIS (1994:141), a noticia é o essencial, que o leiror deve saber sobre um
facto, tema, problema ou dito de alguém. É um “facto ou acontecimento verdadeiro,
inédito e actual, de interesse geral, que se comunica a um público de massa” (op. Cit in
Dicionário do Jornalismo)
Para AMARO (2006:181 notícia é um gênero textual jornalístico e não literário que está
presente em nosso dia a dia, sendo encontrada principalmente nos meios de
comunicação.
Trata-se, portanto de um texto informativo sobre um tema atual ou algum
acontecimento real, veiculada pelos principais meios de comunicação: jornais, revistas,
meios televisivos, rádio, internet, dentre outros.
É uma redacção ou um relato que informa o público sobre uma situação nova ou
atípica, ocorrida no seio de uma comunidade ou determinado âmbito específico, que
mereça ser alvo de divulgação. Ou seja, relato de um facto actual ou relevante, que
desperta o interesse da comunidade a que se destina.
3.1.1 Características
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3.1.2 Estrutura
Questão
Resolução
Lead ou cabeça
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.
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Corpo da notícia ou desenvolvimento
Compreende o desenvolvimento da notícia, no qual, de forma pormenorizada, se
faz a descrição do que aconteceu, devendo-se responder às perguntas Como? e
Porquê?
“Como?” (modo que ocorreu o evento);
“Por quê?” (qual a causa do evento).
Sendo assim, o conteúdo mais importante localizado na base da pirâmide (parte mais
larga), permanece na parte de cima da folha. Por outro lado, o conteúdo mais
superficial ou menos relevante, chamado de “ápice” ou “vértice”, está situado em baixo
do texto.
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3.1.3 Linguagem
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3.2 Reportagem
Na visão de AMARO (2006:182) , uma reportagem tem por base uma notícia de grande
impacto em que se faz o relato pormenorizado e aprofundado de um acontecimento
actual. Este género jornalístico implica a deslocação do repórter para anotar o que vê,
ouve e sente. Engloba normalmente a descrição do ambiente, integrando falas das
personagens ligadas ao assunto. Não raro, possui manifestações de subjetividade do
emissor, derivadas da sua interpretação dos factos, dai que surja sempre assinada.
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encadeá-los, como relacioná-los, como dar-lhes vida, significado, suspense, emoção,
tal como procede o autor de um romance, de uma peça de teatro, de um filme.
Esse tipo de texto tem o intuito de informar, ao mesmo tempo que prevê criar uma
opinião nos leitores. Portanto, ela possui uma função social muito importante como
formadora de opinião.
Ela também pode ser descritiva e narrativa, uma vez que descreve ações e incluem
tempo, espaço e personagens.
3.2.1 Características
Informa de modo mais aprofundado sobre fatos que interessam ao público a que
se destina acrescentando opiniões e diferentes versões comprovadas;
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Predomínio da função referencial da linguagem.
3.2.2 Tipos
Para WARREN (1990:63-64) citado por REIS (1994:144) apresenta três tipos de
reportagem, a saber:
3.2.3 Estrutura
Do ponto de vista organizacional, a reportagem obedece a seguinte estrutura:
Antetitulo (nem sempre)
Titulo
Subtítulo (nem sempre)
Lead – normalmente destacado
Assinatura
Corpo da reportagem – com suporte de imagens, como complemento da
informação transmitida. ( AMARO, 2006:183)
A reportagem pode apresentar várias estruturas, uma vez que permite integrar diversas
possibilidades narrativas, mantendo, obviamente, a veracidade dos factos. As citações,
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trechos de entrevistas, boxes informativos, fotografias, por exemplo, constituem
elementos auxiliares que ajudam a explicar os acontecimentos, podendo contribuir para
a estruturação da reportagem.
Assim, das diversas estruturas que a reportagem pode assumir, destaca-se a seguinte
organização constituída por três momentos: exposição (introdução), complicação
(desenvolvimento) e resolução (conclusão).
