Você está na página 1de 3

Prova de Arquivos e Museus – 2º Semestre de 2021

Profa. Flávia Lemos


Aluna(o): Amanda Bretone

Questão 01 – Discuta e relacione as noções de patrimônio, memória social e lugares de


memória. Relacione tais noções com as atividades dos Arquivos e Museus.
Quando se discorre sobre o passado temos sempre parâmetros do presente, isso porque
pensamos como pessoas de nosso tempo e estamos submergidos nos nossos costumes e cultura.
Em casos indevidos chamamos isso de anacronismo. Mas a relação entre o passado e o presente
está intrínseco em nós pois faz parte de nossa identidade e evidencia todo o caminho que nos
fez ser o que somos como indivíduos e como partes de uma sociedade. Dessa forma as maneiras
em que tratamos o passado podem ser diversas, desde uma história que se conta para uma
criança antes de dormir até objetos de valor simbólico inestimável guardadas dentro de um
museu. Então noções como patrimônio, memória social e lugares de memória são norteadoras
para o entendimento dessa história (o passado) cristalizada diante de nossos olhos.
Patrimônio seria tudo aquilo que é preservado para gerações futuras que retratam a
forma de vida, cultura, pensamento de certas pessoas em determinado tempo. Temos ainda a
questão dos patrimônios materiais, ou seja, físicos que podem ser tocados como uma casa, uma
estátua, um objeto e os patrimônios imateriais em que não podem ser armazenados pois se
manifesta em um povo e/ou em uma cultura, são essas crendices populares, técnicas de
produção de algo como comida, festas, objetos, além de hábitos. Assim patrimônio é tudo que
foi caracterizado como importante histórica e culturalmente por uma sociedade e/ou povo que
precisa ser preservado para as gerações posteriores. A UNESCO valida o que é considerado
como bens patrimoniais em todo o mundo, um exemplo é a forma que as mulheres mineiras
fazem queijo foi considerado um bem imaterial, mas muitas outras manifestações culturais não
são consideradas como as gírias, as lendas contadas de pai para filho, os hábitos de tomar banho
todo dia ou a de tomar um copo de pinga para abrir o apetite antes de almoçar. Isso porque nem
as pessoas percebem esses costumes como um patrimônio somente algo embutido numa cultura
que passa de pai para filho. Muitas vezes essas definições são especificas a pessoas que estudam
por meios formais essas manifestações como historiadores e museólogos. O que não podemos
negar que estamos perdendo esse vínculo com o passado, uma desvinculação com o passado
que é considerado ultrapassado ou já superado por algo mais novo e supostamente melhor. No
texto de Pierre Nora, ele discorre sobre essa ruptura com o passado que de alguma forma está
morta. “ A memória, mesmo muito comentada não existe mais. Oscilação do passado, cada vez
mais rápida, que está morta. ”
Memória social tem algumas conexões com o patrimônio imaterial, mas está mais
vinculada a uma parte do conjunto de heranças de nacionalidade ou de um grupo. A memória
social pode ser caracterizada como a socialização das memórias, ou seja, um conjunto de
memórias que se aglutinam formando parte da identidade de uma individuo ou um conjunto
dos mesmos. Do mesmo modo que a memória imaterial acompanha e faz parte do indivíduo
como pertencente de algo e como um ser histórico que herda costumes e valores de uma
sociedade complexa a memória social sendo reconhecida como tal ou não faz parte do horizonte
imaginativo de passado e futuro além de nortear o presente do indivíduo de forma consciente
ou não. Essa memória pode ser exemplificada na história oral em que se contava de pai para
filho sobre heróis do passado ou sobre a história da família. Segundo Pollack a memória se
inicia individual, mas logo é complementada pelo grupo que a torna parte do grupo, no entanto
com essa junção pode torna-la suscetível a “flutuações, transformações, mudanças constantes."
O que não a torna menos relevante ou verossímil apenas se torna moldável pela junção de
diversas pessoas. Complementando ainda com a fala de Regina Abreu “a memória é uma
atividade dinâmica entre o ato de lembrar e o ato de esquecer” ela se torna maleável e
consequentemente abarca mais aspectos e exclui outros.
Inicialmente se pensado em lugares de memória podemos considerar os espaços formais
e construído para isso como os museus e os arquivos, mas não podemos esquecer dos lugares
comuns que se tornam lugares de memória pelo simples fato de ser um reflexo do passado de
algum grupo como é discorrido no texto de Chagas e Gouveia. Nesses novos lugares não
convencionais ou institucionalizados temos uma ruptura com o formal para se iniciar uma série
de rupturas com os temas trabalhados ali. Os museus seriam uma determinação colonialista em
que se conta a história dos vencedores esquecendo de setores visto como subalternos da
sociedade. Claramente não existe um movimento para a extinção dos museus e arquivos apenas
uma reavaliação das determinações do que se é falado e exposto do que é considerado mais ou
menos importante. Assim, sendo todos esses ambientes lugares de memória e
consequentemente lugares em que as pessoas se sentem ou não representados é
responsabilidade dos mesmos cuidarem da sua narrativa e simbologia para narrar não apenas
uma narrativa colonialista, mas uma em que todos se encontrem representados por aquele
espaço.

