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HISTÓRIA ORAL:

EXERCÍCIO DEMOCRÁTICO DA PALAVRA

Maria Lúcia Martinelli*

RESUMO

O objetivo deste artigo é trazer para a reflexão alguns elementos essenciais


sobre a história oral, nas suas interfaces com a memória, evidenciando sua importância para a
realização de pesquisas que visam entender os processos históricos vividos pelos sujeitos
sociais.

Meu interlocutor neste percurso é o Professor Alessandro Portelli, da


Universidade La Sapienza, de Roma, e Presidente do Círculo Gianni Bosio, dedicado ao
conhecimento e à preservação da cultura popular. Sua produção sobre história oral tem sido
fundamental para a sistematização dos estudos nesta área.

PALAVRAS-CHAVE

História Oral, Memória, Cultura, Linguagem

_____________________________________________________________

(*) Assistente Social, doutora em Serviço Social, docente, pesquisadora e


coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Identidade do Programa de Estudos
Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – SP,
Brasil.

E-mail:mlmartinelli@terra.com.b
SUMMARY

The aim of this essay is to bring to debate some key elements of Oral History,
including its interfaces with the memory and highlighting its importance in conducting
researches aimed at understanding the historical processes experienced by social subjects.

My interlocutor on this journey is Professor Alessandro Portelli, University La


Sapienza, Rome, and President of Circle Gianni Bosio, dedicated to the preservation and
knowledge of popular cultures. His output on Oral History has been crucial to the
systematization of studies in this area.

KEY WORDS

Oral History, Memory, Culture, Language


“Assim, a linguagem, nascendo das paixões, foi primeiro
linguagem figurada e por isso surgiu como poesia e canto, tornando-
se prosa muito depois, e as vogais nasceram antes das consoantes.
Assim como a pintura nasceu antes da escrita, assim também os
homens primeiro cantaram seus sentimentos e só muito depois
exprimiram seus pensamentos.” J.J.Rosseau.
Entender os processos históricos vividos pelos sujeitos sociais é um desafio que
recorrentemente se coloca para os pesquisadores que têm real interesse em realizar suas
pesquisas no âmbito das práticas sociais cotidianas.

Como construção social de sujeitos históricos, tais práticas expressam embates


entre grupos sociais. Estão presentes aí dinâmicas cotidianas de homens, mulheres, jovens,
crianças que buscam inserir-se no processo social, forjando seus modos específicos de viver,
lutar, resistir e também de reivindicar direitos.

Penetrar nesse denso tecido e conhecer esses sujeitos e seus modos de vida
exige do pesquisador uma postura política, teórico-crítica, no sentido de colocar-se à escuta,
de interrogar os silêncios e de querer efetivamente conhecer a história a partir da narrativa
acerca dos caminhos percorridos por aqueles que estiveram envolvidos com os
acontecimentos que queremos estudar.

Nossas temáticas de estudo não são apenas acadêmicas, são problemáticas sociais,
contêm camadas de história e um rico repertório de histórias de vida, onde se entrelaçam
dimensões políticas da vida pública e privada que só podem ser desvendadas quando nos
dispomos a ouvir histórias pessoais, cotidianas.

É aí que se institui a importância da metodologia da história oral. Segundo


a tradição registrada pela Associação Norte-Americana de História Oral, “a história
oral, como técnica moderna de documentação histórica, foi estabelecida em 1948,
quando Allan Nevins, historiador da Universidade de Colúmbia, começou a gravar
as memórias de pessoas importantes da vida americana”. (Thomson, 2000.p.47)

Ao longo do tempo, os pesquisadores identificados com esta metodologia


passam a interessar-se, cada vez mais, pelos segmentos das classes populares, por aqueles que
quase não compareciam nas pesquisas históricas, consolidando-se como uma metodologia
interdisciplinar de trabalho que mantém interfaces com várias ciências. Construindo-se a
partir do discurso humano, valoriza a memória e a fala como instrumentos de recuperação da
história e de avanço da luta social.