3.2.4 Linguagem
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À semelhança da notícia, a reportagem responde também às questões Quem? O quê? Onde? Quando? Como?
Porquê?
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3.3 Entrevista
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vida e personalidade ou então, mostrar os seus pontos de vista sobre um
determinado assunto.
A partir dos registos efectuados (gravação. áudio, vídeo, notas) o jornalista dá forma à
entrevista para a divulgar, preocupando-se com a ordenação e redacção (no caso de
se tratar da sua publicação escrita) dos dados recolhidos, segundo a sua conveniência.
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3.3.2. Características
3.3.3. Tipos
3.3.4 Estrutura
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A entrevista estruturalmente se apresenta:
3.3.5 Linguagem
Frases interrogativas;
Discurso na primeira e segunda pessoas gramaticais;
Recorrência do discurso directo e indirecto
Registo da língua corrente (embora este dependa dos intervenientes da
conversa)
Função informativa da linguagem (eventualmente emotiva) .
3.4 Crónica
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adquiriu uma componente mais pragmática, sendo que se trata de um texto com
carácter subjectivo, opinativo e critico, em que o jornalista se serve de processos
literário para nos mostrar a sua visão do mundo.
O cronista possui uma grande liberdade criadora, pois é este um género flexível, sem
arquétipos de estilo, assunto ou método. São abordados temas nacionais, estrangeiros,
políticos, económicos, desportivos, culturais, mundanos, entre outros, cuja inspiração
advém de rumores, de situações actuais de impacto social, da sensibilidade do autor.
3.4.1 Características
Curta e breve
Trata-se de um texto de carácter reflexivo;
Aborta temas relacionados com vida social;
É um texto subjectivo;
uso de uma linguagem simples e coloquial;
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presença de poucos personagens, se houver;
espaço e tempo reduzido.
.
3.4.2 Tipos de Crónica
Embora seja um texto que faz parte do gênero narrativo (com enredo, foco narrativo,
personagens, tempo e espaço), há diversos tipos de crônicas que exploram outros
gêneros textuais.
3.4.3 Estrutura
Assinatura;
Titulo
Introdução
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Desenvolvimento
Conclusão
3.4.3 Linguagem
______________________________________________________________________
Bibliografia
REIS, José Esteves. Curso de Redacção II. Porto Editora, Lisboa. (Pp.120-145)
AMARO, Alice. O Essencial do 10º ano. Português. 3ªed. Asa Editores, Porto, 2006
pp.181-186
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Daniela Diana conteúdos on-line. (extaido em 5 de agosto 2021)
Texto A
MAPUTO —
Aproxima-se a data do início do julgamento do caso das "dívidas ocultas" em Moçambique já
chamado de "julgamento do século" e alguns sectores da sociedade civil dizem-se
preocupados com o facto de que se possa usar a ausência do antigo ministro das Finanças,
Manuel Chang, tido como a peça-chave deste processo, para impedir que a justiça seja feita.
Há juristas que dizem que sim, isso pode acontecer, mas para outros, nem tanto.
Nuvunga avança que "não estão ainda garantidas as condições essenciais para este
julgamento, sobretudo porque Manuel Chang está no meio, ou seja, ainda se encontra detido
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na África do Sul, e isso poderá ser usado para aligeirar a culpabilidade das pessoas que vão
ser julgadas".
Por seu turno, o professor Inácio Alberto, da Organização Justiça Social, considera Manuel
Chang a peça fundamental neste processo "até para esclarecer eventuais dúvidas", mas receia
que a sua ausência impeça que a justiça seja feita".
O investigador do Centro de Integridade Pública (CIP) Borges Namirre entende que a ausência
de Manuel Chang não interfere na realização da justiça "porque o principal crime de que as
pessoas são acusadas, não é de abuso de cargo, mas de corrupção, é um crime patrimonial".