Questão 02 – Discuta as funções dos Arquivos e Museus na sociedade contemporânea,


enfatizando sua importância (ou não) para a sociedade contemporânea.
Quando se discorre sobre o passado e consequentemente da história podemos ter
narrativas e acontecimentos muito abstratos sobre personagens ou datas e muitas vezes o uso
de objetos podem nos nortear e até mesmo criar portais de memória em que o passado não
parece tão distante ou imaginativo, mas palpável e dinâmico como um objeto que pode ser visto
e tocado. Os centros de memória têm esse papel de sistematizar objetos do passado e
consequentemente guardar o passado tornando isso de fácil acesso para todos que tem interesse.
Além e ser um lugar de construção de identidade que o espectador se enxerga como herdeiro
daquele legado impresso em objetos, ou qualquer artefato exposto. Os arquivos e museus
também se enquadram em um ambiente pensado para o ensino e a comunicação entre
temporalidades e entre grupos sociais, pois cada comunidade interpreta e se identifica ou não
com aquelas narrativas expostas. Os arquivos e museus podem ser considerados como lugares
para se guardar fontes concretas de uma determinada data como documentos, vestígios
podendo abarcar tudo que nos remete a um passado e consequentemente herdado a nós pela
sociedade e cultura. Esses lugares ainda podem ser considerados os únicos lugares de memória
se nos lembrar que Pierre Nora descreve como fim das sociedades-memórias como “aquelas
que asseguram a conservação e a transmissão de valores”. Desqualificamos no cotidiano
instituições que transmitem memórias de indivíduo para indivíduo o que nos sobra são
instituições que contam essa história. Perdemos a memória cultural, o que nos faz pertencente
a uma continuidade na linha do tempo da humanidade e o que nos sobra são instituições de
memória, o autor já citado descreve.
Questão 03 – Reflita e discorra sobre a potência educativa dos arquivos e museus.
Como foi citado na questão anterior, os arquivos e museus são grandes meios
educativos, pois, além de serem materialidade do que nos é contado ainda nos permite criar
novas formas de ver o mundo e não apenas de uma narrativa pré-fabricada, permite que seu
observador dialogue com seus referenciais e contraponha com as exposições criadas. Nas
palavras do autor Tim Ingold ele parafraseia um filósofo que diz “em um mundo onde há vida,
a relação essencial se dá não entre matéria e forma, substância e atributos, mas entre materiais
e forças. ” Discorre ainda que forma é morte, mas dar forma é vida, ou seja, quando se acredita
que tudo está pronto e o objeto não pode fornecer mais nenhum pensamento aí que entra o dar
forma o retomar a refletir e isso só se fundamenta por meio da educação que é esse eterno rever
e reaprender e novamente olhar para o mundo com novas lentes do que foi aprendido. O que é
pensado por apenas umas pessoas se torna menos educativo do que uma reavaliação continua
e assim uma revisão, olhar de novo, para o objeto. A educação se qualifica não apenas pelo
passar informações, mas o de criar novos horizontes e novas visões de mundo para cada
indivíduo, e isso não é possível apenas numa sala de aula, mas em ambientes culturais que
exprimem conceitos e visões não expressa em palavras ou escritas em um livro.

Você também pode gostar