Nesta perspectiva, “a memória não é apenas um lugar para recordar” (Portelli, 2002, p.
28) ou para preservar o passado. Muito mais do que isto, é um espaço vivo de lembranças, um
processo de atribuição de significados, um rico potencial para conhecermos a história.
Cada acontecimento individual tem múltiplas relações com os acontecimentos mais
gerais. Ao pesquisador cabe conhecer a interação entre os fatos, entre o antes e o depois do
fato narrado, incluindo “acontecimentos imaginários e falsas recordações”. (Portelli, 2002,
p.10)

O indivíduo é horizonte de muitos, é situado social e culturalmente, suas escolhas não


são arbitrárias, expressam determinações, por isso é preciso conhecê-las e historicizá-las.

É indispensável que o pesquisador se disponha a adentrar na narrativa, acompanhando


o processo de atribuição de significados, trabalhando com os diferentes tempos da memória,
com os diferentes jogos de força presentes em cada momento histórico, dando evidência à
forma como se deu essa reconstrução a partir da perspectiva do sujeito.

Como a história oral não busca generalizações, mas sim explicações históricas e
culturais circunscritas, conhecer essas formas peculiares de entendimento da realidade social é
um importante requisito a ser atendido pelo pesquisador.

O discurso humano e o silêncio, como seu contraponto, são recursos valiosos, que lhe
permitem trabalhar com a dimensão política da subjetividade, pois os fatos são colhidos pela
narrativa dos sujeitos, com todas as suas implicações.

O método de pesquisa é sempre uma opção política e, no caso da história oral,


um verdadeiro imperativo ético, pressupondo a construção de um terreno comum de trocas
entre os interlocutores, fundado na confiança mútua, num verdadeiro interjogo de
subjetividades.

A explicitação das intencionalidades, a construção ética da pesquisa, o respeito


aos participantes e à sua livre expressão são fundamentais nesta metodologia que nos coloca
em contato direto com os sujeitos, permitindo-nos conhecer sua vida cotidiana, seu modo de
ser, de lutar, de resistir, de expressar-se pela mediação da arte e de reivindicar direitos.

Trabalha com o horizonte de memórias possíveis, entendendo-as como


expressão dos enredos históricos pessoais, dotados de dimensão política, como “história viva,
lembrança de lutas, processo em andamento”. (Portelli, 2002, p. 28)

As narrativas dos sujeitos e a interlocução com os mesmos permitem ao


pesquisador apreender a dinâmica social como processo histórico em constante
transformação, assim como conhecer as microtramas da vida cotidiana, as histórias da casa,
do espaço doméstico, da vida das mulheres, dos velhos, das crianças.

Essas narrativas nos dizem muito sobre o sentido que as pessoas atribuem às suas
experiências, nas quais há certamente dimensões sociais que só são alcançadas quando
historicizamos o sujeito, quando aguçamos o nosso “olhar político sobre o passado” (Sarlo,
2005, p. 58-59), e conseguimos visualizar as perspectivas de futuro presentes em suas
narrativas.

O interesse do pesquisador não é tanto a reconstrução precisa do passado, mas sim o


conhecimento de como os acontecimentos foram elaborados no trabalho contínuo da
memória.

A expressão história oral é utilizada exatamente para evidenciar a importância das


narrativas que os sujeitos nos oferecem através das fontes orais. Segundo Portelli (2000, 125-
134), estas são “narrações individuais, dialógicas, não formalizadas, construídas na presença
do pesquisador, com sua direta e determinante participação. Trata-se, portanto, de uma fonte
relacional, em que a comunicação vem sob a forma de troca de olhar (entrevista), de
perguntas e respostas, não necessariamente em uma só direção.”

A liberdade é de fundamental importância, neste momento, para que se possam


explorar todas as possibilidades, esclarecendo ao sujeito que fazemos a entrevista para
conhecer, para aprender. Ele é que tem a informação, o conhecimento que buscamos. Criamos
a igualdade explorando a diferença, interagindo de forma autêntica, deixando livre espaço
para que o sujeito também faça perguntas.