Namirre explica que "isso significa que as pessoas receberam bens patrimoniais para beneficiar
outrem, e cada um fez isso sozinho, e mesmo havendo uma associação para delinquir, cada
um é responsabilizado em função do grau da sua participação no crime, ou seja, o crime é
individual".
Refira-se que 19 arguidos vão ser julgados no âmbito deste processo, e entre eles figuram o
filho do antigo Presidente moçambicano, Armando Guebuza, Ndambi Guebuza, o antigo
director dos Serviços de Informação e Segurança do Estado, Gregório Leão, e ainda António
Carlos do Rosário, Cipriano Mutota e Teófilo Nhangumele.
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Texto B
Nyusi prometeu que “à medida que mais vacinas chegarem ao país serão beneficiadas
outro locais e grupos etários, de acordo com o definido”.
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“A vacina estimula a produção da nossa defesa e dos anticorpos. Nos países onde o
plano de vacinação está mais avançado está comprovado que a vacina salva vidas,
porque protege contra a doença grave, reduz o risco de morte, aumenta a imunidade
na pessoa e reduz a propagação na comunidade”, explicou Nyusi
Texto C
MAPUTO —
A Assembleia da República de Moçambique aprovou nesta terça-feira, 3, por consenso,
a presença de militares estrangeiros no país para apoiar na luta contra os insurgentes
que aterrorizam a província de Cabo Delgado, há cerca de três anos e meio.
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situação da instabilidade que os terroristas estão a gerar e à incapacidade das forças
governamentais de, sozinhas, colocarem um fim à insurreição.
Taucali Avelino, citado hoje pelo diário Notícias, o principal do país, afirmou que os três
homens foram vistos a bordo de uma embarcação de pequeno porte na sexta-feira, na
zona onde se presume que aconteceu o derrame e a horas em que a navegação
marítima é proibida na área.
A nota avança que o despejo de combustível afetou diretamente uma área de 3.000
metros quadrados.
O Mireme refere ainda que a fauna marinha da Baía de Pemba não ficou contaminada
com o combustível derramado, apontando o contrabando como causa do incidente.
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A informação consta dos resultados de uma averiguação realizada por uma "equipa
multissetorial" constituída pelo Governo, após o aparecimento, na manhã de sexta-
feira, de combustível, na praia de Sagal, na baía de Pemba, província de Cabo
Delgado, referiu em comunicado o Ministério dos Recursos Minerais e Energia.
Texto E
Enio Moraes Júnior — Você é um atento crítico da política de seu país e esse tema
recebe também bastante atenção do jornalismo moçambicano. Prova disso são
reportagens que você compartilha em suas redes sociais. Além das questões que
envolvem os atores políticos e suas ações, que temas a imprensa pauta mais
frequentemente?
Luís Carlos Pires, Docente da Universidade Rovuma, Departamento de letras e ciências sociais, Março
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Celestino Joanguete — Desde que se instituiu a Constituição Democrática em 1991, a
imprensa moçambicana tem destacado matérias relacionadas à corrupção, aos direitos
humanos, aos casamentos prematuros, à liberdade de imprensa e de expressão, incluindo a
liberdade de expressão nas redes sociais da internet. No caso da corrupção, o tema de
destaque são as dívidas ocultas contraídas pelo governo para criar três empresas do Estado.
Outros destaques têm sido a questão dos casamentos prematuros (de acordo com as
definições da Unicef). Moçambique tem uma das taxas mais elevadas de casamento prematuro
do mundo, afetando quase uma em cada duas mulheres, e tem a segunda maior taxa na sub-
região da África Oriental e Austral. Cerca de 48% das mulheres em Moçambique com idades
entre 20 e 24 anos já foram casadas ou estiveram numa união antes dos 18 anos, e 14%,
antes dos 15 anos.
EMJ — Como você avalia a cobertura dos direitos humanos, como pautas relacionadas à
fome e à pobreza em Moçambique?
