Você está na página 1de 9

CHARTIER, Roger. À Beira da Falésia: a História Entre Certezas e Inquietudes.

Porto
Alegre, Editora UFRGS, 2002.

Essa obra, como a anterior, forma-se a partir de alguns artigos de Chartier que
foram organizados em forma de coletânea. Dessa forma, o leitor pode tanto entrar em
contato com capítulos específicos, sem ficar "perdido", como seguir a sequência
apresentada pela edição. Os temas, repetem-se em relação a obra anterior.
Segundo Chartier, depois das obras de Foucault e Elias, os historiadores não
puderam mais confundir suas objetos de estudos, tanto no campo das ideias como da
cultura, com objetos naturais. A ideia de que as relações sociais possibilitaram as
construções desses.

CITAÇÕES:

Introdução Geral

 A "voz" do historiador: "De fato, dar a ler textos antigos não é, de acordo com as
palavras de Arlette Farge [AUTORA INDICADA PELA UFPE], "recopiar o real".
Pelas escolhas que faz e pelas relações que estabelece, o historiador atribui um
sentido inédito às palavras que arranca do silêncio dos arquivos..." p.9
 A Historicidade das fontes: "Os historiadores tomaram consciência de que as
categorias que manejam tinham elas próprias uma história, e que a história social
era necessariamente a história das razões e dos usos destas."* p.9-10
 Entre o social e o individual, construindo um habitus social: "A articulação entre as
propriedades sociais objetivas e sua interiorização nos indivíduos, sob forma de um
habitus social que comanda pensamentos e ações, leva a considerar os conflitos ou
as negociações, cujo desafio continua sendo sua capacidade para fazer com que se
reconheça sua identidade."* p.10
 Representação: "O porquê da importância da noção de representação, que permite
articular três registros de realidade: por um lado, as representações coletivas que
incorporam nos indivíduos as divisões do mundo social e organizam os esquemas
de percepção a partir dos quais eles classificam, julgam e agem; por outro, as
formas de exibição e de estilização da identidade que pretendem ver reconhecida;
enfim, a delegação a representantes (indivíduos particulares, instituições, instâncias
abstratas) da coerência e da estabilidade da identidade assim afirmada. A história d
construção das identidades sociais encontra-se assim transformada em uma história
das relações simbólicas de força. [...] a dominação simbólica como o processo pelo
qual os dominados aceitam ou rejeitam as identidades impostas que visam a
assegurar e perpetuar seu assujeitamento." p. 11
 História da filosofia: "... Richard Rorty coloca assim, ao lado das reconstruções
racionais da filosofia analítica, voluntariamente anacrônicas e a-históricas, três
ouros modos de escrever a história da filosofia..." p.12
 Narrativas → entre a história e a ficção: "Os historiadores sabem bem hoje em dia
que também são produtores de textos. [...] Narrativas de ficção e narrativas de
história têm em comum uma mesma maneira de fazer agir seus "personagens", uma
mesma maneira de construir a temporalidade, uma mesma concepção de
causalidade. Essas constatações tornaram-se clássicas pelas obras de Michel de
Certeau e de Paul Ricouer."* p.14
 Ricoeur seria então um 'crítico' da prática do Historiador: "Sem dúvida, é paradoxal
que um historiador como eu, que encontra inspiração nos pensamentos da duptura e
da diferença, evoque deste modo o procedimento hermenêutico e fenomenológico
de Paul Ricoeur. Mas é dessa tensão que depende hoje a compreensão do passado,
ou do outro, para além das descontinuidades que separam as configurações
históricas." p.17