Saber escutar, oferecer uma escuta atenta, interativa é condição indispensável


para o pesquisador, pois o momento da entrevista, apoiado no uso do gravador, é condição
básica para a realização de seu trabalho.

Para o sujeito, tal escuta é também de fundamental importância, pois, ao narrar,


ele reconstrói sua história, consegue vê-la como totalidade e estabelecer nexos até então
inalcançáveis.

Podemos dizer que, de alguma forma, consegue apropriar-se de sua história e


atribuir-lhe novos significados.
Daí a responsabilidade ética do pesquisador em ouvir por inteiro a narrativa
que o sujeito quer realizar, suspendendo atitudes que possam bloquear ou inibir a sua fala. Há
uma multiplicidade de formas e de ritmos para narrar o mesmo fato, e o pesquisador precisa
manter-se atento a essas peculiaridades.

Como “ciência e arte do indivíduo” (Portelli, 1997, p. 15), a metodologia da


história oral se constrói de modo aberto, livre e criativo, constituindo-se em um exercício
democrático da palavra.

É um trabalho de relação “entre a pessoa que é entrevistada e a que


entrevista (diálogo), entre o presente sobre o qual se fala e o passado do qual se fala
(memória), entre o público e o privado, entre autobiografia e história, entre a
oralidade da fonte e a escrita do pesquisador”. (Portelli, 2000, p. 125-134)

Coloca-se aí um grande desafio: trabalhar com a narrativa de modo a manter


sua densidade e preservar a sua historicidade, garantindo a necessária relação entre a palavra e
o texto.

Transformar o discurso narrado em discurso escrito exige que se mantenha


presente a performance oral, não reificando nem a informação nem o sujeito.

Portelli (2000, 125-134), reportando-se ao estudioso jesuíta Walter J. Ong, afirma que
a oralidade não produz texto, mas performance. Não estamos diante de um discurso
concluído, mas em realização e que, ademais, não obedece a uma cronologia ou a uma lógica
do pesquisador. O que impera é a lógica do sujeito, é a forma pela qual ele mobiliza sua
memória, o que frequentemente ocorre através “de fragmentos, ou melhor, de unidades de
memória que não estão necessariamente conectadas em uma narração, em um relato
cronológico ou em uma sequência lógica, contudo se associam, cada vez de maneira distinta,
buscando uma relação entre eles na criação de sentido que todos estes fragmentos constroem
juntos.” (Portelli, 2002, p. 45)

É preciso reconhecer e respeitar a autenticidade da narrativa, incluindo a voz


do sujeito, como foi ouvida, suas palavras como foram ditas. É por isto que temos sempre o
cuidado de obter sua autorização para participar da pesquisa, bem como para fazer uso de sua
narrativa, recorrendo com frequência às suas próprias palavras.

Conforme estabelecido pelo Conselho Nacional de Ética na Pesquisa, na Resolução nº


196, de 1996, tal autorização deve ficar explícita no Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, firmado pelo pesquisador e pelo sujeito, e aprovado pelos competentes Comitês
de Ética.

Sob o ponto de vista ético, é recomendável também enviar-lhe o que fizemos


com seu relato e decidir juntos como deseja ser apresentado. Tal cuidado é indispensável na
circulação da informação e na restituição da mesma ao sujeito.

Por todos estes motivos, não falamos em informantes ou testemunhas, mas sim
em sujeitos, protagonistas históricos, cujas memórias pessoais são de interesse social. A
história oral é também a história da memória que, embora se construa no contexto social, é
sempre memória pessoal.

Na verdade, é esta memória pessoal que dá suporte à memória pública e faz


circular, entre gerações, as histórias familiares. Um importante papel dos mais velhos na
família é recordar.

A historicidade da experiência pessoal unida ao impacto dos acontecimentos


históricos é um dos principais pilares da história oral, cuja essência, segundo Portelli (2000, p.
125-134) está exatamente nesse momento em que a história entra nas vidas individuais e as
vidas individuais entram na história, o que certamente é vivido de modo bastante intenso.