CJ — A matéria de destaque na cobertura dos direitos humanos tem sido a violência policial
contra cidadãos, perseguição e assassinato de membros dos partidos de oposição, execução
sumária da população civil em regiões de conflitos armados (província de Cabo Delgado e
Manica), tortura de críticos do governo, prisões e detenções arbitrárias. Nos últimos anos,
foram sequestradas mais de 30 pessoas ligadas ao maior partido da oposição em Inhambane,
a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), o que deixa alguns militantes desta força
partidária com receio de novos ataques. Há também relatos de assassinatos de membros da
oposição, incluindo de um elemento da equipe da Renamo nas negociações de paz, Jeremias
Pondeca. Foi um crime ocorrido em 2016, visto como politicamente motivado. Há pouca
reportagem sobre a fome, porque ela foi suprimida em determinadas regiões do país.
Luís Carlos Pires, Docente da Universidade Rovuma, Departamento de letras e ciências sociais, Março
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está a “motivação política”, mas o governo alega a expulsão pela falta de documentos que
provam a existência do órgão Zitamar.
CJ — A vida comunitária é tratada com maior ênfase pelas rádios comunitárias, que
representam 80% da audiência das comunidades rurais, graças às suas transmissões de
programas em línguas locais. Elas foram criadas com a finalidade de contribuir para o
desenvolvimento socioeconômico e cultural das comunidades, promovendo a cultura de paz,
democracia, direitos humanos e empoderamento. A sua gestão é feita pela comunidade
através do Comitê de Gestão de Rádio. Moçambique possui pouco mais de 100 rádios
comunitárias, dispersas ao longo de todo o território nacional. A programação é feita pelo
pessoal voluntário, com ajuda do Fórum das Rádios Comunitárias (Forcom) e do Centro de
Apoio à Informação e Comunicação Comunitária (Caicc), entidade que ajuda no apoio técnico,
formação e programação.
Muitas vezes, os jornalistas das rádios comunitárias têm sido perseguidos e ameaçados de
morte. Por exemplo, em 2017, jornalistas da rádio comunitária de Morrumbene, na província de
Inhambane, receberam ameaças de morte por terem divulgado uma informação sobre roubos
protagonizados por uma quadrilha de que alegadamente participava um agente da Polícia da
República de Moçambique (PRM), afeto ao comando distrital. A televisão e a rádio pública têm
programas específicos que fazem reportagens sobre o desenvolvimento rural, com destaque
para a agricultura. Pouco é conhecido sobre a existência de jornais comunitários. Porém,
existem algumas televisões comunitárias de fraca expressão na comunidade, devido à falta de
sustentabilidade do seu funcionamento.
Luís Carlos Pires, Docente da Universidade Rovuma, Departamento de letras e ciências sociais, Março
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inclusão do cidadão rural no acesso à informação e participação política através das
tecnologias de comunicação.
Esta entrevista faz parte de uma série sobre jornalismo no mundo, uma iniciativa do
pesquisador e jornalista Enio Moraes Júnior, juntamente com o Alterjor — Grupo de Estudos de
Luís Carlos Pires, Docente da Universidade Rovuma, Departamento de letras e ciências sociais, Março
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Jornalismo Popular e Alternativo da Universidade de São Paulo. As entrevistas
Texto F
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Esperamos que ela possa aguçar o olhar e o interesse das pesquisadoras e pesquisadores da
educação na busca de novas parcerias e troca de conhecimentos.
1. O senhor estudou no Brasil, mais precisamente, na UFRRJ. Gostaríamos que falasse sobre
a sua área de formação, o período em que esteve no Brasil e como foi a sua experiência como
um estudante estrangeiro em nosso país.
No ano passado, e por ocasião da comemoração dos 40 anos de cooperação com o Brasil, tive
o ensejo de fazer um balanço desta cooperação, em particular para o setor da educação.