PRIMEIRA PARTE
PERCURSO

1. História intelectual e história das mentalidades

 Conceitos a partir de Robert Darnton: "a história das idéias (o estudo dos
pensamentos sistemáticos, geralmente em tratados filosóficos), a história intelectual
propriamente dita (o estudo dos pensamentos informais, das correntes de opinião e
das tendências literárias), a história social das idéias (o estudo das ideologias e da
difusão das idéias), e a história cultural (o estudo da cultura no sentido
antropológico, incluindo as visões do mundo e as mentalidades coletivas)." * p.24-
25
 Crítica ao anacronismo da História da Filosofia, segundo Febvre. p.28
 Habitus e aparelhagem: "Pensar de outro modo essas diferentes relações (entre a
obra e eu criador, entre a obra e sua época, entre as diferentes obras de uma mesma
época) exigia forjar conceitos novos: em Panofsky, os hábitos mentais (ou habitus)
e de forças formadoras de hábitos (habit-forming forces); em Febvre, o de
aparelhagem mental." p.30
 "No entanto, aqui falta, como em Febvre, a análise (central em Panofsky) dos
mecanismos através dos quais categorias de pensamento fundamentais tornam-se,
em um determinado grupo de agentes sociais, esquemas interiorizados e
inconscientes, estruturando todos os pensamentos ou ações particulares." p.33
 Pensamentos de J. Le Goff: "'a mentalidade de um indivíduo, mesmo sendo um
grande homem, é justamente o que ele tem de comum com outros homens de seu
tempo', ou ainda 'o nível da história das mentalidade é aquele do cotidiano e do
automático, é o que escapa aos sujeitos individuais da história porque revelador do
conteúdo impessoal de seu pensamento." p.34-35
 "Por exemplo, e para seguir Carlo Ginzburg em seu terreno, o que os leitores fazem
de suas leituras é uma questão decisiva diante da qual tanto as análises temáticas da
produção impressa quanto aquelas da difusão social das diferentes categorias de
obras permanecem impotentes. Assim como as modalidades das práticas, dos
gostos e das opiniões são mais distintas que estes, os modos um indivíduo ou um
grupo apropria-se de um motivo intelectual ou de uma forma cultural são mais
importantes do que a distribuição estatística desse motivo ou dessa forma." p.44
 "Saber se deve ser chamado de popular o que é criado pelo povo ou então o que lhe
é destinado é. pois, um falso problema. Importa, antes de tudo, a identificação da
maneira como, nas práticas, nas representações ou nas produções, cruzam-se e
imbricam-se diferentes figuras culturais." p.49
 "... quer sejam historiadores das idéias ou das mentalidades: a oposição entre
criação e consumo, entre produção e recepção." p.51
 Leitura e suas práticas: "O que levanta, evidentemente, duas questões: o que
significa ler? Como resgatar as leituras antigas? As respostas não são muito
garantidas, mas é claro que a história intelectual não poderá evitá-la por muito
tempo. A título provisório, sem dúvida é um bom método não recusar nenhuma das
apreensões que autorizam a reconstituir, pelo menos parcialmente, o que os leitores
faziam de suas leituras: a apreensão direita, nos meandros de um confissão, escrita
ou oral, voluntária ou extorquida; o exame dos fatos de reescritura e de
intertextualidade onde se anula o recorte clássico entre escritura, já que aqui a
escritura é ela própria leitura de uma outra escritura; * enfim, a análise serial de
corpora fechados na medida em que a mudança de motivos no interior de um
gênero dado (por exemplo, os livretos de boas maneiras ou as preparações para a
morte) situa-se no cruzamento de uma intenção − a dos produtores de textos − e de
uma leitura − a de seu público." p.54-55
 Os textos e seus lugares e práticas: "Jamais o texto, literário ou documental, pode
anular-se como texto, isto é, como um sistema construído segundo categorias,
esquemas de percepção e de apreciação, regras de funcionamento, que remetem às
suas próprias condições de produção." p.56

2. O mundo como representação

 Novas abordagens: "As novas perspectivas abertas para pensar outros modos de
articulação entre as obras ou as práticas e o mundo social são, pois, sensíveis ao
mesmo tempo à pluralidade das clivagens que atravessam uma sociedade e à
diversidade dos empregos de materiais ou de códigos partilhados." p.67
 Os autores não escrevem livros, mas são os técnicos e livreiros que os produzam.
p.72
 História Cultural: "Trabalhando sobre as lutas de representações, cujo objetivo é a
ordenação da própria estrutura social, a história cultural afasta-se sem dúvida de
uma dependência demasiado estrita em relação a uma história social fadada apenas
ao estudo das lutas econômicas, mas também faz retorno útil sobre o social, já que
dedica atenção às estratégias simbólicas que determinam posições e relações e que
constroem, para cada classe, grupo ou meio, um 'ser-percebido' constitutivo de sua
identidade." p.73
3. A história entre narrativa e conhecimento

