Você está na página 1de 3

Nelson Aníbal Paulino

Didáctica de História III

Tema: Relação entre cultura histórica e memória histórica

Docente: Dra. Nheleh das Algas Ratibo

UNIVERSIDADE PEDAGÓGICA DE MAPUTO

Faculdade das Ciências Sociais e Filosóficas

Departamento de História

Curso de Ensino de História com habitação para Geografia


Maputo, 05 de Abril de 2023
Resumo sobre relação entre cultura histórica e memória histórica

A cultura histórica pode ser definida como uma articulação prática e operante da
consciência histórica na vida de uma determinada sociedade (RÜSEN, 1994).
É por esse pressuposto que se pode afirmar que a cultura histórica é a própria memória
histórica, exercida na e pela consciência histórica, a qual dá ao sujeito uma orientação
temporal para a sua práxis vital, oferecendo uma direcção para a actuação e auto
compreensão de si mesmo.
O conceito de cultura é um dos principais fundamentos da teoria da consciência histórica de
Jörn Rüsen. Para ele, a cultura como um processo integral de vida, de carácter social, que
precisa ser compreendido numa perspectiva relacional, com ênfase na interdependência entre
todos os aspectos da realidade social e na devida dinâmica da mudança social. A cultura é
incorporada como resultado da condição humana universal, como um conjunto ou produto da
experiência humana, como um processo da tradição selectiva e como a acção humana na vida
prática. Nesse sentido, entende-se a cultura como algo vivido de um momento e um lugar; a
cultura como produto histórico de um determinado período e sociedade e a cultura como
selecção intencional da história da humanidade.
Os elementos da cultura, são os artefactos, ideias, signos e símbolos, as linguagens e tudo o
que permite e realiza as mediações dos e entre sujeitos, em relações sociais historicamente
determinadas, onde estes sujeitos são produto e também produtores de cultura, podendo
admitir-se também a existência de abordagens categoriais da cultura, tais como a cultura
histórica e a cultura escolar.
Segundo Rüsen (1994), a cultura histórica é uma categoria de análise que permite
compreender a produção e usos da história no espaço público na sociedade actual.
A categoria da cultura histórica teorizada por Rüsen aponta a consciência histórica como uma
realidade elementar e geral da explicação humana do mundo e de si mesmo, com um
significado inquestionável prático para a vida, propondo que da consciência histórica há
somente um pequeno passo à cultura histórica.
Assim, a cultura histórica pode ser definida como a articulação prática e operante da
consciência histórica na vida de uma sociedade.

A memória histórica, segundo Pierre Nora, «é fruto de uma tradição sábia e «científica», é
ela própria a memória colectiva do grupo dos historiadores.» Neste sentido, a memória
histórica possui as características referidas para a História: analítica e crítica, precisa e
distinta, racional.
A ela compete recuperar dos arquivos e dos silêncios das memórias colectivas grande parte
do passado que foi esquecido pelas sociedades.
Descobrir, conhecer e compreender para poder transmitir uma visão tão completa e rigorosa
quanto for possível do passado é, ou deveria ser, o objectivo da História.
O ensino da História visa formar a memória histórica dos futuros cidadãos. E fornecer aos
jovens um conjunto de conhecimentos que lhes permitam situar-se no mundo em que vivem e
compreender que as sociedades se transformam através do tempo.
A memória permite aos seres humanos estabelecer a relação com o tempo: o tempo privado
da vida de cada indivíduo e o tempo público do percurso histórico das sociedades. Recorda-se
algo que se passou, tenha ou não sido vivido pelo indivíduo.
Os conteúdos e os valores são a pedra de toque do programa da disciplina da História. A sua
análise diz muito sobre o que se pretende transmitir do passado comum aos jovens e sobre os
princípios que informam a educação. A sua ausência ou uma concepção minimalista destes
aspectos curriculares é expressiva de uma visão instrumental do ensino, excessivamente
centrada em competências. Pode colocar-se, deste modo, em risco a formação da memória
histórica que tem de se alicerçar em factos e figuras, em narrativas que dêem sentido às
informações dispersas, integrando-as em quadros com um significado que seja compreensível
para os jovens. É preciso valorizar os acontecimentos, o papel dos indivíduos e as suas
acções, o concreto e o quotidiano, as pequenas histórias que fazem, afinal, também parte da
História. São muitas vezes os detalhes pitorescos, os episódios que prendem a atenção e
despertam o interesse pelo conhecimento mais aprofundado da História.
Além disso, sem noções seguras sobre o espaço e o tempo em que ocorreram os factos, não
há verdadeira memória histórica.
A História permite compreender a diferença, a continuidade e a mudança que são elementos
fundamentais da construção das identidades dos indivíduos e das sociedades.
É tão importante que a disciplina de História contribua para construir uma memória que sirva
para libertar de preconceitos, de ideias feitas, de mitificações. Uma memória que aproxime
em vez de separar os povos.
Uma memória que, partindo de nós, da realidade próxima e conhecida, seja capaz de integrar
os outros e possua as referências básicas para que os futuros cidadãos se possam identificar e
situar no mundo.

Você também pode gostar