Constatei com entusiamo existirem mais de 4.000 moçambicanos formados no vosso país nos
últimos 20 anos. Os números tendem a crescer, de forma exponencial, em diferentes áreas de
conhecimento, com predominância para educação, agricultura, saúde, entre outras. Estes
moçambicanos ocupam vários postos e posições de relevo na sociedade moçambicana e,
assumem, uma vez formados, posições de liderança. Eles trabalham em diferentes cidades
moçambicanas, nas vilas e nos distritos/municípios, que são os polos de desenvolvimento. As
estatísticas precisam de ser melhoradas para que tenhamos, também, em conta, uma outra
versão daqueles que ainda não se conseguiram enquadrar no mercado e trabalho.
Dito por outras palavras, têm sido fundamentalmente transferido para Moçambique, valores
culturais. Testemunhamos a solidificação da cooperação com nova roupagem. Os ganhos têm
sido evidentes.
A minha formação foi marcante. Tem sido para todos. Esta formação não se realiza apenas no
plano temático e curricular, mas, também, sob uma perspectiva cultural, linguística, de
emancipação e de aprofundamento de direitos humanos e de outros valores. Então, as
experiências são positivas e satisfatórias. Não ajudam apenas os formados. Também ajudam
ao Brasil. Encurta as distâncias. Emancipa as consciências.
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interesses locais e que respondam às dinâmicas locais. Isto significa emancipação de um
projeto educativo e libertador. Brasil, como uma importante economia do hemisfério sul, tem
esta responsabilidade de congregar e convergir diferentes saberes e aliar diferentes
conhecimentos. O Brasil tem sido, então, essa base sólida que se aliou aos nossos países.
2. Como a sua formação acadêmica, no Brasil, o ajudou a ser o profissional que é hoje?
Acho que todos nós melhoramos o desempenho depois de algum tipo de formação. Esta não é
exatamente a questão que mais importa. O essencial será saber se ganhamos capacidade
intelectual e massa crítica para maximizar o bem estar e a alegria das nossas comunidades e
dos nossos povos.
Continuo tendo uma grande admiração pela forma como os processos democráticos e políticos
se alternam e se consolidam no Brasil. Porém, tenho dificuldades em entender se nós
deixamos as premissas essenciais para que as classes mais desfavorecidas também
melhorassem na sua performance e desempenho. Aliás, a situação política atual, também, me
deixa com muitas reticências, mesmo entendendo que os processos democráticos não são
lineares. Mas o Brasil não pode vender para o exterior uma imagem de ruptura democrática ou
de caos político. Nem o Brasil nem Moçambique. Então a nossa formação só ajuda se tivermos
contribuído para estabilizar as economias dos nossos países e, tivermos contribuído para
pacificar as nossas mentes e consciências.
Posto isto, a sua segunda pergunta seria, deveremos continuar esta cooperação e a resposta
seria óbvia. Mas, começa a ser tempo de o Brasil se reencontrar com o continente africano,
aliás, pelo menos 53% da população brasileira tem ou assume ter origem africana, mas
prevalece o desconhecimento das raízes da afrodescendência dessa comunidade
afrodescendente e, consequentemente, parece ser oportuno que se resgate e se repense no
percurso já estabelecido.
Luís Carlos Pires, Docente da Universidade Rovuma, Departamento de letras e ciências sociais, Março
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Guiando-se nesta base estatutária, a UP pretende, na sua visão estratégica, ‘... tornar-se numa
instituição de ensino superior de referência em Moçambique, com processos de formação,
pesquisa de extensão, de qualidade, enquadrados em currículos estruturados em padrões
regionais e internacionais, com uma infraestrutura física e laboratorial sufciente e moderna, a
funcionar com padrões de gestão colegiais, transparentes e modernizados’.