 Conceito para História: "Radicalmente diferenciada da monografia tradicional, cada


microstoria pretende reconstruir, a partir de uma situação particular, normal porque
excepcional, a maneira como os indivíduos produzem o mundo social, por meio de
suas alianças e confrontos, através das dependências que os ligam ou dos conflitos
que os opõem." p.84
 Segundo Paul Ricoeur: "... toda história, mesmo a menos narrativa, mesmo a mais
estrutural, é sempre construída a partir das fórmulas que governam a produção das
narrativas." p. 86
 Observar melhor esse autor, posso usa-lo: "... Hayden White que visa a identificar
as figuras retóricas que comandam e restringem todos os modos possíveis de
narração − ou seja, os quatro tropos clássicos: metáfora, metonímia, sinédoque e,
com um estatuto particular, 'metatropológico', ironia." p.87
 Um caminho para se pensar a História: "Em consequência, o objeto fundamental de
uma história que visa a reconhecer a maneira como os atores sociais dão sentido a
suas práticas e a seus discursos parece residir na tensão entre as capacidades
inventivas dos indivíduos ou das comunidades e, de outro lado, as restrições, as
normas, as convenções que limitam − mais ou menos fortemente de acordo com sua
posição nas relações de dominação − o que lhes é possível pensar, enunciar e
fazer." p.91
 "Em um texto ao qual se deve sempre retornar, Michel de Certeau formulara essa
tensão fundamental da história. Ela é uma prática 'científica', produtora de
conhecimentos, mas uma prática cujas modalidades dependem das variações de
seus procedimentos técnicos, das restrições que lhe impõem o lugar social e a
instituição de saber onde é exercida, ou ainda, das regras que necessariamente
comandam sua escritura." p.99-100

4. Figuras retóricas e representações históricas

 Paul Veyne − a história só para curiosidade: "Para Veyne, a história não pode ser
separada das formas literárias tradicionais; as explicações que ela produz são
apenas 'a maneira que a narrativa tem de se organizar em uma intriga
compreensível' e, finalmente, ela não pode servir senão a fins de simples
curiosidade." p.101-102
 Resposta de Michel de Certeau para Paul Veyne: "A réplica mais viva veio de
Michel de Certeau, primeiramente em uma crítica nos Annales,* e depois em um
ensaio que parecia endossado pela comunidade 'annalista', pois Jacques Le Goff e
Pierre Nora publicaram-no como abertura de Faire de l'histoire. O texto foi
retomado no ano seguinte, em sua versão completa, na coletânea de artigos de
Michel de Certeau intitulada L'Escriture de l'histoire."* [...] Mas, distanciando-se
de Veyne, ele [Certeau] sugere um duplo deslocamento. O que determina as
escolhas dos historiadores [...] é muito mais o lugar que eles ocupam na 'instituição
de saber' do que o prazer de sua subjetividade." p. 102
 Hayden White, autor a ser lembrado e comentado: "Para Hayden White, as
estruturas profundas devem ser localizadas nas prefigurações linguísticas e poéticas
do próprio campo histórico, isto é, na maneira como o historiador 'cria
simultaneamente seu objeto de análise e predetermina a modalidade das estratégias
conceituais que utilizará para dar conta dele'."* p.103
 Hayden White: "O que lhe importa é outra coisa: identificar as estruturas
fundamentais a partir das quais podem ser produzidos todos os discursos figurativos
possíveis, ou seja, os quatro tropos da retórica clássica e neoclássica." p.108
 Críticas a White: "Hayden White faz-se o arauto de um relativismo absoluto (e
muito perigoso) que denega toda possibilidade de estabilidade um saber 'científico'
sobre o passado." p.110

SEGUNDA PARTE
LEITURAS

Introdução

 O autor destaca a importância dos intelectuais: Michel Foucault, Michel de


Certeau e Louis Marin.
 "Cada um deles, a seu modo e seu modo e em seu vocabulário próprio, salienta a
distância que existe entre os mecanismos que visam a controlar e a assujeitar e,
de outro lado, as resistências ou insubmissões daqueles − e daquelas − que são
seu alvo. A tensão entre dispositivos de imposição e ilegalismos em Foucault, a
oposição entre estratégias e tática em de Certeau, distância entre as modalidades
do 'fazer crer' e as formas de crença em Marin são formulações dessa distância."
p.120