Relacionar vidas individuais e história constitui-se em um grande desafio do


pesquisador. É uma relação que tem a configuração de um mosaico, onde cada peça tem o seu
significado, pois ali se articulam acontecimentos passados, lembranças narradas e vidas
presentes.

Todas estas circunstâncias deixam claro que o documento final que decorre de
uma pesquisa realizada com a metodologia da história oral tem peculiaridades que o
caracterizam.

Há uma estética muito especial a ser observada neste momento, pois ao mesmo
tempo em que queremos apresentar a narrativa na sua completude, temos que nos deter em
várias passagens que foram significativas no decorrer da entrevista. Uma pausa, uma lágrima,
um sorriso, uma lembrança fugidia, um silêncio podem ser muito expressivos e merecem
registro, sempre que possível, com as próprias associações de ideias, tempos verbais e
conexões de palavras que o sujeito utilizou.
Afinal, se trabalhamos com a história oral é porque temos um real interesse em
conhecer essas experiências individuais, articulando-as aos processos sociais mais amplos.

Nossos Diários de Campo são fundamentais neste sentido. Fazem parte de


nosso material empírico e atendem a uma exigência metodológica da pesquisa, tornando
possível recuperar as narrativas com a intensidade com que nos foram legadas.

Torna-se desnecessário enfatizar que o trabalho com fontes orais deve atender
a todos os cânones científicos, sendo submetido aos procedimentos usuais de tratamento do
material empírico.

Em geral, não se faz pesquisa utilizando um único recurso ou uma única fonte;
a fonte oral é um elemento a mais do qual o pesquisador se vale e que, articuladamente aos
demais, lhe possibilitará construir o texto de sua pesquisa, com vistas aos objetivos
estabelecidos.

É um momento muito criativo, um verdadeiro artesanato intelectual, em que o


pesquisador deverá tecer uma teia densamente tecida com os fios da narrativa, já devidamente
transcrita, com os fios da teoria e com os fios de sua experiência, enriquecida agora com o
conjunto das experiências dos sujeitos, com a polifonia de múltiplas vozes.

Sua tarefa é, então, construir um texto no qual tanto ele quanto os sujeitos
estejam vivamente presentes e que permita lançar luzes sobre os acontecimentos narrados,
reconstruindo sentidos para os fatos passados, através do trabalho da memória, e trazendo
novos registros para a história do tempo presente.

Esta é uma característica especialmente importante da história oral, pois há


memórias que, por não serem narradas, por não terem registro oral, se perdem, e sabemos que
onde não há memória, corre-se o risco de perder-se também a história.

Ao trabalhar com história oral, temos sempre presente o objetivo de tornar


evidente a participação das pessoas nos acontecimentos históricos.

A grande função social e política do pesquisador é exatamente fazer com que


histórias de vidas pessoais e história social se entrelacem, contribuindo para que o rico acervo
da memória humana não seja desprezado e para que essas histórias circulem entre gerações e
possam trazer novos significados para os acontecimentos históricos. Aí está, conforme nos diz
Portelli (2000, 125-134), “a essência da história oral”.
Pesquisa e política, nesta perspectiva, estão sempre em interação, pois o
pesquisador oralista é um pesquisador militante, comprometido com a história do seu tempo,
com a preservação do passado e com o processo histórico no sentido geral.

Sob o ponto de vista da historiografia da história oral não se pode deixar de


fazer menção a Edward Palmer Thompson (1924-1993), historiador marxista britânico que
procura, juntamente com Rodney Hilton, Dorothy Thompson, Christopher Hill e Eric
Hobsbawm, romper com uma forma clássica de fazer história, em que somente o documento
era considerado fonte confiável.

Para estes marxistas, situados na vertente britânica do materialismo histórico,


que a rigor se inicia nos anos 1950, com Maurice Dobb, era indispensável pensar a história a
partir de novos marcos, novos temas e, principalmente, novas vozes.