O desafio seguinte tem a ver com as taxas de desistência no Ensino Primário que continuam
altas, baixas graduações na classe terminal do primeiro ciclo do primário, estagnação
consequente das taxas de conclusão na 7ª classe do Ensino Primário e de admissão na 8ª
classe do Ensino Secundário Geral. Ademais, os resultados preliminares da Avaliação da
Aprendizagem sobre as competências de leitura dos alunos frequentando a 3ª classe em 2013
confirmam um baixo nível de aquisição das competências na leitura no 1º ciclo do Ensino
Primário.
Temos ainda o desafio relativo, em parte, à gestão escolar, com implicações negativas para a
qualidade de aprendizagem dos alunos. Estudos recentes revelam fraquezas no processo de
ensino-aprendizagem na sala de aula (sobretudo no Ensino Primário), em termos de
assiduidade dos professores e dos gestores da escola, deficiências na preparação das aulas,
domínio do Português e no uso eficiente dos materiais didáticos, incluindo os livros, um
currículo sobrecarregado e, sobretudo, fraco acompanhamento da aprendizagem do aluno, e
responsabilidade pelo desempenho escolar.
Luís Carlos Pires, Docente da Universidade Rovuma, Departamento de letras e ciências sociais, Março
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envio ou não das crianças à escola num contexto de dúvida sobre a percepção da relevância
da educação na vida diária das comunidades.
No geral, a relação tem sido benéfica, em particular para a UP cuja necessidade de elevação
da formação do seu corpo docente é imperativa.
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A existência de um maior intercâmbio entre as nossas universidades poderá permitir uma maior
harmonização dos conteúdos curriculares, facilitando as trocas bibliográficas pelos diferentes e
modernos meios tecnológicos possíveis. Pela nossa experiência, na Universidade Pedagógica,
a cooperação com algumas universidades brasileiras poderá permitir uma aceleração mais
segura das modalidades de educação aberta e a distância, facilitando a disseminação da
educação superior no nosso país. Temos já cograduados em colaboração com a UNIRIO e
UFRGS.
Como exemplo apenas de temas de interesse comum posso citar os estudos sobre as rotas de
escravos entre o continente africano e o Brasil, que poderão ser úteis para a clarificação, por
exemplo, das origens das comunidades afro-brasileiras, estudos comparativos sobre as
reminiscências culturais nas comunidades brasileiras ou ainda, mas não menos importante,
estudos sobre os padrões de patologias comuns entre o Brasil e Moçambique, de modo a se
encontrar soluções para que as comunidades se beneficiem de tratamentos a baixo custo e
com soluções menos caras.
A academia tem por obrigação encontrar propostas que maximizem o bem estar das pessoas e
povos, e quanto maior a colaboração entre as nossas instituições de ensino superior, melhores
soluções serão encontradas.
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Texto G
São voluntários, vêm de diferentes partes do mundo e estão a ajudar a construir uma
casa para uma família carenciada. O projecto é da responsabilidade da associação
humanitária Habitat, que se dedica à luta contra a pobreza habitacional. A partir de
Agosto, Paula Figueiredo e a família vão ter uma casa nova para viver.
“Um grande alívio. Foi como se me tivesse saído o Euromilhões”. É desta forma que
Paula Figueiredo descreve o que sentiu quando soube que a sua família tinha sido
seleccionada para beneficiar do Projecto Casa da associação Habitat. Paula vive com o
marido e os dois filhos menores na casa que herdou dos avós. Foi o único lar que
Luís Carlos Pires, Docente da Universidade Rovuma, Departamento de letras e ciências sociais, Março
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conheceu nos últimos 20 anos. Mas o que lhe sobra em recordações escasseia em
condições dignas para morar. “Não vou ter saudades. Mudar de casa não me vai
custar. Ter a minha filha a dizer ´ mãe agora sim, vou ter um quarto
como deve ser, ao meu gosto, para mim é muito confortável. Vai ser uma mudança
muito grande nas condições de vida para ter saudades”, afirma Paula Figueiredo.