5. "A quimera da origem". Foucault, o Iluminismo e a Revolução Francesa

 "... para Foucault, essas diferentes operações − delimitar uma obra, atribuí-la a um
autor, produzir um comentário sobre ela − não são neutras. Elas são sustentadas por
uma mesma função, definida como uma 'função restritiva e impositiva' que visa a
controlar os discursos classificando-os, ordenando-os e distribuindo-os." p.124
 "Para os historiadores, esse riso [de Foucault em suas obras, em que o autor
apresenta problemas e não generalizações] ressoa ainda mais mordaz. Em um dos
raros textos explicitamente consagrados ao que foi para ele a referência filosófica
fundamental − ou seja, a obra de Nietzsche −, Foucault faz uma crítica devastadora
da própria noção de origem tal como os historiadores estão habituados a empregá-
la."* p.126
 "Para Foucault, é justamente dessas noções clássicas (totalidade, continuidade,
causalidade) que a 'genealogia' deve se desfazer se quiser compreender
adequadamente as rupturas e as variações." p.127
 Entre as obras de Foucault e Certeau: "Distinguindo, como em L'Archéologie du
savoir, as formas discursivas e as prática 'que não são elas mesmas de natureza
discursiva', mostrando, como em Surveiller et punir, como práticas sem discursivo
vêm contradizer, anular ou 'vampirizar' (segundo a expressão de Michel de
Certeau)* as proclamações da ideologia, o trabalho de Foucault conserva hoje em
dia toda sua pertinência crítica tanto em relação ao semiological challenge quanto
ao 'retorno ao político'." p.145
 Segundo Paul Veyne, com relação a obra de Foucault: "A filosofia de Foucault não
é uma filosofia do 'discurso', mas uma filosofia da relação."* p.149
 Michel de Certeau sobre Foucault: "Foucault trabalha à beira da falésia, tentando
inventar um discurso para tratar de práticas não discursivas."* p.149

6. Estratégias e táticas: De Certeau e as "artes de fazer"

 Ótimo comentário sobre Certeau: "Essa inteligência sem limites por vezes
inquietou ou irritou as mentes demasiado pequenas para compreendê-la − e bastante
numerosas, não somente dos historiadores, mas também dentre eles, para que duas
instituições científicas francesas não tenham querido abrir-lhe suas portas." p.152
 Tensões nas quais o livro foi escrito: "Michel de Certeau nele formula uma tensão
central: pensar a história como uma prática 'científica', se a ciência consiste na
'possibilidade de estabelecer um conjunto de regras que permitam 'controlar'
operações proporcionais à produção de objetos determinados,'* e, ao mesmo
tempo, identificar as variações de seus procedimentos técnicos, as restrições
impostas pela instituição de saber onde é produzida ou ainda regras obrigatórias de
sua escritura." p.154
 Para Certeau e Ricoeur: "Por ser uma 'narrativação', a história permanece
dependente das fórmulas da 'trama das ações representadas', para citar Aristóteles, e
compartilhar as leis que fundam todas as narrativas − em particular, a obrigação da
sucessão temporal." p.158
 "O ensaio de Michel de Certeau enuncia igualmente uma outra proposta que é uma
espécie de resposta a Hayden White..." p.158
 "O discurso de história é, portanto, articulado sobre um regime de verdade que não
é nem aquele da literatura nem aquele da certeza filológica." p.159

7. Poderes e limites da representação. Marin, o discurso e a imagem

 Teoria da Representação a partir de Marin: "A primeira proposição que ele


estabelece é esta: 'Poder da imagem? Efeito-representação no duplo sentido que
dissemos, de presentificação do ausente − ou do morto − e de auto-representação
instituindo o tema de olhar no afeto e no sentido, a imagem é simultaneamente a
instrumentalização da força, do meio da potência e sua fundação em poder'." p.165
 "A representação é aqui a demonstração de uma presença, a apresentação pública
de uma coisa ou de uma pessoa. Na modalidade particular, codificada, de sua
exibição, é a coisa ou a pessoa mesma que constitui sua própria representação."
p.166
 "Marin queria 'escapar aos anacronismos epistemológicos e às suas ilusões
retrospectivas'." p.167
 "... Pierre Boudieu, 'a representação que os indivíduos e os grupos fornecem
inevitavelmente através de suas práticas e de suas propriedades faz parte integrante
de sua realidade social." p.177

8. O poder, o sujeito, a verdade. Foucault leitor de Foucault

 Conclusão, nem o próprio Foucault foi capaz de criar uma "unidade" − caso essa
tenha sido em algum momento sua intenção − em relação a sua obra.