Com uma forte preocupação interdisciplinar e buscando se aproximar o


máximo possível da experiência social dos sujeitos, o grupo vai se aprofundando nos estudos
sobre classe operária, cuja cultura e presença consideravam ser fundamentais no cenário
histórico.

Richard Hoggart, Raymond Williams e o próprio Thompson serão nomes


fundamentais na trajetória desta vertente que adquire grande expressão na Inglaterra, por volta
dos anos 1970, expandindo-se para outros contextos históricos e geográficos.

Sua concepção de cultura como modo de vida, legada especialmente por


Raymond Williams, valorizando a experiência social dos sujeitos, sua vida cotidiana, seus
pensamentos, valores, crenças e emoções, abre caminho para que a história possa ser contada
por quem a vive cotidianamente, trazendo seu depoimento a partir de uma “história vista de
baixo”. (Thompson, 1966, p. 279)

Quebrando ortodoxias, dialogando constantemente com as fontes e aprendendo


a ler a história de outra forma, este grupo vai criando as condições para a posterior construção
da metodologia da história oral e para sua gradativa aceitação acadêmica, como forma de
pesquisa que une história, cultura e política.

Sem se afastar das categorias clássicas do marxismo, como classe social,


consciência de classe, luta social, procura recuperar a importância do sujeito histórico e de sua
possibilidade de ler a história da sociedade a partir da contradição.
Talvez aí esteja a sua contribuição mais fecunda no sentido de redimensionar o
caráter das lutas políticas, dando visibilidade à experiência social de sujeitos concretos em seu
viver histórico.

Daí a importância da narrativa, da fonte oral que, em interação com outras


fontes, permite-nos reconstruir histórias densamente vividas e plenas de significado.

Sem adentrar mais profundamente na leitura da obra de Thompson, pois não é


nosso objetivo neste momento, não podemos deixar de reconhecer o caráter inaugural de sua
produção e a de Raymond Williams, no sentido de instituir uma outra forma de fazer história
que em muito contribuiu para a valorização da linguagem, da fonte oral, do discurso humano.

Cabe destacar, também, o crescimento que a história oral teve nas últimas
décadas, expandindo-se pelos diferentes quadrantes do mundo, permitindo que os
pesquisadores se organizassem em associações nacionais e internacionais e se inserissem de
maneira expressiva no contexto acadêmico.

Embora tenhamos ainda um caminho a percorrer no que se refere à questão dos


fundamentos teóricos da metodologia de história oral e de seu alcance enquanto pesquisa
científica, é importante ressaltar que este é um modo de pesquisar que nos coloca muito
próximos dos sujeitos históricos em suas práticas cotidianas, oportunizando-nos conhecer a
mais rica das possibilidades humanas, a sua experiência social, o seu modo de esquecer, de
lembrar, de narrar, de denunciar, de se fazer presente, enfim, na tessitura da história.

Há uma dimensão política na história oral que deve ser permanentemente


valorizada, pois, segundo Portelli (2002, p. 45), “é precisamente um método para contestar,
para dizer não à ideologia hegemônica, deixando claro que sempre houve uma participação
popular nos acontecimentos históricos.”

A história não se faz por si só, somos nós que a fazemos com nossas próprias
histórias, com nossas lutas políticas e sociais, pois somos realidade e somos palavra.

O método é uma opção política e decorre de uma teoria, que tem uma direção
social com a qual o pesquisador se identifica a partir de seu projeto político, não há
neutralidade possível. Suas pesquisas devem ser expressões claras de tais posicionamentos,
tendo sempre uma dimensão social mais ampla.
É por isto tudo que podemos afirmar que é possível trabalhar com a história oral na
perspectiva do enfrentamento dos desafios contemporâneos.

Nossas principais ferramentas, a memória e a linguagem, são valiosas para


romper com os silêncios da história oficial, para desafiar as ideologias dominantes, para
alimentar as lutas por igualdade e para manter sempre vivo e renovado o diálogo, através do
exercício democrático da palavra!
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