Luís Carlos Pires, Docente da Universidade Rovuma, Departamento de letras e ciências sociais, Março
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Os filhos são a principal preocupação de Paula e do marido. Com a nova casa de
que vão beneficiar, sentem que o futuro está agora mais seguro. “A mim também
me custa viver aqui, mas já não sofro tanto”, desabafa Paula. “Os meus filhos vão
ter o que eu e o meu marido nunca tivemos. Se eu amanhã morrer - ainda é cedo
mas temos de pensar nisso - sei que lhes vou deixar uma casa”.
Um problema de saúde que, para além de o impossibilitar de levar uma vida normal,
não permite a Paula Figueiredo ter tempo para trabalhar. O ordenado do marido,
motorista de materiais de construção civil, é o único meio de subsistência da família,
mas está longe de ser suficiente. Os meses têm dias a mais para tanta despesa.
“Temos muitas dificuldades. É o colégio, as roupas dos meus filhos, que têm de
andar igual aos colegas, e o básico, comida, luz, água…”, lamenta Paula. E em
alguns períodos, é com a ajuda de familiares que vai conseguindo disfarçar os
problemas financeiros: “ a madrinha do meu filho ajuda-me muito. Eu nem preciso
de pedir, ela sabe do que preciso e de vez em quando vem a minha casa e já me
traz as coisas”.
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participa. “Os alunos gostam muito desta iniciativa. É gratificante e ajuda-os a
descobrir quais os seus limites. Quando chegam não sabem bem o que esperar
mas no fim muitos escrevem artigos emotivos sobre esta experiência” conta Melinda
Ruegg.
Nenhum dos alunos da Escola de Genebra tem experiência na construção civil, mas
esse também não é um requisito. “A única coisa de que os voluntários precisam é
de ter vontade de ajudar”, explica Paulo Alexandre, coordenador de construção da
Habitat. O resto é responsabilidade do encarregado de obra e do seu ajudante. Os
dois procuram orientar o trabalho da melhor maneira. “Há sempre um encarregado
de obra presente, uma pessoa com bastante experiência e uma paciência enorme.
Os voluntários, mesmo não sabendo rigorosamente nada, são acompanhados
quase ao segundo até perceberam a arte do que estão a fazer. A partir desse
momento largámo-los e a responsabilidade é deles também”, refere Paulo
Alexandre.
E também Paula Figueiredo sempre que pode dá uma ajuda na construção da futura
casa. Jeito não lhe falta - o avô era pedreiro, e em criança Paula acompanhava-o
Luís Carlos Pires
Docente do Departamento de Letra e Ciências Sociais da Universidade Rovuma, Março 2023
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nas suas tarefas. “A Paula é incansável. Às vezes na brincadeira até dizemos que
ela não precisa de nós para nada, porque faz tudo”, graceja Paulo Alexandre,
coordenador de obra. E Paula ainda arranja tempo para corrigir e orientar os
movimentos dos voluntários. Um contacto pessoal que eles apreciam. “ Conhecer as
pessoas que vão morar nesta casa faz-me querer ajudar ainda mais. Agora vejo
melhor o objectivo do trabalho”, relata Lara Tabbara, uma das voluntárias da Escola
de Genebra.
Apesar das dificuldades com que tem de lidar diariamente, Paula sempre manteve a
esperança de que um dia as suas condições iam melhorar. Agora, ao ver-se perante
a construção da nova casa, considera que o destino finalmente lhe fez justiça: “Acho
que já merecia esta sorte. Por tudo o que eu e os meus filhos passamos, todos
merecíamos esta sorte.” A partir de Agosto começa uma vida nova para esta família.
Daniel Lima
Adaptado
(in Manual Básico de Língua Portuguesa I
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Texto H
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Luís Carlos Pires
Docente do Departamento de Letra e Ciências Sociais da Universidade Rovuma, Março 2023
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