TERCEIRA PARTE
AFINIDADES

9. A história entre geografia e sociologia

 "Certo da legitimidade da divisão regional, Febvre faz de seu emprego a condição


do processo no estudo dos fatos sociais. Para ele, qualquer outro recorte espacial
remete seja à abstração das divisões políticas, seja à gratuidade de um produto da
imaginação." p.203

10. Filosofia e história

 Uma tentativa frustrada de negação: "... a reflexão filosófica sobre a história, na


qual os historiadores não reconhecem nada ou quase nada de suas práticas e de seus
problemas, e, de outro, os debates travados, dentro da própria história, sobre a
definição, as condições, as formas da inteligibilidade histórica e onde se encontram
formuladas, sem referência à filosofia, inúmeras questões todavia plenamente
filosóficas." p.223
 Crítica a história da filosofia: "Para Febvre e para os historiadores dos primeiros
Annales, a história da filosofia tal como escrita pelos filósofos ilustrou o pior de
uma história desencarnada, voltada para si mesma, fadada inutilmente ao jogo das
ideias puras." p.224
 O filósofo e a sua história da filosofia: "O espírito filosófico afirma-se como o
criador da história da filosofia, pois é sua atividade que confere aqui aos objetivos
da história seu valor de objetos dignos da história [...]. É, portanto, o pensamento
filosófico do historiador da filosofia que erige a doutrina intrínseca em objeto."*
p.225
 As diferenças: "Assim fundada, a história da filosofia, totalmente estrutural e
'internalista', pôde desenvolver-se em uma singularidade radical que contribuiu
bastante para afastar história e filosofia, já que definia em termos bem diferentes
daqueles dos historiadores tanto seu objeto quanto seu método. Constituindo a
história da filosofia a partir da própria interrogação − e apenas dela −, afirmando
não somente a irredutibilidade do discurso filosófico a toda determinação, mas mais
ainda a impossibilidade mesma de pensar historicamente o objeto filosófico, visto
que fazer assim é, na verdade, destruí-lo, a história filosófica da filosofia −
monopólio dos filósofos − instituía uma deshistorização radical de sua prática."
p.225-226
 Diferenças entre Elias e Foucault: "Entre Elias e Foucault, as diferenças são
grandes e devem-se fundamentalmente à oposição entre um pensamento da
duração, onde as formas sociais e psicológicas deslizam de uma à outra em uma
continuidade longa − o que Elias designa pelo termo de figurational changes −, e
um pensamento da descontinuidade, que estabelece como essenciais as rupturas
entra as diferentes figuras sociais ou discursivas. Entretanto, ambos apelam para
uma revolução na história, obrigando a disciplina a pensar de outro modo seus
objetos ou seus conceitos." p.233
 Paradigma do Indício, ao moldo italiano: "a) constituir como representações os
traços, de qualquer ordem − discursiva, iconográfica, estatística, etc. − que
assinalam as práticas constitutivas de toda objetivação histórica; b) estabelecer
hipoteticamente uma relação entre séries de representações, construídas e
trabalhadas como tais, e as práticas que sua referência externa." p.240

11. Bibliografia e história cultural

 "Sem contradizer esses procedimentos, a proposta de McKenzie é outra, visando a


reconstruir em sua historicidade fundamental o processo de construção do sentido.
Por essa razão, ela define a história da leitura como central para a crítica textual ou
para a história do livro." p.251

12. História e Literatura

 "Para um historiador que abordou a análise dos textos literários a partir da história
sociocultural à maneira dos Annales, o objeto essencial da história literária e a
crítica textual (seja qual for a identidade disciplinar dos que as praticam) é o
processo pelo qual leitores, espectadores ou ouvintes dão sentido aos textos dos
quais se apropriam." p. 255
 História e literatura [devo até incluir no projeto]: "Essa historicização da
especificidade da 'literatura' tem por corolário a interrogação sobre as relações que
as obras mantêm com o mundo social. Mantendo distância da tentação (que,
infelizmente, foi grande entre os historiadores) de reduzir os textos a um mero
estatuto documental, deve-se trabalhar sobre as variações. Variações entre as
representações literárias e as realidades sociais que elas representam deslocando-se
sobre o registro da ficção e da fábula." p.259

Você também pode gostar